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antes , motivado pelas aporias em que se demora e se desdobra o seu pensamento. (39)
Trata-se, antes, de uma rigorosa indagação sobre o próprio pensamento, ou seja, sobre
aqueles argumentos que o sustentam em sua pretensão de se afirmar como
conhecimento de alguma coisa. (41)
Em termos desconstrucionistas, por mais nobre que possa ser este “nós”- ao qual cada
indivíduo deve ser devidamente restituído- ele não impede nunca a validade, a
necessidade, a pertinência e mesmo a urgência de se perguntar “nós quem?”, “quem diz
´nós`?”, “de que lugar se diz ´nós`?” (ou, ainda em outros termos, quem faz tal
restituição(dos indivíduos a um “nós”, das singularidades a uma generalidade)?, com
base em qual restituição é feita?, etc.) (43)
Esse “lugar” diz respeito a um plano aporético, dissimétrico, em que se configura toda e
qualquer universalidade.
Mais precisamente, trata-se de uma divisão entre a língua primeira, materna, originária,
reservatório de sentidos e conteúdos universais, e aquilo que, de um modo contingente,
singular, vem a se enxertar nessa língua primeira, sendo-lhe portanto, “estrangeiro”; ou
seja, a língua individual em que se depara, se acolhe ou se responde- pela vida da
memória e do esquecimento-, enfim, em que, de um modo ou de outro, se é responsável
em relação a primeira. (44-5)
Em outros termos, a dupla seção quer dizer que toda apropriação (do sentido de si
mesmo, da lei, de um acontecimento, etc.) só se dá como uma apropriação expropriada;
toda identidade só é possível com uma identidade já alienada, isso porque constituídas
no e pelo corte de uma relação à alteridade. (56)
A questão está em pensar a restituição mesma, questioná-la (o que ela é?; como se dá?),
e não apenas em limitar os nossos esforços por uma restituição que seja boa, fiel,
aprofundada, bem fundamentada, etc., o que, repetimos, é sempre necessário e
desejável. (57)
não apenas se deixe levar pelo ideal de restituição, mas que também problematize a
própria restituição, e que permaneça “ali”, na linha inencontrável desse corte que jamais
se fecha, no movimento irremediável oscilante dessa “dupla seção””, sem lugar, sem
origem ou telos determinado, toda essa discussão, enfim, se aplica igualmente às
questões relativas ao ideal, no âmbito do direito, de se fazer justiça no tratamento das
leis. (58)
Derrida não apenas rejeita a noção metafísica sentido como ataca, igualmente, o
conceito de logos...
Herda-se sempre um segredo - que diz: “Leia-me, alguma vez serás capaz?” (74)
Isso porque uma das respostas mais imediatas que nos ocorre revela o direito como uma
construção humana, uma estratégia de controle e denominação, de domesticação de
corpos e mentes, uma parte de superestrutura que ideologicamente mantém o status
quo... (79)
uma violência de certo modo legitimada, justificada por uma determinada causa, origem
ou fim que são se reconhece como violento. (81)
. A aplicação da lei é sempre, e desde já, uma tradução. Assim, ficamos com a questão:
a autoridade é do texto ou do intérprete? Como comenta Homi Bhabha, “a distinção
comum, usual, entre a letra e o espírito da lei põe a nu a própria alteridade da lei; a
ambígua área cinzenta entre a justiça e o procedimento judicial é, literalmente, um
conflito de juízo” (91)
Como lembra caputo, “tudo o que podemos fazer é tentar ir aonde não se pode ir,
prosseguir num multiplicar de interpretações que devem mudar com as areias
movediças da situação, e enfrentar as correntes repentinas e inconstantes das mutáveis
circunstâncias históricas. Toda interpretação ocorre em uma condição de
indecibilidade”. (97)
Há um lugar para a desconstrução de seus textos? Sim e não. Sim porque, desde o
momento em que há decisão, verifica-se também a obsessão da indecibilidade. Não,
porque a perspectiva analisada já comporta a desconstrução em seu seio. (102)
Sua apropriação é questionadora e equivocante, pois pretende provocar instabilidade em
toda situação que permaneça mais estável, cristalizada. (131)
Nesse sentido, a implicação ética mais radical do pensamento derridiano que se abre
para o impossível seria a de dar acolhida às questões que possibilitam a emergência de
temas éticos, jurídicos e políticos e que devem portanto ser pensadas para além das
clausuras discursivas que impedem, segundo Derrida, o exercício plenamente libertador
do pensamento. (133)
Tarefa da desconstrução, que não pretende resolver as tensões, aporia, com que o
pensamento sempre se defronta, mas, bem ao contrário, vê na intensificação e
acolhimento da tensão a chance de abertura para o inesperado, para o desarmamento de
posturas sacralizadas que orientam e determinam o pensar. (134)
No entanto, o que de fato ocorre é que essa relação excede a compreensão, nos
ultrapassa, posto que, para Lévinas, o rosto do outro é um rosto sem face, intematizável
e que traz estampado em sua face o chamado de Deus. A essa relação Lévinas dá o
nome de santidade, como um substituto para o termo grego ética em oposição ao que
ele chama de sagrado.
Em segundo lugar, com a posição e o deslocamento que Lévinas opera do sagrado rumo
ao santo, ele visa também o apontamento de que a sua ética situa-se para além do
religioso, das instituições morais teológicas, e caminha próxima a uma noção de
religiosidade absoluta, aberta e não institucional. (168)
O eu precisa ser destruído de sua pretensa e falsa soberania para que, por meio da
vulnerabilidade, ele aprenda a dizer adeus a este seu mundo tautológico, enclausurado e
imutável. (170)
“o outro, enquanto outro, não é somente um alterego. Ele é o que eu não sou: ele é o
fraco enquanto eu sou o forte; é o pobre, é a viúva e o órfão”, ou então que esse outro “é
o estrangeiro, o inimigo, o poderoso”, o que, além de apontar a assimetria inicial do
espaço intersubjetivo e de definir a relação com o outro como acolhimento hospitaleiro,
vai também definir o pensamento ético de Lévinas, situando-o numa espécie de
interseção entre ética e política. (175)
não é o desejo de compreender o ser das coisas, mas sim a relação fundamental com o
outro, visto que relação, para Lévinas, é linguagem.
discurso , ultrapassa o cognoscível e abarca o indizível, o impensável, o impossível e
tudo aquilo que escapa a qualquer tematização. O simples mostrar-se do outro me
coloca em questão, e isso caracteriza o que Lévinas chama de ensino. O infinito é
ensinado ao Eu pelo rosto do outro. (180)
discurso é a relação com o rosto do outro, impulsionado pelo desejo do infinito. (181)
tal humanismo funda-se não no sujeito, mas no outro. É na deposição do mesmo de seu
lugar privilegiado e na devoção ao todo-outro que se inaugura o humanismo do outro
homem, nessa condição do eu como refém da própria linguagem- o que significa dizer,
em última instância, na condição do eu como refém de seu próprio desejo de
transcendência, infinitamente refém do outro. (185)
“justiça para além do direito”, “fé para além da religião” e “ética para além da
moralidade”...
O sentido da obra é o outro: a obra, como filho, é algo que vai de mim para o mundo, é
algo que, de tão meu, não me pertence. (189)
pois tem como parâmetro não o ser, e sim os entes, não a existência, mas os existentes.
(191)
Por isso, esse novo saber deve, a todo custo, afastar-se de qualquer restrição ao mero
“gozo teórico” ou “enclausuramento formal” e responder ao apelo humano que o mundo
a ele endereça.
uma leitura absolutamente respeitosa não seria sequer capaz de abrir o livro, já que ela
seria tão respeitosa que não seria sequer capaz de tocá-lo.(196)
É preciso que haja algum momento na leitura que seja mais do que uma repetição de um
texto, que seja efetivamente a ocorrência de uma alteridade...
Então, embora Derrida use bastante o termo “interpretação”, às vezes ele suspeita
explicitamente desse termo porque, no meu entender, tal conceito pode muito
facilmente retornar àquele modelo convergente de uma orientação em direção a uma
verdadeira compreensão, a uma compreensão completa ou final... (202)
E é verdade que Derrida, em todos os níveis de seu pensamento, coloca a totalidade sob
suspeita.
A visão desconstrucionista sustenta que não existe um tal ponto puro de origem; trata-
se sempre de uma fantasia retrospectiva, uma retrojeção, se preferir, a partir de uma
posição que já uma posição de impureza, de contaminação, de complicação, e assim por
diante. Isso seria exemplarmente verdadeiro no caso do pensamento nacionalista ou a
fortiori racista. (209)
O que a desconstrução tem a dizer sobre isso é que nós nos encontramos sempre já no
meio, que é plural e confuso e desorganizado até um certo ponto...
Portanto, a pergunta “quem somos nós” não é uma má pergunta, exceto se ela exigir
uma só resposta.
vamos nos liberar em direção aquilo que somos. Em outras palavras, à pluralidade que
nós já sempre somos. (210)
Mas a ideia, ainda assim, fornece um ponto de chegada ideal segundo o qual um
progresso pode ser feito e medido. Acho que tudo o que Derrida faz é um
questionamento dessa estrutura extremamente predominante e tentadora.
Derrida diz que a psicanálise e a linguística são dois lugares em que se pode encontrar
uma abertura para fora de clausura metafísica. (225)
Isso significa que quando herdo, no sentido de Derrida, não esqueço o outro, nem o
preservo como um tipo de objeto mumificado.