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Alice Vieira K que sabe esta histériat receitas de Vitor Sobral ilustragdes de Carla Nazareth Orel [DO] LIVRO} CRPUCHINHO VERMELHO Estava muito calor naquela tarde em que Capuchinho Vermelho saiu de casa para levar 0 lanche & avé. A avé bem a queria obrigar a dizer *merenda’, afirmando que “lanche” era palavra estrangeira, mas Capuchinho explicava que na escola ninguém sabia 0 que era merenda que por Isso ela continuava a dizer lanche. A avé ld se conformava, merenda ou lanche, 0 que realmente importava era que a comida chegasse a horas. Nessa tarde, Capuchinho pediu & mae que a deixasse ir em cabelo, fazia tanto calor e aquela touca vermelha era téo pesada! — Nem penses! Capuchinho Vermelho tem de sair com um capuchinho vermelho. Sendo o nome no faz sentido! Capuchinho Vermelho conformou-se, mas teve muita pena de ngo se chamar Sandra Vanessa. a ela a meio do caminho quando de repente o lobo Ihe apareceu pela frente, “Ora a minha vida’, pensou Capuchinho. "Nunca me lembro de ir pela estrada em vez de me meter pela floresta... E eu que jé estou atrasada..." Mas agora ja era tarde para fugir. = Olé, Capuchinho Vermelho! - disse 0 lobo, com voz doce. = Olé... - disse Capuchinho Vermelho, com voz azeda. — Que fazes tu por estes sitios, com tanto calor, quando toda a gente desejaria estar a... ~ Chega - interrompeu Capuchinho Vermelho. - Deves ser muito burro, com certeza.. = Burro, no. Lobo. Lobo é o que eu sou ~ Eo que eu digo - exclamou Capuchinho. - Burrissimo! Capuchinho fez uma pausa e poisou o cesto no chao. Tinha ali para uns bons minutos de conversa, € 0 cesto pesava-Ihe no braco. ~ Todos os dias passo por aqui, e todos os dias me saltas ao caminho. Todos os dias me fazes essa pergunta. Todos os dias te digo que vou a casa da minha avé levar 0 lanche...’ — Lanche, no. Merenda - murmurou o lobo, que se orgulhava de saber falar portugués correctamente. Mas Capuchinho Vermelho fez que no ouviu e continuo ~ ... todos os dias corres atrés de mim e chegas primeiro. Todos os dias fazes aquela fantochada de te vestires com a roupa da minha avé, para ver se me enganas... ~ E engano-te sempre... - murmurau o lobo, sorrindo, = Achas? - exclamou Capuchinho, zangada. - Nunca te viste a0 espelho? © teu focinho alguma vez se poderia confundir com uma cara de mulher? 0 lobo calou-se, muito triste. ~ Pronto, eu ndo te queria ofender - disse ela, mais cama -, é s6 porque ja estou um bocado cansada, tu a correres atras de mim, eu a correr para fugir de ti... Qualquer dia peco a um escritor qualquer que me mude para a histéria da Bela Adormecida. Ai ao menos posso dormir cem anos! = Mas ai eu ndo te via, e tu sabes como eu gosto de ti... - murmurou o lobo. Capuchinho Vermelho até se sentiu comovida. Mas fez-se forte e disse: ~ Gostas de mim e queres comer-me? Sim, porque se eu nao desato a correr para fora da casa da minha avé, tu apanhas-me e comes-me! © lobo deu uma grande gargalhada: = Agora és tu que me pareces um bocado burra! Ao fim destes anos todos, ainda néo percebeste 0 que € que eu quero quando corro atras de ti? = Comer-me! - exclamou Capuchinho Vermelho. Nova gargalhada do lobo ~ Comer-te? A ti, que és $6 pele e osso? Deixa-me rir... ~ Entéo 0 que é que queres? ~ perguntou Capuchinho, intrigada: ~ Quero comer 0 que levas dentro do cesto! E isso que eu quero! E 0 lobo deitou um olhar guloso para a cesta poisada no chéo. Lé dentro, uma pequena geladeira prometia refrescar o seu apetite. - Humm... Que cheirinho que vem dali. Capuchinho Vermelho estava sem palavras. Tantos anos a fugir das garras do lobo e afinal 0 pobrezinho até gostava dela. ~ E ent&o 0 lanche da minha avé que tu queres? - murmurou ela. ~ Merenda - corrigiu ele. Mas Capuchinho, como sempre, fez que no ouviu. Pegou na cesta e entregou-Iha: = Come, e que te faca muito bom proveito! E voltou para casa muito contente: com aquele calor nao Ihe apetecia nada andar em correrias pela floresta, Ainda se voltou para trés para dizer adeus a0 lobo, mas este nem deu por isso, ocupado que estava a saborear uns deliciosos geladinhos de queljo fresco, manga, passas e hortela. GELKADINHOS DE GUEWO FRESCO, MANGA, PASSAS E HORTELA, Pera IO gekaiohos ING REDIENTES GURNTIDADES Gueijo fresco 200 9 Manga radura 1509 Passes brorcas picadas 209 Hortela piceda 5 folhas Cones em po Yo caller de café Maos & ob ral Esta receita ¢ para fazeres com a tua mae e bem cedinho de monha, para estar pronta 8 hora da merenda. E uma surpresa para o lobo mou, que afinal é um lobo guloso! Pede & tue mae para picar a passas € descascar a mange, enquanto tu cobeas no copa 2,2 polpa da monge € mistorador os queijos frescos € a conela, Quando ela acab ar, jorbo, pede-the para misturor bem, Dols minutos depola |8 deverd ester. Junta agora « hortel picede, que tem um arama delicinsa,€ 0s posses, Misturs bem! Colca em formas de gekdo tapadas com pelicula aderente (a tua mae sebe o que él. Leva 20 frigorifico ¢ espera pele hora da merendal Prarnck pe NEVE Naquela tarde, o principe Oriel resolveu apanhar ar. Foi buscar o seu cavalo preferido e saiu do reino. Mal atravessou 0 rio, sentiu um cheiro intenso a mags. Olhou em volta mas estava no meio de uma planicie, sem érvores, nem arbustos nem nada que néo fosse terra a perder de vista. “Donde vird este cheiro?’, pensou. Decidiu entao continuar 0 passeio, orientando-se sempre pelo forte aroma das macs. Subiu montanhas. Desceu vales. Atravessou desfiladeiros. E sempre o cheiro a macs a acompanhd-lo. Até que, muito ao longe, viu brilhar uma luz intensa. Curioso, dirigiu-se até la, Entéo, diante dos seus olhos espantados, viu surgir uma gruta, donde saia toda aquela claridade - e onde o cheiro a mac era ainda mais intenso. Desmontou do cavalo e entrou na gruta. Um pouco a medo, diga-se. Quem Ihe garantia que | dentro nao iria encontrar um gigante, um feiticeiro, ou um ‘ogre daqueles que comem pessoas - pelo menos nas histérias que Ihe contavam em pequenino? Mas no fundo da gruta estava apenas um caixdo de cristal muito transparente e, Id dentro, a princesa mais bonita que os seus olhos alguma vez tinham visto. (Claro que ele no sabia se era princesa, mas lembrava-se de ouvir a mae repetir muitas vezes que todas as meninas bonitas’ eram princesas...) A volta do caixao, sete andezinhos choravam sem parar. = Por que choram tanto? - perguntou Oriel © mais pequeno de todos ergueu os olhos e exclamou: ~ Nao se vé logo? Imediatamente os outros ~ Nao se vé logo? ~ Mau... = pensou o principe -, acho que ndo comecei da melhor maneira... Mas logo 0 mais pequeno voltou a falar: ~ Nao vés que Branca de Neve morreu? E 0s outros seis, imediatamente, em coro com ele: = Nao vés que Branca de Neve morreu? “Branca de Neve...", pensou o principe, “lindo nome para princesa,” Aproximou-se do caixao. La de dentro vinha um perfume tao forte a mac que quase o fez perder 0 equilibrio. Olhou ento melhor para a princesa. ~ Eu... eu acho que Branca de Neve tem... - murmurou. is ergueram também os olhos e fizeram coro: ~ Tem 0 qué? - gritou o ano mais pequeno. ~ Tem 0 qué? - gritaram os outros em coro. ~ ... um bocadinho de mag na boca! Logo os sete andes se precipitaram para 0 caixdo, retiraram a tampa, e tentaram tirar Branca de Neve cé para fora. = N3o podes dar uma ajudinha? - pediu o mais pequeno. = N3o podes dar. Os outros preparavam-se para o coro da praxe, mas o principe nem os deixou continuar, era preciso agir depressa. Rapidamente levantou Branca de Neve do caixdo, baixou-lhe a cabeca e deu-the uma palmada nas costas. Um bocado de macé saltou da boca de Branca de Neve, que logo abriu os olhos e sorriu: ~ Ta morrendo sufocada! - exclamou ela, mal refeita do susto, E, olhando para 0 principe, contou-Ihe a sua historia: ~ Ha muitos anos, a minha madrasta mandou matar-me, mas eu consegui esconder-me na casa dos sete andes, onde tenho vivido, Mas ela descobriu-me e tem feito de tudo para me matar. Desta vez fez-me engolir uma maca envenenada, mas... = Mas felizmente nao a engoliste, e 0 seu cheiro era to intenso que me trouxe até aqui, a tempo de te salvar! - exclamou Or ~ Salvaste a Branca de Neve ~ disseram os andes em coro -, pede-nos o que quiseres! O principe deu uma gargalhada: = Quero a Branca de Neve! E, pegando nela ao colo, jé se preparava para a pér em cima do cavalo e leva-la para o seu reino quando ela murmurou: ~ Coitadinhos, trataram de mim este tempo todo, no os posso deixar. E se os levasserios? Oriel olhou para os andes, indeciso, ~ E que fariam no meu reino? ~ N&o te preocupes - disse Branca de Neve. ~ Com a pratica com que fiquei de cozinhar para eles este tempo todo, abro um restaurante e eles ficam a ajudar-me! - Optimo! - disse Oriel. Para falar verdade, estava-se a comer muito mal no seu reino, Um restaurante novo vinha mesmo a calhar. E ld seguiram todos, enquanto 0 mais pequeno murmurava para os irméos: = Acham que, depois disto, ela ainda tem coragem de fazer macs assadas? E a minha sobremesa preferida... MbCRS-REINETAS KSSADAS COM LARANJA E CANELK ING REDIENTES GUANTIDADES: Mogas-reine Fas 10 vridedes Sumo de laranja Val Respe de lerenja luridese Rgbcer meseavado 509 Cerecis integrais 50g Canela em po 10 unidades: Maos & ob ral Esta receita deve ser para uma princess, por isso preparate para fazeres um brillvarete: pede ajuda a uma pessoa mais velha (que pode ser o tev pai). Enquanto espremes a laranje, pede ao teu pai que descasque ¢ corte as masts em rodelas finas, E vamos comeger: rum tab uleiro de forno dispae as rodelas de mage, depois rega com 0 sumo qve acebaste de fazer: pede ao Feu pal que raspe @ casce da krranja para cima, pobillhe com 08 cereais, 0 oghcar mascavado € @ canela, Ultima torefa do tev ajudante: lever @ asser em Forno equedido « BO°C, durante 30 mrutos, Deisa arrefecer um bocadisho, Se hour, pede um sorvete de maga pera ceamparher! @\ CASINHA vs CHOCOLATE JoSozinho e Maria ainda nao tinham percebido como tudo acontecera. Lembravam-se apenas de terem saido de casa muito cedo e, de repente, olhando em volta, terem descoberto que estavam sozinhos na floresta. Todos os dias o pai thes dizia que era preciso ir apanhar lenha, porque ele jd estava velho de mais para isso, e o Inverno nao tardava. Eles iam, € o pai ficava sempre por perto, Mas agora estavam perdidos. ~ A esta hora, jé 0 pai e as pessoas da aldeia devem andar & nossa procura ~ Mas as horas tinham passado e ninguém aparecera. ‘Assustados, pensavam no que haviam de fazer quando, de repente, uma bruxa muito velha thes apareceu pela frente. Sem dizer palavra, a bruxa tinha-os empurrado até chegarem a uma casa, ainda mais velha do que ela, de paredes e telhado muito escuros. Maria tentou agarrar-se 8 parede, mas, para seu grande espanto, a parede tremeu, tremeu, abriu. uma racha de alto baixo, e um bocado caiu-Ihe nas maos. Enquanto o guardava no bolso, uma telha caiu-lhe na cabeca: ~ Esta casa est a desfazer-se. issera Jogozinho. murmurou para Jodozinho, guardando também a telha no bolso. Mas 0 irmao estava tdo assustado, que nem a ouviu. Depois tudo se passou muito rapidamente: a bruxa empurrou-os para dentro da cozinha, enfiou-os numa espécie de jaula, com grades ferrugentas, e fechou-os a chave. E agora ali esto, enquanto a bruxa pée ao lume um enorme caldeirdo cheio de 4gua, cantarolando: O primeiro que estiver gordinho Vou comé-to com pao e toucinho! Mas Jodozinho e Maria eram muito magrinhos ¢, por muita comida que a velha lhes desse, a nunca engordavam. = Temos de arranjar maneira de fugir daquil - disse Maria, ~ Como, se estamos fechados a sete chaves? ~ murmurou Jodozinho. Nesse momento, a bruxa aproxima-se da gaiola e diz: Estende-me um dos teus dedinhos para eu ver se esto gordinhos! Maria tinha as maos nos bolsos e, em vez de estender um dos dedos, estendeu a telha que Ié tinha guardado, A velha no deu pelo engano. Mas, a primeira trincadela, os olhos brilharam muito e gritou: - Nunca na minha vida comi nada to bom, to macio, tao doce! JoBozinho e Maria ficaram tdo admirados como a bruxa = Mas isto era uma telha que caiu do telhado... - murmurou Maria, levando & boca um bocadinho que ainda tinha ficado dentro do bolso, e dando a Joaozinho um bocado da parede. ~ Se isso é telha, ndo sei; mas isto é bolacha de baunilha! - disse Jodozinho, lambendo os dedos. ~ Ea telha é de chocolate! Esta casa é feita de chocolate e bolachas! - exclamou Maria. - Tenho uma ideiat Chamou a bruxa e disse-Ihe: ~ Para que queres tu comer-nos - a nés, que somos pele e osso -, se podes comer coisas to boas que a tua casa te dd? ‘A velha olhou-a desconfiada, depois suspirou fundo e disse ~ Esta casa era de uma prima que foi viver para outra floresta, Estou aqui ha pouco tempo e no faco ideia que coisa é esta que me deste a comer. Mas a mim sempre me ensinaram que as bruxas se alimentam da carne de meninos que se portam mal, e nao estudam, nem trabalham, nem... ~ Péral - gritou Maria. ~ Deves ser uma bruxa muito velha! Dantes é que se contavam esas histérias de meter medo, mas hoje jé ninguém acredita nelas! = Nao? - murmurou a bruxa, muito triste. ~ Nao - murmuraram Jogozinho e Maria. - Ora a minha vida... - choramingou a bruxa. - E agora 0 que que eu faco? O que é que eu como? ~ Antes de mais ~ disse Maria, que no tinha confianca em bruxas, fossem elas antigas ou modernas - abres a nossa gaiola e deixas-nos sair. Depois vou ensinar-te umas coisas... E nessa tarde, quando finalmente as pessoas da aldeia os encontraram, estavam os trés muito divertidos, sentados ao lado de uma estranha casa sem telhado e jé s6 com uma parede, a levar 8 boca grandes colheradas de musse de chocolate, acompanhadas de bolachas de baunilha, enquanto Maria dizia: - Eom resto daquela parede ainda te vou ensinar a fazer uma tarte de chocolate de comer e chorar por mais. Mas so para os dias de festal Quanto & bruxa, pelo meio da musse de chocolate, murmurava apenas: = Meu Deus, 0 que eu perdi nestes anos todos... re TARTE DE CHOCOLATE COM VARIEDRDE DE FRUTA E HORTELK ING REDIENTES GURNTIDADES Massa Bolechas de ovela 2509 Monteiga B09 Recheio Chooskrte negro 604 Notas 2 al © Marteiga lealher de sope Gemas 3 unidedes Cob ertura Péssegos em cvbos 109 Kmeitas em cub 0s 0g Morengos em 105 Nozes picadas 309 Pagsas brancas 309 Hortele picade qb. Mavs @ ob ral Massa; Desfaz os b olachas recorrends @ una picadora ov esmagando-as dentro de um Saco ov de um pono com a ajuda de um robo de masse, Numa tigela junta as bolachas reduzidas a pi com a manteiga derretide, Mistura muito bem obé ob ter uma massa homogénes, Forra entao uma forma de terte com esta mistura e kev 0.00 frigorifico por dues horas, Recheio: Pede & tua mae que ferva as natas cerca de dez minutos, Noutro tachinho, derretes o chocolate € a manteiga em b anho-maria, juntando-lhe os restantes ingredientes € a5 natas previemente fervides, Deiea orrefecer € verte o preparado na forma de torte, O forno deve estor quente a cerca de IBO°C, Colca a tarte a cozhar durante Ib a 20 minutos. Deira orrefecer € poe no frigorifico, Cob erture: Depois de bem frescas, mistura todas as frutas numa tigele pequens, com excepséo da hor tel, Cobcas tudo em cime da tarte, desenformas ¢ perfumas com @ hortelal ee Joko PE pe FEWAO Jodo Pé de Feijao chamava-se assim desde o dia em que um enorme feljoeiro crescera no ‘seu quintal. Era to grande, tao grande que ninguém conseguia ver onde terminava. Aquele pé de feij0 nascera de umas sementes que Jodi tinha recebido na feira, como pagamento da vaca que levava para vender. Ao chegar a casa, 2 mae até tinha ralhado com ele, onde ¢ que ja se vira, aceitar meta duizia de sementes por uma vaca, tinha sido enganado e bem enganado. Mas 20 ver, no dia seguinte, o pé de feljéo que nascera de noite, até a mée ficara sem fala. Eumamanhd Joao decidiu trepar pelo feijoeiro para ver se descobria onde é queele terminava. Subiu, subiu, e muito para la das nuvens encontrou um grande castelo, Era ai que ia dar 0 pé de feijdo. Bateu 8 porta e velo uma velha abrir. ~ Estou muito cansado - disse. - Posso passar aqui a noite? ‘A velha torceu 0 nariz mas Id 0 deixou ficar, avisando-o, no entanto, de que se escondesse, pois 0 marido nao tardava e ele nao gostava de gente estranha Ié em casa. Minutos mais tarde, todo o castelo estremece, e Jodo vé aparecer um enorme gigante, com uma galinha debaixo do braco. Sentou-se mesa, colocou a galinha na sua frente e gritou ~ Poe ovos! Ea galinha deixou logo cair trés ovos enormes sobre a mesa. Os ovos brilhavam muito e, la do seu canto, Jodo percebeu que eram de oiro! 0 aigante comecou a comer e a beber e no tardou em adormecer profundamente, Joo saltou do seu esconderijo, agarrou na galinha e, sempre a correr, saiu do castelo, desceu pelo pé de feijao e chegou a casa, contando 8 mae o que acontecera. Durante algum tempo viveram felizes, vendendo por bom preco os ovos de oiro que a galinha punha. Mas a curiosidade de Jogo era grande... E um dia voltou a trepar pelo pé de feijéo. A mulher do gigante nao o reconheceu, mas no 0 queria deixar entrar: Ha dias deixei entrar um rapaz, e ele acabou por nos roubar... - disse, Mas Jodo falou-Ihe com tao mansas palavras que ela Id acedeu. E a cena repetiu-se, com 0 gigante a entrar, mas desta vez com um saco de moedas que nao esvaziava nunca. Assim que © apanhou a dormir, Jodo pegou no saco; sempre a correr salu do castelo, desceu pelo pé de feijdo e chegou a casa, contando mais uma vez a mae 0 que acontecera. = Tem cuidado - disse a mae -, com a galinha e este saco jé nos governamos bem o resto da vida, Promete que nao voltas ao castelo, Mas Joao era mesmo muito curioso e, alguns dias depois, voltou a trepar pelo pé de feijao. Dessa vez foi muito dificil entrar. ~ Jurei que no voltava a dar abrigo a estranhos - disse a mulher. Mas nesse momento voltava o gigante a casa e ela teve de correr para a cozinha, para Ihe preparar o jantar. Joo aproveitou e esqueirou-se para debaixo da mesa = Cheira-me aqui a carne humana... - murmurou 0 gigante, = Que ideia! - disse a mulher. ~ $6 cé estamos nés dois! Sentou-se 0 gigante 4 mesa, comeu, bebeu, mas dessa vez ndo adormeceu: pediu & mulher que lhe fosse buscar a harpa, porque Ihe apetecia ouvir musica . A mulher delxou a harpa sobre ‘a mesa e voltou para a cozinha. Espantado, Joo viu que as mos do gigante nem se mexiam - e que a harpa tocava sozinha. Assim que 0 gigante adormeceu, Joao saiu do esconderijo, pegou na harpa e preparava-se para sair a correr do palécio quando a harpa desatou aos berros: = Acudam, que me levam! Agarrem, que é ladréo! Jogo correu 0 mais depressa que péde, mas a harpa néo se calava e o gigante acabou por acordar. Correu atras de Jo30, mas Joao era muito mais leve e corria mais depressa. Chegou rapidamente ao pé de feijao, e desceu por ele abaixo, com o gigante sempre atras, Mal pds 0 pé em terra gritou: ~ Acuda, minha mée! E logo a mae chegou com um grande machado na mao e, em dois tempos, cortou o pé de feijdo pela raiz. O gigante, que vinha mesmo atrés, deu um tombo tao grande que se enfiou pelo cho abaixo sem deixar rasto. = Que pena termos cortado 0 feijoeiro - murmurou Joao, ~ Ora... = disse a mée. - Deixa-te de lamiirias e ajuda-me a apanhar tudo... Ha que tempos que me estava a apetecer uma saladinha de feijao-frade.... SRLADINHA DE FEWKO-FRADE COM GENGIBRE E SALSK Pera |O pessoas ING REDIENTES: QURNTIDADES Kitum de conserva em azeite 500 9 Feijto-frode eozido 6509 Ovo cozido 5 vnidades Ceb ok pleade B09 engi re picado 309 Salse picade qb. Reite virgem e+tra Val Vinagre de vido 03 al Pimentorprete de meitho qb Flor de sal qb Maos a ob ral Numa tigelinhe cokes « cebole picade durante 30 minutos ruma mistura do azeite viegem extra com 0 vinagre de vinho. Corta os ovos em ito pedegos, Pede & tua mee que abra.a lata de atum eo junte com 0 Feijen Frade, o gengbre € 0 ov0 enaido. Reielonarlhye « cebole que est na mistura de azeite virgem extra com 0 vinagre de virho. Serve num proto dispondo ume porgt de selada ao centro € perfume cam salsa picade, an @® f\ BELK ADORMECIDA © principe Oquelindo jé estava farto de ser principe. Pelo menos, de ser principe naquele reino, onde nada acontecia e tudo se fazia sempre da mesma maneira, Uma vez tinha ido passar uns tempos a casa de um principe do reino vizinho e viera entusiasmado. Quando chegara a casa tinha querido explicar aos pais todas as novidades que vira por Id, mas eles logo Ihe disseram que nem pensasse em mudar o que quer que fosse: ~ Ha centenas de anos que este reino é governado da mesma maneira, e da mesma maneira vai continuar - disse 0 pai. ~ Mas 6 pai, ia facilitar tanto a nossa vida... Em vez de cavalos, j@ andam de automéveis; em ver de usarem pombos-correios, tm computadores; a comida néo se estraga porque é guardada em arcas frigorificas, e... = Nao percebo metade do que estés a dizer - exclamou o rei. - E essas estranhas coisas de que falas nao me interessam. Sempre passdmos bem sem elas. = Mas 6 pai... = Acabou-se a conversa, que aqui quem manda sou eu - disse 0 rei, que, para la de no conhecer automéveis, computadores e frigorificos, também nao conhecia a democracia Ento o principe decidiu ir correr mundo. Escolheu o melhor cavalo, fez as malas e saiu do paldcio de madrugada. Mas porque a escuridao era completa, enganou-se na estrada e, quando deu por si, estava perdido na mais negra e densa floresta. As arvores eram tao altas que tapavam 0 céu, € 0s tojos e as silvas arranhavam-Ine as pernas e os bragos. - Nunca ninguém deve ter passado por aqui - murmurou. Com muita dificuldade 1a foi andando, até que, de repente, se encontrou diante de um castelo a cair de velho, as paredes todas cobertas de ervas, as portas e janelas apodrecidas pela chuva de muitos anos. Cheio de curiosidade, desmontou do cavalo e entrou. La dentro as telas de aranha caiam do tecto e quase nao deixavam ver nada. A custo la fol o principe atravessando salas e saldes - e descobrindo que tudo ali parecia adormecido. A mesa estava coberta de pratos e travessas cheios de comida, como se se tratasse de um grande banguete interrompido. Na cozinha os criados estavam de pé diante dos enormes fogdes, mas de olhos fechados. € por toda a parte o principe encontrava gente adormecida: pelos sofas dos salées, pelos corredores, pelas varandas. = Que grande ataque de sono deu a esta gente ... - disse ele. Foi andando, até que entrou numa torre no alto do castelo. Abriu a porta, com grande dificuldade, e 1 dentro viu uma velha - também ela adormecida - junto de uma roca e, a seus pés, como se tivesse desmaiado, a mais linda menina que os seus olhos alguma vez tinham visto. Ajoelhou-se e beljou-a, Nesse mesmo momento, tudo regressou a vida: a menina levantou-se, a velha recomesou a dobar o linho, e ouvia-se barulho de pratos e talheres e vozes de pessoas e passos pelos corredores. = Que aconteceu? - murmurou a menina. ~ Era isso mesmo que eu ia perguntar... ~ disse Oquelindo = Devemos ter dormido cem anos... ~ respondeu a velha. Nessa altura o rei e a rainha entraram e, sacudindo as teias de aranha, deram um grande abrago & menina ~ Finalmente salva, minha filha! E, dirigindo-se ao principe, contaram-Ihe que, por se terem esquecido de convidar uma das fadas do reino para o baptizado da princesa, ela Ihe lancara aquela praga de, no dia dos seus quinze anos... ~ ... Se picar num fuso e ficar a dormir cem anos até chegar um principe que Ihe desse um beijo e a despertasse - exclamou Oquelindo. - Em mitido, a minha ama fartou-se de me contar essa histéria, mas palavra de honra que nunca pensei que o principe fosse eu! Desceram todos da torre, e comegaram a preparar a festa de casamento - quando tudo estivesse, evidentemente, jé limpo e em condicies. = Tanta comida estragada... - murmurou Oquelindo, olhando as mesas. - Se houvesse por aqui uma arca frigorifica, nada disto acontecia... ~ Se houvesse o qué? ~ perguntou a princesa, espantada ~ Ah, pois é, tu ndo conheces essas coisas... Mas agora que vamos casar, 0 nosso reino vai ter tudo o que é preciso, desde arcas frigorificas a computadores, passando por automéveis, telemévels... we ~ Que estranhas palavras conheces... ~ murmurou ela . = Vou dizer-te o que é sempre preciso ter no frigorifico... Para jé, uma sopinha di & sempre jeito. E afastaram-se os dois, passeando pelo jardim e conversando em voz baixa. ~ Fazem um lindo par... ~ murmurou a rainha, ~ Nem se nota a diferenca de idades... ~ murmurou o rei. CRLDO DE AYES E COGUMELOS Para lO pessoas ING REDIENTES GUANTIDADES: Carne de aves cacthades 0 que encontreres ~ = 500g Dentes de lho 3 unidedes Tomete pelado em cubos 200 g Folhes de espinatres 200 g Salsa Imolho Viho b ranco 05 a Pimento de moins: qb. j Ceb ola inteira Vunidade Cogumelss em quortos 500 9 Maga em cub 05 10 g Hortels em falas ab. gue 21 Sal marino tradicional qb. Maos @ ob rel Desfia todes as aves que encontrares € guarde a carne, Com 03 08508 faz um coldo: ferve-os durante meia hore em égua, vinho branco, cebol, alhos € salso, Passa o caldo por um passador e jurtathe os cagumelos cortados em quartosi % delia ferver Ta 8 min, Mesmo no final junta os espinafres, 0 tomate, a maga, a hortela ¢ as cornes, Vé se. sopa ests boa de sal ¢ piments, seneo terds que temperar a gosto. d\ PRINCESK ex ERVILHA A Rainha Gloriana ja desesperava de ver o filho casado. De todas as vezes que organizava bailes para ver se aparecia alguma princesa dos reinos vizinhos que Ihe agradasse para nora, acabava sempre a suspirar: = Meu Deus, jé no ha princesas neste mundo! Ou sabiam ler e no sabiam cozinhar. Ou sabiam cozinhar e nao sabiam ler. Qu entdo - 0 que acontecia na maior parte dos casos ~ no sabiam nem uma coisa nem outra. 0 Rel parecia no se importar muito com isso, “coisas de mulher’, dizia, mas, para a Rainha Gloriana, ninguém podia ajudar a governar um reino sem saber ler e cozinhar na perfeicéio. Por isso, naquela noite de tempestade em que bateram 8 porta e o criado anunciou “esta lé fora uma princesa que pede abrigo”, ela levantou-se imediatamente do cadeirdo e foi ver quem era. Quem era vinha numa léstima: cabelo escorrido e ensopado pela chuva, sapatos cheios de lama, o vestido num trapo. ~ Princesa?! Tu?! - exclamou a Rainha, desconfiada ~ Posso nao parecer, mas garanto que sou - disse a recém-chegada -, Princesa mesmo. A sério. Daquelas que até tiveram as fadas como madrinhas de baptismo. A Rainha encolheu os ombros. Era muito tarde para discussdes. E com 0 barulho dos trovdes nem se podia conversar. = Pronto, néo se fala mais nisso. Fica ai com o meu filho € o meu marido, enquanto eu vou mandar arranjar 0 quarto de héspedes. ~ Coisas de mulher... ~ murmurou o Rei Foi ento a Rainha & cozinha e explicou a criada que deveria pr na cama dez colchées. ~ Dez?! - espantou-se a rapariga, que dormia em cima de uma tdbua ~ Dez ~ repetiu a Rainha, estendendo-Ihe as duas mos abertas, para ela poder contar os dedos. E acrescentou: ~ E por baixo de todos pées uma ervilha. a A criada abanou a cabeca mas no fez perguntas. Colocou uma ervilha, em cima dela dez colchdes e, entrando depois na sala, disse: ~ Esta a cama feita e 0 quarto pronto, ~ Estou a morrer de sono - disse a Princesa, ~ Dorme bem - disse a Rainha. - Amanhé conversamos. Estavam todos sentados a mesa do pequeno-almogo quando a Princesa apareceu. Pélida, cheia de olheiras. = Que tens tu, que ests com téo md cara? - perguntou a Rainha. ‘A Princesa deixou-se cair numa cadeira, = Nao dormi nada. Nao sei o que havia na cama, fartei-me de dar voltas e mais voltas, e sempre 0 meu corpo sentia qualquer coisa a magoar-me. Nao sosseguei um minuto. Levantou-se a Rainha do seu lugar, com um enorme sorriso na boca, e abracou a Princesa. = Agora sim, agora tenho a certeza de que és princesa de verdade. S6 uma princesa de verdade tem pele tao fina capaz de sentir uma ervilha debaixo de dez colchdes! E voltando-se para o Principe disse: = Amanha vou dar um grande jantar em honra desta princesa nossa vizinha! ‘A Princesa sorriu ~ E ja agora, podiamos usar a ervilha ¢ fazer creme de ervilhas com poejos, que é dos meus pratos preferidos? Posso mesmo ensinar & vossa cozinheira uma receita que costumo fazer 8 no meu reino... A Rainha ergueu as mos ao céu, diante de tanta felicidade: ~ E sabes cozinhar! ~ Claro! Qual a princesa que nao sabe cozinhar? De braco dado, como velhas amigas, dirigiram-se ambas para a cozinha, discutindo ingredientes, “eu cd uso uma pitada de acucar”, “eu € orégdos”, enquanto o Principe perguntava 20 pai, em voz muito baixa ~ ler, saber? © Rei encolheu os ombros: ~ A tua mae que trate disso. Sao coisas de mulher. Eu tenho um reino para governar. E, endireitando a coroa, entrou solenemente na sala do trono. CREME DE ERVILHK COM POEJOS Para lO pessoas ING REDIENTES GUANTIDADES Ervilhas congeladas 2kg Allo francés em pedass ISO g Allo descaseado 50 Cebsle em erb 09 (05 Botatas em cub os 750 9 Azcite viegem ertra 05 al Celdo de cozer uma getaha 21 Sel merirho tradicional qb Pimenta-preta de moitho qb. Poe jos em fala qb Mavs & ob ral Pede & tua mee para fazer esta receite, ty apenas supervisionas tudom oll francés,a.cebolee ab atate, Deita estufor um pouco, fica um 6 ocado mais transparenten Pede que esque ume penels em bine brendo o azeite, que adicione o allo, Pede que jute agora o caldo da gelinha, que devers ester morro, Delia cozinhar os ingredientes € tritura, Pede que leve de novo av hme até keventar fervura, jumba as ervilnas € reduz o lime. Triture-se novemente e, pare nay ter aqueles pelules, a sope deve ser passada por um passador de rede fina, Prove, pora te certificares de que esti bom de sale pimenta, senao terds de temperer a gosto, vendo eabeores « sopa nos prates, podes decoréls com ume pequens callner de ezeite virgem, que deias coir em fio, € um ramo pequenino de poe jos, que perfomam o proto. 2 YA RAPOSK «4 CEGONHP ‘A raposa e a cegonha foram convidadas para madrinhas de uma raposinha que nascera ha pouco. ~ JA que vamos ser comadres - disse a raposa -, que tal se nos conhecéssemos melhor? = Boa idela - disse a cegonha. ~ E para isso, que tal se nos encontréssemos num aimocito? ~ Optima ideia - disse a cegonha. ~ Todos os meus amigos dizem que no hé ninguém que faca papas de aveia como eu. Nao & para me gabar, mas acho que eles estéo cheios de razo... Por isso, marcamos um dia e uma hora e encontramo-nos a volta da mesa, que é 0 melhor lugar do mundo para as pessoas se conhecerem: E tudo ficou combinado. A cegonha, que andava com pouco dinheiro, ficou encantada com 0 convite. Finalmente ia comer um almoco como devia ser. Na hora marcada do dia marcado bateu a cegonha a porta da casa da raposa. Ao entrar, logo um cheiro a papas Ihe fez nascer agua no bico. ~ 38 estava a espera da comadre - disse a raposa, indicando-Ihe o caminho que levava a casa de jantar. Na mesa, as papas fumegavam que dava gosto ver e certamente mais gosto daria comer. 0 pior.. 0 pior é que estavam dentro de pratos rasos. Téo rasos que o bico da cegonha néo ‘conseguia apanhar nada. Por mais voltas que desse, 0 bico bicava, bicava, mas néo trazia nem uma migalha. ~ 6 comadre - disse a raposa com sorriso matreiro -, ndo me diga que nao gosta das minhas papas! Olhe que seria a primeira! A cegonha, roida de foe, ndo queria dar parte de fraca e, fazendo das fraquezas forga, respondeu ~ Nao... nd... que ideia... eu é que estou com pouco apetite.. Quando finalmente a raposa deu por acabado 0 almoco, disse a cegonha: = Agora quero eu retribuir. Nao serei uma cozinheira to boa como a comadre, mas os meus 0s também dizem que nao ha por perto quem faca uma sopa fria de tomate e péssego como eu. Neste tempo to quente, garanto que é um manjar dos deuses. ‘Combinaram o dia, combinaram a hora. A cegonha esfregava 0 bico de contente: a raposa nao ia ficar a rir-se, era s6 0 que faltava. E pontualmente a raposa Ihe bateu & porta. Fazia muito calor e ela morria por qualquer coisa fresca. Nada melhor que a tal sopa de tomate e péssego. A cegonha indicou 0 caminho até & casa de jantar, onde um aroma muito fresco se espalhava. O pior.. 0 pior é que a cegonha fizera uma sopa muito rala e tinha-a colocado dentro de enormes copos de pé alto. Por mais que a raposa tentasse, 0 focinho no conseguia entrar, e ela nao apanhava nem uma gota. Fazendo-se desentendida, disse a cegonha, com um leve sorriso: = O comadre, nao me diga que nao gosta da minha sopa! Olhe que seria a primeira! Gaguejou a raposa, tentando encontrar uma resposta: ~ Gosto, comadre, claro que gosto, esta uma verdadeira delicia. Acontece que tenho andado com pouco apetite, deve ser do calor.. Ea raposa olhava, com agua no focinho, para a sopa fresquinha dentro dos copos. Quando a cegonha deu por acabado 0 almoco, disse a raposa: - Foi realmente uma boa ideia termos combinado estes almocos. ~ Também acho ~ disse a cegonha, lembrando-se das papas servidas em pratos rasos. ~ Serviram exactamente para aquilo que queriamos ~ disse a raposa, lembrando-se da sopa servida em copos de pé alto. ~ Serviram para nos conhecermos melhor - disseram entao ambas em coro. sua vida, esperando finalmente comer a sério no dia do baptizado E cada uma foi da afilhada. Soph FRIM DE TOMATE E PESSEG-O PERFUMADK COM COENTROS Pera (Ol pessoas ING REDIENTES GUANTIDADES Ceb ok esceldase 100 9 Kho esceldedo 4 dentes Tomate-rvia pelado af graidhas 500 9 Péssego (polpe) 300 9 Recite virgem ertre lente jana dl Vinagre de visho branes 05 al Geb picado 200 g Sal marinhyo tradicional qb. Pimenta-preta de moirho qb. Coentros em follva Moos & ob ral Pede a tua mae que porhe um tacho com agua a0 kame, Guando este ferver, deiteIhe, separadamente, cebolt e allyo, De imediato orrefece em gue ¢ geb,e escorre. JunteIhe todos 08 outros ingredientes € deita num copo misturador de forma a obfer um creme hhomogéneo (pede sempre a um crescido para meer nas maquina), Prova € se nto estiver bom tempera com sel morinho € pimenta de moirho. Deita no prato € perfume com os coentros, ERROCHINHK : JOKO RATKO s pais de Carochinha tinham acabado de chegar a estacéo dos comboios para visitarem a filha. Para falar verdade, ainda hoje eles nao compreendiam porque tinha Carochinha casado com Joao Ratio. Um casal tao diferente nao existia em todo o mundo. Pelo menos no mundo que eles conheciam. Carochinha tinha-Ihes contado uma histéria que metia uma moeda de cinco réis que ela encontrara a varrer a cozinha, Sentira-se rica e vai dai tinha querido encontrar marido que a ajudasse a gastar o dinheiro, Da janela de sua casa comecara a gritar: Quem quer casar com a Carochinha Que é bonita e formosinha E encontrou cinco réis a varrer a cozinha? = Bonita e formosinha é exactamente a mesma coisa ~ resmungou 0 pai, que era professor 1na Escola dos Carochos -, podias ter arranjado cantiga mais original ~ Endo apareceu mais ninguém? - perguntou a mae. ~ Apareceu, Apareceu um co, e um boi, e um gato, mas no me serviam... Perguntava-Ihes eu 0 que gostavam de comer e todos me respondiam que comiam 0 que aparecia, 0 que havia, € que deviamos contentar-nos com o que Deus nos dava... Resumindo: uns bananas. ~ Tento na lingua, minha filha - disse o pai Mas Carochinha fez que no ouviu: = Ao menos 0 Joao Ratdo disse logo que sé comia do bom e do melhor. Foi ai que decidi casar com ele, = Eonde est ele agora? - perguntou a mée. = Imagine que ja estévamos a chegar estacdo quando dei pela falta das luvas! Pedi-Ihe que ‘as fosse buscar a casa, mas ja deve estar a chegar. ~ Endo podias passar sem luvas? ~ resmungou o pai. = 6 pai, agora sou rica, tenho de me vestir bem. A seguir vamos 4 missa, vai |4 estar a aldeia em peso ¢ 0 que néo diriam se me vissem aparecer sem luvas = Claro... - disse a me, que andava sempre a par de todas as modas. Esperaram pelo Joao Rato alguns minutos. Esperaram muitos minutos. Esperaram muitissimos minutos, ~ Estou a ficar preocupada ~ disse Carochinha -, deve ter acontecido qualquer coisa. ~ Talvez seja melhor irmos a casa ver se ele ld esta - disse a mae. Mal a casa se avistou e j4 um cheiro a comida se espalhava por toda a parte. - Ummmm... que bem que cheira ... ~ murmurou o pai. ~ Eo cheiro do cozido que deixei na panela para o nosso almogo ~ disse a Carochinha. ~ Cozido para o almoco... - murmurou a mae - ¢ logo hoje que estou de dieta... Entraram em casa, mas 0 Jodo Ratao néo se via em lado nenhum. ~ Joo Ratao! - chamou Carochinha uma vez, duas vezes, trés vezes, Mas ninguém respondia. = Venham cé depressa - ouviu-se a voz do pai, vinda da cozinha. ~ Acho que o encontrei. E [a estava 0 corpo de Joao Ratdo, dentro da panela, a boiar entre as couves, o chourigo ea farinhetra = Ai o meu querido Jodo Ratio, cozido assado no caldeiréo! - chorava a Carochinha, ~ Tao bem e tanto quis comer, que acabou por morrer no melo da comida - disse o pai, que nao perdia a oportunidade de dar uma licao. E a Carochinha continuava a chorar, enquanto a casa se enchia de vizinhos tentando conforté- -la. Ao fim do dia os pais voltaram a apanhar o comboio para regressarem a casa. = Coitado,.. ~ murmurou a mae -, mas eu sempre disse que ele nao era marido para ela Algum tempo depois, receberam uma carta da Carochinha, em que ela mandava dizer que tinha voltado a casar, desta vez com um carocho igualzinho a ela, que comia tudo o que ela he 2 punha na mesa, com quem pensava passar o resto da vida e gastar os cinco réis, que ainda es continuavam no banco. 2 Sopp Do cozipo Depois do cozido fica sempre um caldo, pede pera te guarderem um b ocodidho de cade coisa. ¢ faz um brillhorete, Para lO pessoas ING REDIENTES OUANTIDADES Massa pevide 509 GCengib re picado Dg Folhas de hortela D uridades Cenoure cozida corbada em mens bas 1D unidedes Veriedade de couves cozidas 300 9 ‘Chourigo cozido 1D rodelas. Ferinheira cozide 1D rodelas Mas & ob ral Leva 0 caldo ao hme € pue @ cozer uma massa pevide bem pequerina: delra cozlthor e perto do fim junta gengib re picadiahno ¢ hortela, Serves cada prato com uma lasca de cenoure, um montinho de couves, uma pequena rodela de chourigo € outro de feritheira, juntas 9 caldo com a massinhe € perfumes com ume fallicha verde de hotels. Certificamte de que nao esta Ié coids Joa Retao,, ehehehehehehi! Os TRES POROLINHOSg Quando 0s trés porquinhos chegaram a Aldeia das Acucenas, decidiram que era mesmo ali que queriam ficar a morer. = Vou J construir a nossa casa - disse 0 porquinho mais velho. = Cautela - avisaram as pessoas da aldeia. - 0 lobo costuma andar por ai, por isso construam uma casa resistente, onde ele no possa entrar. Ele as vezes tem um ar simpatico, e fala com bons modos, mas com os lobos todo o cuidado € pouco s porquinhos agradeceram 0 conselho e meteram patas ao trabalho. No caminho havia muitos fardos de palha, ceidos de um camiéo, e que ninguém tinha vindo buscar. Entao 0 porquinho mais velho, que era muito poupado, aproveitou-os e, em menos de uma hora, a casa ficou pronta, Uma linda casinha de palha. Mas 0 lobo espreitara tudo e, mal a casa ficou pronta, bateu 8 porta: = Por favor, deixem-me entrar! Trago um bolo de cenoura, laranja € chocolate que eu préprio fiz para |hes dar as boas-vindas! E 0 melhor bolo do mundo e gostava de o partilhar com vocés! Mas os porquinhos no se convenceram com a fala mansa do lobo = 0 que tu queres é comer-nos, vai-te embora! Furioso, 0 lobo encheu o peito de ar, soprou com quanta forca tinha e, em menos de um segundo, a casa velo abaixo. Fugiram os porguinhos, muito assustados, sé parando quando ja no se avistava 0 lobo. = E agora? - perguntou o porquinho mais velho. = Agora vou eu construir a nossa casa - disse 0 porquinho do mei Regressaram @ aldeia e, junto a umas obras, encontraram muitas vigas de madeira que nao tinham sido utilizadas e que ninguém queria. © porquinho do meio, que também era muito poupado, agarrou nelas e, ao fim do dia, a casa estava pronta. Uma linda casinha de madeira. + Mas 0 lobo nao desistia as primeiras e mais uma vez bateu a porta, é = Deixem-me entrar! 0 meu bolo de cenoura, laranja e chocolate é o melhor do mundo e eu gostava de o partilhar com vocés, j4 que vamos ser vizinhos! Mas os porquinhos no se deixavam enganar facilmente = O que tu queres é comer-nos - disseram, l& de dentro -, vai-te embora! Furioso, o lobo comegou a dar encontrdes a porta, pontapés as paredes, tudo com tanta forca que, em menos de um minuto, a casa veio abaixo, Fugiram 0s porquinhos, muito assustados, 36 parando quando jé ndo se avistava 0 lobo. ~ E agora? - perguntou 0 porquinho do meio. = Agora - disse 0 porquinho mais novo -, vou eu construir a nossa casa, ¢ vocés vo ver finalmente 0 que é um porco esperto! Os outros dois comegaram a rir, porque © porquinho mais novo era muito pequeno, s6 sabia correr atrés de borboletas, nunca seria capaz de construir uma casa. Regressaram a aldeia e, junto das mesmas obras, encontraram muitos tijolos que também tinham sobrado e ninguém queria, ~ E disto que eu vou construir a casa - disse o porquinho mais novo, que, tal como os irmaos, também era muito poupado. ~ De tijolo?! ~ admiraram-se os outros -, isso vai demorar imenso tempo! - 0 tempo que for necessétio. E comecou logo a trabalhar. Ao fim de uma semana a casa estava pronta. Uma linda casinha de tijolo. E logo o lobo Ihes bateu 3 porta: ~ Vé ld, deixem-me entrar, tenho aqui o melhor bolo do mundo para Ihes dar as boas-vindas a esta aldeia! Por favor, acreditem em mim! ~ Vai-te embora! O que tu queres & comer-nos! ~ gritaram os porquinhos. Furioso, olobo comecoua soprar com quanta forca tinha, ea dar pontapés, e socose encontrées ~ mas nada abalava @ casa, que continuava de pé. Acabou por desistir, € foi-se embora. E, enquanto os porquinhos passaram a noite felizes por estarem na casa nova, mas cheios de fome (com o lobo por perto nao se tinham arriscado a ir ao supermercado buscar comida..), as pessoas da aldeia, reunidas junto do coreto, encheram a barriga de enormes fatias de bolo de cenoura, laranja e chocolate, que 0 lobo ia distribuindo, lastimando a sua sorte: ~ Mas por que é que ninguém acredita em mim? Eu sé queria partilhar este bolo com eles, € dar-lhes as boas-vindas & aldeia! Vocés acreditam em mim, no acreditam? ‘As pessoas acenaram todas que sim. Até porque, com a barriga cheia de bolo de cenoura, laranja e chocolate, acredita-se em tudo. 2 BoLo DE CENOURK, LARANJA E CHOCOLATE ING REDIENTES QURNTIDADES Bolo Cenoura 500 9 Keeite virgem extra bal Farina 400 9 Rospa de leranja Fermento em ps | 2 colheres de café Kgdcor 500g Oves 4 Canela em pou I Cobertura Chocolete negro 509 Netas 05 al Maos & ob re! Colca o azeite, 0 agicar € os ovos na batedeira e mistura até obteres um preparady hhomogéneo K parte, coma tigels de inot, poe « forirha ¢ os restontes ingredientes secos, ¢ faz um bureco a0 centro, Kalcione © preparads anterior € a cencura previamente cozide e triturada, a raspa de larenja e envolve tudo muito bem. Deite 0 preparado numa forma unbada com manteige € pobilhada com farinhe ¢ leva « cozer em forno aquecide a 160°C durante 45 minutos, Deira orrefecer € desenforma, Cobertura: Derrete o chocolate € mistura com a ratas. Cobre o bolo com fe misture, \ GAT BORRALHEIRA Desde que o pai de Gata Borralheira voltou a casar, nunca mais a menina teve sossego lavava, engomava, cozinhava, varria, arrumava a casa - e, 2 noite, ainda tinha de levar ao quarto da madrasta um cha de jasmim que ela fazia como ninguém. Por isso, quando ouviu 0 arauto real anunciar que 0 principe convidava todas as meninas do reino para um baile onde iria escolher noiva, Gata Borralheira ainda pensou que a sua vida poderia mudar. Mas a madrasta deu uma gargalhada. ~ Tu? Queres ir ao baile? E com que vestido? Gata Borralheira olhou para os trapos que Ihe cobriam 0 corpo e suspirou: = Talvez uma das minhas irmas me possa emprestar um... Nova gargalhada da madrasta. - A seda nao se fez para gente como tu No dia do baile as itmas e a madrasta partiram numa carruagem puxada por cavalos brancos, € Gata Borralheira ficou a chorar. Mas 0 que a madrasta nao sabia € que a madrinha de Gata Borralheira era uma fada. E nenhuma madrinha - seja fada ou gente normal - gosta de ver chorar uma afilhada. Vinda la da sua nuvem e com uma varinha de condao mais brilhante que © Sol, apareceu a Fada Madrinha, que quis saber por que estava @ menina a chorar. Depois de ouvir a historia toda, disse: = Com os poderes da minha varinha, vais ao baile e seras @ mais bela! De repente os trapos transformaram-se num vestido bordado a ouro, uma abébora que estava ao fundo da cozinha transformou-se em carruagem, e os ratos que viviam no buraquinho da despensa transformaram-se em pajens. = Mas cautela - disse a fada -, tens de voltar antes da mela-noite, pois, mal comecem a bater as doze badaladas, tudo volta a ser 0 que era Gata Borralheira dancou toda a noite com o principe, € os convidados, sem saberem quem ela era, olhavam para eles e diziam que tinham sido feitos um para 0 outro. De repente comesaram a ouvir-se as badaladas, Gata Borralheira, assustada, fugiu a correr pelo saléo, pelos corredores, pela escada abaixo. Com a pressa, perdeu um dos sapatos. Ainda pensou em procuré-lo, mas desistiu: com a carruagem de novo na sua condicéo de abdbora, tinha de ira pé para casa, e se a madrasta chegasse e néo a visse, havia de ser o bom e 0 bonito. No dia seguinte, um pajem bateu-Ihes porta. Trazia um sapatinho de cristal em cima de uma almofada de cetim. ~ O principe quer encontrar a dona deste sapatinho, por isso mandou bater a todas as casas do reino, e pedir a todas as jovens que o experimentem. Aquela a quem ele servir casaré com 0 principe. Logo as trés irmas de Gata Borralheira se precipitaram. Mas a nenhuma o sapatinho servia. ~ Ha mais jovens nesta casa? - perguntou o pajem. = Nao, aqui... - ia a dizer a madrasta, quando aparece Gata Borralheira, Estendeu o pé, e 0 sapatinho entrou na perfeicéo. ~ Jd agora - disse -, tenho aqui o par. E tirando da algibeira 0 outro sapatinho de cristal - a unica lembranca que @ madrinha ‘autorizara que guardasse - calcou-o também. Os pajens levaram-na até junto do principe, que imediatamente marcou o dia do casamento. ~ E agora? Quem me faz 0 ché de jasmim? ~ chorava 2 madrasta, que nunca percebeu bem © que se tinha passado. Mas Gata Borralheira tinha um coragio de ouro e sé queria a paz no mundo, Por isso ensinou a cozinheira do palicio a fazer um ché de jasmim 8 sua maneira, e todas as noites um criedo vai a casa da madrasta com um bule de ché, para que ela possa dormir tranquilamente. s Cith DE JRSMIM COM ESPECIARIAS ING REDIENTES GURNTIDADES - Kris estrelado Vunidede Pou de canela Vunidede Sementes de cardamomo 3 unidades Kgue V Flores de jasmin, Dg Mes & obral Colca cum chnoferig uma estrele de aris, um pequeno pau de conek, trés sementes de cardemomo € dez sementes de coentros em gras, Esmaga todas as especiarias, enquanto a dgua ferve num tacho fapads. Kpaga o me € Junta as especiorias e as flores de jasmin, Espera S minutos com 0 tacho tapads, fttra com um panidhe limpo. e fers um delicioso cha de jasmin com especierias, ZB VELHK ex CABAGK os Era uma vez uma velha a quem todos os anos nascia um neto. E de cada vez que ia a0 baptizado todos Ihe pediam que levasse arroz-doce, sonhos e rabanadas. Um dia, ia a velha a atravessar a floresta para se dirigir a0 baptizado de mais um neto, quando um lobo Ihe salta ao caminho. = Vou comer-te! - disse ele, - Nestes ultimos tempos nao tem passado aqui ninguém, por isso ando com uma fome que nem me aguento em pé! Vais ser 0 meu jantar! Tremendo de medo, disse a velha ~ J4 olhaste bem para mim? Tive tanto trabalho a fazer os doces para a festa que estou pele osso! Nao vais ter muito que comer... Mas se esperares por mim, no regresso da festa jé venho bem mais gorda, com tudo o que ld comi. Ent&o poderei ser um bom jantar para ti ~ Aceito - disse 0 lobo -, mas & vinda nao me escapas. Durante todo o baptizado a velha esteve sempre muito triste, a pensar no que a esperava. Um vendedor de cabacas que também fora convidado para a festa quis saber por que estava ela to triste que nem comia as coisas boas que tinha trazido. Entdo a velha contou-lhe tudo o que Ihe tinha acontecido. = 0 diabo - murmurou 0 homem, trincando a quinta rabanada -, ser comida por um lobo no tem graca nenhuma, ~ Nenhuma... ~ repetiu a velha Ficou o homem em siléncio durante algum tempo até que, de repente, exclamou = Tive uma ideia! - E olhando pare a velha disse-Ihe ao ouvido: - Acho que o teu arroz-doce, (5 teus sonhos e as tuas rabanadas tomam uma pessoa mais inteligente! E acrescentou: = 34 sei o que has-de fazer para fugires ao lobo. Levas a maior das minhas cabacas e assim ‘que o avistares metes-te dentro dela e vais a rolar 0 caminho todo até casa. Garanto-te que ele nao te apanha. ‘A velha ficou mais aliviada e até conseguiu comer uma tigela de arroz-doce, trés sonhos duas rabanadas. Até se sentia mais gorda. ‘Acabado o baptizado, despediu-se de todos e, tal como Ihe prometera, o homem ofereceu-Ihe a maior das suas cabacas: ~ Es pequenina, portanto cabes bem aqui dentro. E nao te esquecas: estiveres em tua casa! 36 sais daqui quando Meteu-se a velha ao caminho e, quando ia a entrar na floresta, avistou o lobo ao fundo. ~ Vamos Ié ver se isto dé resultado... - murmurou, entrando para dentro da cabaca E logo a cabaca comecou a rolar pela encosta abaixo. Passou mesmo rentinho ao lobo, que Ihe perguntou: O cabaca, cabacinha viste af uma velhinha? Regressa de um baptizado Deve vir muito gordinha... Ao que a velha, tentando disfarcar a voz, respondeu la de dentro: No vi velha nem velhinha No vi velha nem velhso Corre, corre cabacinha, Corre, corre cabagao! E assim, sempre @ rolar, sempre a rolar, chegou a casa sem que nada de mal Ihe acontecesse. E como estas coisas abrem sempre muito o apetite, foi imediatamente cear os restos do arroz-doce, dos sonhos e das rabanadas que tinham sobrado da festa. Quanto 20 lobo, dizem que a esta hora ainda anda pela floresta, desvairado de fome, a perguntar a toda a gente se alguém viu uma velha gorda a voltar de um baptizado. RROZ-DOCE COM LIMK E CRNELA ING REDIENTES Keroz carolina Agua Sal marino Leite Lima ralaga Kais estrelado Kgtcar Gemes Canela em po Maos & ob rat Coze 0 arraz em dgua temperade com sale quando a maior porte da agua evaporer junta o leite, « casca da lima relada ¢ 0 aris estrelads. Espere até levantar fervure € jumba o agdcar: deiza cozidhor mais dois minutos € adiciona as gemas, merendo sempre. Colca em togas pequenes, detra arrefecer e polvilha com canels em pi. GUANTIDADES 400 g al qb. l2\ \ 3 400 9 6 unidades: qb. s K SOPK px PEDR Frei Jo30 costumava dar um grande passeio pela manha, mas, naquele dia, tinha-se afastado de mais do convento. Comegava a sentir fome, e nao via onde pudesse almocar. Por ali nao havia restaurante nenhum - e, mesmo se houvesse, ele nao levava dinheiro para pagar. Os frades do convento eram muito pobres, nunca tinham dinheiro, viviam de esmolas e comiam do que a horta dava. Sentou-se numa pedra a pensar na vida, quando viu ao longe uma casa com uma chaminé por onde saia uma nuvem de furno muito branco. = Devem estar a fazer 0 almogo - pensou ~ e certamente nao vao recusar um pedaco de pao 2 um pobre frade. Levantou-se, pegou na pedra que Ihe tinha servido de assento e lhe pareceu propria para colocar a um canto da sua cela, onde nem um banco existia, e caminhou até a casa donde vinha © fumo. Bateu a porta. = Aqui no damos esmolas a ninguém - disse logo uma voz de mulher muito maldisposta. - A comida é pouca, nem para nés as vezes chega. = Quem da aos pobres, empresta a Deus... ~ ainda disse Frei Joao. Mas a mulher ndo estava em dia de atender a provérbios. ~ Vai bater a outra porta - disse ela. - Mas eu nao quero esmolas ~ disse Frei Jodo - nem comida. - Nao? - perguntou a mulher, desconfiada -, entdo por que bateste 4 minha porta? = Queria apenas pedir dgua. ‘A mulher cogou a cabeca, embaracada. ~ Bom, um copo de gua no se recusa a ninguém... Va Id, entra. Entrou o frade e, quando a mulher ihe ia a dar um copo de égua, murmurou: ~ Se em vez de um copo me pudesses encher uma panelita e a pusesses ao lume, eu deitava | dentro esta pedra e fazia uma sopa. ‘A mulher abriu muito os olhos, nunca tinha ouvido dizer que se podia fazer sopa de uma pedra, mas o frade garantia que sim e que era uma especialidade. Chela de curiosidade, a mulher encheu uma panela de 4qua, o frade atirou a pedra la para dentro e acendeu o lume. - E uma dptima sopa - garantiu, murmurando em seguida: - Claro, se eu metesse la dentro uns talos de couve, ficaria ainda melhor. ~ Nao seja por isso... - disse a mulher, indo rapidamente ao quintal buscar a melhor couve- portuguesa que Ié havia, entregando-a depois 20 frade. O frade mexeu a sopa, dizendo = Ummmm, que bem que cheira.. E, num fio de voz: = Bom, se eu Ihe acrescentasse umas batatinhas, entao é que ficava mesmo uma delicia... = Nao seja por isso - disse a mulher, trazendo da despensa meia dizia de batatas novas, entregando-as depois 20 frade. 0 frade continuava a mexer, a mexer, e 2 aspirar 0 perfume que, segundo ele, saia da panela, ~ Que beleza de sopinha... E, em voz muito baixa: ~ Ah, se eu tivesse umas rodelinhas de chourigo, ento € que esta sopa ficava divinal... ~ Nao seja por isso - disse a mulher, que em menos de um ai foi despensa e voltou com grossas fatias de chourico e paio. O frade mexia, mexia, mexia. = Uns feijes agora é que vinham mesmo a calhar... ~ murmurou ele -, mas se no houver, paciéncia. ~ Ora essa - disse @ mulher -, que nao seja a falta de uns miseros feijées a estragar o petisco! E vieram feijées para dentro da panela. - Um fiozinho de azeite a ligar tudo - e temos aqui um manjar dos deuses! ~ disse 0 frade, beijando a ponta dos dedos, enquanto a mulher deitava para dentro da panela um fio de azeite muito limpido e doirado. Ao fim de alguns minutos a sopa estava pronta e cheirava que era um regalo. Frei Jodo sentou-se 8 mesa da cozinha, convidando a mulher a partilhar do seu almoco. Comeram, comeram até nao ficar mais nada na panela. Quer dizer: até ficar 56 a pedra. ‘A mulher olhou Id para dentro e perguntou: ~ Ento... e a pedra? Frei Joao sorriu, com ar trocista: ~ A pedra?... Bom, entao agora lavo a pedra e levo-a comigo para me garantir 0 jantar noutro sitio qualquer. 'S6 muito tempo depois, jé Frei Joao ia a chegar ao convento, é que a mulher, que ndo parara de pensar naquela historia, murmurou: = Tenho a impressao de que o frade me aldrabou Soph Dk PeDRA ING REDIENTES OUANTIDADES: Feiyz-Vermelno demolheds 600 9 Entrecosto em polos 500 9 Chourigo de carne Vunidade Ceb ol em cub 05 3509 Batatas em quortos 300 g Couve-portuguese 600 9 Ferinheira lonidade Touciho entremeado 300 9 Klho laminado: 3 dentes Coentros Imolo, Keeite virgem extra lal Louro 2 folhas Colora ab Sal grosso qb . Pimento de moirho ab Mavs & ob ral Coloca a pedra numa panels com agua (cautelal Estomos a brincar', Junta o entrecosty € 0 toucirho, sal e lure. Depois de sozidas, corte as carnes ¢ reserve, Coze @ forinheira € 0 chourigo no celdo da carne, respeitando também as suas cozeduras, Depiis de c2ides, corto-os as rodelas, Ro mesmo tempo coze o feija0 numa panels, coberto com dgue. Depois de cozido, reHra metade do feijao, Ndiciona « batata ao coldo do feijao, a cebola em cubo5, 0 allo laminado ¢ a owe, € por fim junta o resto do feljao, as cernes € 05 enchidos. Tempers @ gosto, perfuma com coentros € junta ume pitada de cokrou. Kh! Cuidado com @ pedra, podes partir um dentell INDICE CRPUCHINHO VERMELHO GELADINHOS DE GUEUIO FRESCO, MANGA, PRSSKS E HORTELK, BRANCH DE NEVE MacRs-REINETAS NSSADAS COM LARKNJA & CANELK K CKSINH§ DE CHOCOLATE TARRTE DE CHOCOLATE COM VARIEDADE De FRUTA E HORTELA JORO PE DE FEURO ‘SRLADINHA DE FEURO-FRADE COM GENGIBRE E SALSK BELA ADORMECIDA CRLDO DE AYES E COGUMELOS I PRINCESA E fk ERVILHA CREME DE ERVILHK COM POEJOS ea KK RAPOSK EK CEG-ONHA, ‘SOPA FRIK DE TOMATE E PESSEGO PERFUMADA COM COENTROS CKROCHINHK E JORO RAT RO Sopr Do cozipo OS TRES POROUINHOS - Bolo De CENOURK, LARANJA E CHOCOLATE AK GAT BORRALHEIRA CHth DE JNSMIM COM ESPECIKRIKS KVELHK EK CABACK - RROZ~DOCE COM LIMR & CANELK “ A SOP DA PEDRA ‘Soph DA PeDRK pig pig. 12 pags pig b Pg B pig 20 pig. 22 Pig 24 pig 26 pig 28 eo peg 32 pi 4 pi9.36 pig 32 pig. AO Saye pg Ae pig 46 ceeee pf 50 pig 52 pig SA Sabias que, afinal, o Lobo Mau queria comer a merenda do Capuchinho Vermelho? E que a Branca de Neve convidou os seus amigos anoes para abrirem um restaurante? Pois é, em A que sabe esta histéria? Alice Vieira reconta historias de sempre 3 com muito humor e... sabor Vitor Sobral da uma receita por conto, para cozinhares com os teus pais. Diverte-te a ler € a descobrir os segredos da culinaria! it!

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