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F.D.C.E.
1. Direito Romano:
1.1. Conceito
1.2. Caracterização
1.3. Desenvolvimento
1.4. Utilidade
1. Conceito
Direito Romano poder-se-á entender como um conjunto de normas ou regras jurídicas que
vigoraram no mundo romano desde a Fundação de Roma ( 753 a.C. segundo a tradição ) até 565
( ano da morte do imperador do Oriente Justiniano ).
Caracterização:
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A Fides, cujo significado era ter confiança, fé, e depois passou a ser, responsabilidade,
o cumprimento fiel da palavra e dos contratos, o sentimento de lealdade contratual.
Assim, a Fides constituía uma força moral que se impôs no mundo do direito.
A tutela
O patronato
A potestas do paterfamilias
A sucessão legítima contra o testamento
Tendo o Direito Romano sofrido profundas e inevitáveis alterações, é necessário saber quais as
sucessivas fases por onde passou.
Dos diferentes critérios propostos, seguiremos o critério jurídico-interno que permite distinguir
as seguintes épocas históricas: arcaica (de 753 a 130 a.c. ); clássica (de 130 a.c. a 230); pós-
clássica (de 230 a 530 d.c.); e justinianeia (de 530 a 565).
• A época arcaica vai desde a fundação de Roma até 130 a.c., data da lex Aebutia de
Formulis que, tendo legalizado o dinâmico processo das fórmulas ( agere per
formulas ), contribuiu decisivamente para o afastar o arcaico sistema processual das
Legis aciones e para o grande desenvolvimento do Direito Romano. O primeiro período
denomina-se época do Direito Romano nacionalista ou quiritário; o segundo, época do
ius gentium ou do Direito Romano universalista.
• Segue-se a época clássica que termina no ano 230 com a substituição do processo das
fórmulas pela cognitio extraordinária e o esgotamento da jurisprudência. Subdivide-se
em três etapas:
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• Vem depois, a época pós-clássica, entre os anos 230 e 530 ( quando Justiniano
encarregou Triboniano de elaborar os Digesta seu Pandectae). Compreende
duas etapas:
Utilidade
O Direito Romano, destacou-se com o seu grande contributo na formação do jurista, quer
porque lhe transmite certa liberdade e uma relativa independência perante a lei, quer porque
ensina a criar, a interpretar e a aplicar a norma adequada à especificidade de cada situação, quer
porque mostra a solidez de princípios perante as transformações da vida jurídica que atravessa
uma crise muito semelhante à que sofreu o mundo Romano.
Depois o ensino do Direito Romano evidencia a grande perfeição técnico-jurídica da
jurisprudência romana. O Direito Romano constitui “ o alfabeto e a gramática da linguagem
jurídica”.
2. Noções fundamentais
2.1. Direito Civil, Direito Honorário e Direito Pretório
2.2. Direito das Gentes e Direito Natural
2.3. Direito Comum e Direito Singular
2.4. Concepções jurídicas modernas aplicadas ao Direito Romano:
2.4.1.Direito Objectivo
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2.4.2.Direito Subjectivo
2.4.3.Personalidade Jurídica
2.4.4.Capacidade Jurídica de agir e de gozo
2.4.5.Facto Jurídico
2.4.6.Negócio Jurídico
O Ius civile é o direito próprio duma civitas; por isso, o ius civile romanorum é o direito
específico da civitas romana.
As suas fontes são, as leis, os plebiscitos, os senatusconsultos, as constituições imperiais e a
jurisprudência, a que Iulianus juntou o costume. Também chamado quiritário ( porque os
primitivos cidadãos romanos denominavam-se quirites ), o ius civile era um direito formalista e
rígido. As suas normas regulavam sobretudo relações jurídicas em que intervinham os poderes
pessoais do paterfamilias: a pátria potestas, a Dominica potestas, a manus, o dominium, a
obligatio, a hereditas.
O Ius Honorarium é um complexo de regras, por obra dos magistrados, sobretudo do pretor,
cuja função era ajudar, suprir, emendar o direito quiritário. Honor – cargo do magistrado. Este
divide-se em ordinária, que por sua vez subdivide-se em:
• Censor
• Cônsul
• Pretor
• Edil cônsul
• Questor
• Ditador
• Trilho da plebe
O Ius Praetorium é um sistema jurídico, feito pelo pretor urbano, quando começou a proteger
casos não previstos pelo ius civile.
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o Ius Gentium era o direito comum aos cidadãos romanos e aos estrangeiros ( peregrini ).
Assim, o ius gentium é constituído por instituições e princípios jurídicos que, por virtude da
naturalis ratio, se foram formando em todos os povos.
Porém, o ius gentium não impediu os diferentes povos de se regerem pelos seus próprios
direitos civis; tão-só representa a conciliação possível do princípio da personalidade do direito
com a necessidade de regular as relações jurídicas privadas entre os povos.
O Ius Naturale era uma norma constituída de antemão pela natureza e não pela criação
arbitrária do homem. Direito estabelecido pela providência Divina (em desacordo com o
conceito actual de Direito Natural).
Esta nova visão produziu a separação entre o ius naturale e o ius gentium. Se na época clássica
estes direitos se fundamentavam na realidade objectiva das coisas ( naturalis ratio ) e, por isso,
tornavam-se escravos, segundo esses iura, os filhos duma escrava e o inimigo capturado na
guerra, doravante, por força do principio de que todos os homens nascem livres, a escravatura
vê-se excluída do ius naturale e restringe-se ao campo do ius gentium.
Por Direito Comum (ius commune) entende-se um conjunto de normas jurídicas que têm um
carácter geral: aplicam-se a uma série ilimitada de casos genericamente pré-fixados.
O Direito singular (ius singular) é um conjunto de normas jurídicas com carácter singular
excepcionais. Têm que ter um fundamento próprio para justificar a sua aplicação. Ex:
testamento militar.
Conjunto de normas jurídicas que disciplinam a conduta humana na sua vivência em sociedade.
As normas jurídicas aplicam-se a pessoas determinadas, num certo espaço e durante um especial
período de tempo.
No direito romano privado rege o princípio da personalidade jurídica – susceptibilidade ou
possibilidade de sermos sujeitos de direito das obrigações. Aplica-se exclusivamente aos
cidadãos romanos.
O povo ou o legislador, que oferece a norma jurídica, pode fazer cessar a sua vigência. Por isso,
o costume deixa de vigorar quando o povo pratica actos contrários (costume contrário) ou deixa
de o observar. Pode também ser revogado por uma lex.
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o Revogação – a lex posterior retira a vigência total ou parcial a uma lex anterior.
o Costume contra legem – tendo a lex e o costume o mesmo valor, este pode fazer cessar
a vigência daquela.
Poder ou faculdade que cada um de nós tem de exigir ou impor consequências jurídicas. Direito
visto na perspectiva dos sujeitos individuais.
Estas faculdades, que manifestam a autonomia individual, dependem, no entanto, do
reconhecimento de personalidade e de capacidade jurídica (de gozo) e o seu exercício ou poder
de actuação exige que o titular tenha também a correspondente capacidade (de agir).
Podemos distinguir dois grupos de direito subjectivos que o Direito Romano reconheceu:
Direitos do paterfamilias
Direitos reais sobre as coisas
Direitos de crédito
Direitos sucessórios
Direitos sobre direitos
Direitos sobre a própria pessoa.
O uso de um direito subjectivo consiste na realização das faculdades que integram o seu
conteúdo. O seu titular goza da liberdade de usar ou não os seus direitos, sem prejuízo de o
direito objectivo poder atribuir determinados efeitos prejudiciais ao não uso: a caducidade e a
prescrição.
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Consiste na aptidão para ser titular de um círculo, com mais ou menos restrições, de relações
jurídicas. Conceito quantitativo.
Pode ser um contrato, empréstimo, compra e venda, ou seja, é um acontecimento da vida real
que produz efeitos jurídicos. Estes efeitos jurídicos constituem factos extintivos, constitutivos e
modificativos.
Podem ser:
• Negócios jurídicos
• Simples actos jurídicos
• Damnum
• Iniuria
• Culpa
Acto jurídico constituído por uma ou várias declarações de vontade. É um acto voluntário que o
Direito Tutela reconhece dos negócios jurídicos. Os seus efeitos são Ex Voluntate ( segundo a
nossa vontade ) e não EX Lege ( segundo a lei ).
Os negócios jurídicos podem ser:
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3. Fontes da Ius Civile:
3.1. Costume (mores maiorum, consuetudo, usus)
3.2. Lei (lex Rogata)
3.3. Plebiscito (plebiscitum)
3.4. Senatusconsultos (senatusconsultum)
3.5. Constituição Imperial (constitutio)
3.6. Jurisprudência (iurisprudentia)
A expressão fontes do direito é uma metáfora porque, em rigor, fonte é o lugar onde a água nos
aparece: se vê e se pode facilmente recolher.
Pode-se falar de “ fontes do direito “ em vários sentidos:
3.1. Costume
Foi a forma espontânea e mais antiga de formação do direito. Actualmente, considera-se como a
observância geral, constante e uniforme de uma regra de conduta, por parte dos membros de
uma determinada comunidade social. Os membros estão convencionados, que a regra de
conduta corresponde a uma necessidade jurídica.
Os romanos chamavam-lhe de: Mores (regras jurídico-religiosas que insensivelmente
engrossavam o património de valores e de crenças da antiga sociedade romana que a tradição
conservava); Mores Maiorum (tradição duma comprovada moralidade que a interpretatio
jurisprudencial desenvolveu e adaptou às novas exigências da vida); e o vocábulo Consuetudo,
surge muito posteriormente a afirmar uma regra estritamente jurídica.
Quando todos os habitantes do Império que eram livres, se tornaram cidadãos, os costumes
opuseram-se ao Direito Romano. Com isto, os costumes perderam o valor como fonte de direito.
3.2. lei
Lex Rogata – declaração solene, feita pelo povo pelo facto de aprovar em comum nos comícios
com uma autorização responsável (issum) uma proposta feita pelo magistrado.
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• Rogatio – pedido de aprovação da proposta
Denominação:
A Lex Rogata tinha o nome do autor de proposta e como havia dois cônsules ( magistrados ) em
Roma, a lei tinha de ter os dois nomes : Valeria et Horatia. A lei pode ser conhecida por um só
nome, ou seja, um plebiscito. A lei dirige-se ao povo, Mas se desobedecerem, a lei tem uma
reacção negativa – sanção (sanctio) – pois só ela disciplina a nossa conduta. No entanto, tem de
se ter em conta a natureza da Sanctio.
• Sanções (sanctio):
• A Lex Rogata era a principal fonte de direito, depois da lei das XII tábuas.
3.3 Plebiscito
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O Plebiscito é uma deliberação da plebe que, reunida em assembleia (concilium), aprova uma
proposta do tribunis plebis.
Inicialmente não teve carácter vinculativo. Posteriormente, a lex valeria Horatia de plebiscitus
atribui forças vinculativa entre os plebeus; e no ano 287 a.C., a Lex Hortênsia de plebiscitis
estendeu aos Patrícios, ficando, portanto, equiparado às leis comiciais.
Era indiferente que uma proposta de lei fosse apresentada pelos cônsules nos comitia ou pelos
tribunais nos concilia.
Em geral, o plebiscitum distingue-se da lex Rogata por somente conter um nome.
3.4 Senatusconsulto
3.6 Jurisprudência
É a ciência do justo e do injusto, para que se faça é preciso bases chamados pressupostos que a
filosofia dá ao jurista.
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Se um jurista simples tiver 2 soluções para o mesmo caso, tem de se guiar pela
opinião do jurista credenciado.
• Codex – é uma compilação de leges desde Adriano até Justiniano. Estas eram feitas
pelos comícios, senado, imperador, isto é, codex é uma colectânea de leges.
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5.3.5.actio directa e actio útil
5.3.6.actio directa e actio contrária
5.4. protecção jurídica extraprocessual. Especial referência:
5.4.1.à restitutio in integrum
5.4.2.ao interdictum
Em 130 a.C. foi aprovada a lex aebutia de formulis, que institui um novo sistema processual –
agere per formulas – agir através de fórmulas.
A fórmula era um documento escrito em que o pretor ordenava ao juiz que condenasse ou
absolve-se o demandado consoante se provasse ou não determinado facto, a sua elaboração
terminava a fase In Iuri.
A fórmula processual começa pela nomeação do juiz, geralmente escolhido pelas partes e que
era um particular, não um magistrado. Ex: “ Titius seja juiz “.
Modernamente a actio pode definir-se, do ponto de vista meramente formal, como o primeiro
acto que assinala o início dum processo. Em sentido material, é o instrumento jurídico que
permite a uma pessoa obter a tutela dum direito subjectivo previamente reconhecido pelo
ordenamento jurídico ou duma situação de facto que o magistrado prometeu proteger no seu
edictum. A actio constitui, portanto, um meio que protege um direito subjectivo pré-existente
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reconhecido pelo ordenamento jurídico ou uma situação de facto que o magistrado considerou
merecedora de protecção jurídica: no primeiro caso, temos a actio civilis ou in ius concepta; no
segundo, a actio praetoria.
Esta dualidade de actiones permite resolver o problema da relação entre actio e direito
subjectivo (ius). No âmbito, do ius civile, os direitos do paterfamilias sobre pessoas e res
sujeitas à sua potestas são anteriores às actiones que os tutelam; mas no campo das obrigações,
o direito do credor só surge quando se reconhece uma actio através da qual a responsabilidade
do devedor se torna efectiva. No âmbito do ius honorarium, o magistrado protege situações de
facto (não direitos subjectivos), outurgando actione praetoriae, portanto, a actio é anterior ao
direito subjectivo (que dela resulta). E porque, na maioria dos casos, os iura derivam de
actiones, bem se compreende que os jurisconsultos romanos tenham concebido o ius sob o
aspecto processual e o direito romano tenha sido entendido, na época clássica, como um sistema
de actiones.
6. Obrigação
6.1. Conceito. Origem
6.2. Fontes
6.1 Conceito
A obrigação é um vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa (credor) tem a faculdade de
exigir a outra (devedor) um comportamento (prestação positivo ou negativo).
• Facere – realização duma actividade que não se traduza num dare. Pode consistir
também numa abstenção (non facere);
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O comportamento (positivo ou negativo) do sujeito passivo deve ser possível física e
juridicamente, por isso, a obrigação que tivesse por objecto uma prestação absolutamente
impossível seria nula.
6.1. Origem
Por falta de elementos seguros, a origem romana, que remonta a uma época muito antiga,
constitui uma vexata quaestio que divide os historiadores do direito romano.
A teoria proposta por Brinz, (em relação à origem da obligatio romana merece destaque) para
explicar alguns institutos dos direitos nórdicos antigos e depois estendida aos direitos da
Antiguidade e até aos direitos modernos. Segundo esta teoria, na obligatio distinguem-se dois
elementos:
De qualquer forma os romanos não terão conhecido, durante alguns séculos, a noção abstracta
de obligatio como vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com outra à
realização de uma prestação: a obligatio terá consistido, antes, na sujeição física da pessoa do
vinculado ao poder material do credor. Só mais tarde se desmaterializou, passando a ser um
vinculum iuris e adquirindo carácter patrimonial.
7. Contrato:
7.1. Conceito. Elementos.
7.2. Classificação.
7.2.1.Unilaterais e Bilaterais
7.2.2.do Ius Civile e do Ius Gentium
7.2.3.de Boa Fé e de Direito Estrito
7.2.4.Onerosos e Gratuitos
• 2ª FASE – fase da afloração da vontade, esta começa a ser relevante, pois os direito
olha para a vontade. A vontade é importante nos negócios Mortis Causa ( produz efeitos
após a morte ) – “ Voluntas “, vontade e também nos negócios Inter Vivos ( produz
efeitos em vida ).
A vontade é o relevo jurídico. Esta fase é a intermédia, no entanto a vontade tem de ter
correspondência nas palavras, pois estas ( palavras ) têm de estar de acordo com a
vontade .
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• Causa – é o fim que o Ius Civile reconhece como social e economicamente digno de
protecção.
Naqueles só uma das partes se obriga a fazer uma prestação; nestes, também chamados
sinalagmáticos, cada uma das partes obriga-se, em relação à outra, a realizar a sua prestação.
Todavia, há contratos em que a obrigação de uma das partes pode surgir, não inicialmente, mas
durante a sua vigência. Por isso, fala-se de contratos bilaterais imperfeitos: sucedia, como o
comodato, o depósito, o mandato, o penhor e a fidúcia, quando a contraparte fizesse despesas
que podia exigir com a actio contraria.
Em relação aos contratos bilaterais, aplicava-se o princípio de que quem não satisfez (ou, pelo
menos, não ofereceu) a sua prestação não pode exigir que a outra parte satisfaça a sua. Este
princípio está na base da doutrina moderna da exceptio non andipleti contractus.
Pertencem ao Ius Civile os contratos celebrados por cives romani. Os contratos do Ius
Gentium são celebrados entre cives e peregrini ou entre peregrini.
Têm a sua origem no ius gentium os contratos consensuais, os contratos reais, a transcriptio a re
in personam e a stipulatio não celebrada na forma de sponsio.
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São de Boa Fé os contratos protegidos por actiones bonae fidei. Os contratos de direito estrito
são tutelados por actiones stricti iuris. Naqueles, o juiz deve apreciar todas as circunstâncias que
tenham ocorrido e considerar tudo o que é exigível entre pessoas justas e leais. Nestas, deve
observar rigorosamente o que foi acordado sem atender a qualquer circunstância que tenham
influenciado o conteúdo da obligatio.
São contratos de Boa Fé a compra e venda, a locatio-conductio, a sociedade, o mandato, o
depósito, o comodato, etc. A stipulatio constitui um exemplo de contrato de direito estrito.
São onerosos os contratos que criam, para ambas as partes, obrigações que se equivalem ou
equilibram: à perda patrimonial que uma das partes sofre na realização da sua realização da sua
prestação corresponde a perda patrimonial da outra. São exemplos a compra e venda e a locatio-
conductio.
Nos contratos gratuitos só uma das partes sofre uma perda patrimonial em beneficio da outra.
Constituem exemplos a doação, o depósito e o comodato.
8. Contratos Reais:
8.1. Noções gerais
8.2. Mútuo
8.3. Fidúcia
8.4. Depósito
8.5. Comodato
8.6. Penhor
Contrato real é aquele a cuja perfeição não basta a conventio entre as partes para produzir os
seus efeitos jurídicos: é também necessária a prática de um certo acto material (datio ou traditio)
em relação à res a que se refere.
8.2 Mútuo
O Mútuo é um contrato unilateral através do qual uma pessoa, que recebe de outra a
propriedade de determinada pecunia ou de outras res fungíveis, se obriga a restituir igual
quantidade do mesmo género e qualidade.
É constituído por dois elementos:
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• A Conventio – é o acordo das partes cujo objectivo consiste na restituição da pecunia
ou de res da mesma natureza, qualidade e quantidade das res mutuadas.
Trata-se de elementos essenciais e, por isso, não há mutuum se a res não for propriedade do
mutuante ou a conventio inválida por algum vício que a afecte a declaração ou a vontade de
uma das partes.
A relação obrigacional resultante do contrato de mutuum não ´é protegida por uma actio
particular. Todavia, o mutuante pode servir-se da actio certae creditae pecuniae se o objecto do
mutuum for dinheiro; e da condictio triticaria (ou condictio certae rei) se se tratar de outras res
fungíveis.
A eventual obligatio de o mutuário pagar juros não resulta do contrato de mutuum, mas de outra
relação inicialmente criada por um contrato formal (ordinariamente uma stipulatio dita
usurarum) e, provavelmente a partir da época pós-clássica, por um contrato literal. Assim,
enquanto a restituição do capital (sors) é tutelada pela actio que nasce do contrato de mutuum, à
obrigação de pagar juros corresponde a actio que surge da relação obrigacional que os tem por
objecto.
Na época republicana, um senatusconsulto proibiu o anatocismo: acordo pelo qual os juros não
pagos vencem juros. Esta proibição manteve-se com mais rigor no séc. III e sobretudo no direito
justinianeu que, sensível à censura cristã aos empréstimos usuários, também proibiu a
capitalização dos juros já vencidos.
Quanto aos juros não acordados, importa distinguir: os que já foram pagos serão descontados no
capital; os outros não podem ser reclamados. Trata-se duma consequência do princípio da
gratuidade do mutuum que, todavia, admite algumas excepções:
Destacamos:
o O mutuum de mercadorias
o O foenus nauticum
8.3 Fidúcia
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A Fidúcia é um contrato em que uma pessoa (fiduciante), utilizando um negócio jurídico formal
(mancipatio ou in iure cessio), transfere a propriedade duma res para outra pessoa ( fiduciário ),
que se obriga a restituí-la depois de realizado o fim definido num acordo não formal designado
pactum fiduciae.
• Fiducia cum amico – transferia-se a propriedade de uma res pessoa leal, com vista à
prossecução de diversos fins. Exemplos:
Como já referimos, o fiduciante era protegido pela actio fiduciae e o fiduciário dispunha da
actio fiduciae contrária para reclamar os gastos feitos na res e ressarcir-se dos danos
eventualmente causados.
8.4. Depósito
Depositário – tem a simples detenção da res que só lhe é confiada para custódia; portanto, não a
pode usar sob pena de cometer um furtum usus. E deve restituí-la nas mesmas condições em que
a recebeu com todos os seus frutos e acessões. Se se apropriar da res comete um furtum nec
manifestum punível com uma actio in duplum.
Depositante – deposita uma coisa móvel ou imóvel, não fungível, pois é um objecto com
individualidade e características próprias.
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8.5. Comodato
Como empréstimo de uso, o commodatum tem, por objecto, res não consumíveis. Porém, não se
afasta a possibilidade de incidir sobre res consumíveis desde que intervenham como específicas:
para o comodatário ostentar a sua propriedade perante terceiros ou para que, como no caso de
moedas, se tornem objecto de estudo, devendo ser depois restituídas.
Outra nota que caracteriza o commodatum é a gratuidade que o permite distinguir duma locatio-
conductio.
O comodatário obriga-se: a usar a res segundo o que foi acordado expressa ou tacticamente com
o comodante; a não deteriorá-la; e a restituí-la nas condições em que a recebeu. Se usar
diferentemente, incorre no furtum usus. No direito clássico, é responsável por custódia
(custodiam praestare). Por isso, se a res for roubada, responde perante o comodante e, em
consequência pode demandar o ladrão com a actio furti. No direito justianeu, responde com
base na culpa levis excepto se o comodato foi realizado no interesse exclusivo do comodante ou
para satisfazer um interesse comum: naquela hipótese, a sua responsabilidade depende de dolo;
nesta, de culpa in concreto.
O comodante está obrigado a ressarcir os gastos necessários que o comodatário fez para
conservar a res quer por si próprio. Para o efeito, goza do iudicium contrarium (ou actio
commodati contraria) e à pretensão do comodante pode opor o ius retentionis.
Acção contrária – o comodatário faz despesas para o guardar e o comodante recusa a pagar. O
comodatário tem direito de retenção, ou seja, não entrega o objecto enquanto o comodante não
pagar as despesas.
8.6. Penhor
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O penhor (pignus) é um contrato bilateral imperfeito em que uma pessoa entrega a outra uma
res para garantir uma obrigação própria ou alheia. O devedor (credor da obrigação garantida)
torna-se possuidor, mas em nome do credor.
Aí são fixadas as faculdades concedidas ao credor pignorático sobre a res e a obrigação de a
restituir após a extinção da relação obrigacional garantida. Portanto, este contrato, a cuja
perfeição é necessária a traditio da res, produz duas relações distintas:
o Um direito sobre a res (ius pignoris) a favor do credor da obrigação que se pretende
garantir;
Na época clássica, o credor pignoratício era responsável por custódia. No direito justinianeu, a
sua responsabilidade dependia da culpa levis (ou in abstracto).
Para tutela das obrigações resultantes do contrato de pignus o credor gozava de uma actio in
factum in personam contra o devedor (credor da obrigação garantida).
OBRIGAÇÕES DO CREDOR:
• Restituir a coisa, pois paga a divida – acabando o penhor. Se a coisa foi vendida, dado a
divida não ter sido paga, se houver sobra de dinheiro deve entregar o que restar.
OBRIGAÇÕESDO GARANTE:
9. Contratos Consensuais:
9.1. Noções gerais
9.2. Compra e Venda
9.3. Locação
9.4. Sociedade
9.5. Mandato
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determinada (como nos contratos verbais e literais) nem a entrega da res (como nos contratos
reais).
Estes contratos inspiram-se no princípio de boa fé e constituem o ponto de partida da evolução a
que chegou a hodierna figura do contrato.
O direito romano tipificou os contratos consensuais em quatro figuras distintas: a compra e
venda, a locação, a sociedade e o mandato.
o Res – a sua posse, livre e pacífica (vacum possessio) deve ser transferida ao comprador.
Pode ser corpórea ou não corpórea, presente ou futura. Não corpóreas são, as servidões
prediais ainda não constituídas, o usufruto, a herança já aceita pelo herdeiro e, na época
justinianeia, o direito real da enfiteuta e do superficiário. Pode também tratar-se de res
fungíveis e dum conjunto de objectos cada um dos quais com a sua individualidade
própria, dependendo da vontade das partes determinar se o objecto da conventio são as
res individualmente consideradas ou o conjunto em que se inserem.
o constituído por qualquer res, prevaleceu a opinião proculeiana de que “o preço deve
consistir em numerata pecunia“; de contrário, tratar-se-á duma permuta que é um
contrato inominado. O pretium deve ser certo, ou seja, a pecunia deve ser determinada
no momento da conventio ou determinável perante circunstâncias objectivas. Na época
clássica dicutiu-se a validade do contrato quando o pretium fosse deixado ao arbítrio de
um terceiro, mas acabou por prevalecer a opinião negativa de Labeo que justiniano
recusou, acolhendo o ponto de vista contrário: o contrato é válido se a estimação for
efectivamente realizada. Trata-se de um novo instituto, mais tarde designado pela
expressão Laesio enormis ou Laesio ultra dimidum. Esta lesão enorme dá motivo à
destruição do contrato.
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Responder por evicção – é a obrigação em que o vendedor, que assumiu a
responsabilidade de assegurar a posse pacífica da res, responde pela privação sofrida
pelo comprador em consequência de uma sentença que, tendo reconhecido a
propriedade de um terceiro ou a sua titularidade duma servidão, usufruto ou penhor, lhe
conferiu a posse. Por isso, o comprador demandado devia requerer a presença do
vendedor no processo para o defender. Se recusasse ou não evitasse a sentença
desfavorável, o comprador podia demandá-lo com a actio auctoritatis com que obtinha a
sua condenação no dobro do pretium pago. A obrigação em que o devedor se
responsabilizava pela evicção cessava quando o comprador se tornasse prorpietário por
usocapio.
Numa segunda fase, entendeu-se que não correspondia à boa fé o facto de o vendedor
não realizar uma destas stipulationes e, em consequência, admitiu-se que o comprador
podia demandar o vendedor com a actio empti para exigir a realização da necessária
stupulatio.
o Cuidar da res até à sua entrega – o limite desta responsabilidade divide a romanística.
Recentemente, entendeu-se que a obrigação do vendedor dependia da culpa levis (ou in
abstracto): devia actuar com a diligência de um homem normal (bonus paterfamilias).
Quanto ao comprador, é responsável pelo risco. Estamos perante mais uma particularidade
da confortuito ou força maior, o comprador mantinha a sua obrigação de pagar o pretium e,
em contrapartida, tinha direito à acessões e frutos desde a conclusão do contrato até à
entrega da res. Importa, no entanto, considerar o momento em que a compra e venda se
considera perfecta, pois se estivesse sujeita a condição suspensiva, o periculum só onerava o
comprador desde o momento em que a condição se verificasse; se se tratasse de res que
devessem ser pesadas, contadas ou medidas, o comprador só respondia pelo risco a partir do
momento em que fossem pesadas, contadas ou medidas; e se o comprador tivesse reservado
o direito de examinar a res, o periculum só o onerava no momento em que manifestasse o
seu agrado.
o Responder pelos vícios ocultos da res – é a obrigação com que, desde os tempos antigos, o
vendedor costumava garantir, na própria mancipatio ou numa stipulatio, que a res vendida
tinha materialmente a consistência ou se encontrava nas condições determinadas pelo
acordo e, portanto, não havia elementos físicos ou jurídicos susceptíveis de diminuírem a
sua aptidão ou o exercício das suas faculdades.esta responsabilidade, que os vendedores
assumiam sobretudo nas vendas de escravos e animais, foi aperfeiçoada e disciplinada pelos
aediles curules que, para protegerem os compradores, impuseram a obrigação de os
vendedores celebrarem uma stipulatio e estabelecerem, no seu edictum, que deviam
declarar, no momento da conclusão das vendas, as enfermidades crónicas (morbi) e os
defitos físicos (vitia) não aparentes que afectassem os escravos e os animais.
E se os efeitos não declarados se manifestassem depois da compra e venda, o comprador
podia demandar o vendedor com uma das seguintes actiones:
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F.D.C.E.
Actio redhibitoria (acção reviditória) – produzia a resolução da compra e
venda e a condenação do vendedor no pagamento do dobro da pecunia
recebida, a menos que quisesse restituir o pretium com juros. Art. 913 e
seg. c.c.
Graças a estas actiones, o comprador gozava de protecção mais completa porque o vendedor
estava obrigado a declarar os vícios e o comprador podia demanda-lo pelos vícios não
declarados, independentemente de aquele ter actuado com ou sem dolo.
Por isso, o comprador deve oferecer o pretium se quiser exigir a entrega da res; e o vendedor
deve oferecer a res para poder exigir o pagamento do pretium.
À compra e venda podiam juntar-se vários pacta ditos ex (ou in) continenti por serem acordados
no mesmo momento. Modificavam as obrigações das partes e o juiz devia considera-los por a
compra e venda ser um negócio jurídico de boa fé.
F.D.C.E.
• O pactum de retrovendendo: o vendedor reservava a faculdade de resgatar a
res restituindo, dentro de certo tempo, o pretium ao comprador;
o pactum protimeseos (de prelecção ou preferência): o comprador
comprometia-se, caso quisesse alienar a res, a venda-la a quem lha vendeu.
O comprador e o vendedor eram tutelados, respectivamente, com a actio empti (ou ex ampto) e
a actio venditi (ou ex vendito), que desde a época de Cícero foram classificadas entre os bonae
fidei iudicia. Portanto, no processo das fórmulas o iudex devia considerar todas as relações entre
as partes incluindo os pactos acrescentados ao contrato de compra e venda.
9.3. Locação
• Objecto – pode ser uma res que o locatário (conductor) deve usar segundo o modo
acordado durante um certo tempo (locatio-conductio rei); uma actividade laboral
(operae) que o locador deve realizar no tempo acordado (locatio-conductio operarum);
ou uma res que o locador entrega ao locatário para fazer uma determinada obra (locatio-
condutio operis);
Locatio-conductio rei
F.D.C.E.
Proporcionar ao conductor o livre gozo da res locada, durante o
tempo e nas condições acordadas;
Fazer as reparações necessárias para evitar a deterioração ou
destruição da res;
Ressarcir o conductor dos gastos que fizesse em reparações
necessárias.
Quanto à resolução do contrato, além do critério geral segundo o qual se uma das partes não
cumpre (responsabilidade) ou não pode cumprir (risco) as suas obrigações, à outra é permitido
resolver o contrato, podia pedi-la:
• O locador, quando:
O locatário não paga a renda (merces) durante dois anos;
A res é objecto de abuso ou sofre deterioração;
Tem necessidade de habitar a casa ou pretende reformá-la;
• O locatário, quando:
O locador se atrasa na entrega da res;
A res tem defeitos que impedem, limitam ou dificultam a sua
utilização;
Há um temor fundado de um perigo.
Locatio-conductio operarum
Nesta locatio, o locador obriga-se a pôr a sua actividade laboral à disposição do conductor
durante um certo tempo, mediante o pagamento de uma remuneração (merces).
E compreende-se também que, neste ambiente social em que o trabalho manual era considerado
nil e ignóbil e a merces vista como um preço da servidão, não fosse locável o trabalho
intelectual de retóricos, filósofos, médicos, professores, etc.
Porém, era necessário distinguir as situações em que se encontravam a pessoa sub potestate (do
dominus ou paterfamilias) e o homem livre sui iuris que se obrigava voluntariamente a pôr a sua
actividade laboral à disposição de outra pessoa, evitando que esta obrigação pudesse constituir
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F.D.C.E.
um vínculo que limitasse a sua capacidade jurídica. Por isso, a jurisprudência configurou esta
actividade laboral, que designou com o termo operae, como uma res corpórea que é propriedade
do trabalhador e se considera distinta e separada da sua pessoa.
A locatio-conductio operarum cessava com a morte do locator e não do conductor: este podia
prestar os seus serviços aos herdeiros deste que, portanto, se substituísse na obrigação de pagar
a merces. Se o locador adoecesse, ficaria dispensado de prestar as suas próprias operae e o
conductor estava desobrigado de pagar a mercê durante a doença.
Locatio-conductio operis
Nesta locatio, o locator deve entregar a res ao conductor para realizar a obra acordada e pagar-
lhe a merces como retribuição. Por sua vez, o conductor deve executar essa obra com correcção
e entregá-la no prazo acordado ou, se não foi fixado, no tempo normalmente utilizado para a
realizar.
Suscitaram-se grandes discussões sobre os limites da responsabilidade do conductor na
restituição da res que lhe foi confiada. A jurisprudência examinou especialmente algumas
figuras a quem concedeu a actio furti contra o ladrão, porque se responsabilizava, perante o
locator, pela perda da res. Segundo a romanística moderna, esta responsabilidade
fundamentava-se na custódia e não falta quem a configure como exemplo de responsabilidade
objectiva.
Quanto ao risco (periculum), recaía sobre o locador, a não ser que tivesse sido acordado
diversamente.
9.4. Sociedade
A sociedade (societas) é o contrato consensual em que duas ou mais pessoas (socii) se obrigam
reciprocamente a pôr em comum determinados bens ou trabalho com vista à obtenção de um
fim patrimonial comum é um contrato de boa fé e inspira-se na fraternitas que influencia o seu
regime jurídico.
F.D.C.E.
e mixtae, consoante os socii contribuam só com res, só com operae ou
conjuntamente com umas e outras.
Podendo os fins ser muito, justifica-se que as societas se classifiquem em vários tipos:
• Societasalicuius negotiationis
• Societas unius
A origem da societas perde-se na longa noite dos tempos. Tendo na sua base uma relação de
confiança e inspirando-se na fraternitas entre os socii, é provável que tenha, como antecedente,
o consortium familiar entre filiifamilias que mantinham indivisa a hereditas do pater falecido.
Parece seguro que para o desenvolvimento do instituto contribuíram exigências do comércio
internacional que levavam vária pessoas a juntar bens e trabalho com vista à realização de
determinados negócios. Referem-se a este propósito, o carácter e a estrutura de negócio iuris
gentium.
A societas é um contrato bilateral ( ou até plurilateral ) de que resultam obrigações para os socii.
Destacamos:
o Cada sócio deve contribuir com o que foi acordado: res e (ou) trabalho (operae). É
também responsável pela evicção e pelos vícios ocultos da res entregue. O risco
(periculum) e a responsabilidade por danos causados à res pertencem aos socii desde a
conclusão do contrato ou a partir da entrega, respectivamente se se trata duma res
determinada ou de res genéricas. Cada sócio é obrigado a gerir os negócios sociais
segundo os fins da societas e a sua responsabilidade depende da culpa in concreto: deve
empregar a diligentia que lhe é própria;
o Cada sócio tem o direito a ser reembolsado dos gastos que tenha feito e
indemnizado dos danos que a gestão lhe causou.
O contrato de sociedade não cria uma pessoa jurídica distinta dos socii; por isso, não existem
relações obrigacionais entre a societas e terceiros: só há créditos e obrigações de cada sócio com
terceiros. Importa distinguir:
F.D.C.E.
Em casos muito especiais os efeitos de um negócio jurídico realizado por um socius produziam-
se imediatamente na esfera jurídica de cada um dos restantes socii e, por isso, o terceiro podia
demandá-los com a actio institoria ou exercitoria.
9.6. Mandato
F.D.C.E.
o Finalidade – o mandatum deve satisfazer um interesse do mandante, dum terceiro ou
conjuntamente também do mandatário. Não há mandatum, mas simples conselho, se a
actividade beneficiar exclusivamente o mandatário
A sua origem não é conhecida, prevalecendo hoje a doutrina segundo a qual para atribuir a
alguém a gestão de um ou vários assuntos, a jurisprudência teria recorrido à figura do cognitor
ou do procurator omnium bonorum.
Por isso, foi criado, já na época republicana, o contrato de mandatum no âmbito do ius gentium,
que viria, na época justinianeia, a absorver a procuratio quando se entendeu que a relação
jurídica entre o procurador encarregado de administrar todos os bens (procurator omnium
bonorum) e o dominus negotii tinha a sua fonte não tanto na outorga de um título (procurator ou
cognitor), mas fundamentalmente um acordo (mandatum).
Quanto ao terceiro, a relação jurídica deriva do mandatum é-lhe estranha; por isso, só pode
reclamar os seus direitos perante o mandatário que, por sua vez, deve demandá-lo pelas suas
obrigações. Porém, este princípio, que resulta da exclusão da representação directa, foi
paulatinamente afastado pelo pretor através da concessão da actione utiles ao mandante e ao
terceiro, respectivamente contra este e contra aquele. Assim se foi impondo, por acção do
pretor, a representação directa.
Segundo o princípio “a obrigação não pode começar pela pessoa do herdeiro“, eram inválidos,
na época clássica, os mandatos post mortem: mandatos que deviam ser executados depois da
morte de uma das partes.
Porém, o direito justinianeu considerou-os válidos.
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A relação jurídica proveniente do mandatum era tutelada com a actio mandati (directa) e pela
actio mandati contraria concedidas, respectivamente, ao mandante contra o mandatário e a este
contra aquele. O mandatário incorria na declaração de infâmia.
Os negócios formais (ou solenes) são aqueles cuja existência depende da observância duma
forma prescrita pelo ordenamento jurídico. Tem de revestir uma certa forma (ex: a escritura
pública reveste o contrato de compra e venda).
Gaius distingue duas espécies de negócios formais: os verbais e os literais. Naqueles, a vontade
manifesta-se através de palavras solenes fixadas pelo Ius civile. Nestes, as obligationes nascem
de um acordo redigido por escrito.
10.2. Stipulatio
Formalmente, este contrato encontrava-se estruturado numa pergunta oral que uma das partes
(Stipulator) dirigia à outra (promissor) que, em resposta imediata, prometia dar uma quantia
determinada ou determinável de pecunia, uma res, ou realizar (facere) ou não (non facere) uma
determinada actividade. E do encontro desta pergunta com a resposta resultava uma obligatio.
o Solenidade: celebra-se com a invocação dos deuses cuja presença espiritual constitui
um poderoso factor que obsta à recusa do seu cumprimento (deusa Fides);
o Formalidades: tem uma fórmula jurídica própria constituída por palavras fixadas pelo
Ius Civile, que o stipulator e o promissor deviam proferir, respectivamente, na pergunta
e na resposta;
o Oralidade: aquelas palavras deviam ser proferidas oralmente e não por escrito. Por
isso, nem o mudo (porque não fala), nem o surdo (porque não ouve), nem a criança com
menos de sete anos (porque não entende) podem realizar uma stipulatio;
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o Abstracção: a causa jurídica não é um elemento constitutivo e, portanto, não é
essencial. Por isso, a stipulatio pode ser utilizada para diversos fins;
Por outro lado, consoante sejam impostas pelo magistrado ou realizadas livremente pelas partes,
distinguem-se também duas espécies de stipulationes: as necessárias e as convencionais ou
voluntárias.
Evolução:
Finalmente o documento escrito que tinha sido introduzido para provar, torna-
se Fonte deste contrato – as palavras são substituídas, pois o contrato verbal
passou a ser escrito.
Condictio certi: acção para exigir a pecunia certa, se fosse esse o objecto;
Condictio triticaria: se a obrigação fosse de outra coisa certa, uma res certa;
F.D.C.E.
• Compra e Venda
• Doação
• Sociedade
• Locação
• Comodato
• Mútuo
• Contrato de trabalho
• Prestação de serviço
• Depósito
• Empreitada
• Renda perpétua
• Renda vitalícia
• Transacção
Trata-se de relações cujo vínculo jurídico, que liga as partes, surge quando só uma delas
realizou a sua prestação e, por isso, pode exigir à outra a prestação a que se comprometeu: a
restituição do que recebeu ou a entrega do equivalente pecuniário ao benefício patrimonial
obtido.
• A conventio: é o acordo em que cada parte se obriga, em relação à outra, a dar uma
determinada res ou a realizar uma certa actividade (facere): a romanística distingue os
seguintes acordos:
F.D.C.E.
11.2. Permuta
Segundo os Sabinianos, a permuta não passava duma modalidade da compra e venda e, por
isso, protegiam-na com as correspondentes actiones. Todavia, verificando que seria impossível
distinguir a res vendida e a res que funcionava como pretium, os Proculeianos consideravam-na
um contrato distinto e tutelavam-no com uma actio in factum.
A doutrina Proculeiana impôs-se e, em consequência, a jurisprudência preocupou-se em
distinguir a compra e venda e a permuta: aquela é um contrato consensual; esta tem natureza
real, porque se torna perfeita com a primeira datio; naquela, o vendedor contrai a obrigação de
transferir a possessio da res vendida e o comprador obriga-se a dare o pretium; nesta, uma das
partes assume a obrigação de dare para que a outra também det.
Por isso, enquanto na compra e venda o vendedor pode não ser proprietário da res vendida
(obriga-se tão-só, a transferir a posse livre e pacífica), na permuta (porque surge a obrigação de
cada parte transferir a propriedade) as res devem ser propriedade das partes. Também enquanto
na compra e venda se admitiu, embora mais tarde, o instituto da laesio enormis, na permuta a
parte que cumpriu a sua obrigação podia pedir a restituição da res (cuja prpriedade transferiu)
até que a outra cumprisse a sua obrigação. Quanto à evicção de que era responsável o vendedor
na compra e venda, havia, na permuta, um regime adequado, embora não substancialmente
diferente: se apenas uma das partes realizou a datio e a res sofresse evicção, o dans respondia
por evicção; se ambas as partes tivessem cumprido as suas obrigações de dare, cada um era
responsável por evicção. Igual regime funcionava em relação aos vícios ocultos.
A permuta era tutelada, na época clássica, pela condictio ob rem dati re non secuta (e mais
tarde, pela condictio causa data causa non secuta). Na época Justinianeia era protegida pela
actio praescriptis verbis.
11.3. Transacção
Nem sempre, porém, a transactio era possível: era recusada depois da sentença; e também
não era admitida quando a dívida, em litígio, respeitasse a alimentos dispostos num
testamento.
Não podia impugnar a transactio quem tivesse agido com dolo.