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REVISTA DE

ARQUITETURA IMED

Aliando teoria e prática: um exame da metodologia


de “Análise Arquitetônica” aplicada em disciplinas
de Teoria e História de Arquitetura

Combining theory and practice: an examination of the


of applied “Architectural Analysis methodology” in
disciplines of Theory and History of Architecture

Ana Paula Campos Gurgel


Doutora, Professora Adjunta FAU – UnB. E-mail: prof.anapaulagurgel@gmail.com

Revista de Arquitetura IMED, Passo Fundo, vol. 6, n. 1, p. 106-123, Jan.-Jun., 2017 - ISSN 2318-1109

DOI: http://dx.doi.org/10.18256/2318-1109/arqimed.v6n1p106-123

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Revista de Arquitetura IMED, Passo Fundo, vol. 6, n. 1, p. 106-123, Jan.-Jun., 2017 - ISSN 2318-1109

Resumo
Este artigo tem como intenção apresentar e avaliar a metodologia de ensino de arquitetura
aplicada nas disciplinas de Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo – THAU. Na
atividade docente, percebe-se uma falta de interesse dos alunos com esse campo disciplinar.
Em geral focados nas disciplinas de projeto arquitetônico, por sua carga prática e aplicada,
os discentes têm - em geral - as disciplinas teóricas classificadas como “enfadonhas”.
Portanto, numa busca de chamar atenção à importância da teoria e história no fazer prático
da arquitetura e urbanismo sugiram alguns questionamentos: Como fazer os alunos se
interessarem pelas disciplinas de THAU? A resposta era óbvia: se fazia necessário atrelar os
conteúdos de teoria à prática projetual, porém como fazê-lo? Neste sentido, foram propostas
como atividade complementar avaliativa a elaboração de exercícios de “análise arquitetônica”
e que foram aplicados em duas maneiras: através de fichas sistematizadas previamente e
que eram respondidas semanalmente ou através de “estudos de casos”, uma apreciação
mais aprofundada elaborada por meio de textos e desenhos analíticos que foi desenvolvida
semestralmente. Excetuando raros casos, este conjunto específico de análises não foi
desenvolvido anteriormente ou muito menos encontram-se nos livros de apoio, de modo que
os alunos desenvolvem um esforço de confecção gráfica através da qual já tem início a análise
do edifício. Os resultados encontrados demonstram que os exercícios propostos promovem
uma articulação interdisciplinar, quebrando as barreiras das “caixas” impostas por uma rígida
organização curricular em áreas de conhecimentos específicos em Arquitetura e Urbanismo.
Palavras-chave: Ensino. Teoria. Análise arquitetônica. Estudo de caso.

Abstract
This paper intends to present and evaluate the teaching methodology applied in the disciplines
of Theory and History of Architecture and Urbanism - THAU. In the teaching activity, one
perceives a lack of interest of the students with this disciplinary field. In general, focused on
the disciplines of architectural design, due to their practical and applied load, the students
have - in general - the theoretical disciplines classified as “boring”. Therefore, in a quest to
draw attention to the importance of theory and history in the practical practice of architecture
and urbanism, some questions are raised: How can students become interested in the THAU
disciplines? The answer was obvious: if it was necessary to connect the contents of theory
with the projectual practice, but how to do it? In this sense, it was proposed as complementary
evaluation activity the elaboration of exercises of “architectural analysis” and that were applied
in two ways: through pre-systematized fiches that were answered weekly or through “case
studies”, a more detailed appreciation elaborated By means of texts and analytical drawings
that was developed half-yearly. Except for rare cases, this specific set of analyzes has not been
developed previously or much less is found in the supporting books, so that the students
develop an effort of graphical preparation through which the analysis of the building is
already beginning. The results show that the proposed exercises promote an interdisciplinary
articulation, breaking the barriers of the “boxes” imposed by a rigid curricular organization in
areas of specific knowledge in Architecture and Urbanism.
Keywords: Teaching. Theory. Architectural analysis. Case study.

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Revista de Arquitetura IMED, Passo Fundo, vol. 6, n. 1, p. 106-123, Jan.-Jun., 2017 - ISSN 2318-1109

1 Introdução: uma inquietação docente

Este artigo tem como intenção apresentar a metodologia de ensino de arquitetura


aplicada nas disciplinas de Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo – THAU.
Entre 2014 e 2017 fui docente desta área em Brasília, ministrando diversas disciplinas
nas instituições particulares Universidade Paulista – UNIP e no Centro Universitário
1. INTRODUÇÃO: UMA INQUIETAÇÃO DOCENTE
Planalto – UNIPLAN, e na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo –FAU da
EsteUniversidade
artigo tem como intenção
de Brasília apresentar a metodologia de ensino de arquitetura aplicada
– UnB.
1.
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– THAU. Entre
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UnB.
2014 e 2017
teóricas
fui docente desta área em Brasília, ministrando diversas disciplinas nas instituições particulares
classificadas como “enfadonhas” ou simplesmente de maneira mais direta: “chatas”.
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Logo nos Paulista
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Arquitetura e Urbanismo
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e Urbanismo
D)
B) Paisagismo
Projeto de Arquitetura e Urbanismo
E)
C) Planejamento
Tecnologia Urbano e Regional
de Arquitetura e Urbanismo
D) Paisagismo
Fonte: elaboração
Fonte: pópria
Elaboração (2017)
própria (2017).
E) Planejamento Urbano e Regional
Gráfico 02: respostas dos 30 alunos da disciplina de AUBC 2017.1-noturno a questão “Quais áreas de
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C) Planejamento
Tecnologia Urbano e Regional
de Arquitetura e Urbanismo
D) Paisagismo
E)
Fonte: elaboração própria (2017)
Planejamento Urbano e Regional

Fonte:Fonte:
elaboração própria
Elaboração (2017)
própria (2017).
É método comum nessas disciplinas teóricas a leitura e fichamento ou resumo/resenha de
textos fundamentais de suporte aos conteúdos vistos em sala. Boa parte da minha formação
acadêmica foi baseada
É método nessa disciplinas
comum nessas metodologia e mea foi
teóricas natural
leitura replicá-laouna
e fichamento minha atividade
resumo/resenha de
docente. Porém, apesar da sua importância de fixação
textos fundamentais de suporte aos conteúdos vistos dos conteúdos e formação de repertório
108 em sala. Boa parte da minha formação
crítico, em geral, os alunos não têm boa receptividade
acadêmica foi baseada nessa metodologia e me foi natural a esta atividade.
replicá-laSoma-se
na minhaa isso a falta
atividade
de costume e interesse das atuais gerações em desenvolver leituras, mesmo que
docente. Porém, apesar da sua importância de fixação dos conteúdos e formação de repertório de temas
relacionados à atividade profissional ou mesmo como lazer.
Revista de Arquitetura IMED, Passo Fundo, vol. 6, n. 1, p. 106-123, Jan.-Jun., 2017 - ISSN 2318-1109

É método comum nessas disciplinas teóricas a leitura e fichamento ou resumo/


resenha de textos fundamentais de suporte aos conteúdos vistos em sala. Boa parte da
minha formação acadêmica foi baseada nessa metodologia e me foi natural replicá-la na
minha atividade docente. Porém, apesar da sua importância de fixação dos conteúdos
e formação de repertório crítico, em geral, os alunos não têm boa receptividade a
esta atividade. Soma-se a isso a falta de costume e interesse das atuais gerações em
desenvolver leituras, mesmo que de temas relacionados à atividade profissional ou
mesmo como lazer.
Em pesquisa recente com duas turmas da disciplina de Arquitetura e Urbanismo
no Brasil Contemporâneo – AUBC da FAU UnB, esse quadro de baixa leitura na vida
cotidiana é confirmado. A maioria dos alunos dos alunos (em torno de 60% - embora haja
variações acima e abaixo neste percentual entre as duas turmas) lê apenas de 1 a 3 livros
por ano e quando o fazem dão preferência a temas de ficção (Gráficos 03, 04, 05 e 06).

Gráfico 03. Respostas dos 35 alunos da disciplina de AUBC 2017.1-diurno


Gráfico 03: respostas dos 35 alunos
a questão da disciplina de AUBC 2017.1-diurno a questão “Excetuando
Gráfico“Excetuando
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(era possível assinalar mais de uma opção)
A) Literatura de ficção (romances/contos/poesias/etc.).
A) Literatura de ficção (romances/contos/poesias/etc.).
B) Literatura de não ficção (ensaios/biografias/ciência/etc).
B) Literatura de não ficção (ensaios/biografias/ciência/etc).
C) Livro de auto-ajuda
C) Livro de auto-ajuda
D) Nenhum
D) Nenhum

Fonte:
Fonte:elaboração
Elaboração própria
própria (2017)
(2017).
Fonte: elaboração própria (2017)

Gráfico
Gráfico 04. Respostas
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Gráfico
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a questão “Quantos destes livros, aproximadamente, você lê pormais
aproximadamente, você lê por ano?” (não era possível assinalar ano?” uma opção)
destes livros, aproximadamente, você lê por ano?” (não era possível assinalar mais de uma opção)
(não era possível assinalar mais de uma opção)
2 (5,7%)
2 (5,7%)

1 (2,9%)
1 (2,9%)

Fonte: elaboração
Fonte:Fonte:
Elaboração própria (2017)
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(2017). (2017)
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Gráfico 05: respostas dos 30 alunos da disciplina de AUBC 2017.1-noturno a questão “Excetuando
Gráfico 05:
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livros escolares obrigatórios, que tipo de livro você lê?” (era possível assinalar mais de uma opção)
A) Literatura de ficção (romances/contos/poesias/etc.).
A) Literatura de ficção (romances/contos/poesias/etc.).
B) Literatura de não ficção (ensaios/biografias/ciência/etc).
B) Literatura de não ficção (ensaios/biografias/ciência/etc).
C) Livro de auto-ajuda
C) Livro de auto-ajuda
D) Nenhum
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D) Nenhum
Revista de Arquitetura IMED, PassoFonte:
Fundo, vol. 6, n. 1, p. 106-123,
elaboração própriaJan.-Jun.,
(2017)2017 - ISSN 2318-1109
Fonte: elaboração própria (2017)
Gráfico 05. Respostas dos 30 alunos da disciplina de AUBC 2017.1-noturno
Gráfico 05:“Excetuando
a questão respostas doslivros
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escolares de AUBC
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que tipo de livro alê?”
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Gráfico 05: respostas dos 30 alunos da disciplina de AUBC 2017.1-noturno a questão
livros escolares obrigatórios,
livros escolares obrigatórios, que tipo de
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de livro você você lê?”
lê?”de(era (era
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(era possível mais uma opção)assinalar mais de uma opção)
A) A)Literatura
Literatura de ficção
de ficção (romances/contos/poesias/etc.).
(romances/contos/poesias/etc.).

B) B) Literatura
Literatura deficção
de não não ficção (ensaios/biografias/ciência/etc).
(ensaios/biografias/ciência/etc).

C) Livro
C) deLivro
auto-ajuda
de auto-ajuda

D) Nenhum
D) Nenhum

Fonte: Elaboração própria (2017).


Fonte: elaboração pópria (2017)
Fonte: elaboração pópria (2017)
Gráfico 06: respostas dos 30 alunos da disciplina de AUBC 2017.1-noturno a questão “Quantos
Gráfico
Gráfico
destes
06.respostas
livros,06:
Respostas dos
dos
aproximadamente, 3030alunos
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disciplina
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de AUBC
AUBC
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assinalar a questão
mais de uma opção) “Quantos
destesa questão “Quantos destes livros,
livros, aproximadamente, você lêaproximadamente,
por ano?” (não eravocê lê porassinalar
possível ano?” mais de uma opção)
(não era possível assinalar mais de uma opção)

2 (6,9%)

2 (6,9%)
1 (3,4%)

1 (3,4%)
Fonte: elaboração pópria (2017)
Fonte: Elaboração própria (2017).
Fonte: elaboração pópria (2017)
Portanto, numa busca de chamar atenção às disciplinas mais principalmente
3
da importância da Teoria e História no fazer prático da Arquitetura e Urbanismo
me vi rodeada de questionamentos: como fazer os alunos se interessarem pela
3
disciplina? A resposta me pareceu óbvia: era preciso atrelar os conteúdos que lhe
chamavam atenção, ou seja, unir teoria à prática projetual, já que este é o majoritário
interesse, porém, como fazê-lo? A partir dessas inquietações, comecei a propor
como atividade complementar avaliativa a elaboração de exercícios que denominei
“análise arquitetônica” e que foram aplicados em duas maneiras: através de fichas
sistematizadas previamente e que eram respondidas semanalmente ou através de
“estudos de casos”, uma apreciação mais aprofundada elaborada por meio de textos e
desenhos analíticos que foi desenvolvida semestralmente, conforme detalhado a seguir.

2 Metodologia de análise arquitetônica e estudos de casos

Na metodologia projetual é uma prática relativamente comum a adoção de


estudos de casos arquitetônicos correlatos (em função ou temática, mas também em
soluções plásticas e estruturais) como uma ferramenta para analisar aquilo que outros
arquitetos já fizeram e “por meio dessa análise, tentar entender as maneiras que eles

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encontraram para alcançar seus desafios” (UNWIN, 2013, p. 3). Esse conhecimento
reflexivo, foi denominado como “os poderes acumulados da arquitetura” (LETHABY,
s/d apud UNWIN, 2013, p. 3).
Epistemologicamente, a palavra “análise” deriva do grego analyein, cujo
significado é “decompor um todo em suas partes”, “soltar” ou “desligar” (JAPIASSÚ;
MARCONDES, 2001). Analisar algo é traçar um exame minucioso de uma coisa
em cada uma das suas partes de maneira a “liberar, soltar, expor para assimilar seus
componentes e seu funcionamento – seus poderes” (UNWIN, 2013, p. 12). É, portanto,
um método pertinente à atividade projetual quando se propõe a dissecar o objeto
arquitetônico para compreender como este funciona em seus diferentes aspectos.
Vários autores (SILVA, 1984; REIS, 2002; LEUPEN et al., 2004) desenvolveram
formas de proceder, apontando, entre os itens que devem ser analisados: relação do
edifício e o seu contexto (análise do entorno urbano no qual se insere a obra, visuais
e perspectivas dominantes); fluxos e circulações (locais de acesso e circulação geral);
definição espacial e volumétrica; e, materiais e soluções técnicas (materiais utilizados,
soluções estruturais, iluminação, ventilação e insolação), dentre outras especificidades.
Entretanto, numa aproximação teórica com a Sintaxe espacial1, a base conceitual
que adotei ao conceber a ferramenta de análise arquitetônica aqui apresentada busca
focar-se na essência da arquitetura: o espaço. A adoção deste posicionamento é
presente no campo da Estética, ao apontar o volume como essência da escultura e
colocar a necessidade de uma funcionalidade, de um espaço interior, que a distingue
da arquitetura. Por possuir uma destinação prática que interfere diretamente no
trabalho de criação, a arquitetura deve ser avaliada pelo seu “objetivo não-estético”
(SUASSUNA, 2011, p. 300).
Entretanto, colocar o espaço no papel de ator principal não significa ignorar
aquelas variáveis de análise citadas anteriormente, mas compreender que elas são
os aspectos, dimensões ou faces pelas quais a arquitetura impacta o meio ambiente
natural e as pessoas (HOLANDA, 2013). São, portanto, os resultados da arquitetura.
O que se pretende com esse posicionamento teórico é libertar o entendimento da
arquitetura tão somente a partir da leitura de rótulos que dependem de grupos e da
sociedade como um todo e que podem mudar com o tempo. Ou seja, são significados
sobrepostos a arquitetura, uma semântica, mas não são os elementos essenciais da
1 A teoria da Sintaxe Espacial – SE, estuda a relação entre o espaço e práticas socioculturais
mediante a representação e quantificação da configuração espacial, entendida como um sistema
de permeabilidades e barreiras (áreas acessíveis ou não ao nosso movimento) e de opacidades e
transparências (aquilo que é ou não facultado à nossa visão). Portanto, a SE pode ser entendida como
uma teoria sobre a configuração do espaço (cheios, vazios e suas relações) que propõe um conjunto
de técnicas para a análise da configuração espacial de qualquer tipo, especialmente quando a
configuração importa para fins humanos, como nos edifícios e nas cidades. Entende-se que os padrões
espaciais carregam em si informação e conteúdo social e que diferentes tipos de reprodução social
requerem diferentes tipos de estrutura espacial (GURGEL, 2016).

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arquitetura. De modo geral, “[...] as teorias [em arquitetura] têm sido extremamente
normativas e pouco relacionais” (HILLIER; HANSON, 1997, p. 1-3); propõe-se que
no lugar de postular uma fórmula e tentar a qualquer custo encaixá-la em edifícios e
cidades, se estude o fenômeno em si para descobrir as suas relações intrínsecas. Em
outras palavras, o que se busca é a sintaxe, ou seja, aquilo que é contido na própria
configuração da arquitetura, que se mantém independente de tempo, lugar, sujeitos etc.
Mas se na linguística o elemento base da sintaxe e da semântica são as palavras,
no campo da arquitetura os elementos da linguagem arquitetônica são os cheios ou
“componentes-meio” e os vazios ou “componentes-fim” (e suas relações). A teoria e
a história da arquitetura têm se detido prevalentemente nos “componentes-meio”: a
volumetria, a composição das fachadas, texturas, cores, materiais etc.; todavia, estes
pertencem especificamente à linguagem da escultura. Os elementos por excelência da
linguagem arquitetônica são os “componentes-fim”: os espaços – cômodos no edifício;
as ruas, avenidas, praças e parques na cidade; lugares abertos na paisagem natural
etc. (HOLANDA, 2013). Este princípio teórico-metodológico justifica-se, portanto, na
inserção desse olhar espacial à literatura da história da arquitetura. Os alunos tiveram
a oportunidade de elaborar nos exercícios avaliações plásticas dos edifícios (portanto,
semânticas e tradicionais), mas também que versassem sobre a organização espacial
dos mesmos (ou seja, sintáticos).
O primeiro desses exercícios foi denominado de “análise arquitetônica” e era
desenvolvido individualmente a cada semana após o conteúdo teórico ser apresentado
em aulas expositivas. Para auxiliar a elaboração da tarefa, foi confeccionada uma ficha
que estruturava os itens principais que os alunos deveriam abordar em suas análises.
Este modelo (Figura 01) compunha-se de duas partes: (1) uma pesquisa que versava
desde a identificação do projeto, até suas características estilísticas e construtivas; e, (2) a
elaboração de um croqui. Antes de desenvolverem os trabalhos, os alunos eram explicados
com escolher as obras por sua relevância histórica- arquitetônica, bem como pela
disponibilidade de material para sua análise (referências textuais e desenhos técnicos).
Quanto aos desenhos, a sugestão dada era que estes mais que meramente
artísticos trouxessem articulações (linhas de chamada com textos e pequenos
esquemas de composição plástica) com os conteúdos apresentados nas fichas.
O primeiro desses exercícios foi denominado de “análise arquitetônica” e era
desenvolvido individualmente a cada semana após o conteúdo teórico ser apresentado
em aulas expositivas. Para auxiliar a elaboração da tarefa, foi confeccionada uma ficha
que estruturava os itens principais que os alunos deveriam abordar em suas análises.
Este modelo (Figura 01) compunha-se de duas partes: (1) uma pesquisa que versava
desde a identificação do projeto, até suas características estilísticas e construtivas; e,
(2) a elaboração de um croqui. Antes de desenvolverem os trabalhos, os alunos eram
explicados com escolher as obras por sua relevância histórica- arquitetônica, bem
como pela disponibilidade de material para sua análise (referências textuais e desenhos

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técnicos). Quanto aos desenhos, a sugestão dada era que estes mais que meramente
artísticos trouxessem articulações (linhas de chamada com textos e pequenos
esquemas de composição plástica) com os conteúdos apresentados nas fichas.

Figura 01. Modelo da ficha proposta: à esquerda o modelo em branco


Figura 01:para o preenchimento
modelo da ficha proposta:e à esquerda
direita algumas
o modeloexplicações (emovermelho)
em branco para preenchimento e à
direita algumas explicações (em vermelho) do que se esperava ser respondido em cada um dos itens.
do que se esperava ser respondido em cada um dos itens.

Modelo de preenchimento:

Fonte: elaboração própria (2016). Fonte: Elaboração própria (2016).

Buscando aprofundar os conteúdos de análise, bem como a melhoria na


Buscando
expressividade aprofundar os conteúdos
da representação dedos
gráfica análise, bem
alunos, emcomo a melhoria
algumas turmasna foiexpressividade
proposto
da representação gráfica dos alunos, em algumas turmas foi proposto um segundo trabalho de
um segundo trabalho de revisão de obras arquitetônicas historicamente icônicas o qual
revisão de obras arquitetônicas historicamente icônicas o qual se denominou de “estudos de
se denominou
caso” de “estudos em
e que foi desenvolvido de caso” e que
grupos. foi desenvolvido
O resultado em grupos.
final deveria O resultadoem
ser apresentado final
uma
prancha tamanho
deveria A1 ou A0 em
ser apresentado e abordava os seguintes
uma prancha tamanho itens: (1) A0
A1 ou Identificação
e abordavaeosresumo da obra
seguintes
do arquiteto;
itens: (1) Identificação e resumo da obra do arquiteto; (2) Implantação, avaliando a estudo
(2) Implantação, avaliando a relação com o entorno e com o terreno, recuos,
de insolação e ventilação; (3) Plantas, avaliando a setorização funcional e fluxograma,
relação com o entorno e com o terreno, recuos, estudo de insolação e ventilação; (3)
circulações e acessos, eixos de composição, estrutura; e (4) Fachadas, avaliando os eixos de
Plantas, avaliando
composição, a setorização
plástica, proporção funcional Estes
e volumetria. e fluxograma, circulações
itens deveriam e acessos,por
ser estudados eixos
meio de
desenhos e textos curtos
de composição, que see (4)
estrutura; articulavam
Fachadas,entre si, e que
avaliando eram avaliados
os eixos por suaplástica,
de composição, capacidade
de síntese
proporção e volumetria. Estes itens deveriam ser estudados por meio de desenhosalém
e crítica, pela qualidade da representação gráfica e organização da prancha, e de
serem acompanhados de uma breve exposição oral e debate com o restante da turma.
textos curtos que se articulavam entre si, e que eram avaliados por sua capacidade de
síntese e crítica, pela qualidade da representação gráfica e organização da prancha, além
3. REVISÃO DOS TRABALHOS
de serem acompanhados de umaAPRESENTADOS
breve exposição oral e debate com o restante da turma.
As metodologias de análise aqui apresentada foi aplicada a diversos recortes espaços-
temporais – e por conseguinte diversos estilos arquitetônicos - abordados em diversas
disciplinas: mundo antigo (Mesopotâmia e Egito), 113período clássico (Gregos e Romanos), Idade
Média (estilos românico e gótico), renascimento e barroco europeu, arquitetura da sociedade
industrial europeia (desde o ecletismo até o Movimento Moderno), bem como especificamente
Revista de Arquitetura IMED, Passo Fundo, vol. 6, n. 1, p. 106-123, Jan.-Jun., 2017 - ISSN 2318-1109

3 Revisão dos trabalhos apresentados

As metodologias de análise aqui apresentada foi aplicada a diversos recortes


espaços-temporais – e por conseguinte diversos estilos arquitetônicos - abordados em
diversas disciplinas: mundo antigo (Mesopotâmia e Egito), período clássico (Gregos e
Romanos), Idade Média (estilos românico e gótico), renascimento e barroco europeu,
arquitetura da sociedade industrial europeia (desde o ecletismo até o Movimento
Moderno), bem como especificamente dos finais do século XIX até meados do século
XX na produção arquitetônica brasileira. Dentro dos recortes de cada disciplina ou
específicos de uma unidade trabalhada dentro delas, ou alunos tinham completa
liberdade em escolher qual obra avaliariam em seus exercícios.
Avaliando os trabalhos de análise arquitetônica, percebeu-se que a ficha
funcionava como um bom guia para o estudo, porém nem todos conseguiam realmente
traçar análises críticas para todos os itens. Especialmente no tópico em que deveriam
descrever os esquemas de composição volumétrica e espacial (em planta e em fachadas)
percebeu-se uma grande dificuldade. Primeiro porque raramente há na literatura
atento a tal especificidade e os alunos vinham recorrentemente a mim em busca de
sugestões de referências.

Figura 02. Exemplo de Croquis desenvolvidos pelos alunos. À esquerda desenho


da Ópera de Paris feito pelo aluno Airton Reis (UNIPLAN – disciplina THAU IV)
e à direita a Basílica de Saint Denis feito pelo aluno Wesley Nunes Paiva
(UNIPLAN – disciplina THAU II)

Fonte: Desenhos gentilmente cedidos pelos alunos.

Frente a esses questionamentos, e embora sempre houvesse textos e artigos


articulados à esta tarefa, na maioria das vezes eu sugeri que eles próprios “lessem”
as plantas, mas aí estava a segunda dificuldade: escrever sobre e descrever a
arquitetura. Esta é a maior deficiência dos estudantes com os quais trabalhei e que
reflete sua formação educacional prévia no ensino básico e médio, bem como a
falta de maturidade acadêmica para desenvolver em linguagem técnica uma leitura

114
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dos edifícios. Outra possibilidade que pode estar no cerne dessa dificuldade é a
baixa recorrência de exercícios similares em disciplinas de projeto arquitetônico e
que fomentassem o desenvolvimento de “leitura” de projetos correlatos àqueles em
desenvolvimento no semestre.
Outra oportunidade que foi perdida em muitos desses exercícios de análise
arquitetônica foi de articular esses textos aos desenhos que acompanhavam a ficha.
Em geral, embora incentivados a fazer desenhos esquemáticos, os alunos priorizavam
croquis das fachadas principais dos edifícios que funcionavam como mera ilustração
e não uma articulação entre os conteúdos (Figura 02). É preciso fazer a mea-culpa:
apesar da variável espacial ser trabalhada nas aulas teóricas, esses exercícios não eram
corrigidos por mim fora de sala de aula e depois devolvidos (como é o tradicional),
pois numa tentativa de realizar a auto avaliação discente eu apenas fazia uma vista e
comentários rápidos com sugestões de melhoria a cada um.

Figura 03. Exemplo de pranchas de estudos de caso de obras do arquiteto


Le Corbusier, desenvolvidas em 2015.1 na disciplina de Arquitetura
Figura 03: Exemplo de pranchas de estudos de caso de obras do arquiteto Le Corbusier, desenvolvidas
e Urbanismo
em 2015.1 na disciplina da Sociedade
de Arquitetura Industrial
e Urbanismo na FAUIndustrial
da Sociedade – UnB na FAU – UnB.

Fonte: Desenhos gentilmente cedidos pelos alunos, à esquerda Alan Marques, André Leite, Beatriz
RabettiFonte: Desenhos
Clara Porto gentilmente
e Marilia cedidos
Pimenta; pelosBrenda
e a direita alunos,Oliveira,
à esquerda Alan Rodrigues,
Isabella Marques, André Leite,
Isabella Oliveira e
Beatriz Rabetti Clara Porto eJordana
MariliaAlmeida.
Pimenta; e a direita Brenda Oliveira,
Isabella Rodrigues, Isabella Oliveira e Jordana Almeida.

Porém, ao perceber essa falta de profundidade analítica introduzi em algumas


Porém, ao perceber essa falta de profundidade analítica introduzi em algumas disciplinas
osdisciplinas
trabalhos deos“estudo
trabalhos de “estudo
de caso”, de caso”,
nos quais nos tempo
com mais quais com
para omais tempo para oda tarefa
desenvolvimento
e com orientações sistemáticas os alunos puderam fazer leituras mais aprofundadas e que
realmente articulavam os textos às imagens que não eram mais meramente ilustrativas, mas
115
eram construídas para avaliar os itens solicitados no roteiro. Nos exemplos da Figura 03, pode-
se observar duas pranchas desenvolvidas na mesma turma e cujo tema era Movimento Moderno
internacional (especificamente a obra dos mestres Le Corbusier, Mies van der Rohe, Walter
Revista de Arquitetura IMED, Passo Fundo, vol. 6, n. 1, p. 106-123, Jan.-Jun., 2017 - ISSN 2318-1109

desenvolvimento da tarefa e com orientações sistemáticas os alunos puderam fazer


leituras mais aprofundadas e que realmente articulavam os textos às imagens que
não eram mais meramente ilustrativas, mas eram construídas para avaliar os itens
solicitados no roteiro. Nos exemplos da Figura 03, pode-se observar duas pranchas
desenvolvidas na mesma turma e cujo tema era Movimento Moderno internacional
(especificamente a obra dos mestres Le Corbusier, Mies van der Rohe, Walter Gropius
e Frank Lloyd Wright). Na Figura 04 apresento trabalhos similares, mas cujo enfoque
eram obras da Escola Carioca de arquitetura modernista, recorte temático pertencente
à disciplina de Arquitetura e Urbanismo do Brasil Contemporâneo – AUBC também
na FAU – UnB.

Figura 04. Exemplo de pranchas de estudos de caso de obras do arquiteto


Figura 04: Exemplo
Afonso EduardodeReidy
pranchas de estudos de caso
desenvolvidas de obrasnadodisciplina
em 2017.1 arquiteto Afonso Eduardo Reidy
de Arquitetura
desenvolvidas em 2017.1 na disciplina de Arquitetura e Urbanismo do Brasil Contemporâneo na FAU
e Urbanismo do Brasil Contemporâneo
– UnB. na FAU – UnB

Fonte: Desenhos gentilmente cedidos pelos alunos. A esquerda: Adriane Balieiro, Guilherme Oliveira e
Fonte: Desenhos
Vanessa gentilmente
Felix. cedidos
A direita: Dante pelosKamila
Akira, alunos.Venancio,
A esquerda: Adriane
Lorena Balieiro,
Baracho Guilherme
e Viviane Oliveira
Martins.
e Vanessa Felix. A direita: Dante Akira, Kamila Venancio, Lorena Baracho e Viviane Martins.

Este
Estetrabalhou suscitava
trabalhou também
suscitava também a comparação
a comparação entras as obras
entras e soluções
as obras projetuais
e soluções
aplicadas através de um debate que tomava lugar no momento da entrega desses trabalhos: as
projetuais aplicadas através de um debate que tomava lugar no momento da entrega
pranchas eram fixadas nas paredes da sala de aula e a turma era convidada a observá-los e tentar
desses
traçar trabalhos: easdiferenças
aproximações pranchasentre
eram fixadas nas
o repertório paredes
projetual da sala de Nesses
apresentado. aula e amomentos
turma eraera
muito produtivo
convidada a retomada
a observá-los críticatraçar
e tentar aos aproximações
aportes teóricos e compositivos,
e diferenças entre o apresentados
repertório
anteriormente nas aulas expositivas, de modo que os projetos eram avaliados em seus diversos
projetual apresentado. Nesses momentos era muito produtivo a retomada crítica aos
aspectos pelos grupos.
aportes teóricos e compositivos, apresentados anteriormente nas aulas expositivas, de
Avaliando em detalhe outros trabalhos, na figura 05 há um recorte das representações
desenvolvidas para avaliar em planta, cortes e fachada segundo critérios de zoneamento
funcional, acessos e circulações, eixos de composição plástica e estrutural do edifício. Os alunos
116
tinham liberdade para utilizar ferramentas computacionais de representação gráfica ou
redesenhar os projetos à mão livre (como na Figura 07) de acordo com suas habilidades. Em
geral, os resultados gráficos são muito bons, o que ajuda a análise dos itens.
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modo que os projetos eram avaliados em seus diversos aspectos pelos grupos.
Avaliando em detalhe outros trabalhos, na figura 05 há um recorte das
representações desenvolvidas para avaliar em planta, cortes e fachada segundo
critérios de zoneamento funcional, acessos e circulações, eixos de composição
plástica e estrutural do edifício. Os alunos tinham liberdade para utilizar ferramentas
computacionais de representação gráfica ou redesenhar os projetos à mão livre (como
na Figura 07) de acordo com suas habilidades. Em geral, os resultados gráficos são
muito bons, o que ajuda a análise dos itens.

Figura 05. Exemplo de desenhos analíticos (Capela de Santana do Pé de Morro -1979-


Figura 05: Exemplo
projeto de ÉolodeMaia
desenhos
e Jô analíticos (Capeladesenvolvidas
Vasconcellos) de Santana do Pé
emde2014.2
Morro -1979- projeto de
na disciplina deÉolo
Maia e Jô Vasconcellos) desenvolvidas em 2014.2 na disciplina de Arquitetura e Urbanismo do Brasil
Arquitetura e Urbanismo do BrasilnaContemporâneo
Contemporâneo FAU – UnB. na FAU – UnB

Fonte: Desenhos gentilmente cedidos pelos alunos Júlia Mazzutti e Diego Martínez.
Fonte: Desenhos gentilmente cedidos pelos alunos Júlia Mazzutti e Diego Martínez.

Em outro recorte (Figura 06), observam-se os estudos de ventilação e insolação


Em outro recorte (Figura 06), observam-se os estudos de ventilação e insolação de uma
de uma casa modernista, onde articulam-se os desenhos a um breve texto explicativo
casa modernista, onde articulam-se os desenhos a um breve texto explicativo e imagens reais
do eedifício.
imagens reais do edifício.
Percebe-se Percebe-se
nesses exemplos umanesses exemplos uma
maior profundidade emmaior profundidade
“dissecar” o edifício, bem
como
em uma articulação
“dissecar” com conteúdos
o edifício, bem como trabalhados em outras
uma articulação comdisciplinas
conteúdos como bioclimatismo,
trabalhados
estruturas, intervenções em edifícios de valor patrimonial etc. Em algumas
em outras disciplinas como bioclimatismo, estruturas, intervenções em edifícios turmas foi possível
incluir análises advindas diretamente da Sintaxe espacial, como (1) os grafos justificados e (2)
os de valorde
gráficos patrimonial
visibilidadeetc.
(verEm algumas
figura 04). O turmas
primeirofoi possíveldaincluir
deriva-se análises
Teoria dos Grafosadvindas
que estuda
diretamente
objetos da Sintaxe
combinatórios — osespacial,
grafos — como
que (1)
sãoosum
grafos
bom justificados
modelo parae muitos
(2) os gráficos
problemasde em
vários ramos da matemática e que foi apropriada por Hillier e Hanson (1984)
visibilidade (ver Figura 04). O primeiro deriva-se da Teoria dos Grafos que estuda para descrever
propriedades morfológicas da forma arquitetônica e urbana por meio da sua representação como
umobjetos combinatórios
conjunto — os grafos —Em
de elementos quantificáveis. quesegundo
são umlugar,
bom osmodelo
gráficospara muitos problemas
de visibilidade foram
em vários
propostos porramos
Turnerdaet matemática e que foi apropriada
al (2001), desenvolveram por Hillier
um método e Hanson
que considera (1984) para
as isovistas de
todos (ou quase
descrever todos – poismorfológicas
propriedades as ferramentasda computacionais calculam
forma arquitetônica atravéspor
e urbana de meio
uma malha
da
que pode ser mais ou menos espessa) os pontos de um determinado espaço de estudo, ou seja,
como as elas relacionam-se entre si.

117
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sua representação como um conjunto de elementos quantificáveis. Em segundo lugar,


os gráficos de visibilidade foram propostos por Turner et al (2001), desenvolveram
um método que considera as isovistas de todos (ou quase todos – pois as ferramentas
computacionais calculam através de uma malha que pode ser mais ou menos espessa)
os pontos de um determinado espaço de estudo, ou seja, como as elas relacionam-se
entre si.

Figura 06. Exemplo de desenhos analíticos (Residência Roberto Millán - 1960-


Figura 06: Exemplo de desenhos analíticos (Residência Roberto Millán - 1960- projeto de Carlos
projeto
Barjas de Carlos
Millán) Barjasem
desenvolvidas Millán)
2014.2 desenvolvidas em 2014.2ena
na disciplina de Arquitetura disciplina
Urbanismo de
do Brasil
Arquitetura e Urbanismo do BrasilnaContemporâneo
Contemporâneo FAU – UnB. na FAU – UnB

Fonte: Desenhos gentilmente


Fonte: Desenhos cedidos pelos
gentilmente alunos
cedidos Antônio
pelos alunosLucas Pereira
Antônio de Pereira
Lucas Sousa ede
Thaís de Arvelos
Sousa
Gonçalves
e Thaís de Arvelos Gonçalves

Essa articulação entre os conteúdos é facilitada pelo modelo do exercício e é,


Essa articulação entre os conteúdos é facilitada pelo modelo do exercício e é, na minha
na minha
opinião, opinião, extremamente
extremamente frutífera.
frutífera. Excetuando Excetuando
raros raros casos,
casos, este conjunto este conjunto
específico de análises
queespecífico
agrega plasticidade,
de análisesorganização
que agregafuncional e estrutura
plasticidade, não foi funcional
organização desenvolvido anteriormente
e estrutura não
de um modo organizado ou muito menos encontram-se nos livros de apoio. Vale ressaltar
foi desenvolvido anteriormente de um modo organizado ou muito menos encontram-
também que de modo que os alunos desenvolvem um grande esforço de pesquisa e de confecção
se nosatravés
gráfica livrosdade qual
apoio.
já Vale ressaltar
tem início também
a análise do que de modo
edifício. que os aalunos
O desenho mão ou desenvolvem
redesenho
computacional – cada aluno ou grupo define como irá apresentar o trabalho a sua
um grande esforço de pesquisa e de confecção gráfica através da qual já tem início maneira – dos
a
projetos
análise do edifício. O desenho a mão ou redesenho computacional – cada aluno ou e
promove também uma articulação com as disciplinas de representação gráfica
contribui para seu repertório projetual.
grupo define como irá apresentar o trabalho a sua maneira – dos projetos promove
também uma articulação com as disciplinas de representação gráfica e contribui para
seu repertório projetual.

118
Revista de Arquitetura IMED, Passo Fundo, vol. 6, n. 1, p. 106-123, Jan.-Jun., 2017 - ISSN 2318-1109

Figura 07. Exemplo de desenhos analíticos (Villa Rotonda do arquiteto Andrea Palladio)
desenvolvidas em 2014.1 na disciplina de Teoria e História da Arquitetura
e Urbanismo III – renascimento e Barroco na UNIP

Fonte: Desenhos gentilmente cedidos pelas alunas Angélica Lucas Zanardes


e Milena Peixoto Salomão.

4 Avaliação dos alunos acerca das didáticas

Como as faculdades onde lecionei não possuem avaliações de disciplina e de


docentes sistemáticas, para o desenvolvimento desse artigo foi elaborado um breve
questionário para que os discentes pudessem avaliar as metodologias aplicadas. A
primeira pergunta inqueria sobre quais dinâmicas de ensino aplicadas nas disciplinas
de THAU (em geral) os alunos julgavam favorecer seu aprendizado. O gráfico 07
demonstra que a maioria das respostas (cerca de 70%) assume que as aulas teóricas
expositivas que facilitam a participação do aluno são muito importantes como didática.
Em segundo lugar tem destaque novamente a preleção, mas há um empate com aqueles
que sinalizam que os trabalhos individuais ou em grupo desenvolvidos fora de sala de
aula foram válidos na sua aprendizagem.

119
assume que as aulas teóricas expositivas que facilitam a participação do aluno são muito
importantes como didática. Em segundo lugar tem destaque novamente a preleção, mas há um
Revista de Arquitetura IMED, Passo Fundo, vol. 6, n. 1, p. 106-123, Jan.-Jun., 2017 - ISSN 2318-1109
empate com aqueles que sinalizam que os trabalhos individuais ou em grupo desenvolvidos
fora de sala de aula foram válidos na sua aprendizagem.
GráficoGráfico
07. Respostas dos 61
07: respostas dosalunos a questão
61 alunos a questão“Quais dinâmicas
“Quais dinâmicas de de ensino
ensino de THAU
de THAU vocêque
você julga
julga que favorecem seu aprendizado?”
favorecem seu aprendizado?”(era
(erapossível assinalarmais
possível assinalar mais
de de
umauma opção)
opção)
A) Aulas expositivas (preleção).
B) Aulas expositivas, com participação
dos estudantes.
C) Aulas práticas.
D) Trabalhos individuais ou em grupo,
desenvolvidos em sala de aula.
E) Trabalhos individuais ou em grupo,
desenvolvidos fora de sala de aula.
F) Outros

Fonte:
Fonte: elaboração
Elaboração pópria
pópria (2017)
(2017).
De maneira correlata, esse destaque aos exercícios desenvolvidos extraclasse
aparecem na pergunta seguinte na qual buscava-se avaliar especificamente os recursos
didáticos metodológicos os trabalhos de análise arquitetônica são os mais citados (com 12
cerca deDe
72% maneira correlata,
das respostas esse destaque
– Gráfico aosseguida,
08). Em exercícios desenvolvidos
por quantidade deextraclasse aparecem
respostas,
na pergunta seguinte na qual buscava-se avaliar especificamente os recursos didáticos
estão os recursos multimídia (com quase 64%) e a leitura, fichamento ou resenhas de
metodológicos os trabalhos de análise arquitetônica são os mais citados (com cerca de 72% das
textos pré-selecionados
respostas – Gráfico 08).(com cerca depor
Em seguida, 52%).
quantidade de respostas, estão os recursos multimídia
(com quase 64%) e a leitura, fichamento ou resenhas de textos pré-selecionados (com cerca de
Gráfico 08. Respostas dos 61 alunos a questão “Quais recursos didáticos metodológicos
52%).
Gráfico você julga que
08: respostas dosfoi
61 mais
alunosproveitoso para recursos
a questão “Quais sua aprendizagem?”
didáticos metodológicos você julga
(era possível
que foi mais proveitoso assinalar
para sua mais de(era
aprendizagem?” uma opção)
possível assinalar mais de uma opção)
A) Lousa e Giz.
B) Recursos multimídia.
C) Visitas extraclasse.
D) Debates/ seminários.
E) Aulas ao ar livre.
F) Leituras/ fichamentos/resenhas
G) Trabalhos de análise arquitetônica
H) Exibição de filmes e documentários
I) Outros

Fonte: elaboração pópria (2017)


Fonte: Elaboração pópria (2017).
NoNoquestionário os os
questionário alunos também
alunos tambémpodiam
podiam expor
exporlivremente
livrementesuasua
opinião sobre
opinião os os
sobre
trabalhos de análise arquitetônica desenvolvidos. Vale o ressalte à alguns depoimentos que
trabalhos de análise arquitetônica desenvolvidos. Vale o ressalte à alguns depoimentos
destacam o entendimento desses exercícios como uma ponte de articulação entre a teoria e
queprática,
destacam
bem ocomo
entendimento
o despertardesses exercíciose acomo
para a pesquisa uma ponte
objetividade de articulação entre a
das tarefas.
teoria e prática, bem como o despertar para a pesquisa e a objetividade das tarefas.
“Eu gostei muito de realizá-las, hoje tenho um embasamento artístico e arquitetônico bem
satisfatório graças aos estudos. Eu julgo muito interessante por que é uma forma de estudar
arquitetura na prática,
Eu gostei muito entender conceitos,
de realizá-las, hojevisualizar
tenho umtécnicas e afins. ”artístico
embasamento
“A análise arquitetônicabem
e arquitetônico permite o entendimento
satisfatório graças aosmais profundo
estudos. de muito
Eu julgo cada obra analisada
interessante por que é uma forma de estudar arquitetura na prática, Quando se
permitindo maior facilidade em fixar a imagem da obra e suas características.
desperta o ar investigativo de cada obra é possível aprender de forma menos desgastante. ”
entender conceitos, visualizar técnicas e afins.
“Certamente estes trabalhos foram dos mais instrutivos, pois, eram oportunidades de colocar a
A análise arquitetônica permite o entendimento mais profundo
prova o conteúdo teórico aprendido em sala acerca dos estilos arquitetônicos históricos. Um
ponto que de favorecia
cada obraa analisada
realização permitindo maior
destes trabalhos facilidade
ao meu em liberdade
ver, é sua fixar a na escolha das
obras (queimagem da obra
já avaliam e suas características.
a capacidade Quando se
do aluno a identificar desperta
obras dentroodoarrecorte histórico/
temporalinvestigativo
pretendido) e de cada obra é possível aprender de forma menosde forma objetiva
a possibilidade de responder os principais pontos
(materiais, características, técnicas construtivas, esquemas de composição etc.), fato este que
desgastante.
facilita a assimilação do conteúdo por ser tratado com menos floreios. ” (Diversos questionários,
2017, grifo nossos)
120
Entretanto, em alguns depoimentos é clara a dificuldade que alguns alunos encontram ao
longo de seus estudos. Por exemplo, um deles escreveu que “[...] era uma forma prática de
Revista de Arquitetura IMED, Passo Fundo, vol. 6, n. 1, p. 106-123, Jan.-Jun., 2017 - ISSN 2318-1109

Certamente estes trabalhos foram dos mais instrutivos, pois, eram


oportunidades de colocar a prova o conteúdo teórico aprendido
em sala acerca dos estilos arquitetônicos históricos. Um ponto que
favorecia a realização destes trabalhos ao meu ver, é sua liberdade
na escolha das obras (que já avaliam a capacidade do aluno a
identificar obras dentro do recorte histórico/ temporal pretendido)
e a possibilidade de responder os principais pontos de forma
objetiva (materiais, características, técnicas construtivas, esquemas
de composição etc.), fato este que facilita a assimilação do conteúdo
por ser tratado com menos floreios. (Diversos questionários, 2017,
grifo nossos).

Entretanto, em alguns depoimentos é clara a dificuldade que alguns alunos


encontram ao longo de seus estudos. Por exemplo, um deles escreveu que “[...] era uma
forma prática de entender a matéria, mas não ficava tão esclarecedor, e fazia surgir
dúvidas durante o procedimento do exercício”. Uma das perguntas avaliava quais eram
esses dificultadores na elaboração da tarefa e a resposta mais assinalada - com cerca de
42% no Gráfico 09 - foi “encontrar fontes bibliográficas adequadas e que contivessem as
informações desejadas” seguido pela opção de “analisar as características estilísticas”
(com quase 28% das respostas).

Gráfico 09. Respostas dos 61 alunos a questão “Com relação ao trabalhos de


Gráfico 09: respostas dos 61 alunos a questão “Com relação ao trabalhos de "análise arquitetônica"
“análise
quais foram asarquitetônica” quais foram
suas maiores dificuldades as suas
ao longo maiores
do seu dificuldades(era
desenvolvimento?” ao possível
longo assinalar
mais de
douma
seuopção)
desenvolvimento?” (era possível assinalar mais de uma opção)

2 (3,3%)

Fonte: elaboração pópria (2017) Fonte: Elaboração pópria (2017).

resultados trazem
Estes resultados trazemnovamente
novamenteà àtona
tonaa adistância
distânciaque
queexiste
existeentre
entrebibliografia de
bibliografia
THAU disponível à pesquisa e esta metodologia de análise focada em questões
de THAU disponível à pesquisa e esta metodologia de análise focada em questões espaciais, pois
mesmo o que se denomina nas fichas como “estilístico” vai além de características plásticas da
espaciais, pois mesmo o que se denomina nas fichas como “estilístico” vai além de
caixa mural.
características plásticas da caixa mural.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS: AUTOCRÍTICAS E NOVOS CAMINHOS
5 Considerações finais:
Ante ao exposto, posso autocríticas
sistematizar e novos
pontos positivos caminhos
e negativos na experiência didática-
pedagógica aqui apresentada. Julgo que a principal vantagem é a articulação interdisciplinar,
quebrando as barreiras das “caixas” impostas por uma rígida organização curricular em áreas
Ante ao exposto, posso sistematizar pontos positivos e negativos na experiência
de conhecimentos específicos em Arquitetura e Urbanismo. Separar as disciplinas do curso em
didática-pedagógica
cadeias – normalmente aqui apresentada.
três: Julgoe que
THAU, Projeto a principal
Tecnologia – semvantagem é a articulação
traçar articulações entre estas
não me parece uma boa estratégia para abarcar a complexidade do fazer arquitetônico. Portanto,
com estes exercícios foi perceptível um crescimento da capacidade de expressão gráfica, de
121
repertório projetual e do senso crítico que deve ter sido levado às disciplinas de projeto e para
a vida profissional, conforme relatam alguns depoimentos colhidos no questionário.
Como ponto negativo, creio que o principal deles é a organização de como as atividades
Revista de Arquitetura IMED, Passo Fundo, vol. 6, n. 1, p. 106-123, Jan.-Jun., 2017 - ISSN 2318-1109

interdisciplinar, quebrando as barreiras das “caixas” impostas por uma rígida


organização curricular em áreas de conhecimentos específicos em Arquitetura e
Urbanismo. Separar as disciplinas do curso em cadeias – normalmente três: THAU,
Projeto e Tecnologia – sem traçar articulações entre estas não me parece uma boa
estratégia para abarcar a complexidade do fazer arquitetônico. Portanto, com estes
exercícios foi perceptível um crescimento da capacidade de expressão gráfica, de
repertório projetual e do senso crítico que deve ter sido levado às disciplinas de projeto e
para a vida profissional, conforme relatam alguns depoimentos colhidos no questionário.
Como ponto negativo, creio que o principal deles é a organização de como as
atividades foram desenvolvidas. Além da explanação acerca dos roteiros dos trabalhos
dada no início de cada semestre, foi oferecida pouca ou nenhuma assessoria aos
alunos ao longo do desenvolvimento das tarefas principalmente em decorrência do
escasso tempo em sala de aula. Isso fez suscitar dúvidas ao longo do processo e por
vezes resultados aquém dos esperados quando avaliados em sua profundidade de
crítica. Portanto, para o seu melhor aproveitamento, esta é uma tarefa que demanda
um conjunto de orientações ao longo do semestre ou, para que essa seja suprimida, é
necessário que os alunos tenham desenvolvido atividades semelhantes anteriormente
e que já estejam em um determinado grau de maturidade acadêmica. Cabe então ao
docente avaliar previamente o corpo discente com o qual irá trabalhar para montar a
melhor estratégia de organização.
Os exercícios apresentados aqui são apenas um modelo e não uma regra a ser
replicada cegamente. Cada recorte histórico ou estilísticos contém especificidades às
quais a ficha de análise deve ser adaptada. Cada grupo de alunos tem um conjunto de
potencialidades e déficits que podem (e devem) modificar as estratégias de trabalho
visando o objetivo maior de formar arquitetos e urbanistas que projetem e lutem por
melhores espaços. Por fim, gostaria de agradecer a todos os alunos com os quais tive a
oportunidade de aplicar esses exercícios, por vezes de uma maneira tão experimental,
bem como a todos que responderam os questionários e disponibilizaram o material que
ilustra o presente artigo.

122
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