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NEDULP | Núcleo de Estudantes de Direito da Universidade Lusíada Porto

F.D.C.E.

1. Direito Romano:
1.1. Conceito
1.2. Caracterização
1.3. Desenvolvimento
1.4. Utilidade

1. Conceito

Direito Romano poder-se-á entender como um conjunto de normas ou regras jurídicas que
vigoraram no mundo romano desde a Fundação de Roma ( 753 a.C. segundo a tradição ) até 565
( ano da morte do imperador do Oriente Justiniano ).

Caracterização:

O Direito Romano privado apresenta características que lhe transmitem uma


individualidade própria e permitem compreender a sua natureza peculiar.

Referimos os seguintes princípios fundamentais:

o O desinteresse pela codificação – não existe codificação do direito romano; o


importante era que a justiça fosse feita. Só no séc. VI é que surgiu o Corpus Iuris
Civilis, isto é, durante 14 séculos, Roma não sentiu necessidade de codificar as fontes
do seu direito.

o A prioridade do Actio sobre o Ius - ao ius honorarium e à jurisprudência coube a


resolução dos problemas práticos não previstos no direito quiritário. Não havendo ius, a
sua protecção era assegurada através da concessão da actiones. Por isso, a actio
constitui, no direito clássico, a ideia fundamental do sistema jurídico: o Edictum do
pretor contém um repertório de actiones e os jurisconsultos dedicam-se
fundamentalmente ao estudo dos casos, dos requisitos e das exigências que determinam
a concessão duma actio.

o A simplicidade das soluções e a ausência de sistema – há nas soluções jurídicas de


Roma uma extraordinária naturalidade e simplicidade. Mas se é certo que a coexistência
de direitos diferentes o ius civile, o ius gentium, o ius honorarium, o ius praetorium, o
ius novum) causa complexidade e confusão, a simplicidade do Direito Romano não
deixa de revelar-se em duas tendências bem marcadas: a de utilizar um instituto jurídico
para a obtenção de diversos fins práticos; e a de configurar as instituições jurídicas com
clareza e precisão, para evitar a criação de institutos híbridos.

o A diferenciação de conceitos – a tendência romana de diferenciar os conceitos


manifesta-se na separação do jurídico, dos usos sociais e das regras morais. (os
jurisconsultos medievais consideram o Direito Romano a ratio scripta).

o A força da tradição – o povo de Roma sentiu e respeitou a sua tradição. Os usos e os


costumes dos seus antepassados unem-se indissolúvel e ininterruptamente com os
actuais.

o A ponderação e a coordenação de liberdade e autoridade – o conceito de libertas


teve um significado próprio que o distingue da liberdade grega. O direito privado
romano reconhece esta faculdade em dois aspectos diferentes:
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 No reconhecimento, pelas instituições jurídicas privadas, de um


carácter predominante individualista.
 No reconhecimento de um largo âmbito de actuação à autonomia
individual.

No direito romano privado, a liberdade e a autoridade não se excluem, antes


pressupõem-se reciprocamente: a liberdade sem autoridade é anarquia e autoridade sem
liberdade é tirania.

o A Fides, o officium, a humanitas e a amicitia: os jurisconsultos romanos consideram


diversos vínculos e meios coercitivos sociais e morais que, embora não fossem
estritamente jurídicos, não deixaram de exercer influência na área do direito.

A Fides, cujo significado era ter confiança, fé, e depois passou a ser, responsabilidade,
o cumprimento fiel da palavra e dos contratos, o sentimento de lealdade contratual.
Assim, a Fides constituía uma força moral que se impôs no mundo do direito.

O officium implica um comportamento perante os outros: obriga-nos a ser úteis e a


prestar serviços desinteressadamente. Referimos algumas situações inicialmente
disciplinadas pelo dever moral que caracteriza o officium:

 A tutela
 O patronato
 A potestas do paterfamilias
 A sucessão legítima contra o testamento

A humanitas transcendeu igualmente o campo do direito, constituindo um dever


meramente moral.
Finalmente, a amicitia foi também um valor importante na esfera moral e social e no
campo jurídico.

Tendo o Direito Romano sofrido profundas e inevitáveis alterações, é necessário saber quais as
sucessivas fases por onde passou.
Dos diferentes critérios propostos, seguiremos o critério jurídico-interno que permite distinguir
as seguintes épocas históricas: arcaica (de 753 a 130 a.c. ); clássica (de 130 a.c. a 230); pós-
clássica (de 230 a 530 d.c.); e justinianeia (de 530 a 565).

• A época arcaica vai desde a fundação de Roma até 130 a.c., data da lex Aebutia de
Formulis que, tendo legalizado o dinâmico processo das fórmulas ( agere per
formulas ), contribuiu decisivamente para o afastar o arcaico sistema processual das
Legis aciones e para o grande desenvolvimento do Direito Romano. O primeiro período
denomina-se época do Direito Romano nacionalista ou quiritário; o segundo, época do
ius gentium ou do Direito Romano universalista.

• Segue-se a época clássica que termina no ano 230 com a substituição do processo das
fórmulas pela cognitio extraordinária e o esgotamento da jurisprudência. Subdivide-se
em três etapas:

 Época pré-clássica – decorre entre 130 e 30 a.c. e é caracterizada por


um desenvolvimento ascensional muito significativo da jurisprudência;
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 Época clássica central – vai de 130 a.c. a 130 e é marcada pelo


esplendor da jurisprudência e na criação de novas actiones que
integraram e modernizaram o ius civile;

 Época clássica tardia – decorre entre 130 e 230 e assinala o início da


decadência da jurisprudência. A iurisprudência burocratizou-se e
voltou-se para o ius publicum.

• Vem depois, a época pós-clássica, entre os anos 230 e 530 ( quando Justiniano
encarregou Triboniano de elaborar os Digesta seu Pandectae). Compreende
duas etapas:

 De 230 a 395, ano em que o imperador Teodósio dividiu


definitivamente o Império Romano em duas partes (Ocidente e
Oriente). Esta é uma época marcada pela confusão;

 De 395 a 530, é caracterizada:

• No Ocidente, pela vulgarização do Direito Romano

• No Oriente, pela reacção antivulgarista (classicismo).


Para além do classicismo, assinala-se-lhe também a
helenização: tendência para sublimar a terminologia e
certas construções jurídicas.

• Finalmente, segue-se a época justinianeia, entre 530 e 565, ano em que


Justiniano faleceu. É igualmente caracterizada pelo classicismo pela
helenização e a sua especificidade deriva da maior compilação jurídica jamais
feita: o Corpus Iuris Civilis que actualizou o Direito Romano e transmitiu o seu
conhecimento às gerações vindouras.

Utilidade

O Direito Romano, destacou-se com o seu grande contributo na formação do jurista, quer
porque lhe transmite certa liberdade e uma relativa independência perante a lei, quer porque
ensina a criar, a interpretar e a aplicar a norma adequada à especificidade de cada situação, quer
porque mostra a solidez de princípios perante as transformações da vida jurídica que atravessa
uma crise muito semelhante à que sofreu o mundo Romano.
Depois o ensino do Direito Romano evidencia a grande perfeição técnico-jurídica da
jurisprudência romana. O Direito Romano constitui “ o alfabeto e a gramática da linguagem
jurídica”.

2. Noções fundamentais
2.1. Direito Civil, Direito Honorário e Direito Pretório
2.2. Direito das Gentes e Direito Natural
2.3. Direito Comum e Direito Singular
2.4. Concepções jurídicas modernas aplicadas ao Direito Romano:
2.4.1.Direito Objectivo
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2.4.2.Direito Subjectivo
2.4.3.Personalidade Jurídica
2.4.4.Capacidade Jurídica de agir e de gozo
2.4.5.Facto Jurídico
2.4.6.Negócio Jurídico

2.1. Direito civil, direito honorário e direito pretório

O Ius civile é o direito próprio duma civitas; por isso, o ius civile romanorum é o direito
específico da civitas romana.
As suas fontes são, as leis, os plebiscitos, os senatusconsultos, as constituições imperiais e a
jurisprudência, a que Iulianus juntou o costume. Também chamado quiritário ( porque os
primitivos cidadãos romanos denominavam-se quirites ), o ius civile era um direito formalista e
rígido. As suas normas regulavam sobretudo relações jurídicas em que intervinham os poderes
pessoais do paterfamilias: a pátria potestas, a Dominica potestas, a manus, o dominium, a
obligatio, a hereditas.

O Ius Honorarium é um complexo de regras, por obra dos magistrados, sobretudo do pretor,
cuja função era ajudar, suprir, emendar o direito quiritário. Honor – cargo do magistrado. Este
divide-se em ordinária, que por sua vez subdivide-se em:

• Censor
• Cônsul
• Pretor
• Edil cônsul
• Questor

E divide-se em extraordinária, que também se subdivide, em:

• Ditador
• Trilho da plebe

O Ius Praetorium é um sistema jurídico, feito pelo pretor urbano, quando começou a proteger
casos não previstos pelo ius civile.

Em conclusão: há no ius civile e no ius praetorium fontes diferentes. No primeiro, o costume, a


lei, o plebiscito, os senatusconsultos, a actividade dos jurisconsultos e as constituições
imperiais; no segundo, o poder jurisdicional do pretor reflectido no seu edictum, que se fixou
definitivamente na redacção de Iulianus, por volta de 130, com o nome Edictum perpetuum. O
seu conteúdo e espírito são também diferentes: o ius civile é rígido, formalista e inflexível; o ius
praetorium é elástico, sem grandes formalidades, amplo, flexível. Quanto ao modo de operar,
enquanto o ius civile rege por si mesmo, o ius praetorium depende da actividade jurisdicional
do pretor. E, no âmbito processual, enquanto a actio civile começou por ser uma emanação do
ius que protege, no ius praetorium o ius só surge com a criação da respectiva actio.
Diferente é o ius honorarium, constituído por todo o ius não civile. Trata-se dum direito
introduzido por edicta de certos magistrados: o pretor (urbano e peregrino), os edis curúis e os
governadores das províncias. Portanto, o ius praetorium é uma parte do ius honorarium, mas é
tão grande que o direito dos restantes magistrados resulta pouco significativo. Exactamente por
isso, é comum falar do ius honorarium como sinónimo do ius praetorium.
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2.2. Direitos das Gentes e Direito Natural

o Ius Gentium era o direito comum aos cidadãos romanos e aos estrangeiros ( peregrini ).
Assim, o ius gentium é constituído por instituições e princípios jurídicos que, por virtude da
naturalis ratio, se foram formando em todos os povos.
Porém, o ius gentium não impediu os diferentes povos de se regerem pelos seus próprios
direitos civis; tão-só representa a conciliação possível do princípio da personalidade do direito
com a necessidade de regular as relações jurídicas privadas entre os povos.

O Ius Naturale era uma norma constituída de antemão pela natureza e não pela criação
arbitrária do homem. Direito estabelecido pela providência Divina (em desacordo com o
conceito actual de Direito Natural).

Esta nova visão produziu a separação entre o ius naturale e o ius gentium. Se na época clássica
estes direitos se fundamentavam na realidade objectiva das coisas ( naturalis ratio ) e, por isso,
tornavam-se escravos, segundo esses iura, os filhos duma escrava e o inimigo capturado na
guerra, doravante, por força do principio de que todos os homens nascem livres, a escravatura
vê-se excluída do ius naturale e restringe-se ao campo do ius gentium.

2.3. Direito Comum e Direito Singular

Por Direito Comum (ius commune) entende-se um conjunto de normas jurídicas que têm um
carácter geral: aplicam-se a uma série ilimitada de casos genericamente pré-fixados.

O Direito singular (ius singular) é um conjunto de normas jurídicas com carácter singular
excepcionais. Têm que ter um fundamento próprio para justificar a sua aplicação. Ex:
testamento militar.

2.4. Concepções jurídicas modernas aplicadas ao Direito Romano:

2.4.1. Direito objectivo

Conjunto de normas jurídicas que disciplinam a conduta humana na sua vivência em sociedade.

As normas jurídicas aplicam-se a pessoas determinadas, num certo espaço e durante um especial
período de tempo.
No direito romano privado rege o princípio da personalidade jurídica – susceptibilidade ou
possibilidade de sermos sujeitos de direito das obrigações. Aplica-se exclusivamente aos
cidadãos romanos.

O povo ou o legislador, que oferece a norma jurídica, pode fazer cessar a sua vigência. Por isso,
o costume deixa de vigorar quando o povo pratica actos contrários (costume contrário) ou deixa
de o observar. Pode também ser revogado por uma lex.

Quanto à lex, pode deixar de vigorar por:

o Caducidade – a própria lex contém um determinado prazo de vigência


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o Revogação – a lex posterior retira a vigência total ou parcial a uma lex anterior.

o Costume contra legem – tendo a lex e o costume o mesmo valor, este pode fazer cessar
a vigência daquela.

2.4.2. Direito Subjectivo

Poder ou faculdade que cada um de nós tem de exigir ou impor consequências jurídicas. Direito
visto na perspectiva dos sujeitos individuais.
Estas faculdades, que manifestam a autonomia individual, dependem, no entanto, do
reconhecimento de personalidade e de capacidade jurídica (de gozo) e o seu exercício ou poder
de actuação exige que o titular tenha também a correspondente capacidade (de agir).

Podemos distinguir dois grupos de direito subjectivos que o Direito Romano reconheceu:

o Direitos Subjectivos materiais:

 Direitos do paterfamilias
 Direitos reais sobre as coisas
 Direitos de crédito
 Direitos sucessórios
 Direitos sobre direitos
 Direitos sobre a própria pessoa.

o Direitos subjectivos processuais. Traduzem-se no direito de pedir a concessão


duma:

 Actio para tutelar um direito subjectivo material


 Exceptio, que permite invocar factos susceptíveis de conduzirem à
improcedência da actio.

O uso de um direito subjectivo consiste na realização das faculdades que integram o seu
conteúdo. O seu titular goza da liberdade de usar ou não os seus direitos, sem prejuízo de o
direito objectivo poder atribuir determinados efeitos prejudiciais ao não uso: a caducidade e a
prescrição.

A interpretação jurídica é um acto metodológico que procura determinar o sentido normativo de


uma fonte jurídica: obter uma norma jurídica que permita decidir um problema que reclama
uma solução jurídica.

2.4.3 Personalidade jurídica

Para ter direitos e obrigações é necessário ter personalidade jurídica: susceptibilidade ou


possibilidade de sermos sujeitos de direito das obrigações. Caso falte a susceptibilidade não se
pode ter direito de obrigações. Esta personalidade jurídica é classificada como qualitativa.

2.4.4 Capacidade jurídica (quantitativa) – de gozo ou de exercício:


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Consiste na aptidão para ser titular de um círculo, com mais ou menos restrições, de relações
jurídicas. Conceito quantitativo.

Capacidade jurídica de:

 De gozo – é a aptidão que nós temos para sermos titulares de um


número maior ou menor de direito (ser titular é gozar esses direitos).

 De agir – capacidade que cada um de nós tem para por si próprio ou


através de um representante voluntário, realizar negócio jurídico.

2.4.5 Facto jurídico

Pode ser um contrato, empréstimo, compra e venda, ou seja, é um acontecimento da vida real
que produz efeitos jurídicos. Estes efeitos jurídicos constituem factos extintivos, constitutivos e
modificativos.

Podem ser:

o Voluntários – constituem manifestação de vontade. Denominam-se actos jurídicos e


compreendem duas categorias:

 Actos lícitos – estão de acordo com a ordem jurídica que os reconhece.


Podemos distinguir:

• Negócios jurídicos
• Simples actos jurídicos

 Actos ilícitos – são comportamentos (acções e omissões) que


perseguem um fim que o ordenamento jurídico proíbe. Um acto ilícito é
constituído pelos seguintes elementos:

• Damnum
• Iniuria
• Culpa

o Involuntários – são os factos que se produzem independentemente da vontade. São


exemplos o nascimento e a morte duma pessoa, o decurso do tempo, a queda dum
edifício, etc.

2.4.6 Negócio Jurídico

Acto jurídico constituído por uma ou várias declarações de vontade. É um acto voluntário que o
Direito Tutela reconhece dos negócios jurídicos. Os seus efeitos são Ex Voluntate ( segundo a
nossa vontade ) e não EX Lege ( segundo a lei ).
Os negócios jurídicos podem ser:

• Unilaterais – uma só declaração de vontade. EX: testamento


• Bilaterais – duas ou mais declarações de vontade. EX: arrendamento.
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3. Fontes da Ius Civile:
3.1. Costume (mores maiorum, consuetudo, usus)
3.2. Lei (lex Rogata)
3.3. Plebiscito (plebiscitum)
3.4. Senatusconsultos (senatusconsultum)
3.5. Constituição Imperial (constitutio)
3.6. Jurisprudência (iurisprudentia)

3. Fontes da Ius Civile

A expressão fontes do direito é uma metáfora porque, em rigor, fonte é o lugar onde a água nos
aparece: se vê e se pode facilmente recolher.
Pode-se falar de “ fontes do direito “ em vários sentidos:

• Fontes Existendi – são os órgãos que produzem as normas jurídicas

• Fontes Manifestandi – são os modos de formação das normas jurídicas

• Fontes Cognoscendi – são os textos que contêm as normas juridicas

3.1. Costume

Foi a forma espontânea e mais antiga de formação do direito. Actualmente, considera-se como a
observância geral, constante e uniforme de uma regra de conduta, por parte dos membros de
uma determinada comunidade social. Os membros estão convencionados, que a regra de
conduta corresponde a uma necessidade jurídica.
Os romanos chamavam-lhe de: Mores (regras jurídico-religiosas que insensivelmente
engrossavam o património de valores e de crenças da antiga sociedade romana que a tradição
conservava); Mores Maiorum (tradição duma comprovada moralidade que a interpretatio
jurisprudencial desenvolveu e adaptou às novas exigências da vida); e o vocábulo Consuetudo,
surge muito posteriormente a afirmar uma regra estritamente jurídica.
Quando todos os habitantes do Império que eram livres, se tornaram cidadãos, os costumes
opuseram-se ao Direito Romano. Com isto, os costumes perderam o valor como fonte de direito.

3.2. lei

Lex Rogata – declaração solene, feita pelo povo pelo facto de aprovar em comum nos comícios
com uma autorização responsável (issum) uma proposta feita pelo magistrado.

PROCESSO FORMATIVO DE UMA LEX ROGATA:

• Promulgatio – é a fase em que o magistrado (cônsul ou pretor) propõe uma lei,


a lei vai ser afixada durante três semanas e é a partir de agora inalterável.

• Conciones – são reuniões na praça pública onde se discutia o projecto, nestas


reuniões ninguém podia falar antes de lhe ser concedida a palavra, e não se
podia ir além do pôr-do-sol.
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• Rogatio – pedido de aprovação da proposta

• Votação – três possibilidades de voto:

 Ute rogas – voto favorável


 Antiquo – voto não favorável
 Non liquet – abster-se

• Aprovação pelo senado – Auctoritas

• Afixação no fórum em tábuas de madeira ou de bronze – fase facultativa

Denominação:

A Lex Rogata tinha o nome do autor de proposta e como havia dois cônsules ( magistrados ) em
Roma, a lei tinha de ter os dois nomes : Valeria et Horatia. A lei pode ser conhecida por um só
nome, ou seja, um plebiscito. A lei dirige-se ao povo, Mas se desobedecerem, a lei tem uma
reacção negativa – sanção (sanctio) – pois só ela disciplina a nossa conduta. No entanto, tem de
se ter em conta a natureza da Sanctio.

ESTRUTURA DA LEX ROGATA:

• Praescriptio – é uma espécie de prefácio da lei onde de indica o nome do magistrado


que a propôs, a assembleia que a vetou, a pessoa que a vetou primeiro, etc.

• Rogatio – estabelece os termos da sua eficácia

• Sanções (sanctio):

 Perfeitas (perfectae) – quando estabelece nulidade do acto que a


contraria.

 Menos que perfeita (minus quam perfectae) – quando apenas


estabelece uma multa para o acto contrário.

 Imperfeitas (imperfectae) – quando não estabelece multa, nem sequer a


nulidade do acto contrário.

Exemplos de Lex Rogata:

• Lex Poetelia de nexus 326 a.C.


• Lei Imperfeita – Lex Cincia – 204 a.C. – proibiu as doações para além de um
determinado montante excepto a parentes próximos.
• Lex Falicia – 40 a.C.

• A Lex Rogata era a principal fonte de direito, depois da lei das XII tábuas.

3.3 Plebiscito
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O Plebiscito é uma deliberação da plebe que, reunida em assembleia (concilium), aprova uma
proposta do tribunis plebis.
Inicialmente não teve carácter vinculativo. Posteriormente, a lex valeria Horatia de plebiscitus
atribui forças vinculativa entre os plebeus; e no ano 287 a.C., a Lex Hortênsia de plebiscitis
estendeu aos Patrícios, ficando, portanto, equiparado às leis comiciais.
Era indiferente que uma proposta de lei fosse apresentada pelos cônsules nos comitia ou pelos
tribunais nos concilia.
Em geral, o plebiscitum distingue-se da lex Rogata por somente conter um nome.

3.4 Senatusconsulto

Era a deliberação do Senado, mediante proposta do magistrado. Somente no período do


principado tal deliberação viria a ter força da lei, tornando-se portanto, fonte de direito.
Porém, nem todos os senatusconsulta são fontes do direito: o senado desempenha funções
judiciais e financeiras; por isso, só devemos considerar os senatusconsulta que t~em conteúdo
normativo.
A estrutura do senatusconsulta é semelhante à da lex: no Praefatio – figuram os nomes do
magistrado que convocou o senado e dos senadores que intervieram na redacção; o lugar e a
data; na Relatio encontram-se os motivos, a proposta e a resolução

3.6 Jurisprudência

É a ciência do justo e do injusto, para que se faça é preciso bases chamados pressupostos que a
filosofia dá ao jurista.

QUE FUNÇÕES DESEMPENHA A JURISPRUD~ENCIA:

o Respondere – resolver casos práticos, através de pareceres ( responsa ) dados a


particulares ou a magistrados. É a função mais importante;

o Carecere – aconselhar os particulares sobre como deviam realizar os seus negócios


jurídicos;

o Agere – aconselhar aos particulares em matéria processual.

• A opinião tem de ser bem fundamentada, mas é preciso que se apoie na


Auctoritas (autoridade do autor dessa opinião), ou seja, é preciso que a opinião
seja reforçada pela opinião de Auctoritas – prestigio social que o homem goza,
é o saber socialmente reconhecido, é importante porque reforça a sua opinião
(pela força), mas também tem de ser socialmente reconhecida pela Auctoritas.

• Mais tarde foi criado o direito de responder:

“ Ius Respondendi Ex Auctoritate Principis “, o direito de responder segundo a


autoridade do principe, imperador. O imperador para atrair os juristas e para
uniformizar a solução dos tribunais concebeu aos juristas mais carenciados o direito
de responder, resolver casos práticos com a mesma força do imperador. Valem
tanto as decisões dos juristas como as do imperador.
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Se um jurista simples tiver 2 soluções para o mesmo caso, tem de se guiar pela
opinião do jurista credenciado.

Na época clássica, as duas grandes escolas de jurisprudência romana foram:

- escola Proculeiana de Proculus – eram a mais ousada


- escola sabiniana, de Sabinus – conservadora.

4. Corpus Iuris Civilis

Justiniano (imperador romano do oriente) concretiza a velha aspiração de reunir, num só


corpo e sem misturar, os iura e as leges. Essa obra, que procura responder às exigências do
tempo, foi denominada Corpus Iuris Civilis por Dionísio Godofredo na edição que publicou em
Genebra, em 1583.
Não se trata duma codificação no sentido moderno, mas de uma imponente compilação que,
embora se apresente como um mosaico de fragmentos extraídos de fontes de épocas diferentes,
não deixa de ter um carácter orgânico e unitário transmitido pela voluntas de Justiniano que lhe
atribuiu eficácia jurídica.
Compreende as seguintes partes:

• Instituitiones – é um manual elementar de Direito Romano destinado aos estudantes


que iniciam o estudo de direito. (introdução – instituições).

• Digesta ou Pandectae – é uma compilação de fragmentos extraídos de obras dos


principais jurisconsultos clássicos. Segundo a recomendação de justiniano, os
compiladores deviam recorrer somente a jurisconsultos contemplados com o Ius
Respondedi, mas esta determinação não foi observada.

• Codex – é uma compilação de leges desde Adriano até Justiniano. Estas eram feitas
pelos comícios, senado, imperador, isto é, codex é uma colectânea de leges.

• Novallae – são as constituições imperiais promulgadas depois do Codex. Justiniano não


pôde cumprir a sua promessa de fazer uma nova compilação; por isso, não dispomos de
uma compilação oficial. Temos, no entanto, três colectâneas privadas:

 Epitome Iuliani Novallarum


 Authenticum
 Colectânea grega

5. Defesa dos Direitos


5.1. O sistema de processar agere per formulas. Breve referência:
5.1.1.às fases ( in iure e apud iudicem )
5.1.2.à fórmula processual
5.2. A actio e o Ius
5.3. Breve referência à:
5.3.1.actio civilis e actio honorária
5.3.2.actio in rem e actio in personam
5.3.3.actio reipersecutória, actio penal e actio mista
5.3.4.actio bonae fidei e actio stricti iuris
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5.3.5.actio directa e actio útil
5.3.6.actio directa e actio contrária
5.4. protecção jurídica extraprocessual. Especial referência:
5.4.1.à restitutio in integrum
5.4.2.ao interdictum

5.1 Agere per formulas

Em 130 a.C. foi aprovada a lex aebutia de formulis, que institui um novo sistema processual –
agere per formulas – agir através de fórmulas.
A fórmula era um documento escrito em que o pretor ordenava ao juiz que condenasse ou
absolve-se o demandado consoante se provasse ou não determinado facto, a sua elaboração
terminava a fase In Iuri.

1º Intervém o pretor – In Iure


2º Intervém o juiz – Apid Iudicem (julgamento)

A fórmula processual começa pela nomeação do juiz, geralmente escolhido pelas partes e que
era um particular, não um magistrado. Ex: “ Titius seja juiz “.

Podemos distinguir, na estrutura das fórmulas, três partes:

o Parte Ordinárias – figuravam, em regra em qualquer fórmula:

 Intentio - a pretensão do demandado (o que se quer)


 Condemnatio – é a cláusula que manda condenar ou absolver o réu
consoante se verifique ou não determinado facto.

o Partes eventuais – que tipificam determinadas fórmulas:

 Demonstratio – é aquela parte da fórmula que se insere no princípio


para explicar o assunto litigioso. No entanto esta só aparece na fórmula
com intentio in ius concepta das actiones in personam.
 Audiudicatio - outorga-se ao juiz a faculdade de atribuir ou adjudicar
uma res a algum dos litigantes.

o Partes extraordinárias – podem ser inseridas por vontade das partes:

 Exceptio – parte extraordinária da forma, cláusula concebida


directamente a favor do demandado (réu)
 Praescriptio – parte da fórmula que se insere no princípio e tem por
função limitar ou afastar os efeitos da Litis contestatio.

5.2. A Actio e o Ius

Modernamente a actio pode definir-se, do ponto de vista meramente formal, como o primeiro
acto que assinala o início dum processo. Em sentido material, é o instrumento jurídico que
permite a uma pessoa obter a tutela dum direito subjectivo previamente reconhecido pelo
ordenamento jurídico ou duma situação de facto que o magistrado prometeu proteger no seu
edictum. A actio constitui, portanto, um meio que protege um direito subjectivo pré-existente
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reconhecido pelo ordenamento jurídico ou uma situação de facto que o magistrado considerou
merecedora de protecção jurídica: no primeiro caso, temos a actio civilis ou in ius concepta; no
segundo, a actio praetoria.
Esta dualidade de actiones permite resolver o problema da relação entre actio e direito
subjectivo (ius). No âmbito, do ius civile, os direitos do paterfamilias sobre pessoas e res
sujeitas à sua potestas são anteriores às actiones que os tutelam; mas no campo das obrigações,
o direito do credor só surge quando se reconhece uma actio através da qual a responsabilidade
do devedor se torna efectiva. No âmbito do ius honorarium, o magistrado protege situações de
facto (não direitos subjectivos), outurgando actione praetoriae, portanto, a actio é anterior ao
direito subjectivo (que dela resulta). E porque, na maioria dos casos, os iura derivam de
actiones, bem se compreende que os jurisconsultos romanos tenham concebido o ius sob o
aspecto processual e o direito romano tenha sido entendido, na época clássica, como um sistema
de actiones.

5.3.6. Actio Directa e Actio Contrária

Em determinados contratos e situações jurídicas surge normalmente uma única actio in


personam contra a pessoa obrigada. Mas também pode acontecer que resulte uma actio in
personam contra a outra parte: para exigir a indemnização pelos gastos realizados no
desempenho da função a que se obrigou.
Nestes casos, a primeira actio recebeu, no direito Justinianeu, a denominação de directa; a
segunda de contrária. Constituem exemplos o mandatum, a negotiorum gestio, a tutela, o
depositum, o commodatum, a fiducia e o pignus.

PARTE II: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

6. Obrigação
6.1. Conceito. Origem
6.2. Fontes

6.1 Conceito

A obrigação é um vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa (credor) tem a faculdade de
exigir a outra (devedor) um comportamento (prestação positivo ou negativo).

Segundo os jurisconsultos clássicos, o objecto duma obligatio podia consistir em:

• Dare – constituição ou transferência de um direito real;

• Facere – realização duma actividade que não se traduza num dare. Pode consistir
também numa abstenção (non facere);

• Praestare – identifica-se com dare e facere, mas designa especialmente a assunção de


garantia duma obrigação.
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F.D.C.E.
O comportamento (positivo ou negativo) do sujeito passivo deve ser possível física e
juridicamente, por isso, a obrigação que tivesse por objecto uma prestação absolutamente
impossível seria nula.

6.1. Origem

Por falta de elementos seguros, a origem romana, que remonta a uma época muito antiga,
constitui uma vexata quaestio que divide os historiadores do direito romano.

A teoria proposta por Brinz, (em relação à origem da obligatio romana merece destaque) para
explicar alguns institutos dos direitos nórdicos antigos e depois estendida aos direitos da
Antiguidade e até aos direitos modernos. Segundo esta teoria, na obligatio distinguem-se dois
elementos:

 O débito (debitum) – é o dever de realizar a prestação;

 A responsabilidade (obligatio) – é a sujeição de uma pessoa ou dos seus bens ao


cumprimento do debitum. Pode ser o próprio devedor ou um terceiro.

De qualquer forma os romanos não terão conhecido, durante alguns séculos, a noção abstracta
de obligatio como vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com outra à
realização de uma prestação: a obligatio terá consistido, antes, na sujeição física da pessoa do
vinculado ao poder material do credor. Só mais tarde se desmaterializou, passando a ser um
vinculum iuris e adquirindo carácter patrimonial.

7. Contrato:
7.1. Conceito. Elementos.
7.2. Classificação.
7.2.1.Unilaterais e Bilaterais
7.2.2.do Ius Civile e do Ius Gentium
7.2.3.de Boa Fé e de Direito Estrito
7.2.4.Onerosos e Gratuitos

7.1. Conceito. Elementos.

Breve história do Direito Romano:

• 1ª FASE – a vontade era irrelevante juridicamente, o que contava eram as palavras, “


Verbum “ – verba. Esta fase corresponde à lei das XII tábuas.

• 2ª FASE – fase da afloração da vontade, esta começa a ser relevante, pois os direito
olha para a vontade. A vontade é importante nos negócios Mortis Causa ( produz efeitos
após a morte ) – “ Voluntas “, vontade e também nos negócios Inter Vivos ( produz
efeitos em vida ).
A vontade é o relevo jurídico. Esta fase é a intermédia, no entanto a vontade tem de ter
correspondência nas palavras, pois estas ( palavras ) têm de estar de acordo com a
vontade .
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F.D.C.E.

• 3ª FASE – domínio da vontade, “ Volunta “, a vontade impõe-se, as palavras passam,


pois esta tem agora um valor secundário.

CONTRATO: acordo de vontades de duas ou mais pessoas que, obedecendo a esquemas


fixados pelo Ius Civile, visa constituir uma relação jurídica obrigacional.

• Em sentido amplo – acordo de duas ou mais pessoas dirigido à produção de


efeitos jurídicos;

• Em sentido mais restrito – é uma convenção de que nascem obrigações e os


correspondentes direitos de crédito.

Os contratos são constituídos pelos seguintes elementos:

• Causa – é o fim que o Ius Civile reconhece como social e economicamente digno de
protecção.

• Conventio (consensus)/ acordo – é o acordo das partes, cujas vontades convergem,


assim, para o mesmo fim que constitui a causa fixada pelo Ius Civile ao contrato
utilizado.

A causa – excede nos negócios abstractos


A conventio – a finalidade da causa

7.2.1 Contratos Unilaterais e Bilaterais

A doutrina moderna classifica os contratos em unilaterais e bilaterais:

Naqueles só uma das partes se obriga a fazer uma prestação; nestes, também chamados
sinalagmáticos, cada uma das partes obriga-se, em relação à outra, a realizar a sua prestação.
Todavia, há contratos em que a obrigação de uma das partes pode surgir, não inicialmente, mas
durante a sua vigência. Por isso, fala-se de contratos bilaterais imperfeitos: sucedia, como o
comodato, o depósito, o mandato, o penhor e a fidúcia, quando a contraparte fizesse despesas
que podia exigir com a actio contraria.

Em relação aos contratos bilaterais, aplicava-se o princípio de que quem não satisfez (ou, pelo
menos, não ofereceu) a sua prestação não pode exigir que a outra parte satisfaça a sua. Este
princípio está na base da doutrina moderna da exceptio non andipleti contractus.

7.2.2. do Ius Civile e do Ius Gentium

Pertencem ao Ius Civile os contratos celebrados por cives romani. Os contratos do Ius
Gentium são celebrados entre cives e peregrini ou entre peregrini.
Têm a sua origem no ius gentium os contratos consensuais, os contratos reais, a transcriptio a re
in personam e a stipulatio não celebrada na forma de sponsio.
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7.2.3 de Boa Fé e de Direito Estrito

São de Boa Fé os contratos protegidos por actiones bonae fidei. Os contratos de direito estrito
são tutelados por actiones stricti iuris. Naqueles, o juiz deve apreciar todas as circunstâncias que
tenham ocorrido e considerar tudo o que é exigível entre pessoas justas e leais. Nestas, deve
observar rigorosamente o que foi acordado sem atender a qualquer circunstância que tenham
influenciado o conteúdo da obligatio.
São contratos de Boa Fé a compra e venda, a locatio-conductio, a sociedade, o mandato, o
depósito, o comodato, etc. A stipulatio constitui um exemplo de contrato de direito estrito.

7.2.4. Onerosos e Gratuitos

São onerosos os contratos que criam, para ambas as partes, obrigações que se equivalem ou
equilibram: à perda patrimonial que uma das partes sofre na realização da sua realização da sua
prestação corresponde a perda patrimonial da outra. São exemplos a compra e venda e a locatio-
conductio.

Nos contratos gratuitos só uma das partes sofre uma perda patrimonial em beneficio da outra.
Constituem exemplos a doação, o depósito e o comodato.

8. Contratos Reais:
8.1. Noções gerais
8.2. Mútuo
8.3. Fidúcia
8.4. Depósito
8.5. Comodato
8.6. Penhor

8.1 Noções gerais

Contrato real é aquele a cuja perfeição não basta a conventio entre as partes para produzir os
seus efeitos jurídicos: é também necessária a prática de um certo acto material (datio ou traditio)
em relação à res a que se refere.

8.2 Mútuo

O Mútuo é um contrato unilateral através do qual uma pessoa, que recebe de outra a
propriedade de determinada pecunia ou de outras res fungíveis, se obriga a restituir igual
quantidade do mesmo género e qualidade.
É constituído por dois elementos:

• A Datio rei – é a transferência da propriedade de determinada pecunia ou de outras res


igualmente fungíveis;
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F.D.C.E.
• A Conventio – é o acordo das partes cujo objectivo consiste na restituição da pecunia
ou de res da mesma natureza, qualidade e quantidade das res mutuadas.

Trata-se de elementos essenciais e, por isso, não há mutuum se a res não for propriedade do
mutuante ou a conventio inválida por algum vício que a afecte a declaração ou a vontade de
uma das partes.
A relação obrigacional resultante do contrato de mutuum não ´é protegida por uma actio
particular. Todavia, o mutuante pode servir-se da actio certae creditae pecuniae se o objecto do
mutuum for dinheiro; e da condictio triticaria (ou condictio certae rei) se se tratar de outras res
fungíveis.

A eventual obligatio de o mutuário pagar juros não resulta do contrato de mutuum, mas de outra
relação inicialmente criada por um contrato formal (ordinariamente uma stipulatio dita
usurarum) e, provavelmente a partir da época pós-clássica, por um contrato literal. Assim,
enquanto a restituição do capital (sors) é tutelada pela actio que nasce do contrato de mutuum, à
obrigação de pagar juros corresponde a actio que surge da relação obrigacional que os tem por
objecto.

Na época republicana, um senatusconsulto proibiu o anatocismo: acordo pelo qual os juros não
pagos vencem juros. Esta proibição manteve-se com mais rigor no séc. III e sobretudo no direito
justinianeu que, sensível à censura cristã aos empréstimos usuários, também proibiu a
capitalização dos juros já vencidos.

Quanto aos juros não acordados, importa distinguir: os que já foram pagos serão descontados no
capital; os outros não podem ser reclamados. Trata-se duma consequência do princípio da
gratuidade do mutuum que, todavia, admite algumas excepções:
Destacamos:

o O mutuum de mercadorias

o O mutuum concedido por cidade

o O mutuum concedido por bancos

o O foenus nauticum

o A promessa do devedor de restituir a pecúnia mutuada depois da chegada das


mercadorias ao destino e em lugar determinado;

o A fixação, por acordo, dos juros;

o A aceitação do risco pelo mutuante;

o A garantia constituída pelas mercadorias transportadas ou pelo próprio navio.

Ademais, redigia-se um documento que outurgava ao mutuante a faculdade de entrar na posse


das res sobre que a garantia incidia.

8.3 Fidúcia
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A Fidúcia é um contrato em que uma pessoa (fiduciante), utilizando um negócio jurídico formal
(mancipatio ou in iure cessio), transfere a propriedade duma res para outra pessoa ( fiduciário ),
que se obriga a restituí-la depois de realizado o fim definido num acordo não formal designado
pactum fiduciae.

A Fidúcia foi aplicada para a satisfação de diversas finalidades. Destacamos a:

• Fiducia cum creditore – visava garantir uma obrigação. O garante ( fiduciante )


transferia a propriedade de uma res ao credor ( fiduciário ) que se obrigava a restitui-la
após a satisfação da dívida.

• Fiducia cum amico – transferia-se a propriedade de uma res pessoa leal, com vista à
prossecução de diversos fins. Exemplos:

 Constituição de um depositum ou commodatum


 Emancipação de um filiusfamilias
 Manumissio
 Fazer uma doação

Como já referimos, o fiduciante era protegido pela actio fiduciae e o fiduciário dispunha da
actio fiduciae contrária para reclamar os gastos feitos na res e ressarcir-se dos danos
eventualmente causados.

8.4. Depósito

O depósito (depositum) é um contrato bilateral imperfeito e de boa fé em que uma pessoa


(depositante) entrega a outra (depositário) uma res móvel para que a guarde e restitua num
determinado prazo ou quando o depositante pedir.

Depositário – tem a simples detenção da res que só lhe é confiada para custódia; portanto, não a
pode usar sob pena de cometer um furtum usus. E deve restituí-la nas mesmas condições em que
a recebeu com todos os seus frutos e acessões. Se se apropriar da res comete um furtum nec
manifestum punível com uma actio in duplum.

Depositante – deposita uma coisa móvel ou imóvel, não fungível, pois é um objecto com
individualidade e características próprias.

Em relação à responsabilidade do depositário pela perda ou deterioração da res depositada,


importa distinguir:

• Na época clássica, essa responsabilidade dependia de dolo porque, sendo o


contrato gratuito, não oferecia nenhuma utilidade ao depositário.

• Na época justinianeia, a responsabilidade do depositário foi ampliada ao limite


da culpa lata.

Da figura do depositum afastam-se os seguintes contratos:


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F.D.C.E.

 O depósito necessário – é o depósito forçado que se faz em situações excepcionais que


não permitem que o depositante escolha livremente o depositário: quando há um
naufrágio, um incêndio, etc.

 O sequestro – ( sequestrum ) é o depósito duma res litigiosa feito entre vários


litigiantes e um terceiro ( sequester ) da sua confiança, que se obriga a entregar a res a
quem vencer o litígio ou vier a encontrar-se nas condições estabelecidas pelos
depositantes.

 O depósito irregular – é o depósito que se traduz na transferência da propriedade de


res fungíveis, obrigando-se o depositário a restituir outro tantum do mesmo género e
qualidade a pedido do depositante.

8.5. Comodato

O comodato (commodatum) é um contrato bilateral imperfeito e de boa fé em que uma pessoa


(comodante) entrega uma res móvel ou imóvel a outra pessoa (comodatário) para que a use
gratuidade, durante certo tempo e segundo o modo acordado, e a restitua. O comodatário torna-
se simples detentor, mantendo-se a propriedade e a posse no comodante.

Como empréstimo de uso, o commodatum tem, por objecto, res não consumíveis. Porém, não se
afasta a possibilidade de incidir sobre res consumíveis desde que intervenham como específicas:
para o comodatário ostentar a sua propriedade perante terceiros ou para que, como no caso de
moedas, se tornem objecto de estudo, devendo ser depois restituídas.
Outra nota que caracteriza o commodatum é a gratuidade que o permite distinguir duma locatio-
conductio.
O comodatário obriga-se: a usar a res segundo o que foi acordado expressa ou tacticamente com
o comodante; a não deteriorá-la; e a restituí-la nas condições em que a recebeu. Se usar
diferentemente, incorre no furtum usus. No direito clássico, é responsável por custódia
(custodiam praestare). Por isso, se a res for roubada, responde perante o comodante e, em
consequência pode demandar o ladrão com a actio furti. No direito justianeu, responde com
base na culpa levis excepto se o comodato foi realizado no interesse exclusivo do comodante ou
para satisfazer um interesse comum: naquela hipótese, a sua responsabilidade depende de dolo;
nesta, de culpa in concreto.
O comodante está obrigado a ressarcir os gastos necessários que o comodatário fez para
conservar a res quer por si próprio. Para o efeito, goza do iudicium contrarium (ou actio
commodati contraria) e à pretensão do comodante pode opor o ius retentionis.

Actio commodati – acção directa e contrária

Ação directa – comodante pretende recuperar o objecto e o depositário recusa-se a restituí-lo.

Acção contrária – o comodatário faz despesas para o guardar e o comodante recusa a pagar. O
comodatário tem direito de retenção, ou seja, não entrega o objecto enquanto o comodante não
pagar as despesas.

8.6. Penhor
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F.D.C.E.
O penhor (pignus) é um contrato bilateral imperfeito em que uma pessoa entrega a outra uma
res para garantir uma obrigação própria ou alheia. O devedor (credor da obrigação garantida)
torna-se possuidor, mas em nome do credor.
Aí são fixadas as faculdades concedidas ao credor pignorático sobre a res e a obrigação de a
restituir após a extinção da relação obrigacional garantida. Portanto, este contrato, a cuja
perfeição é necessária a traditio da res, produz duas relações distintas:

o Um direito sobre a res (ius pignoris) a favor do credor da obrigação que se pretende
garantir;

o A obrigação de o credor pignoratício conservar e restituir a res depois da extinção


da obrigação garantida.

Na época clássica, o credor pignoratício era responsável por custódia. No direito justinianeu, a
sua responsabilidade dependia da culpa levis (ou in abstracto).
Para tutela das obrigações resultantes do contrato de pignus o credor gozava de uma actio in
factum in personam contra o devedor (credor da obrigação garantida).

OBRIGAÇÕES DO CREDOR:

• Obrigação de conservar a coisa, durante o tempo do crédito ser pago;

• Restituir a coisa, pois paga a divida – acabando o penhor. Se a coisa foi vendida, dado a
divida não ter sido paga, se houver sobra de dinheiro deve entregar o que restar.

OBRIGAÇÕESDO GARANTE:

 Pagar as despesas para que a coisa não se perdesse ou deteriorar-se – responsabilidade


do garante. Se o objecto se perder ou deteriorar:

 Época clássica – é sempre da responsabilidade por custódia, objectiva;

 Época justianeia – só responde se tiver culpa, se a culpa for em


abstracto recorre-se ao homem média, ao bom pai de família (bónus
paterfamilias).

9. Contratos Consensuais:
9.1. Noções gerais
9.2. Compra e Venda
9.3. Locação
9.4. Sociedade
9.5. Mandato

9.1. Noções gerais

Os contratos consensuais caracterizam-se pelo facto de a sua validade só depender do acordo


das partes, que pode manifestar-se de qualquer modo. Portanto, não é necessária uma forma
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F.D.C.E.
determinada (como nos contratos verbais e literais) nem a entrega da res (como nos contratos
reais).
Estes contratos inspiram-se no princípio de boa fé e constituem o ponto de partida da evolução a
que chegou a hodierna figura do contrato.
O direito romano tipificou os contratos consensuais em quatro figuras distintas: a compra e
venda, a locação, a sociedade e o mandato.

9.2. Compra e Venda

A compra e venda (emptio-venditio) é o contrato consensual em que uma das partes


(vendedor) se obriga a transferir à outra (comprador) a posse de uma res e a assegurar-lhe o seu
gozo pacífico (habere licere), obrigando-se esta a dar (datio) àquela a propriedade de
determinada pecunia que constitui o pretium.

Por isso, o contrato de compra e venda é constituído pelos seguintes elementos:

o Conventio – é o acordo em que o vendedor se obriga a entregar (tradere) a posse livre e


pacífica da res vendida; e o comprador, a pagar (solvere) o pretium.

o Res – a sua posse, livre e pacífica (vacum possessio) deve ser transferida ao comprador.
Pode ser corpórea ou não corpórea, presente ou futura. Não corpóreas são, as servidões
prediais ainda não constituídas, o usufruto, a herança já aceita pelo herdeiro e, na época
justinianeia, o direito real da enfiteuta e do superficiário. Pode também tratar-se de res
fungíveis e dum conjunto de objectos cada um dos quais com a sua individualidade
própria, dependendo da vontade das partes determinar se o objecto da conventio são as
res individualmente consideradas ou o conjunto em que se inserem.

o Pretium - embora os sabinianos considerassem que podia ser

o constituído por qualquer res, prevaleceu a opinião proculeiana de que “o preço deve
consistir em numerata pecunia“; de contrário, tratar-se-á duma permuta que é um
contrato inominado. O pretium deve ser certo, ou seja, a pecunia deve ser determinada
no momento da conventio ou determinável perante circunstâncias objectivas. Na época
clássica dicutiu-se a validade do contrato quando o pretium fosse deixado ao arbítrio de
um terceiro, mas acabou por prevalecer a opinião negativa de Labeo que justiniano
recusou, acolhendo o ponto de vista contrário: o contrato é válido se a estimação for
efectivamente realizada. Trata-se de um novo instituto, mais tarde designado pela
expressão Laesio enormis ou Laesio ultra dimidum. Esta lesão enorme dá motivo à
destruição do contrato.

Sendo a compra e venda um contrato sinalagmático, importa distinguir as obrigações contraídas


pelo vendedor e pelo comprador. O vendedor obriga-se a:

 Transferir a posse livre e pacífica (vacum possessionem tradere) da res; portanto,


deve encontrar-se livre de vícios e não ser precária. Importa não perder de vista que o
fim natural de compra e venda é a transferência da propriedade e que a Bona fides exige
ao vendedor que faça o necessário para o comprador a adquirir; por isso, o comprador
podia exigir-lhe a mancipatio ou in iure cessio da res mancipi ou a traditio da res nec
mancipi.
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F.D.C.E.
 Responder por evicção – é a obrigação em que o vendedor, que assumiu a
responsabilidade de assegurar a posse pacífica da res, responde pela privação sofrida
pelo comprador em consequência de uma sentença que, tendo reconhecido a
propriedade de um terceiro ou a sua titularidade duma servidão, usufruto ou penhor, lhe
conferiu a posse. Por isso, o comprador demandado devia requerer a presença do
vendedor no processo para o defender. Se recusasse ou não evitasse a sentença
desfavorável, o comprador podia demandá-lo com a actio auctoritatis com que obtinha a
sua condenação no dobro do pretium pago. A obrigação em que o devedor se
responsabilizava pela evicção cessava quando o comprador se tornasse prorpietário por
usocapio.

Inicialmente, resultava da mancipatio; por isso, na sua ausência, o comprador costumava


exigir uma stipulatio que podia revestir as seguintes espécies:

• Satisdatio secundum mancipium (ou repromissio secundum mancipium) –


ignorarmos a sua estrutura, porque cedo caiu em desuso;
• Stipulatio duplae;
• Stipulatio habere licere.

Numa segunda fase, entendeu-se que não correspondia à boa fé o facto de o vendedor
não realizar uma destas stipulationes e, em consequência, admitiu-se que o comprador
podia demandar o vendedor com a actio empti para exigir a realização da necessária
stupulatio.

o Cuidar da res até à sua entrega – o limite desta responsabilidade divide a romanística.
Recentemente, entendeu-se que a obrigação do vendedor dependia da culpa levis (ou in
abstracto): devia actuar com a diligência de um homem normal (bonus paterfamilias).
Quanto ao comprador, é responsável pelo risco. Estamos perante mais uma particularidade
da confortuito ou força maior, o comprador mantinha a sua obrigação de pagar o pretium e,
em contrapartida, tinha direito à acessões e frutos desde a conclusão do contrato até à
entrega da res. Importa, no entanto, considerar o momento em que a compra e venda se
considera perfecta, pois se estivesse sujeita a condição suspensiva, o periculum só onerava o
comprador desde o momento em que a condição se verificasse; se se tratasse de res que
devessem ser pesadas, contadas ou medidas, o comprador só respondia pelo risco a partir do
momento em que fossem pesadas, contadas ou medidas; e se o comprador tivesse reservado
o direito de examinar a res, o periculum só o onerava no momento em que manifestasse o
seu agrado.

o Responder pelos vícios ocultos da res – é a obrigação com que, desde os tempos antigos, o
vendedor costumava garantir, na própria mancipatio ou numa stipulatio, que a res vendida
tinha materialmente a consistência ou se encontrava nas condições determinadas pelo
acordo e, portanto, não havia elementos físicos ou jurídicos susceptíveis de diminuírem a
sua aptidão ou o exercício das suas faculdades.esta responsabilidade, que os vendedores
assumiam sobretudo nas vendas de escravos e animais, foi aperfeiçoada e disciplinada pelos
aediles curules que, para protegerem os compradores, impuseram a obrigação de os
vendedores celebrarem uma stipulatio e estabelecerem, no seu edictum, que deviam
declarar, no momento da conclusão das vendas, as enfermidades crónicas (morbi) e os
defitos físicos (vitia) não aparentes que afectassem os escravos e os animais.
E se os efeitos não declarados se manifestassem depois da compra e venda, o comprador
podia demandar o vendedor com uma das seguintes actiones:
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 Actio redhibitoria (acção reviditória) – produzia a resolução da compra e
venda e a condenação do vendedor no pagamento do dobro da pecunia
recebida, a menos que quisesse restituir o pretium com juros. Art. 913 e
seg. c.c.

 Actio quanti minoris ou aestimatoria (acção estimatório) – permitia ao


comprador obter a diminuição do pretium proporcionalmente ao valor
menor que a res tinha em consequência do vício.

Graças a estas actiones, o comprador gozava de protecção mais completa porque o vendedor
estava obrigado a declarar os vícios e o comprador podia demanda-lo pelos vícios não
declarados, independentemente de aquele ter actuado com ou sem dolo.

Quanto ao comprador, assinalam-se as seguintes obrigações:

o De transmitir a propriedade (dare) do pretium ao vendedor.também está obrigado a


pgar juros se não pagar o pretium decorrido um certo tempo após a recepção da res;

o De receber a res a pedido do vendedor. Se recusar, pode ser obrigado a ressarcir o


dano causado pelo atraso;
o De reembolsar o vendedor dos gastos feitos para conservar a res;

o De responder pelo risco.

Entre as obrigações do vendedor e do comprador há uma relação de interdependência; se o


incumprimento de uma das partes não conduz, ipso iure, à dissolução do contrato.

Por isso, o comprador deve oferecer o pretium se quiser exigir a entrega da res; e o vendedor
deve oferecer a res para poder exigir o pagamento do pretium.

À compra e venda podiam juntar-se vários pacta ditos ex (ou in) continenti por serem acordados
no mesmo momento. Modificavam as obrigações das partes e o juiz devia considera-los por a
compra e venda ser um negócio jurídico de boa fé.

Os principais pacta adiecta são:

• O pactum dispicentiae: sujeitava os efeitos da compra e venda à condição


resolutória potestativa de o comprador declarar que não aprovava a res; ou fazia
depender esses efeitos da declaração de agrado do comprador (condição
suspensiva). Se não tivesse fixado um prazo, o comprador podia pedir através
de uma actio in factum, que a compra e venda fosse declarada sem efeito.

• A in diem addictio: concedia ao vendedor a faculdade de rescindir a compra e


venda se, dentro de certo prazo, outra pessoa oferecesse melhores condições
decorrido o prazo previsto sem ter surgido a melhor oferta, a compra e venda
considerava-se firme.

• A lex commissória: é o pactum que atribui ao vendedor a faculdade de


considerar o contrato não realizado se o comprador não pagar o pretium dentro
de um prazo fixado.no direito justinianeu, depende da vontade das partes;
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• O pactum de retrovendendo: o vendedor reservava a faculdade de resgatar a
res restituindo, dentro de certo tempo, o pretium ao comprador;
o pactum protimeseos (de prelecção ou preferência): o comprador
comprometia-se, caso quisesse alienar a res, a venda-la a quem lha vendeu.

O comprador e o vendedor eram tutelados, respectivamente, com a actio empti (ou ex ampto) e
a actio venditi (ou ex vendito), que desde a época de Cícero foram classificadas entre os bonae
fidei iudicia. Portanto, no processo das fórmulas o iudex devia considerar todas as relações entre
as partes incluindo os pactos acrescentados ao contrato de compra e venda.

9.3. Locação

A locação (locatio-conductio) é um contrato consensual em que uma pessoa se obriga para


com outra a proporcionar-lhe o gozo temporário duma res ou a prestar determinados serviços ou
a realizar uma obra, mediante o pagamento duma remuneração (merces)
Esta diversidade de fins levou a romanística a distinguir três contratos diferentes: a locação de
coisa (locatio-conductio rei), de trabalho (locatio-conductio operarum) e de obra (locatio-
conductio operis). No entanto, esta teoria das três locações tem sido contestada pela doutrina da
unidade contratual que, embora reconheça que os fins podem ser diversos, destaca, como
elementos essenciais a res e a merces que conferem à locatio-conductio uma unidade dogmática.

A locatio-conductio é constituída pelos seguintes elementos essenciais:

• Consensus – é o acordo das partes. Como sucede em qualquer contrato consensual,


basta para criar a relação obrigacional;

• Objecto – pode ser uma res que o locatário (conductor) deve usar segundo o modo
acordado durante um certo tempo (locatio-conductio rei); uma actividade laboral
(operae) que o locador deve realizar no tempo acordado (locatio-conductio operarum);
ou uma res que o locador entrega ao locatário para fazer uma determinada obra (locatio-
condutio operis);

• Merces – é a contraprestação devida pelo uso da res, trabalho ou obra realizada.


Designada também pelo vocábulo pretium, deve ser vera e certa e consistir em pecunia,
embora, na locação de fundi agrícolas, pudesse traduzir-se numa parte dos frutos;

• Tempo – a utilização da res, a actividade laboral ou a realização da obra devia ocorrer


no prazo acordado.

Sendo a locatio-conductio um contrato sinalagmático, importa referir as obrigações contraídas


pelo locator e pelo conductor. Por simples comodidade expositiva, distinguimos três espécies:

 Locatio-conductio rei

Nesta locatio também denominada locação em sentido próprio, o locador obriga-se a :


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 Proporcionar ao conductor o livre gozo da res locada, durante o
tempo e nas condições acordadas;
 Fazer as reparações necessárias para evitar a deterioração ou
destruição da res;
 Ressarcir o conductor dos gastos que fizesse em reparações
necessárias.

Por sua vez, o conductor deve:

 Pagar a merces acordada;


 Conservar a res em boas condições e não fazer um uso reprovável;
 Restituir a res no tempo da locação;
 Ressarcir o locador por danos causados na res.

A locatio-conductio rei, que é um contrato do ius gentium não produz a transferência da


propriedade da res locada; por isso, é susceptível de ser realizada pelo proprietário, usufrutuário,
possuidor e até pelo conductor (sub-locação). A responsabilidade das partes depende da culpa
levis e o risco onera o locador.
Tratando-se de um fundus agrícola, se os frutos fossem destruídos ou gravemente afectados por
uma vis maior, o colonus podia obter a libertação ou diminuição da renda (remissio mercedis).

A locatio-conductio rei caducava por:

 Destruição material da res locada ou se tornar res extra commercium;


 Cumprimento do prazo assinalado;
 Cessação do usufruto com base no qual o usufrutário locou a res.

Quanto à resolução do contrato, além do critério geral segundo o qual se uma das partes não
cumpre (responsabilidade) ou não pode cumprir (risco) as suas obrigações, à outra é permitido
resolver o contrato, podia pedi-la:

• O locador, quando:
 O locatário não paga a renda (merces) durante dois anos;
 A res é objecto de abuso ou sofre deterioração;
 Tem necessidade de habitar a casa ou pretende reformá-la;
• O locatário, quando:
 O locador se atrasa na entrega da res;
 A res tem defeitos que impedem, limitam ou dificultam a sua
utilização;
 Há um temor fundado de um perigo.

 Locatio-conductio operarum

Nesta locatio, o locador obriga-se a pôr a sua actividade laboral à disposição do conductor
durante um certo tempo, mediante o pagamento de uma remuneração (merces).
E compreende-se também que, neste ambiente social em que o trabalho manual era considerado
nil e ignóbil e a merces vista como um preço da servidão, não fosse locável o trabalho
intelectual de retóricos, filósofos, médicos, professores, etc.
Porém, era necessário distinguir as situações em que se encontravam a pessoa sub potestate (do
dominus ou paterfamilias) e o homem livre sui iuris que se obrigava voluntariamente a pôr a sua
actividade laboral à disposição de outra pessoa, evitando que esta obrigação pudesse constituir
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um vínculo que limitasse a sua capacidade jurídica. Por isso, a jurisprudência configurou esta
actividade laboral, que designou com o termo operae, como uma res corpórea que é propriedade
do trabalhador e se considera distinta e separada da sua pessoa.
A locatio-conductio operarum cessava com a morte do locator e não do conductor: este podia
prestar os seus serviços aos herdeiros deste que, portanto, se substituísse na obrigação de pagar
a merces. Se o locador adoecesse, ficaria dispensado de prestar as suas próprias operae e o
conductor estava desobrigado de pagar a mercê durante a doença.

 Locatio-conductio operis

Nesta locatio, o locator deve entregar a res ao conductor para realizar a obra acordada e pagar-
lhe a merces como retribuição. Por sua vez, o conductor deve executar essa obra com correcção
e entregá-la no prazo acordado ou, se não foi fixado, no tempo normalmente utilizado para a
realizar.
Suscitaram-se grandes discussões sobre os limites da responsabilidade do conductor na
restituição da res que lhe foi confiada. A jurisprudência examinou especialmente algumas
figuras a quem concedeu a actio furti contra o ladrão, porque se responsabilizava, perante o
locator, pela perda da res. Segundo a romanística moderna, esta responsabilidade
fundamentava-se na custódia e não falta quem a configure como exemplo de responsabilidade
objectiva.
Quanto ao risco (periculum), recaía sobre o locador, a não ser que tivesse sido acordado
diversamente.

Retomando a locatio-conductio como figura contratual unitária, as realções jurídicas criadas


eram tuteladas pela actio locati (ou ex locato) e pela actio conducti (ou ex conducto)
concedidas, respectivamente, ao locador e ao locatário. Trata-se de iudicia bonae fidei. Com
estas actiones podiam concorrer outras, como a actio legis aguiliae, a actio furti e a actio
condictio furtiva.

9.4. Sociedade

A sociedade (societas) é o contrato consensual em que duas ou mais pessoas (socii) se obrigam
reciprocamente a pôr em comum determinados bens ou trabalho com vista à obtenção de um
fim patrimonial comum é um contrato de boa fé e inspira-se na fraternitas que influencia o seu
regime jurídico.

É constituída pelos seguintes elementos essenciais:

• Consensus – é o acordo de vontade dos socii de porem em comum


determinadas res ou de dirigirem o seu trabalho (operae) para a realização de
um fim comum útil. A voluntas sociorum pode manifestar-se de qualquer forma
e tem uma característica especial: deve ser contínua.

• Objecto – é constituído por res ou operae (actividade laboral, manual ou


intelectual) ou ambas as coisas que os socii levam para a societas. As
contribuições podem ser diferentes quer quanto à quantidade ou valor quer em
relação ao objecto. Por isso, as societas podem dividir-se em: rerum, operarum
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e mixtae, consoante os socii contribuam só com res, só com operae ou
conjuntamente com umas e outras.

• Finalidade – o interesse comum que as partes se propõem realizar deve ser


lícito e susceptível de constituir uma utilidade ou vantagem patrimonial para
todos os socii. Por isso, não produz efeitos o acordo de constituição duma
societas que reserve os ganhos para um ou alguns socii e, para os outros, as
perdas.

Podendo os fins ser muito, justifica-se que as societas se classifiquem em vários tipos:

 A societas omnium bonorum – é uma sociedade universal, porque os socii


contribuem com todos os seus bens presentes e futuros.

 A societas quaestus – o seu objecto é constituído pela actividade profissional


ou económica dos seus socii. Compreende a:

• Societasalicuius negotiationis
• Societas unius

A origem da societas perde-se na longa noite dos tempos. Tendo na sua base uma relação de
confiança e inspirando-se na fraternitas entre os socii, é provável que tenha, como antecedente,
o consortium familiar entre filiifamilias que mantinham indivisa a hereditas do pater falecido.
Parece seguro que para o desenvolvimento do instituto contribuíram exigências do comércio
internacional que levavam vária pessoas a juntar bens e trabalho com vista à realização de
determinados negócios. Referem-se a este propósito, o carácter e a estrutura de negócio iuris
gentium.
A societas é um contrato bilateral ( ou até plurilateral ) de que resultam obrigações para os socii.
Destacamos:

o Cada sócio deve contribuir com o que foi acordado: res e (ou) trabalho (operae). É
também responsável pela evicção e pelos vícios ocultos da res entregue. O risco
(periculum) e a responsabilidade por danos causados à res pertencem aos socii desde a
conclusão do contrato ou a partir da entrega, respectivamente se se trata duma res
determinada ou de res genéricas. Cada sócio é obrigado a gerir os negócios sociais
segundo os fins da societas e a sua responsabilidade depende da culpa in concreto: deve
empregar a diligentia que lhe é própria;

o Cada sócio tem o direito a ser reembolsado dos gastos que tenha feito e
indemnizado dos danos que a gestão lhe causou.

O contrato de sociedade não cria uma pessoa jurídica distinta dos socii; por isso, não existem
relações obrigacionais entre a societas e terceiros: só há créditos e obrigações de cada sócio com
terceiros. Importa distinguir:

• Se um dos sócios fizesse um contrato com um terceiro, a correspondente relação


obrigacional surgia unicamente entre as partes: o sócio e o terceiro. Todavia, tal
socius actuava também como negotiorum gestor ou mandatário dos restantes que são,
juntamente com ele, titulares do condomínio ao qual devia ceder imediatamente os
créditos e a responsabilidade das dívidas assumidas.
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• Se todos os sócios fizessem um contrato com um terceiro, a relação (obrigacional)


considerava-se pró rata. Em alguns casos podia surgir, com base no acordo social, uma
obrigação solidária.

Em casos muito especiais os efeitos de um negócio jurídico realizado por um socius produziam-
se imediatamente na esfera jurídica de cada um dos restantes socii e, por isso, o terceiro podia
demandá-los com a actio institoria ou exercitoria.

O contrato de societas extingue-se por:

• Cumprimento do prazo acordado;


• Realização do fim;
• Perda do património social ou subtracção ao commercium;
• Acordo de todos os socii;
• Renúncia de um dos socius;
• Morte ou capitis deminutio de um dos socius;
• Execução patrimonial (bonorum venditio) ou confisco de um dos socius;
• Má condição económica (egestas) dum sócio;
• Exercício da actio pró sócio.

Com a extinção da societas, o condomínio dissolvia-se e seguir-se-ia a liquidação e divisão dos


bens sociais através da actio communi dividundo. Para cumprimento das obrigações assumidas
no contrato da sciedade, cada sócio gozava da actio pró sócio que dava lugar a um iudicium
bonae fidei; por isso, o iudex devia apreciar todas as relações entre o demandante e o
demandado, sem descurar a interdependência das suas obrigações. Ademais, o socius
condenado incorria na declaração de infâmia, mas gozava do beneficium competentiae: a
condenação não podia superar o limite determinado pelas suas possibilidades patrimoniais.
Circunstancialmente, um sócio podia instaurar também a actio furti e a actio legis aquiliae.

9.6. Mandato

O mandato (mandatum) é um contrato consensual e bilateral imperfeito no qual uma pessoa


(mandante) encarrega outra (mandatário) de realizar uma determinada actividade no interesse do
mandante, de um terceiro, ou destes e do mandatário, que se obriga, por sua vez, a realizá-la
gratuitamente. É um contrato do Ius gentium, de boa fé e inspira-se na confiança das partes.
É constituído pelos seguintes elementos:

o Consensus – é o acordo entre quem dá (mandans, mandator, dominus negotii) e quem


aceita (mandatário, is qui mandatum accepit) o encargo de realizar um determinado
acto. Pode manifestar-se de qualquer modo: através de declaração ou dum
comportamento de que possa deduzir-se seguramente;

o Objecto – é a actividade que o mandatário se obriga a realizar. Deve ser lícita e


determinada e não é necessário que consista num negócio jurídico: qualquer serviço
pode ser objecto de mandatum, desde que gratuito;
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o Finalidade – o mandatum deve satisfazer um interesse do mandante, dum terceiro ou
conjuntamente também do mandatário. Não há mandatum, mas simples conselho, se a
actividade beneficiar exclusivamente o mandatário

A sua origem não é conhecida, prevalecendo hoje a doutrina segundo a qual para atribuir a
alguém a gestão de um ou vários assuntos, a jurisprudência teria recorrido à figura do cognitor
ou do procurator omnium bonorum.
Por isso, foi criado, já na época republicana, o contrato de mandatum no âmbito do ius gentium,
que viria, na época justinianeia, a absorver a procuratio quando se entendeu que a relação
jurídica entre o procurador encarregado de administrar todos os bens (procurator omnium
bonorum) e o dominus negotii tinha a sua fonte não tanto na outorga de um título (procurator ou
cognitor), mas fundamentalmente um acordo (mandatum).

Sendo o mandatum um contrato bilateral imperfeito, importa referir as obrigações contraídas


pelo mandatário e pelo mandante. Quanto ao mandatário obriga-se a:

 Cumprir o encargo, seguindo as instruções do mandante ou, se não existirem,


segundo a natureza da actividade a realizar. Pode encarregar outras pessoas dessa
actividade, mas responde pelo trabalho do substituto;

 Prestar contas da sua gestão ao mandante. Se da sua actividade surgirem direitos


sobre terceiros, deve transmitir as correspondentes actiones ao mandante.

A responsabilidade do mandatário perante o mandante depende de culpa levis ( ou in


abstracto ).
Em relação ao mandante, pode vir a contrair as seguintes obrigações:

• ressarcir os gastos feitos pelo mandatário na execução do encargo que lhe


deu;
• indemnizá-lo dos danos sofridos.

Quanto ao terceiro, a relação jurídica deriva do mandatum é-lhe estranha; por isso, só pode
reclamar os seus direitos perante o mandatário que, por sua vez, deve demandá-lo pelas suas
obrigações. Porém, este princípio, que resulta da exclusão da representação directa, foi
paulatinamente afastado pelo pretor através da concessão da actione utiles ao mandante e ao
terceiro, respectivamente contra este e contra aquele. Assim se foi impondo, por acção do
pretor, a representação directa.

O mandatum extingue-se por:

 Execução do encargo ou impossibilidade material ou jurídica de o realizar;


 Vencimento do prazo fixado;
 Revogação do mandante;
 Renúncia do mandatário;
 Morte ou capitis deminutio do mandante ou do mandatário.

Segundo o princípio “a obrigação não pode começar pela pessoa do herdeiro“, eram inválidos,
na época clássica, os mandatos post mortem: mandatos que deviam ser executados depois da
morte de uma das partes.
Porém, o direito justinianeu considerou-os válidos.
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A relação jurídica proveniente do mandatum era tutelada com a actio mandati (directa) e pela
actio mandati contraria concedidas, respectivamente, ao mandante contra o mandatário e a este
contra aquele. O mandatário incorria na declaração de infâmia.

10. Contratos formais:


10.1.Noções gerais
10.2.Especial referência à Stipulatio

10.1. Noções gerais

Os negócios formais (ou solenes) são aqueles cuja existência depende da observância duma
forma prescrita pelo ordenamento jurídico. Tem de revestir uma certa forma (ex: a escritura
pública reveste o contrato de compra e venda).
Gaius distingue duas espécies de negócios formais: os verbais e os literais. Naqueles, a vontade
manifesta-se através de palavras solenes fixadas pelo Ius civile. Nestes, as obligationes nascem
de um acordo redigido por escrito.

10.2. Stipulatio

A stipulatio é um contrato formal que os Romanos utilizavam muito frequentemente para a


satisfação de fins muito diferentes.
Também o Pretor, a utilizava para proteger judicialmente relações não tuteladas pelo Ius Civile.
Dentro da grande variedade de fins que justificavam o frequente recurso à Stipulatio,
destacamos a criação de obrigações para:

• Garantir outras já existentes;


• Assegurar o uso normal de um direito real sobre uma res aliena;
• Conferir a protecção judicial a acontecimentos futuros;
• Evitar prejuízos;
• Etc.

Formalmente, este contrato encontrava-se estruturado numa pergunta oral que uma das partes
(Stipulator) dirigia à outra (promissor) que, em resposta imediata, prometia dar uma quantia
determinada ou determinável de pecunia, uma res, ou realizar (facere) ou não (non facere) uma
determinada actividade. E do encontro desta pergunta com a resposta resultava uma obligatio.

A Stipulatio apresenta várias características:

o Solenidade: celebra-se com a invocação dos deuses cuja presença espiritual constitui
um poderoso factor que obsta à recusa do seu cumprimento (deusa Fides);

o Formalidades: tem uma fórmula jurídica própria constituída por palavras fixadas pelo
Ius Civile, que o stipulator e o promissor deviam proferir, respectivamente, na pergunta
e na resposta;

o Oralidade: aquelas palavras deviam ser proferidas oralmente e não por escrito. Por
isso, nem o mudo (porque não fala), nem o surdo (porque não ouve), nem a criança com
menos de sete anos (porque não entende) podem realizar uma stipulatio;
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o Abstracção: a causa jurídica não é um elemento constitutivo e, portanto, não é
essencial. Por isso, a stipulatio pode ser utilizada para diversos fins;

o Unidade: a pergunta (do stipulator) e a resposta (do promissor) constituem uma


unidade (unitas actus); por isso, a resposta deve seguir imediatamente a pergunta.

Objecto das obrigações:

o Primeiro era a prestação duma certa pecunia (dinheiro certo);


o Depois não era só dinheiro, mas também outras coisas certas (res);
o A seguir eram coisas incertas;
o Finalmente chegaram a uma actividade de fazer (facere) ou não fazer (non facere).

Por outro lado, consoante sejam impostas pelo magistrado ou realizadas livremente pelas partes,
distinguem-se também duas espécies de stipulationes: as necessárias e as convencionais ou
voluntárias.

Evolução:

 Começou por ser um negócio jurídico formal – oralidade;

 Quando a sociedade romana começou a perder a sua religiosidade, ou seja, as


pessoas perderam o medo dos Deuses, quando faziam um contrato, estes
faltavam à sua palavra – consequência da queda do vínculo religioso;

 Assim, passa-se a exigir um documento escrito (testatio, cautio), com uma


função probatória, podia ser contestado e afastado se se provasse que a forma
verbal não tinha sido observada e, em consequência devia entender-se que a
stipulatio não existia;

 No séc. V, há um relaxamento no rigor das palavras, isto é, o credor devia


proferir estas palavras e o devedor responder estas palavras, palavras que
deixaram de ser obrigadas, considerando-se válida a stipulatio feita com
quaisquer palavras;

 Finalmente o documento escrito que tinha sido introduzido para provar, torna-
se Fonte deste contrato – as palavras são substituídas, pois o contrato verbal
passou a ser escrito.

 Em conclusão a stipulatio descaracterizou-se.

Segundo o direito justinianeu fala-se da:

 Condictio certi: acção para exigir a pecunia certa, se fosse esse o objecto;

 Condictio triticaria: se a obrigação fosse de outra coisa certa, uma res certa;

 Actio ex stipulatu: quando se tratava de uma coisa incerta (incertum).


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11. Contratos Inominados:


11.1.Noções gerais
11.2.Permuta
11.3.Transação

Contratos Nominados: estão previstos no código civil.


Estes são:

• Compra e Venda
• Doação
• Sociedade
• Locação
• Comodato
• Mútuo
• Contrato de trabalho
• Prestação de serviço
• Depósito
• Empreitada
• Renda perpétua
• Renda vitalícia
• Transacção

11.1. Noções gerais

São chamados contratos Inominados as relações jurídicas de natureza obrigacional que os


compiladores de Justiniano recolheram numa categoria distinta protegida com a adequada tutela
judicial. Estes contratos não são previstos pelo direito.

Trata-se de relações cujo vínculo jurídico, que liga as partes, surge quando só uma delas
realizou a sua prestação e, por isso, pode exigir à outra a prestação a que se comprometeu: a
restituição do que recebeu ou a entrega do equivalente pecuniário ao benefício patrimonial
obtido.

Justificam o vinculum iuris entre as partes os seguintes elementos:

• A conventio: é o acordo em que cada parte se obriga, em relação à outra, a dar uma
determinada res ou a realizar uma certa actividade (facere): a romanística distingue os
seguintes acordos:

 Dou para que dês (do ut des);


 Dou para que faças (do ut facias);
 Faço para que dês (facio ut dês);
 Faço para que faças (facio ut facias).

• A execução de uma das prestações: constitui a causa do vínculo obrigacional da parte


que não cumpriu o que foi acordado. Esta protecção da parte que cumpriu o acordado
resulta a Actio Praescriptis verbis.
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11.2. Permuta

A permuta (permutatio) é um contrato (inominado) em que uma pessoa dá (datio) a outra


uma res determinada para que esta lhe dê outra res. É portanto, um contrato do tipo do ut des
(dou para que dês).

Segundo os Sabinianos, a permuta não passava duma modalidade da compra e venda e, por
isso, protegiam-na com as correspondentes actiones. Todavia, verificando que seria impossível
distinguir a res vendida e a res que funcionava como pretium, os Proculeianos consideravam-na
um contrato distinto e tutelavam-no com uma actio in factum.
A doutrina Proculeiana impôs-se e, em consequência, a jurisprudência preocupou-se em
distinguir a compra e venda e a permuta: aquela é um contrato consensual; esta tem natureza
real, porque se torna perfeita com a primeira datio; naquela, o vendedor contrai a obrigação de
transferir a possessio da res vendida e o comprador obriga-se a dare o pretium; nesta, uma das
partes assume a obrigação de dare para que a outra também det.

Por isso, enquanto na compra e venda o vendedor pode não ser proprietário da res vendida
(obriga-se tão-só, a transferir a posse livre e pacífica), na permuta (porque surge a obrigação de
cada parte transferir a propriedade) as res devem ser propriedade das partes. Também enquanto
na compra e venda se admitiu, embora mais tarde, o instituto da laesio enormis, na permuta a
parte que cumpriu a sua obrigação podia pedir a restituição da res (cuja prpriedade transferiu)
até que a outra cumprisse a sua obrigação. Quanto à evicção de que era responsável o vendedor
na compra e venda, havia, na permuta, um regime adequado, embora não substancialmente
diferente: se apenas uma das partes realizou a datio e a res sofresse evicção, o dans respondia
por evicção; se ambas as partes tivessem cumprido as suas obrigações de dare, cada um era
responsável por evicção. Igual regime funcionava em relação aos vícios ocultos.

A permuta era tutelada, na época clássica, pela condictio ob rem dati re non secuta (e mais
tarde, pela condictio causa data causa non secuta). Na época Justinianeia era protegida pela
actio praescriptis verbis.

11.3. Transacção

A transacção (transactio) é um contrato (inominado) em que as partes põem fim ou evitam


um litígio mediante concessões recíprocas.
Na época clássica, a transactio era considerada um pactum a que se podia juntar uma stipulatio
da qual surgia uma obligatio tutelada pela actio ex stipulatu. Depois, a partir da época pós-
clássica, foi convertido um contractus inominado tutelado pela actio praescriptis verbis.

Nem sempre, porém, a transactio era possível: era recusada depois da sentença; e também
não era admitida quando a dívida, em litígio, respeitasse a alimentos dispostos num
testamento.
Não podia impugnar a transactio quem tivesse agido com dolo.

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