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Apresentação
Nesta aula, abordaremos os temas referentes à sucessão hereditária em geral e à legitimidade especial na sucessão
testamentária.
Veremos, ainda, o polêmico assunto que envolve os excluídos da sucessão hereditária, situação que pode ter origem na
declaração expressa de deserdação ou pela indignidade, cada qual com suas características, peculiaridades e efeitos. Por
m, analisaremos o tratamento jurisprudencial sobre os temas desta aula.
Objetivos
Reconhecer o conceito de sucessão hereditária;
Identi car os requisitos necessários para a exclusão da sucessão causa mortis por deserdação e por indignidade,
bem como seus efeitos.
Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão. (BRASIL,
2002.)
Pelo referido artigo, tanto as pessoas nascidas quanto os nascituros (seres humanos já concebidos, mas que ainda se mantêm
em vida intrauterina) ao tempo da morte do autor da herança têm legitimidade para suceder.
Complementando o assunto, o código civil tratou de outras questões, bem peculiares, no Art. seguinte:
De início, façamos algumas re exões sobre os possíveis questionamentos inerentes ao inciso I do Art. 1.799 do CC/2002. Esse
dispositivo trata da questão da sucessão pela prole eventual, como bem explicam Gagliano e Pamplona Filho (2019):
“O Código Civil autoriza, em seu Art. 1.799, I, que o autor da
herança, mediante testamento, bene cie lho ainda não
concebido de pessoa indicada pelo testador. A conhecida
categoria da “prole eventual” caracteriza tais lhos ainda não
concebidos, valendo frisar que, por óbvio, o(a) genitor(a)
indicado(a) deverá ser pessoa existente ao tempo da
abertura da sucessão, quando se veri carão as circunstâncias
da declaração de vontade.”
GAGLIANO, PAMPLONA FILHO, 2019.
Prosseguem os notáveis autores, elucidando a diferença entre o nascituro (já previsto como sucessor, no Art. 1.798) e prole
eventual:
Pois bem, uma vez que a sucessão do patrimônio do autor da herança depende do implemento de uma condição (evento futuro
e incerto, qual seja, o nascimento com vida do nascituro ou a concepção e posterior nascimento com vida da prole eventual),
como seriam administrados esses bens até o implemento da aludida condição? Trouxe o legislador civilista a seguinte solução
a esse questionamento, no Art. 1.800 e seus §§ 1º e 2º:
Entretanto, outra dúvida surge: qual a destinação desse patrimônio se a condição esperada não se implementar? Ou seja, e
se não houver a esperada concepção? Mais uma vez foi feliz o legislador prevendo um prazo para a ocorrência para esse
evento futuro e incerto, no § 4º. do mesmo dispositivo legal:
§ 4º Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não for concebido o herdeiro esperado, os bens reservados, salvo
disposição em contrário do testador, caberão aos herdeiros legítimos. (BRASIL, 2002.)
Portanto, se não houver a esperada concepção no prazo de dois anos, decai o direito da prole eventual. Por tal prazo ser
decadencial e não prescricional, como regra não se aplicam as hipóteses de impedimento, suspensão ou interrupção previstas
na parte geral do Código Civil.
Decaído esse prazo e não concebido o nascituro – ou, ainda, se não vier a nascer com vida –, a parte do patrimônio que
seria sua retorna ao monte para que seja partilhada entre os demais sucessores.
Sobre esse interessante questionamento, a posição mais adequada sob a perspectiva do Princípio da Igualdade entre os
Filhos considera que também herdará o patrimônio o lho adotado após a morte do autor da herança, pois se enquadra
no conceito de prole eventual. Compartilhando esse entendimento, temos os já citados Gagliano e Pamplona Filho (2019)
1
.
Sobre essa polêmica questão, vejamos como Gagliano e Pamplona Filho (2019) esclarecem a doutrina:
“Ora, o que fazer diante das situações decorrentes de inseminação arti cial homóloga (com material fecundante do
próprio casal) ou heteróloga (com material fecundante de terceiro), realizadas depois do falecimento do autor da herança?
Poderia, por exemplo, a deixa testamentária bene ciar os futuros lhos de alguém (prole eventual), e, no prazo de dois
anos, ocorrer uma concepção mediante uma técnica cientí ca de reprodução assistida e consequente implantação no
útero materno? Não temos dúvida de que, neste caso, o embrião concebido em laboratório e posteriormente implantado
no útero materno (como nascituro) adquirirá o direito sucessório correspondente. Claro que há um inconveniente
manifesto decorrente da exigência legal do referido prazo de dois anos. Se a concepção e a implantação se derem dentro
do prazo de dois anos, o ente assim formado será considerado lho e herdeiro do autor da herança. Por outro lado, se a
concepção ocorrer após o prazo de dois anos, indiscutivelmente a criança será considerada “ lha do falecido” (que
autorizou previamente a fecundação), mas não poderá ser considerada “herdeira”, pois a concepção se deu fora do biênio.”
De fato, o posicionamento dos autores citados é bem justo e traz uma solução adequada à lacuna deixada pelo legislador.
Saiba mais
Vejamos, por m, o posicionamento do Conselho da Justiça Federal, que, em sua III Jornada de Direito Civil, aprovou
interessante enunciado:
Enunciado 267: A regra do Art. 1.798 do Código Civil deve ser estendida aos embriões formados mediante o uso de
técnicas de reprodução assistida, abrangendo, assim, a vocação hereditária da pessoa humana a nascer cujos efeitos
patrimoniais se submetem às regras previstas para a petição da herança.
Vejamos agora o segundo tema desta aula: os excluídos da sucessão por indignidade sucessória e por deserdação. Sobre esse
assunto, de forma ímpar, esclarece Tartuce (2019) acerca da diferença entre os institutos da deserdação e da indignidade:
A diferença inicial fundamental entre a exclusão por indignidade sucessória e a deserdação é que no primeiro caso o
isolamento sucessório se dá por simples incidência da norma e por decisão judicial, o que pode atingir qualquer herdeiro (Art.
1.815 do CC). Doutrinariamente, já se reconhecia que a ação de indignidade pode ser proposta pelo interessado ou pelo
Ministério Público, quando houver questão de ordem pública, conforme reconhece o Enunciado n. 116 do CJF/STJ, da I
Jornada de Direito Civil. Pelo mesmo Art. 1.815 do Código Civil, o direito de demandar a exclusão do herdeiro ou legatário
extingue-se no prazo decadencial de quatro anos, contados da abertura da sucessão. Conforme modi cação almejada pelo
Projeto de Lei 9/2017, recentemente aprovado no Congresso Nacional, na primeira das hipóteses de indignidade – homicídio
ou tentativa de homicídio contra o autor da herança ou seu familiar –, o Ministério Público tem legitimidade para demandar a
exclusão do herdeiro ou legatário (projeção de novo § 2º do Art. 1.815). Pontue-se que o citado projeto de lei aguardava apenas
a sanção presidencial quando da elaboração nal deste livro, na primeira quinzena de novembro de 2017. Na deserdação, por
outro lado, há um ato de última vontade que afasta herdeiro necessário, sendo imprescindível a con rmação por sentença. Por
isso é que a deserdação é tratada pelo CC/2002 no capítulo próprio da sucessão testamentária (Arts. 1.961 a 1.965 do CC).
(TARTUCE, 2019.)
Atenção
Pela explicação anterior, percebemos que as hipóteses de exclusão do herdeiro por indignidade sucessória procedem da lei
(Art. 1.814 do CC/2002) e são con rmadas por sentença; já na exclusão por deserdação há um ato de disposição de última
vontade (como uma previsão testamentária), que afasta o herdeiro necessário. Lembramos que a deserdação também deverá
ser con rmada por sentença.
Sobre essa questão, vejamos o posicionamento jurisprudencial do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais:
APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0079.12.016937-4/001
Feitas as considerações iniciais, passemos a tratar das hipóteses legais de exclusão, previstas no Art. 1.814 do CC/2002:
Exemplo
João Mendes, rico empresário de 73 anos de idade, possui três lhos: Jorge, Maria e José. Imaginemos que, após o
falecimento de sua esposa, João resolveu contrair novas núpcias com Josislayne, jovem de 22 anos de idade, fato que
desagradou seus lhos. José, o lho mais preocupado com a vida de João, visando afastar de seu pai a jovem Josislayne,
publicou nas suas redes sociais que sua madrasta era uma pessoa perigosa e que já cometera diversos crimes, entre eles,
homicídio e trá co de entorpecentes. Morrendo seu pai, para que José seja excluído da sucessão, deverá ser intentada uma
ação judicial, na qual ele poderá defender-se, alegando e comprovando, por exemplo, que não fora o autor das ofensas e que
sequer houve condenação penal transitada em julgado o condenando por crime contra a honra de Josislayne ou, ainda, que os
crimes de fato foram praticados pela jovem (tratando-se, nesse caso, da hipótese conhecida no Direito penal como exceção da
verdade).
O dispositivo legal visto anteriormente é claro e explicativo. Todavia, uma dúvida surge: quem seria legitimado para requerer a
exclusão do indigno? Como veremos a seguir, pela nova redação dada ao Art. 1.815 do CC/2002, além dos sujeitos já indicados
como legitimados no texto original do artigo, também o Ministério Público passou a integrar o rol dos que podem demandar a
exclusão de herdeiro ou legatário.
Como visto, além dos demais interessados, também o Ministério Público terá legitimidade para propor a ação de exclusão na
hipótese de o excluído ter sido coautor ou partícipe de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão
se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente.
Ainda é importante se atentar para o prazo decadencial a m de se demandar a aludida exclusão, que é de quatro anos.
“No curso da ação, deverá ser provada a veracidade da causa deserdatória e, em caso positivo, a deserdação será julgada
procedente”, pontua. Nevares ainda esclarece que os meios de prova são aqueles admitidos na lei, e não diferem daqueles
utilizados para a prova de outros fatos no processo. “Desta forma, a deserdação pode ser provada por documentos,
testemunhas ou até mesmo por uma perícia”. (IBDFAM, 2017.)
Destarte, os demais herdeiros do excluído serão chamados a suceder a quota que lhe caberia, como se o excluído morto fosse
antes da abertura da sucessão.
Exemplo
Vamos lembrar do caso de exclusão de herdeiro visto anteriormente: João Mendes, que possui 3 lhos, falece. Imaginemos que
um de seus lhos, José, seja excluído da sucessão. Nesse caso, se José possuir lhos (que, consequentemente serão netos de
João Mendes), estes herdarão a quota hereditária de seu pai, José, como se José morto fosse. Ou seja, a exclusão da
sucessão prejudica apenas o excluído, não os seus herdeiros.
Da Reabilitação do Indigno
O indigno pode ser admitido a suceder se o ofendido expressamente o tiver reabilitado. Isso quer dizer que o indigno poderá
suceder se o próprio autor da herança (trata-se de ato personalíssimo) o tiver perdoado expressamente em testamento ou
outro ato autêntico (como uma escritura pública, por exemplo). Vejamos:
Art. 1.818. Aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão da herança será admitido a suceder, se o ofendido o tiver
expressamente reabilitado em testamento, ou em outro ato autêntico. (BRASIL, 2002.)
Da Deserdação
Como explicado, a deserdação importa na exclusão do herdeiro em razão de uma declaração de última vontade, con rmada
por sentença. Portanto, estabelecem os Arts. 1.962 e 1.963 do CC/2002 que, além das causas mencionadas no Art. 1.814,
autorizam a deserdação dos descendentes por seus ascendentes e vice-versa as hipóteses ali tratadas. Vejamos os
mencionados dispositivos:
Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814,
autorizam a deserdação dos descendentes por seus
ascendentes:
I - ofensa física;
II - injúria grave;
III - relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto;
IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou
grave enfermidade.
I - ofensa física;
II - injúria grave;
III - relações ilícitas com a mulher ou companheira do lho
ou a do neto, ou com o marido ou companheiro da lha ou o
da neta;
IV - desamparo do lho ou neto com de ciência mental ou
grave enfermidade. (BRASIL, 2002.)
Conforme disposto no Art. 1.961 do CC/2002, “os herdeiros necessários podem ser privados de sua legítima, ou deserdados,
em todos os casos em que podem ser excluídos da sucessão”. Com isso, percebe-se que a deserdação somente atinge aos
herdeiros necessários, enquanto a indignidade atinge qualquer classe de herdeiro.
Deve o testamento dispor sobre a declaração da causa da deserdação, expressamente, conforme previsto no Art. 1.964 do
mesmo diploma legal: “Somente com expressa declaração de causa pode a deserdação ser ordenada em testamento” (BRASIL,
2002.)
Por m, vejamos o prazo para propositura da ação de deserdação e seu termo inicial:
Atividade
1. (Tribunal de Justiça - PB 2015 Cargo: Juiz Substituto) No que se refere à exclusão da herança por indignidade, assinale a
opção correta:
3. (Ministério Público Estadual MPE/MG – 2010) Analise as seguintes alternativas e assinale a assertiva incorreta.
a) Consoante a Teoria da Responsabilidade Subjetiva, em não havendo culpa do agente, não é o autor do ato responsabilizado pelo dano
indenizável.
b) O esbulhador do alheio deve indenizar o dono da coisa pelo valor das deteriorações e o devido a título de lucros cessantes, se houver.
c) Absolvido de crime praticado contra seu pai, com sentença transitada em julgado, não produzirá efeito a disposição testamentária
deserdando o ofensor.
d) O herdeiro que tentou matar seu pai, citado em ação própria, seis anos após a abertura da sucessão, não recebe a herança, face ao
despacho citatório do juiz.
a) O indigno pode ser admitido a suceder se o ofendido expressamente o tiver reabilitado.
b) O indigno jamais poderá ser suceder, ainda que o ofendido expressamente o tenha reabilitado.
c) A deserdação importa na exclusão do herdeiro em razão de uma declaração de última vontade, não precisando ser confirmada por
sentença.
d) Os herdeiros necessários jamais poderão ser deserdados.
Leitura
Para terminarmos a aula, leia agora o texto Sucessões. Exclusão por indignidade. Rol taxativo. Impossibilidade jurídica do
pedido
Notas
“Por m, aspecto interessante e que merece referência, por imprimir uma interpretação mais ampla e justa à norma codi cada,
é no sentido de que a prole eventual poderá derivar não apenas do vínculo biológico, mas também civil (socioafetivo), como se
dá na adoção. [...] De fato, em nosso sentir, nada impede que à categoria da prole eventual tanto possam se subsumir os lhos
biológicos da pessoa indicada pelo testador como também os havidos por adoção, ou, até mesmo, em virtude de
reconhecimento direto de liação socioafetiva.”
Referências
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil Brasileiro. Disponível em:
//www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm. Acesso em: 04 abr. 2019.
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: contratos. Volume 4. 9. ed. Salvador: JusPodivm,
2019.
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: Contratos. Volume 4. Tomos I e II. 2. ed. São
Paulo: Saraiva, 2019.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito das sucessões. Volume 7. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Volume Único. 9. ed. São Paulo: Método, 2019.
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Leitura da obra acadêmica Síntese, sobre Direito de Família e Sucessório. Disponível em:
//www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/RDF_86_miolo%5B1%5D.pdf
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