o ANO
TEORIA
• Pessoa tem consciência de que, dentro de si, existem outros «eus» que sentem e pensam de maneira dife-
rente. Mas não só sentem e pensam como também escrevem de maneira diferente da do ortónimo. Para
explicar tudo isto, Fernando Pessoa decide escrever uma carta a um seu amigo, Adolfo Casais Monteiro
(janeiro de 1935), na qual descreve a origem, o aspeto físico, a personalidade e a maneira de escrever de
cada um dos seus três heterónimos (poetas): Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.
• Eles são fruto da imaginação de Pessoa; no entanto, por serem tão diferentes, em termos literários, o poeta
optou por «imaginá-los» como se fossem reais, daí que tenham «existências» específicas e individuais.
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EXAME PORTUGUÊS 12
Epicurismo
• Filosofia ensinada pelo ateniense Epicuro de Samos, no século IV a.C., e continuada pelos seus discípulos,
designados epicuristas; estes são os princípios fundamentais:
– para alcançar a felicidade plena e absoluta, é necessário vencer os nossos medos e desejos intensos de
maneira a conseguir estabilidade e equilíbrio interiores;
– tudo aquilo que a vida nos oferecer como prazer deve ser observado com cautela, para que daí não adve-
nham sofrimentos e perturbação do corpo, do espírito, da alma;
– o essencial é manter um corpo saudável e livre das contingências dos desejos, num espírito esclarecido,
tranquilo e sereno;
– em conclusão, Epicuro procurava conseguir, na prática da vida de cada ser humano, a felicidade plena por
meio do controlo dos exageros corporais e espirituais, dos medos relativamente ao destino e aos deuses,
e por meio do alcance diário da serenidade.
Carpe diem
• Expressão oriunda do latim, que, à letra, significa «Aproveita o momento», «Goza o dia»; esta expressão é
extensível ao conselho de aproveitar e degustar totalmente o tempo presente, correspondendo a um apelo
à vivência plena do agora, do imediato, pois ninguém sabe o que acontecerá num momento seguinte, num
futuro próximo ou distante.
Estoicismo
• Filosofia ensinada pelo ateniense Zenão de Cítio, no século III a.C.; estes são os princípios fundamentais:
– é necessário desenvolver no ser humano uma lógica e uma racionalidade tais que o impeçam de sucumbir
a sentimentos destrutivos, negando-os e vencendo-os;
– só uma pessoa pensadora e esclarecida consegue perceber a lógica e as regras do mundo para as cumprir
e assegurar a ética e o bem-estar pessoal e interpessoal;
– relações humanas: evitar sentimentos de raiva, inveja, vingança, ciúme e exploração ou escravização do
outro, mesmo que para isso tenha de sofrer humilhações e rebaixamentos;
– o prazer e a satisfação de desejos físicos são inimigos do homem sábio, por isso devem ser combatidos;
– a virtude e o bem são os únicos caminhos que levam o ser humano à felicidade plena.
Alberto Caeiro
• Formas poéticas (estrofe, verso, rima)
– «Não me importo com as rimas. Raras vezes / Há árvores iguais, uma ao lado da outra.»
• Primado das sensações
– «Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la / E comer um fruto é saber-lhe o sentido.»;
– «Eu não tenho filosofia, tenho sentidos».
• Seleção de vocábulos ao serviço do bucolismo
– «rebanhos», «pastor», «vento», «sol», «Natureza», «pôr do sol», «planície», «borboletas», «flores», «cor-
deirinho», «nuvem», «erva», «atalhos», «girassol», «estrada», «chuva», «árvore», «mãos», «pés», «nariz»,
«boca», «olhar»…;
– formas verbais no pretérito imperfeito do indicativo ou no gerúndio, as quais contribuem para o reforço
da ideia de movimentação pelo campo.
• Enumeração, gradação, polissíndeto, personificação, metáfora
– «Sou um guardador de rebanhos. / O rebanho é os meus pensamentos / E os meus pensamentos são
todos sensações.»;
– «Penso com os olhos e com os ouvidos / E com as mãos e os pés / E com o nariz e a boca.»
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TEORIA
Ricardo Reis
• Seleção de vocábulos eruditos associados à Antiguidade Clássica
– «óbolo», «Átropos», «perene», «Fado», «grégio».
• Anástrofe, apóstrofe, gradação
– «Qualquer pequena cousa de onde pode / Brotar uma ordem nova em minha vida, / Lídia, me aterra.»;
– «Neera, passeemos juntos […] / Lembremo-nos, Neera»;
– «trocar beijos, abraços e carícias».
• Epicurismo
– «Amemo-nos tranquilamente […] mais vale estarmos sentados ao pé um do outro»;
– «Abdica / E sê rei de ti próprio».
• Estoicismo
– «Cada um cumpre o destino que lhe cumpre […] / O Fado nos dispõe, e ali ficamos.»;
– «E deseja o destino que deseja».
• Carpe diem
– «Colhe / o dia, porque és ele.»;
– «A vida / passa e não fica, nada deixa e nunca regressa» (consciência e encenação da mortalidade).
Álvaro de Campos
• Seleção de vocábulos ao serviço do arrebatamento do canto
– «Forte espasmo», «maquinismos em fúria», «grandes ruídos modernos», «Ó minhas contemporâneas»
• Apóstrofes, onomatopeias, gradação, anáfora
– «Mas, oh! minha Ode Triunfal,»;
– «Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá! / Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá!»;
– «Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia»;
– «Caiu pelas escadas / Caiu das mãos / Caiu».
• Irregularidade estrófica, métrica e rimática – ao serviço do arrebatamento do canto e da exaltação do
Moderno.
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Alberto Caeiro – O poeta «bucólico»
FICHA 68 • O fingimento artístico
• Reflexão existencial: o primado das sensações
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PRÁTICA
1. Considere a parte I.
1.1 Esclareça a identificação de Caeiro como poeta «bucólico», transcrevendo elemen-
tos textuais que o comprovem.
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TEORIA
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III. Os Tempos
Primeiro – Noite
Segundo – Tormenta
Terceiro – Calma
Quarto – Antemanhã
Quinto – Nevoeiro
Frontispício de Mensagem,
de Fernando Pessoa, 1934
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TEORIA
O imaginário épico – primeira: os primórdios da nação, desde a Antiguidade até ao final da Idade Média;
– segunda: o tempo magnífico dos Descobrimentos;
– terceira: o presente (contemporâneo de Fernando Pessoa) e o futuro de um
Portugal envolto em inércia, marasmo, apatia e indiferença.
• O herói coletivo de Mensagem é, simbolicamente, Portugal, o povo português,
que, movido pelo sebastianismo, pode ser novamente grandioso e superior. Este
heroísmo está espelhado em figuras históricas, que Pessoa refere e caracteriza,
lembra e exalta, para despertar o português do século XX dessa dormência, sono-
lência e apatia.
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Mensagem, Fernando Pessoa
FICHA 74 • Segunda Parte: «Mar Português»
PRÁTICA
O Infante
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
1. Esclareça o valor da gradação no primeiro verso e mostre como ele resume toda a glória
passada dos Descobrimentos.
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4. Indique a quem se refere Pessoa em «Quem» (verso 9) e esclareça o motivo por que o faz.
9. Demonstre que este poema está ao serviço da dimensão simbólica do herói, assim como
da natureza épico-lírica da obra.
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