Você está na página 1de 3

Assembleia dos Estados Gerais de 1789

A sociedade francesa da segunda metade do século XVIII possuía dois


grupos muito privilegiados: o Clero ou Primeiro Estado, composto pelo Alto
Clero, que representava 0,5% da população francesa, era identificado com a
nobreza e negava reformas, e pelo Baixo Clero, identificado com o povo, e
que as reclamava; a Nobreza, ou Segundo Estado, composta por uma
camada palaciana ou cortesã, que sobrevivia à custa do Estado, por uma
camada provincial, que se mantinha com as rendas dos feudos, e uma
camada chamada Nobreza Togada, em que alguns juízes e altos funcionários
burgueses adquiriram os seus títulos e cargos, transmissíveis aos herdeiros.
Aproximava-se de 1,5% dos habitantes. Esses dois grupos (ou Estados)
oprimiam e exploravam o Terceiro Estado, constituído por burgueses,
camponeses sem terra e os "sans-culottes", uma camada heterogênea
composta por artesãos, aprendizes e proletários, que tinham este nome
graças às calças simples que usavam, diferentes dos tecidos caros utilizados
pelos nobres. Os impostos e contribuições para o Estado, o clero e a nobreza
incidiam sobre o Terceiro Estado, uma vez que os dois últimos não só tinham
isenção tributária como ainda usufruíam do tesouro real por meio de pensões
e cargos públicos.[31]

O encontro da Assembleia dos Estados Gerais em 5 de maio de 1789 em Versalhes.


A França ainda tinha grandes características feudais: 80% de sua economia
era agrícola. Quando uma grande escassez de alimentos ocorreu devido a
uma onda de frio na região, a população foi obrigada a mudar-se para as
cidades e lá, nas fábricas, era constantemente explorada e a cada ano
tornava-se mais miserável. Vivia à base de pão preto e em casas de
péssimas condições, sem saneamento básico e vulneráveis a muitas
doenças. A reavaliação das bases jurídicas do Antigo Regime foi montada à
luz do pensamento Iluminista, representado
por Voltaire, Diderot, Montesquieu, John Locke, Immanuel Kant, etc. Eles
forneceram pensamentos para criticar as estruturas políticas e sociais
absolutistas e sugeriram a ideia de uma maneira de conduzir liberal
burguesa. A situação social era tão grave e o nível de insatisfação popular
tão grande que o povo foi às ruas com o objetivo de tomar o poder e arrancar
do governo a monarquia comandada pelo rei Luís XVI. O primeiro alvo dos
revolucionários foi a Bastilha. A Queda da Bastilha em 14 de Julho de 1789
marca o início do processo revolucionário, pois a prisão política era o símbolo
da monarquia francesa.[31]
Em fevereiro de 1787, o ministro das finanças, Loménie de Brienne,
submeteu a uma Assembleia de Notáveis, escolhidos de entre a nobreza,
clero, burguesia e burocracia, um projeto que incluía o lançamento de um
novo imposto sobre a propriedade da nobreza e do clero. Esta Assembleia
não aprovou o novo imposto, pedindo que o rei Luís XVI convocasse os
Estados-Gerais. Em 8 de agosto, o rei concordou, convocando os Estados
Gerais para maio de 1789. Fazendo parte dos trabalhos preparatórios da
reunião dos Estados Gerais, começaram a ser escritos os
tradicionais cahiers de doléances, onde se registraram as queixas das três
ordens. O Parlamento de Paris proclama então que os Estados Gerais
deveriam se reunir de acordo com as regras observadas na sua última
reunião, em 1614. Aproveitando a lembrança, o Clube dos Trinta começa
imediatamente a lançar panfletos defendendo o voto individual inorgânico —
"um homem, um voto" — e a duplicação dos representantes do Terceiro
Estado. Várias reuniões de Assembleias provinciais, como em Grenoble, já o
haviam feito. Jacques Necker, de novo ministro das finanças, manifesta a sua
concordância com a duplicação dos representantes do Terceiro Estado,
deixando para as reuniões dos Estados a decisão quanto ao modo de
votação — orgânico (pelas ordens) ou inorgânico (por cabeça). Serão eleitos
291 deputados para a reunião do Primeiro Estado (Clero), 270 para a do
Segundo Estado (Nobreza), e 578 deputados para a reunião do Terceiro
Estado (burguesia e pequenos proprietários). Entretanto, multiplicam-se os
panfletos, surgindo nobres como o conde d'Antraigues, e clérigos como o
bispo Sieyès, a defender que o Terceiro estado era todo o Estado. Escrevia o
bispo Sieyès, em janeiro de 1779: “O que é o terceiro estado? Tudo. O que é
que tem sido até agora na ordem política? Nada. O que é que pede? Tornar-
se alguma coisa”.[32]
Assembleia Nacional (1789)

Juramento do Jogo da Péla.


A classe média foi a única que abriu as chamas da revolução. Eles
estabeleceram a Assembleia Nacional e tentaram pressionar a aristocracia a
espalhar seu dinheiro uniformemente entre as classes superior, média e
baixa. Em 10 de junho de 1789, Emmanuel Joseph Sieyès disse que
o Terceiro Estado, agora reunido como comunas, deveria verificar seus
próprios poderes e convidar os outros dois estados a participar, mas não
esperar por eles. Eles passaram a fazê-lo dois dias depois, completando o
processo em 17 de junho.[33] Então eles votaram uma medida muito mais
radical, declarando-se a Assembleia Nacional, uma assembleia não dos
Estados, mas "do povo". Eles convidaram as outras ordens para se juntarem
a eles, mas deixaram claro que pretendiam conduzir os assuntos da nação
com ou sem elas.[34]
Na tentativa de manter o controle do processo e evitar a convocação da
Assembleia, Luís XVI ordenou o encerramento da Salle des États, onde a
Assembleia se reunia, ao alegar que os carpinteiros precisavam preparar o
salão para um discurso real em dois dias. O tempo não permitiu uma reunião
ao ar livre e temendo um ataque ordenado por Luís XVI, eles se encontraram
em um campo de tênis ao lado de Versalhes, onde eles juravam o Juramento
do Jogo da Péla (20 de junho de 1789) sob o qual eles concordaram em não
se separar até que a França tivesse uma constituição. A maioria dos
representantes do clero logo se juntou a eles, assim como 47 membros da
nobreza. Até 27 de junho, a festa real havia entrado abertamente, embora os
militares começassem a chegar em grande número em torno de Paris e
Versalhes. Mensagens de apoio à Assembleia vieram de Paris e de outras
cidades francesas.[35]

Você também pode gostar