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substancial1. Não por acaso é que, no Brasil, projetos como o que torna legal
o aborto ou a utilização de embriões humanos em pesquisas científicas são
obstados por pressão política de grupos religiosos.
Como resultado do processo histórico de sua formação social
e política, no qual a Igreja Católica exerceu importante influência, o Estado
brasileiro findou por reconhecer como próprios da nacionalidade brasileira
alguns valores, símbolos e datas provenientes da religião católica, a exemplo
do uso de crucifixos nas repartições públicas e os feriados nacionais de
Corpus Christi e de Nossa Senhora Aparecida.
As Igrejas evangélicas, por outro lado, começaram a se
estabelecer no Brasil a partir da segunda metade do século XIX com a
chegada dos imigrantes europeus e das missões protestantes americanas. O
crescimento das religiões protestantes até os anos setenta é constante, mas
lento; a partir dos anos oitenta verifica-se uma aceleração nesse
crescimento, principalmente em razão do surgimentos das igrejas ditas
neopentecostais:
1
Sobre como as religiões interagem com o Estado e a esfera pública de modo geral no Brasil, ver
MONTERO, Paula. Religião, pluralismo e esfera pública no Brasil. Novos estudos - CEBRAP, mar. 2006,
no.74, p.47-65
2
Mariano, Ricardo. “Pentecostais e política no Brasil”. Disponível na página:
http://www.comciencia.br/reportagens/2005/05/13_impr.shtml
2
igrejas pentecostais, que os evangélicos passaram a ter uma postura mais
ativa na política brasileira, o que se reflete também nas demandas por
reconhecimento de seus símbolos, dogmas e interdições.
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estritamente local; a realização de constantes campanhas
itinerantes de proselitismo montadas até em barracas, uma
organização mais sistemática sendo efetuada por J. N.
Andrews em Battle Creek numa comunidade que se tornaria
modelo a partir de 1859. O próprio nome Adventista do Sétimo
Dia somente foi adotado a partir de maio de 1861 [...] 4
20. O Sábado
O bondoso Criador, após os seis dias da Criação, descansou
no sétimo dia e instituiu o Sábado para todas as pessoas,
como memorial da Criação. O quarto mandamento da imutável
Lei de Deus requer a observância deste Sábado do sétimo dia
como dia de descanso, adoração e ministério, em harmonia
4
Oliveira Filho, José Jeremias de. Formação histórica do movimento adventista. Estud. av., São Paulo,
v. 18, n. 52, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
40142004000300012&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 08 Set 2006.
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com o ensino e prática de Jesus, o Senhor do Sábado. (Gên.
2:1-3; Êxo. 20:8-11; 31:12-17; Lucas 4:16; Heb. 4:1-11; Deut.
5:12-15; Isa. 56:5 e 6; 58:13 e 14; Lev. 23:32; Mar. 2:27 e 28). 5
5
As 28 crenças fundamentais. Disponível no portal da Igreja Adventista do Sétimo Dia na internet:
http://www.dsa.org.br/crencas.asp
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por parte dos conselhos profissionais para o exercício da
profissão, encontram problemas especiais. Ao lidarem com
essas situações, recomenda-se que façam arranjos com a
administração para poderem prestar os exames em horas que
não sejam do sábado. A Igreja deve incentivar os membros
quanto à cuidadosa observância do sábado e, sempre que
possível, interceder junto às autoridades competentes para que
possibilitem a reverência para com o dia de Deus e o acesso
aos exames.
[...]
Trabalho Essencial e de Emergência. A fim de exaltar a
santidade do sábado, os adventistas do sétimo dia devem
fazer escolhas sábias na questão do emprego, guiados por
uma consciência iluminada pelo Espírito Santo. A experiência
tem demonstrado que há riscos na escolha de vocações que
não permitam a adoração do Criador no sábado, livre de
envolvimento com trabalho secular. Isso significa que evitarão
tipos de emprego que, embora essenciais para o funcionamento
de uma sociedade tecnologicamente avançada, possam
oferecer problemas quanto à observância do sábado.
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realizadas aos sábados. Do outro lado, o Estado escusa-se de adotar
soluções alternativas que permitam aos cidadãos dessa crença religiosa ter
acesso igualitário aos bens e serviços públicos sob o argumento de sua
neutralidade religiosa (laicidade).
Laicidade e Diferenças
6
Emerson Giumbelli apud Mariano, Ricardo. Secularização do Estado, Liberdades e Pluralismo
Religioso”. Disponível na internet: http://www.naya.org.ar/congreso2002/ponencias/ricardo_mariano.htm.
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disposição para receber suas demandas, seja para participar de seus
eventos. É possível, também, notar como é dado certo caráter oficial a
determinadas cerimônias católicas, como missas festivas ou solenes 7.
Dessa forma, a UEG, como órgão do Estado, também
participa dessa “preferência” pela Igreja Católica respeitando, por exemplo,
os feriados religiosos católicos (Paixão de Cristo, Corpus Christi, Nossa
Senhora Aparecida, Finados, Natal e Sant'Ana – este último feriado
municipal em devoção à padroeira da cidade de Anápolis, sede da UEG),
cedendo seus espaços para atividades da capelania universitária católica ou
promovendo eventos do Centro de Estudos de História da Igreja na América
Latina-CEHILA, instituição com fortes vínculos com a Igreja Católica.
Afirmar essa “preferência” não significa considerá-la espúria
ou ilegítima, mas apenas destacar que a efetivação do princípio da laicidade
do estado necessita algo mais que a neutralidade estatal, exige respeito e
reconhecimento da diversidade religiosa de sua população. No caso em tela,
o respeito e o reconhecimento poderiam se consubstanciar justamente na
busca de alternativas às práticas acadêmicas que se contrapõe a
determinadas crenças, desde que tais soluções não impliquem prejuízo
àqueles que não professam a mesma fé.
Cumpre registrar que esses problemas – decorrentes do
choque entre a laicidade do Estado e restrições religiosas – não ocorrem
somente com os adeptos da Igreja Adventista do Sétimo Dia: na semana
passada, por exemplo, a Confederação Israelita do Brasil solicitou ao
Tribunal Superior Eleitoral que os judeus não fossem chamados a trabalhar
como mesários nas próximas eleições, tendo em vista o início do Yom Kippur
(dia sagrado do Perdão), mas o TSE decidiu que os juízes eleitorais
decidirão casa a caso sobre a dispensa de mesários de religião judaica.
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É comum, em Brasília, que grupamentos militares (como os Dragões da Independência, batedores e
bandas de músicas) participarem de cerimônias católicas.
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Comparação: véu islâmico nas escolas públicas francesas
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Esse não foi o primeiro caso de proibição do véu em escolas públicas, em 1989 outro caso envolvendo
três meninas muçulmanas gerou grande polêmica nos meios de comunicação e na sociedade francesa em geral.
No entanto, foi em 2003 que o problema foi alçado a tema fundamental
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Pinto, Céli Regina Jardim. Quem tem direito ao "uso do véu"?: (uma contribuição para pensar a questão
brasileira). Cad. Pagu., Campinas, n. 26, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0104-83332006000100015&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 18 Set 2006.
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diferente da instrução pública livre e compulsória para todas
as crianças em solo francês, para justapor um aspecto de sua
identidade privada na esfera pública. Assim agindo,
problematizaram a escola tanto quanto seus lares: já não
tratam a escola como o espaço neutro da aculturação francesa,
mas manifestam abertamente suas diferenças culturais e
religiosas. Usaram o simbólico do lar na esfera pública,
retendo a modéstia requerida delas pelo Islã, cobrindo suas
cabeças; ao mesmo tempo que saíram de casa para
transformarem-se em atores públicos no espaço público civil,
do qual elas desafiam a condição em que se encontram. 10
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expostas ao espaço público, laico, diferenciado. Que elas
estejam em locais públicos, e a escola laica francesa é um
desses locais privilegiados, onde possam expressar-se e ouvir
posições distintas das suas. Aí reside a possibilidade da
retirada do véu a seu favor. Possivelmente, neste cenário,
muitas mulheres retirariam o véu, outras tantas não. Mas esta
é a única forma igualitária de tratar todos os cidadãos.
Conclusão
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culturais e religiosos, o desconhecimento da diversidade religiosa no Brasil
em nada contribui para a formação de uma cultura de tolerância religiosa e
de acordo com o ideal de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos como afirmado no preâmbulo de nossa Constituição Federal.
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