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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Campus Belo Horizonte

Faculdade de Educação

CAROLINE DUAILIBI FELICIO

DÉBORA REZENDE DO CARMO AZEVEDO

FRANCIS DÁVILA SOUZA COSTA

LUCAS CARNEIRO COSTA

AS PROPOSTAS BOLSOLAVISTAS PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Belo Horizonte

Fevereiro/2021
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Campus Belo Horizonte

Faculdade de Educação

CAROLINE DUAILIBI FELÍCIO

DÉBORA REZENDE DO CARMO

FRANCIS DÁVILA SOUZA COSTA

LUCAS CARNEIRO COSTA

AS PROPOSTAS BOLSOLAVISTAS PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Monografia apresentada à Faculdade de


Educação da Universidade do Estado de
Minas Gerais como requisito parcial para
conclusão da graduação em Pedagogia.

Orientadora: Jacqueline da Silva Gonçalves.

Belo Horizonte

Fevereiro/2021
Dedicamos este trabalho aos educadores
progressistas que, em algum momento, foram
silenciados em razão de suas posições
políticas.
AGRADECIMENTOS

Agradecemos aos nossos familiares por toda a ajuda e compreensão. Sem eles, não
estaríamos aqui e não chegaríamos aonde chegamos. Entendemos que todos se
esforçaram para dar tudo o que temos, de modo que somos gratos por nossa
educação e criação.

Agradecemos a orientadora Jacqueline da Silva Gonçalves. Sua paciência, respeito,


compreensão e dedicação foram essenciais para que finalizássemos o trabalho.

Agradecemos aos nossos professores, tutores e orientadores. O nosso crescimento


intelectual é visível desde o dia em que ingressamos na universidade. O nosso
sucesso é produto de todas as intervenções e interações, além do auxílio, dos mais
capacitados acadêmicos.

Agradecemos às professoras Fabiana da Silva Viana e Elaine Maria da Cunha Morais


pelas considerações que fizeram acerca da monografia. Seus conselhos aprimoram o
trabalho, deixando-o mais técnico, preciso e consistente.

Agradecemos ao amigo Tiago Lima de Alcântara pelas dicas e pontuações sobre a


ortografia. Seus conselhos deixaram o texto refinado e claro.

Agradecemos, por fim, aos nossos colegas de sala. Todos eles nos ensinaram muito
e fizeram companhia num ambiente com ritmo enlouquecedor.
“Precisamos de alguém [no MEC] engajado
na agenda técnica e na guerra cultural.
Espero que ele [o novo ministro da Educação]
aceite nossas sugestões e não seja um
tecnocrata que dispensa a guerra cultural,
permitindo que a agenda esquerdista e
globalista prevaleça”.

Carlos Jordy, vice-líder do governo


Bolsonaro na Câmara dos Deputados.
RESUMO

O presente trabalho propõe-se a investigar as propostas conservadoras bolsolavistas


para a educação brasileira. Entendemos que a escola no Brasil passa por um
momento de transição e de desconstrução (ou reconstrução). Na atual conjuntura
globalizante, a educação e o trabalho docente estão sendo reconfigurados. A escola
tem-se tornado um campo de batalha onde ocorre de forma mais intensa o debate
entre progressismo e conservadorismo. A marca do ensino ainda é o tecnicismo, o
currículo tem-se adaptado às mudanças dos paradigmas econômicos, a tecnologia
está cada vez mais presente nas instituições privadas e muitos teóricos questionam-
se se a escola será substituída por práticas educacionais à distância, por modalidades
como o homeschooling etc. Sendo assim, no intuito de compreender melhor o
contexto atual da escola, levantamos as seguintes questões: quais são as propostas
educacionais do grupo político que está no poder? Qual é a concepção de educação
e de escola que eles mobilizam e nutrem? Quais são os limites e as possibilidades
dessas concepções? Em que fundamentos elas foram construídas? Para responder
às questões apresentadas e atingir nossos objetivos, escolhemos realizar uma
pesquisa qualitativa. Utilizamos como método a pesquisa documental e a pesquisa
bibliográfica. Foi feito um mapeamento da produção científica publicada a partir do
ano de 2016 no site Google Scholar, visando a obter dados e informações sobre as
propostas bolsolavistas para a educação. A partir da análise dos dados coletados,
identificamos quatro propostas que se sobressaem: Escola sem Partido;
homeschooling; o combate à “ideologia de gênero”; e escolas cívico-militares.
Palavras-chave: bolsolavismo; educação no governo Bolsonaro; educação e
ideologia.
ABSTRACT

This work aims to investigate the conservative “bolsolavista” proposals for brazilian
education. We understand that school in Brazil is going through a moment of transition
and deconstruction (or reconstruction). In the current global context, education and
teaching work are being reconfigured. The school has become a battleground where
the debate between progressivism and conservatism takes place more intensely. The
hallmark of teaching is still technicality, the curriculum has adapted to changes in
economic paradigms, technology is increasingly present in private institutions and
many theorists question whether the school will be replaced by distance educational
practices. Therefore, in order to better understand the current context of the school,
we raise the following questions: what are the educational proposals of the political
group in power? What is the concept of education and school that they mobilize and
nurture? What are the limits and possibilities of these conceptions? On what
fundamentals were they built? To answer the questions presented and achieve our
objectives, we chose to conduct a qualitative research. We use documentary and
bibliographic research as method. A mapping of the scientific production published
from the year 2016 on the Google Scholar website was made, in order to obtain data
and information on the scholarship proposals for education. From the analysis of the
collected data, we identified four proposals that stand out: Escola sem Partido;
homeschooling; gender ideology; and civic-military schools.
Keywords: bolsolavism; education in the Bolsonaro government; education and
ideology.
Sumário
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 10

2. METODOLOGIA ............................................................................................................................ 14

3. CAPÍTULO 1: CONCEITUAÇÕES GERAIS ............................................................................. 27

4. CAPÍTULO 2: APRESENTAÇÃO DO CONTEXTO ATUAL BRASILEIRO ........................ 48

5. CAPÍTULO 3: AS PROPOSTAS BOLSOLAVISTAS PARA A EDUCAÇÃO ..................... 56

5.1. ESCOLA SEM PARTIDO.......................................................................................................... 56

5.2. IDEOLOGIA DE GÊNERO........................................................................................................ 61

5.3. HOMESCHOOLING ................................................................................................................... 63

5.4. ESCOLAS CÍVICO-MILITARES .............................................................................................. 66

6. ADENDO: AS PROPOSTAS BOLSOLAVISTAS E A BNCC................................................ 71

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 75

8. REFERÊNCIAS .............................................................................................................................. 78
10

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho propõe-se a investigar e apresentar as propostas


conservadoras bolsolavistas para a educação brasileira. Entendemos que a escola no
Brasil passa por um momento de transição e de desconstrução (ou reconstrução).
Recentemente, vários grupos e movimentos políticos elaboram, incorporam e buscam
inserir na escola as suas teorias, práticas ou ideias. A escola tem-se tornado um
campo de batalha onde ocorre de forma mais intensa o debate entre progressismo e
conservadorismo. O momento político, social e econômico do país está bastante
polarizado entre essas duas vertentes. (BRUGNAGO; CHAIA, 2014).

Na atual conjuntura globalizante, a educação e o trabalho docente estão sendo


reconfigurados. (BARRETO, 2004). A marca do ensino ainda é o tecnicismo, o
currículo tem-se adaptado às mudanças dos paradigmas econômicos, a tecnologia
está cada vez mais presente nas instituições privadas e muitos teóricos questionam-
se se a escola será substituída por práticas educacionais à distância, por modalidades
como o homeschooling etc. (CHAVES, 1998). Porém, parece-nos que essa mudança
da escola no Brasil vem acrescida de um debate político agressivo.

A polarização política entre esquerda e direita cresce desde os movimentos


populares de junho de 2013. Esses grupos enxergam na escola tanto uma
necessidade para criar sujeitos críticos quanto um lugar onde se disseminam práticas
e ideologias imorais. Com essas visões, tais grupos buscam formatar a escola de
acordo com seu pensamento. Daí, nascem diversos projetos com essa ideia. Os
projetos do movimento Escola sem Partido são um exemplo. (MACEDO, 2017). Por
essa razão, dissemos anteriormente que, por mais que a escola esteja em mudança,
no Brasil, essa mudança vem envolvida da polarização.

O que queremos dizer é que os ideólogos e grupos de poder querem fazer da


escola uma “fábrica de mudança de pensamentos”. É o que pensa o filósofo francês
Michel Foucault. Para ele, a escola é uma das “instituições de sequestro”, como o
hospital, o quartel e a prisão. “São aquelas instituições que retiram compulsoriamente
os indivíduos do espaço familiar ou social mais amplo e os internam, durante um
período longo, para moldar suas condutas, disciplinar seus comportamentos e
formatar aquilo que pensam”. (VEIGA-NETO, 2003).
11

As propostas conservadoras para a educação e para a escola brasileira são


demasiado “híbridas” e “confusas”. Basicamente, o propósito é substituir as ideias
progressistas que, segundo eles, estão enraizadas na escola. Todavia, como
proposição, não se tem algo concreto: fala-se em militarização das escolas ao mesmo
tempo em que se fala em homeschooling. Também, fala-se em Escola sem Partido
ao mesmo tempo em que se fala sobre ensino confessional com aulas de ética e
pensamento religioso.

Soma-se tudo isso ao fato de que hoje o país é governado por um movimento
ideológico conservador. Quem está na Presidência da República possui um projeto
educacional próprio para o país – e isso em todas as áreas e pastas, como Segurança
e Justiça, Relações Exteriores e Direitos Humanos1. (FALAK, 2018). Utilizaremos o
termo “bolsolavismo” para denominar esse movimento. O termo é a junção do
sobrenome “Bolsonaro” e o termo “Olavismo”, referindo-se ao presidente atual do
Brasil e ao ideário defendido pelo escritor, jornalística e filósofo Olavo de Carvalho.

É importante esclarecer que o termo não é uma invenção nossa. A palavra


“bolsolavismo” já está presente em trabalhos acadêmicos e designam o mesmo
sentido que demos. Um desses trabalhos, “Uma Janela no Tempo: a ascensão do
Bolsonarismo no Brasil”, artigo científico escrito por Fernanda Rios Petrarca, traz
informações sobre como esse ideário foi construído:

No meio político os alunos a darem grande projeção às ideias de Olavo foram os três
filhos mais velhos do presidente Jair Bolsonaro: Flávio Bolsonaro (senador), Eduardo
Bolsonaro (deputado federal) e Carlos Bolsonaro (vereador pelo município do Rio de
Janeiro). A integração entre o olavismo e a família Bolsonaro deu origem ao que boa
parte dos analistas chamam de “bolsolavismo”, representado pela intensa articulação
com a direita internacional. Essa articulação ampliou espaço de atuação no governo
com nomeações para diversos setores tais como: o setor das relações internacionais,
na figura do Ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, é aquele que mais
associado está ao olavismo. Formam o seu time o olavista Filipe Martins, assessor
especial da Presidência da República para assuntos internacionais. [...] Destacam-se
também os assessores pessoais do gabinete do Presidente, portanto diretamente
vinculado a ele, e associados aos filhos de Bolsonaro. Esse grupo de assessores,
liderado por Carlos Bolsonaro e orientado por Olavo de Carvalho, deu origem ao que
se designou chamar de “gabinete do ódio” ou “gabinete ideológico”. Através deste
gabinete, tais assessores não só orientam o presidente como comandam também
várias páginas nas redes sociais [...] cujo objetivo é propagar uma campanha de intensa

1 Magda Soares, acadêmica referência em alfabetização, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo,


afirmou “estou com 86 anos e entrei na Educação quando estava com menos de 20 anos. Estou
pelejando há décadas. Já passei por várias fases, mas nunca nesse tempo todo – e olha que eu, como
aluna, vivi o Estado Novo e passei, já como professora, pela ditadura – nunca vi um período tão
assustador como esse de agora na Educação. (SEMIS, 2019).
12

polarização e agressão aos adversários produzindo conteúdo especialmente para sua


base eleitoral. (2021, p. 366-367).

Outro trabalho acadêmico que traz o termo bolsolavismo é da área da


psicologia (a tese de doutorado “Sobre a violência no Brasil: questões e problemas
para o direito e a psicologia”, de Fabio Henrique Araújo Martins). Porém, o comentário
é restrito a explicar o conceito dentro do cenário político brasileiro. Para o autor,
“bolsolavismo” é a ala ideológica do governo representada por Ernesto de Araújo e o
próprio Olavo de Carvalho. Junto com outros “4 Bs” (que são bala, boi, bíblia, bancos),
sintetizam as forças políticas que atualmente controlam o estado no Brasil (MARTINS,
2020).

Olavo de Carvalho e Jair Bolsonaro atuam em conjunto. O primeiro é o dono e


criador da “teoria” que organiza atualmente o conservadorismo brasileiro. Sua obra e
ideias influenciaram radicalmente os movimentos da direita política. Já Bolsonaro é
quem mantém a ação política, transportando o conteúdo teórico olavista para a
prática. Explicaremos a relação entre ambos adiante, mas no momento é importante
citar que ambos acreditam que estamos em uma guerra cultural.

De um lado, estão eles – conservadores que lutam pela preservação da família,


das instituições, dos bons costumes e da liberdade (de expressão, de comércio, entre
outras). Do outro lado, conforme apregoam, está o marxismo cultural, grupo composto
por setores da sociedade que quer “destruir” a civilização ocidental para implantar o
socialismo. Bolsolavistas acreditam que todos os males da cultura – feminismo, ação
afirmativa, liberação sexual, direitos LGBTQ, decadência da educação tradicional e
ambientalismo – são responsabilidade do marxismo cultural, criado pela Escola de
Frankfurt. Os adeptos do marxismo cultural são acusados de ensinar sexo e
homossexualidade às crianças, promover a destruição da família, controlar os meios
de comunicação e promover o engodo de massas, esvaziar as igrejas e incentivar o
consumo de bebidas (COSTA, 2020, p. 40).

Bolsonaro, às vésperas da posse como presidente, prometeu “combater o lixo marxista


que se instalou nas instituições de ensino”. Uma das falas mais recorrentes dos
membros do governo e de seus apoiadores tem sido a de que a vitória eleitoral de
Bolsonaro teria significado a derrota do “marxismo cultural”, inspiração teórica dos
governos de FHC, Lula e Dilma. Segundo o Ministro das Relações Exteriores, Ernesto
Araújo, em um artigo publicado logo após a posse do governo, “o marxismo cultural
governou por dentro de um sistema aparentemente liberal e democrático, construído
por meio de corrupção, intimidação e controle de pensamento”. Ricardo Vélez
Rodríguez, na sua posse como Ministro da Educação, afirmou que o “marxismo cultural
é uma coisa que faz mal para a saúde. A saúde da mente, do corpo e da alma”. (SILVA,
2020, p. 77).
13

Todas as ações do governo Bolsonaro para a educação visam a combater o


ideário progressista.

Sendo assim, no intuito de compreender melhor o contexto atual da escola,


levantamos as seguintes questões: quais são as propostas educacionais do grupo
político que está no poder? Qual é a concepção de educação e de escola que eles
mobilizam e nutrem? Quais são os limites e as possibilidades dessas concepções?
Em que fundamentos elas foram construídas?

Para responder às questões apresentadas e atingir nossos objetivos,


escolhemos realizar uma pesquisa qualitativa. Utilizamos como método a pesquisa
documental e a pesquisa bibliográfica. Foi feito um mapeamento da produção
científica publicada a partir do ano de 2016 no site Google Scholar, visando a obter
dados e informações sobre as propostas bolsolavistas para a educação. A partir da
análise dos dados coletados, identificamos quatro propostas que se sobressaem:
Escola sem Partido; homeschooling; o combate à “ideologia de gênero”; e escolas
cívico-militares. Escolhemos o ano de 2016 porque naquele ano ocorreu o
impeachment da presidente(a) Dilma Rousseff e coincidiu com o aumento de
popularidade de discursos conservadores.

A estrutura do trabalho é a seguinte: no capítulo primeiro, fazemos algumas


conceituações. Explicamos a concepção de educação, escola e ideologia que
adotamos como balizadora das análises; também explicamos o que é
conservadorismo (trazendo autores conservadores e que servem de base para a
atuação política dos movimentos de direita); e o que é o bolsolavismo, bem como
quem são Olavo de Carvalho e Jair Bolsonaro, fundadores e protagonistas da corrente
conservadora brasileira (mostraremos como eles se conheceram e começaram a
atuar em conjunto). No capítulo segundo, apresentamos a conjuntura contemporânea
a partir das manifestações de julho de 2013 até a nomeação do atual ministro da
educação, Milton Ribeiro. No capítulo terceiro são apresentadas as propostas
bolsolavistas para a educação. Por fim, em último, estão as considerações finais e as
referências, respectivamente.
14

2. METODOLOGIA

Para dar consistência às discussões propostas pela nossa pesquisa,


tomaremos como referência dois trabalhos acadêmicos, sendo duas dissertações de
mestrado publicadas no ano de 2018.

Lira (2018), em sua pesquisa, explica que o Brasil nos últimos anos tem visto o
surgimento de ideologias como o conservadorismo e o fortalecimento de um
movimento que pretende controlar o que deve ser dito na escola. Para ele, tais
movimentos nascem de reações à suposta doutrinação ideológica promovida por
professores nas salas de aulas. Lira (2018) procura identificar as forças políticas e
ideológicas que tangenciam as fundamentações e que materializam a discursividade
desse movimento. O trabalho será essencial para podermos entender o que está por
trás das ideias e movimentos conservadores.

Roseno (2018), por sua vez, tem como objetivo em sua pesquisa “compreender
a ascensão do Movimento Escola Sem Partido por intermédio da aliança feita com os
setores conservadores para excluir e proibir as políticas educacionais em gênero e
diversidade sexual no Brasil”. Tal trabalho é importante porque descreve com detalhes
como se dá o conflito entre posturas, ideias e posições conservadoras e progressistas.
Roseno (2018), em sua pesquisa, também apresenta as ações que estão sendo
tomadas pelo Movimento Escola sem Partido para, conforme seus pressupostos
conservadores e reacionários, barrar, excluir e proibir qualquer discussão de gênero
e de respeito à diversidade cultural.

Como foi anunciado na introdução, esse trabalho analisou artigos que visam a
discorrer sobre propostas conservadoras bolsolavistas para a educação. Para
responder às questões apresentadas na introdução e atingir nossos objetivos,
escolhemos realizar uma pesquisa qualitativa (FLICK, 2009) documental e
bibliográfica (SILVA; MERCADO, 2015) que se amparou na abordagem da revisão
sistemática de literatura. Essa técnica de pesquisa consiste num método de estudo
em que se analisa de forma sistêmica vários trabalhos, de gêneros e campos do
conhecimento distintos, sobre um determinado tema. A revisão sistemática de
literatura pode promover um levantamento de estudos realizados a partir de diferentes
contextos e sujeitos (RAMOS et al., 2014). Foi feito um mapeamento da produção
15

científica com foco na que foi publicada a partir do ano de 2016 no site Google Scholar,
visando a obter dados e informações sobre as propostas bolsolavistas para a
educação. Escolhemos o ano de 2016 porque naquele ano ocorreu o impeachment
da presidente(a) Dilma Rousseff e coincidiu com o aumento de popularidade de
discursos conservadores. E para complementar a pesquisa de forma geral,
procuramos outros conteúdos, como livros, artigos publicados em anais de congresso,
capítulos de livros, artigos gerais e reportagens jornalísticas.

Os critérios para a escolha dos textos foram: quantidade de citações dos


trabalhos; qualidade do referencial teórico; apresentação de contribuições inéditas
para o debate público; quando reportagem jornalística, sua relevância; além de
materiais que sintetizassem bem o conteúdo que abordamos. A plataforma Google
Scholar foi utilizada por manter em suas bases conteúdos confiáveis, técnicos,
apurados, revistos e científicos. Além disso, durante o percurso acadêmico da
graduação, essa mesma plataforma nos é apresentada como um excelente
mecanismo para efetuar pesquisas.

Em relação às reportagens jornalísticas, foi também por causa da


contemporaneidade do governo e da ausência de produções acadêmicas que
precisamos recorrer a esse gênero textual. Demos preferência para a mídia
tradicional. Em alguns momentos, todavia, foi preciso recorrer a alguns sites
específicos, como o site pessoal do escritor Olavo de Carvalho, que contém dados
importantes sobre a sua produção, currículo e biografia.

O objetivo geral deste trabalho é apresentar as propostas bolsolavistas para a


educação de forma interligada e conjunta, pois acreditamos que possuem a mesma
natureza e intencionalidade. Além do objetivo geral, podemos citar os objetivos
específicos, que são:

a) Descrever a relação que existe entre essas propostas conservadoras;


b) Compreender e descrever conceitos e quais são as bases teóricas desse
movimento conservador;
c) Analisar as propostas do governo atual para a educação brasileira;
d) Descrever que tipo de sujeito (e qual tipo de sociedade) os grupos
conservadores e progressistas desejam formar nas instituições educacionais;
16

Mas, cabe perguntar: de qual lugar surgem as propostas bolsolavistas para a


educação? Onde é possível verificar que elas existem e quais são? Ora, é possível
verificar tais propostas e saber quais são por meio: das declarações oficiais do
governo Bolsonaro; de suas promessas de campanha; das ideias defendidas
publicamente por seus apoiadores mais notórios; além dos projetos de lei, propostos
ou aprovados, oriundos de instituições públicas ou parlamentares que possuem a
mesma agenda ideológica conservadora.

Na Proposta de Plano de Governo apresentada pelo candidato Jair Bolsonaro


no ano de 2018, a educação não é extensamente trabalhada. Apesar disso, o
documento revela as intenções e propósitos para essa pauta:

• A educação é apresentada como prioridade junto à segurança e à saúde. (TSE,


p. 10).
• Deseja-se dar um salto de qualidade na educação, mas com ênfase na infantil,
básica e técnica, sem doutrinar. (TSE, p. 22).
• As Forças Armadas são invocadas no processo de atendimento da saúde e da
educação da população. (TSE, p. 34).
• Diz-se que o conteúdo e método de ensino precisam ser mudados: “mais
matemática, ciências e português, sem doutrinação e sexualização
precoce”. (TSE, p. 41).
• Propõe-se, além de mudar o método de gestão, na educação revisar e
modernizar o conteúdo (currículo escolar). Isso inclui a alfabetização,
expurgando a ideologia de Paulo Freire, mudando a Base Nacional
Comum Curricular (BNCC), impedindo a aprovação automática e a própria
questão de disciplina dentro das escolas. (TSE, p. 46).
• Propõe-se a educação à distância. “Deveria ser vista como um importante
instrumento e não vetada de forma dogmática”. Deve ser considerada como
alternativa para as áreas rurais. (TSE, p. 46).
• Nas considerações finais, coloca-se que é objetivo do governo “brigar para que
os jovens tenham um futuro e [...] não fiquem desamparados por [...] uma
educação aparelhada ideologicamente”. (TSE, p. 80).

Quando se fala em doutrinação, ou quando é escrito que o objetivo é expurgar


a ideologia de Paulo Freire, rememora-se o projeto Escola sem Partido. Quando se
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fala em sexualização precoce, rememora-se o combate à “ideologia de gênero”. Ao


dizer que se deve impedir a indisciplina nas escolas, ou que as Forças Armadas
devem ser invocadas no processo de atendimento educacional da população,
rememora-se o projeto das escolas cívico-militares. Por fim, quando se traz a questão
do ensino à distância, é possível relacionar a prática com o homeschooling. Vale
lembrar que para essas duas últimas propostas, escolas cívico-militares e
homeschooling, o governo Bolsonaro já produziu projetos de lei, decretos e portarias
que defendem o seu conteúdo.

Olavo de Carvalho, por outro lado, é um crítico do Escola sem Partido, mas não
se posiciona de maneira contrária à proposta ou sua natureza. Ele diz que o problema
é muito centrado em mudar a legislação, mas pouco íntimo do combate cultural. Isto
é, para Olavo de Carvalho a mudança legislação, apesar de positiva, não é suficiente
para “resolver o problema da doutrinação nas escolas” em longo prazo ou de forma
efetiva. Complementarmente, se posiciona favorável ao homeschooling, pois:

a pretexto de educar nossos filhos, [politiqueiros e manipuladores ideológicos] lhes


impõe [por intermédio da escola] todo um sistema de deformidades mentais e morais
para fazer deles idiotas criminosos à imagem e semelhança de nossos governantes.
[...] Carlos Artexes Simões não percebe a monstruosidade comunofascista que profere
ao declarar que “a escola ainda é a vanguarda do ponto de vista do conhecimento
necessário para a construção de um Estado republicano”. [...] Não sabe ele que tipo de
socialização nossas crianças encontram nas escolas públicas? Não sabe que estas
são fábricas de desajustados, de delinqüentes, de criminosos? Não sabe que, em nome
da socialização, as condutas piores e mais violentas são ali incentivadas pelo próprio
governo que ele representa? Não sabe que agredir professores, destruir o patrimônio
das escolas, consumir drogas, entregar-se a obscenidades em público, são atos
considerados normais e até desejáveis nessas instituições do inferno? Não sabe ele
que há um crescimento proporcional direto da criminalidade infanto-juvenil à medida
que se amplia a escolarização? (CARVALHO, 2019).

Ao ler esse trecho, pode parecer que a preocupação de Olavo de Carvalho não
é, em sua essência, ideológica, mas sim em relação à qualidade das escolas. No
entanto, vale lembrar que ele acredita que “a criminalidade nas escolas” só acontece
por conta da doutrinação de esquerda. Para ele, os “manipuladores ideológicos” visam
a fomentar a criminalidade para que, através dela, a revolução socialista aconteça:

Logo após a tomada do poder pelos comunistas na Rússia, a política oficial era
fomentar o sexo livre, criando assim uma geração de jovens sem família para incentivar
a criminalidade juvenil e liquidar pela confusão o que restasse da “ordem burguesa” [...]
a URSS começou a treinar agentes para que se infiltrassem nas então incipientes redes
de tráfico de drogas — especialmente na América Latina — e as dominassem por
dentro, criando uma futura fonte local de subsídios para o movimento revolucionário,
que estava saindo caro demais para o bolso soviético. Essa foi a origem remota das
Farc, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, que hoje dominam o narcotráfico
no continente. (CARVALHO, 2013, p. 505-506).
18

Ao ter contato com outros artigos de sua autoria, fica claro que ele acredita que
a educação é dominada por marxistas:

A partir dos anos 1980, a elite esquerdista tomou posse da educação pública, aí
introduzindo o sistema de alfabetização “socioconstrutivista”, concebido por pedagogos
esquerdistas como Emilia Ferrero, Lev Vigotsky e Paulo Freire para implantar na mente
infantil as estruturas cognitivas aptas a preparar o desenvolvimento mais ou menos
espontâneo de uma cosmovisão socialista, praticamente sem necessidade de
“doutrinação” explícita. (CARVALHO, 2013, p. 350).

Assim, acaba se posicionando também contrário à “ideologia de gênero”. Para


ele,

aplicada à educação, [a ideologia de gênero] destrói nas crianças a capacidade de


distinguir entre realidade e fantasia, entre ser e parecer, e cria uma geração de
pequenos imbecis que, ao chegar à universidade, não servirão para mais nada além
de se divertir, bater pezinho com exigências impossíveis, e fazer uma confusão dos
diabos com o pouco que tiverem conseguido aprender. (CARVALHO, 2016).

Olavo de Carvalho ainda não se declarou contrário ou favorável à proposta das


escolas cívico-militares. Mas, assim como as outras as propostas que estamos
analisando, dezenas de seus seguidores mais influentes já se posicionaram a favor.

Este trabalho está dividido em três capítulos. O primeiro trata das


conceituações gerais; o segundo contextualiza historicamente o Brasil
contemporâneo; e o terceiro explora as propostas bolsolavistas, descrevendo e
analisando cada uma delas. Para cada uma dessas partes, foram selecionados textos,
conforme o critério estabelecido acima. No entanto, para o terceiro capítulo, a escolha
de textos seguiu um percurso diferente. Nesse aspecto, foi feita uma busca por textos
que trouxessem em seu título, resumo ou palavras-chave certos descritores, a
exemplo dos mesmos utilizados Rocha (1999) e Gonçalves (2011). Escolhemos
“escola sem partido”, “ideologia de gênero”, “homeschooling”, e “escolas cívico-
militares” porque são os títulos que as propostas recebem.

De modo a expor as escolhas, abaixo compartilhamos três tabelas contendo os


textos escolhidos. Cada tabela é referente a um capítulo do trabalho.

Tabela 1: Textos selecionados para o capítulo 1

Ano de
Autor Título publicação Natureza do texto
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A trajetória da extrema-direita no Brasil:


Guilherme Inácio F. integralismo, neonazismo e Artigo publicado em
Andrade revisionismo histórico (1930-2012) 2013 anais de congresso
Artistas criticam declarações do novo Reportagem
Redação (G1) presidente da Funarte 2019 jornalística
Bolsonaro apresenta proposta ao PP
Eduardo Barretto (O para concorrer à presidência da Reportagem
Globo) República 2014 jornalística
Carlos Rodrigues
Brandão O que é educação? 1981 Livro
Olavo de Carvalho diz que aceitaria ser
Danielle Brant (Folha embaixador nos EUA do governo Reportagem
de S.Paulo) Bolsonaro 2018 jornalística
O golpe nas ilusões democráticas e a
ascensão do conservadorismo
Marcelo Braz reacionário 2017 Artigo científico
O mínimo que você precisa saber para
Olavo de Carvalho não ser um idiota 2013 Livro
Olavo de Carvalho;
Alaôr Caffé Alves Marxismo, direito e sociedade 2003 Livro
Olavo de Carvalho;
Alexandre Dugin Os EUA e a Nova Ordem Mundial 2012 Livro
Russell Norman
Champlin; João Enciclopédia de Bíblia, Teologia e
Marques Bentes Filosofia 1991 Livro
Cultura e democracia: o discurso
Marilena Chauí competente e outras falas 2007 Livro
Marilena Chauí Ideologia e educação 1980 Artigo científico
Marilena Chauí O que é ideologia? 2008 Livro
Desttut de Tracy Élémens d'idéologie 1817 Livro
"Destruição é a agenda do
tradicionalismo", a ideologia por trás de Reportagem
Letícia Duarte (El país) Bolsonaro e Trump 2020 jornalística
Inés Dussel; Marcelo A invenção da sala de aula: uma
Caruso genealogia das formas de ensinar 2003 Livro
Monarquistas ocupam cargos em
João Fellet (BBC Brasília e reabilitam grupo católico Reportagem
Brasil) ultraconservador 2019 jornalística
Gabriela Nunes
Ferreira; André
Botelho Revendo o pensamento conservador 2010 Artigo científico
O casamento entre a extrema-direita e o
João Filho (The movimento antivacina é um perigo para Reportagem
Intercept Brasil) o mundo 2019 jornalística
Leandro Pereira
Gonçalves; Odilon O fascismo em camisas verdes: do
Caldeira Neto integralismo ao neointegralismo 2020 Livro
Serge Halimi (Le Reportagem
Monde Diplomatique) Un débat intellectuel em trompe-l'oiel 2003 jornalística
Pequeno dicionário enciclopédico
Antônio Houaiss Koogan-Larousse 1987 Livro
20

Russel Kirk A política da prudência 2014 Livro


Karl Marx; Friedrich
Engels A ideologia alemã 1998 Livro
Robert K. Merton Ensaios de sociologia da ciência 2013 Livro
Marcelo Tavares Sexualidades ameaçadoras: religião e
Natividade; Leandro de homofobia (s) em discursos evangélicos
Oliveira conservadores 2009 Artigo científico
"Nazismo de esquerda": o absurdo virou Reportagem
Clarissa Neher (DW) discurso oficial em Brasília 2019 jornalística
Michael Oakeshott Ser conservador 2014 Livro
Antônio Severino Educação, ideologia e contra-ideologia 1986 Livro
Documentos de identidade: uma
Tomaz Tadeu da Silva introdução às teorias de currículo 2010 Livro
Ideologia e cultura moderna: teoria
social crítica na era dos meios de
John Thompson comunicação de massa 2000 Livro
Gustavo Uribe; Pedro Apoiadores de Bolsonaro fazem ato pró-
Ladeira; Wálter Nunes intervenção, e opositores usam cruzes Reportagem
(Folha de S. Paulo) para criticar governo 2020 jornalística
Redação (Folha de Veja a biografia de Jair Bolsonaro, Reportagem
S.Paulo) presidente eleito do Brasil 2018 jornalística

Percepções de um contrato racial na


trajetória educacional dos negros no
Brasil: estudo a partir da
representatividade dos negros no Dissertação de
Bruna Marcos Velho município de Concórdia, SC 2020 mestrado
Olavo de Carvalho Curriculum 2017 Site oficial

Tabela 2: Textos selecionados para o capítulo 2

Ano de
Autor Título publicação Natureza do texto
Antipresidente: o passo torto de Reportagem
Redação (Carta Capital) Bolsonaro em 7 dias de governo 2019 jornalística
Henrique Braga; Paulo
Nakatani (Debates em A PEC 55: Inconsistência e
Rede) Alternativa 2016 Artigo
Fórum Nacional de
Educação Nota do FNE sobre a BNCC 2017 Nota oficial
Entenda as polêmicas sobre os
títulos acadêmicos do novo ministro
da Educação, Carlos Alberto
Redação (G1) Decotelli 2020 Nota oficial
Texto para discussão - Reforma do
Pensar a Educação Ensino Médio - MP 746/2016 2016 Artigo
21

Vélez Rodrigues nomeia segundo


mais votado para Instituto de Reportagem
Larissa Infante (Época) Educação de Surdos e gera protestos 2019 jornalística
Para entender a dimensão brutal do
Lívia Li desmonte do ensino médio 2016 Artigo
A reforma do ensino médio do
governo Temer: corrosão do direito
Marcelo Lima; Samanta à educação no contexto de crise do
Lopes Maciel capital no Brasil 2018 Artigo científico
Manifestações contra cortes na Reportagem
Redação (Estadão) educação atingem todas as capitais 2019 jornalística
Ministro da Educação pede que
diretores de escolas toquem hino Reportagem
Renata Mariz (O Globo) para alunos e gravem 2019 jornalística
Marcada por polêmicas e cortes,
Humberto Martins gestão de Abraham Weintraub na Reportagem
(Estado de Minas) Educação está perto do fim 2020 jornalística
BNCC atrasada, Future-se sem
Ana Carolina Moreno prazo e os embates do ministro: o Reportagem
(G1) ano da educação em 10 pontos 2019 jornalística

Hugo Passarelli (Valor Ideia de universidade para todos não Reportagem


Econômico) existe', diz ministro da Educação 2019 jornalística
Montanha russa da Educação: os 30
Paula Peres; Laís Semis primeiros dias do MEC de Reportagem
(Nova Escola) Bolsonaro 2020 jornalística
‘O desafio da escola está não só em
incorporar os interesses dos jovens,
Marise Ramos; Raquel mas em educar esses próprios
Júnia interesses’ 2016 Entrevista
Giovanna Romano MEC exonera dez servidores após Reportagem
(Veja) polêmica com livros didáticos 2019 jornalística
Pedro Rossi; Esther Impactos do novo regime fiscal na
Dweck saúde e educação 2016 Artigo científico
Vélez desmonta secretaria de
Paulo Saldaña (Folha de diversidade e cria nova subpasta de Reportagem
S.Paulo) alfabetização 2019 jornalística
Análise da medida provisória sobre
alterações curriculares do ensino
Carlos Artexes Simões médio na LDB 2016 Artigo
Veja as principais ações de
Abraham Weintraub no Ministério Reportagem
Redação (GHZ) da Educação 2020 jornalística

Tabela 3: Textos selecionados para o capítulo 3


22

Ano de
Autor Título publicação Natureza do texto Proposta
Bolsonaro lança
programa para
Luciana Amaral implementar escolas Reportagem Escolas cívico-
(Uol) cívico-militares 2019 jornalística militares
João Guilherme da Educação domiciliar
Silva Arruda; no Brasil: panorama
Fernando de Souza frente ao cenário
Paiva contemporâneo 2017 Artigo científico Homeschooling

Diferencial de
desempenho de
alunos das escolas
Alesandra de Araújo militares: o caso das
Benevides; Ricardo escolas públicas do Escolas cívico-
Brito Soares Ceará 2020 Artigo científico militares
Maquiavel
Pedagogo: ou o
ministério da reforma Escola sem
Pascal Bernardin psicológica 2012 Livro Partido
Lei nº. 12.852 de 05 Ideologia de
Brasil de agosto de 2013 2013 Legislação Gênero
Projeto de Lei nº.
Poder Executivo 2.401 de 2019 2019 Legislação Homeschooling

O que os professores
(não) podem dizer?
A experiência
Tatiana Feitosa de canadense e a Escola sem
Britto "Escola sem Partido" 2019 Artigo científico Partido
Problemas de gênero:
feminismo e
subversão da Ideologia de
Judith Butler identidade 2013 Livro Gênero
Estudantes de
Renato Cafardo; colégios militares
Roberta Jansen custam três vezes Reportagem Escolas cívico-
(Estadão) mais ao país 2018 jornalística militares

O projeto reacionário
Luiz Antônio Cunha de educação 2016 Artigo Homeschooling
Escolas Cívico-
Loise da Nova; militares: uma nova
Alinne de Lima face das Escolas sem Artigo publicado em Escolas cívico-
Bonetti Partido? 2020 anais de congresso militares
Escola sem Partido Ensino, educação e Escola sem
(Site oficial) doutrinação 2019 Site oficial Partido
Escola sem Partido Sobre o Escola sem Escola sem
(Site oficial) Partido 2019 Site oficial Partido
Folha Informativa - Ideologia de
OPAS Brasil Gênero 2015 Documento oficial Gênero
23

Pedagogia da
autonomia: saberes
necessários à prática Escola sem
Paulo Freire educativa 1996 Livro Partido

O "homeschooling" e
Andrei Cavalcanti as novas formas de
Lopes Goés; Marcus educar no Brasil: um
Vinícius da Silva diálogo entre o
Pereira de Souza direito e pedagogia 2019 Artigo científico Homeschooling
Pequeno dicionário
enciclopédico Escola sem
Antônio Houaiss Koogan-Larousse 1987 Livro Partido

"Ideologia de
gênero": a gênese de
uma categoria
política reacionária-
ou: a promoção dos
direitos humanos se
Rogério Diniz tornou uma "ameaça Ideologia de
Junqueira à família natural" 2017 Artigo científico Gênero
Escola sem Partido:
Iana Gomes de Lima; análise de uma rede
Alvaro Moreira conservadora na Escola sem
Hypolito educação 2020 Artigo científico Partido
Ideologia de gênero:
Marcos Felipe tensões e
Gonçalves Maia; desdobramentos na Ideologia de
Damião Rocha educação 2017 Artigo científico Gênero

“Fake news acima de


Eduardo Meinberg de tudo, fake news
Albuquerque acima de todos”:
Maranhão; Fernanda Bolsonaro e o “kit
Marina Feitosa gay”, “ideologia de
Coelho; Tainah Biela gênero” e fim da Ideologia de
Dias “família tradicional” 2018 Artigo científico Gênero

Sobre os dias atuais:


neoconservadorismo,
escolas cívico-
militares e o
André Antunes simulacro da gestão Escolas cívico-
Martin democrática 2019 Artigo científico militares

O que o governo
ainda precisa
explicar sobre o
funcionamento das
Letícia Mori (BBC escolas cívico- Reportagem Escolas cívico-
Brasil) militares 2019 jornalística militares
A educação brasileira
Paulo Gabriel na mira do
Soledade Nacif; obscurantismo e
Penildon Silva Filho Estado mínimo 2019 Capítulo de livro Homeschooling
24

O mito da "ideologia
de gênero" nas
escolas: uma análise
sociológica da
Rayane Dayse da tentativa
Silva Oliveira; Erika conservadora de
Oliveira Maia silenciar o Escola sem
Batalha pensamento crítico 2017 Artigo científico Partido

Comissão
Internacional de
Juristas, do Serviço
Internacional de Princípios de Ideologia de
Direitos Humanos Yogyakarta 2007 Documento oficial Gênero

O pensamento
conservador e a sua
relação com práticas
discriminatórias na
José Antônio educação: a
Miranda Sepulveda; importância da Escola sem
Denize Sepulveda laicidade 2016 Artigo Partido
Em busca de
significados para a
Ivanderson Pereira da expressão “ideologia Ideologia de
Silva de gênero” 2019 Artigo científico Gênero
O escola sem partido
Michel Goulart da como expressão do Escola sem
Silva ideário militar 2018 Artigo científico Partido

STF nega recurso


que pedia
reconhecimento de
direito a ensino Reportagem
Redação (STF) domiciliar 2018 jornalística Homeschooling
Supremo derruba lei
de Alagoas inspirada
Redação (Estado de no "Escola sem Reportagem Escola sem
Minas) Partido" 2020 jornalística Partido

Após a escolha dos textos, foi realizada a leitura desses, seguida da elaboração
do resumo com preenchimento de quadros de análise com os possíveis elementos
que identificassem, para cada capítulo, as principais conceituações, acontecimentos
ou descrições das propostas.

Esclarecemos ainda que nossa análise foi composta, assim como o trabalho de
Gonçalves (2011), por quatro fases: a) pré-análise; b) exploração do material; c)
tratamento dos resultados; e d) interpretação. A pré-análise envolveu a leitura e o
destaque dos elementos comuns e incomuns que apareciam nos textos. Na
exploração do material, enfatizamos os pontos em comum dos autores, mas também
25

destacamos alguns conflitos entre eles em relação ao tema. Na terceira fase,


relacionada ao tratamento e interpretação, preenchemos a ficha 1, de modo a
organizar todo o trabalho:

Ficha 1 (atende ao objetivo geral)

Artigo: _______________________________________________________

Objetivo:______________________________________________________

1) Identificação dos elementos:

_____________________________________________________________

2) Expor a definição de cada elemento sugerido pelo autor(a):

Elemento Definição

Após esse procedimento, fizemos a separação por noção, acrescidas das


definições que apareciam nos textos.

Ficha 2 (atende aos objetivos específicos)

Elemento:_____________________________________________________

Autor/ano Definição Consenso Conflito Desdobramento


interpretativo

Nessa última fase, selecionamos as noções mais importantes retiradas dos


autores lidos, de forma a analisá-las mediante nosso referencial teórico. A análise
procedeu-se da seguinte maneira: entre os textos selecionados, com o intuito de
desenvolver as ideias dos autores, respeitamos a ordem cronológica dos
26

acontecimentos, de forma a possibilitar aos leitores a compreensão da evolução da


constituição das propostas bolsolavistas.
27

3. CAPÍTULO 1: CONCEITUAÇÕES GERAIS

Nesta primeira parte do trabalho, surge a necessidade de explicar alguns


conceitos e termos. A explicação desses não é em relação ao seu significado no
dicionário, mas sim ao que esse conceito significa para a academia. As posições dos
autores sobre a significação dessas palavras carregam um debate longo sobre o que
é cada uma. Alguns autores nutrem posições de acordo com as escolas de
pensamento às quais pertencem. Já outros têm suas conclusões baseadas em
pesquisas científicas próprias. Em alguns casos, precisaremos recorrer a conceitos
das próprias escolas de pensamento que os “criaram”. Citar o que os próprios
conservadores pensam sobre o conservadorismo, por exemplo, dá um panorama
melhor sobre como eles pensam, como agem e como planejam suas ações enquanto
movimento político organizado.

Os primeiros conceitos a serem explicados para dar um pano de fundo ao


trabalho serão “educação”, “escola”, “ideologia” e “conservadorismo”.

Em todos os aspectos da sociedade a educação está presente. Nenhuma


instituição social ou indivíduo “foge” ou deixa de ter contato com ela. A educação está
em todo lugar e não só na escola: nas ruas, comunidades religiosas, no trabalho etc.
E todos estamos envolvidos porque aprendemos, ensinamos e ensinamos-
aprendendo a todo instante.

No entanto, existem várias concepções sobre o que é educação. Essas variam


conforme o pensador, a sociedade e a cultura. Os nativos americanos, por exemplo,
compreendem a educação de outro jeito, diferente da nossa sociedade ocidental 2.

2 Carlos Rodrigues Brandão escreve em seu livro “O que é educação?” que alguns estados dos Estados
Unidos da América “assinaram um tratado de paz” com movimentos nativos americanos. “Como as
promessas e os símbolos da educação sempre foram muito adequados a momentos solenes como
aquele, logo depois os seus governantes mandaram cartas aos nativos para que enviassem alguns de
seus jovens às escolas dos brancos”. Brandão, então, esclarece que os chefes nativos responderam
agradecendo a proposta, mas recusando tal iniciativa. A carta dizia que, apesar de eles (os nativos)
estarem “convencidos que os senhores [colonizadores] desejavam o bem”, reconheciam que
“diferentes nações têm concepções diferentes das coisas” e, sendo assim, a recusa não deveria ser
vista uma ofensa, pois “a ideia de educação dos colonizadores não era a mesma que a deles”. Segundo
eles, “muitos dos seus bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a
‘ciência’ europeia – mas, quando eles voltavam para casa, eles eram maus corredores, ignorantes da
vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e a fome”. Eles “não sabiam como caçar o veado,
matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa língua muito mal”. Eram, portanto,
“totalmente inúteis”.
28

Para eles, a educação deve “criar” um membro da sua comunidade, capacitando-o


para viver com determinadas habilidades necessárias ao meio em que vive.

Assim sendo, não há um único modelo de educação – e nenhum que seja


correto e perfeito. Também ressaltando o que foi dito anteriormente: a escola não é o
único lugar onde a educação pode existir e, talvez, nem seja o melhor (BRANDÃO,
1981).

Se pesquisarmos em um dicionário, a definição para o verbete “educação” que


encontramos é a que segue:

EDUCAÇÃO: s.f. Ação de desenvolver as faculdades psíquicas, intelectuais e morais;


a educação da juventude. / Resultado dessa ação. / Conhecimento e prática dos
hábitos sociais; boas maneiras: homem sem educação. / Educação nacional, conjunto
de órgãos encarregados da organização, da direção e da gestão de todos os graus do
ensino público, bem como da fiscalização do ensino particular. (HOUAISS, 1987, p.
291).

A partir do significado desse vocábulo, podemos tirar algumas breves


conclusões: a função da educação é desenvolver o conhecimento e a inteligência; a
educação é o ensino de algum conteúdo; a educação é aprendizado de uma cultura
e, por conta disso, está sujeita a ideologias e aos costumes sociais (sendo um produto
da sociedade que a constrói); a educação é uma instituição social; a educação é uma
pauta governamental; a educação consiste de um programa ou projeto; e, por fim, a
educação é um direito.

Se pesquisarmos nas ciências humanas, contudo, cada autor trará uma


concepção diferente sobre o que é educação ou sobre como ela deve ser (organizar-
se). É comum que os autores de educação possuam algum tipo de proposta em
relação a ela, mas nem sempre isso é a regra, principalmente para os filósofos da
educação. Para Platão, por exemplo, a educação era necessária para a concretização
da República (a sua ideal compreensão de como o Estado deveria se organizar
socialmente). Para Komensky, a educação deveria ser feita por meio de um sistema
de aprendizagem graduado e internacional, com alguns elementos comuns, os quais
poderiam levar a uma maior compreensão entre os povos e, por conseguinte, à
harmonia e à união de todos. (CHAMPLIN; BENTES, 1991).

Para Rousseau, a educação não estava em “encher a cabeça da criança” com


um método que “obriga a repetição e impõe coisas”. Aliás, para ele, é esse o tipo de
educação que corrompe as crianças. Elas nascem boas, isto é, são boas por natureza.
29

Assim sendo, é desejável que o desenvolvimento siga esse mesmo curso, um


caminho natural. Rousseau entendia que a criança deveria aprender com a natureza
(para ele, a natureza era perfeita) e de acordo com uma “ordem” (uma lógica, “ordem
natural das coisas”, tanto é que a primeira noção ensinada, por exemplo, era a de
propriedade). E cabia ao professor guiar a criança, de modo que ela identificasse os
preceitos por si mesma. A educação negativa (uma de suas ideias centrais na
educação) seria construída e percebida pela própria criança, sem que ela tivesse
contato com “aquilo que pervertesse/corrompesse a sociedade”. Esse modelo de
educação seguia até a idade adulta, para garantir que a criança continuasse “pura”
(sem contato com o que corrompe a sociedade, ela não seria corrompida). Não havia
liberdade – se havia era rigorosamente vigiada e disciplinada – mas isso era para o
bem de todos, inclusive da própria criança. O objetivo era, no fim das contas,
“domesticar”: se a criança desde cedo permanecesse pura, se lhe dessem a base de
uma personalidade autônoma, reflexiva, que controlasse os seus impulsos e que
respeitasse a autoridade do professor (esse veladamente só permitia à criança fazer
o que ele desejava que ela fizesse), com certeza esta criança seria uma defensora,
além de participante ativa, de uma sociedade burguesa. Ela seria livre e respeitaria o
contrato social, sem desvios. (DUSSEL; CARUSO, 2003; CHAMPLIN; BENTES,
1991).

Para Pestolazzi, cada indivíduo deveria buscar a verdade, envolvendo tanto a


experiência social quando a experiência religiosa. Para Froebel, seria a função do
professor estimular a atividade voluntária por parte dos alunos, o que é a base de toda
pesquisa. Para Herbart, os alvos éticos, incluindo a liberdade interna e a benevolência,
deveriam ser um alvo importante da educação. Para John Dewey, a educação não
deve consistir em apenas preparação para alguma carreira. Em seu sistema, o futuro
é mais importante que o passado e deve-se buscar a solução dos problemas sociais,
seguindo métodos científicos. (BRANDÃO, 1981).

Para Mannheim, em uma sociedade dinâmica como a nossa, só pode ser eficaz
uma educação para a mudança. Esta consiste na formação do espírito isento de todo
dogmatismo, que capacite a pessoa para elevar-se acima da corrente dos
acontecimentos, em vez de arrastar-se por eles. Para Ortega y Gasset, se a educação
é transformação de uma realidade, de acordo com uma ideia melhor que possuímos,
e se a educação só pode ser de caráter social, resultará que a pedagogia é a ciência
30

de transformar a sociedade. Para Durkheim, a educação é a ação exercida pelas


gerações adultas sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a
vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver na criança certo número de estados
físicos, intelectuais e morais reclamados pela sociedade política no seu conjunto e
pelo meio espacial a que a criança, particularmente, se destina. (BRANDÃO, 1981).

Para Brandão (1981), “a educação pode existir livre e, entre todos, pode ser
uma das maneiras que as pessoas criaram para tornar comum, como saber, como
ideia ou crença aquilo que é comunitário como bem, como trabalho ou como vida”. É,
assim, uma fração do modo de vida3. Ele ainda completa, afirmando que educação é:

“[...] como outras, uma fração do modo de vida dos grupos sociais que a criam e
recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em sua sociedade. Formas de
educação que produzem e praticam, para que elas reproduzam, entre todos os que
ensinam-e-aprendem, o saber que atravessa as palavras da tribo, os códigos sociais
de conduta, as regras do trabalho, os segredos da arte ou da religião, do artesanato ou
da tecnologia que qualquer povo precisa para reinventar, todos os dias, a vida do grupo
e a de cada um de seus sujeitos, através de trocas sem fim com a natureza e entre os
homens, trocas que existem dentro do mundo social onde a própria educação habita,
e desde onde ajuda a explicar — às vezes a ocultar, às vezes a inculcar — de geração
em geração, a necessidade da existência de sua ordem”. (BRANDÃO, 1981, p. 33).

Diante de tantas considerações, podemos fazer alguns apontamentos e tentar


achar um meio-termo. A educação é um fenômeno social. Por isso, é o ser humano
que cria e que transforma, com o trabalho e a (sua) consciência, partes da natureza
em invenções de sua cultura (por meio do tempo e da comunicação constante consigo
e com os outros). No caso da educação, são as diversas situações, de aprender e
ensinar, cotidianas e sociais, que vão conduzindo a sua mudança. Afinal, para ajustar
uma criança à sua comunidade, ela precisa ser educada de acordo com os valores
(que se alteram ao longo da história) da sua determinada tribo.

Na aldeia, todos de alguma forma se envolvem com a criação dos seus filhos.
Nas outras sociedades, a educação é tratada diferente. Muitos, por exemplo,
nomearam interventores específicos e com certo grau de formação para ensinar os
pequenos. Os espaços, a forma, o conteúdo, o que se ensina, enfim – tudo varia. O
que é interessante observar é que, em nenhuma sociedade, primária ou complexa, as
pessoas crescem a esmo e aprendem ao acaso4. A educação é uma fração da

3 É por isso que os índios citados no exemplo anterior sabiam que a educação do colonizador e seu
modo de vida não serviam para a sua cultura e para seu povo.
4 E por conta disso, todas estão associadas a uma ideologia e a um projeto. Falaremos disso em breve.
31

experiência endoculturativa. Isto é, ela aparece sempre que há relações entre pessoas
que aprendem e ensinam. (BRANDÃO, 1981).

Para Brandão, por exemplo, “quando um povo alcança um estágio complexo


de organização social e cultural, quando ele enfrenta a questão da divisão social do
trabalho e, portanto, do poder, é que ele começa a viver e a pensar como problema
as formas e os processos da transmissão do saber”. Aliás, essa questão é facilmente
comprovada. A escrita surgiu em sociedades economicamente ricas, pois os grandes
proprietários (no caso, principalmente reis e governantes) precisavam registrar o que
tinham. É assim, então, que surge a escola.

Mesmo em algumas sociedades primitivas, quando o trabalho que produz os


bens e quando o poder que reproduz a ordem são divididos e começam a gerar
hierarquias sociais, também o saber comum da tribo se divide. Começa-se a distribuir
desigualmente e pode passar a servir ao uso político de reforçar a diferença no lugar
de um saber anterior.

Emergem tipos e graus de saber que correspondem desigualmente a diferentes


categorias de sujeito (o rei, o sacerdote), cada um de acordo com sua posição social
no sistema. É nesse cenário que surge a escola5.

Caso pesquisemos em algum dicionário, a definição para o verbete “escola”


que encontraremos é esta:

ESCOLA s.f Estabelecimento onde se ensina: ir à escola / Conjunto dos adeptos de


um mestre ou de uma doutrina filosófica, literária, etc.; essa própria doutrina: a escola
racionalista / Conjunto dos artistas de uma mesma nação, de uma mesma cidade, de
uma mesma tendência: a escola francesa, a escola de Paris; a escola do Recife; a
escola impressionista. / O que proporciona instrução, experiência: a obra de Corneille
é uma escola de grandeza. // Estar em boa escola, conviver com pessoas idôneas. //
Fazer escola, ter muitos seguidores. (HOUAISS, 1987, p. 326).

Escola, em si, é o ambiente onde se ensina. Porém, é mais do que isso: é uma
instituição social. E o seu surgimento tem um intuito, que é cumprir as exigências
sociais de formação de tipos concretos de pessoas na e para a sociedade. A
educação, portanto, é prática social que produz sujeitos sociais. E essa prática
acontece na escola.

5Em certo momento, inclusive, a educação da comunidade, que até então reproduzia a igualdade,
passa a reproduzir a desigualdade devido a essas diferenças que são tratadas como naturais. É a
educação que separa o nobre do plebeu.
32

Esse fenômeno do surgimento da escola é um modo próprio de educar – por


isso, é diferente de uma cultura para outra – mas, em todo caso, necessária à vida e
à reprodução da ordem de cada tipo de sociedade, em cada momento de sua história.

A escola não é neutra nem pura. O seu próprio surgimento já é um indicativo


de que ela possui um propósito. A ideia de que não existe coisa alguma de social na
educação; de que, como a arte, ela é “pura” e não deve ser corrompida por interesses
e controles sociais, pode ocultar o interesse político de usar a educação como uma
arma de controle e dizer que ela não tem nada a ver com isso. Mas o desvendamento
de que a escola é uma prática social pode ser também feito numa direção ou noutra
e, tal como vimos antes, pode se dividir em ideias opostas, situadas de um lado ou de
outro da questão.

As armas não tinham conseguido submeter os povos inimigos de qualquer


nação a não ser parcialmente. (BRANDÃO, 1981). É responsabilidade da educação,
por meio da escola, institucionalizar o domínio. Todos esses processos de domínio ou
consolidação de poder têm, como pano de fundo, uma ideologia.

Quando falamos de ideologia, temos que nos atentar ao fato de que existem
várias concepções. E antes de explicar as concepções e os conceitos com os quais
deparamos, quando falamos de “ideologia”, encontramos um conceito sociológico
muito forte que é difundido no senso comum. Aliás, podemos dizer que o debate
público sobre ideologia atribui como conceito apenas o significado do verbete
“ideologia”.

Sociologicamente, ideologia é um conjunto de ideias convergentes de ordem


política, econômica e social, como um sistema de ideias sustentadas por um grupo
social, sobre as quais eles refletem, racionalizam e defendem os próprios interesses
ou compromissos institucionais que sejam morais, religiosos ou de qualquer outra
natureza social. Segundo a maioria dos dicionários, ideologia também pode ser
significada como uma religião. Russell Norman Champlin e João Marques Bentes
(1991), por exemplo, trabalham com essa conceituação de ideologia. Para eles, “em
sentido positivo, ideologia significa qualquer sistema de ideias e normas que orienta a
maneira de pensar e de agir das pessoas. Aponta para ideias e maneiras de pensar
que caracterizam um grupo particular, bem como os ideais que guiam a conduta desse
grupo”.
33

Segundo Thompson (2000), é possível identificar dois tipos de concepção de


ideologia: uma crítica e outra neutra. A concepção neutra considera algum fenômeno
como ideológico um conjunto de ideias, sem necessariamente dizer se elas são
ilusórias (no sentido de enganar). Por outro lado, a concepção crítica é aquela que vê
um sentido negativo ou pejorativo em qualquer fenômeno dito “ideológico”.

Um exemplo de concepção crítica de ideologia é a que relaciona o pensador


francês Destutt de Tracy com o momento político de Napoleão Bonaparte na França
oitocentista. Quem hoje usa o controvertido e pejorativo termo ideologia sem conhecer
sua origem ficará surpreso ao descobrir que Tracy (1817) usou-o para nomear a sua
“ciência das ideias”, cujo objeto de estudo seriam a origem e a formação das ideias.
A idéologie seria não apenas uma ciência, mas uma ciência da natureza vinculada ou
subordinada à zoologia. Para ele, “só temos conhecimento incompleto de um animal
se não conhecermos suas faculdades intelectuais. A ideologia faz parte da Zoologia,
e é especialmente no homem que essa parte é importante e merece ser aprofundada”.
(p. 5).

A depreciação do termo ideologia ter-se-ia originado com Napoleão Bonaparte.


O imperador conquistou o poder com o apoio dos intelectuais filiados ao projeto de
Tracy, os quais logo se decepcionaram com o caráter autoritário de Napoleão. Não
bastasse o afastamento, as opiniões dos ideólogos destoavam das ambições políticas
do imperador.

O sentido pejorativo dos termos “ideologia” e “ideólogos” veio de uma declaração de


Napoleão, que, num discurso ao Conselho de Estado em 1812, declarou: “Todas as
desgraças que afligem nossa bela França devem ser atribuídas à ideologia, essa
tenebrosa metafísica que, buscando com sutilezas as causas primeiras, quer fundar
sobre suas bases a legislação dos povos, em vez de adaptar as leis ao conhecimento
do coração humano e às lições da história”. Com isso, Bonaparte invertia a imagem
que os ideólogos tinham de si mesmos: eles, que se consideravam materialistas,
realistas e antimetafísicos, foram perversamente chamados de “tenebrosos
metafísicos”, ignorantes do realismo político que adapta as leis ao coração humano e
às lições da história. (CHAUÍ, 2008, p. 27-28).

A despeito disso, a conceituação não apenas mais pejorativa, como também a


que se tornou mais difundida, é a do filósofo alemão Karl Marx. Em consonância com
Napoleão, Marx também atribuiu caráter fraudulento ao termo ideologia:

A produção das ideias, das representações e da consciência está, a princípio, direta e


intimamente ligada à atividade material dos homens; ela é a linguagem da vida real. As
representações, o pensamento, o comércio intelectual dos homens aparecem aqui
ainda como a emanação direta de seu comportamento material. O mesmo acontece
com a produção intelectual tal como se apresenta na linguagem da política, na das leis,
da moral, da religião, da metafísica etc. de todo um povo. E, se, em toda a ideologia,
34

os homens e suas relações nos aparecem de cabeça para baixo como em uma câmera
escura, esse fenômeno decorre de seu processo de vida histórico, exatamente como a
inversão dos objetos na retina decorre de seu processo de vida diretamente físico.
(1998, p. 18-19).

Um exemplo da concepção neutra de ideologia é a reavaliação do conceito


marxista por Lênin e Lukács. Nesse processo de “neutralização” do sentido negativo
dado por Marx à ideologia, Lênin e Lukács a compreendem como sendo “ideias que
expressam e promovem os respectivos interesses das principais classes engajadas
no conflito” (THOMPSON, 2000, p. 64). Nesse sentido, é possível falar em ideologia
do burguesa e ideologia do proletariado. Aqui existe a compreensão de um conjunto
de ideias como “arma política” e não uma crítica ao “conjunto dos pensamentos”.

Já para a Escola de Frankfurt, a ideologia perpassa o racionalismo técnico-


científico como a única forma de conhecimento verdadeiro, universal, objetivo e
neutro, apto a reger a existência social dos homens, assegurando não só a unidade
do saber humano, mas também a felicidade dos homens através dos instrumentos
técnicos que viabiliza. (SEVERINO, 1986. p. 26). Nesse sentido, fala-se assim da
compreensão do real e da imparcialidade da ciência.

Contudo, a oposição da ideologia à verdade e à realidade pode ser apresentada


também em termos de oposição à ciência. De um lado existe a ideologia, com suas
proposições interesseiras e falsas, e do outro existe a ciência, com suas proposições
abnegadas e verdadeiras. Essa simples ideia já é, em si mesma, ideológica.

Como explicou o sociólogo estadunidense Robert Merton (2013), a quem se


atribui a paternidade da sociologia da ciência, os cientistas são constrangidos por
fatores extracientíficos que podem não apenas influenciar como também determinar
o conteúdo de suas teorias. Dentre tais fatores extracientíficos, um dos mais
relevantes é a ideologia, aqui entendida como a perspectiva e os valores a partir dos
quais o cientista encara o mundo.

[...] se torna cada vez mais aparente que a gênese social do pensamento não tem
ligação necessária com sua validade ou falsidade. Sustenta-se que o
Seinsverbundenheit (pertencimento existencial) do pensamento está demonstrando
quando se pode mostrar que, em certos domínios, o conhecimento não se desenvolve
de acordo com as leis imanentes de crescimento (baseadas na observação e na
lógica), mas que, em certas conjunturas, fatores extrateóricos de vários tipos,
usualmente nomeados Seinsfaktoren (fatores de existência), determinam a aparência,
a forma e, em certos casos, inclusive o conteúdo e a estrutura lógica desse
conhecimento. Esses fatores não teóricos podem interferir no pensamento de muitos
modos: orientando a percepção do problema, determinando sua formulação teórica,
fixando os pressupostos e valores que afetam em grau considerável a escolha dos
materiais e dos problemas e sendo envolvidos no processo de verificação. (p. 95-96).
35

Existem ainda outras definições de ideologias. Russell Norman Champlin e


João Marques Bentes (1991) também definem o conceito de ideologia para Karl
Mannheim: “[Mannheim] usava o termo para aludir a algum conjunto de crenças onde
aparece uma diferença entre motivos anunciados e motivos subjacentes. Uma
ideologia parcial é aquela que tem uma origem psicológica. Uma ideologia total é
aquela que tem suas origens nas condições sociais” (p. 206).

No entanto, para este trabalho, não é com nenhum desses conceitos de


ideologia que estamos trabalhando. Ideologia é um ideário pertencente a uma época.
Então, a ideologia que se expressa hoje seria uma representação do status quo. Em
suma, ideologia é a totalidade das formas de consciência social. Isso abrange o
sistema de ideias que legitima o poder econômico da classe dominante (ideologia
burguesa). É assim que Marilena Chauí (2008) define ideologia, usando como base a
compreensão marxista do fenômeno. Para Chauí (1980), ideologia é um corpus de
representações e de normas de como se deve agir, pensar e sentir.

Assim sendo, a ideologia é um processo oculto, que produz e conserva a


sociedade, sem a conotação de falsidade, mas uma aparência, uma representação
do próprio ser. Dessa forma, o “ponto de vista particular da classe que exerce a
dominação aparece para todos os sujeitos sociais e políticos como universal e não
como interesse particular de uma classe determinada” (CHAUÍ, 2007, p. 31).

A relação entre ideologia e educação é que, em sociedades complexas, a


escola tende a refletir os fenômenos sociais que acontecem fora dela. Não
necessariamente a escola reproduz ipsis litteris o que acontece na sociedade – a
questão é que o ideário social permeia a forma pela qual o conteúdo (além da
organização do espaço e do tempo) é ensinado na escola. Não só isso, também
influencia na formação do currículo e da escolha sobre o que deve se falar e
apresentar. Segundo Tomaz Tadeu da Silva (2010), currículo gira em torno da questão
“o que ensinar?”. Obviamente, na escola deve-se ensinar algo. E o currículo é a
“ciência” que estuda o que ensinar. Todas as discussões curriculares giram em torno
desta questão - que sujeitos formar, que matérias e conteúdo repassar, o que abordar
na aula, como a aula deve ser, qual o propósito de ensinar um conteúdo “x” e não “y”
etc. É, em simples palavras, o planejamento, a teoria. Mesmo assim, um currículo não
se constrói a esmo. É necessário escolher o que falar. Devido a esse fato: (1) o
currículo está intrinsicamente ligado à escola; e (2) é entendido como espaço de
36

disputa e um lugar onde sempre ocorrem conflitos. Os temas currículo, poder e


identidade estão mutuamente interligados.

Qualquer conteúdo que se ensina na escola tem uma intenção. A prática


cotidiana, a definição de tempos e espaços e toda a ritualística da escola fundamenta-
se em ideologias e concepções de mundo, de ser humano e de educação. Ou seja,
as práticas educativas são intencionais.

A escola serve para formar cidadãos. Esses devem dominar temas relativos à
vida em sociedade: os valores da democracia, a importância do trabalho, as
disciplinas técnicas para o mercado, entre coisas do gênero6. Portanto, todo
movimento político que se dispõe a mudar a sociedade, indiretamente, possui
propostas para a educação.

Nessa altura, é importante dizer que não são todos os movimentos que se
reconhecem como ideológicos. E por se considerarem assim, ausentes de ideologias
específicas, creem que não possuem propostas com o intuito de mudar a sociedade.
Um exemplo são os movimentos conservadores, objeto de análise deste trabalho.

Michael Oakeshott, um dos principais herdeiros do conservadorismo clássico,


defende que o conservadorismo

não é uma crença nem uma doutrina, mas uma forma de ser e estar. Ser conservador
significa uma inclinação a pensar e a comportar-se de determinada forma; é preferir
certas formas de conduta e certas condições das circunstâncias humanas a outras; é
dispor-se a tomar determinadas decisões. [...] Distinguir as características gerais dessa
atitude não é tarefa difícil, embora elas tenham sido constantemente confundidas. Elas
resumem-se a uma propensão ao uso e gozo daquilo que se tem, em vez do desejo ou
busca de outra coisa, a aprazer-se mais com o presente do que com o passado ou o
futuro. [...] Assim, ser conservador é preferir o familiar ao desconhecido, preferir o
tentado ao não tentado, o facto ao mistério, o real ao possível, o limitado ao ilimitado,
o próximo ao distante, o suficiente ao superabundante, o conveniente ao perfeito, a
felicidade presente à utópica. [...] Para além disso, ser conservador não é apenas ser
avesso à mudança [...] é também a forma de nos adaptarmos às mudanças, algo que
foi imposto a todos os homens. (2014, p. 4-6)

Russel Kirk, que também é um autor conservador, desenvolve uma concepção


semelhante:

Não sendo nem uma religião nem uma ideologia, o conjunto de opiniões designado
como conservadorismo não possui nem uma Escritura Sagrada, nem um Das Kapital,
como fonte de dogmas. [...] Talvez fosse adequado, na maioria das vezes, utilizar a
palavra 'conservador' mormente como adjetivo. Não existe um modelo conservador, e
o conservadorismo é a negação da ideologia: é um estado de espírito, um tipo de

6Essa discussão dá origem a várias perguntas, tais como: qual é o papel de educação? Para que ela
e a quem serve? É a escola que cria, reproduz ou mantém o status quo?
37

caráter, um modo de ver a ordem civil e social. A posição chamada conservadora se


sustenta em um conjunto de sentimentos, e não em um sistema de dogmas ideológicos.
[...] Para a preservação de uma diversidade saudável em qualquer civilização, devem
remanescer ordens e classes, diferenças na condição material e muitos tipos de
desigualdade. (2014, p.102-108)

Contudo, fenômenos conservadores não se restringem a essa perspectiva


definida. Ferreira e Botelho fazem uma conceituação do conservadorismo de acordo
com a perspectiva que apresentaremos:

O pensamento conservador surge e se desenvolve no contexto da moderna sociedade


de classes, marcado por seu dinamismo, por suas múltiplas e sucessivas transições;
como função dessa sociedade, não é um sistema fechado e pronto, mas sim um modo
de pensar em contínuo processo de desenvolvimento [...]. Estruturado como reação ao
Iluminismo e às grandes transformações impostas pela Revolução Francesa e pela
Revolução Industrial, o conservadorismo valoriza formas de vida e de organização
social passadas, cujas raízes se situam na Idade Média. É comum entre os
conservadores a importância dada à religião; a valorização das associações
intermediárias situadas entre o Estado e os indivíduos (família, aldeia tradicional,
corporação) e a correlata crítica à centralização estatal e ao individualismo moderno; o
apreço às hierarquias e a aversão ao igualitarismo em suas várias manifestações; o
espectro da desorganização social visto como consequência das mudanças vividas
pela sociedade ocidental. (2010, p. 11, 12).

A razão para a escolha dessa conceituação de conservadorismo se dá porque,


apesar de muitos conservadores rogarem para si mesmos a posição de neutralidade
e ceticismo, bem como contrários em relação a uma mudança radical e abrupta da
sociedade, muitos são, na verdade, reacionários. (BRAZ, 2017).

Nas ciências sociais, particularmente na ciência política, podemos definir como


reacionário alguém (ou uma instituição) que advoga por um retorno a um estado (no
sentido de situação) político anterior da sociedade. Reacionários creem que o período
atual, a contemporaneidade, está degenerada. Assim, a melhor solução, para eles, é
voltar a alguma época passado. Não menos importante, vale citar que reacionário é o
antônimo de revolucionário. Halimi define ambos os termos da seguinte forma:

Eram duas correntes de intelectuais que se defrontavam. De um lado, aqueles que, sob
o discurso da “reforma”, da “abertura”, da ruptura com os “tabus”, saudavam o
movimento do mundo – e os avanços da esquerda, quando das eleições. Com o apoio
da maioria dos meios de comunicação, estavam sempre dispostos a se mobilizar em
nome de um “progresso” que incentivava as estruturas econômicas que seu
pensamento único popularizara. Na outra corrente estavam aqueles a quem essa
“modernidade” preocupava, ou repugnava, pois viam nela uma forma de regressão na
organização da sociedade e na solidariedade que a costura. Eram considerados
“reacionários” pelos primeiros. (HALIMI, 2003).

Situar os movimentos conservadores brasileiros como reacionários não é um


juízo de valor negativo. Essa “ressalva” se dá, pois, ao analisar particularmente o
fenômeno conservador brasileiro, podemos observar uma ascensão (ou até mesmo
38

uma predominância) de discursos e movimentos cristãos, autoritários e


antiacadêmicos. O bolsolavismo é o principal ramo que coaduna essa multifacetação
do conservadorismo brasileiro. Mas, antes de apresentarmos sua história e contexto,
é necessário detalhar quais são esses discursos e movimentos “cristãos”,
“autoritários” e “antiacadêmicos”.

Sobre movimentos cristãos, podemos citar religiosos católicos e evangélicos


que, por exemplo, posicionam-se contra a casamento civil entre pessoas do mesmo
sexo7 e a descriminalização (ou legalização) do uso das drogas. A razão para a
oposição a essas pautas é de natureza religiosa. Para alguns deles, o estado não
deve ser laico.

Sobre grupos autoritários, podemos citar os que defendem projetos como


intervenção militar (nos moldes da Ditadura Militar, 1964-1985)8, alteração do regime
republicano e presidencialista para uma monarquia9 ou até mesmo o integralismo e a
filosofia política de Plínio Salgado10. Não é raro, também, achar associações
neonazistas nas ditas fileiras conservadoras11.

Ideias antiacadêmicas (popularmente conhecidas como “teorias da


conspiração”) são reforçadas em alguns movimentos conservadores brasileiros. As
principais e mais populares versam sobre conjuntos de estratégias e movimentos que,
desenvolvidos por setores de esquerda, grupos comunistas ou países socialistas
(como China, Cuba e Coréia do Norte) objetivam a destruição da cultura ocidental ou

7 Comportamentos dissonantes da heterossexualidade costumam ser objeto de oposição por parte das
correntes religiosas hegemônicas e movimentos conservadores no Brasil. Um exemplo muito
expressivo é a histórica obstrução dos direitos civis das populações LGBT pela dita bancada
evangélica. (NATIVIDADE; OLIVEIRA, 2009).
8 Um pequeno grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro realizou no dia 28 de junho de 2020,

em Brasília, um protesto em que pediu intervenção militar com Bolsonaro no poder. O ato ocorreu em
frente ao Quartel General do Exército. Outras manifestações, antes desta específica, já haviam ocorrido
também, principalmente em redes sociais. (URIBE et al., 2020).
9 Uma reportagem da BBC Brasil revelou o avanço do movimento monarquista sobre o Congresso e o

governo Bolsonaro. (FELLET, 2019).


10 O Integralismo - versão brasileira do fascismo italiano dos anos 1930 – permanece vivo e presente

no cenário sociopolítico brasileiro e o presidente Jair Bolsonaro, “uma das figuras políticas recentes
mais próximas ao fascismo histórico”, foi eleito com o apoio de integrantes deste movimento.
(GONÇALVES; NETO, 2020).
11 Em estudo realizado pela pesquisadora Adriana Dias, aproximadamente cerca de 150 mil brasileiros

visitam mensalmente mais de cem páginas com conteúdos nazistas. Segundo Dias, desse total, 15 mil
são líderes e coordenam as incitações de ódio na internet. Os grupos “físicos” seriam de pequeno porte
e, segundo a autora, teriam entre 15 a 20 pessoas. (ANDRADE, 2013).
39

até mesmo do Brasil enquanto nação (exemplos desses grupos: marxismo cultural,
Foro de São Paulo, Comissão Trilateral, Nova Ordem Mundial, entre outros)12.

E mantendo uma visão sob influência da religião cristã, muitos conservadores


reforçam ideias que se revelam anticientíficas13. Figuras públicas conservadoras –
membros, ministros e servidores do governo Bolsonaro, inclusive – constantemente
apoiam a ideia de que: “a Terra é plana”14; “as vacinas causam autismo e são
prejudiciais à saúde da população”15; “o aquecimento global não existe”16; entre
outras. Vale ressaltar que as visões anticientíficas não se restringem somente às
ciências naturais, mas sim a qualquer campo do conhecimento que seja acadêmico.
As metodologias que sustentam a história e a filosofia (ciências humanas) são
também falseadas. Para muitos conservadores brasileiros: “Stálin foi o arquiteto da
Segunda Guerra Mundial”17; “o nazismo é um movimento de esquerda com origens
marxistas”18; “a escravização foi benéfica para os negros africanos”19; entre diversas
outras.

A origem de muitas dessas ideias é a obra e a falas públicas do escritor Olavo


de Carvalho. Olavo Luiz Pimentel de Carvalho nasceu em Campinas (SP) no dia 29
de abril de 1947, sendo o segundo filho do Luiz Gonzaga de Carvalho, advogado, e

12 O livro “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, de certa forma a bíblia do
conservadorismo brasileiro e que será citado adiante, traz vários artigos que ressaltam essas ideias e
teorias.
13 Apesar de que ser anticientífico não é, necessariamente, sinônimo de que algo está errado ou é

condenável.
14 Dante Mantovani, nomeado presidente da Funarte por Jair Bolsonaro, por exemplo, em muitos de

seus vídeos afirma que a Terra é plana. (G1, 2019).


15 O movimento antivacina não é recente, mas ganhou visibilidade assim como os outros movimentos

reacionários: através da internet. A eficácia das vacinas, para esses, deixou de ser um fato e passou a
ser uma questão de opinião. Assim como a crença na Terra plana, o movimento antivacina tem
encontrado guarida na extrema-direita mundial. (FILHO, 2019).
16 “Dom” Bertrand, trineto de Dom Pedro II e príncipe imperial brasileiro que lidera um movimento que

pretende reinstaurar a monarquia no país, é autor do livro “Psicose Ambientalista – Os Bastidores do


Ecoterrorismo para implantar uma Religião Ecológica Igualitária e Anticristã”.
17 O escritor Olavo de Carvalho atribuiu a ascensão do nazismo e a eclosão da 2ª Guerra Mundial a um

plano idealizado com antecedência pelo ditador Josef Stálin. (CARVALHO; ALVES, 2003).
18 O atual ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, aderiu à tese de que o nazismo foi um

movimento de esquerda. A declaração foi dada em uma longa entrevista a um canal simpático à
extrema direita no Youtube, mas repete um discurso que esteve em alta nas mídias sociais brasileiras
durante as eleições de 2018. (NEHER, 2019).
19 O presidente da Fundação Palmares (instituição ligada à Secretaria Especial de Cultura), Sergio

Nascimento de Camargo, já afirmou em suas redes sociais que o Brasil tem um “racismo Nutella” e que
a escravidão foi “benéfica para os afrodescendentes”. (VELHO, 2020).
40

de Nicéa Pimentel de Carvalho. É filósofo, escritor, jornalista e conferencista. Mora,


desde 2005, em Richmond, no estado da Virgínia (EUA).

Segundo ele mesmo informa em seu currículo, disponível em seu website


pessoal, começou a trabalhar na imprensa quando não tinha ainda 18 anos completos,
na Empresa Folha da Manhã S/A, onde, nos vários jornais que a compõem, foi
sucessivamente “repórter, redator copy desk, setorista credenciado no Palácio do
Governo”. Em seguida, trabalhou nos(as): jornal “A Gazeta” como subeditor de
reportagem local; na revista “Atualidades Médicas” como editor de texto; no semanário
“Aqui, São Paulo” como subeditor e secretário gráfico; no “Jornal da Semana” como
secretário de redação; e no “Jornal da Tarde”, d’O Estado de S. Paulo, como redator
na Editoria de Política e Economia. Escreveu, ainda como colaborador, para vários
outros jornais e revistas, sobre assuntos culturais. Dentre as publicações com as quais
colaborou destacam-se: “Nova”, “Contexto”, “Brasil-Israel”, “Escola”, “Planeta”, “Sala
de Aula”, “Quatro Rodas”, “Imprensa”, “Livro Aberto” – de São Paulo – e “Tribuna da
Imprensa”,” O Globo” e “Jornal do Brasil” – do Rio de Janeiro20.

Apesar de atuar como jornalista – tendo recebido o Registro de Jornalista


Profissional por tempo de serviço, de acordo com a legislação da época – Olavo de
Carvalho não concluiu o ensino superior. Num primeiro momento, estudou Filosofia
no Conjunto de Pesquisa Filosófica (Conpefil) da PUC do Rio de Janeiro. E embora,
segundo ele mesmo, tenha apresentado dois trabalhos de conclusão do curso, não
chegou a graduar-se por causa da extinção da entidade logo após o falecimento de
seu fundador e diretor, Pe. Stanislavs Ladusãns. Após o episódio, abdicou dos
estudos universitários formais. Ainda em seu currículo, afirma que só prosseguiu
dessa forma por não ter encontrado “cursos universitários de boa qualidade sobre os
tópicos que eram de seu interesse”. Sendo assim, estudou com professores
particulares sobre diversos assuntos, de psicologia a religiões comparadas
(destacam-se os nomes de Marcel van Cutsem, filólogo belga, José Khoury, filólogo
libanês, e Martin Lings, filósofo britânico).

A partir de 1977, a convite de várias instituições, começou a dar conferências,


palestras e cursos sobre os vários assuntos que estudava e escrevia na imprensa. Em

20
Informações retiradas do site oficial de Olavo de Carvalho, onde se encontra o seu currículo:
<https://olavodecarvalho.org/>.
41

seu currículo, é possível verificar que ministrou em várias associações, universidades,


escolas, centros educacionais, entidades governamentais, institutos de pesquisa,
empresas privadas, entre outras.

Carvalho participou de congressos, seminários e conferências, publicando


diversos trabalhos. Também traduziu e editou obras de outros escritores, além de
escrever apostilas para seus cursos (atualmente ministra em uma instituição própria
– o Seminário de Filosofia – um curso de filosofia) e fazer traduções. Seus livros
começaram a ser publicados no ano de 1983. Até o momento, escreveu 36 livros, dos
quais o mais vendido é “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”,
publicado no ano de 2013 pela editora Record.

A obra e o pensamento de Carvalho são amplos e envolvem diversos campos


do conhecimento: religiões comparadas, filosofia, história, política, ciências,
educação, entre outros. No entanto, vale ressaltar que a opinião de Carvalho sofreu
mudanças ao longo de toda a sua carreira (que, aliás, ainda prossegue nos dias de
hoje). Como este trabalho não se propõe a analisar o conjunto de todos os seus
escritos, nos limitaremos a fazer uma análise contemporânea de suas posições.
Atualmente, Roxane de Carvalho, estudiosa e esposa de Olavo de Carvalho,
caracteriza sua obra em duas grandes vertentes.

A primeira, principal e da qual descendem (se originam) todas as suas ideias e


posicionamentos, diz que Carvalho: (1) caracteriza-se por desenvolver uma filosofia
da consciência, a qual reforça a importância da consciência individual contra doutrinas
que tentam suprimi-la; (2) não avalia o mundo contemporâneo como uma realização
do progresso, mas como um ocaso (entrada de uma civilização na barbárie). Isso seria
o resultado de um processo de fortalecimento da consciência coletiva, iniciado
no século XV e que atinge seu ápice na Revolução Francesa. A relevância de
instituições acadêmicas, o distanciamento de tradições, entre outros, são as razões
pelas quais se acredita que estamos, enquanto civilização, em declínio21.

21 Segundo Benjamin R. Teitelbaum, esse pensamento é típico de um tradicionalismo, em que é


acreditado “que a humanidade está ao fim de um longo ciclo de declínio e que vai ser concluído com
destruição e renascimento”. (DUARTE, 2020). Assim, Carvalho se posiciona como crítico do
kantianismo, do hegelianismo, do marxismo, do positivismo, do pragmatismo, do nietzscheanismo, da
psicanálise, da filosofia analítica, do existencialismo, do desconstrucionismo, da teologia da libertação,
do relativismo moral, cultural e ético, dentre outras correntes filosóficas e intelectuais que apregoam
ideias que se posicionam, em sua maioria, contrárias ao medievalismo.
42

A tônica [da obra de Carvalho] é a defesa da interioridade humana contra a tirania da


autoridade coletiva, sobretudo quando escorada numa ideologia “científica”. Para
Olavo de Carvalho, existe um vínculo indissolúvel entre a objetividade do conhecimento
e a autonomia da consciência individual, vínculo este que se perde de vista quando o
critério de validade do saber é reduzido a um formulário impessoal e uniforme para uso
da classe acadêmica. Acreditando que o mais sólido abrigo da consciência individual
contra a alienação e a coisificação se encontra nas antigas tradições espirituais —
taoísmo, judaísmo, cristianismo, islamismo —, Olavo de Carvalho procura dar uma
nova interpretação aos símbolos e ritos dessas tradições, fazendo deles as matrizes
de uma estratégia filosófica e científica para a resolução de problemas da cultura atual.
(CARVALHO; ALVES, 2003, p. 6).

A segunda vertente da obra de Carvalho, ainda segundo Roxane, é a polêmica.


Mas, se trata de uma variante da primeira. Como Olavo se coloca contra a “tirania da
autoridade coletiva”, e como sua obra é “de difícil compreensão”, ele se utiliza de
recursos irônicos e humorísticos para se comunicar com a população e com outros
leitores que são leigos.

A obra de Olavo de Carvalho tem ainda uma vertente polêmica, onde, com eloquência
contundente e temível senso de humor, ele põe a nu os falsos prestígios acadêmicos
e as falácias do discurso intelectual vigente. Seu livro O Imbecil Coletivo: Atualidades
Inculturais Brasileiras (1996) granjeou para ele bom número de desafetos nos meios
letrados, mas também uma multidão de leitores devotos, que esgotaram em três
semanas a primeira edição da obra, e em quatro dias a segunda. (CARVALHO; ALVES,
2003, p. 7).

Foi essa segunda vertente da obra de Carvalho, a polêmica, que o fez


conhecido. Seu livro mais vendido “O mínimo que você precisa saber para não ser um
idiota”, já citado, reflete essa popularização das suas ideias por conta da forma do seu
discurso. E, apesar de o livro não ser um conteúdo que expressa sua obra em relação
à filosofia ou às religiões comparadas (assuntos os quais Carvalho afirma que é sua
prioridade), é ele que serve de base para a formulação de ideias e propostas dos
movimentos conservadores brasileiros.

O livro foi organizado pelo jornalista Felipe Moura Brasil, consistindo em uma
coletânea de 193 artigos e ensaios escritos entre 1997 e 2013, que foram publicados
em diversos veículos da imprensa brasileira. A divisão dos artigos acontece em
capítulos gerais ou macrotemas, que por sua vez se desdobram em subtemas. Os
assuntos abordados são vários: juventude, conhecimento, socialismo, democracia,
educação, religião, militância etc. Mas, apesar de variedade de assuntos, o foco é
somente um: descrever e criticar as ideias e movimentos socialistas.

Pode-se assegurar que essa obra de Carvalho é um compêndio de ideias


antissocialistas. Não é à toa que o livro é intitulado “O mínimo que você precisa saber
para não ser um idiota”: ser idiota, para o organizador, é ser socialista – e o mínimo
43

que você precisa saber para não ser um idiota é a “verdade” sobre o que é socialismo.
Na sua apresentação do livro, o organizador Felipe Moura Brasil descreve que as
ideias de Olavo de Carvalho são superiores e que ele escreve o livro para compartilhar
o conteúdo na “esperança de que [o leitor ao ter contato com a obra de Olavo de
Carvalho] se afaste da condição de bichinho e se eleve à altura dos anjos”. (p. 23).

Apesar disso, quando Carvalho ou Brasil falam de “socialistas” ou “socialismo”,


o significado não está restrito à definição marxista do termo. No socialismo, a ideia
defendida é uma associação voluntária de indivíduos, com finalidades comuns,
dotados de uma partilha dos bens e dos meios de produção, contradizendo o ideal
capitalista. Socialismo e comunismo distinguem-se somente quanto ao grau, sendo o
segundo uma evolução (ou o próximo estágio) do primeiro. (CHAMPLIN; BENTES,
1991). Contudo, para fins semânticos e políticos, acabam significando a mesma coisa.
Ou seja, dentro deste grande grupo, há: comunistas, marxistas, progressistas,
antirracistas, feministas, ambientalistas, ativistas LGBT22 e vários outros.

Para ambos, Olavo de Carvalho e Felipe Moura Brasil, o socialismo é a principal


doença da nação e da política brasileira. Essa “ideologia” se reflete e se propaga na
cultura, na universidade, nas ações dos governos de centro e de esquerda, na
imprensa, na juventude, na educação, entre outros, na forma do marxismo cultural.
Não só isso, o socialismo também está no mundo todo, sendo, segundo Olavo de
Carvalho, uma das três forças polares com planos de dominação mundial.
(CARVALHO; DUGIN, 2012). O ex-presidente americano Barack Obama, seguindo a
lógica, também pode ser enquadrado como socialista. O conservadorismo
antissocialista, portanto, torna-se o remédio contra essas ideias, que se revelam como
contrárias a um tradicionalismo, à fé cristã, à liberdade em todos os aspectos e ao fim
da cultura e civilização ocidental.

Independente ou não das ideias contidas nesse livro não expressarem a obra
filosófica de Carvalho, foram essas que mais se popularizaram; além disso, foram as
que tiveram influência na fundação de vários movimentos conservadores. O próprio

22Esse grupo é quem Carvalho e Brasil chamam de “gayzistas”. O termo é um neologismo empregado
por direitistas que descrevem como totalitária a ideologia, objetivos e práticas do ativismo pelos direitos
LGBTQIA+.
44

Olavo de Carvalho se define como parteiro da direita brasileira contemporânea e por


muitos é considerado o “guru” (líder ideológico) do governo Bolsonaro 23.

Isso nos leva as seguintes perguntas: como Olavo de Carvalho conquistou Jair
Bolsonaro ou vice-versa? Quem possui mais influência nos movimentos direitistas?
Bolsonaro é olavista ou Olavo que é bolsonarista? Quando ocorreu este encontro da
teoria política com a ação política? Consideramos importante tecer algumas
explicações para elucidarmos a relação do atual Presidente da República com Olavo
de Carvalho. Todavia, antes falaremos sobre a biografia de Jair Bolsonaro.

Jair Messias Bolsonaro nasceu em Glicério (SP), no dia 21 de março de 1955,


mas foi registrado em Campinas (SP). É descendente de imigrantes italianos, que
chegaram ao Brasil depois da Segunda Guerra Mundial. Filho de Percy Geraldo
Bolsonaro e de Olinda Bonturi Bolsonaro, atualmente se encontra casado com
Michelle de Paula Firmo Reinaldo. É pai de cinco filhos. Os primeiros três, Flávio,
Carlos e Eduardo, foram eleitos, respectivamente, como senador pelo estado do Rio
de Janeiro (2018); vereador do município do Rio de Janeiro (2020) e deputado federal
pelo estado de São Paulo (2018).

Jair Bolsonaro concluiu o curso de formação de oficiais da Academia Militar das


Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ), e o curso de paraquedismo militar na
Brigada Paraquedista do Rio de Janeiro no ano de 1977. Em 1983, formou-se em
educação física na Escola de Educação Física do Exército e tornou-se mestre em
saltos pela Brigada Paraquedista do Rio de Janeiro. Seguindo carreira militar, tinha a
patente de capitão e exercia sua função no 8º Grupo de Artilharia.

Até o dia 3 de setembro de 1986, Jair Bolsonaro era uma figura anônima
perante a população. Foi um artigo que publicou na revista Veja que o fez conhecido.
No texto, culpava os baixos salários, e não a indisciplina (como Exército fez crer),
pelos desligamentos dos cadetes da Aman. O artigo lhe rendeu uma punição e acabou
sendo preso por “transgressão grave”.

Um ano depois, no dia 25 de outubro de 1987, a mesma revista Veja divulgou


uma reportagem afirmando que “o capitão Bolsonaro e outro militar, Fábio Passos,
elaboraram um plano que previa a explosão de bombas em unidades militares do Rio

23 Por mais que Carvalho rejeite esse título.


45

para pressionar superiores”. Um processo foi instaurado, Bolsonaro negou o plano e,


ao fim de todos os trâmites, os ministros do STM consideraram Bolsonaro “não
culpado” das acusações.

Em 1988, Bolsonaro foi eleito vereador no Rio de Janeiro pelo PDC (Partido
Democrata Cristão). No mesmo ano de sua primeira eleição, acabou sendo “excluído
do serviço ativo do Exército”, passando a integrar a “Reserva Remunerada”. Essa
expulsão o impediu de atuar de forma direcionada à classe que o elegeu: os militares,
principalmente os de baixa patente. Esse seu primeiro mandato como vereador durou
apenas dois anos, pois sua popularidade entre o meio o fez se eleger deputado federal
também pelo PDC em 1990. (FOLHA DE S.PAULO, 2018).

Bolsonaro seria reeleito para mais sete mandatos consecutivos, todos para
representar o estado do Rio de Janeiro. Suas principais bandeiras incluíam, segundo
o jornal Folha de S.Paulo: a luta pela melhoria salarial dos militares; o fim da
estabilidade dos servidores; defesa do controle de natalidade; e a revisão da área dos
índios ianomâmis.

Ao longo de sua carreira como deputado, Bolsonaro aprovou somente dois


projetos de lei. Viraram lei uma proposta que estendia o benefício de isenção do
Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para bens de informática e outro que
autorizava o uso da chamada “pílula do câncer”: fosfoetanolamina sintética. O fato de
ter aprovado os dois projetos de lei não significa que sua atuação tenha sido limitada.
O que queremos ressaltar com esse fato é que Bolsonaro não ficou popular – e
conhecido entre movimentos conservadores – por conta de sua atuação parlamentar,
mas sim por conta das polêmicas nas quais se envolveu enquanto exercia a função24.

Por volta do ano de 2012, Olavo de Carvalho reaparecia no cenário nacional


com duas ações: a primeira, um programa de rádio, o True Outspeak, gravado na
forma de podcast e postado em uma rede social (Blog Talk Radio); e a segunda, um
curso de filosofia de sua autoria, ministrado no site de um dos seus institutos, o
Seminário de Filosofia. O programa servia como um mecanismo de extensão e
divulgação do seu curso de filosofia. O sucesso do seu programa em grupos

24Bolsonaro tentou ser candidato à presidência em 2014 pelo seu partido na época, o PP (Partido
Progressista). Chegou a apresentar uma carta de intenção para ganhar a nomeação, mas acabou
sendo vetado. Por fim, o partido declarou apoio à reeleição de Dilma Rousseff, o que rendeu protestos
por parte de Bolsonaro e alguns dos seus seguidores abrigados na legenda. (BARRETTO, 2014).
46

conservadores atraiu vários novos alunos. Entre esses estavam Flávio Bolsonaro,
Carlos Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro: os três primeiros filhos de Jair Bolsonaro, que
na altura já eram parlamentares.

Pode-se dizer que os caminhos de Bolsonaro e Olavo de Carvalho se


encontraram nesse momento, durante a ascensão de ambos, quando aos poucos se
inseriam na cultura popular. Bolsonaro estava cheio de polêmicas, mas vazio de
conteúdo e de um ideário. Ao mesmo tempo, Olavo possuía um ideário conservador
característico muito forte, mas não tinha oportunidade de ação política.

Não é difícil presumir que Olavo percebeu que Bolsonaro tinha potencial. Afinal,
o Brasil estava passando por uma onda conservadora, em que discursos favoráveis
ao tradicionalismo nos costumes e ao liberalismo de mercado tornavam-se populares
na classe média. Se Bolsonaro fizesse um bom trabalho de comunicação, viria a ser
um fenômeno eleitoral. Ainda nos primeiros anos da década de 2010, Olavo declarava
voto em Jair Bolsonaro e afirmava em postagens públicas em suas redes sociais que
“a única solução para o Brasil era elegê-lo para presidente”. Na época, a maior
demonstração de que ambos estavam unidos foi a condecoração que Flávio
Bolsonaro concedeu a Olavo de Carvalho no ano de 2012. A medalha Tiradentes, a
mais importante do estado do Rio de Janeiro, foi entregue ao vivo em seu programa
True Outspeak.

O grupo de alunos de Olavo de Carvalho trabalhou em demasia para montar


uma imagem conservadora de Bolsonaro e popularizá-lo entre as massas. Esse grupo
de intelectuais compartilhava dos mesmos valores da direita política, publicando
diversos materiais nas redes sociais e em sites da internet. Entre os alunos de Olavo
de Carvalho que publicavam, estava o jornalista Felipe Moura Brasil, que editou e
organizou o livro “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”.

As manifestações de julho de 2013 foram a primeira oportunidade dos


seguidores de Jair Bolsonaro e Olavo de Carvalho se apresentarem ao público.
Contudo, foi apenas em 2015 e 2016, com as manifestações antipetistas e favoráveis
ao impeachment da presidente(a) Dilma Rousseff, que eles atuaram de forma
organizada e coadunada. Os militantes começaram a se movimentar com cartazes
pelas ruas com os dizeres “Olavo tem razão” e “Bolsonaro presidente”.
47

Após a eleição de Jair Bolsonaro para a presidência em 2018, Olavo passou a


exercer certa influência dentro do governo, indicando alguns ministros. Em certo
momento, chegou a ser convidado para ser ele mesmo o ministro da educação ou da
cultura. Porém, recusou o convite por afirmar que “conhecia seus limites” e que “não
tinha uma grande capacidade administrativa” (apesar de dizer que “sabe o que precisa
ser feito”, não conseguiria “ficar pensando nisso todo dia”). Entretanto, disse que
aceitaria ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos da América. O convite nunca
foi feito por Bolsonaro, que acabou indicando o diplomata Nestor Foster para a
embaixada. (BRANT, 2018).

O que é importante ressaltar dessa relação é o movimento político-social-


filosófico que ambos criaram e que mantém, ainda nos dias de hoje, diversos
defensores. Ambos se “completam”, pois Olavo não teria poder político sem Bolsonaro
– e Bolsonaro não teria “conteúdo teórico” ou propostas sem Olavo. E apesar de Olavo
de Carvalho, em alguns momentos, ter disparado certas “broncas” a Bolsonaro (o que
causa certo impacto político), nenhum dos dois sinalizou rompimento25.

25 Por mais que alguns analistas afirmem que Bolsonaro, após a consolidação de seu governo, já não
possui mais dependência de Olavo de Carvalho e seus seguidores. Outro fator que é importante
ressaltar: o governo Bolsonaro não é, necessariamente, bolsolavista. Existem vários movimentos e
setores, segundo analistas, que disputam poder dentro do núcleo que comanda o país. Podemos
identificar pelo menos outras quatro forças além do bolsolavismo, que é conhecido como ala ideológica
do governo: os militares, que possuem diversos cargos estratégicos em ministérios; os evangélicos,
que hoje controlam os ministérios da Educação e da Mulher, Família e dos Direitos Humanos e ditam
muitas pautas no governo; a ala econômica, chefiada pelo ministro da economia Paulo Guedes; e uma
parte do que se conhece como centrão fisiológico – os partidos do centro político, que defende os
interesses do governo na Câmara dos Deputados. Essas forças também não são declaradamente
inimigas, apenas realizando disputas em alguns momentos, o que também não as inibe de fazer alguns
acordos ou uniões táticas e programáticas em outros.
48

4. CAPÍTULO 2: APRESENTAÇÃO DO CONTEXTO ATUAL BRASILEIRO

A atual conjuntura política do Brasil reflete a ascensão do pensamento


conservador e dos grupos de direita. O Brasil passa por um importante momento de
crise política e uma grande crise social, que abre caminhos para um embate entre o
papel da economia, das ideias e do governo. É importante ainda mencionar a
excepcionalidade de um cenário de crise sanitária com proporções globais e impactos
socioeconômicos.

O discurso conservador começou a ganhar força, abrindo espaço para a


reconquista do poder por parte dos liberais e conservadores.

Foi em julho de 2013 que grupos de lideranças conservadoras começaram a


angariar apoiadores, a partir das manifestações desse mesmo período, as quais
pregavam (dentre outras coisas) que os movimentos de rua deveriam ser
“apartidários”. Aos poucos as movimentações daquele ano tomaram um rumo
diferente, passando de uma postura antipartidária ao conservadorismo. Ao final delas,
ideias avessas à esquerda se revelaram26. Nascia o antipetismo.

Após as eleições de 2014, houve movimentação política (coligada aos setores


econômicos) em oposição ao governo da presidente(a) Dilma Rousseff. A economia
do país estava entrando em recessão e, somando o “clamor popular” (da classe
média) ao interesse de alguns setores políticos, um pedido de impeachment foi
apresentado à Câmara dos Deputados.

Aprovado, Dilma saiu do Planalto e seu vice, Michel Temer, assumiu o poder,
dando início a uma agenda pragmática: liberal na economia e conservadora nos
costumes.

As consequências contra a educação pública brasileira já começam a ser


sentidas imediatamente após o impeachment, com a destituição de equipes e a
iminente extinção de secretarias no Ministério da Educação, a destituição e
esvaziamento do Conselho Nacional da Educação e, praticamente o encerramento
das atividades do Fórum Nacional da Educação. Uma série de mudanças nos marcos
legais das políticas educacionais e de seu orçamento estiveram se constituindo, no

26As manifestações passaram a ser alimentadas pelas críticas às políticas de redistribuição de renda,
ao medo comunista e a perda de privilégios.
49

sentido de tornar irreversível a curto e longo prazo o avanço da privatização da


educação pública no Brasil.

As reformas político-educacionais do governo Temer expressaram claramente


um projeto de sociedade que prioriza os valores associados à sobrevivência do
capitalismo internacional, em detrimento do investimento em melhoria da qualidade
de vida da população, revelando em suas estratégias básicas princípios do liberalismo
econômico, ficando evidente o roteiro traçado para a educação brasileira.

O pontapé inicial se dá na tentativa de desestruturar o direito à educação como


o estabelecido na proposta de Emenda Constitucional nº. 241 de 2016, que aprovada
na Câmara dos Deputados em outubro de 2016, seguiu para o Senado Federal como
PEC nº. 55/2016, para o congelamento dos investimentos públicos em educação e
outras políticas sociais por vinte anos, satisfazendo assim a apetência do
empresariado educacional. Braga e Nakatani (2016) afirmam que a essência da PEC
241/55 guarda intenções mais profundas que apenas reduzir gastos primários (saúde,
educação, segurança etc.) para produzir um dito equilíbrio nas contas do governo.
Para os autores, suas reais intenções se pautam em:

[...] recompor, num patamar mais elevado, o que os empresários e banqueiros,


brasileiros ou estrangeiros, esperam ganhar com as operações de suas grandes
empresas transnacionais, colocando como imperativo a readequação das funções do
governo, uma vez que os ganhos para esses empresários serão garantidos por meio
da redistribuição dos impostos que o governo arrecada. (Braga e Nakatani, 2016, p. 2).

Além disso, a anunciada reforma do ensino médio, editada pela Medida


Provisória nº. 746 de setembro de 2016 (que institui a política de fomento à educação
integral, altera a LDB e regulamenta o Fundeb), vai de encontro a preocupação da
comunidade educacional, ao caracterizar a escola pública apenas como uma
preparação para o trabalho simples, de natureza indiferenciada, desconsiderando o
papel crítico da educação, que deveria visar à formação social e humana.

A esse respeito, a Procuradoria Geral da República, em parecer encaminhado


ao Supremo Tribunal Federal (STF) em 19 de dezembro de 2016, posicionou-se pela
inconstitucionalidade da referida Medida Provisória, alegando que o documento não
apresentava os requisitos de relevância e urgência requeridos para a edição de um
dispositivo dessa natureza, além do fato de que seu conteúdo desrespeitava o acesso
universal à educação, impondo barreiras à superação das desigualdades nos campos
educacional e social.
50

Entre uma dessas barreiras, podemos citar a educação em tempo integral, que
é tratada no artigo 5º do mesmo documento. Apesar do objeto ser também previsto
no artigo 34º da LDB e na Meta 6 do PNE 2014/2024, não são definidos meios,
garantias, obrigações, sistemas ou escolas, por parte estado, para viabilizá-la. A
ampliação do tempo integral no ensino médio foi mantida pela Lei nº. 13.415/2017,
alterando, assim, a LDB, estipulando que em um prazo máximo de cinco anos, a partir
da edição seguinte do PNE, todo o ensino médio deverá ter sua carga horária
ampliada para 1.400 horas anuais, o que elevaria a carga horária diária atual de quatro
para sete horas.

Tal ampliação não considera a realidade de muitos jovens brasileiros que


necessitam conciliar trabalho e estudos. Despreza, ainda, experiências de educação
em tempo integral anteriormente praticadas em estados brasileiros, como o Projeto
Reinventando o Ensino Médio, desenvolvido em Minas Gerais de 2010 a 2014, que
comprova que a extensão da jornada escolar sem a infraestrutura necessária pode
mais agravar do que inibir a evasão escolar (FaE/UFMG, 2017).

De acordo com Simões (2016), a reforma é controversa, uma vez que, ao


intencionar a ampliação do tempo escolar para 1.400 horas anuais, é definida a base
nacional em 1.800 horas (máximo), o que implicaria uma base limitada. Diante disso,
Li (2016) afirma que um ano e meio não pode ser considerado tempo suficiente para
que um estudante tenha acesso aos conteúdos mínimos das disciplinas, o que na
prática significa expropriá-los do direito ao acesso a esses conhecimentos.

Ainda relativo à mudança proposta na medida provisória nº. 746/2016, o artigo


35-A estipula que a formação básica comum será definida pela BNCC, e tendo-a como
referência para a organização da formação básica comum, limita parte do ensino
médio a um receituário de conteúdos e nem sequer contempla os princípios
necessários para uma formação integral tão necessária a essa etapa de ensino.

Cabe citar ainda que a terceira versão da BNCC apresentada pelo MEC excluiu
temas essenciais à discussão em diversas áreas de conhecimento, tais como
questões relacionadas ao debate de gênero, o que efetiva, de forma enrustida, a
consolidação de uma “escola sem partido”, dispensando a aprovação do Projeto de
Lei nº. 867/2015, que tentava abolir da escola debates sobre gênero, raça, etnia,
diversidade, entre outros. (LIMA; MACIEL, 2018).
51

O posicionamento do MEC, ao suprimir conceitos e temáticas fundamentais para a


promoção dos direitos humanos e valorização das diversidades, em um país marcado
pelo machismo, pela homofobia e a misoginia, ignora o fato de que nas instituições
educativas e fora delas pessoas são marginalizadas e vítimas de preconceito e
violência e, por consequência, abandonam a vida escolar e/ou têm tolhidas inúmeras
de oportunidades de vida. (Coordenação do Fórum Nacional..., 2017)

Diante dessa perspectiva, a corrosão do direito à educação, perceptível no


conteúdo da lei nº. 13.415/2017, articula-se com o processo de asfixia do gasto público
viabilizado pela DRU e pela PEC 241/55, que servirá de “artifício para se ter escolas
ainda mais empobrecidas na sua infraestrutura”. (RAMOS, 2016). Nessa conjuntura,
a reforma do ensino médio do Governo Temer representa um certo retrocesso,
levando a inferir que, em curto e longo prazos, essas medidas possuem o propósito
de atender, segundo Lima e Maciel (2018) às demandas da crise do capital,
conduzidas pelo projeto de poder dos setores liberais e conservadores da sociedade
brasileira.

As eleições de 2018 foram altamente propícias para esses (movimentos e


setores) liberais e conservadores. O discurso ficou cada vez mais popular e, por fim,
Jair Bolsonaro (um ex-deputado com uma carreira longa e inexpressiva, porém
marcada por polêmicas) foi eleito. Governando, o presidente implantou uma agenda
de mesma natureza, todavia mais radical que a do seu antecessor. Seguimos, então,
em ritmo acelerado, em um esvaziamento das políticas sociais anteriormente
construídas.

A educação vem sendo objeto de sucessivos debates políticos nos últimos


anos, particularmente com a proposição de militarização das escolas públicas, o
Programa Escola sem Partido, a legalização do homeschooling, entre outras,
reduzindo a escola à formação cada vez mais precária. Há ainda o contingenciamento
nos orçamentos das universidades e sucessivos cortes de verbas para as instituições
de ensino e pesquisa. (ROSSI; DWECK, 2016).

Tal reformulação da educação pública em seus mais diversos aspectos


(estrutura curricular, organização do Ministério da Educação e de outras instituições,
como os conselhos; além da apropriação da pasta por interesses assumidamente
ideológicos) representam um certo retrocesso, sobretudo se levarmos em
consideração as conquistas sociais adquiridas ao longo das últimas décadas.
52

O primeiro ministro da Educação durante o governo Bolsonaro foi Ricardo Vélez


Rodríguez, colombiano naturalizado brasileiro e professor-emérito da Escola de
Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME). Indicado por Olavo de Carvalho, teve
uma curta passagem pelo MEC regada por recuos, polêmicas e ausência de iniciativas
significativas para a educação.

Em seu primeiro dia à frente do Ministério da Educação, Vélez Rodriguez


anunciou uma alteração no edital do Programa Nacional do Livro e do Material
Didático (PNLD) para 2020. Com as alterações sugeridas, os livros didáticos para os
Anos Finais do Ensino Fundamental não seriam mais obrigados a mencionar e
trabalhar temas como o combate à violência contra a mulher e a valorização dos povos
quilombolas. O novo projeto também retirava a restrição à presença de publicidade
nas obras didáticas e ainda suprimia o trecho em que era exigido que a obra estivesse
“isenta de erros”, bem como a determinação de “incluir revisões
bibliográficas”. (PERES; SEMIS, 2020). Após críticas, o MEC divulgou na semana
seguinte ao anúncio uma nota por meio de sua assessoria dizendo que não se
responsabilizava por sua publicação e investigaria quem produziu e autorizou a
medida, responsabilizando a antiga gestão. Depois dessa investigação, Rogério
Fernando Lot, então chefe de gabinete do Fundo Nacional para o Desenvolvimento
da Educação (FNDE), e mais nove pessoas que ocupavam cargos comissionados no
órgão foram demitidos pelo ministro. Essas foram as primeiras das tantas
exonerações que marcaram a passagem de Vélez pelo MEC. (ROMANO, 2019).

O ministro Vélez Rodrigues, nos primeiros dias, também extinguiu a Secadi


(Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão). A
Secadi foi criada em 2004 com o objetivo de fortalecer a atenção especial a grupos
que historicamente são excluídos da escolarização. Segundo descrição das
atribuições da secretaria, as políticas orientadas pela subpasta devem considerar
“questões de raça, cor, etnia, origem, posição econômica e social, gênero, orientação
sexual, deficiências, condição geracional e outras que possam ser identificadas como
condições existenciais favorecedoras da exclusão social”. Em seu lugar, foi
implantada a subpasta Modalidades Especializadas. Segundo apuração do jornal
Folha de S.Paulo, a iniciativa foi uma manobra para eliminar as temáticas de direitos
humanos, de educação étnico-racial e a própria palavra diversidade. (SALDAÑA,
2019). E no mesmo momento em que extinguia a Secadi, Vélez Rodrigues criou uma
53

(nova) secretaria só para alfabetização, que ficou a cargo de Carlos Nadalim


(proprietário de uma escola de Londrina indicado pelo escritor Olavo de Carvalho).
Conhecido por vídeos na internet em que critica o educador Paulo Freire, Nadalim
defende a educação domiciliar e divulga um método de alfabetização que ele
desenvolveu para sua escola. Em vídeos, expõe a apostila de seu programa de
alfabetização inspirado no método fônico e ataca o que seria a tendência nacional de
apostar no método construtivista. O presidente Jair Bolsonaro (PSL) confirmou todas
essas alterações por meio de uma rede social. (CARTA CAPITAL, 2019). Segundo o
jornal Folha de S.Paulo, “ele disse que o foco de seu governo é oposto ao de gestões
anteriores, ‘que propositalmente investiam na formação de mentes escravas das
ideias de dominação socialista’, e que o objetivo é formar cidadãos preparados para
o mercado de trabalho”. (SALDAÑA, 2019).

Em entrevista ao jornal “Valor Econômico”, no dia 28 de janeiro de 2019, Vélez


Rodríguez comentou sobre suas impressões a respeito do ensino superior, afirmando
que “a ideia de universidade para todos não existe”. De acordo com o ministro,
instituições de ensino nesse nível devem ficar restritas a uma “elite intelectual” (mas
esta não seria exatamente o mesmo de uma “elite econômica”). Segundo Vélez, o
intuito é reforçar o ensino técnico, que teria um retorno econômico com mais garantias
que o ensino superior. A fala de Vélez aponta indícios de exclusão social em um
sistema de ensino que pretende ser acessível a todos. (PASSARELLI, 2019). E outra
situação que repercutiu e foi alvo de críticas de alguns educadores foi o fato de o MEC
enviar às escolas uma carta assinada pelo ministro Ricardo Vélez Rodríguez onde se
solicitava que as escolas propiciassem um momento com todos os alunos e
funcionários para cantar o Hino Nacional. O ministro também pediu às escolas que
gravassem e lessem uma carta de sua autoria que continha o slogan da campanha
de Jair Bolsonaro (Brasil acima de tudo, Deus acima de todos)27. Após críticas e sob
risco de ter de responder por improbidade administrativa, voltou atrás. (MARIZ, 2019).

Em outro momento durante sua gestão, Vélez fez uma escolha para o cargo de
diretor-geral do Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines). Geralmente, essa
escolha acontece de acordo com a votação de professores, funcionários e alunos do

27A carta: “Brasileiros! Vamos saudar o Brasil dos novos tempos e celebrar a educação responsável e
de qualidade a ser desenvolvida na nossa escola pelos professores, em benefício de vocês, alunos,
que constituem a nova geração. Brasil acima de tudo. Deus acima de todos!”.
54

Instituto. Mas, no caso, o escolhido para o cargo foi Paulo André Martins, que era o
segundo colocado. O fato causou certa estranheza, uma vez que a escolha do corpo
que compõe o Ines foi ignorada pela primeira vez em sua história. (INFANTE, 2019).

No início de abril, Ricardo Vélez Rodríguez foi exonerado do cargo de ministro


da Educação, após atritos envolvendo sua gestão na pasta do governo Jair Bolsonaro
(PSL). Sob o comando do ex-ministro, projetos estavam parados, exonerações
aconteciam em série e a educação, um dos temas mais importantes da agenda
nacional, estava sem rumo. Em seu lugar, foi nomeado Abraham Weintraub.

Antes de assumir a pasta da educação, Weintraub já chamava atenção pelo


discurso, alinhado ideologicamente ao presidente da República. Segundo a
reportagem do Jornal Estado de Minas, em setembro de 2018, durante uma entrevista
veiculada no canal do YouTube do presidente Jair Bolsonaro, Weintraub atacou os
cursos das áreas de ciências sociais, afirmando que “em vez das universidades do
Nordeste ficarem fazendo sociologia, fazer filosofia no agreste, (é melhor) fazer
agronomia com Israel, acabar com esse ódio de Israel”. (MARTINS, 2020).

No primeiro mês de Weintraub à frente do Ministério da Educação, foi


anunciado o contingenciamento de 30% do orçamento para verbas de custeamento e
investimentos das instituições federais. Diante da lógica de corte de gastos, “o
governo federal cortou 3.474 bolsas de pesquisa em todo país em maio de 2019,
representando 3,8% do total de bolsas vigentes na pesquisa financiadas pelo
Ministério da Educação (MEC) na época. O bloqueio representa R$ 50 milhões no
ano”. (GHZ, 2020). Esses cortes na educação geraram revolta nos professores e
alunos, e, consequentemente resultaram em várias manifestações em todo o país. Em
virtude das manifestações, Weintraub mencionou que alunos estavam sendo coagidos
por professores a se manifestar. O presidente Jair Bolsonaro, na oportunidade,
chamou os manifestantes de ‘idiotas úteis’. (ESTADÃO, 2019).

Em julho de 2019, o MEC apontou sua principal proposta para o ensino


superior: o Future-se, que chegou com a promessa de “modernizar” a pesquisa
científica e a educação brasileira. Segundo o MEC, a finalidade do projeto era alcançar
outras fontes de recursos (além do orçamento federal para as universidades) e
flexibilizar as regras de execução das atividades na tentativa de otimizar a gestão e
cortar gastos. Resumidamente, o projeto previa que instituições de educação fariam
55

parcerias público-privadas com organizações empresariais que, em tese, financiariam


parte das pesquisas. Ao mesmo tempo, as organizações empresariais poderiam
utilizar-se da estrutura do campus para trabalhar. (MORENO, 2019). Algumas
universidades federais já haviam se posicionado contra a proposta original do MEC,
criticando a falta de detalhes das mudanças (a preocupação dos reitores e das
instituições era o risco à autonomia universitária). Contudo, o tempo passou e o projeto
não saiu do papel.

Weintraub, em junho de 2020, por meio de vídeo publicado nas redes sociais e
em meio a críticas e afirmações polêmicas, anunciou sua saída do cargo de ministro
de educação, o qual ocupava desde abril de 2019. Sua gestão também ficou marcada
mais por conflitos do que por avanços no setor educacional. Após a passagem pelo
MEC, Carlos Alberto Decotelli da Silva teve sua nomeação para o cargo de ministro
da Educação publicada em junho de 2020. Porém, não chegou a assumir o cargo.

O governo adiou a cerimônia de posse depois de uma série de informações


falsas descobertas no currículo do professor. Decotelli acumulava algumas polêmicas
sobre a sua formação acadêmica, declaradas em seu perfil pessoal na plataforma
“Lattes” do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTIC). Algumas informações foram
comprovadas como falsas. Diante das críticas e mentiras expostas, Decotelli foi
recebido no gabinete do presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto, onde
apresentou sua carta de demissão. (G1, 2020).

Passado quase um mês sem um ministro da educação, o presidente Jair


Bolsonaro nomeou para o cargo o professor e pastor da Igreja Presbiteriana, Milton
Ribeiro. Ele é teólogo, advogado e ex-vice-reitor da Universidade Presbiteriana
Mackenzie. Milton Ribeiro é o quarto ministro da educação em pouco mais de um ano
e meio de governo. Até então (fevereiro de 2021), não se tem notícias de algum feito
em relação à educação. Apesar disso, manteve as pautas de seus antecessores e
dos grupos conservadores que ainda se encontram no poder.
56

5. CAPÍTULO 3: AS PROPOSTAS BOLSOLAVISTAS PARA A EDUCAÇÃO

Seguindo o que foi apresentado no capítulo anterior, detalharemos (no que


consistem, histórico e críticas) as propostas bolsolavistas para a educação com base
na produção científica selecionada.

5.1. ESCOLA SEM PARTIDO

Antes de falar sobre o movimento Escola sem Partido, é importante explicar o


que é doutrinação. Essa ideia e seu significado conceitual não estão necessariamente
relacionados com o significado de seu vocábulo. Grupos conservadores acreditam
que a escola é um lugar que está repleto de doutrinadores – profissionais que impõe
e ensinam os seus pontos de vista, suas ideologias e seus pensamentos próprios aos
alunos (em vez de matérias e disciplinas).

Doutrinação é o ato ou o efeito de doutrinar. É fazer propaganda ou


proselitismo. E o que é doutrina? O significado deste vocábulo é o seguinte:

DOUTRINA s.f. Conjunto de princípios de uma escola literária e filosófica, de um


sistema político, econômico etc., ou de dogmas de uma religião. (HOUAISS, 1987, p.
286).

A palavra doutrina vem do latim doctrina, cuja forma verbal é docere, “ensinar”.
Portanto, tem o significado ou sentido de “ensino”. Envolve ideias de crença, dogma,
conceito ou princípio fundamental ou normativo por detrás de certos atos. Esse
vocábulo traz imediatamente às nossas mentes ideias e ensinamentos religiosos,
porque usualmente é assim que ouvimos ser dito. A expressão “a doutrina” pode aludir
aos ensinamentos ou ao sistema de ensinos de alguma religião.

Há um livro muito citado por movimentos conservadores que trata sobre


doutrinação. É o “Maquiavel Pedagogo”, de autoria do professor universitário francês
de ciências da computação Pascal Bernardin, cuja 1ª edição foi publicada no ano de
1995. O autor argumenta que o problema da educação é sua “submissão a interesses
políticos de esquerda”. Logo na introdução do livro, Bernardin deixa claro o seu
pensamento sobre como a educação é feita na contemporaneidade:
57

Uma revolução pedagógica baseada nos resultados da pesquisa psicopedagógica está


em curso no mundo inteiro. Ela é conduzida por especialistas em Ciências da Educação
que, formados todos nos mesmos meios revolucionários, logo dominaram os
departamentos de educação de diversas instituições internacionais [...] Essa revolução
pedagógica visa a impor uma “ética voltada para a criação de uma nova sociedade” e
a estabelecer uma sociedade intercultural. A nova ética não é outra coisa senão uma
sofisticada reapresentação da utopia comunista. O estudo dos documentos em que tal
ética está definida não deixa margem a qualquer dúvida: sob o manto da ética, e
sustentada por uma retórica e por uma dialética frequentemente notáveis, encontra-se
a ideologia comunista [...] A partir de uma mudança de valores, de uma modificação
das atitudes e dos comportamentos, bem como de uma manipulação da cultura,
pretende-se levar a cabo a revolução psicológica e, ulteriormente, a revolução social.
Essa nova ética [...] é obrigatoriamente ensinada em todos os níveis do sistema
educacional. (2012, p. 6)

Para que os educadores-doutrinadores conquistem seus objetivos, segundo o


autor, eles utilizam diversos mecanismo de doutrinação em sala de aula: testes
psicológicos; informatização mundial das questões do ensino; asfixia ou subordinação
do ensino livre; pretensão de anular a influência da família; investimento na formação
de novos professores que defendam ideias progressistas; dar importância pública
para a pedagogia e à psicopedagogia; redefinição do papel da escola (a prioridade já
não é a formação intelectual, mas sim a “aprendizagem da vida social”); modificação
dos valores que os alunos recebem de suas famílias, além do comportamento e
atitudes desses; entre outros. Vale citar também que Bernardin escreve que, nas
escolas, são “utilizadas técnicas de manipulação psicológica e de lavagem cerebral”
e que toda a estrutura burocrático-administrativa da escola (e das instituições que a
regulamentam e a controlam) é desenhada para beneficiar e/ou propiciar uma
revolução cultural (até a organização das etapas, séries e ciclos curriculares e as
avaliações).

O site do Movimento Escola sem Partido conceitua doutrinação seguindo esses


mesmos princípios:

“As nossas escolas estão vazias de professores e repletas de doutrinadores, há um


exército militando nas salas de aula, num afã constante para “mudar a realidade” e para
formar “alunos conscientes” e tantos outros chavões que ouvimos da boca dos
pedagogos”. (2019).

Apesar de o movimento Escola sem Partido tomar para si esse conceito de


doutrinação e até surgir com a motivação de combatê-la, as ideias trabalhadas no livro
de Bernardin parecem não ter sido levadas em consideração para fundá-lo. A razão é
que o livro se tornou popular no Brasil, sendo traduzido para o português, somente
após a indicação do mesmo por Olavo de Carvalho em meados de 2010..
58

O idealizador da proposta é um advogado paulista, Miguel Nagib. Ele narra em


vários momentos que a ideia do Escola sem Partido nasceu quando sua filha
desenvolveu uma atividade em sua escola na qual o professor comparava São
Francisco de Assis com o revolucionário argentino Ernesto “Chê” Guevara. Nagib, que
é católico, não gostou da comparação e viu nela um elemento ideológico. Para ele,
claramente o professor de sua filha estava tentando doutriná-la: ao comparar Guevara
com um santo católico, o professor transmitia a ideia de que o socialismo era uma
visão política perfeita e altruísta.

Atualmente, a ideia de doutrinação vinculada a educação escolar está


amplamente difundida, de modo que vários creem que a escola tem se tornado um
lugar que possui esse propósito.

Tatiana de Britto explica que tal movimento:

Caracteriza-se como uma “associação informal, independente, sem fins lucrativos e


sem qualquer espécie de vinculação política, ideológica ou partidária” (Escola sem
Partido, 2017). O movimento declara ter-se inspirado em iniciativa similar fundada nos
Estados Unidos e alega que numerosas escolas no Brasil, públicas e privadas, da
educação básica à educação superior, são alvo de elevado “grau de contaminação
político-ideológica” em virtude da doutrinação por parte dos professores (Escola sem
Partido, 2017). Segundo o movimento, haveria um proselitismo docente propagando
ideologias esquerdistas, contrárias a diversos valores sociais, como a família tradicional
e o livre-mercado, os valores cristãos e a própria ordem capitalista. Também haveria
apropriação de direitos parentais relacionados ao ensino de preceitos morais
conformes às convicções de cada família. (2019, p. 3).

O projeto de legislação Escola Sem Partido (ESP) foi fundado por Nagib em
2004, mas foi apenas em 2015 que o movimento adquiriu forças para tentar
implementar seu primeiro projeto de lei nas casas legislativas estaduais e municipais
de todo o Brasil. Em 2016, foi submetido ao Senado por Magno Malta (PR-ES), na
forma do Projeto de Lei nº. 193 (PL-193, 2016), para ser incluído na Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional (LDB)28. Segundo os fundadores do Escola Sem
Partido, seria necessária uma mudança dentro das escolas, o que eles chamam de
“liberdade de ensinar”, partindo do princípio de que a laicidade e os direitos dos
estudantes estão sendo ameaçados, assim como as tradições familiares. Como
exemplo, é possível citar uma das justificativas da ementa mais recente do ESP,
chamada de “ESP versão 2.0”:

5) A liberdade de ensinar, obviamente, não confere ao professor o direito de se


aproveitar do seu cargo e da audiência cativa dos alunos, para promover os seus

28 Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996.


59

próprios interesses, opiniões, concepções ou preferências ideológicas, religiosas,


morais, políticas e partidárias; nem o direito de favorecer, prejudicar ou constranger os
alunos em razão de suas convicções políticas, ideológicas, morais ou religiosas; nem
o direito de fazer propaganda político-partidária em sala de aula e incitar seus alunos
a participar de manifestações, atos públicos e passeatas; nem o direito de manipular o
conteúdo da sua disciplina, com o objetivo de obter a adesão dos alunos a determinada
corrente política ou ideológica; nem, finalmente, o direito de dizer aos filhos dos outros
o que é certo e o que é errado em matéria de religião e de moral. (Escola sem Partido,
2019)

Até os dias de hoje, o movimento Escola sem Partido não foi implementando
legalmente. Nesse sentido, o mais próximo que temos é o Projeto de Lei nº. 867 (PL-
867, 2015) “Escola Livre”, inspirado no Escola Sem Partido e submetido à Câmara
pelo deputado federal Izalci Lucas Ferreira (PSDB-DF). No estado de Alagoas, a lei
foi sancionada pelo governador Renan Filho (MDB-AL). A Lei impunha punições aos
professores que praticassem “doutrinações ideológicas” e determinava que os
educadores mantivessem posicionamento “neutro” diante das disciplinas aplicadas.
Todavia, em março de 2017, o programa foi suspenso pelo ministro do Supremo
Tribunal Federal Luís Roberto Barroso. E no dia 22 de agosto de 2020 ocorreu um
julgamento virtual no STF, no qual a lei foi derrubada. Segundo o ministro:

“Nenhum ser humano e, portanto, nenhum professor é uma ‘folha em branco’. Cada
professor é produto de suas experiências de vida, das pessoas com quem interagiu,
das ideias com as quais teve contato", apontou Barroso. "Em virtude disso, alguns
professores têm mais afinidades com certas questões morais, filosóficas, históricas e
econômicas; ao passo que outros se identificam com teorias diversas. Se todos somos
- em ampla medida, como reconhecido pela psicologia - produto das nossas vivências
pessoais, quem poderá proclamar sua visão de mundo plenamente neutra?”. (ESTADO
DE MINAS, 2020).

Partindo do princípio de que vários autores serão contrários ao ESP, o


movimento na verdade deseja criar um alarmismo falso de medo e criminalização das
práticas educacionais, utilizando-se do atual cenário político para comprometer a
educação pública e educadores cujo posicionamento é mais progressista, extirpando
a pluralidade de pensamento.

Outro proposta que também conversa com o Movimento Escola Sem Partido é
o Projeto de Lei nº. 1411 (PL 1411/2015), apresentado pelo deputado federal Rogério
Marinho (PSDB-RN) na Câmara dos Deputados, chamado de “Assédio Ideológico”.
Segundo o projeto,

Entende-se como Assédio Ideológico toda prática que condicione o aluno a adotar
determinado posicionamento político, partidário, ideológico ou qualquer tipo de
constrangimento causado por outrem ao aluno por adotar posicionamento diverso do
seu independente de quem seja o agente. (OLIVEIRA; BATALHA, 2017, p. 48).
60

Todos os projetos contam com o apoio de diversos deputados, para os quais


as escolas no Brasil, principalmente as públicas, vêm sofrendo processo de
ideologização “esquerdista”, principalmente de professores que (segundo defensores
do Escola sem Partido) passam a ser “adeptos do Partido dos Trabalhadores (PT)”:

Tal programa afirma que o governo esquerdista do Partido dos Trabalhadores (PT), por
ser marxista cultural, defende que a educação é muito influenciada pelo marxismo do
educador Paulo Freire, que quer destruir os valores simples e humildes da população
brasileira, incitando à revolução. (SEPULVEDA; SEPULVEDA, 2016, p. 149).

Nas eleições de 2018, o Escola sem partido tornou-se bandeira do então


candidato Jair Bolsonaro. Não só isso, Bolsonaro realizou

uma campanha alinhada às pautas do EsP. Em um post do dia 10 de agosto de 2018,


a página do Facebook do EsP apontava que Jair Bolsonaro era “o único candidato a
Presidente da República a se comprometer publicamente com a aprovação do Escola
sem partido e o combate à ideologia de gênero”. Durante toda a sua campanha à
presidência, Bolsonaro defendeu as bandeiras contra a doutrinação ideológica e a
ideologia de gênero – principais pautas do EsP (LIMA; HYPOLITO, 2020, p. 11).

Ao propor uma escola sem “nenhum partido”, o projeto, na verdade, estimula a


intolerância, preconceito racial e até o ódio contra as minorias. O que está revestido
de garantias dos direitos estudantis, na verdade, é o desejo de implantar um estilo de
educação programada em que a censura e a liberdade vigiada estejam presentes, por
exemplo, em cartazes nas salas de aulas com “deveres” dos professores, aulas
gravadas pelos educandos e denúncias. O ESP deixa tudo esclarecido em seu site,
onde existe uma aba em que é possível ler denúncias feitas contra professores da
educação básica e superior (que descumpriram as supostas “regras”).

Além disso, o conjunto de ideias expressas pelo movimento Escola sem Partido

em grande medida encontram relação com os discursos de alguns setores militares,


expressos principalmente em publicações da editora Biblioteca do Exército (Bibliex),
quando fazem um balanço acerca da ditadura e da transição democrática. Embora se
considerem vencedores da “guerra” contra as organizações da esquerda, depois da
“transição democrática” os militares entendem que continuaram a enfrentar, agora
ideologicamente, essa mesma esquerda. Esses subversivos atuariam na imprensa,
nos governos e no parlamento, buscando vingança e recusando-se a aceitar a “anistia
para os dois lados”. Para os militares haveria ainda lutas a serem travadas, dessa vez
não no campo de batalhas, mas nas disputas de memória que empreendem contra
aqueles que estariam, contemporaneamente, constantemente desqualificando suas
ações do passado (SILVA, 2018, p. 170).

Deve-se partir do princípio de que a escola precisa ser um ambiente onde as


diferenças sejam aceitas, que dessa liberdade seja possível desenvolver um trabalho
escolar autônomo. Privar a escola da pluralidade, das discussões sobre gênero e
sexualidade, dos debates de “temas polêmicos”, resume-se a deduzir que a educação
61

trata da mera transferência de conhecimento. Mais, o fato é que cada educador


progressista e que promove a dignidade humana carrega dentro de si a
responsabilidade de que seus alunos possam ser pessoas críticas e curiosas diante
da sociedade. Paulo Freire, referência como educador e alvo de calúnia constante da
Escola Sem Partido, deixa claro no livro Pedagogia da Autonomia (1996, p. 13) que
saber ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua
própria produção ou a sua construção. Em suma, o projeto Escola sem Partido é uma
iniciativa que mantém os “poderes hegemônicos” na sociedade contemporânea,
possuindo propósitos políticos, de matriz conservadora (ou seja, o Escola sem Partido
não é neutro como se propõe inicialmente).

5.2. IDEOLOGIA DE GÊNERO

Ivanderson da Silva realizou uma pesquisa buscando entender o que significa


a expressão “Ideologia de Gênero”. No resumo de seu artigo, “Em Busca de
Significados para a expressão “Ideologia de Gênero”, podemos ver alguns resultados
que ele obteve:

Essa pesquisa investigou os significados que têm sido produzidos pela expressão
“Ideologia de Gênero” no cenário contemporâneo. De modo específico o estudo
objetivou fazer um mapeamento de publicações que contenham essa expressão em
seu título e/ou resumo, explorar suas definições, bem como as propostas que são
apresentadas. Trata-se de uma investigação de natureza qualitativa, do tipo
bibliográfica, que se amparou na abordagem da revisão sistemática de literatura.
Inicialmente foi realizada uma busca no “Google Acadêmico” pela expressão “Ideologia
de Gênero”. Foram acessadas as 20 primeiras páginas. Foram identificados 26
arquivos. Esse material foi lido e analisado e como resultado se constatou que a
expressão “Ideologia de Gênero” tem assumido pelo menos três significados gerais: o
machismo e a LGBTIfobia como ideologias de gênero; “Ideologia de Gênero” como um
prelúdio do apocalipse moral (no campo religioso e no campo legislativo); e “Ideologia
de Gênero” como uma falácia. (2019, p. 1).

Como podemos ver, o significado de tal expressão não é objetivo. Porém, há


uma intenção por parte dos conservadores em argumentar a favor dela. Na maioria
das vezes, ideologia de gênero não está relacionada a estudos de gênero. Segundo
Junqueira,

a “Ideologia de Gênero” “não corresponde e nem tampouco resulta do campo dos


Estudos de Gênero ou dos movimentos feministas e LGBTI”. Trata-se de um conceito
“elaborado por intelectuais católicas/os convocadas pelo Vaticano para articular a
resistência contra o avanço das pautas feministas” (CARVALHO; SÍVORI, 2017, p. 3).
Segundo Biroli (2015, s/p.) “trata-se da ação retrógrada, [...] para frear e interromper a
consolidação de valores básicos da democracia, como o tratamento igual aos
62

indivíduos [...] e a promoção, [...] do respeito à pluralidade e diversidade”. (2017, p. 45-


46).

O conceito de “ideologia de gênero” é polissêmico. (MAIA; ROCHA, 2017). O


termo “ideologia” é utilizado como arma política com claros desenhos de
desqualificação de estudos de gênero e diversidade sexual baseada numa matriz
heterossexual. (BUTLER, 2013). A história do termo “ideologia de gênero”, inclusive,
perpassou as tramitações do PNE de 2012 até sua aprovação em 2014. Ele ganhou
forças durante as discussões e foi apresentado pelo discurso político-religioso
conservador como a tentativa de “sexualizar precocemente” crianças e fazer do
“homossexualismo” uma prática “normal” (MARANHÃO et al., 2018).

O que precisa ficar claro é que, ao realizar discussões, projetos, rodas de


conversas sobre o tema gênero e sexualidade dentro da escola, os educadores não
estão incentivando os educandos a serem de outro gênero, mas sim tentando torná-
los seres críticos, questionadores quanto à violência e discriminação a pessoas
LGBTQIA+.

Para explicarmos a “ideologia de gênero” a partir de uma perspectiva científica


e crítica e definir o que de fato é o gênero, pode-se usar a definição da Organização
Pan-Americana de Saúde (2019). No subtítulo “principais informações” encontramos
que:

O gênero se refere às características socialmente construídas de mulheres e homens


- como normas, papéis e relações existentes entre eles. As expectativas de gênero
variam de uma cultura para outra e podem mudar ao longo do tempo. Também é
importante reconhecer identidades que não se encaixam nas categorias binárias de
sexo masculino ou feminino.

Como forma de assegurar os direitos dessa parcela da população, documentos


como os “Princípios de Yogyakarta: Princípios sobre a aplicação da legislação
internacional de direitos humanos em relação à orientação sexual e identidade de
gênero”, foram criados. Para desenvolver esse documento específico, uma reunião foi
realizada na Indonésia, em 2007, com vinte e cinco países (contando com o Brasil).
Foi definido, na forma de um guia, os princípios e normas para o cumprimento da
Legislação Internacional de Direitos Humanos em relação à Orientação Sexual e
Identidade de Gênero. No princípio dezesseis, “Direitos à Educação”, nos pontos “c”
e “d”, temos as seguintes normas:

c) Garantir que a educação seja direcionada ao desenvolvimento da personalidade de


cada estudante, de seus talentos e de suas capacidades mentais e físicas até seu
63

potencial pleno, atendendo-se as necessidades dos estudantes de todas as


orientações sexuais e identidades de gênero”. (2007, p. 24).
d) Assegurar que a educação seja direcionada ao desenvolvimento do respeito aos
direitos humanos e do respeito aos pais e membros da família de cada criança,
identidade cultural, língua e valores, num espírito de entendimento, paz, tolerância e
igualdade, levando em consideração e respeitando as diversas orientações sexuais e
identidades de gênero.” (2007, p. 24).

Além desse guia, o “Estatuto da Juventude: atos internacionais e normas


correlatas” (BRASIL, 2013) trata, em algumas leis, sobre gênero e diversidade. A Lei
nº. 12.852/2013, na Seção III, Artigo 18:

III – Inclusão de temas sobre questões étnicas, raciais, de deficiência, de orientação


sexual, de gênero e de violência doméstica e sexual praticada contra a mulher na
formação dos profissionais de educação, de saúde e de segurança pública e dos
operadores do direito; (2013, p. 28)

E na Seção V, Artigo 20:

IV – Garantia da inclusão de temas relativos ao consumo de álcool, tabaco e outras


drogas, à saúde sexual e reprodutiva, com enfoque de gênero e dos direitos sexuais e
reprodutivos nos projetos pedagógicos dos diversos níveis de ensino; (2013, p. 29-30)

O ESP conversa diretamente com o desenvolvimento do termo “ideologia de


gênero”. Afinal, ambos desejam implementar na educação a inibição de propostas
políticas que discutam sobre questões de gênero, sexo e sexualidade e que se
refletem diretamente na persistência das desigualdades sociais. Sob uma das
principais justificativas para forçar a “Ideologia de gênero”, o ESP juntamente com
aqueles que os apoiam, dizem veemente que a moral da “família tradicional cristã”
está sendo vilipendiada. Posicionar-se contra a “ideologia de gênero”, portanto, é
posicionar-se favoravelmente à esses valores tradicionais. É desejar um ensino
neutro, sem qualquer tipo de influência ideológica (que, nesse caso, é de esquerda).

5.3. HOMESCHOOLING

De acordo com os principais historiadores da educação no Brasil, o ensino


domiciliar ou ensino em casa existe desde a chegada dos primeiros portugueses ao
Brasil, e hoje tem sido identificado por pesquisadores como um fenômeno nacional e
internacional.

O homeschooling – educação domiciliar, ou ensino em casa – significa a prática


em que os pais ou responsáveis assumem a responsabilidade pela escolarização do
64

filho em desobrigação às instituições próprias e formais de ensino, buscando a


prevalência das liberdades individuais e o não intervencionismo estatal.

Uma medida provisória que autorize os pais a não matricularem seus filhos em
escolas regulares, passando a educá-los em casa, vem sendo anunciada pelo
governo Bolsonaro desde o início do seu mandato. Tal proposta foi convertida em
Projeto de Lei, em abril de 2019, elaborado pela atual Ministra da Mulher, da Família
e dos Direitos Humanos, Damares Alves. Ademais, o tema é um dos pilares da gestão
de Bolsonaro, estando na lista das metas prioritárias do Governo.

O Projeto de Lei 2401/19 estabelece que os pais que optarem pelo ensino
domiciliar terão que formalizar a escolha junto ao Ministério da Educação e renová-la
anualmente, por meio de plataforma virtual do MEC, com a inclusão do plano
pedagógico individual correspondente ao novo ano letivo. Além disso, o estudante
matriculado em educação domiciliar será submetido, para fins de certificação da
aprendizagem, a uma avaliação anual sob a gestão do Ministério da Educação
(BRASIL, 2019).

O projeto encontra-se em tramitação e entre os principais argumentos para a


sua defesa estão a possibilidade de ofertar às crianças contextos mais seguros, de
modo que elas não estejam em espaços (escolas) suscetíveis de violência, combate
a bullying, questões econômicas e de mercado, mas principalmente e
fundamentalmente o direito dos pais de educarem de acordo com seu valores, suas
regras e suas crenças. Esse último argumento, que é o mais explorado pelos agentes
que defendem o projeto, conecta-se com os demais eixos da agenda moralizadora
que apresentamos, através da ideia de que o estado não deve ser responsável por
determinar temáticas e conteúdos a serem abordados nas escolas. Tais projetos e a
concepção de que a família tem competência para definir os conteúdos abordados
pela escola vêm sendo duramente criticados por setores do campo educacional e dos
movimentos sociais, especialmente os que possuem relação com a atuação docente.
Segundo Cunha (2016), tais projetos negam à criança como um sujeito de direitos,
com tentativa de substituição do poder do estado pelo poder da família. Soma-se a
essa percepção a de que eles inviabilizam o caráter republicano da escola.

No atual cenário não há legislação que vede ou permita de forma direta a


educação domiciliar, no entanto, há muito tempo entende-se que o ensino regular das
65

crianças e dos adolescentes cabe ao sistema de ensino vigente, ou seja, às redes de


escolas públicas e privadas. Sendo assim, a educação escolar é um direito
fundamental das crianças e adolescentes, cabendo aos pais ou responsáveis o dever
de matricular seus filhos a partir dos 4 anos nas escolas e cuidar da frequência deles,
assim como ao estado a responsabilidade paralela de efetivação deste direito, em
conjunto com os pais.

De acordo com a ANED (Associação Nacional de Educação Domiciliar), dentre


os motivos pelos quais os pais escolhem tal modalidade, está o desejo de maior
controle sobre a educação do filho.

Tanto os céticos quanto os defensores da educação domiciliar concordam que uma


das causas principais que levam à opção por tal modalidade é, sem dúvida, a
descrença na escola, em sua qualidade, segurança e na confiabilidade de seu papel
enquanto espaço de socialização e transmissão de valores, informações e conteúdos
para a formação efetiva do cidadão. (ARRUDA; PAIVA, 2017, p. 33).

Da mesma forma, Góes e Souza (2019) entendem que a demanda pela


educação domiciliar é reflexo da falha de prestação do serviço público de ensino.

De acordo com o Ministro Luiz Fux, em seu voto no julgamento que negou
provimento ao Recurso Extraordinário (RE) 888815, no qual se discutia a possibilidade
de o homeschooling ser considerado como meio lícito de cumprimento, há
inconstitucionalidade na matéria por essa ser incompatível com os dispositivos
constitucionais, dentre eles a obrigatoriedade de os pais matricularem seus filhos em
instituições de ensino. Destacou-se em seu voto, também, a importância da função
socializadora da educação. Apoiando o entendimento de Fux, Lewandowski afirma
que “o risco seria a fragmentação social e desenvolvimento de ‘bolhas’ de
conhecimento, contribuindo para a divisão do país, intolerância e incompreensão”.
(STF, 2018). Da mesma forma, Marco Aurélio acredita que “textos legais não permitem
interpretações extravagantes. Há uma máxima em hermenêutica segundo a qual onde
o texto é claro não cabe interpretação”, afirmando, categoricamente, que a legislação
brasileira não dá respaldo para que seja praticada a educação domiciliar. (STF, 2018).

Muito se discute sobre o direito de liberdade dos pais em escolher a forma de


educar seus filhos, no entanto, a legislação, por diversas vezes, deixa claro que o
estado deve fornecer a educação, devendo a família participar de forma
complementar.
66

O que fica, claro, contudo, é que a proposta do homeschooling tem a mesma


natureza e é defendida entre os mesmos grupos que defendem o movimento Escola
sem Partido e outras propostas de matriz conservadora (ideologia de gênero, escola
cívico-militares, entre outras, já ressaltadas neste trabalho). Para Nacif e Filho,

Num campo com tantos desafios como é a Educação, o homeschooling foi colocado
como uma temática prioritária do governo Jair Bolsonaro para os primeiros 100 dias de
governo. A defesa do homeschooling no Brasil tem como principal motor grupos
ultraconservadores cristãos que se organizam nessa direção. São os mesmos grupos
da sociedade e parlamentares que também defendem o projeto Escola sem Partido, e
que combatem uma suposta doutrinação comandada por professores. (2019, p. 241-
242).

A defesa do homeschooling, bem como a defesa dos mais importantes


programas do governo Bolsonaro têm em comum o aspecto ideológico. O objetivo é
desconstruir a ideologia de esquerda (que segundo eles, está presente nas escolas)
e intensificar a ideologia da direita. Propostas como o Projeto Escola Sem Partido e o
homeschooling são claras expressões da tentativa de promover uma formação
específica para os alunos ou, em última instância, retirá-los da escola (porque essa
promove o “esquerdismo”).

5.4. ESCOLAS CÍVICO-MILITARES

O Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (Pecim) foi instituído pelo


Decreto nº. 10.004, de 5 de setembro de 2019, e regulamentado pela Portaria nº.
2015, de 20 de novembro de 2019. A meta é inaugurar 216 escolas cívico-militares no
Brasil até 2023. Segundo o decreto, "o programa tem a finalidade de promover a
melhoria na qualidade da educação básica no ensino fundamental e no ensino médio."

Para compreender a proposta, podemos apelar a um argumento de ordem


técnica, menos significativo, e a outro de ordem biográfica, por assim dizer, que é mais
determinante.

Escolas militares apresentam desempenho superior ao de escolas públicas


comuns, inclusive no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). (BENEVIDES;
SOARES, 2020). Entretanto, o resultado parece justificar-se menos pelo modelo da
escola do que pelo investimento por aluno, que é cerca de três vezes maior nas
67

instituições militares (R$19 mil por aluno/ano contra R$6 mil). (CAFARDO; JANSEN,
2018). A discrepância orçamentária é significativa demais para ser inócua.

Além disso, o desempenho de outras escolas federais e técnicas, apesar do


orçamento ligeiramente menor, é superior ao de escolas militares no Enem. Em todo
caso, não se podem comparar instituições que, afora o orçamento mais generoso,
ainda submetem os potenciais alunos a processos seletivos com outras que são
obrigadas a admitir qualquer um que pleiteia a vaga. Sem contar o nível
socioeconômico dos alunos, que é tão mais alto quanto melhor o desempenho das
escolas.

Como dissemos, o Plano Nacional de Escolas Cívico-Militares não pode ser


compreendido sem se apelar à biografia do presidente. Jair Bolsonaro era capitão do
exército, dedicou seus mandatos legislativos aos militares e nomeou-os para muitos
cargos importantes no governo. O ethos (a ética), o pathos (a emoção) e o logos
(lógica) do presidente são todos militaristas. O Pecim, portanto, é mais revelador sobre
quem é Bolsonaro do que sobre o que são as escolas militares. E o programa não
faria sentido se o presidente não fosse um ex-militar orgulhoso da corporação a que
pertenceu.

Atualmente, o programa encontra-se na fase piloto e, segundo o MEC, 54


escolas públicas estão aptas a se tornarem escolas cívico-militares. Espírito Santo,
Sergipe, Piauí e Alagoas ficaram de fora por não atenderem todos os critérios
necessários para ingressar no Pecim, ou por não estarem de acordo com as medidas
educacionais que o projeto deseja implantar nas escolas.

O MEC estabelece os seguintes critérios para que uma escola pública se torne
cívico-militar:

• Com alunos em situação de vulnerabilidade social;


• Com desempenho abaixo da média estadual no Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (Ideb);
• Preferencialmente, com o número de matrículas de 501 a 1.000;
• Com a oferta das etapas anos finais do ensino fundamental regular e/ou ensino
médio regular;
• Com a oferta de turno matutino e/ou vespertino, excetuando-se o noturno;
68

• E com a aprovação da comunidade escolar para a implantação do modelo


(BRASIL, 2020).

Segundo o último critério acima, é necessário que a comunidade escolar deseje


a implantação do modelo, porém, uma das falas do presidente Jair Bolsonaro deixa o
questionamento sobre a decisão ser um direito da comunidade escolar:

"Me desculpa, não tem que aceitar não. Tem que impor. Se aquela garotada está na
quinta série e na prova do Pisa não sabe uma regra de três simples, não sabe
interpretar um texto, não responde a uma pergunta básica de ciência, me desculpa,
não tem que perguntar para o pai, irresponsável nesta questão, se ele quer ou não uma
escola, de certa forma, com militarização. Tem que impor, tem que mudar" (AMARAL,
2019).

O MEC respondeu à algumas perguntas feitas pelo site da British Broadcasting


Corporation Brasil (BBC Brasil) para obter mais informações sobre o Pecim. As
respostas ajudam a compreender melhor como funcionará o programa:

• “O recurso será o mesmo independentemente do tamanho das escolas?


o Não, os valores serão de acordo com a quantidade de alunos e militares
que serão necessários na escola. O MEC calcula a necessidade de 18
militares para uma escola de mil alunos:
• Qual será a função de cada um?
o Gestão Escolar - o militar atuará em colaboração com os demais
profissionais da escola nas áreas didático-pedagógica, educacional e
administrativa;
o Gestão Educacional - o militar atuará supervisionando os monitores
escolares em apoio à área educacional; e
o Monitoria Escolar - os militares atuarão sob a orientação do oficial de
Gestão Educacional, nas áreas educacional e administrativa, em
atividades externas à sala de aula, com o intuito de melhorar o ambiente
escolar.
• Quem será o Diretor da Escola? Ele será civil ou militar? Como será o
processo de seleção do diretor?
o O Programa não interfere na escolha dos diretores. O processo de
seleção será conduzido pelas secretarias de educação dos estados,
municípios e do Distrito Federal, conforme legislação específica” (MORI,
2019).
69

Ou seja, os militares ajudarão a decidir o plano pedagógico, gestão escolar e


administrativa das escolas que participarem do Pecim. Segundo o decreto nº. 10.004,
de 5 de setembro de 2019, cabe ao Ministério da Educação escolher o perfil dos
militares e fazer o processo seletivo daqueles que estão inativos nas Forças Armadas
e desejam trabalhar por um tempo determinado nas escolas. O primeiro decreto que
estabelece a junção dos militares às escolas públicas é o decreto nº. 9.940, de 24 de
julho de 2019, que altera o item 10 do § 1º do art. 21 do Decreto nº. 88.777, de 30 de
setembro de 1983 e aprova a educação básica com gestão em colaboração com os
policiais militares e corpos de bombeiros militares.

É importante ressaltar também o art. 3º do Pecim onde estão descritos os


princípios do programa, como a promoção de educação básica de qualidade aos
alunos das escolas públicas regulares estaduais, municipais e distritais (I), o
atendimento preferencial às escolas públicas regulares em situação de
vulnerabilidade social (II), o desenvolvimento de ambiente escolar adequado que
promova a melhoria do processo ensino-aprendizagem (III), a gestão de excelência
em processos educacionais, didático-pedagógicos e administrativos (V), o
fortalecimento de valores humanos e cívicos (VI), a adoção de modelo de gestão
escolar baseado nos colégios militares (VII), pelos princípios, podemos concluir e
supor que o programa não seguirá a gestão democrática imposta pela constituição e
pela Lei e Diretrizes de Base da Educação Nacional (LDB) e sim substitui-la pelo
modelo de gestão e excelência dos colégios militares baseado na hierarquia e na
rígida disciplina. Além disso, os princípios III e V discorrem também sobre as medidas
que deverão ser tomadas para diminuir os índices de violência dentro das escolas
públicas.

Apesar do grande investimento nesse programa por parte do Governo Federal,


também é possível compreender que, em vez de tratar dos problemas de raízes
profundas da educação pública que estão ligados à segurança dos alunos, de garantia
de educação de qualidade, de melhoria nos salários dos professores e principalmente
do investimento financeiro, o governo escolheu implantar essa “nova” abordagem
educacional. A esse respeito, Martin (2019) complementa que

o estado policial, nesse momento, alcançaria o dia a dia das escolas instituindo
condutas compatíveis com os valores da ordem. Embora compreendamos muitas das
dificuldades dos profissionais da educação ao considerarmos a temática da violência,
assim como a preocupação dos pais em relação a seus filhos, esse apelo pela
70

militarização pode promover o efeito de silenciamento e consequente exclusão dos


alunos, famílias e professores”.

Com essas considerações, podemos apontar que o Programa Nacional das


Escolas Cívico-militares se configura como uma nova estratégia de implementação do
ideário defendido pelo movimento Escola Sem Partido (DA NOVA; BONETTI, 2020).
71

6. ADENDO: AS PROPOSTAS BOLSOLAVISTAS E A BNCC

Essas propostas bolsolavistas influenciaram a construção de outras políticas


educacionais, como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que faz parte do PNE
2014/2024, previsto na Constituição Federal de 1988. A primeira versão do documento
foi redigida em 2014 e já no ano de 2015 foi aberto para consulta pública. 45 mil
escolas colaboraram no processo, desenvolvendo a segunda versão, porém foi
somente no governo do presidente Michel Temer que a versão final da Base Comum
Curricular foi homologada pelo MEC, em dezembro de 2017.

Além disso, temos o Projeto de Lei nº. 2731 (PL 2731, 2015), proposto pelo
deputado Eros Biodini (PTB-MG), que “altera a Lei nº. 13.005, de 25 de junho de 2014,
o que estabelece o PNE e dá outras providências”. O projeto previa que deveria ser
proibida a utilização de qualquer “tipo de ideologia” na educação nacional, em especial
a ideologia de gênero. Atualmente, o PL encontra-se no status “retirada pelo autor”.

Outra mudança importante a ser relatada aqui é a reforma do Ensino Médio,


que foi o primeiro ato do ex-presidente da república Michel Temer (PMDB), publicando
a Medida Provisória 746/16 (BRASIL, 2016). Uma das razões, segundo Temer, seria
“corrigir o número excessivo de disciplinas do ensino médio, não adequadas ao
mundo do trabalho”. A MP virou a Lei nº. 13.415 (BRASIL, 2017), que alterou
diretamente a LDB e estabeleceu que: “o currículo do ensino médio será composto
pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos”29:

Art. 35 A.
A Base Nacional Comum Curricular definirá direitos e objetivos de aprendizagem do
ensino médio, conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas seguintes
áreas do conhecimento:
I linguagens e suas tecnologias;
II matemática e suas tecnologias;
III ciências da natureza e suas tecnologias;
IV ciências humanas e sociais aplicadas. (Lei 13.415/17)

A atual reforma tomou primeiramente como base o Programa Ensino Médio


Inovador (ProEMi), instituído pela Portaria nº. 971 em 2009, que desejava como um
dos seus principais objetivos ampliar a carga horária do Ensino Médio. O programa

29 Determinação que passa a compor o Art. 36 da LDB.


72

atualmente está alinhado às diretrizes e metas do PNE 2014/2024 e a atual BNCC do


Ensino Médio. Segundo Paulo Romualdo Hernandes:

O ProEMi tem como objetivo elaborar hipóteses, levantar conjecturas, estabelecer


algumas inferências sobre o que pode ocorrer com as alterações pretendidas pela lei
ainda a serem implementadas. (p. 581, 2020).

O novo ensino médio possui um total de 3.500 horas, sendo 1.800 horas para
a integralização do ensino médio e outra parte à escolha dos educandos, que contam
com cinco arranjos curriculares: I – Linguagens e suas tecnologias; II – Matemática e
suas tecnologias; III – Ciências da Natureza e suas tecnologias; IV – Ciências
Humanas e Sociais aplicadas e V – Formação técnica e profissional.

A reforma do ensino médio aconteceu de maneira rápida, sem discussão


popular e principalmente sem intervenção dos educadores, visando a uma educação
técnica e voltada ao trabalho30. E apesar de ser apresentada como “inovadora”, essa
proposta é limitada e não resolve os vários desafios da educação brasileira.
Problemas como a baixa remuneração dos professores e como eles preencherão essa
carga horária (e se receberão mais para isso, visto que as horas de trabalho são
excessivas); e as escolas, que precisam ter mais espaços de convivência,
laboratórios, coordenadores e outros agentes específicos para coordenar os projetos,
além de uma ampla política de financiamento. Além de todos os obstáculos citados
acima, o Brasil conta com a Emenda Constitucional nº. 095/2016, que sanciona o
limite de orçamento destinado à educação do Poder Executivo de 2018 a 2036.

Em colaboração com a reforma do ensino médio, no ano de 2018 também


foram atualizadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM),
sob influência da Lei 13.415/2017. Esta ajudou a formalizar a BNCC, que por sua vez
é fundamentada na Constituição Brasileira (1988), na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional Lei nº. 9.394/1996, nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais
para a Educação Básica e no PNE. As novas diretrizes curriculares foram
apresentadas em 2018 pelo então ministro Mendonça Filho, que define o documento
plural e diversificado:

A partir dela, as redes de ensino e instituições escolares públicas e particulares


passarão a ter uma referência nacional comum e obrigatória para a elaboração dos
seus currículos e propostas pedagógicas, promovendo a elevação da qualidade do

30 O ensino técnico é interessante a partir de uma perspectiva econômica que vise ao


desenvolvimentismo nacional. Sem esta política, a educação técnica pretende criar sujeitos
disciplinados para o mercado de trabalho e com pouco conteúdo para a formação humana e cidadã.
73

ensino com equidade e preservando a autonomia dos entes federados e as


particularidades regionais e locais (BRASIL, 2018).

A formulação das DCNEM e da BNCC revela a vontade da padronização


curricular da educação pública. Indo além, a própria BNCC expõe que depende
apenas do sujeito e da sua “vontade” alcançar o sucesso escolar, isentando o estado
da responsabilidade de garantir as condições necessárias31. Juntamente com a Lei
13.415/2017, há uma desconsideração da existência das desigualdades sociais
presentes dentro das escolas públicas e, portanto, a verdadeira realidade de uma
parcela significativa da população brasileira. Em contraposição, Libâneo (2016) nos
mostra que,

Tendo como pressuposto que a escola é uma das mais importantes instâncias de
democratização da sociedade e de promoção de inclusão social, cabendo-lhe propiciar
os meios da apropriação dos saberes sistematizados constituídos socialmente, como
base para o desenvolvimento das capacidades intelectuais e a formação da
personalidade, por meio do processo de ensino-aprendizagem. (p. 5).

Segundo Libâneo (2016), desde a década de 90 existe um intenso diálogo entre


os países desenvolvidos e países em desenvolvimento com o Banco Mundial, no
intuito da formulação de currículos prontos com base na equidade e inclusão dos
grupos menos favorecidos, estimulando o crescimento dessa parcela da população
em benefício do bem estar social, visando ao trabalho. Para Libâneo,

Em documento do Banco Mundial de 1992, podia-se ler sua posição em relação à


educação como pedra angular do crescimento econômico e do desenvolvimento social
e um dos principais meios para melhorar o bem-estar dos indivíduos. O documento
explicava:
Ela aumenta a capacidade produtiva das sociedades e suas instituições políticas,
econômicas e científicas e contribui para reduzir a pobreza, acrescentando o valor e a
eficiência ao trabalho dos pobres e mitigando as consequências da pobreza nas
questões vinculadas à população, saúde e nutrição. (BANCO MUNDIAL, 1992).
(LIBÂNEO, 2016, p.45).

Alberto Boom (2004) também escreve sobre o interesse mundial e econômico


no desenvolvimento da educação pública:

Em que pese o fato de esta nova estratégia ser expressa em termos de metas
humanitárias e de preservação da liberdade, ela busca um novo controle dos países e
de seus recursos. Mais ainda, a nova estratégia enfoca o ser humano como o recurso
mais importante sobre o qual devem ser focalizados todos os esforços, não só como
objeto de exploração, mas como sujeito que demanda e consome e, portanto,
suscetível de ingressar no mercado. Em síntese, o desenvolvimento humano é a
miragem com a qual se pretende impulsionar as novas relocalizações da política global
em que o mercado opera como o ordenador econômico por excelência e a
produtividade do indivíduo se constitui como o propósito central dessa estratégia.
(2004. p. 220).

31 Apesar de tal documento ser considerado “inovador”.


74

Portanto, o enfoque da educação está lentamente mudando e construindo um


caminho que visa a distribuição de conteúdo programados e científicos,
desestimulando o pensamento crítico, desenvolvimento humano e a capacidade de
sair do status quo.

Fazemos das palavras de Libâneo as nossas:

A escola se reduz a atender conteúdos “mínimos” de aprendizagem numa escola


simplificada, aligeirada, atrelada a demandas imediatas de preparação da força de
trabalho. O que precisa ser desvendado nesses princípios assentados na satisfação de
necessidades básicas de aprendizagem é que, na verdade, trata-se de criar insumos
para que o aluno alcance a aprendizagem como produto, deixando em segundo plano
o processo de aprendizagem. (LIBÂNEO, 2016).
75

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acreditamos que o século XXI vem acompanhado de um aumento de propostas


assumidamente ideológicas32 para os mais diversos aspectos, setores e lugares
sociais. Os movimentos assumidamente ideológicos estão cada vez mais presentes e
as conjunturas políticas estão cada vez mais polarizadas. Simultaneamente, ideias de
direita têm aparecido nos cenários políticos, o que é seguido por crises institucionais
de movimentos de centro e movimentos de esquerda (ambos das mais diversas
matrizes). E os movimentos políticos de direita expressam cada vez mais suas ideias
e propostas para a educação. No caso do Brasil especificamente, a direita
conservadora propõe para a educação projetos como a militarização das escolas, o
Escola sem Partido, o fim da (do que se quis chamar pejorativamente como) ideologia
de gênero e o homeschooling.

Essa mudança no espectro político e a conseguinte apresentação de propostas


de direita para a educação “forçam” as posições centristas e progressistas a
apresentarem suas propostas para esse campo. Porém, acreditamos que somente a
direita tem propostas “reais” para a educação. Podemos resumir esse pensamento a
partir da seguinte “linha de raciocínio”:

1. Há um aumento da participação de movimentos ideológicos em debates


públicos sobre educação;
2. Esses movimentos assumidamente ideológicos apresentam propostas para a
educação;
3. Os grupos que se colocam à direita no espectro político apresentam propostas
mais concretas, definitivas e direcionadas;
a. Em contrapartida, os grupos mais progressistas não possuem propostas
para a educação que sejam concretas, definitivas e que são
direcionadas. Podemos enquadrar alguns métodos e teorias

32
Ao falar de movimentos assumidamente ideológicos, estamos nos referindo a movimentos políticos
organizados de todos os campos do espectro político, conservadores e progressistas, democráticos e
autoritários, de esquerda e de direita. Apesar disso, alguns desses movimentos assumidamente
ideológicos se apresentam como neutros, sem qualquer tipo de ideologia. De acordo com o que
apresentaremos adiante neste trabalho, não há nada nas pesquisas em ciências humanas, o que inclui
a política, que seja neutro. Mesmo assim, não é raro tais movimentos se declararem dessa forma. Os
exemplos clássicos são as correntes liberais tradicionais e as correntes conservadoras de influência
britânica. (OAKESHOTT, 2014; KIRK, 2014).
76

pedagógicas como progressistas por conta de suas abordagens


socioculturais ou humanistas.
b. Contudo, não existe nenhuma proposta homogênea que seja oriunda de
grupos políticos “centristas” ou “esquerdistas”. Não há algo como uma
“escola com partido” ou a defesa de “escolas desmilitarizadas”. Em
suma, alguns métodos e teorias educacionais se enquadram como
progressistas, mas não são produzidos por movimentos políticos.

De qualquer maneira, por mais que existam propostas dos setores


progressistas, há uma diferença de natureza e essência entre ambas. Das propostas
discutidas neste trabalho (escola sem partido, ideologia de gênero, escolas cívico-
militares e homeschooling), todas são direcionadas a silenciar o pensamento plural na
escola, controlar o que é dito na sala de aula ou mesmo mudar a estrutura de toda a
educação (seja implantando uma escola controlada por militares, seja dando a
possibilidade de pais educarem seus filhos de acordo com seu pensamento). Visam
sobretudo a manter um estado de coisas, as distinções sociais e a desigualdade social
que faz girar a roda do capital. Vivemos em um país extremamente violento, racista e
misógino. Tais propostas antiprogressistas buscam manter a instabilidade dessas
formas de controle e dominação.

Não há, entre os bolsolavistas, profundidade científica em suas propostas. Foi


possível verificar, por meio da produção analisada, que o objetivo é claramente político
e serve a um projeto específico de sociedade.

Esse processo na educação brasileira, no qual está incluso o desmonte de


diversas instituições, além do desmoronamento organizado de diversas conquistas,
levará a um retrocesso de conquistas educacionais e perdurará enquanto grupos
conservadores detiverem influência na formação de políticas públicas para a
educação. Contudo, ainda não é possível prever quais serão os efeitos e
consequências dessas medidas e propostas caso elas sejam adotadas em sua
integralidade.

O futuro da educação brasileira ainda será decidido por meio dessa disputa
intelectual entre dois grupos. O conflito tem, de um lado, grupos conservadores
bolsolavistas; e do outro, grupos de ideologias e movimentos sociais diversos, que
entendem que a educação não pode ser vítima de políticas que objetivam cercear a
77

liberdade de atuação dos professores, as discussões sobre gênero e identidade, a


pluralidade de metodologias e técnicas de ensino (e suas discussões que são comuns,
científicas e construtivas), entre outros valores democráticos, participativos,
horizontais e liberais.
78

8. REFERÊNCIAS

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militares. UOL, 5 set. 2019. Disponível em:
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estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e 11.494, de 20 de junho
2007, que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, a Consolidação das Leis do
Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, e o
Decreto-Lei no 236, de 28 de fevereiro de 1967; revoga a Lei no 11.161, de 5 de
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Educação, a Consolidação das Leis do Trabalho — CLT, aprovada pelo decreto-lei
n. 5.452, de 1º de maio de 1943, e o decreto-lei n. 236, de 28 de fevereiro de 1967;
revoga a lei n. 11.161, de 5 de agosto de 2005; e institui a Política de Fomento à
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81

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