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Apresentação
Nesta aula, estudaremos os requisitos necessários à cessão de direitos hereditários, suas espécies e características.
Abordaremos o tema da autorização conjugal como requisito de validade para a cessão de direitos sucessórios e, ainda,
veremos os efeitos tributários da denominada “renúncia translativa”, que, ao contrário da renúncia abdicativa, nada mais é
do que uma cessão de direitos hereditários.
Objetivos
Analisar o conceito de cessão de direitos hereditários;
Identi car os requisitos necessários à cessão de direitos hereditários, bem como analisar o tratamento
jurisprudencial sobre o tema.
Ser feita de forma escrita, que deverá ser pública (escritura
Por ser a herança um bem indivisível, deve ser respeitado o
pública) ou por termos nos autos. direito de preferência dos demais sucessores.
Também por se tratar de um bem indivisível, não poderá ser
realizada a cessão de qualquer bem da herança
considerado singularmente.
Deverá ser prestada a vênia conjugal, sob pena de nulidade
O patrimônio que se pretende ceder não pode estar gravado
relativa do negócio jurídico. com cláusula de inalienabilidade.
Abordaremos, então, os dispositivos legais e o tratamento doutrinário sobre a cessão de direitos hereditários.
Importa ressaltarmos a regra disposta no caput do Art. 1.793 do CC/2002, que estipula ser a escritura pública essencial à
validade do ato de cessão. Vejamos:
Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o
quinhão de que disponha o coerdeiro, pode ser objeto de
cessão por escritura pública.
Primeiramente, notamos que a cessão de direitos hereditários não admite a forma particular. Ou seja, não sendo realizada
por escritura pública, o ato será nulo, nos termos dos Arts. 104, III, c/c 166, IV e 169, todos do CC/2002. Vejamos:
Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de con rmação, nem convalesce pelo decurso do tempo. (BRASIL,
2002.)
Sobre o tema da validade do negócio jurídico, assunto já estudado na parte geral de Direito Civil, bem explica Tartuce
(2019):
Esses elementos de validade constam expressamente do art. 104 do CC, cuja redação segue: “A validade do negócio
jurídico requer: I – agente capaz; II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III – forma prescrita ou não
defesa em lei”. Não faz parte do dispositivo menção a respeito da vontade livre, mas é certo que tal elemento está inserido
seja dentro da capacidade do agente, seja na licitude do objeto do negócio. Pois bem, o negócio jurídico que não se
enquadra nesses elementos de validade é, por regra, nulo de pleno direito, ou seja, haverá nulidade absoluta ou nulidade.
Eventualmente, o negócio pode ser também anulável (nulidade relativa ou anulabilidade), como no caso daquele celebrado
por relativamente incapaz ou acometido por vício do consentimento. As hipóteses gerais de nulidade do negócio jurídico
estão previstas nos arts. 166 e 167 do CC/2002. As hipóteses gerais de anulabilidade constam do art. 171 da atual
codi cação material. (TARTUCE, 2019.)
Precisamos relembrar que será ine caz a transmissão de qualquer bem da herança que seja singularmente considerado.
Assim, o sucessor não poderá ceder determinado bem (como, por exemplo, a casa de praia X ou, ainda, o carro de modelo
Y), mas apenas poderá ceder um percentual do quinhão recebido. Portanto, deverá o sucessor avaliar qual é a
representação percentual daquele bem que pretende ceder em relação ao todo da herança; dessa forma, cederá esse
percentual. Isso se dá também em razão de a sucessão aberta ser considerada um bem indivisível.
Veja um exemplo:
João Mendes, autor da herança (de cujus) falece, deixando apenas dois lhos e, de patrimônio, quatro apartamentos em
um mesmo prédio, todos do mesmo valor, para seus dois lhos. Assim, cada lho receberá dois imóveis. Nessa situação
hipotética, se um dos lhos quiser ceder os direitos sobre um dos imóveis, não poderá constar da escritura pública (ou do
termo nos autos de um inventário/arrolamento de bens) que será, naquele ato, cedido o apartamento X. Constará, na
referida escritura, que o sucessor cederá 25% do valor do acervo de bens que constitui o monte/herança, que corresponde
a 50% da sua quota.
O herdeiro cedente deve respeitar o direito de preferência do seu coerdeiro
Deve o herdeiro cedente respeitar o direito de preferência do seu coerdeiro. Ou seja, antes de ceder a estranhos a sua
parte na herança, deve o cedente oferecer aos demais herdeiros os direitos que pretende ceder, nos termos do Art. 1.794
do CC/2002:
Art. 1.794. O coerdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária a pessoa estranha à sucessão, se outro coerdeiro a
quiser, tanto por tanto. (BRASIL, 2002.)
Não sendo observado o direito de preferência, poderá o coerdeiro prejudicado depositar o preço em favor do cedente e
haver para si a quota cedida a estranhos, desde que o faça no prazo de 180 dias após a transmissão, nos termos do Art.
1.795 do CC/2002:
Art. 1.795. O coerdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão, poderá, depositado o preço, haver para si a quota
cedida a estranho, se o requerer até cento e oitenta dias após a transmissão.
Parágrafo único. Sendo vários os coerdeiros a exercer a preferência, entre eles se distribuirá o quinhão cedido, na
proporção das respectivas quotas hereditárias. (BRASIL, 2002.)
Sobre o direito de preferência dos coerdeiros, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) já se pronunciou, no julgamento do
Recurso Especial número 1620705, no sentido de ser necessária a prévia noti cação dos demais herdeiros pelo sucessor
que pretende ceder a sua quota a terceiros. Ou seja, segundo o entendimento do STJ, o prazo para o coerdeiro preterido
exercer o seu direito de preferência 1 não começa a contar no momento da cessão, mas a partir da sua noti cação
para exercer a preferência.
É preciso atenção para averiguar se o cedente é casado; caso seja, deve-se atentar para o regime de bens do seu
casamento. Se casado (exceto se for pelo regime da separação absoluta), será necessária a outorga conjugal, nos termos
do Art. 1.647 do CC/2002:
Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime
da separação absoluta:
Portanto, antes de aberta a sucessão, a cessão de direitos hereditários é nula, por se tratar de pacto sucessório (tema visto na
Aula 2). Também não poderá ser realizada a referida cessão após o encerramento da partilha de bens, pelo simples fato de
que deverá o sucessor (atual proprietário dos bens) ceder o patrimônio recebido pela herança e já partilhado, por meio dos
contratos de compra e venda ou de doação.
Atividade
1. (Tribunal de Justiça – SP (TJSP/SP) 2015 Cargo: Juiz Substituto) Acerca do Direito das Sucessões, assinale a alternativa
correta: F
a) É eficaz a cessão, pelo coerdeiro, de seu direito hereditário sobre bem da herança singularmente considerado.
b) Considera-se imóvel o direito à sucessão aberta, exigindo-se escritura pública para sua cessão, não se admitindo que a renúncia da
herança conste de termo judicial.
c) É intransferível ao cessionário de direitos hereditários o direito de preferência inerente à qualidade de herdeiro.
d)A morte do responsável cambiário é modalidade de transferência anômala da obrigação, repassável aos herdeiros, salvo se o óbito tiver
ocorrido antes do vencimento do título.
2. (MPE – RS – 2017 – Promotor Substituto – Adaptada) Em relação ao Direito das Sucessões, considere que um coerdeiro
tomou ciência da cessão de direito hereditário efetuado por outro coerdeiro quando foi apresentada nos autos do processo de
inventário na data de 27/03/2015. Intentou ação declaratória de nulidade de ato jurídico em 10/12/2015 e efetuou o depósito
necessário. Com base no exposto, é CORRETO a rmar que:
a)O ajuizamento da demanda ultrapassou o prazo legal para o reconhecimento do direito de preferência.
b)O ajuizamento da demanda não ultrapassou o prazo legal para o reconhecimento do direito de preferência.
c)O ajuizamento da demanda ultrapassou o prazo legal para o reconhecimento do direito de preferência, mas ainda poderá o prejudicado
requerer o imóvel, eis que possui um direito real.
d)Nenhuma das opções está correta.
a)Até a partilha, o direito dos herdeiros, quanto à propriedade e posse da herança, será indivisível.
b)O herdeiro não pode ceder sua cota hereditária a pessoa estranha à sucessão se outro herdeiro quiser exercer seu direito de
preferência.
c)A cessão de direitos hereditários é ineficaz se tiver por objeto bem da herança considerado singularmente.
d)A cessão de direitos hereditários pode ser realizada mediante instrumento particular.
Gratuito Oneroso
Equipara-se à doação. Equiparar-se, à compra e venda.
Destarte, sendo onerosa a aludida cessão, incidirá o imposto de transmissão de bens imóveis (ITBI) sobre o valor do
patrimônio cedido; isso porque a sucessão aberta é, por força de lei, considerada um bem imóvel, nos termos do Art.
80, II, do CC/2002. Entretanto, se for gratuita, incidirá imposto de transmissão causa mortis e doação (ITCMD,
também denominado ITD).
Ainda sobre o assunto tributação, cumpre-nos ressaltar que, se de fato houver uma renúncia abdicativa (ou seja, o renunciante
apenas renunciar a sua parte da herança, sem indicar outro herdeiro para recebê-la em seu lugar), não incidirá tributação
alguma.
Vejamos o esclarecedor julgado a seguir, oriundo do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.
Jurisprudência
Para Gagliano e Pamplona Filho (2019), tal ato sequer con gura uma verdadeira renúncia, conforme veremos na leitura a
seguir:
Renúncia Translativa
Como dissemos no tópico anterior, não nos parece ideal a expressão “renúncia translativa”. Com isso, não estamos a
dizer se a gurar erro o seu uso, na medida em que a própria jurisprudência dos Tribunais Estaduais, e do próprio STJ,
acolhe o seu emprego. Pensamos, por outro lado, ser mais seguro e preciso utilizar-se a expressão “cessão de
direito(s) hereditário(s)”, quando exista o direcionamento da quota abdicada, na medida em que, com isso, não se
afronta a ideia fundamental do ato de renúncia, que, como vimos, faz retornar o direito a todo o monte partível, e não a
um herdeiro em especial. Assim, se um dos herdeiros pretende abdicar do direito hereditário a si conferido em favor de
determinada(s) pessoa(s), e não de todos os demais herdeiros, estará, em verdade, operando uma cessão de direito
hereditário. Evite-se, também, a rmar que se trata de uma “doação”. A doação tem por objeto coisas, ou seja, bens
materializados, corpóreos, passíveis de alienação, ao passo que a cessão versa sobre direitos. Não se deve, pois,
utilizar o verbo alienar para caracterizar a cessão gratuita ou onerosa de direitos, uma vez que, para a boa técnica,
direitos não são vendidos nem doados, mas sim cedidos. Em outras palavras, “reputamos mais apropriada a utilização
da palavra alienação para caracterizar a transferência de coisas de um titular para outro, reservando a expressão
cessão para os direitos em geral”. (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2019.)
Resumindo, a renúncia pode ser abdicativa ou translativa. Se abdicativa, conforme visto na aula anterior, o renunciante abdicará
da sua quota em favor do monte, ou seja, em favor dos outros que se encontram no mesmo grau sucessório que o dele.
Todavia, se for translativa, representará um verdadeiro negócio jurídico, incidindo a tributação pertinente.
Saiba mais
Cabe ressaltar que, independentemente da espécie de renúncia (abdicativa ou translativa), o ato será irrevogável, nos termos do
Art. 1812 do CC/2002, conforme explica a notícia jurídica do portal eletrônico do Conjur.
Atividade
4. (Nível Superior – Analista do MPE-AL). Joaquim faleceu e deixou, como herança, 04 (quatro) apartamentos iguais (101, 102,
103 e 104), todos localizados em um mesmo edifício e com idênticos preços de mercado. Sem deixar testamento, seus únicos
herdeiros são seus lhos Jorge, Maria, Ana e Carlos.
Passando por di culdades nanceiras, Carlos resolve alienar, antes de ndado o inventário, um dos apartamentos (o 101),
mediante cessão de direitos sobre o imóvel a Marcos.
a) Representa renúncia translativa da herança, pelo que Marcos, em substituição a Carlos, deve se habilitar no inventário.
b) Tem efeito de cessão de direitos hereditários, mas Marcos poderá receber, contudo, qualquer um dos bens.
c) Os demais herdeiros poderão se opor à alienação, mediante o exercício do direito de preferência.
d) É ineficaz, e, portanto, Marcos não fará jus ao apartamento 101.
e) Trata-se de renúncia abdicativa, pelo que os demais herdeiros deverão pagar o preço do imóvel a Marcos.
5. Assinale a alternativa correta:
a) A renúncia translativa, também denominada de “renúncia in favorem”, ocorre quando o renunciante abdica da sua parte da sucessão
em favor de outro herdeiro.
b) A renúncia translativa ocorre quando o renunciante abdica da sua parte da sucessão em favor do monte.
c) A renúncia abdicativa pode ser realizada por instrumento particular, desde que não exista incapaz favorecido pela herança.
d) A cessão de direitos hereditários apenas será válida e eficaz se feita com autorização judicial.
Notas
Direito de preferência 1
Sobre o direito de preferência, bem explica Tartuce (2019), citando um interessante julgado da jurisprudência mineira:
Outra importante limitação à autonomia privada consta do art. 1.794 do CC, pelo qual o coerdeiro não poderá ceder a sua quota
hereditária a pessoa estranha à sucessão, se outro coerdeiro a quiser, tanto por tanto. A norma consagra um direito de
preempção, preferência ou prelação legal a favor do herdeiro condômino. Se o coerdeiro for preterido em tal direito, poderá,
depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho (art. 1.795 do CC). Nos termos da última norma, essa ação de
adjudicação está sujeita ao prazo decadencial de 180 dias, a contar da transmissão do bem. Diante da valorização da boa-fé
objetiva, este autor entende que o prazo deve ser contado da ciência da realização da alienação e não da alienação em si.
Concluindo desse modo, da jurisprudência mineira:
“Direito civil. Cessão de direitos hereditários. Direito de preferência. Inobservância. Demais herdeiros. Prazo decadencial para o
exercício. A Cessão de direitos hereditários, sem a observância do direito de preferência dos demais herdeiros, encontra óbice
no art. 1.795 do Código Civil/2002, que prescreve que ‘o coerdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão, poderá,
depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer até 180 (cento e oitenta) dias após a transmissão’. O
prazo decadencial imposto ao coerdeiro prejudicado conta-se a partir da transmissão, contudo, será contado apenas da sua
ciência acerca do negócio jurídico quando não é seguida a formalidade legal imposta pelo art. 1.793 do CC e a transmissão não
se dá por escritura pública” (TJMG, Apelação Cível 1.0251.07.021397-9/0011, Extrema, 11ª Câmara Cível, Rel. Des. Fernando
Caldeira Brant, j. 08.07.2009, DJEMG 20.07.2009).
Em complemento, sendo vários os coerdeiros a exercer a preferência legal, entre eles se distribuirá o quinhão cedido, na
proporção das respectivas quotas hereditárias (art. 1.795, parágrafo único, do CC). (TARTUCE, 2019.)
Referências
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil Brasileiro. Disponível em:
//www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm. Acesso em: 04 abr. 2019.
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: contratos. Volume 4. 9. ed. Salvador: JusPodivm,
2019.
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: Contratos. Volume 4. Tomos I e II. 2. ed. São
Paulo: Saraiva, 2019.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito das sucessões. Volume 7. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Volume Único. 9. ed. São Paulo: Método, 2019.
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