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O Direito é uma ordem da conduta humana. Uma ordem é um sistema de regras.

Porém, o
Direito não é uma regra, mas sim um conjunto de regras que possui uma unidade que
entendemos por sistema.
O conceito de Direito é elaborado de modo a corresponder a um ideal de justiça. Direito e
justiça são, contudo, conceitos diferentes.

Relação entre Direito Natural e Direito Positivo

A doutrina do Direito Natural sustenta que há um ordenamento das relações humanas diferente
do Direito positivo, mais elevado e absolutamente válido e justo, pois emana da natureza da
razão humana, ou da vontade de Deus. O Direito Natural não é criado por um ato de vontade
humana, ele pode e tem de ser deduzido da natureza por uma operação mental. Examinando-se
cuidadosamente a natureza do homem, podem encontrar-se regras que regulam a conduta
humana de uma maneira correspondente à natureza, e portanto, perfeitamente justas. Os
direitos e deveres do homem, estabelecidos por essa lei natural, são considerados inatos
porque são implantados pela natureza e não a ele impostos por um legislador, e na medida em
a natureza manifesta a vontade de Deus, esses direitos e deveres são sagrados e absolutos.
A doutrina do Direito Natural é,m por vezes, ou conservadora ou revolucionária. Ou justifica o
Direito Positivo com a sua concordância com a ordem natural, afirma mas não provada, ou, põe
em questão a validade do Direito Positivo, sustentando que ele se encontra em contradição com
algum dos pressupostos absolutos.
A doutrina do Direito Natural é caracterizada por um dualismo fundamental entre Direito
Natural e Direito Positivo. Acima do Direito Positivo, existe um perfeito e absolutamente justo
Direito Natural, e, o Direito Positivo é justificado apenas na medida em que corresponda ao
Direito Natural. Neste aspecto, a doutrina do Direito Natural é remanescente do dualismo do
idealismo Platónico. O centro da filosofia de Platão é a sua doutrina das ideias, na qual o mundo
é dividido em duas esferas, uma vísivel, perceptível pelos nossos sentidos, à qual chamamos o
mundo real, e outra, é a do mundo invisível, no qual as coisas extistentes no mundo real são
apenas cópias imperfeitas das ideais existentes num mundo invisível no qual as ideias são
perfeitas.
A lei criada por um legislador, por uma ato de vontade humana, é Direito Positivo. O Direito
Positivo é essencialmente uma ordem de coerção, no sentido em que prescreve atos coercitivos,
que são conduzidos atracés de agências especiais para concretizar tais atos. O Estado é a forma
perfeita do Direito Positivo. Por sua vez, o Direito Natural é uma ordem não-coercitiva.
Valendo-se de sua origem a partir de um valor absoluto, o Direito Natural reinvidica validade
absoluta e, portanto, em harmonia com a sua ideia pura, apresenta-se como uma ordem
permanente e imutável. O Direito Positivo, por outro lado, com a sua validade hipotético-
relativa, é uma ordem infinitamente mutável, que pode se ajustar às condições à medida que
elas se modificam no espaço e tempo. Uma análise dos seus métodos, demonstra que o Direito
Natural tem por vezes, abandonado o seu estatuto de imutabilidade, procurando atenuar as
diferenças entre o Direito Natural e o Direito Positivo.
A comparação entre DIreito Natural e Direito Positivo leva-nos por fim a um ponto em que, em
vez de uma diferença vem uma afinidade. Afinidade esta que segundo Kelsen expõe mais uma
vez o carácter problemático do Direito Natural. O problema consiste na necessidade inerente a
qualquer ordem normativa de individualizar normas gerais.

Princípio estático do Direito Natural e o Princípio dinâmico do Direito Positivo

A relação essencial de unidade que prevalece entre as normas de um sistema no que diz
respeito à sua norma fundamental tende a ser de diferentes tipos.
Sistemas estáticos podem ser distinguidos pelo método de derivação. As normas de uma ordem
podem ser directa ou indirectamente derivadas da sua norma fundamental.
Num sistema estático, a norma fundamental produz as normas "não roubarás" ou "manterás a
tua promessa". Destas normas particulares resultam normas mais específicas, por exemplo a de
que "o comerciante não deve ocultar defeitos que tenha conhecimento dos seus produtos" e de
que "o comprador deve pagar o preço prometido no tempo combinado". Estas normas resultam
de uma norma fundamental sem que seja necessário um ato especial de elaboração de normas.
Todas estam contidas desde o princípio na norma fundamental e dela derivam por meio de uma
simples operação intelectual.
No caso de um sistema dinâmico, a norma fundamental simplesmente confere o poder de criar normas
a uma vontade humana específica. "Obedece a teus pais" é um tipo de norma fundamental, porém,
nenhuma operação intelectual pode derivar dela uma norma especial. É necessária uma "ordem dos
pais" com conteúdo específico como "vai para a escola". Essa norma particular não possui validade
simplesmente porque o seu conteúdo é compatível com a norma fundamental, mas apenas porque o ato
da sua criação está de acordo com a regra enunciada pela norma fundamental. A autoridade que
recebeu o seu poder da norma fundamental pode, por sua vez, delegar a jurisdição da totalidade ou de
uma parte da sua esfera. Assim, "os pais podem delegar a um professor a educação dos seus filhos".
Por sua vez, o princípio estático ganha acesso ao sistema do Direito Positivo. A aplicação de uma norma
geral de Direito Positivo a um caso concreto envolve a mesma operação intelectual que a dedução de
uma norma individual a partir de uma norma de Direito Natural.

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