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TRADUÇÃO

Revisão Inicial

Revisão Final

Leitura Final e Formatação:

29 DE ABRIL DE 2017
CapÍtulo um
Izabel

VINTE E QUATRO HORAS ATRÁS...

Atravesso a porta primeiro com Victor e Niklas atrás de mim.


Lágrimas de raiva e vingança enchem meus olhos. A casa está escura,
exceto por uma pequena luz em algum lugar no corredor, o cheiro de
café ardido persiste pesadamente no ar. Houve uma luta aqui; duas
das cadeiras ao redor da mesa da cozinha foram derrubadas, a toalha
puxada da mesa junto com a cesta central de frutas reais. Bananas,
maçãs e laranjas estavam espalhadas pelo piso de azulejos cor de
caramelo.
— Dina! — Grito e corro pelo resto da casa com a minha arma em
minhas mãos e meu dedo no gatilho. — Dina, você está aqui?!
Sem resposta.
— Ela não está aqui, Izzy — Niklas diz atrás de mim.
— Dina!
— Izabel...
— Cale a boca! — Viro-me rapidamente no corredor, mas depois
paro e acalmo-me quando percebo que havia sido Victor quem chamou
meu nome pela segunda vez.
Niklas nos deixa sozinhos e desaparece através da entrada para
verificar o resto da casa.
Victor se aproxima de mim, uma pequena luz de LED noturna
ligada à parede no final do salão brilhava fraca contra um lado do seu
corpo; uma sombra cobria o resto.
— Ouça-me — diz ele colocando a mão sobre um dos lados do
meu pescoço — ela não está morta, então acalme as suas ideias. Este
é o tipo de emoção que vai te matar. Olhe para mim, Izabel. — Ele rasga
a palavra.
Meus olhos se erguem do chão e faço como ele diz, com lágrimas
escorrendo pelo meu rosto. Limpo debaixo do meu nariz com o lado da
mão com a minha arma.
— Como você sabe que ela não está morta? — Sinto que vou
vomitar.
— Porque ela não está aqui — Victor diz. — Quem quer que a
roubou quer algo de nós e não vai matá-la. Ela é só garantia.
Lembro-me quando eu fui a garantia uma vez. Quando Sarai foi a
garantia no México.
Enxugo minhas lágrimas de novo, mas essa raiva e vingança está
sempre crescendo dentro de mim e não são lágrimas de tristeza. Nem
mesmo perto. Quem quer que tenha feito isso, quem encontrou Dina,
a única mãe que eu realmente conheci, e a tirou desse cofre de Nova
Jersey, vou matá-los. Vou matá-los, maltito seja!
Uma luz brilhante derrama-se para fora no corredor que vem da
sala de estar, através de um clique de uma lâmpada.
— Há outra nota — diz Niklas.
Abro o caminho passando por Victor e me apresso para a sala de
estar, pegando um cartão branco de 8x13 branco da mão de Niklas.
Está escrito no lápis. Eu li para mim primeiro e depois em voz alta.

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Victor e Niklas trocam um olhar. Olho para trás e para frente entre
eles, o cartão dobrando entre meus dedos apertados. Noto, pelo canto
do meu olho, um corpo deitado no chão atrás do sofá, uma bota preta
no final de uma longa perna sai no chão. Mas eu não digo nada porque
Niklas e Victor já o viram. Eles sabem que é o guarda que eles enviaram
aqui para vigiar Dina e não há nada que precisa ser dito além do óbvio
— quem raptou Dina o matou quando eles invadiram e a levaram.
— Então, é a ex-mulher de Dorian? — Eu digo. — Ela fez isso? —
Olho para Victor. — Quem é ela e onde ela mora?
Victor pega seu celular no bolso do paletó e passa o dedo indicador
pela tela de vidro.
— Victor!
Ele levanta a mão para mim, quando quem está do outro lado do
telefone responde — provavelmente Dorian — e chama a sua atenção.
Aperto meus dentes atrás dos lábios fechados e espero
impacientemente.
— Sim, havia outra nota — Victor diz para o telefone e depois lê
de novo a nota para Dorian lembrando palavra por palavra. — Sua ex-
mulher é capaz de...
— Coloque-o no alto-falante — corto com urgência, aproximando-
me de Victor.
Sem hesitar, Victor desliza o polegar sobre o ícone do alto-falante
e a voz de Dorian entra na sala.
— Tessa não podia lutar nem contra um chihuahua — diz Dorian.
— Não há nenhuma maneira ela possa estar envol... -Ele parece ter
sido surpreendido para ficar em silêncio.
Victor, Niklas e eu olhamos um para os outros.
— Dorian? — Falo mais alto.
Leva um momento, mas finalmente diz:
— Deixe-me ligar para você depois — e imediatamente desliga,
nem mesmo dá tempo a Victor para dizer qualquer coisa se ele tivesse
a intenção.
— O que diabos está acontecendo? — Niklas diz distraidamente.
Dá um passo ao redor do sofá com suas botas pretas de
motociclista de couro e se agacha ao lado do homem morto, com sua
arma saindo da parte de trás de suas calças. Então ele acende um
cigarro.
— O que você está fazendo, idiota? — Aproximo-me resolutamente
e o golpeio, arrancando o cigarro de sua mão. Ele atinge o piso de
madeira; manchas de brasas queimando faíscam do final e se
consomem quando tocam a madeira. — Esta é a casa de Dina, Niklas!
Ela não fuma e você não vai fumar em sua casa!
As mãos de Victor se fecham ao redor da parte de trás dos meus
braços e me afasta com cuidado.
— Controle sua garota, irmão — diz Niklas, seu sotaque alemão
sempre infiltrando-se através do seu perfeito inglês, mas, agora, eu
estou tão acostumada com isso que eu quase não percebo mais. Ele
rosna e pega o cigarro de volta em seus dedos. Então ele vira a cabeça
em um ângulo para me ver e diz: — Eu sei que você está chateada
agora, Izzy, mas não tire isso de mim.
— Pare de me chamar assim!
Victor sussurra perto da minha orelha
— Brigar com Niklas não vai ajudar a encontrar a Sra. Gregory.
Se acalme, ou te levarei de volta para Boston e te deixarei lá.
— Você não faria isso — eu digo sem respirar e sem me virar para
encará-lo, sei que ele faria.
— Eu vou, Izabel — ele diz calmamente e suas mãos escorregam
para longe dos meus braços. — Se você está muito emocionalmente
investida nisso, pode ser que você faça com que a Sra. Gregory seja
morta. Coloque o seu ódio pelo o meu irmão de lado e concentre-se no
que é importante.
Olho para Niklas que ainda estava agachado na frente do corpo.
Ele coloca o cigarro no lado da bota, se afasta de mim e começa a
verificar os bolsos do morto.
— Você ficou macio, irmão — Niklas diz de costas para nós. —
Deixando uma mulher lhe dizer o que fazer. — Ele se levanta e olha
para Victor. — Isto não é o tipo de coisa que fazemos — prossegue. —
Salvar pequenas senhoras. Salvando bichas inteligentes da boca dos
traficantes de drogas mexicanos. Qual é o próximo gato na árvore?
Filhotes em cachimbos?
Levanto o meu queixo, mas não digo nada. Victor facilmente
mantém a calma porque Niklas é seu irmão e até agora ele está mais
do que acostumado com seu comportamento.
Niklas passa por nós.
— Izabel não é a única emocionalmente envolvida também, Victor
— acrescenta com acusação. Ele desliza em torno da esquina e
desaparece. Momentos depois, ouço o som da porta traseira abrindo e
fechando quando ele sai.
Viro-me para enfrentar Victor.
— Este não é o momento — diz ele, já sabendo o tipo de coisas
que eu gostaria de dizer em retaliação.
Mas ele está certo, concentro-me em Dina e esta pessoa misteriosa
ou pessoas que a levaram.
— O que você acha que eles querem? — Pergunto, meus olhos
varrendo o resto do covil por qualquer outra coisa fora de lugar.
— Pode ser um monte de coisas — Victor responde.
Dá um passo ao meu redor para verificar o corpo por si mesmo,
agachado ao lado dele como Niklas fez.
— Não estamos escassos de inimigos, eu temo.
Isso é um eufemismo.
Engulo nervosamente e vou até a mesa de café. A taça de vidros
de doces favorita de Dina está até o topo cheia com os chocolates. Ela
já tinha aquela tigela desde antes de eu conhecê-la, e sempre a
mantinha cheia dos meus doces favoritos — Sweet Tarts1, quando eu
era mais jovem e, em seguida, mini Reese’s Peanut Butter Cup 2 quando
eu crescia. Sento-me na mesa de café ao lado dele, apoiando meus
cotovelos no topo das minhas pernas e descansando minha cabeça em
minhas mãos exaustivamente.
Victor se levanta e se vira para mim, a luz da tela do seu celular
brilhando em sua mão.
Ele responde e coloca Dorian novamente no alto-falante.
— Tessa não está respondendo — Dorian diz, suas palavras cheias
de preocupação. — Vou para a casa dela. Voltarei a entrar em contato
com você assim que eu souber de alguma coisa.
Eles desligam.
Estamos todos pensando a mesma coisa, até Niklas, que acabou
de voltar a entrar na sala de estar depois de vim pela porta dos fundos.
— Acho que estamos fazendo dois sequestros, então? — Pergunta
Niklas, depois de ter ouvido casualmente.
Victor acena com a cabeça e então desliza o telefone de volta
dentro de sua jaqueta.

2
— Quem quer que seja — Victor diz — eles não são amadores. —
Ele suspira. — Eles sabiam onde encontrar a Sra. Gregory mesmo
depois de termos a mudado três vezes no ano passado. — Ele aponta
para o morto. — E duvido que tenha alguma coisa a ver com isso.
— Mas, por que levar Dina e a ex-esposa de Dorian? — Pergunto.
— A conexão é — Victor diz, — que você e Dorian são ambos parte
desta organização. Então, o que eles querem tem a ver com a
organização.
— Você acha que eles vão levar mais alguém? — Levanto-me da
mesa de café.
— É uma possibilidade — diz Victor. — Suponho que depende de
quantos de nós nós ainda têm pessoas em nossas vidas no mundo
exterior que nós nos preocupamos, mas esperamos que não vá tão
longe.
Olho entre Victor e Niklas, uma pergunta óbvia no meu rosto.
Niklas sacode a cabeça, manipulando seus lábios em um lado de
sua boca.
— Eu acho que vocês dois sabem agora que eu não dou uma
merda por mais ninguém. A única pessoa que me importa é o meu
irmão. — Ele olha para mim quando ele diz isso.
Sorrio para ele e me viro para Victor.
Mas Victor não se mete na conversa porque, como Niklas, Victor
tampouco tem outros laços com o mundo exterior.
— E quanto a Fredrik? — Pergunto, mas me sinto estúpida depois
de fazer isso.
Niklas ri ligeiramente, sacudindo a cabeça.
— Realmente, Izabel? — Ele diz com sarcasmo e deixa isso assim.
Não posso discutir com isso, ou criticá-lo por ser um idiota —
Fredrik perdeu a única pessoa no mundo exterior que ele amava, meses
atrás. Matou-a com as próprias mãos, forçada a sacrificá-la como um
cão raivoso. Fredrik Gustavsson é a pessoa menos emocionalmente
ligada em toda a nossa organização. E provavelmente sempre o será.
Três horas mais tarde, enquanto esperamos no nosso quarto de
hotel em New Brunswick, Nova Jersey, Victor recebe a chamada de
Dorian.
— Ela se foi — diz Dorian, tentando conter a trepidação em sua
voz. — A porra da casa foi saqueada. Eles a pegaram, Faust.
Nunca vi ou ouvi Dorian reagir dessa maneira. Para nenhuma
coisa. Eu nunca soube que ele tinha uma ex-mulher. Ele não parece o
tipo de ter uma esposa.
— Não houve nenhuma nota desta vez. Não há mais migalhas de
pão.
— Bem — Victor diz. — Com que rapidez você pode estar aqui
— Eu posso estar aí antes das duas da manhã — responde, —
aposte sua bunda nisso.
— Nos vemos logo — diz Victor, mas antes de terminar o
telefonema, acrescenta: — Traga Fredrik com você.
— Fredrik? Mas eu nem sei onde encontrá-lo — Dorian soava mais
preocupado do que antes, como se forçá-lo a perder tempo procurando
por Fredrik vai fazer com que ele perca a reunião as duas da manhã.
— Apenas tente encontrá-lo primeiro — diz Victor. — Se você não
pode fazê-lo até a próxima hora, venha sozinho e nós vamos descobrir
isso.
Dorian e Fredrik, embora já não eram mais parceiros, ainda
residem em Baltimore. E o parceiro que foi designado Dorian depois de
Fredrik, Evelyn Stiles, ex-CIA, Victor a mudou para algum lugar na
França.
Niklas não está acostumado a ver Victor ser tão indulgente — ele
fica ali com um olhar tem-que-está-me-fodendo no rosto, seus braços
cobertos por uma camisa preta de mangas compridas, cruzou
frouxamente sobre o seu peito, pousados sobre um par de jeans preto
sustentado por um cinto preto com uma fivela de prata, que é a única
parte do cinto que aparece. Niklas sempre usa cores escuras e as
mesmas botas de moto; um tipo robusto de homem que sempre tem
barba facial e não se preocupa com o estilo seu cabelo castanho. Ele
não se importa muito, realmente, certamente não sobre impressionar
ninguém. A coisa engraçada é, porém, ele parece atrair as mulheres
como merda atrai moscas, muito parecido com Dorian. Os dois têm
mais em comum do que qualquer um de nós. Mas, a diferença para
mim, é que Dorian eu posso tolerar — ele nunca tentou me matar.
— Acho que foi uma má idéia dizer a Fredrik que ele pode ficar
quieto por um tempo — Niklas fala.
— Suponho que sim — Victor diz, voltando a colocar o telefone no
casaco, — mas não poderíamos saber que algo assim aconteceria.
Podemos não precisar dele. Esperemos que não.
Olho para o relógio no criado-mudo entre as camas de casal.
— Bem, ele tem quatro horas para encontrá-lo — digo. — E de
alguma forma, eu não acho que ele vai ter muita sorte.
— Eu também não — Victor concorda. — Vamos trabalhar com o
que temos. — Ele olha para mim. — Você poderia tentar chamar
Fredrik. Ele pode responder para você.
Balanço a cabeça.
— Victor, ele não fala mais comigo. Não desde Seraphina. Já lhe
disse isso, mais de uma vez. Diabos, está começando a me fazer
sentir...
— Você tem razão, peço desculpas — diz ele, os olhos de Niklas
rolam para cima em sua cabeça. — Não se trata de confiança, Izabel.
Eu sei que você não está mentindo para mim sobre isso. Mas, o fato
permanece, eu ainda acho que ele iria falar com você.
— Não. Ele não vai — eu digo friamente, mantendo firme a
questão, porque eu já tentei falar com Fredrik e ele me desligou. E isso
machuca. — E além disso, se ele não responder para você, mesmo
quando você lhe deu algum tempo livre, isso é algo que você deve se
preocupar.
— Eu odeio dizer isso— Niklas diz — mas eu concordo com ela.
— Como eu disse — Victor responde — nós vamos descobrir
quando chegarmos a ele. Talvez nem iremos precisar de Fredrik.
Se o fizermos, provavelmente estaremos ferrados.
Fredrik, embora ainda seja um membro vital de nossa organização
— um dos membros mais vitais — também é o mais instável. Não com
seu trabalho — não, Fredrik é assustadoramente bom no que faz —
mas emocionalmente... ele não tem mais emoções. Desde que perdeu
Seraphina, a única mulher que ele já amou e que o compreendeu,
aparentemente a mulher que o ajudou a controlar seus impulsos, ele
não tem sido o mesmo desde então. Ele é agora o epítome da escuridão;
um homem perigoso, lindo, com um animal que vive dentro dele tão
assustador que ele me assusta. E eu não me assusto facilmente.
Eu nunca poderia ter imaginado antes, nunca teria dado um
segundo pensamento, mas eu sinto como Fredrik poderia me matar.
Não que ele fosse me atacar, ou arriscar seu lugar sob Víctor, mas que
se ele tivesse que me matar, ou me torturar por qualquer motivo, ele
faria isso sem questionar ou protestar.
O Fredrik que eu conheci estava morto.
Niklas sai pouco tempo depois e vai para seu quarto no corredor.
— Izabel — Victor diz da mesa em frente à janela, — você precisa
estar preparada para o que poderia acontecer.
— O que você quer dizer?
Levanto-me do fim da cama mais perto da porta e ando até ele,
sentado na sua frente na cadeira vazia. Ele está vestido com suas
calças e uma camisa branca com botões. As veias que correm ao longo
dos seus pulsos vêm de debaixo das mangas e movem-se ao longo das
partes superiores de suas mãos fortes enquanto se apoiam na mesa.
Eu já sei o que ele vai dizer, mas eu ouço de qualquer maneira, e
minha preocupação por Dina cresce muito mais.
— Eu sei que você se importa com a Sra. Gregory — ele diz, —
mas nós não podemos, em nenhuma circunstância, dar informações
sobre a nossa organização para quem a tomou.
— Não se negocia com terroristas — digo com sarcasmo. — Sim,
eu entendi. Mas, também não vou deixar Dina morrer.
— Você pode não ter escolha— Victor diz calmamente.
Aperto minha mandíbula.
— Izabel— ele diz, — você sabia disso. Você sabe disso desde o
dia em que foi oficialmente recrutada.
Suspiro e abaixo a cabeça, tentando segurar as lágrimas.
— Eu sei— eu digo suavemente e com arrependimento
insuperável. Sinto suas mãos segurarem as minhas sobre a mesa, mas
eu não olho para cima.
— Faremos tudo o que pudermos para mantê-la segura— diz ele,
— mas se se tudo se reduz a Sra. Gregory e a ex-esposa de Dorian e a
qualquer outro que eles possam ter levado, e o segredo de nossa
organização e seus membros, então temos que deixá-los ir. Você está
preparada para isso, Izabel?
Ergo a cabeça e encontro seus olhos; uma lágrima cai pela minha
bochecha. Aceno com relutância e engolindo duramente, mas não
consigo encontrar coragem em mim para dar-lhe mais que isso como
resposta.
Este pode ser o meu maior teste de lealdade e valor até agora —
eu só queria que, como no passado, este teste também fosse
orquestrado por Victor, porque então eu saberia que Dina iria ficar
bem. Mas isso não. Sei em meu coração que não é. Victor não tem
controle sobre essa ocasião; não há ninguém no interior como Niklas
estava quando tomamos Willem Stephens em Albuquerque no ano
passado. Dina poderia morrer. E eu posso não ser capaz de evitar.
Eu não vou deixá-la morrer...
CapÍtulo Dois
Izabel

Com minha arma no meu quadril e Pearl embrulhado na minha


bota de couro, sigo atrás de Victor quando nós sigilosamente fazemos
o nosso caminho ao redor da parte de trás do edifício de tijolo vermelho.
A área, dois blocos de edifícios na sua maioria abandonados, está meio
envolta em escuridão. Muitas das luzes da rua, que uma vez acenderam
o local, há muito queimaram. Um pisca na distância perto de uma
interseção fantasmagórica. Um grande cercado em lote de velhos carros
enferrujados está do outro lado da rua, diretamente em frente a este
edifício em 66 e Town. Muitas das janelas dos edifícios ao longo da rua
foram arrancadas — todo este lugar é um buraco, vazio e escuro, o local
perfeito para o crime, as quebradas e os sequestros. Só que não parece
haver pessoas reais. Nem um som. Nem uma sombra. Nem um
misterioso veículo fora de lugar estacionado em um canto. Nem mesmo
um animal perdido em busca de sucatas. Nada.
Nós nos agachamos por debaixo das poucas janelas ao nos
movermos ao longo dos tijolos vermelhos. Niklas está atrás de Victor e
na minha frente. Dorian está bem atrás de mim.
Victor para com as costas encurvadas e dirige-se para Dorian e
Niklas, dizendo-lhes apenas com o gesto de seu dedo para cada um
deles contornar o edifício em direções opostas. Niklas acena com a
cabeça e se dirige ao redor mais para frente. Dorian acena com a cabeça
e dirige em volta da frente.
Victor e eu ficamos ao lado de uma porta lateral na parede com
três degraus de concreto que levam até ele.
— Você vai esperar aqui — Victor diz calmamente enquanto ele
verifica sua arma.
Já estou balançando a cabeça em protesto.
— Isso pode ser uma emboscada— ele sussurra, — e você ainda
está longe de estar pronta.
— Eu posso lidar comigo mesma — sussurro de volta com raiva,
tirando minha própria arma do coldre em meu quadril. — Você não
pode me manter no maldito cercadinho todo o tempo, Victor.
Ele agarra meu cotovelo e me puxa para mais perto dele. Eu posso
sentir o calor de sua respiração em minha bochecha.
— Você vai esperar aqui— ele repete com uma voz baixa e firme,
— você entende? — Seus fortes dedos apertam ao redor do meu cotovelo
quando eu não respondo. — Izabel? — Ele rasga meu nome.
— Não! — Atiro de volta calmamente. — Eu não vou ficar aqui!
O silêncio passa entre nós.
Abaixo meus olhos, não em vergonha, mas em desapontamento e
raiva.
Depois de um momento, Victor levanta a minha cabeça com os
dedos embaixo do meu queixo. Ele olha nos meus olhos, não como
Victor, meu chefe, mas Victor, o amor da minha vida.
— Eu provavelmente vou ser assim com você — ele diz. — Se
alguma coisa lhe acontecesse... Eu não quero acabar como Fredrik. —
Ele faz uma pausa, olhando brevemente para a parede de tijolos e então
ele suspira. — Eu vou na sua frente — diz ele.
Aceno lentamente e ele beija meus lábios e me deixa de pé aqui, a
porta de madeira que se encontra no final do degrau de concreto se
fecha atrás dele quando ele desaparece dentro do edifício.
É por isso que eu odeio trabalhar com Victor, e por que eu prefiro
trabalhar com Niklas, independentemente de quanto eu odeio Niklas.
Victor é duro comigo a cada aspecto desta profissão; ele me colocou em
algumas coisas terríveis apenas para provar que eu sou confiável, mas
quando se trata de estar no campo, ele muitas vezes me trata como
uma criança. Nem todo o tempo, mas em momentos como estes,
quando ele recebe uma de suas intuições. Silenciosamente, questiono
sua verdadeira razão para estar aqui. Porque eu sei que seu amor por
mim, por mais profundo que seja, não é suficiente para colocar
qualquer um de nós em risco para salvar uma “pequena anciã”. Em
várias ocasiões, ele saiu do seu caminho para manter Dina segura e
confortável em vários abrigos em todo o país, tudo porque ela significa
muito para mim, mas arriscar todos nós apenas para salvá-la de seu
sequestrador está fora de caráter para ele. É por isso que sei que ele
não está fazendo isso só para salvá-la. Aquele sentimento instintivo
dele está lhe dizendo que outras coisas podem estar em jogo, que há
muito mais do que poderia parecer. E não pode ser ignorado.
Desço os degraus e deixo que a escuridão do chão do porão me
engula dentro dela também.
Victor está longe de ser visto quando meus olhos finalmente
começam a se ajustar à escuridão. Algumas luzes fracas banham a área
em pontos, juntando-se as poucas janelas pequenas e horizontais
ajustadas no tijolo, coberto por anos de poeira e com teias de aranha
espessas. No outro lado do grande espaço, quase vazio, passado uma
pilha de detritos e uma pilha de velhas bicicletas, há uma escada de
pedra. À minha direita, outra porta menor que leva a algum lugar. E à
minha esquerda há mais detritos — pilhas de rochas quebradas e
isolamento térmico esfarrapado e vigas de madeira que foram puxadas
do teto baixo.
Dirijo-me para a escada alta, com a arma pronta na mão. Eu sou
mais uma garota de faca, mas algo me diz que essa missão inesperada
lançada sobre nós no meio da noite pode ser mais um evento de arma.
Enquanto eu subo os degraus de pedra em silêncio, eu agacho toco a
Pearl que sobressai da minha bota, só para ter certeza que ela ainda
está lá. Ela e eu temos um relacionamento muito próximo — ela matou
mais pessoas do que eu.
Uma sombra se move através da luz cinzenta no chão do porão,
apressando-me para o sexto degrau para olhar atrás de mim. Eu nunca
ouvi a porta abri do lado de fora. Eu me encosto contra a parede, meu
traje preto e apertado me ajudando a misturar-me com a escuridão.
Meu cabelo castanho-avermelhado longo é puxado em uma trança
apertada que arrasta até o centro das minhas costas e fora da minha
cara, mantendo minha visão afiada. Eu não me movo e regulo a
respiração para que fique tão silencioso quanto o resto de mim.
Preparo a minha arma quando eu ouço o som distinto de detritos
pequenos sendo amassando debaixo de um par de botas.
— Sou só eu! — Dorian sussurra bruscamente enquanto suas
mãos disparam em ambos os lados, minha arma apontada para ele do
meio da escadaria escura. — Jesus! Mulher, você assustou até a merda,
mulher! — Sua voz é baixa, sua respiração barulhenta.
Abaixo a minha arma.
Ele aponta para a pequena porta do outro lado da sala.
— Vim por ali — ele sussurra. — Há outro caminho para o porão
do outro lado do prédio. Essa porta liga os lados.
— Você viu alguém?
— Não, nem uma alma. — Ele subiu os degraus atrás de mim. —
Isso não parece certo.
— Não, não— eu digo.
— Onde está Faust?
— Ele veio nessa direção na minha frente. Onde ele está agora eu
não sei.
Damos mais alguns passos, aproximando-nos da porta do topo.
— Eu não sabia que você era casado — eu digo calmamente, mas
continuo em movimento, porque este não é o momento de parar e
conversar sobre nossos ex’s. Além disso, eu realmente não tenho
nenhum ex, a menos que você queira contar Javier Ruiz, o traficante
de drogas mexicano de quem eu fui uma escrava sexual por nove anos.
E pessoalmente, eu não o considero um ex.
— Eu acho que todos nós temos coisas sobre nós que preferimos
não falar — diz ele.
Essa não era necessariamente sua maneira de recusar uma
conversa, mas acabo com ela da mesma forma.
Chegamos à porta e coloco a mão no botão empoeirado,
preparando-me para abri-lo lentamente.
— Ela me odeia — diz Dorian, me pegando desprevenida.
Olho para ele dois passos atrás de mim.
Ele encolhe os ombros.
— Eu não a culpo, entretanto— ele diz e depois acena, olhando
para a porta. — Vamos.
A porta se separa do quadro, felizmente sem um som, e eu me
agacho no degrau superior em minhas altas botas pretas antes de
apoiar a minha cabeça cuidadosamente ao redor da esquina,
verificando se alguém está lá esperando para explodir minha cabeça,
eles provavelmente esperam que a minha cabeça esteja em um pouco
mais alto, me dando apenas tempo suficiente para detectá-los primeiro
e me afastar antes que eles possam reagir.
Não há ninguém no corredor longo e escuro que se divide em duas
direções. Apenas mais detritos, cadeiras de metal derrubadas e o que
parece com mesas antigas de algum tipo estão empilhados em uma
pilha desleixada ao longo de uma parede. Os papéis estão espalhados
pelo chão.
Saímos da porta e entramos no corredor, passando
silenciosamente em volta dos escombros e do papel.
— Vou por aqui — diz Dorian, apontando para a esquerda.
Eu aceno e nos separamos, me dirigindo na direção oposta
passando por várias portas abertas em ambos os meus lados, cada
quarto revelando que alguma vez isso poderia ter sido uma escola.
Agora que penso nisso, eu me lembro de ter visto o que parecia uma
velha pista de corrida, um quarteirão, e outros prédios de tijolos
vermelhos, muito parecidos com este, e uma quadra de basquete — e
a pista invadida por ervas daninhas tornaram mais difícil identificar no
escuro, inicialmente.
Tomo o meu tempo no longo corredor, parando em cada porta
para me certificar de que os quartos estão limpos antes de passar por
eles, e minutos depois me encontro em um conjunto de portas de metal
fechadas, com tiras de prata correndo horizontalmente ao longo dos
centros, esperando por mim para colocar minhas mãos sobre eles para
empurrá-las abertas. Eu passo até as portas e pressiono as minhas
costas contra uma em vez disso, virando cuidadosamente a minha
cabeça em um ângulo para ver dentro do pedaço vertical de vidro
correndo a partir da parte superior da porta para o empurrar a
maçaneta horizontalmente instalada. A luz da lua mal penetra a sala
dos painéis de vidro fosco de grande altura no teto alto. Tudo que eu
posso ver são fileiras e fileiras de assentos afogados pela escuridão. E
um palco, eu finalmente dou uma olhada mais longa e dura. É um
auditório.
Respirando fundo, pressiono meu quadril contra a maçaneta e
abro a porta. O trinco faz um ruído, assim como eu me lembro quando
eu estava na escola secundária e eu estremeço. Quando eu acredito
que ainda estou em um lugar claro, começo a me mover mais para
dentro da sala, me agacho enquanto eu me movo pelo corredor central.
O carpete cheira a 50 anos de terra e mofo. O ar é seco, mas fresco, e
ficando mais frio quando novembro se aproxima, e também fede de
edifício velho e abandonado e danos causados pelo tempo.
Me detenho fria em minhas trilhas e ajusto meus olhos no semi-
escuro. Há movimento mais adiante, o que parece uma figura está
sentada em um dos assentos na segunda fila perto do palco. Eu caio
mais perto do chão, meu dedo pronto para puxar o gatilho se eu tiver
que fazê-lo, e eu assisto por mais sinais de movimento, esperando que
meus olhos simplesmente estivesse apenas brincando comigo na
escuridão.
Um pé balança para a frente e para trás, apoiado na parte de trás
da cadeira na frente do que agora, definitivamente, tenho certeza de
agora é uma figura.
Um barulho alto ressoa pelo auditório, e então outro, e vejo Niklas
e Dorian entrando de dois lados diferentes abaixo, ambos com suas
armas levantadas e apontadas diretamente na figura.
— Levante as suas malditas mãos! Levante as suas malditas
mãos! — Niklas grita enquanto corre até a figura, sua voz ecoando por
todo o quarto.
Eu me abaixo atrás de uma fileira de assentos e permaneço fora
do caminho por agora, apenas no caso de haver outros, e eu preciso
entrar mais tarde pelas costas.
— Onde está Tessa? — Dorian grita com a figura e parece que ele
enfiou o cano de sua arma no lado da cabeça da figura. — Seu cérebro
salpicará através dos assentos do caralho se você a ferir! Onde ela
está?! — Ele rugiu.
— Afaste-se, Dorian — ouço a voz de Victor passar pelo auditório
e depois vejo a sua figura caminhando pelo palco, o som de seus
sapatos tocando o chão de madeira.
Olho para cima e a minha volta procurando qualquer sinal de
movimento, ou sombras movendo-se ao longo das paredes, mas ainda
não há nada. Esta pessoa poderia ter vindo sozinha? Eu não estou
comprando e duvido que Victor esteja, também. Nós nem sequer viemos
sozinhos; há quatro outros homens fora no telhado que exploravam o
exterior antes do nosso primeiro movimento em torno da parte de trás
do edifício. Mas eles também não encontraram nada. Nenhum sinal de
ninguém espreitando sobre os edifícios, ou em qualquer telhado à
espera de nos por ao alcance do seu franco-atirador.
A figura se mexe no assento, e eu vejo o cabelo longo loiro
esbranquiçado cair em suas costas. Levanta suas mãos e embora eu
mal possa distinguir o que ela se parece por trás, tenho a sensação
distinta de que há um sorriso ou um sorriso de superioridade nos
cantos de sua boca.
Finalmente, eu me empurro de novo para ficar de pé e passo para
fora no corredor. Niklas é o único que olha para cima enquanto eu faço
o meu caminho para baixo. Dorian não tirara os seus olhos furiosos —
nem sua arma — para longe da mulher.
Finalmente, Victor olha para mim. Ele concorda com a cabeça.
Num abrir e fechar de olhos, a mulher segura as mãos nas costas
de duas cadeiras e seu corpo esguio levanta-se no ar, seus pés
balançando em uma rápida varredura, sua bota fazendo contato com a
arma de Dorian, enviando-a voando. Um segundo mais tarde, sua outra
bota entra em contato com seu rosto, uma crise nauseante ondula
através do ar quando Dorian cai. Um único tiro sai em um estrondo
vociferante e um flash de luz morre na frente de Niklas, mas sua arma
também saí voando. A mulher salta sobre a parte de trás do assento e
aterrissa no corredor central, agachada perfeitamente. No segundo que
ela se pões de pé na altura dos olhos, Niklas gira contra ela com um
gancho. Ela cai para atrás nos assentos do outro lado do corredor.
Eu corro em direção a eles, enfiando minha arma e puxando
minha faca da minha bota, com fome para usá-la nessa cadela.
Seu cabelo loiro chicoteia atrás de sua figura quando ela pula
entre os assentos, apoiando as mãos nas costas novamente para
recuperar o seu equilíbrio. Ela chuta Niklas. Uma vez. Duas vezes. A
terceira vez que planta as suas botas pretas golpeiam centro em seu
peito e o faz cai para trás no corredor. Ela se joga em cima dele e
balança seus punhos em sua cabeça, mas Dorian agarra-a por trás e a
puxa. Niklas fica de novo em pé, assim como a mulher enfia a parte de
trás da sua cabeça contra o rosto de Dorian, instantaneamente
deixando-a livre do seu garre. Sua longa perna se estende e ela enterra
o pé no intestino de Niklas, e tão rapidamente, ela rodeia Dorian
novamente e soca o seu rosto, o sangue parece negro na ponta do seu
nariz na pouca escuridão.
Salto para a cena, agachando-me contra o chão e varro o meu pé
para fora para jogá-la. Ela cai para trás, sua cabeça loira batendo em
um braço no caminho para baixo. Eu me arremesso em cima dela e
coloco a minha faca em sua garganta, mas ela bloqueia minha mão
com seu braço, saindo do meu alcance. Recebo alguns golpes; minhas
juntas voltam sangrando depois da terceira vez que eu a atinjo no nariz,
mas de repente eu estou sufocando quando suas pernas travam em
volta da minha garganta por trás e meu corpo cai contra o chão.
Com nossos papéis invertidos, a dor de seu punho quebrando-se
contra os ossos no meu rosto faz com que minha visão borrar e meus
sentidos ficarem tontos. Eu faço a única coisa que posso fazer e estendo
as duas mãos, agarrando em punhos o cabelo sedoso e puxo como se
eu fosse arrancar tudo, até que ambos estivessem lutando no chão.
Puxar o cabelo é para cadelas, exceto quando é a única opção.
Ela me dá um soco. Eu soco-a de volta.
— Onde está Dina?
Ela ri e salta para seus pés, mas então ela cai para trás quando
Dorian agarra um braço e torce atrás dela. Ele joga nela, cravando um
joelho na parte inferior de suas costas.
Ela ri novamente, sua voz confusa com o sangue que se mistura
em sua boca.
Niklas tira seu cinto e envolve-o em torno de seus pulsos
amarrados atrás dela, puxando tão apertado quando vai, certamente,
cortar a circulação sanguínea.
Ambos a puxam para seus pés, uma mão ao redor de cada
cotovelo.
Dou um passo para a frente dela, olhando-a nos olhos pela
primeira vez. Seu cabelo está manchado pelo sangue ao redor de sua
boca e espalhado em torno do seu rosto oval. O sorriso que ela usa é
rancoroso e animado, como se todo esse cenário fosse simplesmente
uma representação de alguma maneira doente.
Eu retiro meu punho e bate-o contra seu rosto novamente. Sua
cabeça empurra para trás brevemente, e quando ela volta a si, o sorriso
retorna e um olhar de desafio permanece sempre presente em seu
rosto.
Niklas segura-a firmemente. Dorian fica de lado. Eu sei que ele
quer matá-la tanto quanto eu.
— Se eu morrer— diz ela, zombando de mim, — aquela velha
cadela morre junto comigo.
Me lanço contra, balançando meus punhos, gritando em seu
rosto, até que os braços de Victor me agarram por trás e me puxam
para fora dela.
— Onde ela está? — Grito. — O que você fez com ela?!
Um sorriso ainda mais diabólico desliza por seus lábios, pintados
com o mais vermelho dos vermelhos, que, agora que dou conta; batom
também está manchado o seu rosto.
Ela cospe sangue no chão e rola a língua nos dentes, como se
estivesse verificando se algum estava solto.
Victor me empurra para o lado, separando-nos, e ele fica entre
nós.
— Quem é você? — Pergunta ele em voz calma, mas exigente.
Ela sorri, seus dentes brancos brilhando com sangue.
— Oh, um de vocês sabe quem eu sou — ela diz enigmaticamente,
seus olhos passando por todos nós, exceto Niklas que ainda está atrás
dela. — Onde está o interrogador? O torturador sádico? Ele está nisso
tanto quanto o resto de vocês. — Seus olhos caem de novo sobre Victor.
— E aquele filho da puta que você contratou para fazer toda a sua
pirataria O buscador de informação? Todos vocês estão envolvidos
nisso.
— O que é “isso” exatamente? — Victor pergunta.
A mulher inclina a cabeça para um lado, quase pensativa.
— Você saberá que quando todos os seis Cavaleiros da Mesa
Redonda estiverem presentes. — Ela sorri. — Oh, e eu vou precisar de
um banho, uma roupa limpa, uma refeição, não qualquer daquela
merda de fast-food, e um copo de vinho.
Niklas e Dorian olham um para o outro, depois para mim,
finalmente para Victor.
Niklas puxa a mulher pela parte de trás de seu cabelo, expondo
sua garganta.
— Quem diabos é você, sua cadela insana? — Ele exige.
— Oh, amor— diz ela, enigmadamente, — não seja tão violento
comigo ou talvez eu me apaixone por você.
Ele puxa o cabelo dela mais forte, mas ela nem sequer se encolhe.
— Meu nome é Nora— ela anuncia, — e por agora, desde que eu
sou claramente a única no controle, isso é tudo que você precisa saber.
CapÍtulo três
Izabel

Hora atual — 9:00 pm — Sede de Boston

Um rosto com um lábio dividido e manchado de amarelo e azul


sob o olho esquerdo, olha para mim no espelho.
— Essa cadela é louca— eu digo a Victor, de pé no quarto atrás
de mim. Eu passo um pouco de unguento sobre o corte embaixo do
meu olho com a ponta do meu dedo. — Ela está jogando, Victor. — Eu
estremeço quando meu dedo toca o osso dolorido.
— Sim, ela está — ele diz, pondo uma calça limpa, deixando-a
desabotoada e solta ao redor da musculosa forma de V entre seus
quadris. — E por agora temos que seguir o jogo.
— Quem você acha que ela é? — Eu pergunto. — Ela diz que um
de nós a conhece. Não sou eu; disso eu tenho certeza.
Deslizando os braços nas mangas de uma camisa, ele diz:
— Isso pode não ser verdade. — Eu me viro do espelho e passo
para a porta do banheiro, olhando para ele. — Se ela fosse alguém
óbvia, já saberíamos quem ela é, a menos que seja Woodard ou Fredrik
que ainda não a viram. Mas acho que é mais provável que ela seja
alguém que um de nós conheça através de outra pessoa.
Curiosa, entro no quarto, vestida com minha calcinha preta e
sutiã, meu cabelo ainda molhado do banho.
— Mas o que me preocupa mais do que quem ela é — diz Victor
enquanto abotoava a camisa, — é como ela conhecia a Sra. Gregory,
Tessa Flynn e as filhas James Woodard. Ou, como ela sabia que apenas
seis de nós e, que seis, assistem as reuniões e executam as coisas nos
bastidores.
No caminho de volta para Boston, com “Nora” no porta-malas, ela
nos contou que Dina e Tessa não eram as únicas amadas que ela tinha
— James Woodard, perturbado pelo desaparecimento de suas filhas,
está a caminho de Boston enquanto falamos.
— E como é que ela sabe que você, Niklas e Fredrik não tem
ninguém de fora que vocês se importem para que ela sequestrar? — Eu
aponto.
Victor se senta no final da cama para colocar as meias pretas.
Ele acena uma vez.
— Sim, isso é desconcertante— diz ele. — Se ela sabe muito sobre
nós, tenho certeza que ela sabe muito mais. Precisamos descobrir o que
antes de matá-la.
— Você quer dizer — eu estreito meus olhos para ele —
precisamos encontrar Dina, Tessa e as filhas de James, e tudo o que
ela sabe antes de matá-la.
Ele olha para cima.
— Venha aqui — diz ele.
Relutantemente, eu ando até ele e ele ajusta suas mãos em meus
quadris, puxando-me para ficar entre suas pernas abertas. Seus lábios
quentes caem sobre meu estômago nu.
— Não tenho nenhuma intenção em deixar essa mulher machucar
a Sra. Gregory— ele diz e eu passo minhas mãos pelo topo de seu cabelo
curto e castanho. — Faremos tudo o que pudermos para encontrá-la e
recuperá-la. Você não confia em mim, Izabel? — Ele olha nos meus
olhos.
Com meus dedos ainda cravados em seus cabelos, eu
cuidadosamente inclino a sua cabeça para trás em seu pescoço. Suas
mãos apertam meus quadris.
— Sim, confio em você, Victor, mas também sei como você é. Eu
sei que você não pode simplesmente se tornar alguém que você não é
simplesmente porque você desenvolveu sentimentos por mim. —
Minhas mãos penteiam através de seu cabelo enquanto ele olha para
mim, seu pescoço arqueado para trás. — E eu sei...— Eu não consigo
terminar.
— Você sabe o que? — Ele pergunta em uma voz calma.
— Nada — eu digo, balançando a cabeça.
Eu dou um passo para trás, com a intenção de me vestir, mas
suas mãos se apertam sobre meus quadris, me segurando no lugar.
— Diga-me — ele diz.
— Eu não posso.
E eu não vou. Nem sei o que me obrigou a soltar o tema assim.
— Não é nada— eu digo e finalmente deixa ir, suas mãos caindo
longe dos meus quadris quando eu ando até o armário. — Nós
precisamos ir falar com esta cadela. Eu não me importo se ela está
puxando todas as cordas. Ela vai começar a falar se eu tiver que vencê-
la — agito o meu dedo para ele, virando para armário -— E eu não me
importaria menos se ela está algemada em uma cadeira sem nenhuma
maneira de lutar, ainda assim, eu a espancarei se ela ferir Dina.
— Eu não esperaria nada menos de você— diz ele.
Victor se levanta do fim da cama e coloca a parte de trás da camisa
branca atrás da cintura de suas calças, cobrindo-o com um cinto fino
e depois calça os seus sapatos.
Quando eu coloco um vestido preto na altura da coxa sobre a
minha cabeça, Victor pisa atrás de mim e beija a parte de trás do meu
pescoço, seus dedos se arrastando suavemente pela pele nua de meus
braços.
— Vejo você daqui a dez minutos— diz ele.
Ele se vira e começa a caminhar em direção à porta, mas eu ando
rapidamente até e envolvo meus braços em torno de sua cintura por
trás, descansando o lado do meu rosto ferido contra suas costas. Suas
mãos grandes fecham as minhas.
— Eu confio em você, Victor — eu digo a ele em uma voz calma,
intencional.
Ele aperta minhas mãos uma última vez e me deixa para terminar
de me vestir.

Nora está sentada sozinha em uma sala generosamente grande,


com grossas paredes de tijolo pintadas de branco. Uma mesa de metal
quadrada fica no centro com duas cadeiras de metal preto — uma de
cada lado — e uma fileira de luzes em forma de cúpula que correm ao
longo do teto alto, banhando a sala em luz brilhante. Existem quatro
aberturas na parede perto do teto para bombear calor ou ar para o
espaço, mas não é nem muito quente nem muito frio agora para
precisá-lo. O chão é feito de azulejos brancos, manchados por
rachaduras e arranhões dos vários móveis que foram tirados da sala
meses atrás, transformando o que antes era algum tipo de espaço de
armazenamento em um confinamento e sala de interrogatório. A porta
de aço pesada é a única maneira de entrar ou sair, a menos que seja
do tamanho de uma criança e pode caber através das aberturas perto
do teto. Nora não é. Ela é um pouco maior do que eu; mais alto e mais
pesado em alguns quilos, e eu sei que eu não poderia caber através de
uma abertura tão pequena.
Como solicitado, Nora foi permitido um banho — Niklas estava
feliz em ser voluntário para ser o único a ficar no banheiro com ela
enquanto ela fez, não porque ele queria vê-la nua, mas porque ela bateu
nele na cara e ele esperava que observando-a tomar banho a deixaria
desconfortável. Não. Eu acho que ele já está começando a odiá-la mais
do que ele me odeia.
Ela também recebeu comida e vinho. E só porque ela sabe onde
Dina está, dei-lhe algumas das minhas roupas para trocar. Uma calça
de couro preta, camisa de seda transparente de mangas compridas e
um par de saltos pretos de seis polegadas. Seu pedido especial era um
tubo de batom vermelho escuro — pensei em dar alguns golpes com
um assento de vaso antes de dar a ela, mas demoraria muito para voltar
para o banheiro.
Niklas está vigiando o interior da sala de interrogatório durante a
última hora, enquanto ela comia sua refeição, cordeiro com arroz e purê
de batatas e bebeu seu vinho, tudo como se ela estivesse em um
encontro e desfrutando de uma noite que ela não teria que pagar.
Dorian era persistente sobre a sua vez de se sentar na sala trancada
com ela, mas vendo como ele quer bater nela tanto quanto eu, Victor
disse-lhe para ficar de fora.
Victor está dentro do quarto agora, sentado na cadeira vazia na
mesa em frente a ela quando eu finalmente faço a minha aparição. Me
levanto sobre os meus dedos dos pés para olhar para o quarto através
da pequena janela quadrada, coberta por acrílicos espessos.
— Ela disse alguma coisa? — Pergunto a Niklas.
Ele está agora parado fora do quarto com Dorian. A porta de aço
é fechada e trancada do lado de fora. Não há maneira de ouvir nada o
que é dito no interior, exceto da sala de vigilância de vídeo localizado a
dois andares mais acima.
Niklas sacode a cabeça, encostado na parede com os braços
cruzados.
— Eu não gosto de não poder ouvir o que eles estão dizendo — eu
digo, pressionando meu ouvido na porta, sabendo que é muito grosso
e estou desperdiçando o esforço.
— A única coisa que ela disse para mim realmente — Niklas
oferece — é que ela não está satisfeita com as acomodações.
Dorian passeia pelo corredor brilhantemente iluminado, suas
botas pretas movendo-se pesadamente através do chão, um olhar de
raiva esmaltando em seus traços. Uma veia grossa é visível perto de
sua têmpora. Sua mandíbula se move constantemente como se
estivesse rangendo os dentes.
— Vamos encontrá-los— digo a ele, tentando soar otimista,
mesmo que não tenha tanta certeza de que me sinto assim.
Ele olha para mim, mas continua a andar.
— Eu não gosto de estar aqui — ele diz, — quando eu deveria estar
lá descobrindo o que ela quer.
— Victor sabe o que está fazendo — digo.
Ele balança a cabeça.
— Mas eu ainda quero saber o que ela está dizendo.
Só então, há uma batida na porta do interior. Quando Niklas vê
que é Victor, ele tecla o código no painel na parede e há um som de
clique. A porta se abre e Victor pisa no corredor e fecha a porta atrás
dele.
— Então, o que aconteceu? — Eu pergunto, ficando mais ansiosa
a cada segundo.
Victor sacode a cabeça.
— Ela não começará a nos dizer nada até que todos estejamos no
mesmo quarto que ela — Victor começa. — E ela quer um quarto maior,
preferivelmente algo com um sofá.
— Pequena puta, não é? — Niklas entra.
— Eu disse a ela que ela não estava recebendo outro quarto. —
Victor olha para cada um de nós brevemente. — Nós não estamos indo
para dar-lhe tudo o que ela quer. É inaceitável. E também fará com que
ela pense que não há fronteiras, nem limitações para o que vamos fazer.
Ela pode ser a única com todas as cartas, mas ela também está sentada
em uma sala algemado a uma cadeira, ela não está completamente no
controle, e não vou dar esse tipo de controle para ela. Não importa de
quem as vidas estão na linha.
Mordo meu lábio e permaneço quieta.
Dorian aperta os dentes com mais força.
Niklas lambe a secura de seus lábios e olha despreocupadamente
pelo longo corredor — a única parte de tudo isso que ele se importa é o
que esta mulher pode saber sobre a organização.
James Woodard; rechonchudo, tenso e calvo no centro traseiro de
sua cabeça, vem caminhando rapidamente pelo corredor, suas calças
cáqui muito longas se movendo debaixo de seus mocassins enquanto
caminha. Ele veste uma camisa xadrez azul e branca, de mangas
curtas, e escondido de forma descuidada atrás de um cinto debaixo de
sua barriga grande. O suor cintila na linha do seu cabelo e em gotas
sob as narinas.
— Ela está aqui? — Ele pergunta, sem fôlego, — a mulher que
sequestrou minhas filhas? — Ele aponta para a porta de aço. — Ela
está naquele quarto?
— Ela está — Victor diz com um aceno de cabeça.
— Então, o que estamos esperando? — Diz Woodard, olhando
para cada um de nós a cada vez.
Ele pressiona a ponta de seu dedo indicador no centro de seus
óculos e os move de volta em seu rosto.
— Aparentemente, estamos esperando Fredrik — Dorian diz com
ácido em sua voz. — Mas vamos esperar um bom tempo. — Seu lábio
inferior está inchado e uma contusão azul-amarelada corre ao longo de
sua mandíbula.
— Não — Victor diz, apertando suas mãos fortes na frente dele, —
isso é outra coisa que eu me recusei a dar a ela. Ela não gostou no
início, mas concordou em começar a falar quando Woodard chegou.
Mas ela não vai dizer-nos tudo até Fredrik está aqui, por isso vamos
precisar dele eventualmente.
— Não deve ser difícil encontrá-lo — Niklas interrompe com
desaprovação. — Você é seu patrão. E a última vez que eu verifiquei,
não tínhamos horários vagos e nem planos de férias. Se ele não pegar
o telefone maldito quando você, de todas as pessoas, chamá-lo, seu
traseiro deveria ser fodido.
Victor olha para Niklas.
— Fredrik estará aqui. Não tenho dúvidas disso, Niklas. Por
enquanto, vamos descobrir o que essa mulher quer. E o que ela sabe.
A mão gordurosa de Woodard levanta-se e limpa o suor das
sobrancelhas espessas. A umidade já está escorrendo pelas axilas de
sua camisa xadrez.
— Woodard — responde Víctor, - vou dizer o mesmo que disse a
Izabel, nenhuma informação sobre esta organização será dada a esta
mulher. Está entendido?
Um nó move-se para baixo do centro da garganta grossa de
Woodard e ele acena com a cabeça inquieto, enxugando mais suor de
suas sobrancelhas.
— Sim, senhor. Eu entendo, senhor.
Esse terá de ser vigiado, com certeza. Ele parece instável, com
medo e desesperado — três dos cinco ingredientes necessários para
alguém cair e derramar tudo o que eles sabem. Mas, eu entendo seu
medo e eu não posso evitar senti pena dele em vez de preocupada com
o que ele pode dar.
Victor tecla no código na porta e nós cinco entramos dentro do
quarto.
CapÍtulo quatro
Izabel

Os lábios vermelhos escuros de Nora se esticam em um enorme


sorriso fechado quando entramos na sala com ela. Seus longos cabelos
loiros esbranquiçados são como uma onda de seda leitosa nos lados de
seu rosto e sobre ambos os ombros, contra a cor de seu batom. Seus
cílios escuros e sobrancelhas aparadas parecem criados artisticamente
acima e ao redor do marrom claro de sua íris. Suas maças do rosto
elevados dão a sua pele cremosa ainda mais definição. E embora,
admito, hipnotizante de olhar, ela não é sem falhas. Uma fina cicatriz
de meio centímetro corre ao longo do lado esquerdo do queixo, outra,
cerca de dois centímetros de comprimento, corre horizontalmente pelo
centro de sua garganta. E, o mais perceptível, ela perdeu a ponta do
dedo mindinho esquerdo.
Ela ergue os braços até as cadeias permitirem até a altura do
ombro, com as palmas das mãos para cima, e depois inclina a cabeça
para um lado.
— Fico feliz que todos vocês conseguiram— ela diz com um grande
sorriso confiante e então abaixa as mãos sobre a mesa, os punhos
batendo contra o metal. — Com uma exceção, é claro.
— Vamos saltar o monólogo dramático— eu digo friamente,
avançando à frente dos outros. — Nenhum de nós se importa em saber
o quão espirituoso você pode ser, ou que tipo de linhas bestas e fodidas
que você pode trazer enquanto você balançar a carne na frente de
nossos rostos. Que porra você quer?
Nora suspira dramaticamente, franzindo os lábios vermelhos de
um lado, mas nunca realmente perde aquele sorriso confiante do dela
que eu quero dar um tapa no rosto dela.
Victor pisa ao meu lado, mas ele não me força a sair, ou me diz
para ficar quieta. Ele não vai tão longe na frente dela a menos que ele
pense que eu estou cometendo um erro, e eu admito, às vezes é
justificado porque eu tenho um momento difícil controlar a minha
raiva.
Os olhos castanhos de Nora o seguem e ela olha-o dos seus
sapatos brilhantes e caros, sua jaqueta de terno preta da Armani e até
o topo de seu cabelo bem-preparado. Certamente ela já — olhou para
ele— nessa maneira sensual, mas agora que estou na sala com ele, ela
deve estar tentando empurrar os meus botões ciumentos. Não
funciona, porque eu sei que não tenho nada com que me preocupar.
— Vamos começar? — Victor diz.
— Claro — diz ela, como sempre, com um ar de sofisticação. — Eu
diria que tomarem um assento, mas vendo como há apenas uma
cadeira extra...
— Estamos bem — disse Dorian com impaciência, aproximando-
se de nós. — Vamos continuar com isso.
Niklas sai para o lado para ficar de pé contra a parede. Ele está
tão interessado como qualquer um no que Nora tem a dizer, mas ele
parece entediado. Ele cruza seus braços musculosos sobre seu peito e
traz um pé para cima, apoiando a sola de sua bota contra a parede
atrás dele.
Woodard mal se moveu o tempo todo. Ele continua a ficar no
centro da sala, suando profusamente e parecendo que está prestes a
ser forçado em uma montanha-russa e tem medo de altura — se algum
de nós rachar sob a pressão, é provável que seja Woodard.
Os olhos de Nora nos examinam todos, um a um. Apoiando os
cotovelos nos braços da cadeira, ela segura os dedos sobre o colo,
vestida de couro preto, com as mãos penduradas ali.
— Como já disse — Nora começa tranquilamente, com confiança
— um de vocês sabe quem eu sou, ou pelo menos vai perceber quem
eu sou no momento em que tudo isso acabar.
Todos nós olhamos um para o outro, todos exceto Victor, que
mantém seus olhos treinados no inimigo — sempre focado, sempre
disciplinado, sempre absorvendo cada minúsculo detalhe, sempre
aquele de nós que tem a sua merda próxima em todos os momentos,
não importa a situação.
— É assim que o jogo será jogado— prossegue. — Eu quero
informação, e se eu não conseguir as informações que eu vim aqui para
consegui - ela sorri e aponta seu dedo indicador para cima — Sim, eu
disse que vim aqui, porque eu não estaria sentado aqui nesta sala se
eu não tivesse deixado você me levar.
— Eu suponho que você queria ser acorrentada a uma cadeira,
também — eu cortei em sarcasticamente.
Ela levanta os pulsos como se para nos mostrar as algemas.
— Essas pequenas coisas? — Ela diz ironicamente.
— Vá direto ao ponto— Victor a corta.
Seus olhos castanhos se movem de mim para Victor e depois de
uma pausa, ela continua.
— Cada um de vocês me dará informações. Privadas — ela aponta
seu dedo para cima de novo — exceto o de vocês do por que eu estou
aqui. Essa pessoa em particular não terá escolha a não ser me dar a
informação que eu quero na frente de todos os outros. E se ele ou ela
se recusar, seus entes queridos serão executados.
Eu engulo nervosamente e imaginei o rosto de Dina em minha
mente.
Dorian se aproxima, suas mãos fechadas em punhos em seus
lados, seus dentes moendo, e com raiva em seu rosto.
Victor põe fora seu braço sem mover qualquer outra parte de seu
corpo, parando Dorian em seu caminho. Dorian não vai mais longe.
Os olhos de Nora passar sobre Dorian enquanto ela adverte:
— E se eu morrer, eles também serão executadas.
Ela passa os dedos sobre o colo novamente.
— Por último, se o meu contato não ouvir de mim em quarenta e
oito horas, que também vai ter seus entes queridos mortos. Então,
vocês estão dispostos a jogar? — Seu olhar recai sobre todos nós mais
uma vez.
— Vai depender apenas do tipo de informação que você quer—
Victor fala. — E você parece ignorar o fato muito claro que você é meu
prisioneiro. O que faz você pensar que não vamos simplesmente usá-la
para obter essas pessoas de volta? Se você souber alguma coisa sobre
mim, e aparentemente você sabe, então você deve saber que eu não vou
desistir de informações sobre a minha organização, nem vou deixar
ninguém mais — ele coloca as mãos sobre a mesa e se inclina sobre,
olhando-a mortalmente nos olhos — e eu não tenho nenhum problema
em matar uma mulher.
Meu olhar cai em direção ao chão; o brilho da luz em minhas botas
pretas a única coisa visível em minha visão ofuscada.
— Orgulhoso disso, não é? — Nora zomba, e eu não posso ter
certeza, mas eu pensei que eu senti seus olhos em mim
momentaneamente.
Ela puxa sua cabeça loira para um lado enquanto eu levanto a
minha.
— Você deve gostar de matar mulheres, Sr. Fausto. — Ela sorri,
mas é muito grave, e eu sei que ela está tentando entrar sob a minha
pele.
— Matar é o que eu faço— ele responde, deslizando as mãos para
fora da mesa e retornando de pé. — Eu gosto nem não gosto. Mas eu
não mato pessoas inocentes, se é isso que você está insinuando.
— Oh, de jeito nenhum— diz ela, seu tom de voz enfeitiçado.
Seus olhos se encontram com os meus desta vez, e eu não posso
evitar, mas sinto que há algo escondido neles, algo que tem a ver
comigo. Ou talvez — e muito mais uma possibilidade — é a minha
paranoia no trabalho novamente.
— Mas para responder à sua pergunta — prossegue Nora — você
pode me usar tudo o que quiser, mas isso não lhe servirá de nada —
ela se inclina para a frente sobre a mesa, seu cabelo comprido contra
o metal — Você vê, eu não tenho medo da morte, e eu não tenho nada
mais para viver além da informação que eu vim aqui para obter. Então,
por todos os meios, use-me tudo o que quiser, mas você só vai arriscar
suas vidas ainda mais, fazendo isso.
O silêncio enche o quarto. Mais uma vez, todos nós olhamos um
para o outro momentaneamente, contemplativamente.
— Qual é a natureza da informação que você procura? — Victor
pergunta.
Nora sorri, com a cabeça inclinada de um lado para o outro num
movimento preciso e balançando.
— Cada um de vocês tem um segredo profundo, escuro — ela
começa, — algo que você pode se envergonhar, ou se arrepender, ou
pode estar sendo perseguido por algo que você fez que era tão horrível
que você que a sua consciência não pode fugir dela. Um de vocês — ela
nunca olha para nenhum de nós em particular enquanto diz estas
coisas -— foi traído por alguém muito próximo de vocês. Um dos que
tinha algo tirado de você há muito tempo. E um de vocês enterrou algo
que poderia ser o fim de vocês se alguma vez for encontrado. Você vai
me confessar esses segredos. Com vontade. Sinceramente. — Ela olha
apenas para Victor agora. — Essa é a natureza das informações que eu
procuro, Sr. Fausto.
O silêncio enche o espaço novamente, mas desta vez é abundante
com uma sensação coletiva, desconfortável que todos nós
compartilhamos.
— Você está afirmando já conhecer esses chamados “segredos
obscuros”? — Pergunto, cruzando os braços.
Os lábios vermelhos de Nora se alongam enquanto seus olhos
varrem sobre mim.
— Eu sei — ela diz. — Eu sei mais sobre você do que a pessoa
nesta sala mais próxima de você sabe.
— E como você sabe? — Eu digo, levantando do chão, porque eu
não acredito nisso e eu duvido que alguém mais faz qualquer um. —
Os segredos profundos e escuros são profundos e escuros por uma
razão. E o que exatamente você tira disso? Algo não está encaixando.
— Eu vou te contar tudo o que sei quando eu estiver pronta— ela
diz calmamente, deliberadamente. — E eu recebo um monte de fora,
Sarai — eu vacilo quando meu antigo nome rola para fora da sua língua
— basta ser paciente e, eventualmente, tudo vai fazer sentido.
Victor vira as costas para Nora e olha para todos nós.
— Alguém aqui não está disposto a acompanhar isso? — Ele
pergunta.
— Eu vou fazer isso — Woodard diz balançando a cabeça, o queixo
seu queixo duplo agitando levemente. — T-Tudo-e-eu quero dizer,
qualquer coisa para manter minhas filhas seguras. — Ele arranca as
mãos por cima de sua barriga arredondada.
Dorian passa a mão pelo seu cabelo louro e espetado, a manga de
seu suéter cinza escuro escorregando de seu pulso, revelando uma
Rolex usado sobre uma tatuagem preta e cinza de uma folha com ponta
de sangue no centro de seu osso de pulso.
Ele balança a cabeça e lambe a secura de seus lábios, sua mão
caindo da parte de trás de seu pescoço.
— Eu vou fazer— ele diz e então ele olha para Nora.
Victor olha para mim e só hesito por um momento.
— Conte-me— digo e eu olho para Nora com um sorriso
sarcástico. — Não tenho nada a esconder.
Ela sorri porque sabe que estou mentindo.
Niklas empurra-se para longe da parede por sua bota e caminha
em nossa direção, aquele sorriso que ele é famoso, exibido
orgulhosamente em seu rosto. Ele ergue a mão e coça a barba do queixo
e das bochechas.
— Você está cheia de merda — ele diz agora cruzando os braços e
olhando diretamente para Nora. — Você diz que todos nesta sala têm
um segredo. Bem, eu não, não há nada “profundo e escuro” sobre mim
que qualquer um nesta sala já não saiba. Eu sou a porra de um livro
aberto, e é assim que eu sei que você é apenas mais uma puta
manipuladora — ele olha para mim brevemente -— mas com certeza,
eu vou jogar o seu jogo. Não tenho nada melhor a fazer.
Niklas volta para a parede.
Todos os olhos estão em Victor.
Victor me olha brevemente — porque eu sei que ele está apenas
entretendo isso para mim — então ele dá atenção a Nora e diz
casualmente:
— Quando começamos?
Nora sorri e pressiona suas costas contra a cadeira.
Ela aperta os lábios e diz com a mão:
— Quanto mais cedo melhor. O tempo está passando. Eu espero
que você transmita tudo isso para que especialista de vocês. Pena que
ele não pode trazer Seraphina... ou era Cassia? — Ela sorri
maliciosamente -— ele está chegando, não é? Ele é parte do negócio,
lembre-se disso. Se ele não aparecer, eles morrem.
Dorian e eu trancamos os olhos desta vez, ambos com os mesmos
terríveis pensamentos e medos.
— Então, quem vai ser voluntário para ir primeiro? — Nora
questiona com as sobrancelhas levantadas perfeitamente arrumadas.
— Eu vou primeiro — Woodard diz imediatamente.
Ele arrasta um dedo indicador enrolado atrás do pescoço de sua
camisa, afrouxando o tecido suado de sua pele.
Victor se move em direção à mesa e leva a parte de trás da cadeira
vazia em sua mão, puxando-a para o centro da sala, a cerca de cinco
metros da mesa e da mulher perigosa sentada do outro lado dela.
— Não mova esta cadeira deste local— Victor exige. — Ela está
segura, braços e pernas, mas fique fora de seu alcance.
Nora sorri maliciosamente para Woodard, revelando um conjunto
de dentes retos brancos. Então ela olha cada um de nós
individualmente uma última vez, orgulhosa de seu desempenho, e o
resto de nós sai da sala.
— Não tenho certeza se é uma boa ideia deixar Peter Griffin3
confinado em um quarto com ela— Niklas diz com um sotaque depois
que a porta pesada fecha e trava automaticamente.

3 Peter Löwenbräu Griffin é o personagem principal da série televisiva Family Guy.


Ele é dublado na versão original pelo criador da série e roteirista principal, Seth
MacFarlane.
— Ele tem uma arma — Victor revela. — Contanto que ele fique
fora do alcance dela, ele ficará bem. Além disso, ela não está aqui para
matar ninguém. Esse... jogo que ela está jogando é muito importante
para ela. Ela tem se esforçado para chegar até aqui.
Victor faz um ponto válido.
— Você acha que ela sabe que o quarto está grampeada? — Eu
pergunto.
— Não sei — Victor responde - mas tenho a impressão de que não
importa para ela de qualquer maneira.
— Victor — diz Dorian - se acontecer alguma coisa a Tessa...
— Vamos atravessar aquela ponte quando chegarmos a ela, Flynn
— Victor corta. — Uma coisa de cada vez.
Caminhamos ao lado e atrás de Victor pelo corredor e longe da
sala, fazendo o nosso caminho para o elevador e para a sala de
vigilância. Três gigantes TV de tela plana estão alinhadas perfeitamente
em toda a parede, cercado por conjuntos de equipamentos de vídeo e
áudio debaixo delas em cima de duas mesas maciças e duas outras
mesas à direita e à esquerda. As telas já estão vivas com a cena da sala
de interrogatório. A televisão no centro exibe uma imagem gigante,
situada em Nora e Woodard, ampliada o suficiente para quase contar
as gotas e sardas no pescoço de Woodard. As duas televisões à
esquerda e à direita desta têm quatro telas diferentes dentro delas,
todas mostrando ângulos diferentes da sala.
Suas vozes fluem dos alto-falantes quase tão audivelmente como
se estivéssemos sentados em um pequeno teatro, assistindo a um filme.
Sentamo-nos em cadeiras de escritório e escutamos, capturando
o começo da conversa a tempo.
— ... oh, eu sei que seu nome completo é James Carl Woodard —
Nora diz inteligentemente, dobrando suas mãos juntas na mesa na
frente dela. — Nascido em Boston, Massachusetts, em 3 de agosto de
1955, às 12h02, filho de Anthony e Beatty Woodard.
Woodard mal pode se sentar em sua cadeira; seu pé direito vestido
com um loafer 4 preto largo que constantemente salta para cima e para
baixo contra o chão rapidamente. Sua respiração é instável e sua
camisa está encharcada de suor, bem como sua testa que ele limpa
continuamente com sua mão, transferindo-o para as pernas da calça
depois.
— Sim — ele diz, — isso está correto. C-Como você sabe alguma
coisa sobre mim? Porque, senhora, eu não te conheço. Quero dizer, eu
não consigo imaginar quem você poderia ser realmente. M-Mas, bem,
vou tentar descobrir se você quiser. Apenas não machuque minhas
filhas.
Ela sorri suavemente, cheia de compaixão, e então abana a
cabeça.
— Suas filhas — Nora diz como se trazendo até um ponto. — O
que você faria por suas filhas?
— Q-Qualquer coisa... Eu quero dizer que eu não posso te dar
informações sobre esta Ordem... p-porque eu não sei muito de tudo...
Com um sorriso, Nora olha para Woodard de uma maneira
conhecida, de um lado para o outro.
— Oh, vamos agora, James — ela diz, — eu esperava que você não
fosse tão estúpido quanto você parece. Você não acha que eu estou
muito além de saber que é a informação além de um cara nesta Ordem;
pelo menos um deles, de qualquer maneira; aquele que se senta à mesa
junto com o líder e seus melhores homens — seus olhos olham

4
diretamente para uma câmera escondida -— e mulher — ela acrescenta
com um sorriso afetado.
— OK, ela definitivamente sabe sobre o quarto estar grampeado
— eu digo, embora realmente não precisa ser dito neste momento.
— Mas nós não estamos aqui para isso — Nora continua, olhando
para Woodard novamente. — Você vai me contar sobre sua família.
— O-o que sobre eles? — Ele gagueja; Ele sempre gagueja quando
ele está nervoso. — O que você quer saber?
— Quero saber sobre seus filhos.
Woodard parece confuso.
Ela ajuda a avançar com ele.
— Olhe para mim, James— ela diz inclinada sobre a mesa e
olhando para ele sob os olhos encapuzados. — Eu não vou soletrar
nada para você. É seu trabalho me dizer o seu segredo por conta
própria.
— Mas eu não...
— Oh, sim, você sabe — ela diz e se inclina para trás novamente.
— Um homem como você, que não é tão estúpido quanto parece, aposto
que há muito sobre você que não sabemos. Não existe?
Ele não diz nada.
— Eu tenho observado você por um longo tempo— ela continua.
— Eu sei onde você mora com sua esposa e duas filhas. Sei sobre as
casas que você frequenta, deixando-as sozinhas... desprotegidas...
— Deixo para protegê-las — Woodard corta na defensiva. — Eu
amo a minha família. Eu nunca deliberadamente colocá-las em perigo.
— A gagueira diminuiu agora que ele está ficando com raiva.
— Claro que sim— diz Nora, — é por isso que suas filhas não
sabem onde, agora mesmo, amarradas a cadeiras — ela levanta as
mãos, as correntes chiam e então olha para si mesma — muito parecido
com isto, na verdade. Mas vamos avançar um pouco. Sobre as tuas
filhas e o segredo que você guarda.
Eu não estou gostando de tudo onde isso parece que está indo.
Victor e eu trocamos um olhar.
— Não sei do que você está falando.
Ela sorri.
— Eu acho que você faz.
Meu estômago está torcendo em nós, ouvindo isso. Se ele disser o
que eu acho que ele vai dizer,
— OK, eu vou te dizer — Woodard diz e abaixa os olhos.
Até agora, eu, Victor, Dorian e Niklas estamos todos pendurados
em sua confissão, provavelmente todos pensando a mesma coisa.
— Eu tenho seis outras filhas — diz ele — com outras quatro
mulheres. Tenho andado a enganar a minha mulher há quinze anos.
Eu... É... o que você queria saber?
Nora sorri com satisfação.
Nós quatro nos sentamos aqui em uma espécie de choque, mas
acredito igualmente aliviado que ele não estava prestes a confessar algo
mais imperdoável. James Woodard pode ter um ataque cardíaco
estúpido em duas pernas, mas todos nós gostamos muito dele.
— Merda, ele acabou de dizer que ele tem oito filhas com cinco
mulheres diferentes? — Dorian diz, surpreso.
— Acho que sim — responde Niklas com humor em sua voz. —
Quem poderia pensou que ele pega mais bocetas do que você, Flynn?
Dorian zomba e balança a cabeça, olhando para a tela.
Nora faz contato visual com a câmera escondida novamente.
— Veja como isso foi fácil? — Ela diz. — Na verdade, isso foi muito
mais fácil do que eu pensava que seria. — Ela entrelaça os dedos na
mesa. — Agora, Sr. Woodard, isso não foi tão difícil, foi? A verdade não
se parece liberadora? — Ela mordiscou seu lábio inferior e balançou a
cabeça para um lado com um encolher de ombros. — Claro, seria muito
mais libertador se contasse a sua esposa, mas você é muito covarde
para isso, não é?
Ele balança a cabeça nervosamente olhando para baixo,
enrolando seus dedos rechonchudos dentro de seu colo, seu pé
firmemente batendo contra o chão.
— A-As minhas filhas estão bem?
— Eu não sei — ela diz sem hesitar. — O agora não é realmente
importante. Como vai ser no momento em que tudo isso acabar é o que
você deve estar preocupado.
— É isso que você quer? — Ele diz. — Para eu confessar a minha
esposa? Para dizer a minhas filhas que eles têm irmãs? Eu não entendo
o que isso tem a ver com nada. Eu não vejo por que você as rapta.
Nora levanta um dedo.
— Você vai descobrir— ela diz com um pequeno encolher de
ombros. — Você tem muito tempo para pensar sobre isso.
As sobrancelhas franzidas de Woodard estavam em sua testa.
— É isso? — Ele pergunta, tão confuso quanto qualquer um de
nós está. — Isso é tudo o que você queria saber? Pensei que fosse tentar
forçar informações sobre o resto de nós...
— Eu não preciso de você para fazer isso— ela diz com confiança.
— Os outros vão me dizer o que eu quero saber, tudo por conta própria.
Confiança só pode ser a torção na armadura de Nora, porque, de
alguma forma, eu duvido que ela vá tirar muito da maioria de nós.
Dorian, talvez, porque a vida de Tessa está na linha e claramente ele
ainda ama sua ex-esposa. Eu — é uma possibilidade muito real que ela
me faça falar por causa de Dina, e porque se é apenas segredos
pessoais que ela quer e não informações sobre a nossa Ordem, então
estou disposta a desistir dos meus segredos para salvar a vida de Dina.
Já dormi com uma garota? Claro que já... eu vivi com dezenas
delas por nove anos quando eu estava presa no México. Nada para se
envergonhar, dormir com uma mulher, embora seja um pouco
embaraçosa. E eu não gostaria de dar Niklas e Dorian esse tipo de
munição para obter ficar sob a minha pele e meu amor mais do eles
estavam.
Já roubei alguma coisa? Bem, roubo é uma espécie de algo que
eu sou muito boa e eu usá-lo para minha vantagem no campo muitas
vezes. Mas Victor já sabe disso. Niklas e Dorian e Fredrik e qualquer
outra pessoa em nossa Ordem, não tanto, porque eu roubei de todos
eles para manter o controle de suas vidas pessoais para Victor. OK,
agora que pode ser prejudicial.
Talvez eu não esteja dando crédito suficiente a Nora.
Agora eu estou nervosa.
Mas Victor?
Ela nunca conseguirá nada com ele. Isso me assusta porque eu
quero Dina viva e se ela morrer, a última pessoa no mundo que eu posso
lidar com sendo a causa disso, é Victor. Se ela morrer por causa dele,
acho que nunca vou conseguir perdoá-lo.
Niklas?
Eu sacudo a cabeça pensando nisso comigo mesma. Niklas, eu
sinto que é exatamente como ele disse a ela que ele é antes de sair
daquela sala — um livro de merda. Então, eu não sei o que ela espera
sair dele, se há alguma coisa para chegar a todos.
Fredrik?
Oh, como é triste para esta mulher que realmente - perdoe o cliché
- mordida de uma maneira maior do que ela pode mastigar. Puxar
informações dos lábios como o sangue de uma veia é o domínio de
Fredrik, um que eu duvido que ela quer pisar.
— Isso foi muito fácil — fala Dorian.
Niklas ri ligeiramente em voz baixa.
— Sim, olha quem está no estande como a primeira testemunha.
Victor, você tem certeza de que testou completamente esse cara antes
de dar acesso a tudo?
Victor acena com a cabeça.
— James Woodard é confiável — diz ele. — Ele pode estar nervoso,
mas não deixe que isso o engane.
Nora sorri para a câmera.
— Quem está vindo para a confissão depois? — Ela diz.
Eu não quero ir. Essa puta me deixa desconfortável.
— Eu vou em seguida — eu falo contra meus pensamentos
internos.
— Tem certeza? — Victor diz.
Eu concordo.
— Sim, eu quero acabar com isso. — Pelo menos essa parte é
verdadeira.
Eu me levanto da cadeira de rodas, puxando as pontas do meu
vestido preto para trás sobre minhas coxas.
— Quanto mais cedo acabarmos com isso — digo, —mais cedo os
recuperarmos.
Dorian acena com a cabeça.
Niklas olha para mim sem nenhuma emoção em seu rosto.
Olho para Victor, uma espécie de contemplação silenciosa nos
meus olhos. Eu não quero que eles me escutem confessar qualquer
coisa a esta mulher, mas eu sei que eles precisarão manter o áudio
aberto no caso Nora dizer algo importante. Então, eu não me incomodei
dizendo o quanto eu não gosto disso, e eu saio do quarto e dirijo-me
para o elevador, passando por um confuso James Woodard no longo
trecho do corredor no meu caminho para baixo.
Quanta mulher poderia realmente saber, afinal? Então, o que se
soubesse o nome completo de Woodard, data de nascimento, tempo de
nascimento, e nome dos pais - todas essas informações podem ser
encontradas em um documento pouco útil chamado de certidão de
nascimento. Ela realmente não disse muito sobre qualquer outra coisa,
então talvez ela estava apenas blefando. Sim, isso é uma possibilidade.
Ela está blefando, e Woodard era a pessoa perfeita para usar para
mostrar ao resto de nós.
Duvido que ela realmente sabe nada sobre mim, muito menos
todos nós.
CapÍtulo Cinco
Izabel
Depois de perfurar o código de acesso no painel da porta, entro
no quarto armada com apenas a minha faca com punho de pérola
escondida dentro da minha bota direita. Levo o meu tempo fazendo o
meu caminho através do quarto e para a cadeira, mas eu não me sentar
uma vez que chego lá. Nora se senta confortavelmente de costas contra
a cadeira, seus braços descansando ao longo dos finos braços
metálicos, suas unhas pintadas de vermelho drapejadas elegantemente
sobre as bordas. Tudo exceto seu dedo mindinho esquerdo.
Eu sorrio pensando nisso sozinha, parando logo atrás da cadeira
vazia.
— Alguma coisa engraçada? — Pergunta Nora.
— Na verdade sim — eu digo com um sorriso.
Eu olho para seu dedo marcado apenas o tempo suficiente para
ela vislumbrar o que eu estou me referindo, e então para trás em seus
olhos castanhos brilhantes enquadrado por cílios escuros e contusões.
— Alguém se cansou de ouvir sua merda e corto-o?
Ela sorri.
Então ela levanta a mão esquerda e move seus longos dedos em
uma forma delicada.
— Eu sinto falta disso — ela diz despreocupadamente e então põe
a mão de volta para baixo no braço da cadeira. — Mas eu não sou a
única a responder a perguntas aqui. — Ela se dirige para minha
cadeira. — Sente-se.
— Acho que vou ficar de pé.
— Não, acho que você vai tomar um assento — ela diz
calmamente, mas com um ar de autoridade.
Ela sorri.
Eu não. E eu também não me sento.
— Eu realmente esperava que você fosse a última — diz ela. —
Quero dizer, vendo como seu segredo é um dos mais escuros.
Isso atrai minha atenção.
Ela inclina a cabeça.
— Eu realmente espero por sua causa que ninguém esteja
escutando nossa conversa desta vez.
— Você não sabe nada sobre mim — eu estalo, não confiante. —
Meu nome verdadeiro — e daí. Isso não é difícil de descobrir. Apenas
como a informação do registro do nascimento de James. Acho que você
é uma fraude.
Nora sorri e move para a cadeira novamente.
— Uma fraude, talvez — diz ela, zombando de mim como sempre,
— mas uma fraude que controla se Dina Gregory vive ou morre, no
entanto. Por favor, sente-se, para que possamos estar ao nível dos
olhos.
Eu torno meu queixo, rangendo meus dentes, mas uma vez mais
ela tem minha atenção.
— Você está perguntando ou dizendo?
— Estou perguntando — ela diz calmamente. — Por favor. Sente.
— Ela abre a mão em gesto.
Sua estranha mudança de atitude me pega de surpresa, mas é só
depois de eu finalmente sento que eu perceber que ela ainda me levou
a fazer isso. Ela não diz nada no modo de zombaria, mas eu sei, apenas
por aquele olhar fraco de satisfação em seus olhos que ela está
anotando outra vitória em seu caderno mental.
Eu não digo nada, e tento manter minha própria influência; o que
sobrou de qualquer maneira.
— Que tal isso — eu digo, cruzando minhas pernas e meus braços
— você me fala um pouco sobre você primeiro, apenas para que
possamos ficar mais... confortáveis uma com a outra. E então eu vou
te dizer o que você quer saber.
— Será que o meu sangue não é suficiente? — Pergunta ela com
um sorriso de satisfação. — Eu dei a eles livremente, você sabe. Porque
eles não encontrarão nada em mim. — Ela ergue as mãos, as palmas
das mãos voltadas para mim. — Impressões digitais? — Ela ri com uma
expressão elegante — também não vão encontrar nada nelas.
— Então vamos conversar — digo.
Nora se inclina para a frente, colocando os braços sobre a mesa,
embora eles só alcancem a partir do meio de seus antebraços, as
correntes enganchadas às algemas as impediram de ir mais longe.
— Eu disse a você — ela diz: — Eu não estou aqui para responder
às suas perguntas.
Eu me levanto e corajosamente movo minha cadeira o resto do
caminho e coloco-a na mesa ao seu alcance. Eu não tenho medo dela e
quero que ela saiba disso.
Ela sorri levantando o olhar para mim e seus olhos seguem os
meus de todo o caminho de volta para baixo quando eu tomo o meu
assento novamente, apenas um par de pés na frente dela. Então, eu me
inclino para a frente como ela, colocando meus braços sobre a mesa à
minha frente e fechando minhas mãos.
Olho para os meus dedos e depois a olho nos olhos desafiante.
— Eu tenho todos os meu — eu digo com zombaria cruel. Então
coloco minhas mãos sobre a mesa de metal fria, estendendo os dedos
para fora, com as unhas sem estar pintadas, um anel de ouro branco
no dedo mindinho com um diamante de três quilates e outra prata com
uma pedra de ônix preta em meu polegar direito. Deslizei o anel do dedo
mindinho direito e coloco-o na minha esquerda, depois, segurando
minha mão em frente de mim como se para admirá-lo.
Então eu viro-o ao redor, minha palma enfrentando-me, de modo
que pudesse a ver, demais.
— Há algo nas mãos de uma mulher que é irresistível para alguns
homens — começo, provocando-a em meu tom mais controlado. — O
mesmo tipo de homens que amam a forma do pescoço de uma mulher,
ou a inclinação de seus ombros, ou a delicadeza de seus pulsos. Estes
são os homens sofisticados, o tipo de homens que podem oferecer a
uma mulher um relacionamento mais... inteligente. — Eu viro a mão
para frente e para trás lentamente na nossa frente, olhando para aquele
anel brilhando no meu dedo mindinho, e quanto mais eu falo, mais
uma espécie de escuridão começa a mudar em seus olhos, eu estou
puxando me agarrando nisso aqui, mas parece estar funcionando. —
Então há os homens do peito e de bunda. A maioria deles apenas
amadores com tesão que não têm controle sexual. — Eu olho para seu
dedo mindinho novamente. — Você é uma mulher linda — digo. — Seios
agradáveis, bunda legal, mas aquela sua realmente não está lhe
fazendo nenhum favor. Espero que aquele que pegou o seu dedo receba
o que merece.
Nora desliza suas mãos da mesa e as descansa em seu colo. E
embora eu pareça ter comprimido um nervo um pouco, seu sorriso
malicioso permanece intacto.
Talvez a vaidade é a torção em sua armadura em vez de confiança.
— Você é exatamente como eu sempre imaginei que você seria —
diz ela, aparentemente ilesa. — Jovem, inexperiente, faladora,
excessivamente confiante, de temperamento rápido, e muito
sobrecarregada pela situação. — Ela se inclina para a frente
novamente, mas mantém as mãos em seu colo; a luz que irradia da
lâmpada em forma de cúpula centrada sobre a mesa faz com que seus
cabelos loiros e batom vermelho brilhem. — Mas você não vai durar
neste mundo subterrâneo, Sarai Cohen. Você acha que ser uma
escrava sexual durante nove anos, submetidos a terríveis abusos e da
morte e o lado mais escuro da natureza humana, faz com que você se
encaixe em um estilo de vida de matador profissional, adequada para
se sentar à mesa entre os homens que estão tão longe da seu Liga. —
Seu sorriso malicioso se estende entre seu rosto cremoso, mas
machucado. — Mas, mais do que isso, você está certamente fora de sua
liga quando se trata de mim. Então, se eu fosse você, eu deixaria a
tentativa desesperada de me atropelar no meu próprio jogo, e jogar a
única mão patética que você tem.
Suas palavras me espetaram, mais do que eu pensava que
podiam, mas eu não deixo isso aparecer em meu rosto. Pelo menos eu
espero que não.
Eu sorrio e coloco minhas mãos sobre a mesa novamente.
Sei bem no fundo que devo manter minha boca fechada, que eu
deveria deixá-la continuar com isso, mas estou chateada e não posso
evitar — ela tem a parte rápida, pelo menos.
— Apenas me diga quem foi, — eu digo, estimulando-a, — quem
cortou. Era um homem? Um ex-amante? Um marido? Não? — Eu
franzo os meus lábios. Ela se vira um pouco na cadeira. — Uma mulher,
então? Ah, deve ser isso... você é lésbica, não é? — Eu sorrio.
Mas eu acho que eu a perdi agora, fui muito longe da pista porque
seu sorriso retorna, então eu volto na direção oposta.
— Era seu papai então? — Meus olhos estão acesos com excitação,
meus lábios virando para cima em um lado, eu definitivamente atingi
um nervo. — Foi, não foi? Por que seu pai cortou a ponta de seu dedo,
Nora?
Seu sorriso desaparece de seu rosto em um instante. Sua
respiração se torna mais profunda, exalando audivelmente de suas
narinas flamejantes.
— Diga-me o seu segredo — eu digo, — e eu vou te dizer o meu.
Por que papai cortou o dedo pobre?
Dentes brancos foram descobertos por atrás dos lábios vermelhos
vêm em minha direção sobre a mesa tão rápido que meus olhos se
fecham e minhas mãos se levantam instintivamente para me bloquear
da força do golpe. Eu sinto que estou caindo apenas alguns segundos
enquanto minha cadeira vai para trás com Nora em cima de mim, até
que ela bate no chão duro. Um flash de luz e manchas de brotam diante
de meus olhos e dor pulsa através do meu crânio como minha cabeça
salta no azulejo.

Victor
Niklas e Dorian correram em direção à porta, com a intenção de
se apressar para ajudar Izabel.
— Pare! — Eu os ordeno, mantendo meus olhos na tela.
— Victor, ela pode matá-la — diz Dorian.
— Como diabos ela tirou as algemas de suas mãos?! — Niklas
grita.
Woodard fica à minha esquerda, observando a cena violenta se
desdobrar na tela, um braço cruzado sobre seu estômago arredondado,
a outra mão dançando em seus lábios nervosamente.
— Você não pode deixá-la ali — acrescenta Dorian com
determinação.
Izabel e Nora se revezam servindo golpes. Nora está em cima de
Izabel, chovendo seus punhos para baixo em sua cabeça, e enquanto é
bastante difícil para mim assistir, eu sei que devo deixar correr o seu
curso.
Volto-me para Niklas e Dorian.
— Izabel pode cuidar de si mesma — digo.
— Não tenho tanta certeza — diz Niklas, claramente preocupado
com Izabel. — Foram necessários três de nós para segurá-la no
auditório.
Eu olho direito para o meu irmão.
— Ela vai ficar bem.
Ambos hesitam antes de ceder e eles voltam para ficar em frente
às telas.
— Espero que tenha razão, irmão. - Niklas cruza os braços.
Mantendo meus olhos treinados na luta, tudo que eu posso
pensar é que... Eu espero que eu esteja certo também.

Izabel
A cadeira de metal em que eu estava sentado está virada para o
lado. Eu estendi a mão para ela cegamente com a mão direita,
esforçando-me para conseguir qualquer parte dela em meus dedos, e
quando eu finalmente fizer, eu não sei como, mas eu tenho força
suficiente com uma mão para levantá-lo o suficiente para cima do chão
e golpeando em um lado da cabeça com ele.
Nora cai de lado e fora de minha cintura, cobrindo sua cabeça
com as mãos que de alguma forma não estão mais presas por algemas.
Não desperdiçando nem um segundo, eu me ajoelho e agarro a
cadeira dobrada novamente com ambas as mãos desta vez e atinjo a
parte de cima da cabeça dela de novo.
Nora consegue sair do caminho pouco antes de a cadeira cair pela
terceira vez. Fica de pé enquanto eu deixo cair e fico de pé para ir atrás
dela. Ela tenta se empurrar em uma posição, mas os punhos e corrente
que a prendem nos tornozelos ainda estão no lugar, tornando difícil
para ela se mover em qualquer lugar mais alto do que o chão.
Estou em cima dela em um piscar de olhos, da mesma forma que
ela estava em cima de mim momentos atrás, com meus joelhos
arreganhados em ambos os lados dela.
Agarrando ambos os lados de sua cabeça, um estrondo soa
quando eu bato a parte traseira de seu crânio contra o chão. Uma vez.
Duas vezes.
— Ahhhnnn! Cadela! — Ela grita, com as mãos segurando meus
bíceps, cravando as unhas em minha carne e rompendo a pele. Seu
corpo se desloca sob o meu peso enquanto ela tenta levantar as pernas
dela por trás para trancá-las ao meu redor como fez no auditório, mas
ela não consegue ter as pernas abertas o suficiente por causa da
corrente entre os tornozelos.
Eu pulo longe dela, mordendo duramente o meu lábio inferior de
raiva, meus olhos girando com calor e raiva enquanto eu me inclino
sobre ela no chão e pego um punhado de cabelo louro, meus dedos
apertando contra a parte de trás de seu couro cabeludo, e eu arrasto
seu corpo através do chão de cerâmica em suas costas. Seus dois saltos
pretos saem, deixados em uma trilha atrás dela.
Antes de eu levá-la todo o caminho de volta para o seu lado da
mesa, eu perco o meu pé e vêm caindo quando ela agarra meu tornozelo
com as duas mãos e puxa para trás com toda a sua força. O sangue
brota na minha boca quando meu rosto entra em contato com o chão.
De repente eu não consigo respirar. Meus olhos rolam na parte de
trás da minha cabeça enquanto ela aperta a corrente entre seus
tornozelos em torno da minha garganta, suas pernas se fecham com
força enquanto ela se deita sobre o chão, seu corpo sustentado em seus
antebraços, todo seu poder deslocado para seus pés, me bloqueando
no lugar. Meus dedos surgem rapidamente enquanto eu tento
desesperadamente encaixá-los atrás das correntes. Eu sinto toda a
minha cabeça se tornando quente, inchando rigidamente no meu
pescoço e transformando beterraba vermelha e roxa.
Ela aperta ainda mais os tornozelos, deixando-me imóvel; o cheiro
de suas calças de couro apertadas pesado em minhas narinas. Eu
quero desistir, eu sinto que é tudo que eu posso fazer. Meu corpo
começa a me trair quando os meus membros começam a amolecer.
Suspiro por ar que apenas não virá e lágrimas de exaustão encherão
os cantos de meus olhos.
— Fora de sua liga — ouço a voz de Nora dizer em meio ao
bombardeio vociferante de sangue em minha cabeça.
Algo dentro de mim se encaixa, e meus olhos se abrem
abertamente no meu rosto. Grito para fora algo que eu não posso
mesmo decifrar e finalmente escavo meus dedos entre a corrente e
minha garganta. Puxo-o para longe com tudo em mim, estimulada pela
raiva, pela vingança e pela vontade de viver, até que eu a dominar e
afrouxo meu pescoço, batendo as pernas contra o chão.
Ela começa a rastejar para longe em suas mãos e joelhos na
direção da minha cadeira virada.
Eu salto para os meus pés, puxando a Pérola da minha bota antes
que eu estou completamente de pé, e eu estou de pé sobre ela com a
lâmina contra a garganta e parte de trás do seu cabelo no meu punho,
puxando o seu pescoço para trás na medida que posso sem que estale.
— Eu vou cortar mais do que seu dedo, cadela!
Ela congela. Seus quadris, pélvis e pernas estão pressionados
contra o chão, os brancos de seus olhos visíveis para mim enquanto eu
estou sobre ela por trás.
— Onde está Dina? — Eu puxo seu couro cabeludo, puxando seu
pescoço para trás ainda mais; se ela ainda se encolher do jeito errado,
a lâmina afundará a pele e ela sabe disso. — Foda-se esses jogos de
vocês! Diga-me onde você a levou!
— Aproxime-se e eu lhe conto — diz ela com dificuldade, sua voz
tensa.
Sem sequer pensar nisso eu faço, mas mantenho a lâmina contra
sua garganta quando eu sentar em suas costas.
— Tente qualquer coisa e eu vou matar você — eu rosno, meus
lábios ao lado de sua orelha.
Ela não tenta lutar, mas eu não estou sentindo a derrota nela. É
outra coisa. Essa confiança nela que eu tenho desprezado. Mesmo que
eu sou a pessoa sentada em cima dela, aquela com a faca pressionado
na sua garganta, não posso deixar de sentir como se ela ainda estivesse
no controle.
— Onde ela está? — Eu sussurro duramente contra o lado de seu
rosto.
— Nove anos como escrava sexual em um complexo mexicano —
ela sussurra de volta. — Algo me diz que eles não se importavam muito
com preservativos. Será que eles se importavam, Sarai?
Meu corpo inteiro, cada osso, cada músculo, solidifica em um
instante.
— Se você quer Dina Gregory viva — ela diz, ainda em um
sussurro muito baixo para o áudio pegar, — então você e eu precisamos
ter uma conversa sobre os detalhes do relacionamento que você teve
com Javier Ruiz.
Parece como uma eternidade eu me sentada em cima dela,
estendida em suas costas, perdida em algum tipo de submissão
atordoada. Não consigo encontrar palavras. Ou meus batimentos
cardíacos. E minha mente está fugindo de mim.
Então minha mão com a faca começa a tremer e a minha
respiração se torna instável.
Desligo a faca longe de sua garganta, empurro sua cabeça para
baixo violentamente contra a telha com a outra mão, empurrando-me
com raiva para meus pés e fora dela. Eu não olho para ela quando ela
se levanta, lutando em uma posição com seus tornozelos ligado. E eu
olho apenas para o chão quando ela passa por mim, pegando seus
saltos pretos ao longo do caminho, e volta para seu assento do outro
lado da mesa.
Eu mantenho minhas costas para ela, incapaz de me mover; meus
olhos começando a queimar com lágrimas de raiva empurrando seu
caminho para a superfície. Minha faca está agarrada firmemente na
minha mão, descansando ao meu lado. Eu sinto vontade de usá-la em
mim mesmo.
— Vamos começar? — Nora diz tão calmamente como sempre,
esperando por mim na mesa. — Estou ansioso para ouvir tudo sobre o
seu tempo no México. — Ela diz com uma voz mais audível, olhando
para a câmera.
Levantando a cabeça lentamente, olho para a pequena câmera
escondida fixada no respiradouro perto do teto à minha direita. Eu olho
direito para Victor, ou pelo menos eu espero que ele perceba que é isso
que eu estou fazendo, meus olhos cheios de pesar, vergonha e...
tristeza.
Uma lágrima cai em uma bochecha, mas eu não tenho energia
para limpá-la.
Meus olhos caem longe da câmera e olham para o chão em vez
disso.

Victor
— Desligue o áudio — eu instruo Dorian.
Niklas argumenta:
— Espere, precisamos deixá-lo no caso...
— Eu disse para desligá-lo.
Pela primeira vez desde que entrei nesta sala, sinto a necessidade
de me sentar.
— Victor, isso é um erro — diz Niklas. — Qualquer coisa que Nora
disser pode ser útil.
— Estou ciente, Niklas.
O áudio fica morto quando Dorian o desliga na mesa à minha
direita.
Eu mantenho meus olhos na tela. Um ódio oculto por Nora
começa a se revelar dentro de mim, fervendo sob a superfície e
crescendo mais escuro quanto mais ela machuca Izabel.
— Victor...
— Izabel sofreu bastante — eu cortei-o com ácido em minha voz.
Giro apenas a cabeça para olhar para o meu irmão. — Você não tem
ideia do que ela passou no México, Niklas, nenhum de nós realmente
tem. Esta mulher pode forçá-la a dizer-lhe coisas que eu tenho certeza
Izabel quer que ninguém saiba, muito menos todos nós, ou eu. Mas
não vamos ouvir sua confissão. Seja o que for, é o segredo dela. Seu
negócio. E quando ela estiver pronta para dizer a você ou a mim ou a
qualquer outra pessoa, só então a ouviremos.
Niklas cede com facilidade.
Acenando com a cabeça, ele diz:
— Não, você está certo. Além disso, se Nora disser algo que Izabel
pensa que podemos usar, ela nos avisará.
Eu aceno e volto para a tela.
Uma bolsa de batatas chacoalha atrás de mim perto de Woodard.
Irritado por isso, eu digo:
— Deixe-nos e veja se você conseguiu alguma coisa sobre o sangue
dessa mulher ou impressões digitais. Quero saber quem ela é antes que
esta noite termine.
— Sim, senhor — diz Woodard, saindo apressado do quarto.
Eu olho para a tela, com os cabelos ruivos de Izabel desgrenhados
sobre seus ombros; a dor em seus olhos verdes, e tudo o que posso
fazer é assistir quando ela é forçada a reviver algo que ela só queria
esquecer.
Capítulo seis
Izabel
Distraidamente eu estendo uma mão e limpo o sangue do canto
da minha boca, e então toco com a língua o tecido inchado no interior
onde meus dentes rasgaram a carne.
— Sente-se, Sarai — diz Nora.
— Meu nome é Izabel.
— O novo nome é Izabel — diz ela, surpreendentemente, com um
pouco menos de zombaria — mas você não pode enterrar quem você
costumava ser, não importa quão duro você tente. Nenhum de nós
jamais conseguirá.
Eu encobri minha faca e me sento, também posso parar de lutar
com o inevitável.
Eu não olho para ela.
— Que porra você quer saber... exatamente? — Eu pergunto
gelada.
— Você já sabe a resposta para isso.
Ergo a cabeça e olho para ela com olhos frios e encapuzados.
— Eu ainda vou precisar de você para elaborar — eu digo. — Eu
fiz um monte de coisas que eu não estou orgulhosa. E eu só estou
disposto a dizer a você que você está aqui, então, que tal você me ajudar
um pouco para que possamos acabar com isso.
Eu ainda não quero acreditar que ela realmente sabe alguma
coisa; talvez se eu continuar a sondá-la por pistas que ela acabará se
confundindo. Mas, no fundo, eu sinto que ela sabe muito mais do que
eu quero que ela saiba. E não posso arriscar a vida de Dina.
Nora empurra os dedos pela parte superior de seu cabelo,
empurrando os fios caídos longe do seu rosto. Outra contusão
acompanhada por um nódulo está se formando em sua maçã do rosto.
Uma pequena tira de sangue vertical é evidente no centro de seu lábio
inferior gordo; batom está manchado em sua boca novamente. Ela
levanta a mão e limpa tudo, deixando os lábios rosados e ligeiramente
inchados.
Nem mesmo me pergunto sobre as algemas. Se ela saiu delas uma
vez, ela provavelmente pode sair delas novamente. Quem vier a este
quarto em seguida terá o trabalho de detê-la.
— Você era uma escrava sexual de um traficante de drogas
mexicano — ela começa — durante a maior parte de sua vida
adolescente e adulta. A escrava sexual, Izabel. Diga-me... quantos você
teve?
Eu olho para cima, encontrando seus olhos castanhos.
Novamente, não há zombaria, apenas um rosto sério e determinado
olhando para mim como se eu estivesse sendo punida, forçada a dizer
a verdade para diminuir a minha sentença.
Engulo e sufoco um pouco, olhando para as minhas mãos sobre
a mesa.
E então eu confesso meu segredo mais escuro.

México — Cerca de sete anos atrás...

Minha cabeça latejava sob as pontas dos meus dedos enquanto eu


estava deitado de lado contra o chão de madeira. Minha boca estava
cheia de sangue; comecei a engasgar com o gosto metálico. Lágrimas
escorriam dos meus olhos, soluços tremiam meu corpo, soluços que iriam
não ser ouvidos enquanto Izel, a irmã perversa de Javier, era a única na
sala comigo.
— Levante-se estúpida, vagabunda, puta! Levántate!
Ela voltou para mim, vestida com uma saia preta curta e apertada
que não deixou nada entre as pernas dela à imaginação quando ela se
agachou sobre mim descalça. Longos cabelos negros lhe cobriam os
ombros nus; seu peito estava coberto por uma camiseta sem mangas de
tiras, seus seios grandes praticamente derramando-se sobre o tecido
apertado.
Ela arrancou a mão no topo do meu cabelo.
— Por favor, Izel! Por favor, não me bata! Eu não peguei! Eu juro!
— Eu tentei cobrir meu rosto com minhas mãos, mas ela deu uma
bofetada.
— Abra seus olhos!
Tremendo por toda parte, eu abri meus olhos.
Ela cuspiu em meu rosto e bateu minha cabeça contra o chão.
Senti o vento mudar quando ela se levantou em uma posição de pé
em cima de mim. Eu estava com medo de olhar para ela. Eu tremi tudo
e fedia a urina, suor e sujeira. Eu usava um vestido azul longo, uma
coisa horrível que era, algo que tinha sido feito para uma senhora idosa.
Mas o material suave e fino estava fresco em minha pele no calor brutal
do verão e eu acariciei muito.
— Uma de vocês, putinhas — ela cuspiu em espanhol, — pegou
minha maldita sacola de maquiagem! Eu quero de volta! E você vai me
dizer quem tem isso!
— Eu não sei! — Eu gritei, enrolada em meu lado na posição fetal.
E era a verdade — eu não tinha ideia de quem a pegou. - Mas não era
incomum para Izel dizer que as coisas tinham sido roubadas apenas
para que ela tivesse uma desculpa para bater em mim. Ela me odiava.
Odiava-me mais do que odiava qualquer coisa ou alguém, eu era uma
prostituta estúpida, branca, americana... uma puta. — Una estúpida,
blanca puta americana! — E ela estava com ciúmes de que Javier me
protegia da maneira que ele fazia.
— Você mente!
— Eu estou dizendo a verdade! — Eu solucei incontrolavelmente
em minhas mãos.
Uma dor agonizante ardeu através de meu corpo quando seu pé
empurrado em minha barriga arredondada e eu perdi a respiração em
um ofego agudo.
— Aiiiiii! — Eu gritei de dor quando minha respiração voltou.
Minhas pernas subiram na posição fetal novamente, minhas mãos
agarraram meu estômago enquanto eu tentava me cobrir, para proteger
minha barriga de mais golpes. O vômito subiu na minha boca e eu não
consegui segurá-la. Deitado do meu lado, expulso o máximo que pude no
chão, vomitando em torno da minha bochecha. Eu engasguei, chorei e
engasguei, meus olhos fechados apertados enquanto eu estava ali
esperando que tudo fosse embora.
O som da porta batendo na parede era alto e assustador. O
estrondo de botas pesadas trovejando através da madeira debaixo de
mim me sacudiu para o meu núcleo amargo.
— Não, não, não! Javier, eu não fui! — Izel implorou, tentando
inutilmente se defender.
Abri os olhos para ver a garganta de Izel presa na mão de ferro de
Javier, seus pequenos pés de caramelo levantados do chão.
— VOCÊ NUNCA TOQUE NELA! — Javier rugiu em espanhol, seu
rosto apenas a um centímetro do dela quando ela sufocou em seu aperto.
— EU FODIDAMENTE A MATAREI, IZEL!
Javier bateu seu corpo contorcendo tão forte contra a parede que o
grande espelho a vários metros de distância rachou em três lugares, caiu
dos ganchos de plástico e estilhaçou o chão em mil pedaços. Quando o
brilho de fragmentos reflexivos surgiu em minha visão, cobri meus olhos
e cabeça novamente com minhas mãos para me proteger.
Izel gritou então como se alguém estivesse cortando sua mão. Eu
assisti com horror — e repugnante alívio — como o punho de Javier
desceu uma e outra vez no rosto de sua irmã até que ele bateu
inconsciente e sangue cobriu tudo o que havia reconhecido.
Deixou cair seu corpo coxo contra o chão e ele se aproximou de mim,
me pegando nos braços grandes.
— Trate de Izel! — Ele grunhiu para os homens que se destacavam
no corredor enquanto ele me levava para fora.
Os homens se apressaram dentro da sala.
Eu só me sentia segura nos braços de Javier. Eu odiava quando ele
me deixava lá, no complexo, cercado por dezenas de homens com fome
sexual que carregavam armas nas costas e o mal em seus corações. E
Izel, quem todos os dias a desejava que eu estivesse morta.
Javier me levou para fora do edifício de telhado plano, onde muitas
das meninas eram mantidas, e ele me levou para a casa onde eu fiquei
com ele o tempo todo que ele estava lá, a casa que eu deveria ser deixado
sozinha para viver até mesmo quando ele se foi, e não colocada com as
outras meninas onde as condições seriam consideradas deploráveis.
Porque esta casa era a minha casa. Era a minha casa com Javier.
Eu não escolhi. Eu não morava com ele de boa vontade. Mas com o
tempo, eu comecei a aceitá-lo.
Eu não falei quando ele me levou para dentro. Eu apenas chorei,
meu rosto pressionado no tecido de sua camisa, os pequenos botões
pretos que a mantinham fechada sobre seu peito maciço fazendo recuos
na minha bochecha. Eu agarrei o colar de sua camisa com meus dedos
mais apertados quando a dor disparou através de minha parte traseira
mais baixa.
— Quanto tempo ela fez isso com você, Sarai? — Ele perguntou
enquanto me levava para o banheiro.
Cuidadosamente, ele me levantou, colocando meus pés descalços
gentilmente contra o chão de madeira, e ele deslizou o vestido sobre
minha cabeça.
— Você fede de sujeira — ele disse, não com reprimenda, mas com
raiva de Izel por me permitir ficar desta maneira. — Olhe para você, por
quanto tempo? — Suas mãos gigantes caíram sobre meus frágeis bíceps
e ele olhou para o meu rosto sujo e manchado de lágrimas, com seus
olhos castanhos escuros. — Diga-me, Sarai. Não minta para mim.
Eu não disse nada. Continuei a chorar, abaixando a cabeça para
olhar para o chão. Gotas de sangue caíam dos meus lábios e salpicavam
o chão ao redor de meus pés. Minha cabeça latejava e minhas gengivas
estavam doloridas e eu temia que meus dentes da frente estivessem
soltos.
A torneira rangeu ruidosamente enquanto ele ligava a água no
banho. A água jorrava da abertura quando Javier dobrou sua altura de
um metro e oitenta e sete sobre a banheira e obstruiu o fundo com um
trapo.
Ele me ajudou na banheira; além da dor infligida por Izel, minha
barriga grande tornava difícil fazer por minha própria conta.
— Deite-se, minha querida — disse ele, colocando uma mão na
nuca para me ajudar.
Ainda assim, eu não disse nada. Eu deixei minha cabeça cair para
um lado e eu olhei para fora na parede, coberta por papel de parede
verde sujo descascando nas pontas, quando Javier lavou-me com o
cuidado extremo. Ele sempre foi cuidadoso comigo quando eu estava
doente, ferida ou grávida. Mesmo se absteve de sexo áspero comigo
nestes tempos, estabelecendo-se para momentos mais seguros, mais
macios. Mas ele sempre estava no controle de mim. Sempre.
Ele fechou a água.
Outro tiro de dor correu pelas minhas costas e em torno da minha
frente, cavando no inferior da minha barriga. Uma das minhas mãos
saiu da água e agarrou o lado da banheira. Javier deixou o pano cair na
água entre minhas pernas e ele me segurou pelo braço. Seus olhos
escuros se enfiaram nos meus com preocupação enquanto ele olhava
para mim e para o meu estômago, sabendo que algo estava errado.
— Eu estou bem — eu disse a ele e deitei minha cabeça no seu
braço, logo abaixo de onde ele enrolou sua manga preta para poder me
banhar.
Relutantemente, ele pegou o pano de lavar roupa de volta e
começou a limpar o equivalente de semanas de sujeira de minhas
pernas. Ele não devia estar de volta por mais alguns dias. Voltando tão
cedo e inesperadamente, não deu a Izel tempo suficiente para me limpar
e voltar à maneira que ele me deixou. Ela nunca teria me batido perto de
quando ele iria voltar. Ela sempre se asseguraria de que a evidência
tivesse desaparecido, ou repassava comigo qualquer uma das cem
mentiras que lhe disséssemos durante os poucos anos que eu tinha
estado no complexo. Izel sabia que eu não diria a Javier o que ela fez
comigo.
— Sarai? — Ele disse em uma voz reconfortante, profunda.
A água gotejava do pano lentamente na banheira.
Olhei para ele.
— Você está protegendo-os — disse ele em espanhol e depois
continuou em um inglês quebrado, ele sempre recorreu ao inglês quando
se sentia culpado ou simpático. — Eu sei que é assim que você protege
Izel. Mas não há nada que você possa fazer por essas garotas. Elas
serão vendidas. Você nunca as verá novamente. E eles não se importam
com você. Eles fazem o que precisam para viver. Muito facilmente de
quebrar. Você vê o que eu digo para você? — O calor do pano molhado
foi cuidadosamente sobre a minha boca e bochecha, e então ele enxugou
minha testa, parou e olhou nos meus olhos.
— Diga-me — ele continuou em inglês, — quanto tempo Izel faz isso
com você?
Eu balancei a cabeça num movimento nervoso; lágrimas
começaram a encher meus olhos novamente. Eu não queria dizer a ele.
Eu não poderia, porque se eu alguma vez a atropelasse, as coisas que
Javier faria com ela seriam piores do que a morte, e então ela descontaria
nas outras garotas. Javier não protegia as outras garotas como me
protegia. A maioria deles estavam em branco. Mas as mais belas,
aquelas destinadas a serem vendidos para os mais altos concorrentes,
nem mesmo Izel iria ferir ou desfigurar, porque ela compartilhava os
lucros que traziam. Mas, as outras garotas, aquelas que ninguém tinha
comprado, aquelas que tinham falhas físicas ou que não sucumbiam a
seus novos papéis de escravos, eram um jogo justo. E Izel era um jogador
sujo.
Mais dor estourou em meu corpo, desta vez causada que o meu
pescoço saísse pela borda na parte de trás da banheira e meus braços
desmoronam em torno da minha barriga. Meus olhos se fecharam, meus
dentes desnudos, e eu gritei em agonia, ainda saboreando o sangue na
parte de trás da minha garganta da batida anterior.
Javier ergueu-se em posição de pé imediatamente e foi até a porta,
balançando-a aberta e chamando em espanhol para seus homens em
guarda:
— Pegue o médico! Apúrate!
Eu dobrei, meu corpo superior saindo da água, meus braços
agarrando meu estômago. Eu gritei no pequeno espaço.
— Javier! Dói muito! Javi.
Minutos depois que eu senti como horas, eu estava sendo levado
para fora do banheiro e em nosso quarto. Javier colocou-me sobre a
nossa cama. Cinco mulheres entraram no quarto — as mesmas que me
entregaram o meu bebê nascido morto a 13 meses antes — com toalhas
limpas, água e outros suprimentos esterilizados.
Javier afastou-se da cama e foi em direção à porta.
Estendi as mãos para ele.
— Javier, por favor... não me deixe aqui sozinha. — As lágrimas
escorriam pelas minhas bochechas, lágrimas não tanto da dor física
agora como da dor emocional de saber que ele iria embora. — Por favor…
Ele olhou através do quarto para mim através de piscinas marrons,
quase pretas; seus cabelos castanhos escuros e seu rosto bonito e cinza,
movendo-se para dentro e para fora da minha visão enquanto as
pessoas se moviam pela sala, se preparando apressadamente para
entregar meu bebê. O bebê de Javier.
E então ele se foi.
Olhei para aquela porta — irritada, triste e solitária — o máximo
que pude, até que uma outra contração veio e me obrigou a me concentrar
apenas na dor que me matava de dentro para fora.
Meia hora depois, eu dei à luz, mas um menino ou uma menina, eu
não sabia.
Eu estendi as mãos para ele depois que eles o tinham limpado e
embrulhado em um cobertor. Seus pequenos gritos enchiam a sala, meus
ouvidos e meu coração. A enfermeira apenas olhou para mim com meu
bebê em seus braços, seu rosto castanho, resistido, emoldurado por
cabelos negros encaracolados e olhos negros, não tinha absolutamente
nenhuma emoção.
— Por favor... deixe-me ter meu bebê.
A mulher virou as costas para mim e levou-o embora enquanto o
médico ia me costurar.
— Javier! — Eu gritei. Eu gritei seu nome tão alto, repetidamente
até que eu estava rouca. — Javier! Por favor! Por favor! — Lágrimas
saem disparadas meus olhos. — Mi bebé... — eu gritei suavemente
apenas antes de eu desmaiar de exaustão.

Nora olha para mim do outro lado da mesa, seus olhos castanho-
caramelo parecendo cheios de algo que eu nunca esperei, tristeza e
choque, talvez.
Sinto tanta vergonha que nem consigo olhar para a câmera
escondida no respiradouro. Meu estômago se contorce de preocupação
e culpa, só me pergunto o que Victor deve estar pensando em mim
agora.
Nora diz com uma voz suave e intencional:
— Isso deve ter sido muito difícil para você.
Eu não a honro com uma resposta. Eu odeio a cadela por me
forçar a experimentar tudo de novo.
— Quantos? — Nora pergunta calmamente.
Relutantemente, eu respondo.
— Essa foi a única que já viveu — digo. — Eu perdi um e, como
já disse, tive um nascido morto.
— Mas, você estava com ele por tanto tempo.
— Sim — eu estalo. — Eu estive. E daí.
Nora luta para encontrar as palavras certas para formar suas
perguntas.
— O que você fez o resto do tempo? — Ela pergunta.
Eu sorrio para ela com frieza, apenas desejando que ela deixasse
cair essas malditas perguntas e deixasse a minha vez acabar.
— E por que ele não iria deixá-lo ficar com o bebê? Seu bebê? —
Ela parece mortificado debaixo daquela pele cremosa, mas está
tentando manter o seu lugar dominante entre nós por não mostrar
muita emoção.
A minha única pergunta é: por que ela parece se importar em
tudo?
— Javier não queria crianças correndo pelo complexo — eu digo.
— Muitas das meninas engravidaram enquanto estavam lá. Os bebês
eram vendidos, como as meninas, embora fossem para famílias com
dinheiro que não pudessem ter filhos próprios e não quisessem passar
os anos esperando por sua chance de adotar. — Eu olho para a parede,
lembrando-me daquele dia em que vi meu bebê sendo levado para fora
daquele quarto. — Javier disse que no nosso modo de vida não havia
espaço para as crianças. Nem mesmo o seu próprio. Eu queria acreditar
que ele se assegurou de que nosso bebê fosse vendido para uma família
amorosa, a melhor família, mas, em meu coração e porque ele era um
homem tão cruel, como ele era amoroso às vezes comigo, eu nunca
poderia me convencer disso. Depois desse nascimento, eu não disse a
ele mais nada. Eu o esbofeteei mesmo. Eu gritei em seu rosto e eu não
me importei o que ele faria comigo como castigo. Mas eu não estava
tendo mais.
Eu paro, meu olhar duro e focado, lembrando aquele dia.
— O que ele fez como punição?
Olho para Nora, movendo apenas os olhos.
— Nada — eu digo. — Certa vez, Javier me amou. Ele nunca iria
me machucar. Isso foi durante esse tempo. Em vez disso, ele me enviou
a um bom médico e recebi pílulas anticoncepcionais e ele fez com que
eu nunca estivesse sem elas. Ele nunca usou preservativos, mas ele
começou a puxar para fora de mim. Nem sempre, mas às vezes. Tive
sorte de nunca engravidar novamente. Mas as outras meninas, elas
continuaram a dar à luz. Fábricas de bebê.
— Eram os bebês de Javier?
Eu balanço a cabeça.
— Não — pelo menos eu não penso assim. As meninas foram
violadas pelos guardas de Javier; algumas tiveram sexo com eles de
bom grado. Eu comecei a dar secretamente algumas para as meninas,
algumas que estavam mais perto de mim, minhas pílulas
anticoncepcionais. Eu tinha tantos delas que eu poderia poupar para
ajudar algumas por um tempo. Até que Izel descobriu o que eu estava
fazendo e ela começou a roubar minhas pílulas, deixando o suficiente
para eu passar todos os meses, e não havia nada que eu pudesse fazer.
— O que aconteceu com Izel?
As imagens do meu passado escuro desaparecem de minha mente
e eu olho para Nora.
— Eu disse que você queria que você quisesse ouvir — eu digo
com veneno em minha voz. — O que você é agora, meu maldito
psiquiatra?
Ela balança a cabeça e se inclina para longe da mesa, deixando
cair as mãos desassossegadas em seu colo.
As pernas da minha cadeira gritam no chão enquanto me levanto,
empurrando para trás de mim com raiva.
— Acho que terminamos aqui — digo, rosnando para ela. Empurro
as palmas das mãos contra a mesa e inclino-me para ela com um olhar
ameaçador. — Melhor que Dina esteja segura quando isso acabar, ou
você pode apostar seu traseiro que eu farei as coisas para você que
Javier fez para Izel mais tarde naquele dia depois que ele a encontrou
batendo em mim. E então você vai querer que eu te mate.
Minhas mãos deslizam para longe da mesa enquanto eu ergo ereto
e me afasto. Nora permanece sentada. Quando eu chego mais perto da
porta, só então eu mesma olho para a câmera escondida nas
proximidades, indicando que eles podem desbloqueá-la agora a sala de
vigilância. Abaixo os olhos rapidamente quando ouço o fechamento
clicando dentro do aço.
— Izabel — grita Nora.
Paro e me viro para olhar para ela.
— Se isso significa alguma coisa, eu realmente sinto muito por ter
que fazer você reviver isso.
— Não — Eu rejeito seu pedido de desculpas.
Então eu abro a porta, o cheiro de lixívia e limpador de limão de
um chão recentemente esfregado, se levanta em meu nariz.
— A resposta à sua pergunta, — Nora chama antes de eu entrar
no corredor, — é sim. Meu pai cortou a ponta do meu dedo.
Depois de uma breve pausa, deixo-a ali sem mais uma palavra e
fecho a porta atrás de mim.
CapÍtulo sETE
Victor

Eu saio para encontrar Izabel no corredor quando ela faz seu


caminho de volta; ouvindo o som de suas botas batendo contra o chão
quando ela se aproxima. Ela vira a esquina no final do corredor, mas
ela não vai olhar para mim, embora eu sei que ela esteja ciente da
minha presença. Seu longo cabelo castanho-avermelhado está
desgrenhado da luta, afastado de seus ombros elegantes e deitado de
costas. Há um corte em sua perna esquerda, logo acima da parte
superior de sua bota, e listras vermelhas que poderiam ser restos das
unhas de Nora, correndo ao longo de suas coxas nuas. Mas não importa
o que Nora fez com ela fisicamente, eu sei, apenas olhando para ela,
que o que ela fez com ela emocionalmente foi muito pior.
Tenho mais do que um desejo de entrar naquele quarto e matar
essa mulher, mas por amor de Izabel, pela vida de Dina Gregory, não
posso.
— Izabel — eu digo quando ela se aproxima de mim, mas ela olha
nos meus olhos e rouba o resto das minhas palavras.
— Eu sinto muito, Victor. — Ela começa a passar por mim, longe
da porta para a sala de vigilância.
Estendo a mão com cuidado e enrolo a mão em seu cotovelo.
— Eu desliguei o áudio — eu digo. — Ninguém ouviu o que você
confessou além de Nora.
Leva um momento, mas finalmente ela se vira para olhar para
mim, algo indecifrável em repouso em seus brilhantes olhos verdes.
Não é alívio, como eu esperaria, mas algo mais — arrependimento,
talvez?
Movendo-se para ficar em frente a ela, eu coloquei minha mão
para cima e a descanso contra o lado do seu rosto. Ela fecha os olhos
momentaneamente, como se ela encontrasse conforto no gesto, seus
longos cílios escuros varrendo seu rosto.
— Você não ouviu nada? — Ela pergunta com fraca descrença.
Eu balanço a cabeça.
— Não — digo e encosto ambas as mãos sobre os cotovelos. — Eu
pedi o áudio desligado no momento em que eu vi que ela tinha você
onde ela queria você. Você foi esperta quando entrou, Izabel; você fez
bem em virar as mesas sobre ela. Pode não ter produzido os resultados
que você esperava, mas você fez bem.
Izabel olha para trás na parede por um momento, e então diz:
— Estou surpresa que você não tenha se apressado lá quando ela
me atacou — mas eu tenho a sensação de que havia sido algo
completamente diferente do que ela queria dizer.
Eu sorrio levemente e corro minhas mãos para cima e para baixo
pelas costas de seus braços.
— Não, você estava certa antes — eu digo, — sobre cuidar de si
mesma — eu rio baixo com a minha respiração — Dorian e Niklas, no
entanto, estavam prontos para ir lá e salvá-la.
Ela olha para mim, suas sobrancelhas amassadas em sua testa.
— Niklas estava indo para me salvar? — Ela zomba. — Tenho
certeza de que foi só para mostrar.
— Eu não penso assim — eu digo a ela, mas largue esse assunto
porque não é o importante.
Aproximando-a e puxando-a para mais perto, eu pressiono meus
lábios em sua testa.
— Tudo o que você disse a ela lá dentro — eu digo, voltando, —
você não tem para mim, ou qualquer outra pessoa, dizer até que esteja
pronta. E se você nunca estiver pronta, posso aceitar isso, também. O
passado pode permanecer no passado.
Seu olhar se desvia para o chão.
— Às vezes não pode — ela diz mais para si mesma do que para
mim.
Seus olhos se encontram com os meus novamente e o momento
muda.
— Mas eu consegui algo dela — diz ela. — Nenhuma ideia se ela
estava dizendo a verdade sobre isso, mas se eu me guiar pelos meus
instintos, eu diria que ela estava.
James Woodard aparece no final do corredor de repente, andando
em nossa direção com uma folha de papel entrelaçada em sua mão.
Espero que seja notícia promissora.
— O que ela te disse? — Eu pergunto, voltando para Izabel.
A porta da sala de vigilância se abre e Niklas aparece na porta.
— Ela está falando merda lá agora — ele anuncia, empurrando a
cabeça para um lado para indicar Nora nas telas. — Mais exigências.
Eu digo que só vamos lá e colocamos uma bala naquela bonita cabeça
dela. Ou melhor ainda, tire suas joelheiras primeiro.
Niklas olha para Izabel, tomando nota do seu estado, mas ele se
abstém de ser ele mesmo com ela, mais provando para mim que ele
cuida dela mais do que ele está se atrevendo.
Olho para Woodard.
Ele sacode a cabeça.
— Nada — ele diz, segurando a cópia impressa e eu a pego na
minha mão olhando para o texto. — Não há registros. Nenhum
resultado de impressão digital, os resultados de sangue não saberemos
até amanhã. Eu corri seu primeiro nome e descrição através de minhas
bases de dados e a única coisa que veio, até remotamente se
assemelhando a ela, era uma mulher de Tallahassee. Vinte e seis. Nora
Anders. E algumas outras, mas nenhuma delas era ela. Quer dizer, nós
realmente não esperávamos que ela nos desse seu nome verdadeiro.
— Então estamos bem no nível um — diz Dorian, — enquanto ela
está no nível dez e sabe mais sobre nós do que sabemos um do outro.
Eu odeio dizer isso, mas isso é um pouco perturbador considerando
nossa profissão. Como pode uma mulher saber tanto sobre nós, quando
Vonnegut, que dirige a maior e mais sofisticada organização de
assassinato e espionagem no mundo, não pode mesmo nos encontrar
se escondendo na vista em Boston?
— Há uma de duas respostas a essa pergunta — digo. — Ou ela
não é apenas “uma mulher” e faz parte de uma organização, ou ela é
realmente boa e está nos jogando como peças de xadrez.
Eu sou geralmente bom em figurar uma pessoa de fora. Foi meu
trabalho desde que fui iniciado pela primeira vez na Ordem como um
menino para conhecer meu inimigo dentro e fora antes que eles saibam
que eu até existo. Meu intestino me diz que essa mulher não faz parte
de nenhuma organização — pelo menos não mais. Sua habilidade
indica que ela pode ter sido ao mesmo tempo, mas este jogo que ela
está jogando é pessoal, em vez de profissional.
Se Izabel não estivesse envolvida, as coisas estariam indo muito
diferente para esta “Nora” do que eles estão. Só vou acompanhá-la por
Izabel. Eu não gosto, mas é o que é. Eu vou jogar o seu jogo por agora,
mas não para sempre.
Izabel passa por mim e Niklas e entra no quarto. Woodard e eu
seguimos.
— Bem, talvez não saibamos quem ela é ou qualquer coisa dela —
diz Izabel, cruzando os braços e olhando para a grande tela, — mas ela
me disse que seu pai foi quem cortou a ponta do dedo mindinho.
Nora está sentada no mesmo lugar, agora com os pés apoiados na
mesa, cruzada nos tornozelos, os calcanhares pretos balançando de
um lado para o outro, as longas pernas como tiras de pouso esticadas
diante dela vestidas de couro preto.
— Não é muito, mas é algo — acrescenta Izabel.
— Então ela tem problemas com o papai — Dorian soa, sentado
na frente das telas com uma bota sobre a mesa. Um copo de papel de
café apoiado à esquerda; o vapor sobe da abertura.
— Talvez ela seja uma de suas filhas, Woodard — diz Niklas com
uma risada em sua voz. Então, ele bate Woodard no braço com o dorso
de sua mão, um sorriso escorregando em seu rosto sem barba. —
Maldição, eu não sabia que você era um homem de senhoras.
Woodard começa a sorrir, sempre buscando a aceitação do resto
de nós, mas se transforma em um olhar de vergonha em vez disso. Ele
balança a cabeça e se senta em uma cadeira na frente das telas.
— Bem, eu estava pensando a mesma coisa no momento em que
deixei aquele quarto — diz Woodard. — Então, enviei minha amostra
de sangue juntamente com a dela com Carter. Se ela for minha parente,
saberemos em vinte e quatro horas.
— Isso está se aproximando — diz Dorian. — Ela nos deu
quarenta e oito horas para descobrir isso. — Sua cabeça loira se
encaixa e olha para mim da cadeira. — Tessa não morrerá.
Eu aceno, mas não digo nada em resposta.
— Eu acho que todos nós devemos comparar amostras de sangue
com o dela — diz Woodard.
— Tudo bem por mim — Niklas diz com um encolher de ombros.
— Eu sei por um fato que eu não tenho filhos malditos. Além disso,
mesmo se eu pudesse ter filhos, ela não pode ter mais de vinte e quatro,
vinte e cinco anos? Não pode ser meu. Eu tive que sido batendo sua
mãe em, o que, treze anos?
— Você não estava fazendo sexo às treze? — Pergunta Woodard.
As sobrancelhas de Niklas se aproximam.
— Na verdade, não — ele diz com naturalidade. — Eu estava muito
ocupado sendo batido perto da morte por meu pai e pela Ordem
enquanto eu estava sendo treinado.
Silêncio cai sobre a sala por um breve momento.
Em seguida, Niklas ri e diz para Woodard.
— Então você estava ficando estabelecido aos treze anos? O que
diabos aconteceu com você? — Ele ri e olha o tamanho grande de
Woodard e cabeça calva com diversão.
- A idade me aconteceu.
Sua falta de foco na situação atual é irritante.
— Olha — eu falo, — se ela não for filha de Woodard, ela poderia
ser a irmã de alguém. Vamos ver o que o sangue diz. Não adianta
especular.
Dorian acena com a cabeça para mim em particular, agradecendo-
me por fazê-lo avançar, e ele volta às telas.
— Havia algo mais — fala Izabel. — Quando eu disse a ela o que
ela queria saber, ela parecia... — ela faz uma pausa, procurando a
palavra certa, — Eu não sei, só parecia que ela se sentia mal. Mas eu
sei que é besteira.
— Sim, é besteira tudo bem — Niklas diz — exatamente como eu
disse. Podemos não saber nada sobre ela, exceto que ela é linda e
fodível, tem um ganho de direito perigoso e uma boca pior do que a de
Izzy, mas não deixe a cadela ficar sob sua pele. — Ele olha para
Woodard e depois Izabel com acusação. — Vocês dois desistiram de
seus segredos com muita facilidade, se quiserem saber minha opinião.
— Ninguém a pediu — diz Izabel azedamente.
— Ei, ela sabia sobre meus negócios — Woodard diz
defensivamente.
— Na verdade, ela não sabia nada até que você disse a ela — diz
Niklas. — Você estava derramando suas tripas dentro de cinco minutos
que ficou sozinha com ela.
— H-Hey, eu estava apenas fazendo o que ela queria. As vidas de
minhas filhas estão em jogo. Não vi nenhum r-razão p-para arrastá-lo
para fora.
— Você ainda cedeu muito rápido — Niklas diz e olha para as
telas. — Mil dólares que ela não sabe nada. Ela é uma estafadora.
— Na verdade, Niklas — diz Izabel, virando a cabeça em um
ângulo e olhando para ele, — ela sabe muito.
Eu escuto calmamente, observando a dor rastejar de volta para
as características de Izabel enquanto ela recorda seu momento com
Nora. Eu quero saber o que ela disse a ela, o que é esse segredo sobre
a mulher que eu amo, que é tão terrível que ela tem que manter isso de
mim.
— Eu fui naquele quarto com as mesmas suspeitas que você,
Niklas, — ela continua. — Eu não ia contar nada a ela até que ela
pudesse provar que ela tinha alguma coisa sobre mim. Se ela não
pudesse, eu ia fazer algo. Jogá-la em seu próprio jogo. Eu sou uma atriz
boa o suficiente, eu poderia ter tirado isso. Começar a chorar e fazê-la
acreditar que o “profundo e escuro” segredo que eu confessava era real.
— Ela faz uma pausa e olha para Nora na tela. Seus ombros se erguem
e caem com uma respiração perturbada. — Mas ela sabia. Ela sabia...
A sala cai em silêncio novamente.
Finalmente, Niklas levanta as mãos, entregando-se, e diz:
— Vou entrar em seguida, então. Porque eu ainda chamo de
besteira. E se não, se ela realmente é o negócio real, então é melhor
que nos asseguremos malditamente bem que ela não sai deste edifício
viva.
Silenciosamente, eu concordo.
Ele põe um cigarro entre os lábios e caminha em direção à saída.
— Mas ela não vai conseguir nada de mim porque não há nada
para começar. Então isso deve ser interessante.
Sim. Isso deve ser interessante.
A porta se abre, inundando a iluminada sala de vigilância com luz
brilhante do corredor.
— E deixe o áudio — Niklas diz com o cigarro apagado pendendo
de seus lábios. — Eu não tenho nada a esconder. Como alguns de nós.
— A luz brilhante pisca e banha-nos com o brilho das telas novamente
quando a porta se fecha atrás dele.
Os olhos de Izabel me olham, picado pelo significado por trás das
palavras de meu irmão, e então ela nervosamente volta para a tela.
CapÍtulo OITO
Niklas

Meu cigarro está aceso no momento que eu entro no quarto com


Nora, quem quer que a foda seja — agora é só um traseiro bonito com
um desejo de morte.
O som de minhas botas batendo em todo azulejo é o único som
enquanto eu faço meu caminho em direção a ela, mas esse sorriso auto
possuído que ela usa está mais alto. Cabelo loiro sedoso repousa sobre
seus ombros, caindo para baixo como pequenas fendas entre seus
braços e seus seios, que são agradáveis de olhar, eu admito. Ela usa
uma blusa de seda preta transparente, de mangas compridas, com um
sutiã preto em exibição embaixo, usando um... Eu não sei, um grande
C sem dúvida. Eu não dou a mínima para o que Izabel disse sobre os
homens e o que eles gostam em uma mulher e o que ela diz sobre eles
— eu não tenho uma preferência; eu gosto de tudo, então eu só posso
imaginar o que deve dizer sobre mim.
Fumaça flui dos meus lábios enquanto eu me sento na cadeira
vazia em frente a ela. Eu passo adiante com minhas pernas separadas,
apoiando meus cotovelos no topo de minhas coxas apenas acima dos
meus joelhos. Cinzas do cigarro caem no chão quando eu percebo que
não há cinzeiro no quarto.
Nora sorri, e embora seu batom vermelho profundo tenha esteja
borrado, seus lábios gordos ainda estão vermelhos e eu posso imaginar
envolvidos em torno do meu pau completamente agradável.
Eu sorrio de volta com esse pensamento e levanto o filtro para
meus lábios mais uma vez.
— Pensei que Dorian Flynn seria o próximo — ela diz enquanto
me olha calmamente. — Desde que eu tenho sua ex-mulher e tudo.
— Eu insisti.
— Isso me surpreende — diz ela.
Pego outro trago e me inclino de volta na cadeira, encostando-me
na cadeira. Eu cruzo meus braços sobre meu peito, o cigarro ainda
queimando entre meus dedos situados sobre meu bíceps esquerdo.
— E por que isso? — Eu pergunto, mas realmente não me importo.
Nora levanta-se em suas altas pernas cobertas de couro e sapatos
de salto preto e começa a caminhar de um lado para o outro lentamente
atrás de sua cadeira. Sua bunda é redonda e perfeita nessas calças
apertadas, e me leva um segundo para sacudir a distração e perceber
que seus tornozelos não estão mais presos.
— A melhor pergunta seria o que você usou para deixar as
algemas destrancadas? Tem uma chave escondida dentro de você em
algum lugar? — Eu faço outro sopro rápido — Eu poderia fazer uma
pesquisa de cavidade. Aqui mesmo, com todo mundo assistindo.
Ela sorri ligeiramente e olha para a parede por um momento.
— E você provavelmente apreciaria isto — ela diz, — verdade? —
Seus olhos caem sobre os meus, atados com implicação.
— Sim, eu não vou mentir, eu gostaria do inferno fora disso. —
Eu tomo um último trago e seguro a fumaça profunda em meus
pulmões, e adiciono com uma voz tensa, — mas não confunda isso
como se eu fosse algum ingênuo fodido que se apaixona facilmente para
sua merda. Eu poderia fodê-la o dia inteiro e ainda encadeá-la para
trás nesta sala e deixá-lo apodrecer. — Eu coloquei o cigarro na sola
da minha bota e atiro as cinzas no chão. — Agora sente o seu pequeno
traseiro antes de que eu a coloque lá. — Minha arma, sacada da parte
de trás da minha calça, está apontada para ela.
O sorriso em seus olhos se desvanece um pouco, o suficiente para
eu saber que eu a irritava. Mas ela se senta de qualquer maneira,
cruzando uma perna longa sobre a outra, esticando o couro preto ainda
mais apertado sobre suas coxas. Ela cruza os braços e descansa as
costas contra a cadeira, inclinando a cabeça suavemente para um lado.
A pele debaixo do olho esquerdo está inchada e descolorida. Há um
pequeno corte em seu pescoço logo acima de sua omoplata. Ela tem um
par de cicatrizes que eu não percebi antes — uma em seu queixo, outra
em sua garganta — mas a ponta ausente de seu dedo mindinho é o que
eu não posso evitar, mas olho. Provavelmente é sempre a única coisa
sobre ela que alguém olha quando eles não estão olhando para seu
traseiro, suas pernas ou seus peitos.
— Não comece com o dedo — diz ela, percebendo. — Izabel ganhou
de você na partida nisso e é um assunto velho.
Eu sorrio e digo:
— Ou, é um assunto delicado.
Nora dobra as mãos juntas em cima da mesa e se inclina para a
frente.
— O tempo está acabando, Niklas — diz ela, deixando cair os
sorrisos sugestivos e a atitude lúdica e começando a trabalhar. —
Então, e quanto a sua confissão?
Sorrio levemente, balançando a cabeça.
— Bem, claro, é para isso que vim aqui — respondo, minha voz
tingida de sarcasmo. — Mas, na maior parte, eu estou ansioso para ver
como você pretende me fazer confessar algo que não existe. Você vê, eu
não sou como Woodard, que sopra sua carga no segundo que a calcinha
caí. Ou Izabel, que ainda tem muito a aprender...
— É isso que você pensa dela? — Nora diz com uma pitada de
acusação. — Que ela é apenas uma menina, tentando fazer um nome
para si mesma neste mundo subterrâneo mortal que ela acaba de... —
seus olhos endurecem com ênfase — Não. Pertence. Totalmente.
Ela sorri e levanta um dedo esbelto.
— Ou há algo mais acontecendo?
Eu ri.
— Deixe-me pará-la aqui — eu digo, apontando para ela. — Se
você está ficando ao ponto de me acusar de estar apaixonado pela
mulher do meu irmão ou algo tão banal quanto isso, então você vai está
muito decepcionada. — Eu balancei a cabeça para o absurdo disso.
Nora apenas sentou-se lá, sorrindo para mim, e isso me deixa
desconfortável tanto quanto irrita a merda fora de mim.
— Não, claro que não — ela finalmente diz, também com
sarcasmo. — Eu não estou implicando isso absolutamente. Você atirou
nela uma vez. Você a despreza, certo? — Há um desafio em sua
pergunta. — E por quê?
— Eu não sei — eu digo, ficando mais irritado quanto mais ela
fala. — Você é, supostamente, a única que sabe tudo; por que você não
fodidamente me diz?
— Ciúmes — diz ela, — ou talvez a palavra mais apropriada seria
desgosto.
Eu sinto minhas sobrancelhas amassarem em minha testa. Eu a
alcanço distraidamente e acariciou a barba no meu rosto.
— Que porra você está falando? — Verdadeiramente, eu não tenho
nenhuma ideia fodida.
Os olhos de Nora se suavizam em mim por um momento,
causando mais confusão.
— Você está com ciúmes do seu irmão porque ele tem algo que
você não tem — ranjo os dentes por trás dos meus lábios selados —
porque ele tem algo que você já teve. E ainda mata você pensar nela até
hoje.
Movendo o meu queixo, minha respiração ficando mais grossa.
— Você está empurrando os botões errados, cadela.
— Oh, eu sei — diz ela de forma natural e sem medo, — mas então
esse é o ponto, não é?
Ambas as minhas mãos descem sobre a mesa, um grande
estrondo ressoando dentro do quarto.
— Por que você não chega ao ponto — eu rasgo as palavras,
esmagando minha mandíbula. — De fato, deixe-me soletrar isso para
você, eu não vou começar de bom grado a falar sobre a merda no meu
passado; eu não me importo com suas ameaças. E ainda não tenho
segredos. Merda que eu não gosto de falar, todos temos isso, mas
secretos, algo que eu deveria ter vergonha ou estar constrangido; não
há nada.
— Isso não é tudo sobre a vergonha, embaraço ou culpa, Niklas,
isto também é sobre a dor.
De repente, Nora não é mais a cadela loura conivente sentada em
cima da mesa; algo muda em seus olhos e eu não posso evitar, mas
sinto que ela está tentando ser... consoladora.
Mas eu não me apaixono por isso.
Eu me levanto, empurrando a cadeira para trás um pouco pelo
chão, e eu começo a andar. Minha raiva se transforma em um riso
suave.
— Você é uma Boa manipuladora — eu disse, sorrindo, — eu vou
te dar isso, mas eu sou o homem errado para tentar essa habilidade.
— Você a amava tanto — diz ela, me ignorando. — Um homem
que, por mais surpreendente que seja, teve mais dificuldade em se
apaixonar do que Fredrik Gustavsson. Fredrik, não, ele procurou o
amor em toda a sua vida. Ele queria isso porque ele estava sozinho em
seu próprio mundo escuro e brutal, e sempre foi, que o homem precisa
amar para sobreviver. — Ela se levanta e começa a andar na minha
direção lentamente. — Mas você, Niklas, você nunca quis ser qualquer
parte dela. Você ficou longe disso a todo custo, não foi?
— Você está perguntando? — Eu digo, meus olhos irritados
seguindo cada movimento dela. — É aqui que você pesca por
informações para usar contra mim, fingindo saber, mas realmente não
saber com certeza?
— Diga o que você quer — ela continua, — mas é a verdade e você
não está negando.
Talvez eu devesse ter negado de imediato, porque agora — foda;
ela sabe o que está fazendo.
— Sente-se, — eu digo a ela, apontando minha arma para ela
novamente.
— Oh, Niklas, — ela diz com um suspiro. — Eu posso dizer que
você não vai ser tão fácil de convencer.
Eu ando na sua direção, a arma apontada para sua cabeça, mas
ela permanece firme. Eu engulo um nó irritado, mas mais três o
substituí.
— Sentar. Merda. Para. Baixo. — Eu pressiono o cano da minha
arma contra sua testa, empurrando-a para trás em direção à mesa.
Sua bunda pressiona contra a borda do metal e ela não pode ir mais
longe. Consumida pela raiva, eu fecho o espaço entre nós e pressiono
meu corpo contra o dela, movendo o cano da arma debaixo de seu
queixo, empurrando seu pescoço para trás.
— Você não vai atirar em mim — diz ela e eu posso sentir sua
respiração em meu rosto. — E você vai me dizer o que eu quero ouvir
antes de sair desta sala.
Enfiei a arma em sua garganta, forçando sua cabeça para trás
ainda mais. Meu sangue está queimando, bombeando através de
minhas veias como o ácido. Meu dente dói; estive rangendo-os nos
últimos minutos intensos.
Inclino a arma, o meu dedo no gatilho.
— Dina Gregory vai morrer se você não cooperar.
— Eu não dou a mínima...
— Sim você dá — ela diz, cortando-me. — Você dá a mínima,
porque você se preocupa com Izabel. E porque você se importa com o
seu irmão, apesar dele estar com a mulher que ele ama e você fica sem
nada.
— Quem é você, realmente? — Eu pergunto, olhando em seus
aspectos aparentemente imperturbável.
— Não mude de assunto.
Minhas mãos se aproximam e apertam seus ombros,
empurrando-a para longe da mesa e empurrando-a violentamente
contra a parede mais próxima. Seu cabelo loiro cai em torno do seu
rosto. Ela se rende a mim, erguendo os dois braços ao lado dela,
pressionada contra o tijolo pintado. Seus olhos buscam os meus
próximos, e os meus buscam os dela; um estranho sentimento de
familiaridade neles.
Eu a sacudo e penso em Izabel por um momento, e então o ato
que tenho vindo a fazer desde que ela oficialmente se tornou uma parte
da nossa organização desaparece e me deixa de pé em uma poça de
verdade.
— Então, o que se eu me importo — eu digo friamente, meu rosto
a meros centímetros do dela. — Ela cresceu em mim; o que posso dizer?
Ela me odeia porque eu tentei matá-la, mas eu realmente não posso
culpá-la por isso, posso? — Eu pauso, inalando o seu cheiro natural,
não porque eu a quero, mas porque nós somos todos os animais fodidos
por dentro e... bem, eu quero ela, só para provar que ela não é a única
no controle aqui. Eu quero fodê-la e depois quero deixá-la, nua, e
dobrada sobre a mesa, só por ser uma cadela como tal.
— O que você quer saber? — Eu pergunto, e então eu a empurro
e passo. Ouço a parte de trás da sua cabeça bater suavemente na
parede. — Isso é estúpido. Não tenho segredos, como eu disse. Mas o
que quer que você esteja querendo que eu “confesse” só fodidamente
diga isso. Você não pode me forçar a confessar algo que não tenho ideia
do que é.
— Eu quero que você olhe para aquela câmera — Nora diz em uma
voz gentil, intencional, — e diga o quanto Claire significou para você.
— Meu corpo inteiro endurece ouvindo o nome de Claire sair da boca
de Nora. — Conte a eles sobre o dia em que a perdeu. E eu quero ouvir
as palavras do seu coração, não apenas seus lábios. Coloque o idiota
teimoso, sem amor, de lado por um momento para contar a eles sobre
Claire. O verdadeiro Niklas Fleischer é a sua confissão.
Sua garganta está na minha mão antes que eu saiba o que estou
fazendo; minha arma desaparece atrás da cintura da minha calça.
Inundado pela raiva, levanto Nora de seus pés e a carrego a curta
distância de volta para a mesa, batendo suas costas contra ela.
— Eu vou te matar! — Eu rujo para o seu rosto, minha mão entrou
em colapso em torno de sua garganta.
— Faça-o! — Ela desafia; lutando para encontrar toda a sua voz.
— Me mate! Faça isso, Niklas! FAÇA!
A respiração em meus pulmões é tão pesada quanto cimento;
meus olhos arregalados e ferozes enquanto eu olho para baixo em seu
rosto rosa e sombreado de roxo. Ambas as mãos lutam para erguer os
dedos; suas longas pernas estão enroladas ao redor da minha cintura,
apertando ao redor de mim como uma jiboia, mas para nada. Porque
eu não posso ser agitado neste momento. Ela poderia tomar minha
arma na parte de trás da minha calça e enfiá-lo debaixo do meu queixo
e eu não dou a mínima - eu vou sufocá-la até a morte antes que ela
chegasse a tempo para me matar.
Finalmente, pouco antes dela perder a consciência, eu solto sua
garganta e grito algo indecifrável dentro da sala; cada parte de mim
consumida pela raiva e pelo ódio.
Ela engasga e engasga, lutando para encher seus pulmões de ar
novamente, suas pernas penduradas precariamente sobre o lado da
mesa.
Percorro o chão, de um lado para o outro, em uma marcha
enfurecida, os meus olhos olhando para baixo para as marcas de
arranhões no azulejo, para cima nas paredes nuas — qualquer coisa
menos Nora, ou as câmeras escondidas na sala com os olhos do outro
lado delas procurando por mim com seus julgamentos e suposições.
Mas o único rosto que vejo, a única pessoa em que posso pensar
é Claire. Eu tentei durante seis anos colocá-la para fora da minha
mente, seis malditos anos, só para ter esta menina balançando o rosto
de Claire, e sua morte, na minha frente, me torturando.
— Niklas — ouço Nora dizer suavemente atrás, mas o resto do que
ela poderia estar prestes a dizer desaparece no silêncio do quarto.
Eu giro em torno de meus calcanhares e marcho de volta para ela.
Ela se encolhe, mas apenas ligeiramente, não o suficiente para fazê-la
parecer com medo. Eu agarro o encosto da cadeira em que eu estava
sentado e deslizo-o para fora antes de deixar cair todo o meu peso sobre
ela.
Nora apenas olha para mim por um momento, ainda deitada
parcialmente sobre a mesa, mas finalmente seu corpo escorrega e ela
fica de pé, ajustando sua blusa de seda.
Aponto para a cadeira.
— Sente-se.
Ela faz sem discussão, e é uma coisa boa porque neste momento
eu poderia ir para qualquer direção até as mínimas, contar-lhe sobre
sobre Claire, ou soprar seu cérebro contra a parede.
Puxo um maço de cigarros do bolso traseiro e os atiro sobre a
mesa.
Não olho diretamente para qualquer câmera, fodida, pelo o que eu
estou indo dizer-lhe o que ela quer saber, mas eu estou fazendo isso do
meu jeito. Se ela não gosta, ela pode ir se foder. E assim pode Dina
Gregory. E a ex-puta de Dorian. E as filhas de Woodard. E Izabel. E
meu irmão.
— Eu tinha trinta anos quando conheci Claire. Eu tinha trinta
anos quando me apaixonei por ela. E eu tinha trinta anos quando ela
foi morta...

Seis anos atrás…


— Claire era uma tarefa. Não um sucesso, apenas uma atribuição.
Não era como se eu nunca tivesse feito esse tipo de trabalho antes:
aproximar-se de uma mulher, sair com ela por um tempo, fingir que eu
era normal, que eu era como qualquer outro homem que procurava
uma garota legal para se estabelecer. A maioria deles eram batedores.
Cadelas assassinas, mulheres que gostavam de mergulhar suas
línguas em excesso de açúcar verde, que faziam o que tinham que fazer
para conseguir as heranças dos seus maridos. Tanto faz. Naquela
época eu nunca trabalhava no campo como Victor fazia — eu não era
tão habilidoso quanto meu irmão — e eu também não era a ligação de
ninguém. Eu trabalhei no interior, mulheres encantadoras para
conseguir informações e, às vezes, se o trabalho exigisse isso, tirando-
as depois. — Eu paro, deixando a verdade me esconder. E então eu
digo, — Mas Claire não era um alvo. Ela era um chamariz. Minha
missão era conhecê-la, levá-la a confiar em mim para que eu pudesse
descobrir sobre um homem chamado Solis. Ele tinha sido o alvo por
um ano, e a única pista que tínhamos sobre ele era Claire. Nós nem
sequer sabíamos que tipo de relacionamento Solis e Claire tinham —
amantes, parceiros no crime, irmão e irmã — tudo era possível naquele
momento — Eu aponto severamente para Nora. — Mas, uma coisa eu
sabia, com certeza quando cheguei a conhecê-la era que Claire era uma
boa mulher, e qualquer que seja seu envolvimento com Solis, ela não
sabia nada sobre sua vida dupla. Ela não era parte dela e não merecia
ser - Claire era a isca...
Paro abruptamente.
— Vá em frente — Nora me diz. — Quero todos os detalhes. Eu
quero saber tudo.
Eu sorrio e ranjo os meus dentes, mas eu desisto.
— Eu a conheci em uma loja de departamento — eu digo. — Ela
era uma caixa. No começo eu pensei que era eu encantador para ela,
mas dentro de algumas semanas eu percebi que era o contrário,
embora não fosse intencional ou maliciosa da parte dela. Como se
supunha que estivesse na minha. Eu estava louco por ela. Isso me
assustou, mas pela primeira vez em minha vida deixei isso. Nós
namoramos. Como um casal de verdade. Fui ao cinema e comi pipoca.
Tivemos jantar em restaurantes agradáveis e fomos a lugares aleatórios
em conjunto. Eu fiz merdas com Claire que eu nunca consegui me ver
fazendo. Estranhas, merda normal. Mas eu gostava de passar tempo
com ela, mesmo que eu sentisse como se estivesse me transformando
em um maldito Sr. Smith.
— Eu me mudei com ela três meses depois que nós nos
encontramos, e embora minha missão estivesse sempre aparecendo no
fundo da minha mente e eu soubesse que o que quer que estava
acontecendo entre nós não poderia durar, eu estava me apaixonando
por ela. E ela estava se apaixonando por mim.
— Claire saiu do chuveiro enrolada em uma toalha, seu cabelo
estava molhado, preso na parte de trás da sua cabeça. Ela corou
enquanto eu a via caminhando meio nua pelo quarto, um sorriso torto
em meus lábios enquanto eu estava na cama com minhas mãos
encaixadas atrás da minha cabeça e meus pés cruzados.
— Você é demais — ela disse com um sorriso em sua voz, olhando
por cima de seu ombro nu, tímida em deixar a toalha cair pelo resto do
caminho.
— "Como assim?" Eu perguntei com um sorriso. "Por que eu gosto
de olhar para você nua?"
— Ela corou de novo e se virou para o armário, tirando um vestido
azul de um cabide.
— "Você não deve ter medo de mostrar o que você tem, amor", eu
disse a ela. "Especialmente não na minha frente. Vá, deixe cair a
toalha." Meu sorriso se aprofundou quando seu rubor aumentou.
Claire não deixou cair a toalha. E eu sabia que ela não faria isso.
Ela era auto-consciente, embora ela fosse a mulher mais linda que eu
já tinha visto, e eu gostava de deixá-la saber a cada segundo de cada
dia que passava com ela.
O vestido azul caiu logo acima dos joelhos. Isso me deixou louco.
Tudo sobre ela me deixou louco.
— Enquanto eu estava na cama, ela caminhou em minha direção
com um olhar familiar atordoado em seu rosto — e então ela o deixou
cair no chão e ficou lá por vários minutos.
— Eu tinha me acostumado com isso depois de oito meses. Claire
teve convulsões, pelo menos, a cada dois dias, às vezes todos os dias.
Isso interferiu em sua vida. Não podia dirigir. Ela não podia fazer
muitas coisas, ou melhor, tinha medo. Quando ela me encontrou, ela
começou a sair de sua concha. Eu nos levava em todos os lugares. E
se ela tivesse uma convulsão em público eu cuidaria disso.
— Por quanto tempo ela teve convulsões? — Nora pergunta.
— Por quê você se importa?
— É só uma pergunta.
Eu encolho os ombros, fazendo uma careta como se eu não
soubesse, mas depois respondi:
— Disse que as tinha tido desde que era pequena.
Nora acena com a cabeça. E eu continuo.
— Mas depois de oito meses estando apaixonado e cuidando de
Claire, não passou despercebido que eu não estava cuidando da minha
missão. Dez meses mais tarde, eu ainda não tinha encontrado um
fragmento de informação sobre Solis. Claire nunca falou seu nome,
nem mesmo quando eu tentei fazê-la falar sobre sua família, seus
amantes passados, sobre qualquer pessoa em sua vida — ela me
contou muito, mas nunca mencionou ninguém chamado Solis.
Comecei a pensar que ela realmente não o conhecia, e que talvez tudo
isso fosse um engano.
— Nada disso importava.
— Tudo o que importava para a Ordem era que eu estava gastando
muito tempo com o chamariz e não produzindo qualquer resultado.
Bastardos.
— Eu comecei a me preocupar que eles me levariam para fora da
missão e enviariam alguém para consegui as informações. Eu não sabia
o que ia acontecer, mas eu sabia que eu precisava manter Claire
segura. E eu sabia que por causa de nós dois, eu não poderia dar a
ordem a suspeita de que eu estava apaixonado por ela. Se Vonnegut
pensasse que isso era verdade, ele teria tido nós dois mortos.
Faço uma pausa, suspirando pesadamente.
— Onze meses depois que conheci Claire, as coisas chegaram a
um final brutal.
— Verificou-se que a Ordem não era a única organização à
procura de Solis. E eu não era o único operário que tinha Claire como
uma atribuição. Alguém também estava procurando por ela, mas, para
eles, Claire era mais do que um chamariz. Ela era um sucesso.
Olho para a parede, deixando o tijolo branco ficar sem foco. Estou
revivendo tudo agora para mim, não para Nora. Quase nem vejo Nora
na minha frente.
— Meu celular tocou perto de mim no banco do passageiro do meu
carro. Olhei e vi que era Claire e respondi imediatamente.
— "Ei amor", eu disse para o telefone, um sorriso gravado em meu
rosto. — Estou quase lá para buscá-la.
Um tiro de bala soou em meu ouvido; as vozes dos homens, o
baralhar dos sapatos, uma briga, as coisas quebrando e Claire
gritando.
Eu gritei seu nome no telefone enquanto minha bota apertava o
pedal do acelerador até o chão.
O telefone ficou morto.
Eu o deixei cair no assento e os pneus em meu carro rasgaram
com o meu modo imprudentemente pela estrada, tecendo através das
ruas traseiras e flamejando através dos sinais de pare na noite
passada.
Ela estava morta quando eu cheguei lá, seu corpo deitado no chão
entre o sofá e a mesa de centro. Dois outros homens também tinham
sido baleados. Victor me encontrou na porta.
— Não poderia chegar a tempo — disse ele, mas eu mal ouvi uma
palavra. Eu não podia tirar meus olhos ou minha mente da Claire.
Eu arredondei meu queixo desafiadoramente e tentei tão
fodidamente difícil conter a minha raiva e dor, esperando não deixar
meu irmão em meus sentimentos por Claire.
— Niklas — disse ele quase desculpando-se, mas então ele parou
e ele me levou para fora porque sabia que a casa estava escutada. —
Você tinha... sentimentos por ela?
— Eu ri. "Isso é ridículo" eu disse, mas eu não podia olhá-lo nos
olhos. "Basta ligar para um limpador e se livrar dela. São os homens
da outra organização? "
— Me doeu dizer as palavras "livrar-se dela", e tornou muito mais
difícil segurá-lo.
Victor acenou com a cabeça.
- "Sim. Claire recebeu um telefonema depois de sair de casa. De
um homem. Nós não pegamos seu nome e eles não estavam na linha o
tempo suficiente para consegui um rastro".
— "O que eles disseram?" Eu estava ficando nervoso; eu estava
com medo de que Victor me dissesse algo que eu não queria ouvir:
talvez Claire tivesse algo acontecendo com esse homem, talvez ela não
fosse quem eu acreditava que ela era — teria me matado muito mais
saber algo como isso sobre a mulher que eu amava mais do que
qualquer coisa.
— "Eles mal falaram" disse Victor. "Claire respondeu. Houve uma
pausa e o homem simplesmente perguntou quem estava falando. Claire
respondeu perguntando quem ele estava tentando alcançar." E então o
telefonema terminou.
— "Parece que foi apenas um número errado" eu disse.
— "É possível" disse Victor com um aceno de cabeça "mas também
era suspeito. Não nos arriscamos e me mandaram vir aqui
imediatamente."
— Por que não me ligou?
— "Você ainda estava a uma hora de distância" disse Victor. "Eu
estava a apenas quinze minutos daqui".
— Isso pode ter sido verdade, mas ele estava mantendo algo de
mim e não demorou muito para eu descobrir.
— Victor, me diga a porra da verdade — disse eu. — Por que não
me ligou? - Eu já sabia a resposta.
"Ele suspirou."
— Você estava sendo retirado da missão, Niklas. Joran Carver
recebeu suas ordens na noite passada para assumir o controle.
— "Assumir?" Eu disse com raiva e descrença. "E como
fodidamente era para ele vai fazer isso?" Minha voz começou a se
erguer. "Tive um relacionamento com Claire. Ela... me amou, Victor" -
eu tinha começado a dizer que eu também a amava, mas minha parede
de negação ainda estava de pé e teve que ficar desse jeito - "Como Joran
poderia, possivelmente apenas, assumir?" Eu estava enfurecido com
pensamento de outro homem, operatório ou não, tivesse acabado para
mim, fez-me coisas que eu não podia controlar - que quase perfurei o
meu irmão.
— Luzes azuis e vermelhas saltaram contra as árvores ao redor
na escuridão quando um carro de polícia e um descaracterizado subiu
a longa calçada de cascalho. A casa em que vivi com Claire era por seis
acres de terra arborizada; o vizinho mais próximo estava a meio
quilômetro de distância.
— Joran Carver saiu do veículo descaracterizado vestido com um
terno.
— Eu bati a merda fora dele, porque ele estava lá, por que ele
estava lá. E eu não falei com meu irmão por um mês depois disso.
Porque ele manteve a verdade de mim até o último minuto quando o
plano da Ordem era me substituir por Joran e Claire morreu naquela
noite.
— Por que Joran Carver estava lá? — Nora pergunta.
Deixando a memória desaparecer, eu olho para trás para Nora
sentada do outro lado da mesa.
— Eu pensei que você sabia tudo? — Eu digo sarcasticamente.
— Isso eu não sei — diz ela. — E eu quero que você me diga.
Eu balanço a cabeça com um sorriso sarcástico.
— Isso não era parte do negócio.
— É agora — diz ela. — Tenho curiosidade de saber.
Eu quero ser uma puta, auto desafiante com Nora agora, mas,
neste momento, eu nem me importo mais. Sinto-me malditamente
derrotado, não por Nora, mas por mim.
— O papel de Joran era interpretar o amável e cuidadoso
investigador de homicídios que iria aparecer na casa de Claire para
questioná-la sobre a última vez em que me viu. Para descartá-la como
tendo algo a ver com meu assassinato.
— Eles iam matar você?
— Não. — Eu balanço a cabeça. — Eles iam me tirar da missão.
Dizer a ela que eu fui encontrado assassinado. Ela estaria devastada.
E Joran, belo e liso fodido que ele era, ia ser o único a consolá-la, e sua
única esperança de conseguisse as acusações caísse contra ela por ser
a pessoa que me matou.
Nora estreita os olhos.
— Então eles iam fazer parecer que ela era uma assassina, brincar
com l seu estado vulnerável apenas para que Joran pudesse te
substituir.
— Fodido, não é?
— Sim, isso é extremo — diz ela.
— Você não iria acreditar quantas vezes essas coisas acontecem
— eu digo, e mesmo agora, muito depois de eu ter deixado a Ordem, eu
sinto que estou cometendo uma traição contra ela, dizendo livremente
a essa mulher esta informação. Novamente, eu não dou a mínima; uma
parte disto é estranhamente libertadora. — Os operários de Vonnegut
estavam, e ainda estão, em toda parte. Trabalhando como oficiais de
polícia, paramédicos, federais, advogados, atores, varredores de rua —
às vezes acho que Claire está melhor morta porque eles a colocariam
em nove tipos de inferno para descobrir o que eles queriam saber e
arruinariam qualquer vida que ela tentasse fazer por si mesma. Eu
gosto de pensar que os últimos onze meses de sua vida comigo foram
a minha maneira de devolver a eles. Porque eu era bom para ela. E o
que eu sentia por ela era real. Eu não era apenas outro Joran Carver
enviado para mentir para ela. Claire teria morrido de qualquer maneira,
seja pela outra organização depois de Solis, ou eventualmente pela
própria Ordem. Estou feliz por ser a última pessoa em sua vida. Porque
eu a amava, porra.
Levanto-me da cadeira e olho para Nora.
— Quando isso acabar — eu digo a ela em uma voz calma: — Eu
vou te matar. A princípio.
— Essas são palavras ousadas — diz ela sem emoção no rosto. —
Ameaças assim...
— Oh, não é uma ameaça, — eu a cortei. Aponto meu dedo para
ela. — Não se fode com os entes queridos de alguém; pessoas inocentes
que nunca pediram para estarem relacionadas ou envolvidas com
alguém que não é tão inocente como o resto de nós. Só covardes atiram
em alguém por trás. Se você quisesse algo de um de nós, então você
deveria ter chamado essa pessoa desde o início e lidado com isso de
frente.
Levo o maço de cigarros de cima da mesa, arrastando um em
meus dedos e, em seguida, deslizo o pacote no bolso traseiro. Pescando
meu isqueiro de um bolso dianteiro, eu ponho a ponta em chamas e
pego um sopro rápido.
— Boa sorte com meu irmão — eu digo, a fumaça fluindo dos
meus lábios. — E com Gustavsson... Eu realmente ansioso para esse
show.
E então eu saio depois que ouço o fechamento clicando do interior
da porta maciça.
CapÍtulo NOVE
Isabel

Niklas não se junta a nós na sala de vigilância depois que ele deixa
Nora. Nenhum de nós o esperava. Eu me sinto terrível por ele, e eu
realmente não tinha ideia de que ele realmente se preocupava comigo
em tudo. Não precisava dizer nada a Nora; ninguém ama ter sua vida
em risco. Porque ela já está morta.
Eu não sei o que pensar, ou não sei mais como me sentir quando
se trata de Niklas. Ele tentou me matar, afinal. Mas alguma coisa assim
pode ser perdoada? Pode uma pessoa simplesmente varrer uma coisa
sem coração e perversa como aquela debaixo de um tapete e deixar
passar algum tempo? Eu não sei se ele pode. Ou que eu quero. Mas
isso não muda o fato de que eu me sinto horrível sobre o que ele passou.
E eu me sinto culpada.
Sinto-me culpada porque estou viva e Claire não está.
Era muito mais fácil quando eu o odiava...
— Você já ouviu alguma palavra de Gustavsson? — pergunta
Dorian de sua cadeira na frente das telas.
Victor sacode a cabeça.
— Nada. Deixei uma mensagem em três dos seus telefones.
Nenhuma resposta.
— Vou tentar entrar em contato com ele — eu falo — mas Victor,
está mais provável que ele atenda as suas chamadas do que as minhas.
Você ainda se apega a essa ideia de que ele não desistiu de sua ligação
comigo, mas eu estou dizendo que ele desistiu. Eu sinto. Eu sei disso.
Mas eu tentarei.
Victor acena com a cabeça.
— Suponho que meu irmão está certo — diz ele sem olhar para
ninguém. — Gustavsson pode ter que ser tratado. Ele é meu amigo,
mas desde Seraphina, ele não é o mesmo homem que eu conheci. E
alguns homens quebrados estão muito quebrados para serem
colocados juntos.
Essas palavras que saem da boca de Vítor enviam um calafrio pela
minha costa. Porque uma vez que Víctor tenha colocado em sua mente
que ele tem que matar alguém, ele faz isso. Só em duas outras ocasiões
ele mudou de ideia que eu conheço: primeiro comigo quando eu estava
correndo com ele do México, e depois com Niklas quando ele pensou
Niklas tinha traído ele. Ele não seguiu adiante em me matar porque
nosso relacionamento era complicado, porque ele estava confuso por
seus sentimentos, e sua consciência tirou a melhor dele. Ele não matou
Niklas porque no último momento ele percebeu que Niklas nunca fosse
seu inimigo. Mas ele estava disposto e preparado para matar seu
próprio irmão, um irmão que ele ama tanto que ele matou seu pai
apenas para protegê-lo.
Fredrik pode ser seu amigo, mas o vínculo de Victor com Fredrik
não é nem de longe tão apertado como o seu irmão, ou comigo.
Tenho medo de Fredrik. E eu espero que não termine da maneira
que eu sinto como ele está indo terminar.
Nora acena para uma das câmeras ocultas, trava os olhos.
— Yoo-hoo! — Sua voz soou através dos alto-falantes na sala.
— Ligue o microfone — Victor diz a Dorian.
Dorian deixa cair seus pés da mesa e estende a mão, cobrindo o
mouse do computador com a palma da mão.
— Vou precisar de algo para dormir — diz ela em seu tom
confiante e exigente. — Nós vamos pegar o resto disso amanhã.
Victor se inclina, apoiando as mãos sobre a mesa na frente da tela
maior e diz para o microfone em um pequeno suporte na frente dele.
— Isso seria um desperdício de tempo. Quarenta e oito horas era
pouco tempo para começar.
Nora sorri com astúcia e empurra seu cabelo sedoso para longe
de seus ombros e fora dos seus olhos.
— Na verdade, é muito tempo para algo tão simples como
confissão, se você realmente pensar nisso. — Seu sorriso se alarga. —
A única razão pela qual você está se sentindo pressionado por tempo
agora é porque um de vocês ainda não apareceu. Estou errado?
Victor não se encolhe.
— Não, você está correta, mas apenas o mesmo, nós gostaríamos
de conseguir tanto quanto fosse possível desta maneira.
Ela anda de um lado para outro na frente da câmera lentamente,
seus braços cruzados, seus altos sapatos pretos batendo contra o chão.
Então ela pára e olha para a câmera e repete:
— Vamos pegar de onde paramos amanhã.
Victor acena para Dorian, indicando para ele fechar o microfone.
Ele volta para nós.
— Isso nos dará tempo para usar o que quer que tenhamos para
descobrir quem ela é — diz Victor.
James Woodard entra na sala então, seu rosto lê as mesmas
notícias sem saída de antes.
— Eu nunca vi nada parecido — ele diz, seus queixos balançando
com o tremor de sua redonda e calva cabeça. — Exceto com líderes de
organização, como com Vonnegut. Não consigo encontrar um pedaço
de nada dessa mulher. Ela é como um fantasma, senhor. E eu tenho
que dizer que me sinto um pouco inadequado. Eu-eu supostamente
sou capaz de encontrar qualquer coisa em qualquer um. Eu vou
entender se você quiser me demitir.
— Ninguém vai demiti-lo, Woodard — Victor diz, ainda olhando
para a tela, de pé na frente dele em seu terno preto. — E além disso, se
eu tivesse que demiti-lo dos seus deveres, infelizmente não estaria com
uma carta de demissão.
Woodard engole inquieto; ansiedade enchendo seus olhos e
tornando-os ainda mais redondos em seu rosto suado.
Começamos a fazer o intercâmbio de ideias sem Niklas.
— Talvez ela é um líder — eu digo, voltando ao que Woodard disse
anteriormente. — Eu não vejo como é que alguém não pode ter algum
tipo de fuga.
— E como ela sabe tanto? — diz Dorian.
— Ela não é uma líder — Victor diz com um traço de incerteza. —
Pelo menos duvido que ela seja.
— OK, o que sabemos sobre ela além de nada? — Eu pergunto,
andando pelo chão. Eu paro e olho para trás para eles, erguendo uma
mão, gesticulando. — Quero dizer, vamos apenas assumir que o que
pensamos que sabemos sobre ela é verdade: seu pai cortou a ponta do
seu dedo e é um assunto sensível; ela tem uma consciência apesar de
querer que pensemos que não; ela é muito hábil não só em lutar e nos
manipular para falar, mas ela saiu das algemas sem ninguém vê-la, ela
é um artista de fuga.
O silêncio enche a sala enquanto as engrenagens em nosso
cérebro começam a a rodarem. Mas nenhum de nós surge com teorias.
— Ela devia estar nos observando apenas alguns meses atrás —
diz Dorian, — para ela saber sobre o que aconteceu com Gustavsson e
Seraphina. A menos que ela esteja recebendo essas informações de
alguém de dentro, eu honestamente não vejo como ela saberia sobre
isso.
— Concordo — Victor diz. — É crível que ela poderia obter
informações sobre nossos passados através de muitos meios diferentes
ao longo de vários anos. Ela poderia ter entrado nos arquivos da
Ordem, James Woodard pode fazer isso, eu não vejo por que ela não
conseguiria fazer isso. Mas saber alguma coisa sobre Fredrik e
Seraphina...
— Então quem poderia ser a toupeira? — Eu pergunto. — Se
houver uma.
— O tempo dirá — Victor diz e deixa isso assim.
Damos por terminada a noite antes da meia-noite e Victor tem
homens levando uma cama estreita para Nora dormir. E um balde para
ela mijar, cortesia minha porque não há nenhuma maneira que ela está
deixando esse quarto para ser escoltada para um banheiro. Nós
assistimos a tela enquanto os homens vão para dentro, para nos
certificar de que ela não escorregue algo do passado, como ela fez com
as algemas — desta vez estamos esperando — e ter certeza de que ela
não os mate. Ela é cooperativa e não ataca ninguém ou tenta escapar.
Mas, novamente, eu acredito nela quando ela disse antes que ela nem
estaria aqui se ela não quisesse estar. Isso preocupa Victor também,
mas ele não vai dizer isso em voz alta.
— E se houver mais pessoas como ela? — Eu pergunto enquanto
me desnudo em nosso quarto no último andar do prédio. — Isso me
assusta, Victor, eu não vou mentir.
Os polegares e os dedos indicadores de Victor separam o último
botão de sua camisa e ele a desliza sobre os braços definidos pelos
músculos, colocando-a cuidadosamente sobre o encosto de uma
cadeira.
— Essa será a única coisa que a manterá viva depois que ela nos
disser onde encontrar Dina Gregory e os outros.
Ele caminha em direção à cama, seus pés descalços movendo-se
sobre o tapete, as extremidades de suas calças pretas penduradas
frouxamente sobre o topo dela.
Eu estou sentada no lado da cama, alcançando atrás de mim para
desprender o meu sutiã.
— Então você vai matá-la quando isso acabar?
— Sim, — ele diz, abrindo o botão em suas calças. — Precisamos
descobrir o que mais ela sabe primeiro, e quem está nisso com ela.
Vamos usá-la da mesma maneira que ela está nos usando, e uma vez
que temos o que precisamos, vou eliminá-la.
Eliminar. Victor ainda, de vez em quando, fala como se ele ainda
preenchesse contratos para a Ordem de Vonnegut. Incomoda-me às
vezes, como ele desliza de volta para aquele homem frio e calculado
com emoções enterradas, mas eu nunca digo nada. Eu sei, em primeira
não, como é difícil se despojar completamente de seu passado.
Deitei-me na cama usando apenas minha calcinha preta de renda.
Victor pisa para fora de suas calças e suas cuecas de boxer e fica nu e
totalmente ereto ao pé da cama. Não consigo pensar em sexo agora.
Quero dizer... OK, eu posso pensar sobre isso, e é difícil não pensar
quando ele olhando para mim assim, mas, o momento não é adequado,
há muito acontecendo. Então, novamente, é precisamente por isso que
isso é tudo para ele — o sexo é a fuga de Victor de todo o resto. E eu
estou mais do que feliz em deixá-lo lidar suas frustrações comigo.
— E Fredrik? — Pergunto. A cama se move embaixo de mim
enquanto ele faz o seu caminho em cima dela. — Tem certeza de que
pode matá-lo? Ou que você gostaria?
Ele começa a escorregar minha calcinha com as duas mãos.
— Sim, posso matá-lo — ele diz, suas mãos fazendo uma trilha
pelas costas das minhas coxas, quebrando minha pele em arrepios.
Eu suspiro quando sinto seus dedos dentro de mim; cada
polegada do meu corpo é devastada por um tremor cruel, mas feliz. Oh
meu Deus, eu vou morrer antes que ele me faça gozar. E então meu
estômago vibra quando ele rasteja em cima de mim, beijando seu
caminho em direção à minha boca. Seus lábios quentes caem
suavemente nos meus e seu beijo que me rouba o fôlego.
— Eu não quero matá-lo — diz ele quebrar o beijo pouco depois.
Meus olhos rolam na parte de trás da minha cabeça enquanto seus
dedos continuam a me explorar. — Mas vou fazer o que tenho que fazer.
Nunca demora para Vítor me deixar molhado. Nunca leva muito
esforço para me fazer doer com necessidade, para fazer minhas
entranhas tremerem em antecipação, frustração.
Minhas pálpebras se rompem lentamente e com dificuldade;
minhas coxas se fecham em torno de sua cintura esculpida.
— O que você acha... — estremeço e meus lábios se abrem,
quando ele empurra sua dura longitude lenta e profundamente dentro
de mim — oh meu Deus — ... acho que ela quer que você... confesse,
Victor — Minhas palavras soam mais como respiração agora. Meu
coração está correndo. Minhas coxas tremem em torno do seu corpo
firme.
Meus dentes apertam o seu lábio inferior suavemente enquanto
balança seus quadris contra mim com um abandono lento, mas
agressivo; minhas mãos agarraram os lados do seu rosto antes de eu
cavar minhas unhas na pele em suas costas.
— Eu não tenho ideia — ele sussurra calorosamente em minha
boca.
Sua língua emaranha com a minha e seu beijo é profundo,
faminto e quente.
— Mas e se...
— Fique quieta, Izabel — ele empurra com mais força, fazendo
com que eu perca a respiração — e deixe-me foder você.
Cinquenta por cento do tempo eu sempre faço o que Victor me diz
- isto é o cinquenta por cento do tempo.
CapÍtulo DEZ
Izabel

Niklas se junta a nós novamente na sala de vigilância na manhã


seguinte. Parece estranho estar tão perto dele depois do que disse
ontem; estranho para nós dois, eu acho. Ele é um idiota ainda maior
do que era antes; nem sequer olhar para mim muito menos diz duas
palavras para mim. Talvez ele esteja envergonhado e esta é a sua
maneira de lidar com isso; eu não sei. Agora, Niklas é a menor das
minhas preocupações.
James Woodard fica perto da porta com os resultados do exame
de sangue em sua mão.
— Sem correspondência — ele anuncia e lança a impressão em
uma mesa próxima. — Nora é oficialmente uma mulher fictícia.
A notícia não surpreende nenhum de nós.
Volto-me para as telas com os braços cruzados, vestida mais para
a ocasião de hoje em um macacão preto de uma peça e um par de botas
militares com um bom agarro, caso eu tenha que lutar com Nora
novamente. Um vestido era a pior coisa que eu poderia ter usado ontem
— sei que Woodard teve mais uma visão do que eu sempre quis.
— Eu acho que ela realmente mexeu no balde — Niklas aponta.
Meu rosto se curva, mas eu olho de qualquer maneira. Felizmente,
as câmeras não estão em qualquer posição para provar isso.
— Bem, ela tem que ir algum dia — diz Dorian.
Victor continua observando Nora enquanto ela anda pela sala com
suas pernas altas e seus saltos altos. Ela não parece ansiosa ou
agitada, como eu sei que eu estaria, sendo trancada em um quarto sem
janelas por todo esse tempo, mas ela só parece entediada. Adicionamos
paciência para sua lista de competências - Woodard não é o único nesta
sala que se sente inadequado.
Victor se afasta das telas, a luz delas lançando um brilho em torno
de suas costas.
— Woodard, — ele diz, — eu preciso falar com você por um
momento. — Ele deixa cair seus braços em seus lados e dirige para a
saída.
Woodard segue prontamente.
— Victor, o que é? — pergunto.
A luz do corredor derrama para o quarto. Ele fica na porta e olha
para mim.
— Tenho algumas coisas que preciso que ele cheque — ele diz
simplesmente.
Eu aceno com a cabeça e eles saem juntos.
Dorian e eu olhamos um para o outro, compartilhando as mesmas
expressões suspeitas. Mas, Victor levando um de nós para o lado para
falar em privado não é nada de novo. Ele nunca deixa de me deixar
incrivelmente curiosa, e Victor nem sempre sente a necessidade de
compartilhar comigo o que foi dito.
Eu olho para Niklas. Eu sei que ele pode sentir meus olhos nele,
e é por isso que ele não olha para trás.
Os únicos sons na sala são os saltos de Nora movendo-se pelo
chão vindo dos alto-falantes e a respiração de Dorian soprando o vapor
saindo de seu copo de papel de café.
— Então, — eu digo a Niklas, tentando quebrar o mal-estar, —
você acha que sabe mais sobre ela hoje?
— Não, — ele diz, mas não olha para mim.
Ele continua de pé na frente da tela à direita com os braços
cruzados, vestido com um jeans e uma camisa cinza escura com as
mangas enroladas acima dos seus cotovelos. E suas botas de
motoqueiro; ele sempre usa essas. Eu não acho que ele ainda possui
outro par de sapatos.
Desapontada, eu me viro e vejo Nora em vez disso.
— Acho que vou entrar lá depois — diz Dorian, e não parece nem
um pouco ansioso — acho que ele está mais preocupado com o que ele
poderia fazer com ela.
Pego a cadeira de rodas à sua esquerda e me sento ao lado dele.
— Nós vamos ter Tessa de volta — eu digo a ele. — Assim como
as filhas de James e Dina. Eu realmente acredito nisso. — Eu tenho
que acreditar nisso, caso contrário, eu seria uma confusão agora.
Ainda de frente para a tela, Dorian faz um pequeno barulho
soprando; um sorriso aparece em seus olhos.
— A maioria das mulheres se divorciam de seus maridos e os
odeiam para a vida por causa de um caso — ele diz, e então olha para
mim brevemente, o sorriso agora levantando os cantos de seus lábios.
— Tessa se divorciou de mim porque eu não queria me mudar para
Wisconsin.
Minhas sobrancelhas se amassam na minha testa.
— Wisconsin?
Ele ri com a respiração.
— Ela odiava Nova York. Queria viver mais perto de sua família.
Eu não vivo bem fora de uma cidade — Seus ombros e cabeça parecem
estremecer — viver em lugares como aquele onde você pode realmente
se ouvir pensar e você começa a pensar sobre tudo. — Ele olha por
cima, mais uma vez, seus olhos reunidos com os meu. — Fazendo a
merda que eu faço, você não quer pensar muito nisso, sabe?
Eu aceno lentamente.
— Sim, eu acho que eu sei.
— Não me entenda mal — ele continua, — Eu não estou
assombrado pelas coisas que eu fiz, mas, em seguida, talvez seja por
isso - eu não pensei sobre isso o suficiente.
Ele ri de repente.
— Mas eu tive um caso, — ele diz e me pega desprevenido. Ele
sacode o dedo para mim como para fazer um ponto. — Ela me traiu em
primeiro lugar. Depois disso, andou de um lado para o outro — nos
enganamos uns aos outros por despeito durante três anos antes de ela
se divorciar de mim. Inferno, eu nunca teria feito a primeira vez se ela
não tivesse... — ele bebe um pouco de seu café — mas Wisconsin era o
prego no caixão.
Olho para Niklas novamente. Ele é a mesma figura quieta e imóvel
parada ali como antes, mas eu não consigo imaginar que ele não está
pensando em Claire, especialmente considerando o tópico.
Eu afastei meus olhos antes que ele perceba.
— Quem quer que venha em seguida, — Nora diz olhando para
cima em uma câmera, — esteja certo em me trazer algo comer. Estou
faminta.
— Faminta? — Eu ecoo com aborrecimento. — O que, ela acha
que é britânica?
A porta se abre e Victor volta para o quarto sozinho. Nós três nos
viramos para olhar para ele, esperando que ele esteja no clima de
divulgação. Mas, ele não está. Eu me levanto da cadeira.
— Dorian, — Victor diz, — você entra em seguida. Eu coloquei
Woodard em algo que pode ou não ser uma ruptura em sua identidade.
Preciso descobrir primeiro antes de falar com ela.
Isso soa promissor. Victor está mais frequentemente certo sobre
seus palpites do que ele está errado, é por isso que agora ele está
escolhendo não dizer nada para o resto de nós até que ele saiba com
certeza.
Dorian está de pé.
— OK, chefe — ele diz e respira fundo.
Ele bebe o último gole do seu café e sai do quarto, agarrando uma
maçã da mesa ao lado da panela de café em seu caminho para fora.
— Espero que ele não a mate — digo a Victor. Isso me preocupa
porque o nome do meio de Dorian é Gatinho Feliz, e mesmo se a vida
de sua ex-esposa esteja na linha, eu não tenho tanta certeza de que ele
pode controlar sua raiva.
Niklas nos ignora e se senta na cadeira que Dorian acaba de sair.
Victor pisa ao meu lado em frente das telas; o material fresco, fino
de sua camisa Branca escova de encontro a meu braço. Ele move seu
braço atrás de mim, encaixando a mão na minha cintura, seus dedos
longos espalhados pelo meu quadril. Eu sempre acho bem-vindo e
desejo seu toque, não importa onde ou como ou quem esteja assistindo,
mas agora está me deixa desconfortável. Eu sinto a necessidade de
olhar novamente para Niklas, para ver se ele está assistindo, ou
incomodado por isso, mas eu acho que estou apenas sendo paranoica;
minha culpa está tomando o melhor de mim.
Meus olhos caem na tela quando Dorian entra no quarto com
Nora. Ele caminha direto para a mesa onde ela agora se senta em sua
cadeira de costume, e ele coloca a maçã na frente dela.
Nora enruga o nariz e levanta os olhos para Dorian.
— Uma maçã? — Ela diz com decepção.
— É algo para comer, não é?
Ela sorri.
Dorian senta-se do outro lado da mesa, apoiando os cotovelos em
cima, segurando as mãos.
Nora sorri encantadora, um lado da boca levantando mais alto do
que o outro.
— Então vamos fazer isso — diz Dorian, fazendo um gesto com a
mão.
— Ansioso, não estamos? — Diz ela.
— Não, eu acho que cansado-de-seu-merda é mais como isso.
Ela ri com delicadeza e atravessa uma perna sobre a outra,
cruzando as mãos no colo, parecendo alta, régia e deslumbrante.
— Sua reputação é precisa — diz ela. — Arrogante, loquaz,
impaciente, você é quase tão ruim quanto Niklas Fleischer. — Ela se
inclina para a frente. — Diga-me, como um cara como você; lindo,
perigoso e óbvio por causa do rastro de corpos que você tende a deixar
para trás, e não acaba no radar de todos?
— O que você quer dizer? — Ele pergunta, confuso, curioso.
— O que quero dizer é que você foi o mais difícil de encontrar
qualquer informação. Claro, duvido que o seu verdadeiro nome seja
Dorian Flynn, o meu não é Nora Kessler; eu fiz isso quando cheguei
aqui; Kessler agora. — Ela sorri e descansa os braços sobre a mesa
como Dorian. — Eu te segui por meses — trabalhei em um restaurante
não muito longe do seu apartamento em Manhattan; esse você gosta
tanto que serve seu ensopado favorito. Claro que você não me
reconheceria porque eu parecia muito diferente então — um olhar de
realização atravessa as feições de Dorian e o sorriso de Nora se alonga
quando ela percebe — sim, você está entendendo agora, não é?
— Você era minha garçonete — diz ele, ficando mais confuso. —
Eu me lembro de você... seu cabelo era mais escuro e mais curto... sua
maquiagem era diferente... você falava como um nova-iorquino. — Ele
parece incomodado e desconfortável.
— Oh, não seja tão duro consigo mesmo — diz Nora. — Eu sou
boa no que faço. Eu poderia ter sentado no estande com você e
contratado você em conversa e você não iria me reconhecer mais tarde,
a menos que eu queria isso.
Minha mente está fugindo comigo agora, centenas de imagens
piscando em meus pensamentos, tentando pegar seu rosto ou sua voz
ou qualquer parte dela longe das milhares de pessoas que eu entrei em
contato. Ela poderia ter estado lá, no México comigo em algum
momento? Não parece provável — duvido que ela soubesse quem eu
era até depois que eu fugi do México com Victor. Mas, nada disso me
impede de implacavelmente tentar localizar seu rosto em qualquer
parte do meu passado.
Olho para Victor, e depois para Niklas, e a julgar pelo olhar
profundo de concentração em seus rostos, eles estão fazendo a mesma
coisa.
— Eu tirei as suas impressões digitais do seu copo — Nora diz. —
Você costumava ser Adam Barnett de Katy, Texas. Preso várias vezes
quando era jovem e passou a maior parte de sua vida adolescente no
sistema. Cuidado por pais adotivos até que eles não pudessem lidar
com você mais tarde e mais tarde desistiam — nada de todo mundo
aqui já não saiba, tenho certeza. Eu continuei procurando. Mas sua
trilha de informações terminou abruptamente com a idade de dezesseis
anos. Foi quando se você caiu da face do planeta. Sem licença de
motorista ou registro de trabalho, nenhuma informação de imposto,
nem mesmo um cartão de crédito com qualquer nome. O ponto é que
— seus olhos endurecem com foco — você está em uma maneira como
eu; uma pessoa sem identidade real. E eu me pergunto por que isso?
— Sua pergunta é pesada com acusação, como se ela já tem uma boa
ideia da resposta — considerando a razão que ela está aqui, ela
provavelmente tem.
— Olhe o que eu faço — Dorian diz exasperado, pressionando as
costas contra a cadeira. — Eu não tenho que ser fácil de encontrar ou
descobrir. Se eu fosse, eu não seria bom e eu provavelmente já estaria
morto até agora.
— Isso é verdade — diz ela com um aceno de cabeça, — você é
bom. Você é bom porque eu não consegui encontrar nada. Eu estava
ficando preocupada que você não conseguisse jogar o jogo com todo
mundo porque eu não tinha nada sobre você, nada para forçá-lo a
confessar — ela sorri maliciosamente - — mas então algo extraordinário
aconteceu, algo que eu nunca esperei. Quando Tessa me viu pela
primeira vez, ela disse algo que realmente chamou a minha atenção
antes que ela estivesse acorrentada ao forno. Quer saber o que ela
disse?
Dorian parece nervoso.
Nora parece cada vez mais astuta.
Os olhos de Niklas realmente encontram o meu por um breve
momento de dúvida, mas caem tão rápido.
Victor está imóvel, olhando para aquela tela como se o que ele está
prestes a ouvir é a coisa mais importante que ele vai ouvir o dia todo.
— O que ela disse? — Dorian pergunta relutantemente, virando a
cabeça loira ligeiramente em um ângulo e estreitando seus olhos em
Nora.
Nora sorri docemente.
— Ela disse: "Eu não vou dizer nada" antes que eu tenha feito
alguma pergunta. — Nora faz uma pausa, inclinando a cabeça para um
lado. — Agora não é algo que uma pessoa inocente, sem envolvimento,
normalmente teria dito em um momento como esse, não é?
O punho de Dorian bate contra a mesa, batendo a maçã em seu
lado. Ele rola desajeitadamente em pequenas formas de parar perto na
borda.
— Tessa é inocente — ele rasga as palavras com raiva — e se você
machucar ela...
— Oh, eu já a machuquei, — Nora o interrompe sarcasticamente.
— Eu a feri o suficiente para conseguir o que queria dela, mas o que
acontece com ela mais tarde vai depender do que acontece nesta sala
hoje, como você já está ciente.
— Ela não tem nada a ver com nada, — Dorian rosna, ficando
mais irritado, se esforçando para manter a sua fúria assassina contida.
— Qualquer coisa, o que significa que exatamente?
Dorian hesita, parecendo em busca de palavras, palavras da
verdade, ou talvez palavras que apenas soem como verdade.
— Olha, Tessa sabe o que eu faço, tudo bem — ele diz, parecendo
ceder um pouco. — Ela é inteligente; ela sabia que eu estava levando
uma vida dupla. Ela encontrou minhas armas. Ela começou a me
seguir, pensando que eu estava metido em alguma droga. Eu estava
com medo que ela fosse se machucar, então eu disse a ela a verdade.
— E o que é a verdade?
Dorian levanta os dois braços para os lados, abrindo as palmas
das mãos para cima.
— Que sou parte de uma organização subterrânea.
— Que tipo de organização clandestina?
Seus olhos endurecem e ele balança a cabeça em perplexidade.
— Este tipo — diz ele, apontando para baixo.
Intrigado, eu olho para Victor.
— Então, isso é o seu segredo, que ele disse a sua ex-mulher sobre
nós? — Enquanto isso é uma coisa ruim e Victor não fosse gostar, eu
ainda me sinto tão confusa quanto Dorian parece.
— Não, há algo mais para isso — Victor diz enigmaticamente,
olhando para a tela.
Nora sacode a cabeça e suspira.
— Então você está furando com essa história então? — Ela
pergunta.
Dorian pisca confusamente.
— Sim. Eu estou. Não sei mais o que dizer a você.
— Que tal a verdade? — Nora sugere.
— Essa é a verdade.
Nora muito casualmente alcança e toma a maçã em sua mão. Ela
aperta seu dedo indicador e polegar em torno da base do talo e torce-o
até que ele saia. Então esfrega o fundo de sua blusa de seda preta ao
redor da pele vermelha, dando-lhe um brilho agradável antes de trazê-
la aos lábios. Dorian a observa com um frio, com uma intensidade
calculista à medida que os dentes brancos e perfeitos afundam na
casca com um longo e lento cruuunch. Ela leva seu tempo mastigando
lentamente. Ela engole e toma outra mordida, tomando seu tempo com
aquela também. É como se ela estivesse esperando algo, dando Dorian
um pouco mais de tempo para mudar sua história.
Estou nervosa como o inferno; essa sensação fazendo um número
em meu estômago.
Victor não se encolheu, e nem Niklas desde o breve segundo que
fizemos contato visual — ele se parece com seu irmão neste momento,
e é um pouco intimidante.
Nora se levanta.
Dorian segue o exemplo, mantendo seus olhos treinados em cada
um de seus movimentos enquanto caminha em volta da mesa. Ela se
move em direção a ele, e Dorian não perde tempo para alcançar atrás
dele e puxar sua arma da parte de trás de suas calças.
Ele aponta para o rosto dela e meu coração bate no meu peito.
Mas Nora não parece preocupada.
— Eu não a teria levado — Nora diz sobre Tessa, — se eu não
estivesse cem por cento certo de que você faria o que fosse necessário
para salvar sua vida. Poderia eu ter estado errada? — Ela fica a apenas
dois pés na frente dele, com seus braços esbeltos cobertos por uma
enrugada blusa de seda transparente em seus lados.
— Eu disse a você o que eu disse a Tessa — se há algo mais que
você está recebendo, você vai ter que ser um pouco mais óbvia. — A
raiva de Dorian está subindo, mas também está fazendo a tensão em
seus ombros e em sua cara.
Em um flash, a maçã bate no chão e arma de Dorian aparece na
mão de Nora, apontando em seu rosto.
Minha mão voa para cobrir minha boca, uma respiração
espantada sugando rapidamente em meus pulmões.
Niklas põe-se de pé, mandando a cadeira de rodas rodar atrás
dele, mas ela não vai mais longe.
— Victor...
— Espere, — Victor me diz, ainda olhando para a tela, mas mesmo
seus nervos estão começando a aparecer um pouco, eu posso dizer por
quanto mais amplo seus olhos estão agora do que estavam momentos
atrás.
Dorian, tentando se afastar dela com as mãos para cima em
rendição, desliza sobre sua cadeira e quase cai, mas se pega um pouco
antes.
— Que merda fodida!
Um tiro abafado atravessa o espaço e o corpo de Dorian empurra
para a direita, sua mão esquerda subindo para cobrir a ferida em seu
ombro; sangue escorre através de seus dedos. Ele grita e tropeça para
trás, tropeçando sobre a cadeira novamente, mas acertando o chão
desta vez. Lutando em seu caminho enquanto ele faz para a parede, ele
olha para a câmera, para nós, e eu quero desesperadamente correr até
lá e ajudá-lo, mas eu sei que eu não posso.
— Você fodidamente atirou em mim! — Levanta o olhar para a
beleza loira parada sobre ele com sua própria arma; ondas de dor
rolando através dele, manipulando suas feições. — Cadela estúpida!
Você fodidamente atirou em mim!
— Confesse — ela exige com a arma apontada para o seu rosto,
— ou você morre e Tessa morre.
— Eu fiz! Eu confessei! — Ele finalmente chega até a parede e se
lança contra ela, precisando dela para segurá-lo. Suas longas pernas
em calças escuras estão esticadas diante dele com botas pretas nas
pontas — entre elas há um par de saltos pretos de seis polegadas.
— Última chance — Nora diz, olhando para Dorian sobre o cano
da arma e o silenciador preso ao final.
Os olhos largos de Dorian enviam dardos para o rosto de Nora e
seu dedo no gatilho.
Demora apenas alguns segundos para chegar ao quarto, soco o
código e explodo dentro com armas de fogo. Mas Nora não hesita; ela
mantém seus olhos em Dorian e a arma apontada para sua cabeça.
— Se qualquer um de vocês atirar em mjm — ela adverte: — há
uma chance de oitenta/vinte que meu dedo vai apertar o gatilho pelo
resto do caminho e que a parede atrás de Dorian Flynn vai parecer
como um Jackson Pollock 5.
Nenhum de nós faz um movimento.
— CONFESSE! — Nora diz estridentemente, e embora eu esteja
de pé muito atrás dela e só posso vê-la de volta, eu sei que seu rosto
está retorcido por sua demanda furiosa.
Olho para Victor de pé ao meu lado com a arma apontada para
Nora. Eu sei que ele poderia tirá-la com um único tiro e de alguma
forma consegui Dorian de ser morto. Eu sei que Victor é melhor do que
qualquer um nesta sala quando se trata de objetivo, tempo e
velocidade. Mas ele não quer atirar em Nora. Ele quer saber o segredo
de Dorian tanto quanto Nora quer que ele confesse.
Niklas deixa cair a arma para o lado dele — o dele é a única sem
um silenciador.
Relutantemente, eu faço o mesmo.
Um som de estouro ecoa pela sala.
— FOOODDA! — Dorian clama novamente quando Nora coloca
outra bala no ombro oposto. — Puta! — Ele ruge, dobrando-se com
ambas as mãos cobrindo seus ferimentos, os braços cruzados em um
X sobre o peito.
Eu começo a me mover para a frente, mas Victor me empurra para
trás com o comprimento de seu braço que sobressaiu para fora em seu
lado.
— TUDO CERTO! PORRA! TUDO CERTO! Eu vou te dizer! —
Dorian levanta a cabeça, pressionando-a contra a parede. Seu peito
sobe e cai rapidamente sob sua camisa preta. O suor tem se juntado
em sua testa, escorrendo pelos lados de seu rosto. Ele dificilmente pode

Paul Jackson Pollock, mais conhecido como Jackson Pollock, foi um influente
5

pintor estadunidense e uma importante figura no movimento expressionista abstrato. Era


reconhecido pelo seu estilo único de salpicar a pintura.
manter seu corpo ereto quando suas costas começam a escovar cada
vez mais distante; apenas as solas de suas botas pousam contra o chão,
os joelhos dobrados, impedindo-o de deslizar para baixo todo o
caminho.
— Eu sou um contratante independente para a Inteligência dos
EUA — Dorian confessa chocando todos na sala — todos menos Nora,
que parece orgulhosa e estranhamente aliviada. Ele olha através do
quarto para nós. Em Victor. — Mas não é o que você pensa — ele diz,
lutando contra a dor. — Eu não estou aqui para te trair, Faust — ele
faz uma pausa para recuperar o fôlego — Eu nunca fui... não é o que
você pensa...
Victor não diz nada. Nem mesmo seu comportamento parece ter
mudado, mas no interior eu sinto que é uma história muito diferente.
— Ponha a arma no chão e chute-a de lado — Victor diz a Nora,
sua arma ainda treinada na parte de trás da cabeça.
Os braços de Nora se erguem ao lado dela em rendição; A arma
deslizando para baixo em seu dedo indicador quando ela libera seu
aperto na alça. Lentamente, ela dá dois passos para trás, longe de
Dorian, agacha-se e coloca a arma no chão. Ela se levanta de volta em
um estande e chuta suavemente para longe do alcance fácil dela ou de
Dorian.
Com as mãos ainda levantadas ela se vira, um sorriso dançando
em seu rosto, seu longo e sedoso cabelo loiro caindo sobre seus ombros
e parcialmente cobrindo um olho castanho.
— Niklas — Victor diz sem mover seu olhar duro de Nora, —
amarre-a. Mãos, pés e torso. E certifique-se de que não há nenhuma
maneira que ela possa sair dela.
— Felizmente — Niklas diz com seu sorriso que é sua marca
registrada e depois sai para conseguir tudo o que ele planeja usar para
amarrá-la.
Minutos mais tarde, Nora está presa a sua cadeira tão apertada
por vários metros de paracord6 que a única coisa que ela parece poder
mover são seus dedos, e sua cabeça.
Ninguém disse nada enquanto Niklas a amarrava, e ainda assim
o ar está repleto de silêncio alguns minutos depois. Dorian, claramente
com muita dor de duas feridas de bala, ainda consegue manter seu
desconforto confinado a expressões faciais e linguagem corporal.
Dois homens de terno entram na sala atrás de nós e Vítor pede
que detenham Dorian e o levem para a cela C.
— Mas você tem que me ouvir — diz Dorian enquanto está sendo
arrastado pelo quarto. — Pelo menos me deixe falar antes de me matar,
Faust. Me dê a chance de me explicar. Não é o que você pensa!
Victor ainda não diz nada, e como sempre, seu silêncio negro fala
mais assustadoramente alto do que as palavras nunca podem
combinar.
— Espere! — Nora chama. — Deixe-me contar uma última coisa
a Dorian antes de você levá-lo embora!
Os homens param na porta e olham primeiro para Victor,
procurando sua permissão. Victor acena com a cabeça, e então os
homens, um em cada um dos braços de Dorian que são algemados
atrás de suas costas, o giram para enfrentar Nora; Seus joelhos quase
tocando o chão.
Ele ergue a cabeça fracamente para olhá-la, a dor manipulando
suas feições enquanto se move através de seu corpo.

6 Paracord: corda de nylon levinha que é capaz de suportar uma carga de 500 libras
ou 250 kg.
— A sua ex-mulher é muito leal — diz Nora. — Nevosa e um pouco
estúpida, mas leal. Eu estava surpresa.
— O que você quer dizer? — Dorian diz com um sorriso sarcástico.
— Ela falou sobre mim. Quer dizer, eu compreendo... o que diabos você
tinha feito com ela?
Nora olha para ele com pena.
— Na verdade — diz ela, os lábios transformando-se nas bordas
— ela não era a pessoa que me disse algo — você era.
Dorian a amaldiçoa enquanto os homens o levam para fora,
lutando em seus apertos. Nós o ouvimos gritar todo o caminho até o
final do corredor até que suas maldições são fechadas pelas portas do
elevador.
Nora olha para nós, aparentemente desamparada em suas
ataduras, mas sempre a mais confiante na sala, apesar deles. Eu
desprezo essa puta. Eu quero ser a única, como todos os demais, tenho
certeza, que a matá-la quando tudo isso acabar.
— Isso deixa só você e o Chacal, não é? — Nora diz a Victor. — E
o tempo está quase acabando. De alguma forma, eu não vejo esse
término bem.
— Se não acabar bem para Dina — eu ameaço, — não vai acabar
bem para você também.
Ela faz uma cara que diz que tudo o que acontece, acontece, e
encolhe os ombros contido.
CapÍtulo ONZE
Victor

Woodard segue-me por um longo trecho do corredor


brilhantemente iluminado em direção as celas; o cheiro de sua colônia
espessa sufocando o espaço ao nosso redor e eu com ela. As solas de
couro de seus mocassins soam odiosamente com cada passo pesado
como ele tenta se manter. Passamos por uma fila de celas vazias no
caminho para a C. Este prédio tinha sido um centro de detenção juvenil
e era perfeito para minhas necessidades, então eu comprei
rapidamente logo depois que Izabel e eu saímos do Novo México.
— Eu não sei o que dizer, chefe — diz Woodard, se desculpando
ao meu lado, — mas não havia nada sobre Dorian Flynn que eu
pudesse encontrar. Não sei como aquela mulher poderia saber.
— Ela não disse, — eu digo enquanto viramos a esquina. — Nora
Kessler é o mais alto calibre de especialista no que ela faz. Você não
deve se sentir inepto.
— O que exatamente ela faz, senhor?
— Um pouco de tudo, parece, mas sua especialidade reside em
conhecer as fraquezas mais importantes da psique humana — amor e
medo. Ela é extremamente notável quando se trata de manipulação —
um mestre de bonecos levando todas as cordas com uma precisão
impecável — e apenas observando-a com cada um de vocês, acho que
cheguei a entender como ela joga este jogo tão bem.
Nós viramos outro canto e nos aproximamos da C. Uma luz
fluorescente pisca no teto para frente, lançando uma sombra modelada
nas paredes. Dois homens estão de guarda do lado fora da cela de
Dorian.
— Como é que ela o joga? — Woodard pede ligeiramente ofegante.
— O que você encontrou na fonte que eu enviei para você
investigar? — Eu pergunto, desconsiderando sua pergunta. Ele saberá
com o tempo, como todos os outros, mas primeiro quero saber mais por
mim mesmo — uma vez que não ouvi toda a conversa durante a
confissão de Izabel, não posso estar cem por cento seguro da minha
teoria.
— Nada até agora, mas eu estou executando uma varredura na
informação que você me deu. Pode render resultados. É uma loucura,
mas essa coisa toda é uma loucura.
— E quanto à amostra de sangue dela?
— Bem, foi para isso que eu vim te encontrar — diz ele.
Eu paro no centro do corredor a uns vinte pés dos homens fora
da cela de Dorian e me viro para Woodard.
Ele recupera o fôlego; gotas de suor no lábio superior; as axilas de
sua camisa xadrez estão descoloridos pela umidade.
— Eu corri através do banco de dados que você a partir da ordem
que me deu — ele começa quando ele abre uma pasta azul na sua mão
— e não houve coincidências com qualquer pessoa dentro da Ordem,
mas havia uma correspondência para um batedor.
Ele me entrega o papel de dentro da pasta.
— Será que "Solis" toca algum sino, senhor? — Woodard não
estava na sala de vigilância quando Niklas estava com Nora.
Sim, ele toca muitos sinos, James Woodard.
— Obrigado por isso — digo a ele, novamente evitando suas
perguntas. Eu dobro o papel em um quadrado e guardo-o no bolso
dianteiro das minhas calças.
A confiança de Woodard retorna sob a forma de um sorriso
inquieto.
— Então, eu fiz bem? — Ele pergunta, sempre precisando da
validação.
Eu simplesmente aceno com a cabeça.
— Encontre-me novamente quando você consegui esses
resultados de volta — eu digo.
— Certo, patrão. — Ele sorri orgulhosamente para si mesmo
enquanto corre de um modo desajeitado pelo corredor e fora de minha
vista.
Os guardas do lado de fora da porta de Dorian pisam para o lado
enquanto eu ando para cima.
— Eles tiraram as balas dos ombros de Flynn, senhor — diz um
guarda, — e o costuraram. Ele pediu que ele não fosse restrito devido
a seus ferimentos, mas seguimos de qualquer maneira.
Deslizando a chave na porta de aço, a fechadura clica com um
eco.
Eu fecho a porta atrás de mim depois de pisar dentro da pequena
sala com apenas uma pequena janela de caixa coberta por barras para
deixar a luz do Sol entrar. Uma cama de metal sobe para fora da parede
de tijolo cinzenta, coberta por um colchão fino. Um lavabo e uma pia
são colocados juntos perto de um canto.
Dorian senta-se na cama de metal com as pernas para o lado,
seus pés botados tocando o chão de azulejo lúgubre. Suas mãos estão
algemadas na frente dele. Ele está sem camisa; o sangue escorre
através das ataduras nos ombros.
Ele levanta a cabeça e olha para mim com preocupação em seu
rosto.
— Eu sei que tenho algumas explicações para dar — ele diz, — e
eu vou, mas talvez agora não é a hora? Estou mais preocupado com
Tessa. Não resta muito tempo.
— Estou fazendo tempo para isso — digo a ele. — Além disso, não
tenho confiança em que Gustavsson venha até aqui antes do prazo de
quarenta e oito horas, então não fará diferença se vou ou não tomar
minha vez com Nora.
Dorian franziu o cenho.
— Então, você está apenas desistindo? — Ele pergunta, apreensão
e descrença manipulando suas feições. — E a senhora Gregory, Izabel
a ama como uma mãe. Você vai desistir dela?
— Não se trata de desistir de ninguém — digo, — mas de enfrentar
a realidade da situação. Sem a cooperação de Gustavsson, todos eles
são tão bons como mortos, e como não houve comunicação com ele,
nenhum sinal de que ele pretende vir aqui, estou simplesmente
mudando meu foco para outros assuntos.
Dorian balança a cabeça e olha para o chão.
— Tessa não sabe nada sobre você, ou qualquer pessoa nesta
Ordem, nem mesmo eu — ele diz em um tom de voz derrotado. Ele
levanta a cabeça novamente. — Era mais seguro para ela dizer-lhe que
eu trabalho para a Inteligência dos EUA.
— Porque você sabe a natureza de ambos — eu digo, já sabendo.
Ele acena lentamente, fazendo caretas enquanto a dor se move
através de seus ombros.
— Talvez não devesse ter dito a ela qualquer coisa — eu indico. —
Um funcionário profissional, seja alguém que trabalha para mim ou
para a CIA ou para qualquer outra pessoa, nunca revelaria um trabalho
tão secreto a ninguém. Você fez isso duas vezes. Primeiro para Tessa,
e depois para Nora, para salvar a sua própria vida.
— Não — ele diz rapidamente, — Eu nunca teria dado a minha
identidade para me salvar. Eu não me importaria se Nora me matasse
— eu só lhe contei porque sabia que se eu não dissesse, mataria Tessa.
Ele está sendo verdadeiro nessas palavras, eu creio firmemente.
— Mas mesmo para ela — eu digo, — você nunca deveria ter lhe
contado nada. Ela é civil. Um inocente. E, dizendo-lhe a verdade, você
a transformou em cúmplice desconhecido. E um alvo.
— Eu sei — ele diz, balançando a cabeça e olhando para o chão
novamente, — mas quando se trata dela, eu sou fraco. Eu sempre fui.
Você deve saber, Faust — seus olhos se fecham nos meus — você ama
Izabel. Você deve entender por que eu tive que dizer a Tessa alguma
coisa .
— Você disse a ela simplesmente porque ela tinha suspeitas — eu
digo. — Eu poderia ficar aqui o dia todo e lhe dizer por que essa razão
é inaceitável, mas não é por isso que eu vim.
— Você vai me matar? — Ele pergunta quase apático.
Dorian Flynn não tem medo de morrer, e uma parte dele eu
acredito que quer. Talvez ele tenha pensado sobre a morte mais do que
qualquer um de nós, eu não sei, mas não há escassez de desespero em
silêncio dentro deste homem. O rosto sorridente e bizarro que ele usa
diante de todos nós é apenas uma máscara que cobre uma alma um
pouco perturbada.
— Você tem cinco minutos para explicar — eu anuncio. — No final
desses cinco minutos, vou saber se vou ou não matá-lo.
Ele balança a cabeça.
Uma traição como esta, quando um operário trabalha
secretamente para outro empregador sem o meu conhecimento, quase
sempre chegaria com as mais pesadas consequências — a morte
imediata. Mas deve-se ter cuidado para distribuir tal sentença antes de
primeiro saber daquela pessoa que informação foi vazada, e para quem.
E o fato de que ele é um empreiteiro privado para a Inteligência dos
EUA também significa que devo estar preparado para ter mais do que
apenas Vonnegut e A Ordem caindo sobre nós, se eu matá-lo.
Dependendo da natureza de seu status com seus superiores e que tipo
de contratante privado Dorian é, pode ser mais inteligente mantê-lo
vivo.
— Eu sou um agente da SOG7 — diz Dorian, — e no caso de você
pensar que eu sou fácil de quebrar, que se você fosse me enviar em
uma missão e esperar que eu quebre se eu ficar comprometido, você
está errado. Fui comissionado apenas para observar e reunir
informações primeiro. Mas, quando o momento fosse adequado, eu
tinha permissão para me aproximar do líder e dizer-lhe a verdade sobre
quem eu sou, e então apresentar o acordo preparado pelo nosso
governo — eu ia dizer a verdade eventualmente.
— Você disse que se aproximava do líder.
Ele balança a cabeça.
— Sim. Minha missão começou na organização de Bradshaw,
antes de você assumir e eu me tornei uma parte do seu. A CIA vem
procurando Vonnegut há mais de trinta anos. Tipo como aquele súcubo
lá fora — ele acena para a parede, indicando Nora — Vonnegut é um
fantasma. Ninguém que eu já conheci ou ouvi, nem sabe como ele é,
ou se ele é mesmo um homem. Só quando pensávamos que tínhamos
ele, descobriríamos no último minuto que o suspeito era apenas um
chamariz. Não há maior recompensa na cabeça de qualquer homem
neste planeta do que aquela pela sua.
— Então você foi implantado na organização de mercado negro
Bradshaw, na esperança de encontrar informações sobre Vonnegut? —
Eu acredito que eu sei o resto da história, mas devo ter certeza.
— Sim — responde Dorian. — Tentei entrar na Ordem dez anos
atrás, mas não consegui. Não era como se estivessem fazendo pedidos.

7 Divisão de Atividades Especiais: departamento responsável de reconhecer as informações em regiões de

países hostis. É a mais alta associação de militares dos Estados Unidos.


Era impenetrável. Esquivo. Então, eu resolvi ir para um dos mercados
negros. Muito mais fácil de entrar, eu acho, porque eles não são tão
cuidadosos pela forma como fazem negócios. Quem mata pessoas
inocentes por dinheiro é muito cego pela ganância para se preocupar
com riscos e escolhas imprudentes.
— E você supôs que porque os mercados negros e a Ordem
estavam no mesmo negócio, que estar no interior de um acabaria
levando você a Vonnegut.
Ele acena de novo.
— Eu sei que era forçado, mas era tudo o que eu tinha que
continuar. Microsoft e Apple são duas entidades diferentes no mesmo
negócio, em concorrência uns com os outros, mas eles se mantêm
visíveis um para o outro, porque eles devem fazer isso. Conhecer a sua
concorrência, certo? — Ele encolhe os ombros, e depois recua quando
ele percebe que não era uma boa ideia, considerando o estado de seus
ombros — Mas, se vale alguma coisa — acrescenta. — Olhe onde estou
agora — ele riu de si mesmo — em uma pilha de merda onde algum
bastardo com nariz de um adolescente que se masturbou enquanto
cumpria a sua ordem, mas o meu patrão é um homem que estava mais
perto de Vonnegut do que qualquer outro homem que eu já conheci.
— Então, qual foi esse acordo do governo? — Pergunto, evitando
propositadamente suas acusações.
— Uma parceria — diz ele. — Em troca de todas as informações
sobre Vonnegut e uma caça em curso para ele, os Estados Unidos
permanecem surdos e cegos às suas operações, e, além disso, iria
fornecer-lhe todos os elementos essenciais de fundos necessários, a
autorização para arquivos top secretos, qualquer coisa, quando
trabalham em uma tarefa para nós.
Eu levanto uma sobrancelha.
— Trabalhando para você? — Reitero com um pouco de descrença.
— Não tenho nenhum interesse em trabalhar para outra pessoa que
não os meus clientes. Eu não deixei a Ordem para me tornar um
escravo de outro empregador. Eu sou o empregador. E é assim que
permanecerá.
— Bem, eu não quis dizer isso assim — ele diz, retrocedendo, —
apenas que existem alguns criminosos que não podem ser pegos,
pessoas sobre as quais precisamos de mais informações, mas que não
poderíamos conseguir. Sua Ordem, Faust, é o tipo de organização que
pode fazer essas coisas mais rápido do que podemos. Às vezes é preciso
um assassino para conhecer um assassino, um espião e um ladrão
para conhecer os movimentos de um espião e um ladrão. Sem
mencionar Gustavsson... Tenho de dizer que conheci muitos
interrogadores, mas nunca conheci alguém como ele. Mas seria uma
parceria, seríamos como clientes, mas com muito mais dinheiro e
meios.
Olho para a janela pequena caixa momentaneamente em
pensamento.
— Mas mesmo assim — digo, olhando para Dorian - não tenho
interesse. Diga-me, por que Vonnegut exatamente? Por que a
recompensa em sua cabeça é a mais alta? E se o governo está
procurando empregar, ou trabalhar com uma organização como a
minha, por que haveria uma recompensa em sua cabeça? Por que não
apenas buscam Vonnegut e sua Ordem para esta parceria? A sua é
maior do que a minha e tem estado em torno por um tempo muito a
mais.
— Porque temos razão para acreditar que Vonnegut é muito mais
do que o líder de um anel de assassinato — ele começa. — Ele também
trata de armas, drogas e meninas. Dubai. Colômbia. Brasil. Venezuela.
México. Ele está em toda parte. Ele não tem fronteiras. Também
acreditamos que ele vende armas e informações a terroristas.
— Você acredita — eu digo, — mas você não tem prova disso.
— Não — ele responde solenemente, balançando a cabeça. — Nós
temos o tipo de evidência que está ali à beira de ser uma prova
irrefutável, quando tudo isso se acrescenta e tudo aponta para ele e
você sabe que ele é o cara, mas não é apenas o suficiente para
realmente provar isso. É por isso que precisamos de informações
privilegiadas para conectar os pontos, para preencher os buracos.
Dorian estremece e ajusta seu corpo na armação de metal,
tentando endireitar as costas. Seus dentes superiores apertam abaixo
sobre seu lábio inferior e seu rosto endurece em uma exibição
agonizante.
— Olhe, — ele diz com um suspiro pesado, — minha intenção era
nunca trair você. Nenhum de vocês. Eu não espero que você acredite
em mim depois de hoje, mas eu não penso em mim como apenas um
outro operatório seguindo ordens, ou um espião — eu realmente gosto
de estar aqui. Vocês todos parecem como minha família. Mas se você
pretende me matar, eu não vou implorar por minha vida, Faust. Eu
não sou o tipo implorando. Mas para Tessa, estou lhe pedindo para
fazer o que puder para ajudá-la. Nada disso é culpa dela.
Vou para a porta.
— A coisa é, Flynn, — eu digo, virando-me para olhar para ele, —
Você me traiu, alimentando informações sobre o meu fim para os seus
superiores. Enquanto você estiver conosco, não há nada que possa
dizer para me fazer acreditar que você não relatou o que sabe sobre nós
até agora.
— Eu não tentaria dizer que eu não fiz isso.
Eu aceno e abro a porta.
— Eu vou voltar para você depois que este outro problema estiver
resolvido. Você saberá minha decisão então.
— Ei — ele grita e eu paro sem me virar para olhar para ele, —
posso pelo menos conseguir alguns analgésicos?
Fecho a porta sem dizer uma palavra.
CapÍtulo DOZE
Izabel

Com apenas cerca de seis horas antes das quarenta e oito, eu


passo a maior parte do tempo assistindo Nora da sala de vigilância,
tentando descobrir quem ela é. Pelo menos um de nós deveria saber,
mas até agora... nada.
Ela se senta amarrada a essa cadeira; suas pernas, tornozelos e
torso embrulhado muitas vezes e puxadas tão apertado que ela
dificilmente pode mover; seus antebraços e pulsos estão ligados aos
braços metálicos, além das correntes e algemas. Mas apesar de tudo
isso, ela não parece desconfortável. É como se ela não fosse estranha a
isso; ou isso, ou ela tem tanta paciência e disciplina que ela pode tolerar
isso.
Eu a odeio. Eu a odeio pelo que ela fez a Dina. Para as filhas de
Woodard. E ainda, mesmo que pareça que Dorian é um traidor, eu
odeio o que ela fez a sua ex-esposa. Eu a odeio por me fazer dizer a ela
o segredo mais sombrio que eu já tive.
Mas o que eu não entendo é como eu também posso invejá-la.
Nora Kessler é quem eu estive me esforçando para me tornar
desde que eu conheci Victor e escolhi esta vida com ele — forte,
inteligente, habilidosa, confiante, mas acima de tudo... levada a sério.
Ela é uma maldita mestre e eu sou uma novata. Se ela fosse muito mais
velha do que eu, na casa dos trinta ou quarenta talvez, eu não me
sentiria tão amadora em comparação a ela, mas ela não pode ter
apenas alguns anos a mais que eu. Como no inferno ela pode ser tão
experiente?
Nora olha para a câmera, tirando-me dos meus pensamentos. Eu
sinto que ela está olhando para mim mesmo que ela não possa me ver,
e eu recebo a súbita vontade de falar com ela novamente. Eu não sei
por que, mas a necessidade é forte e eu me encontro lutando contra
ela.
Ela sorri como se soubesse que alguém está assistindo e eu olho
para longe da tela.
Niklas está sentado à minha direita, lendo uma revista. Um
cigarro está escondido atrás de sua orelha. Uma xícara de café senta-
se na mesa ao lado do seu cotovelo.
Ele ainda não falou muito comigo desde a sua confissão com Nora.
E isso está começando a me irritar.
— Você não tem que ser um idiota — eu digo.
Ele desliza um dedo entre as páginas e vira uma mais
casualmente.
— Sim, eu sei — ele diz calmamente e sem olhar para cima. — Eu
não fui sempre?
— Sim, na verdade você é um profissional em ser um pau — eu
digo, — mas eu acho que eu prefiro o rude, nervoso, sobre este
tratamento silencioso.
— Eu não me lembro de ter lhe dado uma escolha. — Ele vira
outra página.
Eu suspiro.
— Niklas, o que aconteceu com Claire não é minha culpa.
— Nunca disse que era. — Ele ainda não olhou para cima, ou
levantou o tom acima do meu realmente-me-importa-uma-merda.
— Mas por que você me odeia tanto? Porque ela morreu? Seu
irmão não pode ser feliz?
Finalmente ele olha para cima e seus olhos se prendem aos meus;
a página meio virada pausa em seu dedo.
— Feliz? — Ele sorri com descrença simulada. — Há um punhado
de palavras que realmente não se aplicam a este tipo de vida, Izabel —
realmente doí que dessa vez que ele não me chama Izzy — e "feliz" é
uma delas. Isso é para pessoas com lindas cercas brancas e crianças
malcriadas e merda.
Ele fecha a revista e a atira sobre a mesa; ela cai em um teclado.
Então ele se inclina para a frente; o sorriso ainda presente em seu rosto
sem barba agora atado com zombaria.
— O que foi que Nora disse para você quando você estava lá com
ela, antes que o áudio fosse desligado? Inexperiente, muito confiante e
muito longe em sua cabeça, era algo assim. — Ele faz uma pausa. —
Bem, ela estava certa.
Eu engulo meus sentimentos feridos e minha vergonha, e puxo
todas as minhas forças para evitar que ela apareça.
Niklas se inclina de volta à cadeira e cruza os braços sobre o peito.
Ele apoia sua bota esquerda em cima do seu joelho direito.
— Você nunca deveria ter sido trazida para cá — continua ele. —
Você nunca deveria ter sido permitida a saber o que fazer, muito menos
sendo alimentado com a ilusão de pensar que você poderia fazê-lo
também. Você não apenas decidi um dia que você quer ser uma
assassina de aluguel, ou uma espiã profissional. E você nunca será.
Você pode realizar seu próprio em algumas missões, você pode "provar
o seu valor" — ele faz aspas com os seus dedos — mas você nunca
estará no nível do meu irmão, ou no meu, não importa o quanto você
treine, porque você não nasceu para esta vida ou começou a treinar
jovem. — Ele balança a cabeça, olha para a porta da sala de vigilância
e, em seguida, diz: — você realmente acha que Victor alguma vez —ele
aponta um dedo para cima — confiável você indo em uma missão sem
ele ou um de nós para protegê-la? Pense nosso, você esteve em uma
missão sozinha? Victor já a enviou a uma sozinha? — Ele balança a
cabeça novamente, desta vez em resposta a sua própria pergunta? Um
sorriso vago em torno de seus olhos azul-esverdeados. — E nunca o
fará. Mesmo quando você pensa que está sozinho, sabe que seus
homens estão nas soabras observando você. — Ele pega a revista de
volta e a abre no centro. — Uma missão solo nunca acontecerá. Pelo
menos não até que ele percebe que você precisa morrer, então ele vai
mandar você para fora por sua própria conta. Vai ser mais fácil para
ele do que tolerar do que matar você.
As palavras de Niklas atravessaram-me como uma lâmina
maçante através da carne e osso. Meu estômago nada com humilhação
e dor. Durante muito tempo, eu não posso nem olhar para ele, não com
raiva por suas palavras cruéis, mas por vergonha, porque eu acredito
neles. No fundo, eu acho que sempre vou acreditar nelas.
— Você é um bastardo, Niklas.
— Eu sei — ele diz, olhando para cima. — Eu sou um bastardo no
sentido técnico, também, porque meu irmão matou nosso pai. Você
pode matar alguém que você ama? Você pode deixar Dina Gregory
morrer? Porque está em todos os nossos melhores interesses que ela
morra, e você sabe disso. Isso nunca deveria ter acontecido, Izabel.
Membros da família e laços com ex-esposas de fora são apenas
fraquezas.
— Você saberia — respondo com frieza, referindo-me a Claire.
Eu nunca teria usado algo assim contra ele, inclinando-se para o
seu nível sem coração, mas ele só saiu como palavra vômito.
Seus olhos se endurecem ao redor das bordas, mas ele não deixa
que meu comentário o perturbe o suficiente para desvendá-lo.
— Sim, eu gostaria de saber — diz ele com um aceno de cabeça e
se inclina para a frente. — Claire foi o maior erro da minha vida. Eu
amei ela. Eu nunca vou negar que a ninguém, o não restará
importância, eu fodidamente amava Claire e eu teria morrido por ela.
Mas, esse foi o meu momento de fraqueza, Izabel. Acho que todos temos
direito a pelo menos um. Não existe tal coisa como o amor, ou a
felicidade, fazendo a merda que nós fazemos. Meu irmão pode te amar,
eu realmente não posso dizer que ele não a ama, mas isso faz de você
sua única fraqueza. E você conhece Victor. Você pode estar delirando
pensando que você se encaixa nesse tipo de vida de alguma forma, mas
você não é uma garota estúpida. Você sabe que meu irmão é menos
humano do que eu. Há quanto tempo ele irá permitir que você
comprometê-lo? — Ele aponta severamente para mim — Victor está
experimentando seu único momento de fraqueza que tem direito agora,
assim como eu fiz com Claire. Assim como Gustavsson fez com
Seraphina. E veja o que o amor fez com Flynn, bem na frente dos seus
olhos. Agora é a vez do meu irmão, como um rito de passagem, mas
quanto tempo vai durar?
Eu olho para longe dele e volto para a tela, encontrando mais
conforto com Nora do que com o filho da puta sentado na sala comigo.
Como posso odiá-lo agora mais do que ela?
— Mas, de alguma forma fodida — diz ele como meu olhar focado
penetra o véu brilhante na minha frente — você é o tipo da minha
fraqueza, também.
Eu paro de respirar por um segundo afiado.
— Eu acho que me sinto responsável por você — continua ele. —
E eu acho que sinto que te devo porque eu tentei te matar uma vez.
Eu olho, mas não digo nada.
Niklas sacode a cabeça, e a bota apoiada no joelho salta para cima
e para baixo algumas vezes.
— Como diabos isso funciona exatamente? — Ele pergunta; seus
olhos rígidos ao redor das bordas, suas sobrancelhas arqueadas.
Eu ainda não digo em nada. Porque eu não sei. E eu não acho que
a questão era realmente para mim, tanto quanto era apenas ele
pensando em voz alta.
— Sequelas— ele responde a si mesmo. — Eu acho que Claire me
deixou com uma consciência. É como uma cicatriz. Uma vez lá, está lá
para sempre. A menos que você tente cortá-la. Mas isso só a torna mais
profunda, então você deixa a merda sozinha.
Niklas solta uma respiração pesada e se levanta. Ele traz sua
xícara de café para seus lábios e toma um pequeno gole.
— Bem, você não tem que se sentir responsável por mim, — Eu
atiro de volta — e eu com certeza não quero que você seja. Limpe suas
mãos de mim, Niklas, e faça um favor a nós dois. Além disso, não é
para mim que você tem uma fraqueza; é seu irmão. E nós dois sabemos
que a única razão que você me tolera, a única razão que você disse a
Nora sobre Claire para ajudar Dina, foi por causa de Victor.
Ele pega o cigarro por trás da orelha e o coloca entre seus lábios
com um sorriso esguio.
— Sim, eu acho que você está certa — diz ele.
Eu olho para a tela, com a intenção de largar isso.
Então algo que ele disse antes de repente me chama a atenção do
nada — mas você nunca estará no nível do meu irmão, ou no meu, não
importa o quanto você treina porque você não nasceu para esta vida.
— Nora nasceu para isso, — eu digo, olhando para ela. — Não há
nenhuma maneira, ela é tão boa como ela é jovem, a menos que ela
nasceu nisso.
Olho para Niklas.
Ele dá de ombros; o cigarro apagado pendendo de seus lábios.
— Sim, acho que é lógico — diz ele, — mas isso ainda não nos diz
muito.
— Não muito, mas alguma coisa — eu digo. — Vou voltar a falar
com ela.
Niklas sacode a cabeça e tira o cigarro da boca, encaixando-o
entre os dedos.
— Não acho que seja uma boa ideia, Iz.
Eu levanto-me e ir para a área onde a panela de café, micro-ondas
e mini frigorífico são mantidos, estalo abrindo a porta do frigorífico e
recupero uma garrafa de água.
— Bem, eu estou fazendo isso de qualquer maneira — eu digo a
ele. Paro antes de chegar à porta e olho diretamente para Niklas com
um olhar atento. — Talvez eu nunca seja tão boa quanto Victor, ou
você, ou tecnologicamente inteligente como James Woodard, ou tão
assustadora como Fredrik, mas há uma coisa que eu sei que sou boa
porque eu tenho feito praticamente toda a minha vida, mesmo desde
antes que minha mãe me levava para o México: me adaptando. Aprendi
a ler meus inimigos, qualquer um que pudesse me fazer mal, se era um
dos namorados bêbados da minha mãe ou traficantes, aprendi a
sobreviver sem sair como ela. — Aponto o dedo para ele. — E quando
eu estava no México, sobrevivi ao transformar meus inimigos um
contra o outro. Eu não era a favorita de Javier quando fui lá pela
primeira vez. — Eu balanço a cabeça e solto minha mão de volta ao
meu lado — não, eu era como todas as outras garotas, batida quase à
morte por Izel diariamente, estuprada pelos homens, sim, fui estuprada
por eles, admito. Mas eu me adaptei para sobreviver. Eu fiz Javier
confiar em mim. A confiança tornou-se proteção. Proteção tornou-se
amor. O amor tornou-se obsessão. Foi por minha causa que Javier
voltou-se contra a sua irmã.
Eu passo direto para o rosto de Niklas, olhando para os poucos
centímetros que eu preciso para ver seus olhos enquanto ele se
aproxima de mim em sua altura alta.
— Eu nasci para isso, — eu digo a ele com firmeza; meu dedo
pressionando no centro do peito — para se adaptar ao meu inimigo,
que é a minha arma.
E então saio feito uma tempestade e desço as escadas para provar
a ele e para mim mesma — talvez mais para mim mesma — que eu sou
tão valiosa para esta organização como qualquer um deles é.
CapÍtulo TREZE
Izabel

Caminhando direto para Nora na mesa, eu quebro o selo na


garrafa de água e torço a tampa.
— Você está com sede? — Pergunto sem emoção no rosto.
Nora sorri esguia e só olha para mim de suas cordas, correntes e
algemas.
— Você está jogando como o bom policial? — Ela pergunta com
humor zombeiteiro. — Este é um dos seus cartões de último recurso,
vindo aqui com um gesto amável para me fazer confiar em você, então
eu vou ter piedade de seus entes queridos e dizer-lhe onde eles estão?
— Não — digo imediatamente, inflexível.
— Estou enfrentando a realidade. Dina, Tessa e as filhas de
Woodard são tão boas quanto mortas, tanto quanto eu estou
preocupada porque meu instinto me diz que Fredrik não vai chegar
aqui a tempo. Em tudo.
— O cartão de súplica então? — Nora presume.
Eu balanço a cabeça.
— Eu não estou aqui por eles em tudo — eu digo de frente e, em
seguida, gentilmente aceno a garrafa de água lado a lado na minha
mão. — Você quer ou não?
Nora olha para mim e para a garrafa com desconfiança, mas
depois cede.
— Sim, uma bebida seria legal.
Coloco a abertura em seus lábios e inclino-a cuidadosamente para
que não derrame tudo de uma só vez. Quando ela tem o seu
preenchimento, eu coloco a garrafa sobre a mesa e depois tomo o
assento na frente dela.
— O que faz você pensar que ele não virá? — Ela pergunta.
— Porque Fredrik é um homem diferente — digo - um tipo de
animal muito diferente do que costumava ser. E ele não joga mais.
Confie em mim; Seraphina Bragado era muito melhor do que você.
Nora sorri com os lábios fechados.
— Eu acho que ela era — ela admite. — Mas ela também estava
fora de si — literalmente, de fato — então ela certamente tinha uma
vantagem. — Ela pausa, suspirando de uma forma como se estivesse
lamentando. — É uma verdadeira vergonha o que aconteceu com ela,
com Fredrik. Até eu estava um pouco chateada quando descobri, e não
é uma coisa fácil de fazer, quebrar meu coração.
Minhas sobrancelhas franzem-se com confusão.
— Como você sabia sobre Seraphina e Fredrik, afinal?
Os lábios de Nora aparecem nos cantos, e um olhar de conjectura
aparece em seus enigmáticos olhos castanhos.
— Então é a informação que você quer — ela acusa.
Suspiro e balanço a cabeça, olhando para baixo em meu colo
brevemente antes de levantar os olhos novamente.
— Olha, Victor nem sequer sabe que eu estou aqui — eu digo, —
Niklas sabe porque eu disse a ele que eu estava vindo. Ele estava
contra, mas eu não me importava. Estou aqui por razões minhas. Eles
não têm nada a ver com Dina ou com toda esta situação, está bem?
Acredite em mim ou não, eu não me importo de qualquer maneira.
Ela me olha com um olhar sutil e de soslaio, observando-me;
minha linguagem corporal e meu humor, procurando o menor
fragmento de engano que ela não encontrará porque, em certo sentido,
tudo o que estou dizendo é verdade.
Num sentido…
Há um longo momento de silêncio e então ela diz:
— Como eu sei que as coisas realmente não têm nenhuma
influência sobre isso, então eu vou te dizer como eu sabia sobre Fredrik
e Seraphina — apenas para a conversa. — Ela sorri. — Eu segui você
como eu fiz Dorian Flynn — seguir alguém realmente não é tão difícil,
a menos que seja Victor Faust; descobri isso da maneira mais difícil.
Mas você era fácil, especialmente sempre que você iria por conta
própria. — Ela faz uma pausa e olha para cima pensando. Então seus
olhos caem sobre os meus de novo. — Pense na reunião que teve com
Fredrik em Baltimore. O conservatório, particularmente Casa do
Deserto onde você se sentou com ele e falou sobre Seraphina e Cassia.
Puta merda... Eu sei o que ela vai dizer. De repente, seu rosto
salta em minha mente, um flash seu do passado que eu tentava
desesperadamente encontrar antes, mas não conseguiu.
Eu me lembro dela agora...
— Você era a mulher com o homem e a criança que caminharam
quando eu estava conversando com Fredrik lá fora.
Ela sorri ligeiramente, mais orgulhosa de mim do que ela, parece,
que é estranho.
— E quando entramos para sair do frio, você apareceu na Casa
do Deserto com a gente, parecendo uma família normal.
— Muito bem — diz ela. — Eu estava em muitos lugares seguindo
você ao redor daquela época: a cafeteria onde você se encontrou mais
tarde com Fredrik para dar-lhe os documentos que James Woodard
encontrou de Cassia Carrington - eu realmente li os documentos antes
de Fredrik.
Meus olhos vincam com confusão.
— Você os deixou no banco da frente do seu carro — ela revela. —
Eu estalei a fechadura no lado do motorista na noite antes de você se
encontrou com Fredrik enquanto você estava confortável em sua cama
com Victor Faust. Você nem ligou o alarme do carro.
Eu tento engoli a humilhação dos meus erros, mas o caroço é
muito grande na minha garganta.
Nora olha para mim com uma estranha expressão de empatia.
— Gostaria de dizer o que eu disse a Dorian Flynn, e não seja tão
dura consigo mesma, mas a verdade é, e eu só digo isto porque a
verdade é o que você precisa ouvir, mas você deve estar envergonhada.
Eu não lhe disse que você estava sobre a sua cabeça porque eu estava
apenas tentando ficar sob sua pele, Izabel. Você realmente está acima
da sua cabeça. E mais cedo ou mais tarde, você vai se matar. Ou outra
pessoa.
Olho para a parede atrás da cabeça, silenciosa e imóvel, perdida
em pensamentos.
— Mas você não foi a única entre os seis de vocês que às vezes era
fácil de seguir, fácil de enganar. Você pode me dar outra bebida? — Ela
olha para a água.
Absurdamente, levanto-me e pego a garrafa na minha mão,
estendendo a mão sobre a mesa e colocando-a em seus lábios. Ela bebe
e então me sento de novo, ainda perdida em meus próprios
pensamentos profundos, mas ao mesmo tempo escutando cada uma
de suas palavras e absorvendo-as.
— Fredrik era uma bagunça — diz ela. — Por um longo tempo, na
verdade. O tempo todo ele tinha Cassia no seu porão. Eu não conseguia
encontrar muito dele antes que ele a encontrasse. Mas, uma vez que
ele fez isso, foi quando ele começou a se perder. Ele começou a
escorregar, não cobrindo suas pegadas. Ele não estava mais em alerta,
olhando por cima do ombro como Victor Faust faz cada segundo de
cada dia. Fredrik estava cego por seu amor por Seraphina. E por
Cassia. O amor torna uma pessoa vulnerável, até mesmo o ser humano
mais hábil, mais inteligente e mais inquebrável. É apenas como as
coisas são. Nenhum de nós pode ajudá-lo. Alguns são melhores em
controlá-lo do que outros — Victor Faust, por exemplo. Ele ama você e
não escorregou demais. Mas isso não quer dizer que ele não o fará com
o tempo.
Assim como com minha conversa com Niklas mais cedo, cada uma
das palavras de abertura de Nora me cortou até o osso.
— James Woodard — prossegue Nora - o único tipo de amor que
o homem tem é por suas filhas. Ele é incapaz de amar uma mulher,
mas ainda é amor, e ainda o torna vulnerável. Dorian Flynn - clássico
caso de querer o que você não pode ter. Pobre rapaz. E Niklas? Bem,
esse está em um outro nível. Ele é irmão de Victor, afinal de contas, e
eles são semelhantes em muitos aspectos. — Ela tenta se inclinar para
a frente, instintivamente, mas acaba apenas deixando cair a cabeça um
pouco por causa de suas ligações. — Entre você e eu, a menos que ele
esteja ouvindo — olha rapidamente para uma câmera — Niklas não
quebrou. Oh, eu acredito que ele teria que proteger Dina Gregory para
você, mas ele não quebrou assim. Ele não tem que quebrar. Você quer
saber por que?
Eu não respondo, mas ela sabe que minha resposta é sim.
— Porque Niklas queria me dizer sobre Claire — ela responde. —
Eu imagino que ele tem estado mantendo ela engarrafada dentro de si
por tanto tempo que estava lentamente matando ele. Eu não sei ao
certo, mas é a natureza humana e que se espera. Nós não podemos
segurar esse tipo de dor por dentro para sempre. Mas Niklas não
quebrou. — Ela balança a cabeça. — E sim, ele queria me estrangular,
mas por causa do que aconteceu com Claire, não porque eu estava
forçando-o a falar sobre isso.
— Como você sabe tanto? — Eu pergunto. — E antes de começar
a me acusar de tentar obter informações – eu estou, pelo amor de Deus,
mas é só porque eu realmente quero saber por mim mesmo. Eu... talvez
não possa ajudar Dina, mas... — aquele caroço finalmente desce pela
minha garganta. Faço uma pausa e digo em vez disso: — Você tem
razão, Nora; estou muito longe da minha cabeça. Uma parte de mim
quer matar você, e eu ainda posso, não me interpretem mal, mas outra
parte de mim... — Eu não consigo dizer isso.
Eu desvio o olhar.
— Você quer conselhos — diz ela, sabendo. — Você se sente como
a menina sentada na mesa de adultos nesta Ordem. E você me ressente
porque eu sou tudo o que você quer ser. — Ela pega meu olhar,
segurando-o lá sem esforço. — E você está começando a se sentir
ameaçada.
E ela estaria certa.
Antes de Nora, eu era a única mulher. Não a única mulher na
organização de Victor, mas a única no interior, no Círculo Interior. Com
Nora aqui, não posso deixar de me sentir ameaçada, e eu não entendo
por que. Porque ela é o inimigo.
De repente, eu gostaria de ter entrado aqui sem Niklas sabendo
porque eu não quero que ele ouça nada disso.
— Talvez eu seja — eu digo — nós duas sabemos que é verdade,
mas nós duas sabemos que sou orgulhosa demais para admiti-lo
completamente. — E talvez eu só queira te entender, como você pode
ser do jeito que você é, sabendo das coisas que você conhece.
Faço uma pausa e abaixo a voz para um sussurro, inclinando-me
sobre a mesa. — Como diabos você sabia sobre... México? — Eu não
quero dizer as palavras incriminatórias, bebê, nascimento, etc., porque
eu sei que Niklas está ouvindo. — Eu duvido que você estivesse me
seguindo na época, muito menos sabia que eu existia.
Um sorriso astuto aparece nos lábios de Nora.
— Eu não estou revelando todos os meus segredos — ela diz
simplesmente e deixa isso assim.
Eu não esperava que ela dissesse, mas valeu a pena um tiro.
— Diga-me isso — ela diz de repente, — você o ama?
— Quem?
Ela inclina a cabeça de um lado, um olhar que lê você-sabe-quem
em seu rosto.
— O que isso importa? — Eu digo evasivamente.
— É só uma pergunta — diz ela. — Era o passado. Você o amava?
Lentamente, eu aceno.
— Não sei como aconteceu — começo a explicar, olhando para a
mesa, — mas sim, eu fiz por um tempo. Havia dias em que eu não
poderia estar sem ele, não por causa de Izel, mas porque... doía por
dentro. Javier era um homem cruel e brutal, mas ele me amava e era
gentil comigo. — Eu levanto os olhos e olho diretamente para Nora. —
Isso pode ser difícil de acreditar, mas Javier nunca me bateu. Pelo
menos não por violência ou raiva. Ele fez para me punir... fez coisas
para mim... sexualmente, que alguns possam pensar é violento, mas
eu não pensava. Pelo menos não depois de um tempo.
— Você gostou, — Nora diz igualmente.
— Eu gostei.
Sentindo-me desconfortável e exposta demais, volto ao tópico
anterior, não querendo aprofundar esse aspecto do que já fiz.
— Mas, sim, houve um tempo que eu amei Javier. É doentio, eu
sei. Eu não preciso de você para me dizendo isso, ou olhando para mim
como se eu fosse algum tipo de aberração. Você não pode entender a
menos que você tenha vivido, e suas palavras, opiniões e acusações
significam merda de merda para mim. Chame-o de síndrome de
Estocolmo também, se você quiser, seja o que for, mas sim, eu o amei
por um tempo. — Eu diminuo quando percebo o quão excessivamente
defensiva eu me tornei.
— Eu nunca iria julgá-la dessa maneira — diz ela. — Eu sei o que
é ser aterrado em uma vida que não é sua escolha.
Ela não oferece mais do que isso.
— Mas você continua dizendo "por um tempo" — Nora volta. —
Quando você parou de amá-lo e por quê?
Eu sorrio para ela e cruzo meus braços, inclinando-se para trás
em minha cadeira.
— Não vou abrir mão de todos os meus segredos — digo.
Ela sorri com um aceno de cabeça.
— Justo.
Então ela tenta se ajustar na cadeira, finalmente exibindo um
olhar de desconforto, mas não dura muito tempo.
— Você não deve se sentir ameaçada por mim — ela diz e tem a
minha atenção. — Eu não vim aqui para isso. E eu não estou me
exibindo; eu fui feita assim. Estive fazendo isso toda a minha vida,
Izabel, desde o momento em que fui arrancada das pernas de uma mãe
que nunca conheci. É como aprender sua língua nativa — você cresce
fluente e nunca pode ser esquecida ou apagada, e você fala, escreve e
ouve com uma perfeição que aqueles que não falam sua língua só
podem invejar. Eles podem tentar aprendê-la mais tarde na vida, mas
muito poucos se adaptarão a ela tão bem que eles percam seu sotaque
inteiramente. Eu fui feita desta forma. E eu não sei mais nada. E você,
não importa o quão duro você treine, ou o quão bom você seja, nunca
perderá seu sotaque.
— Mas isso não significa que eu não sou valioso para eles — eu
digo, embora ainda tentasse me fazer acreditar, também. — Eu não
quero ser apenas a mulher de Victor, sua amante. E eu sei que todo
mundo, quando eles olham para mim, é tudo que eles vêem.
— Isso é algo que você nunca será capaz de mudar — diz ela. —
Quando me envolvi com meu primeiro civil enquanto trabalhava no
campo, algo aconteceu comigo que eu nunca esperei — comecei a me
importar. Eu vi como esse homem vivia, como ele amava sua esposa,
seus filhos; Eu invejava seu trabalho de escritório monótono e
existência mundana. Eu nunca tive nada assim antes. Eu nunca soube
o que era — uma vida civil normal, porque a primeira respiração que
eu tomei estava cheia de treinamento. Quero dizer isso no sentido
literal, como uma recém-nascida, eu estava em treinamento.
Eu sei que devo ficar horrorizada, mas não consigo me fazer
parecer de outra maneira.
— Aquele homem — ela prossegue, — quando eu o vi e sua esposa
com seu recém-nascido, eu tinha quatorze anos de idade. Eles me
contrataram como babá. Mas a maneira que amavam aquele bebê, a
maneira como a mãe a segurava em seus braços, acariciava sua
pequena cabeça calva, beijava seu minúsculo nariz; fiquei intrigada
com isso porque os bebês de onde vim não foram tratados com tanta
bondade e amor, e foi tão estranho para mim. De onde eu venho, a
partir do momento em que os bebês nascem, não há ninguém nos
berço, ou para acariciar suas cabeças, ou cantar para eles, ou pegá-los
a cada vez que eles choram. Eles são alimentados e eles são vistos por
um médico para se certificar de que eles permanecem saudáveis, mas
ninguém os ama ou pensa que eles são bonitos. Ninguém se sente
culpado por deixá-los em seus berços e deixá-los chorar para dormir.
Crescem soldados disciplinados e endurecidos, e não sabem mais
nada. Mas aquele homem que me mandaram matar quando eu tinha
catorze anos, ele me mudou. De alguma forma, apenas vendo a maneira
como ele vivia, experimentando, ele infectou o soldado em mim e me
fez fraca.
Nora olha para a parede, um olhar de raiva e animosidade
repousava em seus olhos.
— Você o matou?
Ela olha para mim.
— Eu matei ele e sua esposa — diz ela, — e fizeram os seus filhos
órfãos. Eu cumpri a minha missão. Fiz o que me disseram.
Eu não posso dizer se isso a incomoda ou não.
— Mas você não pode fazer Niklas, Dorian, Woodard e Fredrik
olharem para você e verem alguém além da mulher de Victor — diz ela.
— Eu não podia fazer minha família, minha organização, me ver de
forma diferente quando descobriram que minhas emoções estavam
comprometidas. Eu era quem eu era. E eu paguei o preço por isso.
Ela olha para baixo brevemente para o dedo mindinho, mas não
elabora, e eu não acho que ela queria que eu percebesse.
— Eu vejo — eu digo suavemente.
— Você? — Ela pergunta. — Ou o que você vê é uma mentira?
Ela está tentando me confundir agora, porque ela me disse mais
do que ela pretendia.
— Não, eu acredito que é a verdade. Um pouco como Niklas, você
queria me dizer.
Ela sorri vagamente.
— Mas como você sabe ao certo? — Ela pergunta. — O que faz
você pensar que tudo o que eu acabei de dizer a você não era eu apenas
manipulando você?
— Porque eu estou mais íntimo do que a maioria com esse olhar
— eu digo uniformemente, — e porque eu sou uma mentirosa
profissional e sei a diferença.
Ela acena com a cabeça respeitosamente.
— Talvez, Izabel, você deva parar de se preocupar com o que você
não possui e concentrar toda a sua energia no que você faz. Ninguém
pode ser bom em tudo.
Eu não lhe dou uma resposta e eu me levanto.
— Dina Gregory é uma mulher legal — diz Nora. — Eu realmente
espero que Fredrik venha. — Ela para por um momento, ponderando.
— Meu encontro com ele eu não espero que vá tão bem, e eu não estou
muito orgulhosa de admitir que ele me assusta, mas ele vai
desempenhar um papel importante para mim ao estar aqui.
Intrigada por sua admissão, eu a estudo por um momento.
— Como assim? — Eu pergunto.
— Você vai ter que esperar e ver. — Seus lábios aparecem nos
cantos.
Eu começo a me afastar, mas Nora me para.
— No entanto, o que mais me impressiona — diz ela, de costas
para ela, — é o que está levando Victor Faust a falar comigo. Claro que
todos nós temos algo a esconder, mesmo que eu tenha feito coisas que
eu não estou particularmente orgulhosa, mas o que você acha que o
segredo de Victor poderia ser? Do que ele tem medo?
— Victor não tem medo de nada — digo, virando-me para olhar
para ela.
Ela balança afirmativamente a cabeça.
— Isso pode ser verdade — diz ela, — mas isso faz você se
perguntar qual é o seu segredo, mesmo assim, não é?
Ela está tentando ficar sob minha pele novamente. E está
funcionando.
Ouço o clique da porta desbloqueado.
— Você ainda quer me matar quando isso acabar? — Ela pergunta
enquanto eu estou abrindo a porta.
— Eu vou te matar quando isso acabar — eu digo, e saio com seu
sorriso imperturbável gravado em meus pensamentos.
CapÍtulo CATORZE
Izabel

Victor e Woodard estão na sala de vigilância com Niklas quando


eu entro. Estão todos olhando para mim — Niklas balançando a cabeça
como se dissesse que eu nunca deveria ter feito isso; Woodard não
consegue encontrar meus olhos e ele parece envergonhado por mim;
Victor é inexpressivo, como de costume, mas por trás do nada há algo
que talvez só eu posso ver.
— Você fez bem — diz Victor. — Nós sabemos muito mais sobre
ela do que antes.
Eu olho para longe dele e vou em direção à jarra de café, virando
as costas para os três.
— Sim, obrigado, mas eu não preciso de alguém patético nas
costas.
Eu derramo o café em um copo de papel pequeno. Eu realmente
nem gosto de café, mas eu preciso de algo para me distrair.
A sala fica quieta e Victor diz:
— Preciso falar com Izabel sozinha.
Sem uma palavra, Niklas e Woodard pegam suas coisas e vão para
a saída.
No segundo em que se foram, Victor deixa cair a máscara
profissional e é o homem que conheço por dentro. Ele pisa atrás de
mim e eu sinto as mãos dele agarrarem minha cintura.
— É isso que você acha, Izabel? — Ele diz. — Que ninguém aqui
te respeita, que você está aqui apenas para compartilhar minha cama?
— Nada disso importa agora, Victor. — Coloco duas colheres de
chá de açúcar na xícara e começo a mexer com uma colher de plástico.
— Dina é tudo o que importa para mim. Eu tenho que recuperá-la. Se
Fredrik não aparecer, eu nunca vou perdoá-lo.
Mexer. Mexer. Mexer.
Victor coloca a mão em cima da minha e me obriga a parar. Ele
empurra o copo para o lado. Eu não discuto sobre isso, mas eu não
olho para ele também.
— Você é um trunfo para esta organização — diz ele, virando-me.
Ele olha nos meus olhos, focado e determinado. — Eu disse a você há
muito tempo que vai levar o resto de sua vida para aprender tudo o que
há para saber. E que muitas coisas você nunca vai entender
completamente. Mas você ainda é um trunfo.
Empurro-me para fora da frente dele e ando em direção às mesas
com as telas de televisão.
— Isso pode ser verdade — digo. — Eu posso ajudar com as coisas,
mas a verdade real é... — eu olho para ele quando ele avança ao meu
lado — é que você pode facilmente fazer sem mim aqui. Victor, não
estou procurando piedade. Eu não estou esperando por você para me
dizer o quanto eu estou errada e, em seguida, apontar todas as razões
pelas quais Nora está certa sobre mim estando em cima da minha
cabeça. Eu aceito isso. Eu não quero ser mantida assim. Mas o que eu
quero... bem, eu não quero que isso seja verdade. Eu quero mudá-lo.
Eu quero provar a mim mesma que sou uma ativa e não apenas uso a
coroa porque eu compartilho a sua cama.
Victor suspira pesadamente.
— O que você está dizendo, Izabel?
Com os braços cruzados, olho para ele.
— Eu quero que você me envie em uma missão sozinha. Um real,
não uma missão de treinamento, mas uma real, missão matar-ou-ser-
morto como as que você envia Niklas. E eu também não quero que seus
homens me sigam. Eu te disse há muito tempo, na noite em que eu
deixei de ser Sarai e me tornei parte da sua Ordem, que eu não preciso
de uma babá. — Meu olhar o endurece. — E se eu precisar de uma,
então eu não pertenço aqui. Eu quero ser tratada como todo mundo e
não ser dada tratamento especial. É a única maneira que eu realmente
vou aprender.
O centro da garganta de Victor se move enquanto engole, o
contorno de sua mandíbula rígida e sem barbear se desloca enquanto
ele mofa os dentes.
— Eu vou pensar sobre isso — diz ele.
— Não — respondo, — você fará isso por mim ou as coisas entre
nós ficarão complicadas.
Seus olhos azul-esverdeados ficam cheios de raiva, mas
permanecem ali.
— Você sabe que ela está manipulando você, certo? — Ele diz
sobre Nora.
— Sim, eu sei disso — eu respondo imediatamente, ofendida. —
Ela está manipulando cada um de nós, você não acha que eu sei disso?
Ele sacode a cabeça.
— Você acha que eu fui lá para provar um ponto, só para o meu
plano de ser uma batedora? — Minha voz sobe e meu comportamento
começa a mudar desconfortavelmente. — Eu sabia o que estava fazendo
quando entrei, Victor. Eu sabia que ela iria confiar em mim para se
abrir se ela pudesse acreditar que o meu ato era real, que eu realmente
me senti assim. Mas a coisa é, era fácil de retirar não porque eu sou
boa no que faço, não porque é um das minhas “habilidades” mas
porque era como eu me sentia. Eu era crível porque eu não estava
mentindo. Sobre qualquer coisa.
— Você não está se dando qualquer crédito em tudo — diz ele. —
Típico.
— O que isso quer dizer, típico?
Victor sacode a cabeça.
— As coisas que você disse a Nora podem ter sido verdadeiras —
diz ele, — mas isso não significa que você não conseguiria as mesmas
coisas por que você entrou lá. Só porque tudo que você disse a ela era
verdade, não significa que você não é boa no que faz.
— E o que é que eu faço exatamente, Victor?
— Bem, para começar, você pode não estar satisfeita com o que
você pode fazer — diz ele, sua voz cheia de acusação e sarcasmo. —
Você tem essa necessidade incessante de provar a si mesma, a mim, a
todos os outros. Agora você quer que eu te envie em uma missão
sozinha. Você não está pronta.
Nenhum de nós diz mais nada por vários longos momentos. Eu
não quero discutir sobre isso agora — temos menos de seis horas —
mas é definitivamente um tópico para mais tarde. Eu não vou deixar
Victor esquecer isso e ele sabe tanto que não.
Eu sinto o calor da mão de Victor tocar meu pescoço enquanto ele
empurra meu cabelo longe do meu ombro e em minhas costas.
Eu olho para ele.
— Você é linda, Izabel. Seu desafio me provoca. Sua boca me
enfurece. Sua obsessão com a independência me faz questionar tudo o
que você faz. Mas eu amo cada coisa sobre você. — Ele inclina a cabeça
ligeiramente; Seus olhos me observando em silêncio por um momento
— meu estômago revira e meu coração começa a quebrar. — Eu sei que
eu não sou o seu primeiro em nada, mas espero que eu seja o seu
último tudo.
Lá está — meu coração finalmente quebrou. Em um milhão de
pedaços.
Eu olho para longe de seus olhos.
Victor me ouviu dizer a Nora que eu costumava amar Javier? Eu
sei que ele ouviu tudo — mesmo que não, tenho certeza de que Niklas
o contou.
— Eu sinto muito — eu digo, olhando para a tela. — Eu sei que
eu lhe disse uma vez que eu nunca amei Javier, mas eu tinha vergonha
de admitir isso naquela época. — Eu olho para o chão. — Eu ainda
tenho vergonha de admitir isso.
— Você não pode evitar ou controlar quem você se apaixona — diz
ele. — Foi há muito tempo, e você estava em uma situação
extraordinária, e eu não posso culpá-la por isso, ou dizer-lhe que estava
errada.
Meus olhos encontram aos dele de novo. — Não te incomoda?
Ele hesita e depois responde:
— Não. Como eu disse, foi há muito tempo.
Nós não dizemos nada um ao outro por um tempo.
Então finalmente me aproximo dele e empurro os dedos dos meus
pés, beijando seus lábios.
— Você é meu último tudo — eu digo suavemente, meus olhos
procurando o seu.
Ele sorri suavemente e voltamos para olhar a tela juntos.
— Em outra nota — diz minutos depois, mudando de assunto, —
juntando as informações que tenho sobre Nora e com o que você acabou
de descobrir, estou confiante para poder dizer que, embora ainda não
tenha ideia por que ela está aqui ou para quem está aqui, acredito que
ela seja uma parte da Sombra.
— Que diabo é isso?
Olhamos de volta para a tela juntos, vendo Nora em sua cadeira,
calma como sempre.
— Mais apropriadamente chamado FC-4, ou Pesquisadores
Contratantes Número Quatro — ele começa. — É uma organização
mais subterrânea que a Ordem ou os mercados negros. Sua finalidade
não é cumprir contratos de batedores, mas para produzir contratantes.
— Produzi-los?
— Sim. Da mesma forma que Nora disse, membros da Seita das
Sombras nascem e crescem dentro de sua organização, treinados como
assassinos e espiões desde o momento em que deixam o ventre. Eles
não têm mãe ou pais para cuidar deles. Eles nascem sem identidades
e só mais tarde são atribuídos nomes. Num certo sentido, Nora Kessler
é mais experiente do que eu mesmo, quase totalmente entorpecida com
as emoções humanas básicas, como o amor e a simpatia, que a
tornariam fraca. Minha mãe e meu pai talvez tenham sido agentes
quando eu nasci, mas minha mãe era amorosa, e meu pai, embora eu
raramente o visse, quando o fazia, ele me tratava como qualquer pai
trataria seu filho. Eu, assim como Niklas, tive uma infância normal até
que fomos levados pela Ordem para ser treinados quando éramos
apenas meninos. — Ele acena para a tela. — Mas com Nora, uma vida
de matar veio tão naturalmente para ela como passar o tempo com o
meu pai veio para mim. Se ela é, de fato, do SC-4, e eu acredito que ela
seja o que poderia significar uma infinidade de coisas, e o seu negócio
está aqui conosco nem sequer começa a arranhar a superfície deles.
Olho para Victor, seu olhar focado em Nora, e eu noto algo em
seus olhos que me deixa desconfortável, algo que se parece como... não
uma atração sexual que eu deveria ter ciúme, mas algo mais como...
intrigante. É como se ele estivesse examinando um espécime raro, algo
a ser estudado por causa da riqueza de informações que ele pode
aprender com ele.
Olho de volta para Nora e estou envolvida por várias emoções
conflitantes diferentes, nenhuma delas positiva.
— Você mencionou que tinha algo mais sobre ela? — Eu digo,
tentando ignorá-lo. — Algo para acrescentar ao que eu descobri?
— Sim, — ele diz, afastando-se completamente da tela e colocando
as costas nela. — Eu tinha Woodard executado seu DNA através dos
arquivos de dados que levei comigo quando eu deixei A Ordem. Eu
queria ver se ela combinava com qualquer um dos agentes que estavam
ao meu comando quando eu trabalhei para Vonnegut. — Victor se
inclina contra a borda da mesa. — Não houve partidas com qualquer
um dos agentes, mas não havia um jogo com um dos nossos sucessos.
— Quem?
— Solis — diz ele. — Seis anos atrás, quando começamos a
procurar Solis, como disse Niklas quando ele estava confessando a
Nora, não tínhamos nada sobre esse homem exceto que ele tinha estado
em contato com Claire. Mas vários anos depois, estávamos nos
aproximando dele e ele foi baleado. Ele fugiu e até hoje se acredita que
ainda estar vivo, mas, porque ele foi baleado, fomos capazes de
consegui uma amostra de sangue.
— A de Nora está relacionada a esta Solís, não está? — pergunto,
meus olhos cheios de expectativa.
— Ela é sua filha — ele confirma. — O DNA prova isso, e a história
que ela contou só solidifica a verdade ainda mais.
— Quem é Solis?
— Ele é um dos líderes da Sombra que gera pessoas como ela.
Olho por cima do ombro de Victor para Nora novamente.
— Então isso tem a ver com Claire, — eu digo e Victor parece um
pouco surpreso. E orgulhoso. Ele sorri e eu continuo. — Além de Solis,
Claire é a única outra conexão. — Eu nem sei por que estou dizendo
isso, ou como qualquer um faz sentido, mas eu sinto isso no meu
âmago que é a verdade.
— Eu acho que você está em alguma coisa, — Victor diz, ainda
sorrindo.
Eu acho que ele já chegou a esta conclusão por si mesmo antes
de mim, mas ele não quer estragar o meu "momento". Deixo-o deslizar
desta vez.
— Então, por acaso você tem uma amostra de DNA de Claire?
— Não, — ele responde rapidamente. — Claire não foi um sucesso
ou uma atribuição minha, então eu não tinha nenhuma razão para
manter registros sobre ela.
— Mas Niklas fez?
— Ele recuperou amostras de Claire, e ele as entregou a Ordem,
mas não manteve registros privados como eu fiz. Quando ele deixou a
Ordem, toda a informação que obteve como operário, ele deixou para
trás.
— Então, isso nos deixa num beco sem saída — digo.
— Não há becos sem saída — diz ele. — Há sempre uma trilha; às
vezes elas são apenas mais difíceis de encontrar.
Penso em Niklas e Claire de novo, e todas as coisas que Nora e até
Niklas me disseram. Depois de um momento eu reuni a coragem para
dizer:
— Você acha que... seu amor por mim é uma fraqueza, Victor?
Você nunca se preocupa que seus sentimentos por mim poderiam
interferir no que você faz? — Eu não quero saber a resposta, mas eu
preciso.
Victor coloca suas mãos sobre meus cotovelos, escovando seus
polegares contra minha pele. Ele olha nos meus olhos com um olhar
de estudo suave e ansioso.
— Se isso acontecesse, eu lidaria com isso.
No início, estou feliz com sua resposta, até que minha mente
paranoica começa a fugir comigo novamente.
— Você iria lidar com isso como? — Eu pergunto com um tenor
nervoso na minha voz e um olhar de incerteza nos meus olhos.
Ele suspira e então pressiona seus lábios contra minha testa.
— Izabel — ele diz suavemente, — ontem eu sabia o que você ia
dizer, mas não o fez. Quando você estava falando sobre como eu não
poderia me tornar alguém que eu não sou simplesmente porque eu não
havia desenvolvido sentimentos por você.
Eu olho para longe de seus olhos, mas ele levanta as duas mãos
e segura meu rosto dentro delas, reclamando meu olhar.
— Eu nunca iria matá-la — diz ele com determinação e
sinceridade. — Sei que meu irmão provavelmente encheu sua cabeça
de bobagens — ele não seria Niklas se ele não tentasse bater em você
onde mais machuca — e eu soube por um tempo que você ainda tem
preocupações, mas eu nunca poderia machucá-la — Seus dedos
colocam pressão sobre as minhas bochechas — Eu não espero que você
simplesmente acredite em mim, só assim, e nunca pensar sobre isso
novamente, porque você não é ingênua. Você passou por muita coisa
para depositar sua confiança plena em alguém de forma tão plena e tão
fácil — nem mesmo eu — e eu aceito isso. Mas olhe nos meus olhos,
Izabel — suas mãos espremem minhas bochechas suavemente — olhe
nos meus olhos e me diga que você não vê um homem que faria
qualquer coisa por você. Diga-me, com aquela estranha habilidade você
tem de ler os outros, que você não vê um homem o está apaixonado por
você, que mataria para você... e um homem que morreria por você.
Eu engulo forte; meus olhos estão começando a picar.
Os lábios de Victor caem sobre os meus.
Quando o beijo quebra, ele está sorrindo levemente para mim;
seus dedos longos penteando através do cabelo para o lado do meu
rosto.
Eu sorrio de volta, dando a ele a minha resposta.
— Oh Vic-tor — a voz melodiosa de Nora grita através do sistema
de alto-falante, — você não pode evitar isso para sempre. O tempo está
passando.
Nós viramos para enfrentar a tela juntos.
— Estou realmente ansioso para sua confissão, Faust. — Ela sorri
para a câmera.
Eu olho para ele. Ele ainda está olhando para a tela gigante e
brilhante, um olhar profundamente contemplativo em repouso em seu
rosto bonito.
— Eu odeio dizer isso, mas ela está certa, Victor — não há muito
tempo.
— Ainda há mais de quatro horas — diz ele, focado em Nora.
— Você vai entrar lá?
Esta é a primeira vez que eu comecei a questionar Victor sobre
isso, deixando minha mente naturalmente suspeita fugir comigo
novamente. Qual é o seu segredo? Ele tem mesmo um? Por que ele está
tomando o seu tempo sobre isso? Mas o meu pior medo — ele realmente
pretende jogar seu jogo por causa de Dina?
— Sim, eu vou entrar — diz ele. — Eu tenho o suficiente sobre ela
agora que eu posso levar comigo.
— O que você está...
A porta se abre com um golpe atrás de nós e Woodard entra na
sala, sem fôlego e de rosto vermelho, segurando um telefone celular em
uma mão.
— Sarah e Ann-Marie — ele diz, tentando recuperar o fôlego —
minhas filhas... e-elas escaparam — ele praticamente tropeça para nós
em seu uniforme e mocassins. Niklas entra atrás dele — elas me
ligaram...
Meu coração começa a correr.
— E a Dina? Tessa?
Woodard sacode a cabeça.
— Ninguém disse nada sobre elas — diz ele e a súbita onda de
esperança que senti foi arrebatada para longe de mim tão rapidamente.
— Apenas minhas filhas. Eu perguntei a Sarah enquanto eu estava no
telefone com ela se alguém tinha estado com elas onde elas estavam
sendo mantidas, mas eu tive que ser vago. Ela disse que era apenas ela
e Ann-Marie. Elas estão na delegacia.
— Merda, — eu ouço Victor dizer.
Uma das piadinhas de Victor é ter que lidar com a polícia. É
preciso muito mais do que um aspirador e remover todas as evidências
de um crime no meio da noite, do que ter que orquestrar histórias
críveis para dizer às autoridades e remover provas e arquivos de seus
sistemas. Às vezes, um trabalho como esse pode levar meses,
dependendo de quantas pessoas de fora estão envolvidas. E se ele vai
para as notícias, controle de danos pode ser um processo ainda mais
longo e mais complicado. Eu disse a Victor, uma vez que ele deve
investir em um desses “desneuralizadores” que Will Smith e Tommy
Lee Jones usam em “Homens de Preto” para apagar todas as memórias,
ele não viu o humor nisso.
— E eles estão fazendo um monte de perguntas, naturalmente —
Niklas entra na conversa. Ele sorri e acrescenta, com um ar de humor
seco, — Ah, e repórteres já estão fora da delegacia de polícia, imagina
isso. — Ele teria achado a minha piada sobre os "Homens de Preto"
engraçada.
— Ótimo — eu digo com um suspiro, — não precisamos dessa
merda agora.
— Eles estão no telefone? — Victor olha brevemente para o
telefone celular na mão de Woodard, e então para cima para ele com
um olhar ameaçador.
Isso seria uma coisa realmente estúpida — tê-los na outra
extremidade do telefone enquanto estamos discutindo isso — mas às
vezes Woodard não usa esse grande cérebro dele para coisas
importantes como o senso comum.
Seus queixos cambaleiam enquanto ele balança a cabeça
rapidamente e deixa cair o telefone no bolso de seu uniforme.
— Não, eu acabei de falar com elas — diz ele. — Sarah me ligou
da delegacia. Eu tinha que fingir que nem sabia que minhas filhas
estavam desaparecidas. — Felizmente, sua mãe, a esposa de Woodard,
esteve em Londres nos últimos dois dias, caso contrário ela teria
relatado que elas estavam desaparecidas e a polícia estaria envolvida
muito mais cedo. Além disso, suas filhas são maiores de idade.
— Eles precisam que eu vá até a estação — diz Woodard
ansiosamente, esperando que Victor lhe dê permissão para sair.
— Victor, não — eu digo, olhando para ele com desespero. — Não
há tempo. Pode levar horas apenas para eles apresentarem um relatório
e tentarem lembrar o que aconteceu, para explicá-lo e...
— Ele tem que ir, Izabel, — Victor diz e meu coração afunda como
uma pedra. — Não podemos chamar atenção desnecessária. Se
Woodard não for imediatamente para a esquadra da polícia e — ele olha
diretamente para Woodard como se quisesse perfurar a frase seguinte
em sua cabeça — coloque um ato crível, eles estarão questionando-o
em seguida.
— Para não mencionar — diz Niklas – que precisamos saber o que
suas filhas têm a dizer sobre o sequestro — quem mais está envolvido,
o que elas parecem, quantos são.
Fulmino Niklas um olhar de ódio. Ele não liga...
Ele está certo embora; é importante que saibamos essas coisas.
Extremamente importante. Mas eu ainda não consigo me convencer de
que esta é uma boa ideia. Está cortando muito perto. Nora disse que
todos nós teríamos que estar no mesmo quarto quando por quem que
ela tenha vindo aqui dar-se conta do por que, e teria de confessar na
frente de todos. Primeiro Fredrik ainda não apareceu, em seguida,
Dorian é jogado em uma cela, e agora Woodard está saindo? Acho que
vou ficar doente.
— Vou entrar e conversar com Nora em seguida — Victor diz
olhando para mim, tentando aliviar minha mente. — Eu não vou
esperar até que Woodard volte, mas eu vou ter que comprar tanto
tempo quanto eu puder lá com ela para dar Woodard tempo suficiente
para me enviar as informações que ele obtém. Posso usá-lo também
contra ela.
Suspirando profundamente e espetando os dez dedos pelo topo do
meu cabelo, eu olho para Nora na tela por um momento.
— OK, — eu desisto. Eu solto meus braços de volta aos meus
lados e marcho para ficar em frente a Woodard. —Me escute James, —
Eu exijo, apontando o dedo para ele. — Quando você for para a
delegacia, você precisa interpretar o papel, você não tinha ideia que
elas tinham sido sequestradas, mas você está desesperado e
preocupado e você nem sequer ouvirá qualquer outra pessoa que não
seja as suas filhas no início porque você está muito ocupado
abraçando-as, e olhando-as por sinais de abuso, e perguntando-lhes
se elas estão bem. Você está perturbado, James, você entende?
Ele acena rapidamente várias vezes.
— Uma hora — continuo, apontando o dedo para cima. — Não
passe mais tempo ali do que isso. Digamos que você queira levar suas
filhas para casa. Diga sem mais perguntas hoje. Eles precisam
descansar. Elas passaram por uma experiência traumática. ESTÁ
BEM?
Ele acena de novo.
— Tirem-nas daquela delegacia de polícia — digo eu, — leve-as
para um hotel em algum lugar e use uma de suas outras identidades
para registrá-las. Então você vem direto pra cá. Entendeu?
— Sim, senhora, eu consigo.
— Nunca fodidamente me chame de senhora. — Eu me sinto
chamas saindo dos meus olhos.
Niklas ri.
— O-OK. Desculpa.
Pego meu telefone da mesa em frente às telas onde eu estava
sentada mais cedo, soco um número e coloco o telefone na minha
orelha.
— Pegue dois carros e siga James Woodard para a delegacia de
polícia — eu ordeno a um de nossos homens estacionados no piso
inferior do edifício. — Fique fora de vista, mas observe suas costas
entrando e saindo. Depois, siga-o para o hotel e vigie o quarto onde
deixará as filhas.
Eu paro para ver três pares de olhos focados em mim.
— O quê? — Eu pergunto, confusa com o seu silêncio e olhares.
Niklas ri e balança a cabeça, mas não diz nada. Os lábios de Victor
aparecem vagamente em um canto. Woodard tem muito em sua mente
e só parece ansioso para sair.
— Por que você ainda está aí? — Pergunto a Woodard, erguendo
minhas duas mãos, com as palmas para cima; meus olhos duros e
concentrados.
Woodard sai pela porta sem dizer mais nada.
CapÍtulo QUINZE
Victor

Izabel me para na porta da sala de vigilância.


— Vou tentar entrar em contato com Fredrik mais uma vez — diz
ela. — Eu juro, Victor, se Dina morrer por causa dele...
Eu toco o lado do seu rosto com a ponta dos dedos.
— Isso não vai acontecer — eu digo a ela, beijando-a na borda de
sua boca e saío.
Eu nunca teria ido primeiro. Ou segundo. Ou terceiro. E, até este
ponto, eu pretendia ir em último. Quando é dada a oportunidade, eu
aprendo tudo o que posso sobre o meu inimigo antes de me aproximar
deles. Ou eliminá-los. Woodard era um alvo fácil para alguém como
Nora. Izabel está cega demais pela raiva e vingança para ter o tipo de
paciência que eu tenho. Dorian e meu irmão são mais rápidos em agir
do que eu sinto que é apropriado — é da sua natureza. E Gustavsson
— se Nora Kessler puder permanecer viva para encontrá-lo cara a cara
— não lhe dirá nada. Será o contrário.
Izabel pode ter que enfrentar a morte da mulher que ama como
uma mãe.
Depois de digitar o código no painel da porta, eu me tranco com
uma raridade. Pessoas como Kessler não são necessariamente raras
em números, apenas em exposição. Ter um como ela dentro de um
quarto trancado é extraordinário o bastante, mas ter um indiretamente
admitindo quem e o que ela é, é inédito. Se o que ela disse a Izabel é
verdade, acredito que ela vai me contar mais ainda. A verdadeira
questão é por quê.
— Ah, finalmente, o próprio patrão — diz Kessler com um sorriso
que de outra forma poderia ser intimidador se eu pudesse ser
intimidado por ela. — Gostaria de saber se você viria.
— Por que não faria isso?
Colocando uma mão na parte de trás da cadeira vazia, eu puxo-a
da mesa e tomo o assento, apoiando meu pé direito no meu joelho
esquerdo. Eu puxo casualmente os punhos da minha camisa com os
dedos e, em seguida, coloco minhas mãos no meu colo.
Ela encolhe os ombros.
— Oh, eu não sei — diz ela, deixando seus olhos se moverem para
cima de forma aborrecida, — porque você é mais inteligente do que o
resto deles, eu suponho.
— Só mais detalhado — digo.
Ela sorri, embora mostre mais em seus olhos do que em seus
lábios.
— Não, tenho certeza que estou certa. Porque, você vê, você não é
muito diferente de mim, Faust. Você fez exatamente o que eu teria feito,
no âmbito de construir antes de irromper no interior cegamente.
Não digo nada.
— Então, você veio para confessar — diz ela. Ela se estica e enrola
os dedos contra os braços da cadeira para aliviar um pouco do seu
desconforto.
— Eventualmente — eu digo. — Mas primeiro vamos falar sobre
você.
— Oh, nós estamos fazendo, não? — Ela sorri; a luz do teto
refletindo no marrom de seus olhos. — Talvez você esqueça que este é
o meu jogo, não o seu. Você joga com as minhas regras.
— Vou jogar dentro dos limites de suas regras — eu digo, — até
que esses limites se tornem um problema, e depois vou atravessá-los.
— Eu largo meu pé no chão e me inclino para a frente, entrelaçando os
meus dedos com as mãos envoltas pelos meus joelhos. — Talvez você
se esqueça que você é a única na cadeira.
— Eu já disse a você — diz ela, perdendo a confiança e
substituindo-a pela frustração: — Eu não tenho medo de morrer.
Eu me inclino para trás novamente e cruzo uma perna sobre a
outra, alisando as rugas invisíveis na perna da minha calça preta,
tomando meu tempo.
— Por que você não me diz, Nora Kessler, por que alguém da
Shadow Sect estaria aqui na minha organização, jogando jogos
baseados em uma vingança pessoal. — Eu olho para longe de minhas
calças e para ela. — Agentes SC-4 não têm vinganças pessoais porque
eles não têm vidas pessoais ou posses ou encargos... a não ser, claro,
uma que fosse... comprometida. — Eu olho brevemente em seu dedo
mindinho marcado. — Diga-me, que outras partes de seu corpo seu
pai, Solís, mutilou quando descobriu que estava comprometida?
Um raio de raiva cruza seus olhos, mas ela faz bem em contê-la
antes que ela fizesse mais danos ao seu autocontrole. Ela sorri e olha
para o dedo momentaneamente como se fosse uma coisa insignificante.
— Eu ficaria feliz em mostrar a você — diz ela, — se você quiser
ver o resto do meu corpo.
Um leve sorriso aparece em um lado do meu rosto.
— Aposto que sim — digo.
Eu só posso imaginar o que Izabel está pensando agora. Este é
mais um problema onde Izabel terá que aprender a ter autocontrole,
mas tenho pouca confiança que isso aconteça; ela é uma mulher
ciumenta por natureza — uma torção incapacitante na armadura deste
negócio.
— Então você sabe de onde de eu vim — diz ela, desistindo do ato
lúdico e sedutor. — Eu sabia que você teria entendido isso pelo menos
antes de tomar sua vez. Sim, Solis é o meu... — ela olha para cima
contemplativamente, franzindo os lábios contemplativamente — bem,
eu não iria tão longe chamando-o como pai de alguém; um termo mais
apropriado seria doador de esperma.
— Como você estava comprometida?
— Isso não é algo que você tirará de mim, Faust. É inconsequente.
— Pelo contrário, — digo, — é a razão pela qual você está aqui.
Uma vingança pessoal. Mas isso levanta outra questão — se você estava
comprometida, como é que você ainda está viva?
— Ao contrário de Vonnegut — ela diz, — a seita não mata
imediatamente seus operários por causa de um erro. Não há tantos de
nós, e nós somos, devo dizer... valemos muito mais do que operários
dispensáveis como você. Quando um de nós comete um erro, somos
punidos de maneiras que o seu Especialista não consegue entender.
Temos uma chance de voltar dos nossos... lapsos de julgamento, e
então se ainda lançarmos suspeitas, vamos para o caminho do túmulo.
— Algo me diz, — eu digo, — que você poderia ter seguido o
caminho do desonesto.
Seus olhos se enrugaram com curiosidade.
— E o que te faria pensar isso?
— Porque você se encolheu quando eu te insultava sobre esse
dedo — eu aponto. — E porque você atacou Izabel quando ela zombou
de você. Uma SC-4 operatória não mostra raiva, porque eles não
sentem raiva.
O peito de Kessler, preso à cadeira por uma paracord, sobe
lentamente enquanto inala uma respiração profunda e concentrada.
— Você está certo — ela admite, — eu estava comprometida. E
eles torturaram o inferno fora de mim — você deve ver minhas costas.
Mas ao contrário dos outros que atravessam o que eu atravessei, o
tratamento teve o efeito oposto em mim. Eu não voltei para o soldado
que fui criada, que eu nasci e fui treinada para ser — ela sorri — Eu
acho que você pode dizer que irritou a merda fora de mim e eu me tornei
alguém diferente. Eu tinha uma mente própria para uma mudança, e
foi tão... libertador, Faust — Ela olha para cima para o teto.; uma
expressão eufórica manipulando suas feições. Ela solta o queixo e olha
para mim. — Liberdade para mim é como eu imagino que a heroína
pode parecer a um viciado. Eu queria mais depois que eu tinha
experimentado a primeira vez. E eu estava disposta a fazer qualquer
coisa para consegui-la. Matar alguém para mantê-la. — Há um
significado oculto por trás sua última admissão.
— Quem você matou?
— Quem se meteu no meu caminho. — Ela sorri.
Ela não vai desistir de qualquer coisa que ela não queira que eu
saiba, mas por reter certas respostas às minhas perguntas, que vai me
dar mais pistas sobre a sua razão para estar aqui. Qualquer assunto
que ela não queira falar está certamente por trás da fonte de suas
intenções — como ela estava comprometida, que ela matou por sua
liberdade.
— Mas como eu disse antes — ela continua, — você e eu, somos
muito parecidos. Aposto que sou mais como você do que qualquer outra
pessoa em toda a sua organização, mesmo aquela linda ruiva de vocês.
Quanto tempo você acha que durará um relacionamento com ela? —
Não há nada de provocante em sua pergunta; ela parece muito séria.
No entanto, sinto-me profundamente provocado.
— Não falaremos de Izabel — digo - nem do meu relacionamento
com ela.
— Você a ama — diz Kessler, e novamente, ela está sendo honesta
e não apenas tentando provocar uma reação minha, o que eu acho
peculiar. — Eu não sei muito sobre o amor — ela continua, — pelo
menos não esse tipo, mas se meus instintos são tão humanos como a
parte de mim que me separou da Sect, então eu diria que você a ama.
Posso vê-lo em seu rosto, tão estoico quanto a máscara que você usa.
— Ela faz uma pausa e depois acrescenta: — Mas você quer saber o
que mais eu vejo quando olho pra você?
— Não — respondo, e abro a mão, com a palma para cima, como
se dissesse “mas por todos os meios”.
— Você está em conflito — diz ela. — Você a ama, mas ainda há
uma grande parte de você, de quem você era antes dela se tornar uma
parte de sua vida, de quem você foi quase completo, que não está tão
certo que você pode fazer tudo o que é preciso para manter esse amor.
Você é, e sempre foi, um assassino profissional, metódico, um homem
de negócios cuja única paixão nesta vida tem sido a de se fazer de Deus.
— Ela para mais uma vez, inclinando sua cabeça loira para um lado e
olhando para mim pensativamente. — E uma outra parte de você não
tem a intenção de me dizer nada. Ela já fez a pazes consigo mesma em
aceitar que Dina Gregory vai morrer porque você não está disposto a se
comprometer ou sua organização apenas para salvar uma velhinha,
mesmo que ela seja importante para a mulher que você ama.
Eu engulo fundo, mas mantenho minha compostura.
— Acredite no que você quer — eu digo. — Você não pode me
manipular como você tem feito os outros.
— Sim, eu sei — diz ela. — Eu sabia que quando chegasse aqui,
você e Fredrik Gustavsson seriam os dois que nunca iriam cooperar.
Não importa de quem as vidas estavam na linha.
— Então, se você já sabia dessas coisas, por que você está
desperdiçando seu tempo aqui? O que você está tirando de tudo isso
se você sabe que não vai conseguir a confissão que você procura?
Um pequeno sorriso aparece em seu rosto.
— Porque se eu receber a confissão ou não — ela diz com
confiança, — Eu ainda vou conseguir o que eu vim buscar aqui, de
qualquer maneira.
— E o que seria? — Eu sei que ela não vai responder, mas eu
pergunto no caso, por alguma chance, eu esteja errado.
— Você saberá em aproximadamente três horas e meia — diz ela.
Eu apenas olho para ela, silenciosamente admirando-a tanto
quanto eu quero matá-la. A principal razão pela qual ela ainda está
viva é por causa de Izabel, mas eu admito, quanto mais aprendo sobre
ela e interajo com ela, mais eu quero colocá-la sob um microscópio —
eu nunca estive cara a cara com uma versão feminina de mim mesmo.
É intrigante.
— Então... sobre aquela confissão. — Ela pisca para mim.
Eu me levanto da cadeira e endireito minha camisa, enfiada
dentro de minhas calças.
— Ainda há três horas e meia que você pode se sentar presa a
essa cadeira — eu digo. — Eu vou ter certeza de que usamos a cada
minuto deles. Espero que você tenha uma bexiga forte.
— Eu tenho um forte tudo — diz ela. — Você não acreditaria como
minha vontade é forte.
— Acho que é para Gustavsson provar.
— Se ele aparecer — Ela tem pouca confiança nisso, o mesmo que
todos os outros, parece.
— Mas Victor, há algo que eu gostaria de dizer-lhe, embora.
Eu olho para ela com inquérito, mas não digo nada em resposta
porque algo sobre sua oferta parece desligado. Perigoso mesmo.
— Eu tenho observado você por um longo tempo, — ela começa,
— anos e, embora você seja um homem muito difícil de encontrar e de
seguir, muito menos em se consegui informações, fora de qualquer um
que eu já estudei, você é de longe o mais fascinante.
— Eu deveria me emocionar com isso de alguma forma?
— Não — ela diz, — você não é realmente o tipo capaz de ser muito
movido por qualquer coisa, Izabel pode atrasá-lo claramente, mas
novamente, quanto tempo vai durar está no ar.
— Qual é o seu ponto? — Eu digo, tornando-me cada vez mais
intolerante cada vez que ela faz de Izabel um tópico.
— Meu ponto é — ela baixa a voz para um sussurro; uma tentativa
de evitar o microfone incorporado de pegar suas palavras, embora eu
duvide que ela se importe se alguém a ouve ou não — que eu nunca
fiquei intrigada com nenhum homem antes, e te ver é como olhar para
um espelho, eu acho que você e eu podemos oferecer um ao outro um
tipo muito interessante de relacionamento.
Olho para ela com um olhar suspeito de soslaio.
Ela sorri e diz:
— Podemos nos foder tanto quanto queríamos, e você nunca teria
que se preocupar com os fardos de me amar, porque eu nunca te
amaria de volta. Comigo você pode ser quem você costumava ser,
nunca ter que se preocupar com a minha segurança, ou os meus
sentimentos ... - Seu sorriso se torna mais profundo- — você poderia
voltar a fazer os tipos de missões que você apreciava fazer uma vez,
aquelas no interior como Niklas costumava tomar, ficando íntimo com
a sua batedora, fodendo-a até que ela gritasse o seu nome, e voltando
para mim sem repercussões. Porque eu não fico com ciúmes.
Eu balanço a cabeça, rindo silenciosamente para mim mesmo.
— Você é inacreditável — eu digo. — É por isso que você está aqui?
Por mim, — eu aponto para o meu peito? Um olhar de completa e
absoluta descrença torcendo em minhas feições. Embora eu realmente
duvide que é por isso que ela esteja aqui. — Isso nunca vai acontecer
— eu digo, cortando uma mão no ar na minha frente. — E você não dá
crédito suficiente a Izabel. Ela pode ser nova em tudo isso, mas tem
mais autocontrole do que...
Ouço a porta se abrir com estrondo e vejo um flash de um cabelo
cor castanho avermelhado passar pelo meu lado..
Izabel se joga sobre a mesa e se lança na cadeira de Nora como
uma flecha. A mesa é empurrada violentamente para fora do caminho,
gritando vociferante no chão enquanto Izabel leva Nora para baixo com
ela.
— Izabel! — Eu grito.
Niklas entra correndo na sala atrás de mim.
Os punhos de Izabel chovem para baixo na cabeça de Nora
repetidamente; as pernas da cadeira e as pernas de Nora ligadas a elas
bloqueando a visão enquanto Izabel se senta em cima do seu peito. Há
sangue nos nós dos seus dedos quando eu finalmente agarro-a e puxo-
a para fora.
O riso de Nora enche a sala, ecoando nas paredes vazias. Ela
engasga com seu próprio sangue, para de cuspir com a cabeça
inclinada para um lado e começa a rir depois.
— Eu tive o suficiente dessa cadela psicótica! — Izabel ruge com
sede de sangue em sua voz e em seus olhos, mesmo ela estando de
costas para mim. Minhas mãos a seguram nos cotovelos, segurando-a
antes que se rompesse.
— Tire ela daqui — eu digo a Niklas quando viro Izabel.
Ela se agita em meu agarro, gritando maldições — eu sabia que
era apenas uma questão de tempo antes que Izabel rachasse.
— Isso é suficiente! — Eu grito depois de forçar o seu corpo a girar
para me enfrentar, meus olhos cheios de fúria. Eu a agito com
brutalidade e seu cabelo castanho-avermelhado cai em torno de seu
rosto e em sua boca. — Eu disse para parar!
Finalmente, como se estivesse reaparecendo na realidade, ela se
acalma, mas seu peito continua a subir e descer com o fôlego rápido.
Seu rosto está cheio de ódio, dor e retribuição.
— Tire ela daqui — eu digo a Niklas mais uma vez e depois solto
Izabel.
Ela não diz nada enquanto olha nos meus olhos, mas as palavras
não são necessárias para me dizer cada único pensamento correndo
em sua mente.
Niklas, com a mão dobrada ao redor do cotovelo de Izabel, a leva
para o corredor.
— Devo deixá-la assim — digo a Nora quando a porta se fecha
atrás de mim e ficamos sozinhos de novo.
— Sim, bem, eu não dou a mínima de qualquer maneira — ela diz
com um riso ainda em sua voz enquanto eu me aproximo.
Levantando a cadeira com ela nela, coloco-a de volta em todas as
quatro pernas. O sangue jorra de suas duas narinas, escorrendo em
sua boca. Ela lambe com a ponta da língua e cuspi no chão novamente.
— Você não iria ter um lenço ou algo nesses seus bolsos, você
teria? — Ela sorri amplamente, o sangue cintilando em seus dentes
brancos de outra forma brilhantes.
Empurro a mesa ao lado da parede, deixando Nora exposta no
centro da sala. Apenas ela, a cadeira, a paracord e algemas; uma
prisioneira sentada debaixo de uma luz fluorescente brilhante com
seus dentes manchados de sangue, longos cabelos loiros, calças de
couro e sorrisos perversos.
— Essa sua mulher precisa de muita formação, Fausto. Você não
pode ser sua sombra para sempre. Você quer, mas você não pode e você
sabe disso.
— Você provou o que disse — digo-lhe calmamente - mas, você
sabe que mesmo que você conseguisse o que veio aqui, Izabel não vai
deixar você sair daqui viva.
— Ela vai se você disser a ela.
— Ela nem sempre faz o que eu digo a ela — eu digo. — E neste
momento, não vejo razão para dar a ela essa ordem.
Nora sorri docemente, astuciosamente, e a sala fica quieta, cheia
de curiosidade e segredos. Qual é a aparência dela? Ela cheira a
antecipação; uma mulher calculista que sabe jogar suas cartas, não
todas de uma vez, mas uma de cada vez. Tenho a sensação de que ela
está prestes a jogar outra.
— Sabe, Victor, — ela diz e eu espero por isso, — nos seis anos
que eu te segui, eu posso ter aprendido pouco sobre você, mas eu
encontrei um pouco de informação sobre alguém que você pode achar...
interessante .
Ela tem a minha atenção.
Eu apenas olho para ela e espero.
— Você limpa o sangue do meu rosto — ela diz, — e eu vou te
dizer. Não há jogos ou truques ou qualquer outra coisa em troca.
— Por que eu deveria acreditar em você? — Eu caminho
casualmente em direção a ela novamente, meus sapatos pretos
brilhantes movendo-se sobre o piso de cerâmica branca em passos sem
pressa. — Por que você apenas me dará as informações?
Ela sorri levemente.
— Pense nisso como um pagamento inicial — diz ela.
— Para quê, exatamente?
— Eu vou te contar isso depois.
Eu não confio nela. Nem um pouco. Mas ouvir o que quer que seja
dessa informação não fará nenhum dano.
— Que é então? — Eu deslizo ambas as mãos para baixo nos
bolsos de minhas calças.
— É sobre Vonnegut e Izabel.
A expressão resignada em meu rosto se transforma em uma
flagrante confusão. Eu inclino a minha cabeça ligeiramente para um
lado.
O sorriso de Nora se alonga. Ela sabe que tem mais do que minha
atenção agora.
Puxo um pequeno lenço branco do bolso que às vezes uso para
abrir as portas para evitar deixar impressões digitais e dou um passo
para frente de Nora. Empurrando a sua cabeça para trás com a outra
mão, eu cuidadosamente limpo o sangue de seu rosto.
— Vá em frente e diga-me, — eu digo, e ela faz.
CapÍtulo DEZESSEIS
Izabel

Eu quero bater na parede de frustração e raiva, mas eu não tenho


o hábito de me ferir propositadamente. Estou angustiada e
envergonhada e eu nunca quis matar alguém em toda a minha vida
mais do que Nora Kessler. Izel está em segundo próximo, e parece que
ela seria a número um por causa da merda que ela me colocou, mas
não, Nora é a número um em meu livro, porque é mais do que eu com
quem ela está fodendo — ela tomou Dina, e Agora ela quer Victor.
Percorrendo o corredor fora do quarto onde Victor está com Nora,
eu grito sob minha respiração, segurando o topo do meu cabelo
firmemente em meus punhos. Eu sei que meu rosto deve estar
vermelho beterraba e talvez roxo.
— Izzy — diz Niklas, — você sabe que essa merda não estava certa.
Você se jogou direito em suas mãos fodidas, boneca.
Eu continuo a andar, desconsiderando seus apelidos estúpidos
que normalmente me fazem querer socá-lo. Minha mandíbula dói de
ranger os meus dentes, meus pulmões estão trabalhando horas extras
e cada músculo em meu corpo está tão tenso que eu me sinto como
uma estátua.
— Eu não posso mais fazer isso — eu digo, olhando para o chão
enquanto minhas botas se movem sobre ele, para frente e para trás.
— Bem você tem que fazer — diz Niklas.
Eu olho para cima apenas tempo suficiente para vê-lo encostado
na parede com os braços cruzados.
Volta ao ritmo apressado.
— E Victor pensou que eu era irresponsável e sem disciplina —
acrescenta. — Você me ganhou e muito.
Eu paro e giro de volta para dele, meus punhos apertados em
meus lados.
— Eu não preciso de sua merda, Niklas, — eu estalo. — Eu tive o
suficiente dela. Eu também não preciso disso.
Eu não percebo, até que seja tarde demais, que há lágrimas nos
cantos dos meus olhos. Eu respiro fundo e seguro-as.
— Meu irmão é leal a você — Niklas diz agora com sinceridade,
em vez de ridicularizar. — Eu nunca pensei que veria o dia em que ele
adoraria qualquer mulher, Izabel. Nunca. Foda-se o que Nora me disse
quando eu estava lá com ela, essa merda sobre mim nunca querendo
estar apaixonado, sobre como eu evitei — isso era verdade na maior
parte — eu não queria essa merda — mas a diferença entre mim e meu
irmão era que eu era suscetível a isso e Victor não era.
Eu não olho para Niklas, mas paro de andar de um lado para o
outro e de costas para ele, e ele sabe que estou ouvindo.
— Victor sempre foi quem me dizia, quando eu começava a me
aproximar de um golpe em minhas missões, que eu precisava ter
cuidado. Isso nunca aconteceu com ele. Ele me alertou, uma e outra
vez para não me envolver demais emocionalmente. Mas eu não o ouvi
e Claire acabou morta.
— Ela não acabou morta por causa de você — eu aponto. — Havia
outras pessoas atrás dela. Ela teria morrido mesmo se você nunca a
conhecesse.
— Talvez seja assim — diz ele. — Mas isso não é sobre mim. Olhe,
meu irmão te ama. Ele fará qualquer coisa para protegê-la, ele estava
indo me matar, lembra? O ciúme só faz você ficar mal.
Eu balanço a cabeça, atingida por suas palavras.
— Niklas, eu não fui lá e ataquei Nora só porque estava com
ciúmes. Sim, é claro que era uma parte disso, foi a gota d'água, eu só
não conseguia segurar tudo por mais tempo. Eu tentei... — cruzei os
meus braços, eu olhei para longe dele novamente — mas eu não poderia
me evitar. Ela tem minha mãe, Niklas! Ela veio aqui e espalhou todas
as nossas vidas ao redor como brinquedos — eu não aguento mais!
Há uma batida na porta do interior da sala de interrogatório. Eu
fico quieta em um instante, tentando me recompor e falho.
Niklas digita no código para deixar Victor sair.
— Eu tenho que ir mijar e encontrar um pouco de comida —
Niklas diz, sua versão de "Vou deixar vocês dois ficarem sozinhos".
Enfia ambas as mãos nos bolsos de sua calça jeans, os músculos
correndo ao longo de seus braços duros e definidos em seus lados. Ele
sai andando pelo corredor.
Nem consigo olhar para Victor. Eu olho para o chão em vez disso.
— Ela estava apenas tentando entrar em sua pele, Izabel — diz
ele. — Para provar um ponto.
Levanto os olhos para ele, cheio de raiva e exaustão.
— E um ponto ela provou. Bra-vo. — Eu zombo e começo a andar
novamente.
— Você está... ameaçada por ela? — Ele pergunta com pesada
curiosidade em sua voz.
— Não, — eu digo, embora não seja inteiramente verdade. —
Victor, eu sei que o que aconteceu me fez parecer uma louca, ciumenta,
namorada psicopata, e sim, minha reação foi provocada pelas coisas
que ela disse para você, mas essa não foi a única razão pela qual eu fui
lá. Eu confio em você, OK? Não é disso que se trata — isso já durou o
suficiente. O jeito que ela está fodendo com todas as nossas cabeças.
— Eu aperto meus dentes, aperto meus punhos e minha respiração
engata. — E você quer saber o que me irrita mais sobre tudo isso? Você
quer saber o que realmente e honestamente desencadeou para eu ir lá?
Eu ando até ele.
Ele não responde, mas não precisa.
— Eu tenho tentado encontrar desculpas a respeito do por que
qualquer um de nós se colocaria através disso, — eu começo, minha
voz endurece com cada sílaba. — Nenhum de nós, certamente não você,
daria a esta cadela cinco minutos do nosso tempo em qualquer outra
situação. Os limpadores já teriam esfregado seu sangue no chão e
teriam se livrado de seu corpo agora. — Eu paro, tentando controlar
minha respiração e arrumar minhas palavras porque o que estou
prestes a dizer vai deixar um gosto amargo na minha língua — A única
razão que qualquer um de nós está passando por essa besteira ridícula
é por causa das pessoas inocentes que amamos, por causa dos laços
com o mundo exterior que nós... eu apenas não posso cortar. — Eu
corto a mão no ar, irritada, na verdade.
Nós olhamos nos olhos um do outro por um momento curto, mas
tenso. Há algo mais que quero dizer sobre Dina, mas tenho medo.
Tenho medo porque meu coração me diz que é verdade, e eu não quero
que seja.
Olho para o chão de novo, mas apenas por um momento fugaz
quando resolvo colocá-lo na mesa, não importa o quanto tenha medo
da verdade.
— Você não tem intenção de confessar a Nora, não é?
Ele não diz nada.
— O que ela disse é verdade, não é? — Eu continuo, meu coração
batendo violentamente. — Você não vai dizer nada a ela, porque sua
organização é mais importante para você do que eu.
Victor apenas olha para mim, mas vejo algo mudar em seus olhos
verde-azulado, algo tão fraco que não consigo decifrar. Quero que seja
descrença, desgosto, algo que indique que minha acusação é errada e
infundada. Mas não tenho nada. Sem palavras. Nenhuma resposta de
qualquer tipo, o que para mim só pode significar uma coisa.
Eu me afasto na direção oposta que Niklas tinha ido, e deixo Victor
ficar lá.
Sento-me sozinha no telhado do prédio de cinco andares, olhando
para as ruas da cidade; muito poucos carros tecendo através delas
casualmente a esta hora tardia. Um semáforo à frente ficou vermelho
por cinco minutos, pelo menos; o único carro esperando por ele para
ficar verde apenas ficou lá pacientemente. Portanto, ao contrário de
mim, que nesse momento já estaria com raiva e virado o carro, fazendo
o caminho de volta. Eu ri de forma irônica para mim mesma pensando
sobre a ironia.
O ar noturno é frio, mas não frio. Uma suave brisa escova através
do meu cabelo e, embora não é muito, é tranquilizadora e eu me acalmo
com o que eu posso consegui. Eu não sei por que nunca pensei em vir
aqui antes; não há escassez de estresse em minha vida, isso é certo.
O tempo está passando. Eu não sei mais que horas são porque eu
deixei meu telefone na sala de vigilância, mas eu sei que a Hora das
Trevas está tão perto que eu posso sentir o peso dela pressionando
sobre os meus ombros. Eu desisti da esperança em salvar Dina de tudo
isso, das minhas decisões estúpidas que remontam a quando eu decidi
que queria essa vida. Eu poderia ter ficado com ela e vivido
normalmente como qualquer outra pessoa, mas eu escolhi um caminho
que, mesmo se por algum milagre ela vivesse depois disso, sempre
colocando-a em perigo. Dina não merece isso. Mas, eu era egoísta e não
estava pensando em ninguém além de mim mesma quando eu escolhi
essa vida. Não importa que eu não soubesse que ela estaria no caminho
do mal, ainda é minha culpa.
A luz fica verde e o carro rola lentamente através da interseção.
Eu assisto até que as luzes do freio piscam quando ele desliza atrás de
um edifício próximo.
— É uma noite agradável — ouço James Woodard dizer de algum
lugar atrás de mim.
Eu não respondo e eu não olho para ele. Eu me sento no telhado
com minhas pernas esticadas curvadas nos joelhos, meus braços
envoltos vagamente ao redor deles, minhas costas em uma posição
encurvada.
James se senta ao meu lado, mexendo desajeitadamente em seu
peso para que ele não caia. O cheiro de sua espessa colônia me toca
em uma brisa.
— Eu queria te dizer o que Sarah e Ann-Marie tinham a dizer. Eu
estava começando a pensar que você tinha fugido para algum lugar.
Não consegui encontrar você e ninguém sabia onde você estava.
— O que elas disseram? — Eu pergunto, sem voz. — Suas filhas?
Eu mantenho meus olhos na cidade adormecida.
— Bem, parece que eles só viram Nora — diz ele. — Ela estava
esperando dentro da casa quando elas voltaram de um amigo. Elas
disseram que no início ela alegou que estava lá para levá-las para a
segurança, mas Ann-Marie não confiava nela e ela começou a gritar
esperando que os vizinhos fossem ouvir. Foi quando Nora a nocauteou
com a ponta de uma arma. Sarah estava lá olhando, aterrorizada e não
conseguia se mexer, coitadinha — ela sempre foi a do tipo "cervo-em-
faróis". A próxima coisa que elas sabiam que estavam em um baú e
andaram assim por cerca de trinta, quarenta e cinco minutos. Ela os
manteve em uma casa no meio do nada, amarradas a algum mobiliário
ou algo assim. Mas, de qualquer forma, elas finalmente conseguiram
soltar as cordas e fizeram uma corrida longe dali. Elas pediram carona
na rodovia — pensar que minhas filhas estavam lá sozinhas numa
estrada escura assim, isso me faz querer atirar naquela mulher.
— Elas estão bem? — Eu pergunto, ainda olhando para frente.
— Sim, — ele diz. — Ela não as machucou realmente. Apenas
assusto-as principalmente. Mas fico feliz que elas tenham ficado livres
— eu não quero pensar no que Nora faria se... — Ele para, percebendo
que está pisando em águas muito familiares. — Desculpe, eu não quis
dizer...
— Tudo bem, James. Ainda bem que suas filhas estão seguras.
Eu o vejo acenar com a cabeça na minha visão periférica.
— O chefe disse que Nora deve estar trabalhando sozinha, ou
então ela teria deixado alguém lá com minhas filhas. Elas não teriam
fugido.
Eu aceno, concordando com essa avaliação, mas não consigo
encontrá-la em mim para envolvê-la na conversa. Eu realmente queria
passar esse tempo aqui sozinha, só eu e meus pensamentos, mas eu
não tenho o coração ou a energia para dizer a James para sair. Ele
realmente não é um cara mau, e eu meio que sinto muito por ele — ele
está sempre tentando fazer Victor orgulhoso dele, ou se juntar às
conversas casuais de Niklas e Dorian, mas ele nunca realmente se
encaixa bem. E Fredrik, James admira-o por alguma razão
desconcertante, até o ponto de ser meio patético. Mas, Fredrik,
aparentemente, não acredita na amizade assim que James não tem
uma possibilidade e nunca o fará porque os leões apenas não comem
com zebras.
— Se ela está trabalhando sozinha — diz James — isso significa
que ninguém está assistindo a ex-esposa de Dorian, ou a sua mãe. Se
ela morrer aqui, isso significa que não há ninguém lá fora para
machucá-los.
— Ou, isso significa que seus laços estavam mais apertados, ou
eles estavam trancados em uma sala e não podem sair — eu digo, — e
se Nora morre, então ela não pode nos dizer onde encontrá-las e elas
vão morrer qualquer maneira.
James se mexe desconfortavelmente ao meu lado, sabendo que
estou certa.
— Ou, isso significa que ela não está trabalhando sozinha, —
continuo, meu olhar ainda fixo na rua — e que suas filhas fugindo era
apenas parte de seu plano.
Eu olho por cima. James tem aquele olhar em seu rosto gordinho,
aquele onde ele se sente estúpido e se arrepende de dizer qualquer
coisa.
— Desculpe, James — digo. — Eu sei que você está tentando ser
positivo e eu aprecio isso. Eu realmente faço — Eu suspiro longo,
profundo e mudo de assunto — Eu realmente odeio essa mulher. Eu
disse isso cem vezes, para Victor, para mim, mas sinto que não posso
dizer o suficiente. Eu a odeio, mas ao mesmo tempo, eu queria ser mais
parecida com ela.
— Por quê? — Ele parece chocado com uma confissão tão ridícula.
— Ela é apenas uma sanguessuga manipuladora, malvada, Izabel.
Brincar com a cabeça das pessoas. Você é muito mais mulher do que
ela. E eu acho que você é mais sexy também.
Eu olho de novo e ele está sorrindo docemente.
Permito-lhe um sorriso fraco, apenas o suficiente para deixá-lo
saber que eu aprecio isso, mas desaparece tão rapidamente.
— Ela é quase tudo que eu quero ser — eu admito, olhando para
a cidade escura e calma novamente. — Ela sabe o que está fazendo. E
ela é boa nisso, eu desejo que Victor tivesse mais tempo para me
treinar. Para ser a melhor. Eu pensei que eu estava indo bem por muito
tempo, mas, com Nora estando aqui, pegando cada uma das minhas
falhas — mesmo as que eu não sabia que eu tinha — e os mostrando
para todos, eu simplesmente não me sinto tão boa sobre mim mesma.
Sinto como se tivesse dado dez passos para trás.
— Então faça algo sobre isso — diz ele. — Pelo menos você pode
corrigir suas falhas. Você é jovem, bonita e saudável. Eu — ele aponta
para si mesmo com ambas as mãos pesadas — Eu não sou tão fácil de
consertar. Eu sou um idiota gorducho nojento que fica sem fôlego
subindo três degraus. E eu sou muito velho e muito insalubre para
perder peso ou melhorar por eu mesmo, realmente. Meu cabelo está
quase desaparecendo. Eu sou infiel à única mulher que tem realmente
aturado a minha merda. Levaria mais do que uma esteira e implantes
de cabelo para me ajudar.
— Primeiro de tudo — digo, apontando o dedo para ele, — não
chame a si mesmo de um gorducho nojento. Eu admito que você não é
exatamente meu tipo, mas você é um cara bom, James. Um pouco
assustador, às vezes, e você precisa trabalhar em sua personalidade
dependente, e, Jesus Cristo perder essa colônia, é horrível, mas por
outro lado não há nada de errado com você, e você deve estar fazendo
algo certo com as senhoras — você tem filhos suficientes. — Um sorriso
se esgueira sobre meus lábios brevemente. Ele cora. — Você é um bom
pai — eu nunca tive um. E você é um trunfo para Victor. Ele não teria
você aqui envolvido neste negócio, confiando em você com informações
top secretas, se ele não achasse que você fosse importante e tinha algo
de valor para contribuir. Então, não seja tão duro consigo mesmo.
— Hmmm — diz ele, — parece que alguém deve tomar seu próprio
conselho.
Eu olho para ele e mantenho meu olhar desta vez.
— Você acha que alguém como Victor Faust manteria uma mulher
por apenas porque ele estava dormindo com ela, ou tenha sentimentos
por ela? — Ele diz, fazendo um ponto que eu facilmente de consegui.
— Ele é muito cuidadoso, e está muito investida nisso para cometer um
erro como esse. Se ele não achasse que você fosse boa, ele ainda poderia
estar apaixonado por você, mas você seria mais como uma Tessa do
que uma Izabel.
Meu olhar flui enquanto me sento em pensamento.
— Assim, com o que quer que você esteja infeliz consigo mesma,
— prossegue — apenas repara-o.
Um carro preto segue para frente na frente do edifício abaixo e os
faróis desligados. Empurrando-me para os meus pés, eu olho para
baixo do telhado do edifício para ver um diabo alto, de cabelos escuros
saindo da porta do lado do motorista.
— Puta merda... é Fredrik. — Estou tão chocada que tudo que
posso fazer por um longo momento é olhar fixamente do telhado para
o topo da cabeça de Fredrik até que ele desaparece da minha visão
entrando no prédio.
James fica de pé com dificuldade.
— Você tem certeza? — Ele pergunta quando ele está de pé.
Estamos a cinco andares e está escuro, mas eu sei que é Fredrik.
Eu só sei isso.
— Definitivamente. Vamos!
Caminho rapidamente até a porta da cobertura. James me segue
de perto, o som de suas calças arrastando sobre o concreto como o
intuito de manter o ritmo. Colocando as duas mãos sobre a maçaneta
correndo horizontalmente através da porta, eu dou-lhe um empurrão
pesado e ela se abre, acertando a parede de tijolos atrás dele com um
estrondo que ecoa através da escada a nossa frente
— Uau, eu... realmente não acho que ele estava... indo aparecer!
— James diz atrás de mim, sem fôlego.
Desço as escadas um degrau de cada vez, mas rapidamente, até
chegar ao elevador de tamanho industrial.
— Eu também não — digo uma vez que James está comigo.
A porta se fecha e o elevador move-se com uma ligeira sacudida.
A luz acima de nós pisca por um momento até que o elevador se acalme.
— Parece que o jogo mudou para o nosso favor — diz ele com um
ar de excitação. — Ela pode ter encontrado seu fósforo.
— Isso é o que me preocupa — eu digo, olhando para o meu reflexo
entortado na porta de prata do elevador. — Nora estava certa sobre
Fredrik — ele não vai quebrar. Então, se ele não pode quebrá-la, nós
nunca saberemos onde ela está mantendo Dina. E ele pode matá-la.
— Oh, eu acho que o Sr. Gustavsson vai definitivamente quebrá-
la — ele diz com confiança e um sorriso em sua voz.
— Eu não tenho tanta certeza desta vez... — eu digo distante,
preocupada.
— Bem, de qualquer forma — diz James, — as coisas ficaram mais
interessantes.
— Sim... eles ficaram...
CapÍtulo DEZESSETE
Izabel

Eu estalei através da porta no fim do salão, banhada pelas luzes


fluorecentes, azulejos brilhantes e paredes brancas. James está atrás
de mim. Enquanto estamos correndo pelo longo trecho do corredor, vejo
três figuras altas aparecerem na outra extremidade — Fredrik,
carregando uma pasta, está na frente de Victor e Niklas. Está vestido
em um terno preto elegante e sapatos pretos brilhantes; um homem
maravilhoso, assustador que já foi meu amigo e que eu amava como
um irmão.
Minha respiração pega quando seus olhos varrem os meus tão
brevemente que eu começo a questionar se alguma vez aconteceu.
Meus passos são lentos quando nos aproximamos. Eu sinto que esta é
a primeira vez que olho para ele, como se nunca tivesse rido com ele
ou ajudado quando ele estava mais fraco — ele é um homem diferente,
eu sei disso há meses, mas só agora eu estou vendo o quão diferente,
porque eu sinto como se eu não o conhecesse em tudo e nunca o
fizesse. Ele me assusta. Nas profundezas da minha alma, ele realmente
me assusta... mas eu ainda o amo.
Victor e Niklas olham para mim ao mesmo tempo que eu ando
para frente; Niklas com um olhar sombrio nos olhos cheios de
expectativa, mas pouca esperança; Victor com... nada, como de
costume, e agora mais do que nunca está realmente começando a me
incomodar.
Fredrik aperta o código no painel da porta e não diz nada
enquanto ele desaparece dentro da sala com Nora. O som da porta
fechando suavemente é o único som por um longo tempo enquanto o
resto de nós apenas olha na direção de onde Fredrik apenas se
levantou. Nós olhamos um para o outro mais uma vez, todos se
perguntando a mesma coisa — ele pode quebrá-la, e se não, ele vai
matá-la? A resposta é sim a pelo menos uma dessas perguntas.
Sem dizer uma palavra, eu entro em uma corrida completa pelo
corredor, correndo atrás de Victor e Niklas e vou em direção ao
elevador. Mas, então, quando eu me aproximo, eu tomo uma direção
aguda a esquerda e vou para as escadas porque eu acho que posso
correr mais rápido para o quinto andar do que o elevador pode me levar
lá.
Em menos de um minuto, estou empurrando meu caminho
através da sala de vigilância, em torno de uma cadeira de rolamento e
para as telas de televisão nas mesas.
Victor, Niklas e James se juntam a mim pouco depois.
— Onde está o volume nessa coisa? — Eu pergunto ansiosamente,
correndo minhas mãos ao longo de vários botões diferentes e depois
nos computadores. Eu sei onde ele está, até mesmo eu usei isso antes,
mas minha mente está tão dispersa agora pela virada dos eventos que
eu não estou pensando corretamente.
Calma, Izabel... este é o pior momento para perder a cabeça.
Victor pisa ao meu lado e clica um mouse do computador algumas
vezes até que a voz de Nora gradualmente enche a sala de vigilância.
Fredrik não diz nada.
Calmamente e metodicamente, ele abre sua pasta preta na mesa
empurrada contra a parede. Um arrepio subiu pela minha coluna e um
arrepio desconfortável se instala no meu estômago quando vejo suas —
ferramentas — e seringas e o material de pesadelos, tudo perfeitamente
fixo dentro do estojo, cada peça colocada em seu lugar com precisão.
— Izabel, — Victor diz ao meu lado, — você não deve ter
esperanças sobre isso.
Eu olho por cima.
— Por quê? Porque mesmo se Fredrik a quebrasse ou confesses,
você vai ser o único que irá consegui ter Dina mata? — Eu olho para
trás para a tela, sem saber se minha acusação o corta ou não.
Eu amo Victor - eu amo esse homem pra caralho - mas agora, eu
não posso nem olhar para ele.
E os únicos rostos que eu vejo ou quero ver são de Nora e Fredrik.
Debruçado sobre a mesa com as palmas das mãos pressionadas
contra ela, eu olho para a tela do meio, consumida pelo que está
acontecendo naquela sala, mas com medo de assistir da mesma forma.
Eu sinto que estou em um cinema, assistindo a um filme de terror,
sabendo que em algum momento eu vou ter que cobrir meus olhos e
assistir através das fendas em meus dedos. Eu nunca fui capaz de
estômago ver as coisas que Fredrik faz para as pessoas durante um
interrogatório. E eu nunca vou. Eu posso ser um assassino, eu posso
ter visto e experimentado muitas coisas horríveis, mas algumas coisas
que você nunca pode se acostumar.
— Como devo chamá-lo? — Nora diz da cadeira com um sorriso
profundo em sua voz e igualmente em seus lábios. — O Especialista?
Interrogador? Ou talvez, — ela estreita os olhos e olha para ele de uma
forma de soslaio, preparando-se para apertar um botão — O Chacal?
Fredrik não se encolhe. Apenas observando como ele move certas
ferramentas da pasta para a mesa com absolutamente nenhuma
emoção, diz-me que ele nem sequer está vacilando no interior.
— Que tal na base do primeiro nome, então? — Nora oferece com
um encolher de ombros limitado. — Já que você está prestes a ficar
muito pessoal comigo, eu acho que é justo.
Sem resposta. Nem mesmo o contorno de um olho.
Fredrik muito casualmente remove seu paletó e coloca-o
perfeitamente em toda a mesa a cerca de um pé de distância da pasta.
Então ele quebra os botões nos punhos de sua camisa, muito
lentamente, como se ele estivesse apenas chegando em casa de um dia
no escritório e está se preparando para tomar banho. Ele passa as
mangas pelos cotovelos. Ainda assim, ele não olha para trás, nem diz
uma palavra, nem mesmo remotamente mostra um sinal de que ele
ouve qualquer coisa que ela está dizendo.
Mas Nora não parece estar desanimada — seu sorriso fica mais
brilhante, seus olhos parecem se encher de intriga e brincadeira.
Se eu fosse a pessoa na cadeira, eu já teria mijado já.
— O que, nenhuma conversa? — Provoca Nora. — Nenhum jantar
e nenhum filme antes do nosso primeiro beijo? Acontece que eu gosto
das preliminares, Fredrik, então talvez você pudesse ceder um pouco.
Ele coloca um par de luvas de látex branco em suas mãos.
Então ele a aproxima casualmente com um par de alicates.
Oh deus... não os dentes.
Ele sempre puxa os dentes. Não consigo imaginar o que ele passou
como uma criança para fazê-lo ter tanto prazer em puxar os dentes da
vítima.
Os olhos de Nora contornam o alicate enquanto ele se aproxima,
e espero ver até o menor sinal de medo em seu rosto, mas eu não vejo.
Sua boca sobre num canto.
Sem uma palavra, Fredrik leva Nora pelo queixo, cavando seus
dedos longos em seu queixo e forçando sua cabeça para trás em seu
pescoço. Sua boca se abre quando ele aperta, mas Nora não grita, nem
chora, nem implora. Ela não faz nada. Somente quando aperta os
alicates em torno de um de seus dentes traseiros de Nora começa a
mostrar sinais de desconforto. Ela engasga quando o alicate atingi a
parte de trás de sua língua, e então ela grita um pouco em resposta à
dor quando ele torce o alicate para frente e para trás, lado a lado, até
que ele tira o dente.
— Maldição! — Grita Nora. Riso misturado com dor. O sangue
escorre pelo queixo. — Nenhuma palavra? Fale sobre jogar duro para
conseguir.
Fredrik anda casualmente de volta para a mesa onde ele deixa
cair o dente.
— Você tem mais trinta e um desses — Fredrik diz impassível,
aproximando-se dela novamente. — Agora me diga, onde estão as
pessoas que você sequestrou?
Nora sorri e não responde.
Ele engasga ela novamente e remove outro dente.
Mais dois dentes depois, ele começa a mudar suas perguntas.
— Onde você conseguiu suas informações sobre Dorian Flynn?
Nada.
— Onde conseguiu suas informações sobre Victor Faust?
Nada.
— Onde conseguiu suas informações sobre Niklas Fleischer?
Nada.
Ele tira outro dente.
— Foooda-se você! — Ela rosna. Sua respiração é rápida e
instável. Sangue derrama por seu queixo e pelos cantos de sua boca.
Ele finalmente tem sua atenção.
— Onde conseguiu suas informações sobre James Woodard?
Ainda nada quando ele finalmente começa a nomear.
Nora espetos de sangue para ele, e ele salta para longe dela com
uma camisa branca salpicada de sangue.
Vendo que Nora pode precisar de algo mais intenso do que o puxar
de seus dentes, eu passo para longe da tela e coloco minhas costas
para ela quando eu vejo-o pegar um frasco de agulhas de sua pasta.
Eu nunca posso assistir isso. Só o pensamento de agulhas sendo
empurrado debaixo das unhas de alguém, me faz tremer.
Um minuto depois, os gritos de Nora são tão sangrentos que eu
tenho que cobrir meus ouvidos, pressionando ambas as mãos
firmemente sobre elas.
De repente, a porta da sala de vigilância abre-se e estou no
corredor. James se junta a mim.
— Jesus, porra de Cristo — ele diz, tremendo debaixo de sua
camisa xadrez com suor nas axilas, — Eu simplesmente não consigo
ver isso.
— Pensei que você o admirava — digo, ainda tremendo.
— Eu faço, — ele diz enquanto desliza um dedo atrás do pescoço
de sua camisa e a puxa para longe de sua pele, — mas eu nunca disse
ser capaz de suportar o que ele faz. Eu o admiro porque ele não tem
medo de nada. Porque todo mundo que eu conheço tem medo dele.
Os gritos de Nora chegam aos meus ouvidos no corredor desde
que a porta da sala de vigilância ainda está aberta. Aperto minhas mãos
contra os lados da minha cabeça novamente, estremecendo.
Niklas aparece na porta e começa a fechá-la depois de ver o
quanto está me afetando, mas eu balanço a cabeça e impeço-o.
— Não — eu digo, — deixe-a aberta. Quero ouvir se ela diz alguma
coisa.
— Tem certeza, Iz?
— Sim, — eu aceno com a cabeça em um movimento rápido,
desconfortável. — Eu vou ficar bem.
Ele sacode a cabeça com um suspiro como se ele realmente não
acreditasse em mim, e depois volta para dentro para assistir com
Victor.
Trinta minutos mais tarde eu estou sentada no chão do corredor
com minhas costas pressionadas na parede e meus joelhos levantados.
E Nora ainda não respondeu a uma única pergunta.
Estou começando a temer por ela. Eu posso querer que ela morra,
mas eu não gostaria de morrer assim e eu só queria que ela falasse.
Diga algo para aliviar sua dor e a minha.
— O que ele está fazendo? — Eu ouço Niklas dizer com
curiosidade.
Hesitantemente, eu me levanto do chão e, com um pouco de
conversa comigo, entro na sala para olhar para a tela.
Fredrik a cortou de seus laços e destrancou as algemas de seus
tornozelos e pulsos.
— Eu não vou te dizer nada, — Nora diz em uma voz cheia de dor,
enquanto ele a força a ficar de pé.
Ela não luta nem tenta fugir, mas acho que a dor com que ela está
lidando tem muito a ver com isso.
— Faust me diz que você é uma filha do SC-4 — Fredrik diz, tão
calmamente como sempre. Ele tira a camisa de seda preta e a leva até
a parede. Ela não luta quando ele a pressiona contra isso. — Levante
os braços, — ele diz, e ela faz.
Suas mãos estão manchadas de sangue, as pontas dos dedos
inchadas e vermelhas. Seu corpo treme apertado contra a parede da
frente. Mas ainda assim, ela não cede. Ela está com uma dor inegável
e eu sei que ela quer acabar com isso, mas ela não quebra.
Meu Deus... sua costa... o que eles fizeram com ela?
A parte de trás de Nora está coberta de cicatrizes profundas,
atravessando um horrível padrão de um ombro para o outro e do topo
de sua espinha até o alto de seus quadris. Cicatrizes velhas. Feito por
todos os tipos de chicotes, ou talvez mesmo uma lâmina — a partir da
aparência delas, provavelmente ambos.
Fredrik desliza uma faca por baixo de suas alças de sutiã e as
corta. O sutiã preto cai no chão, deixando-a exposta.
— Era uma pergunta — Fredrik diz por trás dela. — Você é
membro da Sombra?
Responda-lhe maldita! Eu grito dentro da minha cabeça. Por favor,
Nora!
Eu não sei porque me importo, mas eu faço.
Responda-lhe!
— Sim — diz Nora. — Meu pai era Solís.
— E onde está Solis agora?
— Eu o matei.
Então é isso que ela matou por sua liberdade. Isso é o que ela não
contaria ao Victor.
Victor e Niklas olham um para o outro.
— Ela está falando? — James pergunta quando ele decide se
juntar a nós novamente.
— Sim, — Victor diz, olhando para a tela, — mas ela está apenas
dizendo a ele coisas que ela quer que saibamos.
Eu olho para Victor, tão duro quando rasgo meus olhos longe da
tela.
— O que você está dizendo? — Pergunto.
— Eu não acho que ele vá ser capaz de quebrá-la, — Victor diz. —
Ela vai lhe dizer algumas coisas, apenas para aliviar sua dor, mas ela
não vai dizer a ele nada de crucial como por que ela veio aqui.
— Talvez você esteja errado — eu digo.
— Eu poderia muito bem estar, Izabel — ele diz, finalmente
olhando para mim. — Eu espero que eu esteja.
Ele olha para a tela.
Levo-me um segundo mais, mas finalmente eu faço também.
— E por que você está aqui? — Fredrik pergunta Nora.
Ela não responde e então ele começa a cortar, abrindo uma nova
ferida em sua carne já desfigurada de volta.
Minhas mãos tremem.
— Como você sabia sobre Izabel Seyfried?
Ela grita de dor, lágrimas escorrendo de seus olhos.
— Eu não! — Diz ela, chocando-me em sua apresentação. — Eu
sabia algumas coisas sobre ela. Eu sabia o suficiente! Eu descobri o
que todo mundo sabe. Sobre ela sendo uma escrava sexual no México.
Sobre Javier. E eu coloquei um cenário lógico em conjunto com base
em suas circunstâncias. Eu não sabia seu segredo. Eu não sabia até
que ela me disse por si mesma! Assim como Dorian Flynn!
Eu não posso me mover. Eu não consigo respirar. Levo muito
tempo para elevar meu olhar focalizado da tela para olhar para Victor
e Niklas.
— Ela não sabia, — eu digo distraidamente, mais para mim do
que para eles. — Como... como ela...
— Ela é realmente boa — diz James.
— E quanto a Niklas Fleischer? — pergunta Fredrik, pressionando
a lâmina de sua faca contra as costas, mas sem cortá-la. — Como você
sabia sobre Niklas e Claire?
— Da mesma forma que eu sabia sobre Izabel e Dorian! — Ela
grita. — Eu fiz a minha pesquisa. Eu tinha seis anos para seguir todos
vocês. Seis anos para tramar esta noite!
— Você contou a Fredrik essas coisas? — Perguntei a Victor.
Me dou conta que para Fredrik saber qualquer coisa, para que ele
possa fazer essas perguntas específicas, ele deve ter conversado com
um de nós.
— Fredrik está vindo para cá desde ontem — Victor responde. —
Eu não sabia até hoje à noite. Ele estava na Suécia. Quando chegou ao
aeroporto aqui, ele me ligou e eu o preenchi.
— Por que você não me contou?
— Porque você queria ficar sozinha.
— E porque você não podia ser encontrada — Niklas entra na
conversa. — Eu tentei ligar para você, até que seu celular vibrou na
mesa ao meu lado.
Olho para a tela.
— Por que você está aqui, Nora Kessler? — Fredrik pergunta. —
E onde está a localização de Dina Gregory e Tessa Flynn?
Ela não responde.
Ele a corta novamente, e embora o ato em si seja suficiente para
trazer Nora de joelhos, o que mais me impressiona é que ela não se
move. Nora está desatada. Nada a impede de lutar, de rodear Fredrik e
tirar a faca dele para se proteger. No entanto, ela não faz nada. Ela de
bom grado está de encontro àquela parede com os braços levantados
acima dela, e está deixando Fredrik torturá-la. Eu sei que ela pode
lutar. Ela provavelmente daria a Fredrik um tempo difícil. Ela fez com
todos nós. Ela provou que ela tem habilidades suficientes para lutar e
evitar Fredrik de machucá-la. Mas ela não se move.
— Ela não vai quebrar, — eu digo com a realização, meu olhar fixo
na tela. — Victor... ela não vai dizer a ele. Ela está deixando ele fazer
isso com ela...
Fredrik vai matá-la.
Eu saí do quarto, quase tropeçando naquela cadeira de rodas
estúpida no meu caminho para fora, e descer as escadas.
— IZABEL! — Eu ouço Niklas chamar depois de mim.
Mas eu não paro. Eu continuo correndo até chegar ao terceiro
andar, e corro até a porta e soco o código.
— Izabel! O que diabos você está fazendo? — Niklas está vindo
atrás de mim. — PARE! — Sua voz explode pelo corredor.
Corro para o quarto.
— Fredrik, você não a mata! — Eu grito. — Eu não posso deixar
Dina morrer! Por favor! — As lágrimas escorriam dos meus olhos.
Ele nem sequer olha para mim.
Nora grita enquanto a corta.
— CONFESSE! — Ela grita, assim como Niklas, Victor e James
irromperam na sala atrás de mim. — Eu não digo nada até que eu
receba a minha confissão!
Fredrik a corta novamente.
Olho de Victor a Fredrik, meus olhos cheios de desespero e
conflito.
O corpo de Nora começa a deslizar para baixo em direção ao chão,
suas mãos sangrando deixando manchas contra o tijolo.
Lágrimas escorrem dos meus olhos. Dina...
Eu sinto que vou desmaiar.
— Pare — ouvi a voz de Victor.
Um repentino e estranho silêncio enche a sala quando Fredrik
para. Tenho medo de olhar para cima, com medo de ver que a lâmina
de Fredrik finalmente atravessou a garganta de Nora.
Mas eu olho de qualquer maneira.
E ela está viva.
Nora cai o resto do caminho contra o chão; seu sangue
manchando tudo.
Fredrik se afasta e Victor se aproxima.
— Confesse que Voxê, filho da puta... — Nora diz, olhando bem
para Victor.
Eu olho para ele com confusão, mas ele não olha para ninguém
além de Nora.
— Você sabe que eu vou fazer, — Nora diz, ofegante para o ar. —
Você sabe que vou deixá-los morrer.
Ela vai. Se ela pudesse suportar a tortura de Fredrik, a tortura
que o SC-4 infligiu a ela, eu sei que ela vai...
Niklas pisa ao meu lado. Eu sinto o gancho da sua mão em volta
da minha cintura para que ele possa me segurar. Eu nem percebi que
estava no meu caminho para encontrar o chão, também.
— Espera! E Dorian? — Eu grito. — Ele tem que estar aqui.
— Ela não se importa se Flynn está aqui ou não, — Victor diz,
ainda só olhando para Nora. — A única pessoa nesta sala que ela se
importa que ouça o que tenho a dizer... é meu irmão.
Olho para Niklas de pé ao meu lado e sinto que sua mão fica
frouxa na minha cintura. Ele está olhando para a parte de trás da
cabeça de Victor com confusão em repouso em seus olhos.
— Confesse! — Nora diz uma última vez através de uma respiração
pesada e com as mãos trêmulas.
— Eu matei Claire — Victor diz de costas para nós. — Eu matei a
mulher que meu irmão amava.
A mão de Niklas cai completamente da minha cintura.
CapÍtulo DEZOITO
Izabel

Incapaz de falar, ou encontrar os meus pensamentos, eu olho


para Niklas com um olhar de choque no meu rosto que rapidamente se
transforma em desgosto.
Niklas não se move. Ele fica parado ali em algum tipo de vazio
incompreensível. Seus braços para baixo em seus lados. Ele está
olhando para mim? Ou ele é olhando para Victor atrás de mim? Tudo
o que ele está olhando eu sei que ele não vê.
Nunca me senti tão culpadq por estar viva.
— Claire era minha irmã — ouço a voz exausta e cheia de dor de
Nora dizer. — Eu a amava. Ela era a minha fraqueza. Foi por isso que
Solis cortou a ponta do meu dedo, por que eu fui batida até perto da
morte por estar comprometida. Eu deveria ser reformada pelo que me
fizeram. Mas só me piorou, trouxe para fora uma parte de mim que
nem sequer assistindo Victor Faust atirar na minha irmã morta, trouxe
para fora. Eu estava lá naquela noite. Seis anos atrás. Eu estava lá
quando Victor chegou antes de Niklas, e matou Claire e os homens que
foram enviados para matá-la, antes que eu pudesse salvá-la.
Meus olhos dardam de um lado para outro entre Niklas e Victor.
Minhas mãos tremem. Meu interior sente-se torcido e azedo. Sacudo a
cabeça repetidamente, não querendo acreditar no que acabei de ouvir,
esperando afastar a verdade da minha mente.
Niklas ainda não se moveu.
Victor finalmente se vira para olhar para ele.
— Nada que eu possa dizer jamais fará isso direito, irmão — Victor
diz a Niklas.
— Então não diga nada — Niklas diz enquanto levanta a cabeça e
seus olhos bloquear Victor — ... irmão. Não me diga nada, ou eu mesmo
o mato.
Victor só olha para ele e eu estou sufocando com a tensão no
quarto.
Niklas se vira e vai embora.
— Espera... — Eu vou por trás dele, o colapso a minha mão sobre
o seu pulso — Niklas...
— Deixe-me em paz, Izabel — ele diz calmamente, empurrando
minha mão e então ele se dirige para a porta.
James, crivado com o mesmo tipo de choque que eu, sai do seu
caminho, principalmente por medo de Niklas o movendo.
— Você vai precisar de mais alguma coisa? — Fredrik pergunta a
Victor, desinteressado por tudo o que aconteceu.
Levo muito tempo para fugir de Niklas e minha necessidade
desesperada de correr atrás dele, para consolá-lo, e finalmente eu olho
para trás para Victor, Fredrik e Nora.
Fredrik está de pé na mesa, limpando suas ferramentas com um
pano e uma pequena garrafa de spray cheia de solução de água
sanitária e, em seguida, colocando os itens de volta dentro da pasta.
Victor olha para Nora.
— Onde eles estão?
— 429 South Padre Drive, — Nora responde. — 24 Arlin Avenue é
onde você vai encontrar as filhas — ela ainda não tem ideia de que as
filhas de James escaparam — e a velha senhora — 12421 Griffins
Street. Todos estão aqui em Boston.
Victor se vira para James.
— Pegue alguns homens — ele exige. — Vá com eles e me ligue
assim que você as vir bem e vivas. — Olha para trás de Nora enquanto
James está saindo apressadamente para fora da porta.
— Isso vai ser tudo por agora — Victor diz Fredrik mesmo que ele
não está olhando para ele. — Mas não vá a lugar nenhum. Tenho outro
emprego para você.
Fredrik concorda, pega sua pasta e passa por nós.
Ele nem sequer olha para mim e me corta até o osso.
Por mais que eu queira correr atrás dele como Niklas, eu não faço.
E agora mesmo se eu tivesse que escolher qual deles correr atrás, seria
Niklas.
— Como se sente? — Nora pede friamente de uma poça de sangue
no chão. — Em perder alguém que você ama? Eu disse a você que eu
conseguiria o que eu queria de qualquer maneira.
E ela fez - se Victor não confessasse, ele teria perdido a mim por
causa de Dina, mas porque ele confessou, ele perdeu seu irmão.
Eu não sei o que pensar, ou como se sentir, ou de quem é a culpa,
ou... não sei nada e isso está me matando por dentro. O homem que
eu pensava que conhecia, o homem que eu amo com tudo em mim, não
é quem eu pensava que ele era. Eu acho que…
Eu não entendo nada disso!
— Victor? — Eu digo, avançando atrás dele. — Por quê? — É tudo
que eu posso dizer.
— Eu direi a você mais tarde — diz ele. — Agora não é a hora.
Eu estou tão brava com ele. Quem é essa pessoa? Estou tão
confusa. Ele me escolheu. Ele escolheu confessar para salvar Dina
porque ele me ama. Mas por que me sinto tão horrível? Por que eu
quero fugir de tudo isso e me esconder?
— Nós somos uniformes, — Nora diz, seu rosto está começando a
inchar dos dentes de trás que Fredrik removeu.
Victor puxa sua arma da parte de trás de suas calças.
Eu passo na frente dele.
— Não — eu digo a ele. — Deixe que ela fale — temos que esperar
de qualquer maneira, caso ela minta sobre os endereços. — Não posso
acreditar que eu tinha que dizer isso a ele mesmo; ele sabe essas coisas
melhor do que eu, por isso, a sua rapidez de querer acabar com sua
vida diz-me o quão zangado ele realmente está por dentro. Então, com
raiva que ele está cego por isso, que é uma coisa rara de ver em Victor.
Seus olhos passam sobre os meus e ele cede, deixando a arma
pendurada ao seu lado.
Volto-me para Nora.
— Diga o que você tem a dizer, — eu digo a ela. — Eu não posso
impedi-lo de matar você, e honestamente eu realmente não quero
depois do que você nos fez, mas diga o que você tem a dizer.
Nora faz uma careta enquanto se aproxima para se sentar contra
a parede, pressionando seu ombro contra ela em vez de suas costas
feridas. Ela para para recuperar o fôlego e deixar a dor passar por ela
antes que ela comece a falar.
— Claire nasceu com um defeito — diz Nora. — Um problema
cardíaco. Qualquer coisa que pudesse potencialmente colocar um de
nós em risco, ou comprometer nossas missões mais tarde na vida, nos
tornaria impróprios para fazer parte da Seita. Quando Claire nasceu,
ela foi vendida como uma criança para uma família através de uma
adoção. É como a Sect faz parte do seu dinheiro — vender os bebês
defeituosos em vez de matá-los. Porque eles são apenas bebês, não há
nada para eles ter visto ou se lembrado sobre a Seita, então eles não
são considerados uma ameaça. Apenas criadores de dinheiro.
Sento-me na cadeira e escuto atentamente.
— Mas os defeitos são vistos toda a vida pela Sect — prossegue.
— Apenas como uma precaução. Fui comissionada para ser a única
que vigiaria Claire. Eu não sabia que ela era minha irmã até muito mais
tarde, mas para fazer uma longa história curta, descobri através de um
exame de sangue depois de ter feito amizade com ela, e algo dentro de
mim... mudou. Ela era uma menina doce. Inocente — ela olha para
Victor friamente com culpa — Tornei-me protetora dela. E porque ela
era minha irmã, eu comecei a mentir para a Sect sobre tudo. Eles
descobriram. E foi quando perceberam que eu estava comprometida.
Ela se esforça para ajustar a sua posição, mas acaba inclinada
contra a parede da mesma forma. Ela respira fundo e continua.
— Eu fui desonesta depois que eles tentaram me reformar. Solis
e o SC-4 não puderam me encontrar. Nenhum vestígio mesmo quando
eu estava à vista — aprendi com os melhores e usei todas as
habilidades que me ensinaram a evitá-las. — Ela abaixa os olhos. —
Mas eu não podia ficar longe de Claire. Eu queria protegê-la, porque eu
sabia que a Seita iria atrás dela se eles não pudessem me encontrar.
Claire sabia que eu era sua irmã, mas nunca lhe disse o que mais eu
era, ou quem estava atrás dela, então foi difícil no começo fazê-la
acreditar em mim quando eu disse a ela que ela estava em perigo e eu
a convenci a se mudar. Mas ela fez e eu me certifiquei que ela estava
segura enquanto eu deixá-la viver sua vida. Claire se apaixonou — por
Niklas — e eu fiquei intrigada por isso, então eu nunca tentei parar
com isso e nunca tive suspeitas. Eu estava livre, experimentando uma
estranha nova vida — das sombras, é claro; eu não podia me envolver
mais do que eu tinha — sentindo uma infinidade de emoções que eu
nunca tinha sentido antes. E isso me deixou fraca, minha intriga me
fez cega. Eventualmente eles a encontraram e vieram atrás ela.
— Aqueles homens na casa — digo eu, — eles faziam parte do SC-
4?
— Sim, — ela diz, e então ela olha para Victor novamente, — mas
eles não foram os únicos enviados para matar Claire.
Eu quero olhar para trás para Victor, também, mas eu não posso
querer fazer isso. Tenho tantas perguntas para ele, e sei que ele detém
todas as respostas que vão pôr tudo o resto para descansar, mas como
ele disse, este não é o momento ou lugar.
Eu me levanto da cadeira e passo pelos azulejos nas minhas
botas, meus braços cruzados sobre o meu peito.
Então eu paro e olho para Nora novamente.
— Por que você não me matou, ou Niklas? — Eu pergunto. — Se
a vingança é o que você queria, por que este jogo elaborado? — eu
gesticulo uma mão na minha frente — Por que gastar seis anos de sua
vida conspirando e espionando não apenas Victor e Niklas, mas o resto
de nós? Por que não tirar um de nós? — Eu consegui olhar para Victor
desta vez, me perguntando se ele poderia estar pensando a mesma
coisa. Seus olhos passam sobre os meus lentamente, como se ele
quisesse mantê-los lá, mas não se sente bem sobre isso, e então ele
olha de volta para baixo para Nora com todo o ódio que ele pode reunir
em um rosto aparentemente sem emoção.
Nora se força para fora da parede, uma careta torcendo seus
traços enquanto ela se senta erguida. Ela nunca tenta cobrir seus
peitos nus, mas eu acho que eu não me importaria muito sobre a
vergonha, se eu tivesse sido torturado.
— Eu não vim aqui para vingança — ela diz e olha direito para
Victor. — Eu vim aqui porque eu quero me juntar à sua Ordem.
Sinto meus olhos se arregalarem no meu rosto.
Olho para Victor, sem palavras.
— Você tem que estar brincando comigo — Victor diz.
— Não, — Nora diz, balançando a cabeça lentamente, — na
verdade eu estou muito sério. Por que você acha que eu fiz tudo isso?
— Ela tenta gesticular uma mão, mas a dor dispara através dela
quando ela levanta o braço. Ela deixa cair de volta. — Esta era a minha
maneira de provar minhas habilidades. E que melhor maneira de
mostrar a você tudo o que sou capaz de fazer do que dar-lhe a grande
turnê?
Victor balança a cabeça com descrença.
— Você está louca — diz ele.
Eu não tenho tanta certeza…
— Você poderia usar alguém como eu em sua organização, Faust
— ela continua. — Eu sou tudo o que você sempre quis em um agente,
Victor — Suas palavras me queimam, mesmo que não tivesse a
intenção — e você não pode negar tanto quanto você me despreza
agora. Eu me comprovei em mais de um sentido e até mesmo de bom
grado me permiti ser torturada pelo homem cujo nome se espalha medo
e paranoia através de quem o ouve em nosso mundo subterrâneo - eu
não podi ser quebrada. — Ela restringe o seu olhar sobre ele e
acrescenta: — e não posso mais ser comprometida — e, por um
momento, ela é a mesma mulher astuta e perversa que ela tinha sido
antes de ser torturada.
Eu olho para Victor. Ele olha só para ela. E embora seja
provavelmente apenas para manter seu ódio inabalável por ela, ainda
me deixa desconfortável. Mas eu escovo isto porque eu quero ser forte.
Quero que Victor saiba que confio nele e que não sou ameaçada por
ela. Mesmo que eu seja.
— Por que diabos você quer trabalhar para o mesmo homem que
matou sua irmã? — Eu pergunto.
— Porque está no passado — diz ela enquanto seus olhos caem
sobre mim, embora sua cabeça permaneça voltada para Victor. Então
ela olha para ele novamente. — E porque, como eu disse, estamos no
agora.
O olhar de Victor se quebra e ele se aproxima de mim e me leva
suavemente pelo braço.
— Vamos — ele diz, e caminha comigo até a porta aberta.
Eu sigo ao lado dele, olhando para Nora enquanto ela tenta se
levantar.
— Você precisa de mim! — Ela grita. — Você sabe que sou uma
arma rara e valiosa, Faust!
Com qualquer outra pessoa que a ouvisse pensaria que era
delirante e convencida em escutar um pedido como esse, mas com
Nora, é absolutamente verdade, ela é uma arma rara e valiosa.
Mas isso não significa merda para mim.
Espero que não para Victor.
— Eu ensinaria a Izabel tudo o que sei!
Paro por cerca de dois segundos depois de ouvir suas palavras,
mas continuo andando pela porta com Victor puxando meu braço.
— NÃO TENHO NENHUMA OUTRA PARTE PARA IR! — Ela grita
quando a porta começa a fechar. — VOCÊ PRECISA DE MIM!
A porta fecha a voz dela em um instante.
Victor me para no corredor.
— Ela morre logo que sabemos que estão a salvo — diz ele.
Ele não vai olhar para mim. O silêncio preenche o espaço
estreitado.
— Por que você a matou? — Eu pergunto suavemente. — Por que
você matou Claire? — Meu coração se quebra de novo lembrando o
olhar no rosto de Niklas quando Victor confessou.
Victor suspira e olha para a parede atrás de mim.
— Foi-me ordenado matá-la — diz ele. — Vonnegut a queria morta
antes que alguém a pegasse e obtivesse as informações de que
precisava de Solis. Niklas não estava dando resultados. Era apenas
uma questão de tempo que a Ordem o tirasse da tarefa e colocasse
Joran Carver em seu lugar, ou a eliminasse completamente. Joran
estava indo lá naquela noite para substituir Niklas, mas a Ordem
descobriu que outra organização estava em seu caminho para ela,
também. Fui enviado para interceptar e levá-la para fora. Eu não sabia
que meu irmão estava apaixonado por ela. — Ele faz uma pausa,
pensando em algo que parece. — Eu não sabia até que eu vi aquele
olhar em seu rosto quando ele saiu do carro, quando ele sabia que
Claire estava morta. Eu ia dizer a ele naquela noite que eu era o único
que terminou sua tarefa, mas quando eu vi aquele olhar, eu não
poderia me forçar para fazê-lo.
Eu estendo a mão e toco o topo de sua mão com a ponta dos
dedos.
— Mas Victor... você tinha que dizer a Niklas a verdade.
— Eu não posso — ele diz e finalmente olha nos meus olhos. —
Não posso dizer a verdade sem lhe contar tudo.
Confusa, pergunto:
— O que é tudo isso?
Seu olhar se afasta da minha de novo.
— Que eu ainda a teria matado mesmo que soubesse que ele a
amava.
Minha mão se afasta da dele como se estivesse tocando algo
quente. Eu repouso no meu lado. Minhas sobrancelhas lentamente
vincam na minha testa. Eu não quero acreditar nele, mas eu sei que é
verdade.
— Eu era um homem diferente então, Izabel. Recebia uma tarefa
e sempre seguia. Eu não fiz perguntas porque era meu trabalho. E... —
ele hesita, olhando para a parede enquanto uma lembrança se move
em sua mente, — ... Niklas significava tudo para mim. Ele é meu irmão.
Eu matei o nosso pai para protegê-lo de Vonnegut e eu teria facilmente
matado Claire para protegê-lo também. Pelo que você já sabe sobre a
Ordem, você sabe que se Vonnegut descobrisse que Niklas amava
Claire, Vonnegut teria ordenado sua morte. Então sim, se eu soubesse
que ele a amava, eu ainda a teria matado para salvá-lo.
Meu coração dói. Olho para o chão e apenas olho para ele por
mais tempo até que manchas apareçam diante dos meus olhos,
deixando as palavras de Victor rodarem tumultuosamente em minha
mente. Palavras que de uma maneira cruel, fazem sentido, mas ainda
não podem ser justificadas. Eu não sei se concordo com ele ou o culpo.
Não posso escolher entre consolá-lo ou deixá-lo sozinho com sua culpa.
Eu quero prendê-lo e dizer-lhe que não era sua falha... mas era. Quero
lhe dizer que Niklas iria perdoá-lo se ele apenas tivesse lhe dito a
verdade, toda ela inclusive, mas meu coração me diz Niklas não vai ser
tão indulgente. Eu quero culpar Niklas porque ele sempre foi tão odioso
para mim e eu quero estar ao lado de Victor porque eu o amo, mas eu
não posso.
— Eu vou lidar com meu irmão cm o tempo — diz ele. — Agora
mesmo, eu quero que o resto disso resolvido. Dorian deve ser tratado.
E eu estou dando a você e só você o trabalho de matar Kessler.
— Porque eu?
Ele alcança e toca o lado do meu rosto, escovando os dedos
levemente contra a minha pele.
— Você merece a honra. E porque eu te amo, e eu não tenho
nenhum uso para ela.
Ele pressiona seus lábios quentes em minha testa e então se
afasta.
Eu costumava saber o que ea certo e o que era errado. Posso nem
sempre ter reagido a uma situação de forma adequada, mas eu sempre
soube, e estava preparado para enfrentar as consequências de
qualquer decisão que tomasse. Mas agora, neste momento, enquanto
vejo Victor se afastar e desaparecer no final do corredor, eu... não sei
mais nada. Só que eu o amo.
Pressionando minhas costas contra a parede, eu deslizo para
baixo e sento no chão com meus joelhos levantados. E eu olho para a
porta na minhafrente, onde apenas do outro lado é uma mulher... uma
única pessoa, uma arma viva e respirando, que veio aqui e conseguiu
transformar toda a nossa vida de cabeça para baixo. E eu penso em
Niklas e não quero nada mais do que ir encontrá-lo e falar com ele e
tentar fazer as coisas certas. E eu penso em Fredrik, um homem tão
frio e escuro e... ele poderia realmente ser perdido para sempre? Eu
não quero acreditar nisso. Quero que ele fique bem... mas acho que sei
que ele nunca estará. E eu penso em Dorian sentado naquela cela, e
não posso deixar de acreditar que ele não é nosso inimigo, mas a prova
é mais do que a minha necessidade de acreditar. E Victor não é
conhecido por ser um homem que perdoa.
E eu penso em Javier... Eu penso na criança que tivemos juntos
e eu me pergunto onde ele ou ela está agora. Qual é o nome dela? Ele
está feliz com a família para a qual foi vendido?
Ser um assassino é difícil. É difícil não apenas por causa do óbvio,
mas porque, ao viver este tipo de vida, você não apenas mata
criminosos e inimigos e alvos... você também mata tudo e todos que
você ama.
Estou começando a pensar que Fredrik é o mais são do que todos
nós...
CapÍtulo DEZENOVE
Izabel

Corro direto para os braços de Dina quando James entra no


prédio com ela.
— Dina! Estou tão feliz que você está bem. — Meus braços a
envolvem.
Ela beija minha cabeça e minhas bochechas e por um momento
eu me sinto como uma menina de novo. Uma menina inocente feliz de
ver sua mãe, que nunca foi uma escrava do sexo e que nunca matou
ninguém.
— Estou bem, estou bem, querida — diz ela, me abraçando com
força.
Está vestindo uma blusa cor-de-rosa clara enfiada em uma calça
cor de canela. Seu cabelo cinza-aloirado está em rabo de cavalo alto em
uma onda de cachos frouxos que caem em torno do seu rosto
envelhecido onde há mais rugas ao redor dos olhos que da última vez
que a vi.
Eu dou um passo para trás com as suas mãos entrelaçadas nas
minhas e eu a olho.
— Você parece... bem — eu digo, tendo esperado — e temido —
vê-la coberta de contusões e sangue, talvez alguns ossos quebrados.
— Bem, claro que sim, — ela diz como se eu já soubesse que ela
estava bem o tempo todo.
Olho para James parado atrás dela com um olhar de profunda
pergunta no meu rosto.
Victor entra na sala de reuniões atrás deles.
— O que está acontecendo? — Eu pergunto, olhando para Victor
e depois para James.
— Bem, — James começa, — parece que Nora nunca machucou
nenhum deles. Com a Sra. Gregory...
— Oh, por favor me chame Dina, — Dina interrompe, — as coisas
apropriadas me fazem sentir velha.
Eu sorrio para mim mesma.
James também sorri e concorda.
— Nora disse a Dina que ela foi enviada por você e Victor para
levá-la para a segurança.
— Oh, mas eu não acreditei nela imediatamente — diz Dina,
sacudindo sua cabeça grisalha. — Eu sabia melhor do que isso e
quando ela matou aquele bom homem que me observava muito da rua,
eu estava com medo. Pensei que ela ia me matar em seguida.
Olho para trás e para frente entre Dina e Victor, esperando
ansiosamente pelo resto da história.
— Não é necessário dizer, — Dina continua, — aquela mulher fez
um show, eu acho, porque no momento que ela estava dizendo “para
baixo!”, ela estava olhando para fora das janelas e eu estava realmente
com medo de houvesse outros homens lá para me matar. Ela me disse
que o homem no chão, ela matou era um traidor, ou eu acho que ela
usou alguma palavra filme extravagante como conspirador ou infiltrado
— Eu quero dizer a ela para ignorar todas essas coisas, mas eu não
tenho o coração fazer isso — Ou algo assim — de qualquer maneira,
ela me fez acreditar nela, isso é certo. Ela me tirou daquela casa e me
colocou muito bem em outra e me disse para não saísse ou fazer
qualquer telefonema. Ela pegou meu celular. Disse que era para o meu
próprio bem. Mas eu tinha tudo o que eu precisava. — Ela penteia seus
dedos longos e resistidos pelo comprimento do meu cabelo. — E eu não
queria colocá-los em perigo, então fiquei como me disseram e esperei.
— Ela não a feriu?
Estou confusa com isso. Completamente confusa.
Dina sacode a cabeça.
— Não, — ela diz, — ela era uma verdadeira bondade. Então,
imagine minha surpresa quando o Sr. Woodard aqui me disse que ia
me matar. Eu simplesmente não podia acreditar.
Victor e eu olhamos brevemente um para o outro.
— Eu suponho que Tessa alimentou a mesma história? — Eu
pergunto.
— Não, — James diz. — Bem, de certa forma. Depois que Nora
convenceu Tessa que ela não estava lá para machucá-la, e depois de
Tessa inconscientemente deu Nora a munição que ela precisava contra
Dorian — tal como ela disse a Dorian que ela fez — Tessa acreditava
que Nora erada Inteligência dos EUA e assim ela cooperou.
— Então Tessa também não estava machucada? — Eu pergunto.
— Não, — James responde.
— Onde ela está agora?
Victor aproxima-se e responde:
— Eu pedi que a levassem para casa. Ela não precisava ser trazida
para cá. Ela não precisa saber nada sobre nós.
— Ela pensou que eu era um agente da CIA — diz James com uma
leve gargalhada, mas com um ar orgulhoso. — Quanto às minhas
filhas, bem, elas não eram tão fáceis de convencer. Elas estavam
apenas com medo de suas mentes — elas pensam que eu trabalho com
imóveis. Então, eu acho que Nora não teve escolha senão amarrá-las
em algum lugar.
Eu olho direito para Victor.
— Então ela realmente estava trabalhando sozinha — eu digo
sobre Nora.
— Parece dessa maneira — Victor diz com um aceno de cabeça.
— Estou com muita sede — Dina diz, apertando meu quadril com
a mão. — Tem alguma coisa por aqui para beber?
Eu a abraço de novo.
— Claro — eu digo a ela e pego sua mão. — Eu vou levá-lo para
conseguir alguma coisa.
Eu sorrio levemente para Victor enquanto saio com Dina da sala
de reuniões e em direção à pequena cozinha no corredor.
Fredrik passa por nós no caminho enquanto ele se dirige para ver
Victor. Ele não diz nada para mim, ou mesmo faz contato visual.
— Oh, ele é atraente, — Dina diz calmamente com os olhos
grandes quando ela olha para trás para a sua altura em que terno caro.
— A coisa que eu mais odeio em ser velha é que homens assim não me
olham mais.
Oh, Dina, se você soubesse o que aquele homem em particular é
capaz de fazer.
— Bem, eu acho que você é linda, — eu digo a ela, apertando sua
mão fria e envelhecida. — Além disso, os homens hoje são
provavelmente um pouco mais raros do que você estava acostumado.
— Ei, eu costumava ser uma prevenidab — diz ela com um sorriso.
— Dina! — Meu rosto torce com todo o tipo de formas e minhas
bochechas começam a queimar. — Eu não preciso saber isso.
Nós dois rimos juntos e escorregamos dentro da sala de descanso,
que é realmente apenas um quarto com um sofá de couro e cadeira
correspondente com uma mesa de café em mármore e duas mesas nas
extremidades, uma televisão de tela plana montada na parede e uma
área de cozinha em um canto. Victor olhou para Woodard engraçado
quando ele lhe pediu para colocar uma sala de descanso no prédio
("Uma sala de descanso? Este não é exatamente o trabalho em fábrica,
Woodard."), Mas, no final, e depois de Woodard me explicar o que uma
sala de descanso era e eu gostei da ideia, ambos tivemos o que
queríamos. E eu não sou a única de nós que a usa com frequência —
Niklas dorme aqui às vezes com as botas levantadas no braço do sofá.
James traz seu laptop aqui e assiste coisas velhas na TV Land.
Dorian... bem, ele sempre foi o único que manteve o frigorífico
abastecido. Victor - OK, ele não vem aqui, exceto para encontrar um de
nós.
Dina toma um assento no sofá enquanto eu pego dois dos
refrigerantes de Dorian da geladeira.
— Então, exceto belas mulheres loiras ameaçando me matar para
chegar até você — Dina começa de brincadeira, — o que mais tem
acontecido com você, Sarai?
Dina é a única pessoa que eu permito me chamar pelo meu nome
antigo. Eu tentei fazer com que ela me chamasse de Izabel uma vez,
mas ela recusou, disse que eu cresci com ela me chamando de Sarai e
que ela morreria me chamando de Sarai.
Dou-lhe uma garrafa de refrigerante e me sento ao lado dela,
puxando uma perna para cima da almofada.
— É estranho ter conversas com você sobre minha vida — eu digo.
— Não é como se eu pudesse te dizer sobre a última pessoa que eu vi
morrer, tão casualmente como eu posso falar com você sobre conseguir
o pedido errado em um drive-thru.
— Eu sei — ela diz e toma uma bebida, — mas o que está
acontecendo com você e aquele homem bonito, misterioso seu?
Tomo uma bebida e depois olho para a parede atrás dela.
— As coisas estão bem — eu digo, tentando não chegar na
verdade, não estou até mesmo certa qual é a verdade; O que está
acontecendo entre mim e Victor não é exatamente o tipo típico de
problema no paraíso.
Dina e eu conversamos um pouco sobre coisas simples. Ela me
fala sobre o que está acontecendo com os personagens em seus
programas de televisão favoritos, mas eu só ouço principalmente
porque eu nunca assisto TV e realmente não tenho nada a acrescentar.
Falamos sobre o pequeno jardim que ela plantou atrás de sua casa
mais nova e como o único vegetal crescendo são os pepinos. Eu não sei
nada sobre jardim e não saberia como fazer crescer os legumes, então
novamente, eu principalmente apenas ouvir a sua conversa. E ela
continua sobre as vendas nas lojas de departamentos que ela gosta de
comprar e como ela conseguiu uma blusa de trinta dólares por nove
dólares — eu não sei muito sobre as vendas porque com o dinheiro que
Victor me dá — e que eu eu ganho — Eu não tenho que prestar atenção
às vendas.
E enquanto Dina fala sobre uma variedade de coisas totalmente
diferentes ao longo dos próximos trinta minutos, há uma coisa que eu
noto que ela menciona em cada tópico — o Arizona.
— Eu costumava assistir a esse programa todas as noites antes
de dormir no Arizona — ela havia dito. — Eu tinha a minha poltrona
perto da janela e eu sempre a abria e deixava o calor entrar enquanto
eu assistia ao meu programa.
E depois:
— Eu realmente não fiz muita jardinagem no Arizona.
E depois:
— Eu ia as tendas de promoções cada fim de semana quando eu
vivia no Arizona. Tinha boas ofertas.
Finalmente, depois da quinta menção do Arizona, pergunto-lhe o
inevitável:
— Você sente falta de casa, Dina?
Ela sorri levemente e coloca a garrafa de refrigerante na mesa
final.
— Eu sinto, Sarai, eu realmente sinto.
Ela suspira e olha para mim, estendendo a mão e colocando-a no
meu joelho esticado na almofada, enfiado debaixo da minha outra
perna.
— Eu quero voltar para Tucson — diz ela. — Inclusive ao parque
de trailers. Tenho saudade. Eu sinto falta dos malditos cães latindo à
noite, as crianças correndo de um lado para o outro na rua causando
incómodos. Eu só quero ir para casa. — Ela bate no meu joelho e depois
se afasta, olhando para mim com olhos tristes, mas sorrindo.
— Mas Dina, não é seguro — eu levanto no sofá — você não pode
voltar para lá. Veja o que aconteceu aqui, a razão que você está sentada
nesta sala falando comigo agora. Se você voltar lá você estará onde
qualquer um que quer encontrá-la, provavelmente olhará ali primeiro.
Seu sorriso aquece seu rosto inteiro.
— Oh, querida, eu não me importo com essas coisas, — ela diz
como se para me consolar. — Eu me importei no início, mas era
principalmente apenas por causa de você. Mas, eu não posso fazer isso
mais, me mudando de um lugar para outro, tendo homens estranhos
estacionados do lado de fora a cada casa, me observando o tempo todo.
Estou velha demais para isso. Eu aprecio todas as coisas elaboradas
que você e Victor me fornece? e as casas bonitas e... apenas tudo. Eu
estou muito agradecia. Mas eu só quero ir para casa e viver o resto da
minha vida do jeito que eu fiz antes — simplesmente.
Meu coração afunda cada vez mais fundo.
— Mas é perigoso. Eu não quero que nada aconteça com você.
— Nada vai acontecer comigo, querida. — Seu sorriso se alonga.
Ela levanta a mão e bate no peito sobre a blusa cor-de-rosa fina onde
está seu coração. — Se alguma coisa pode me matar, será o meu
coração. Você sabe disso. — Ela sorri e bate no meu joelho novamente
brincando e acrescenta: — Além disso, eu sei usar uma espingarda,
lembra? E eu não tenho medo de explodir alguém se entrarem em
minha casa.
Eu não posso evitar, mas sorrir de volta para ela, mesmo que eu
queira lutar com ela nesta questão.
Dina se vira na almofada para me enfrentar completamente e ela
leva minhas duas mãos para as dela.
— Eu quero que você me prometa algo — ela diz, olhando nos
meus olhos. — E eu quero dizer isso, é uma verdadeira promessa e isso
significa tudo para mim e se você nunca a quebrará, mesmo que eu
nunca vá descobrir, você deve se sentir culpada por quebrar isso
porque é tão importante para mim.
Isso está me assustando, mas eu aceno e concordo.
— O que foi, Dina?
Seus dedos agarram os meus com firmeza, como se para colocar
ênfase nas palavras que ela está prestes a dizer.
— Quando eu voltar para casa, de volta a Tucson — diz ela, — eu
quero que você me prometa que você não enviará ninguém para me
vigiar ou me proteger. Ninguém. E eu também não quero que você faça
isso. Você me dá sua palavra?
No começo tudo que eu quero fazer é dizer não — eu até começo
a balançar a cabeça — mas ela aperta minhas mãos e força o meu
olhar, o olhar em seus olhos tão intenso, e eu sinto quão importante é
essa promessa para ela. Tanto quanto eu quero mentir para ela e dizer
que, não, eu não vou mandar ninguém para cuidar dela... Eu não
posso. Este é o seu desejo e devo-lhe tudo e sei que tenho de ceder a
ele, não importa o quão difícil.
E antes que ela saia, enquanto eu digo adeus enquanto ela entra
no táxi na rua para ir ao aeroporto de volta a Tucson, eu não posso
evitar, mas sinto que esta será a última vez que eu a vejo.
— Eu te amo, garotinha! — Ela grita para mim da janela aberta
do carro, seus dedos longos e ossudos acenando na brisa fresca de
Boston.
Eu pressiono as pontas dos meus dedos contra meus lábios e
envio-lhe meus beijos enquanto ela se afasta, e eu limpo as lágrimas
dos meus olhos e tento muito manter o sorriso no meu rosto pelo amor
de Dina. Porque ela merece ser feliz e ela não precisa de mais razões
para se preocupar comigo mais do que ela já tem.

— Você já viu Niklas? — Eu pergunto a Victor na


sala de reuniões com James. Eles estão olhando para fotografias e
arquivos espalhados sobre a mesa alongada.
Eu ainda estou emocional por ter deixado Dina ir a uma hora
atrás.
Victor olha para cima.
— Ele se foi, Izabel — ele responde solenemente e olha para baixo.
— Mas não se preocupe com ele agora...
— O quê? — Eu passo mais para dentro do quarto e fico no final
da mesa. — Victor, como você pode dizer isso? Já tentou falar com ele?
Ele tranca os olhos nos meus pelo comprimento da mesa.
— Vou falar com meu irmão quando for a hora certa — diz ele.
James olha para nós brevemente e finge estar mais interessado
com as fotografias na frente dele. Ele parece desconfortável.
— Quando é qualquer hora certa? — Pergunto com um tom
acusatório. — Agora é o melhor momento que qualquer outro dia será.
— Niklas precisa de tempo sozinho — ele diz e eu bato a palma
contra a mesa antes que ele tenha a última palavra.
— Foda-se! — Eu digo com raiva.
Victor levanta-se rapidamente da mesa em um movimento rápido,
enviando o papel que ele estava lendo em sua mão caindo no chão. Sua
cadeira chia quando ela é empurrada para trás em seu caminho para
cima.
James congela, olhando entre os nós dois sob nervosos olhos
encapuzados.
— Woodard, — Victor diz exigente, — deixe-nos.
Sem hesitação, James se levanta, enfia o laptop debaixo do braço
e sai.
Uma bola nervosa senta-se no meu estômago. Sei que ele está
chateado comigo, mas eu sinto fortemente o que Niklas deve estar
passando, e eu não consigo encontrar nenhuma razão aceitável para
que Victor não estivesse tentando fazer as coisas direito entre eles,
agora.
— É isso que você pensa de mim? — Ele pergunta, zangado, mas
ao mesmo tempo ferido pela perspectiva. — Você acha que esses
arquivos e estas fotografias — acena com uma mão na mesa — são
mais importantes para mim do que o meu irmão? Olhe para mim —
aponta os seus olhos com o seu indicador e dedo médio — e me diga:
que você pensa isso de mim, porque é exatamente como se sente agora.
Quero ouvir você dizer isso.
Engulo nervosa e começo a sacudir a cabeça. Eu raramente o vi
assim antes, então eu sei que eu ultrapassei meus limites, que eu o
machuquei, e já me sinto terrível por fazer ele se sentir assim.
— Eu sinto muito... Eu apenas...
Os ombros de Victor mergulham em um longo suspiro e ele olha
para a mesa, mas não para as coisas espalhadas por cima. Ele cai
pesadamente de volta em sua cadeira e encosta contra ela.
— Izabel — ele diz com mais calma, mas sem olhar para mim, —
eu sabia que tinha que sair algum dia. Nem um dia se passou nos
últimos seis anos quando eu olho para meu irmão e eu não me sinto
como uma merda pelo o que eu fiz. Niklas talvez nunca me perdoe, mas
ele vai entender.
Eu ando em sua direção pelo comprimento da enorme mesa.
— Você parece esquecer que ele tentou matar você — acrescenta
Victor.
— Eu nunca me esqueci disso — digo, — e acho que nunca irei.
— Você não esqueceu ou perdoou, — Victor diz, — mas você
entende.
Eu não esperava isso, então eu não digo nada no início.
— Eu me sinto culpada — eu finalmente respondo, ainda sentindo
algum tipo de necessidade de confessar porque a culpa está pesando
tão fortemente em meus ombros.
A cabeça de Victor levanta e ele me olha com um olhar de
descrença e talvez até mesmo decepção.
Eu inclino minhas costas contra o fim da mesa na frente dele,
cruzando meus braços.
— Por quê? — Pergunta ele asperamente. — Por que você se sente
culpada? Se você disser que é porque você está viva e Claire não está,
você é...
— Eu sou o que? — Eu salto de volta, desafiando-o. — Sou
estúpida e fraca por ter consciência? Sou ingênua? Muito emocional?
Vá em frente, Victor — aponto para os meus olhos com o meu indicador
e meu dedo médio — Victor me diga o que realmente pensa de mim.
Seu olhar se desvia.
— Eu acho que seu coração é muito grande — ele diz e
instantaneamente meu exterior duro vacila. — É por isso que eu sinto
a necessidade de protegê-lo o tempo todo. Não porque você não tem
habilidade ou porque eu não acredito em você, mas porque seu coração
fica no caminho. E se há alguma profissão no mundo que você não
pode e não deve colocar seu coração — aponta duramente para o chão
— é esta.
Estou calada por apenas um momento, deixando suas palavras
afundarem.
E então algo entra em minha mente que eu tenho mais medo de
dizer a ele do que minhas acusações sobre Niklas — mas eu não posso
segurar como eu realmente me sinto.
— As coisas seriam melhores para você se eu fosse... mais
parecida com Nora, não é? — Eu fiz tudo que eu não pude fazer para
parecer amarga ou acusadorq, porque eu não quero dizer isso dessa
maneira.
Ele levanta os olhos para mim, e por um longo tempo ele não diz
nada.
— Em um sentido profissional e emocional, sim, — ele responde
com sinceridade, — mas não por qualquer outra razão. Mas se eu
queria alguém como Nora ao meu lado, você não estaria aqui, ao
contrário dela, eu não gosto de jogos, assim, por favor, não me acuse
de ter uma atração selvagens por aquela mulher, ou a começar a sentir
insegura que eu vou me desviar.
— Eu não acho isso em tudo — eu digo, e eu quero dizer isso. —
Não é disso que se trata.
Eu levanto meu corpo para sentar na mesa na frente dele, minhas
pernas, cobertas em meu traje preto apertado, pendurada sobre a
borda da mesa nas curvas dos meus joelhos. Victor move sua cadeira
para mais perto para sentar entre elas, colocando seus braços sobre as
minhas coxas e ajustando suas mãos sobre minha cintura. As mangas
da camisa estão enroladas até os cotovelos; Veias correm ao longo dos
músculos duros de seus antebraços levemente bronzeados.
Corro todos os meus dedos pelo topo do seu cabelo curto e
castanho.
— Você não confia em mim para cuidar de mim mesma em tudo,
Victor? — Eu pergunto com preocupação e não com acusação. — Não
há nada sobre mim — de um ponto de vista profissional e emocional —
que você sente que não precisa... melhorar?
Victor suspira.
— Confio no seu julgamento, Izabel — diz. — Quando se trata de
outros, você é um bom juiz de caráter. Você sabe inerentemente, antes
mesmo que eu faça geralmente, sobre uma pessoa no interior. Mas eu
não confio em você quando você está com raiva ou por vingança. Você
tende a tomar decisões precipitadas, pular de cabeça em situações
perigosas sem um plano, tome Los Angeles e Arthur Hamburg, por
exemplo. Mas quando você está calmo e não agir por raiva ou vingança,
você sabe o que está fazendo. E confio em você cem por cento.
Agradeço-lhe com os meus olhos.
Ficamos em silêncio por um longo tempo e então eu digo com uma
voz suave:
— E se Niklas não voltar?
— Ele vai voltar, — responde Victor, mas na sua voz, sinto que ele
não pode está tão confiante nessa suposição quanto ele gostaria. — Ele
é meu irmão — continua ele, — e ele pode me odiar por um tempo ou
até mesmo querer me matar, mas ele sempre será meu irmão e eu
sempre farei qualquer coisa por ele e ele sabe disso.
Eu penso sobre isso por um momento, deixando a realidade da
verdade me tomar, Victor está emocionalmente deficiente não por
causa de apenas uma, mas duas pessoas em sua vida que ele ama.
Espanta-me como ele pode suportar, como ele pode continuar a agir
como se nada nunca o incomodasse, que ele não tem sentimentos, ou
temores. Do lado de fora, Victor é frio, calculado e desapegado quase
todo o tempo — quem não o conhece no nível que eu conheço poderia
pensar que ele era como Fredrik, mas a verdade é que ele carrega um
fardo maior do que qualquer um de nós. Victor se sente responsável
por Niklas e eu. Ele teve que escolher, duas vezes agora, entre seu
irmão e eu. E quando você tem que escolher entre duas pessoas que
você ama, não importa qual caminho você vá lá estarão consequências
dolorosas.
Eu me inclino sobre ele e beijo o topo de sua cabeça.
— Desculpe por duvidar de você — digo. — Eu realmente pensei
que você ia deixar Dina morrer e eu sinto muito por não acreditar em
você. — Eu estava querendo dizer isso a ele desde o momento em que
ele confessou seu segredo para Nora, mas eu tenho evitado por
vergonha e culpa. Mas, mais do que isso, eu precisava de tempo para
pensar sobre tudo o que aconteceu por causa disso.
Ele olha para mim.
— E porque eu não vou mentir para você — diz ele, — assim como
eu não pude mentir para Niklas sobre Claire, a verdade é que quase a
deixou morrer.
Eu concordo. Porque eu entendo. Era uma escolha entre Niklas e
eu. E nunca seria uma escolha fácil.
— Eu sei, — eu digo a ele e solto minhas mãos do seu cabelo.
Então ele enrola os longos dedos dele ao redor dos meus entre
minhas pernas e levanta uma mão para seus lábios e beija os nós dos
meus dedos.
— O que você vai fazer com Dorian?
Ele se levanta e toma o meu rosto em suas mãos, puxando meus
lábios para encontrar os dele.
Depois que ele me beija, longo e macio, seus lábios são mornos e
sua língua tão macia, ele diz:
— Tudo dependerá do que Fredrik tirar dele.
Um arrepio desconfortável se move através de mim.
— Você vai deixar Fredrik interrogar ele?
Victor se move de entre minhas pernas e começa a empilhar as
fotografias na mesa em uma pilha pequena.
Ele não responde, o que é uma resposta por si mesma.
— Quando você vai matar Nora? — Ele pergunta, empilhando as
coisas constantemente.
— Antes da manhã — digo. — Eu queria lidar com tudo antes de
vê-la novamente.
Ele balança a cabeça.
— Você já pensou sobre isso? — Eu pergunto. — Sobre o que ela
disse?
— Não — ele responde e se dirige para a pasta com as fotografias
e os arquivos.
— Nem um pouco?
Ele olha para mim.
— Eu pensei sobre isso — ele diz, — mas não considerei, se é isso
que você quer dizer. Eu admito, foi uma jogada ousada, mas ela deveria
ter pensado mais sobre as consequências de suas ações do que ela fez.
Ela matou um dos meus homens na casa da Sra. Gregory. Ela virou
meu irmão contra mim. Sequestrou os seus entes queridos e os usaram
contra você. E ela tem desperdiçado muito do meu tempo, francamente.
— Verdade — eu digo, franzindo os lábios contemplativamente, —
mas ela meio que se provou no processo.
Victor ergue os olhos momentaneamente e fecha a pasta com dois
cliques.
— Você está tentando me dizer alguma coisa? — Ele pergunta com
suspeita.
Eu balanço a cabeça.
— Não é o que você provavelmente está pensando — eu não quero
ela aqui tanto como qualquer um de nós — mas eu vi a maneira que
você estava olhando para ela na sala de vigilância. Parece que você
queria a chance de dissecá-la.
Um sorriso fraco, quase invisível aparece em seus lábios enquanto
ele levanta a pasta da mesa com a mão apertada sobre a alça.
— Você viu isso, não é?
Eu encolho os ombros e sorrio.
— Sim, eu meio que vi.
— Bem, a resposta é não — ele diz andando em minha direção. —
Ela causou problema bastante. Mate-a e termine com isso.
Ele me beija nos lábios mais uma vez e dirige-se para a porta.
— Eu volto em algumas horas, — ele diz da porta. Mas logo antes
de sair, ele para e olha para mim.
— E vou falar com o Niklas em breve.
Eu aceno com um pequeno sorriso de apoio e ele sai.
CapÍtulo VINTE
Izabel

O piso da cela tem apenas dez celas que Victor queria manter por
razões como esta — detém traidores e outros tipos de prisioneiros. As
celas são nomeadas de A a J. Eu me dirijo para a cela C com um monte
de emoções misturadas e um coração pesado. Eu não quero pensar
sobre o que Dorian vai passar com Fredrik mais tarde, mas ao passar
pelo corredor sombrio e pelas celas A e B que estão abertas e vazias, é
tudo o que posso pensar. Eu não quero pensar que Dorian é um traidor,
que talvez as coisas que ele disse a Victor fossem verdadeiras. Talvez
ele não seja nosso inimigo e nunca pretendia ser. Mas ele mentiu. E ele
trabalhou conosco sob falsos pretextos. E ele deu informações sobre
nós ao governo e isso só é o suficiente para Victor para matá-lo.
Eu passo até a porta de aço pesada e empurro para cima em meus
dedos do pé para ver dentro através da janela janelinha.
Dorian está deitado contra a cabeceira de uma cama de metal que
se projeta da parede. Bandagens sangrentas estão envolvidas sobre
ambos os ombros. Tudo o que ele está vestindo é sua calça jeans escura
e seu Rolex. Suas botas foram chutadas para o chão, colocadas
descuidadamente com as cordas longas espalhadas contra o azulejo.
Estendendo a mão, toco na janela com a ponta do meu dedo.
Dorian ergue a cabeça loira e depois de um segundo olhando para
o rosto desfocado na janela e tentado distingui-lo, ele diz: "Izabel?" E
com dificuldade força seu corpo ferido do berço para sentar-se ereto.
Seu rosto se contorce de dor e ele para, respira fundo e empurra-se
para seus pés e caminha até a porta.
Eu me agacho em frente a ela e deslize o metal que cobre sobre a
abertura para comida que é longa e larga o suficiente para passar uma
bandeja.
— Como você está? — Pergunto.
— Sinta-me como uma merda — ele diz e se senta no chão em seu
traseiro, estremecendo com cada movimento abrupto. Tudo o que eu
posso ver agora são seus olhos azuis brilhantes e sua testa através da
abertura.
— Desculpe — eu digo. — Ei, eu queria vir aqui e dizer que Tessa
está bem.
Seus olhos se iluminam um pouco e o alívio passa por cima dele,
através de toda a dor e desconforto.
— Na verdade, — eu continuo, — ela estava bem o tempo todo.
Nora não a machucou.
— Onde ela está agora?
— James a levou de volta para casa.
Dorian acena com a cabeça.
— Obrigada, Izabel. Por me deixar saber.
Eu aceno de volta.
Depois de alguns longos segundos que se parecem mais como
minutos, quebro o silêncio com o inevitável.
— Você contou a verdade a Victor? Você sabe que ele vai descobrir,
certo?
— Sim, eu sei, — ele diz. — Mas eu lhe disse a verdade. Há mais
para contar a ele, como que tipo de informação eu passei para os meus
superiores, mas eu não estava segurando nada disso. Acho que Victor
não estava pronto para ouvir.
— Por que você quebrou depois de tudo? — Eu pergunto. — Quero
dizer... bem, eu pensei que caras como você foram treinados para não
quebrar, nem mesmo para salvar a vida de alguém que você ama.
Ponha de lado mentir sobre quem você é; o fato de você quebrar deixa
em seu caráter uma falha grave em seu personagem, Dorian. Você
desistiu de sua identidade não só por nós, mas por uma civil inocente.
Isso nos diz que você estaria disposto a se render sob certas
circunstâncias.
Dorian sacode a cabeça.
— Eu sei que parece assim — ele diz, — mas como eu disse a
Victor, eu ia eventualmente dizer a ele quem eu era,
independentemente se me seria dada a autorização. Eu só tenho que
fazer isso mais cedo do que o esperado.
— E se — eu digo, — você nunca recebesse essa autorização? Você
admitiria?
Ele suspira.
— Se eu dissesse que não, você acreditaria em mim? — Não era
realmente uma pergunta.
— E Tessa? Parecia fácil para você dizer a ela.
— Sim, bem, esse é um tipo diferente de fraqueza — admite. —
Ainda uma imperdoável, mas não tão imperdoável como ser um traidor.
Olha, eu sei que provavelmente vou morrer aqui. É um perigo nesta
linha de trabalho. Aceito e não tenho medo, mas não quero morrer
como um traidor.
Depois de um breve momento de pausa, eu digo:
— Eu gostaria de poder dizer que não acho que você é um traidor,
mas o que você fez... Eu não sei, é difícil para mim pensar em você
como qualquer outra coisa... mas como uma pessoa e um amigo, eu
acho que você é genuíno.
— Obrigado.
Ele faz uma pausa e pergunta:
— Ela está morta?
— Vou matá-la em breve.
— Sim, bem, ponha uma bala no ombro daquela cadela antes de
matá-la — ele agarra. — Faça a coisa toda dramática, diga a ela "isto é
por Dorian!" — Ele ri da própria brincadeira, mas se encolhe e um
barulho sibilante empurra seus lábios enquanto ele aspira uma
respiração bruscamente em resposta a mais dor.
Eu sorrio e vejo seus olhos caírem para a abertura da porta
enquanto ele abaixa a cabeça.
— Sua mãe vai ficar bem? — Ele pergunta.
— Sim, ela estava bem quando James a pegou, como todos os
outros.
— Essa deve ter sido as quarenta e oito horas mais fodidas — diz
ele. — Acho que você não tem a liberdade de me dizer qual era a grande
confissão que ela queria, e de qual de nós?
Eu balanço a cabeça.
— Desculpa.
Ele balança a cabeça.
— Compreensível — ele diz e depois de alguns segundos
tranquilos acrescenta: — Acho que isso significa que Gustavsson
apareceu depois de tudo.
— Sim. — É tudo o que posso dizer; eu não posso suportar dizer-
lhe o resto, onde se refere a ele e Fredrik estarem preocupados.
O som de sapatos batendo contra o chão ecoa pelo corredor —
dois pares para ser preciso. Eu engulo incômodo e olho de volta nos
olhos de Dorian através da abertura na porta. Ele sabe. Ele balança a
cabeça e ri largamente.
— Ele sempre quis me torturar — diz ele. — Eu acho que o cara
até tinha sonhos molhados sobre isso — ele não podia me suportar.
Eu me empurro para fora de uma posição agachada e fico de pé,
fazendo uma careta de dor e da rigidez nas minhas pernas por estar na
mesma posição por tanto tempo. Dorian está olhando para mim agora
através da janela embaçada no topo da porta.
Fredrik e Victor contornam a esquina na extremidade distante do
salão; dois homens altos e assustadores, todo negócios, em ternos
escuros contra as sujas paredes e chão brancos. Juiz e carrasco. Sem
emoção. Implacável.
Olho para Dorian.
— O que quer que aconteça comigo — ele diz, — faça-me um favor
e certifique-se de que Tessa receba todo o meu dinheiro. A chave para
minha caixa de depósito de segurança e outras coisas pessoais que eu
gostaria que ela tivesse está escondido na sola da minha bota esquerda.
Você vai dizer a Tessa que eu a amo e eu sinto muito por ser tão idiota?
— Eu vou — eu digo a ele.
Deixo Dorian e ando em direção a Victor e Fredrik enquanto eles
abrem caminho pelo centro do salão.
— Posso falar com você por um minuto? — Eu pergunto a Fredrik,
pisando bem na frente dele.
Estou cansada dele me evitando, e se eu não tentar forçá-lo a
falar, eu sei que ele nunca vai e ele pode escapar deste edifício logo
após o interrogatório de Dorian, e eu não vou vê-lo novamente por outro
mês.
Fredrik começa a caminhar e passar por mim, mas eu o
interrompi, parando-o em seu caminho.
— Izabel — diz Victor - temos assuntos importantes a tratar.
— Eu sei, mas isso vai demorar apenas alguns minutos. — Eu
olho para Victor através de olhos suplicantes.
Ele não quer me deixar para trás, mas faz, indo na direção da cela
de Dorian e me deixando sozinha com Fredrik. Eu ouço a chave chiar
na porta da cela e então o som da porta fechando soando quando Victor
vai para dentro.
— Eu não tenho tempo para isso — diz Fredrik.
— Faça tempo. Me dê dois minutos. É tudo que eu peço. Por favor.
Ele olha para mim agora, seus olhos azuis escuros enquadrados
pelos cabelos escuros, perfurando-me com irritação.
— Eu não posso gastar dois minutos.
— Sim, você pode — eu digo atentamente.
Ele começa a passar por mim novamente, mas eu agarro o seu
braço, o material de sua jaqueta preso entre os meus dedos. Sua cabeça
se vira de lado para olhar para mim e sua expressão fica mais escura.
Seus dentes estão rangendo atrás de um queixo raspado.
Finalmente, deixei o outro lado de mim assumir o lado que está
doente da sua merda, e em vez de ter uma conversa de coração com
coração com o homem que já foi meu irmão, não consigo parar de dizer-
lhe em vez disso.
— Você é um idiota, — eu solto, empurrando as palavras através
dos meus dentes. — Olha, eu entendo, eu realmente entendo, e se eu
fosse você eu sei que provavelmente eu me sentiria da mesma maneira.
Mas eu não iria empurrar as pessoas que se preocupam comigo. — Ele
empurra mais contra mim, com a intenção de me ignorar, mas eu me
movo na frente dele e empurro ambas as mãos contra seu peito,
empurrando sua estatura alta e sólida, mas ele apenas se move. Ele
apenas olha para o meu rosto furioso.
Mas ele para — não que ele queira ouvi-lo, mas que ele quer que
eu termine com isso para que ele possa estar livre de mim.
— Faça o que quiser — eu digo com ácido em minha voz, — Eu
não me importo mais. Se você quer me fechar para fora, tudo bem, mas
eu vou dizer o que tenho a dizer antes de ir lá e... fazer a sua coisa. —
Um grunhido manipula minha boca.
Fredrik só fica lá olhando para mim com sua pasta apertada ao
seu lado.
— Nora Kessler disse a Niklas alguma coisa quando ele estava no
quarto com ela, algo que ficou comigo por muito tempo depois que ele
deixou. E por mais que a despreze, não posso negar que ela estava
certa.
Aponto o dedo para o peito.
— Você precisa de amor para sobreviver, Fredrik — eu digo com
convicção dura. — Você é esse homem escuro, assustador, que é tão
frio para o exterior que o inferno congelaria se você fosse enviado para
lá... mas, do lado dentro, você é um homem quebrado que precisa de
amor mais do que alguém por causa da vida que você foi forçado a
viver, por causa das coisas terríveis que você foi forçado a suportar. —
Eu balancei minha cabeça com tristeza em meu coração. — Você
precisa de amor mais do que qualquer coisa, porque é a única coisa
que você foi privado. Você me empurrar para longe, porque eu queria
dizer alguma coisa para você, porque de todos nós aqui, você pensou
em mim como família. Você me ignorou por causa das quantidades de
vezes que o amor o destruiu.
Dou um passo para mais perto e meus olhos nunca saem dele, a
raiva neles nunca diminuem. Seu rosto frio, mas sem emoção, não
mudou.
— Todos precisamos de algo para sobreviver, Fredrik, Victor
precisa estar no controle; James precisa de aceitação; Niklas precisa
de algo para chamar se dele; Dorian precisa fazer as pazes com ele
mesmo... e eu... Eu preciso de um monte de coisas, mas eu ainda não
descobri qual delas eu mais preciso. Mas você... você precisa de amor,
e você não pode empurrá-lo para sempre. Não é da sua natureza.
Eu passo para trás e para longe dele e só para olhá-lo por um
segundo, estudando seu rosto inflexível, seus profundos olhos azuis,
procurando algo, qualquer coisa, mas ele não me dá nada. Estou tão
zangada! Eu quero que ele diga alguma coisa. Discuta comigo, diga-me
como estou errado. Diga-me que eu sou estúpida e jovem e eu não
posso saber como ele está se sentindo ou o que ele está passando.
Absolutamente nada.
Balançando a cabeça com um olhar amargo no meu rosto e
rendendo ao meu coração, eu gesticulo com a mão na direção da cela
de Dorian.
— Eu acho que vou te ver por perto — eu digo, viro meus
calcanhares e saio.
Eu não olho para trás enquanto ando pelo comprimento do longo
corredor, mas posso sentir que Fredrik fica lá no mesmo lugar, pelo
menos, até que eu vire a esquina no final.
O que está acontecendo conosco? A todos nós.
Niklas está longe de ser encontrado. Eu tentei ligar para ele, saí
do prédio e dirigi por Boston, verificando os bares que ele gosta, mas é
uma hora antes do amanhecer e eu ainda não encontrei nada. Niklas
não quer ser encontrado e eu não posso deixar de me perguntar e me
preocupar por quanto tempo. E se ele realmente nunca voltar? E se ele
não puder "entender" porque Victor fez o que ele fez, e eles se tornaram
inimigos? As coisas não podem ser deixadas desta maneira, elas
apenas não podem...
Dorian pode estar morto, ou a caminho. Fredrik é uma causa
perdida que eventualmente se autodestruirá. Niklas desapareceu. Pode
a nossa organização, nossa família, se recuperar do que Nora Kessler
fez, ou o que ela desempenhou em grande parte para fazer?
Estou começando a pensar que não pode.
CapÍtulo VINTE E UM
Izabel

Com minha arma na mão, eu abro a porta para a sala onde Nora
estava enjaulado por mais de dois dias.
Ela olha para mim da cadeira.
— Vamos — eu digo a ela com uma inclinação para trás da minha
cabeça.
— Para onde? — Ela diz, curiosa, enquanto ela se levanta em suas
calças de couro, rosto manchado de sangue e cabelo loiro. Havia
colocado também a blusa de seda, apesar dos cortes nas costas.
— Você sabe onde, — eu digo a ela calmamente.
Nora caminha até mim com seus pés descalços — seus saltos altos
foram jogados contra o chão — e ela faz uma careta pela dor em suas
costas e em qualquer outro que Fredrik a machucou, discutem com
sua decisão de se mover.
— Por que você não atira em mim aqui? — Ela pergunta.
Eu não respondo, jogando fora como sem importância, mas a
verdade é que antes de eu matá-la há algumas coisas que eu quero
dizer a ela, coisas que eu não quero que ninguém ouça.
Caminhamos pelo corredor de forma lenta e deliberada, Nora na
minha frente, eu em suas costas com minha arma no meu lado, e a
conduzo para fora da parte de trás do prédio, na escuridão e no silêncio.
— De joelhos — eu digo a ela, apontando a arma para o chão ao
lado de um lixo.
Sem dúvida, sem argumentos ou com um pingo de medo, ela cai
de joelhos, já sabendo que devolverá a mim.
— Eu perguntaria por que você não vai implorar por sua vida —
eu digo, apontando a arma na parte de trás da cabeça enquanto eu
estou a poucos metros de distância, — mas eu já sei a resposta.
— Qual é a resposta? — Ela pergunta, olhando para a parede de
tijolos na frente dela.
— Você nunca iria implorar por sua vida.
Eu enrolo meu dedo indicador em torno do gatilho.
— E você estaria certa — ela confirma.
O oceano e o som distante dos carros apressados sobre a
autoestrada são fracos, mas são os únicos sons que são ouvidos. O
fedor do deposito de lixo aos pés de Nora, e dos outros cinco que
alinham na parte traseira dos edifícios próximos fazem sentir falta de
ar. Uma única luz brilha a distância de um poste, radiante na entrada
de uma garagem de estacionamento, mas a única luz aqui é da lua,
fazendo a figura escura de Nora parecer como uma sombra, com
exceção de seu cabelo loiro que cobre suas costas e ombros como uma
bagunça desgrenhada de palha branca.
Eu olho para ela por um longo tempo, quase sentindo como se eu
sevesse forçá-la a me enfrentar, porque se eu vou executá-la eu deveria
ter a coragem de olhá-la nos olhos. Mas eu não tenho. Eu não sou
corajosa o suficiente para olhar alguém nos olhos e então tirar a vida
deles — não assim. Uma mulher desarmada. De joelhos. Atrás de um
edifício. Ao lado de um lixo fedorento. Isso me assombraria para
sempre.
O tempo passa e eu não percebo o quanto até Nora começa a virar
a cabeça em um ângulo para obter um vislumbre de mim atrás dela.
— Algo me diz que você não tem medo de me matar — ela diz, —
então, qual é da demora?
Faço uma pausa e digo:
— Eu queria te perguntar algo primeiro.
Ela riu levemente.
— Ah, claro, — ela diz sarcasticamente com o encolher de ombros,
— porque eu estou tão inclinada a responder às suas perguntas antes
de explodir meus miolos. — Ela olha para trás uma vez com um sorriso
e se vira para a parede novamente. — Vá em frente e pergunte o que
quiser, mas você pode esperar apenas um tipo de resposta de mim.
— Que tipo isso seria?
— O tipo verdadeiro — diz ela.
— Esse é o único tipo que eu quero.
- Então, por todos os meios - ela gira a mão com o dedo mindinho
cortado no ar ao lado dela — pergunte.
Hesitando por um longo e tenso momento, penso na minha
pergunta e no que sua resposta verdadeira poderia significar.
— Você acha que um homem como Victor Faust pode estar
realmente apaixonado?
Nora está muito quieta, como se a minha pergunta tivesse tirado
o sarcasmo dela e substituído por intriga. Então ela vira a cabeça para
o lado novamente, permitindo-me ver o contorno de seu nariz e
bochecha na escuridão enluarada que envolve ela.
— Essa é uma pergunta ousada — diz ela. — E uma que eu acho
que você já sabe a resposta.
— Talvez sim, mas eu quero conhecer a sua.
— Você quer dizer — diz ela, como se para me corrigir, — você
quer saber a razão por trás da minha resposta.
- O que quer que seja... basta me dizer.
Eu sinto ela sorrindo, mas eu não vejo isso em seu rosto, e eu não
sinto qualquer rancor ou prazer nos sentimentos dela - apenas
honestidade.
Ela olha para a parede na frente dela novamente.
— Qualquer um pode estar apaixonado, Izabel — ela diz com uma
voz plana, — e posso dizer pelo olhar nos olhos daquele homem que ele
é apaixonado por você — (eu quero estar satisfeito com essa resposta,
mas eu não estou porque eu sei que não é tudo) — mas um homem
como Victor Faust — continua ela, — não pode ficar apaixonado para
sempre. Como o tipo de Fredrik não pode viver sem amor, o tipo de
Victor não pode viver com ele. E por mais que ele fique no caminho de
seus deveres, e quanto mais humano você o torna, mais perto você o
empurra para o seu ponto de ruptura.
— O que é que isso quer dizer? — Minha mão com a arma está
tremendo. — Você está dizendo que não importa o quê, ele vai acabar
conosco?
— Não — ela diz, — mas se você quer mantê-lo e o que você tem
com ele intacto, você precisa perder o que resta da sua vida pessoal,
sua humanidade. Seu amor por Dina Gregory. Seu ciúme juvenil. Sua
consciência. É o suficiente que ele te ame e tenha que protegê-lo, mas
ele não continuará, não pode, protegê-la e levar em consideração tudo
o que você arrastar com você do lado de fora.
— O que faz você pensar que ele não pode? — As lágrimas picam
a parte de trás dos meus olhos, mas eu não as deixo cair.
Nora vira a cabeça para olhar para mim novamente.
— Porque ele é como eu — diz ela não com malícia, mas com
verdade. — E de uma forma ou de outra, ele instintivamente fará o que
for preciso para restaurar o equilíbrio da única vida que ele já
conheceu.
Eu balanço a cabeça repetidamente, não querendo acreditar nela,
querendo ir em frente e atirar nela apenas por dizer essas coisas para
mim. Mas eu não posso. Ainda não.
Um nó duro desce pelo centro da minha garganta.
— Mas você amava Claire — eu aponto, me agarrando a qualquer
coisa que eu possa para virar a verdade em sua cabeça. — Você teria
feito qualquer coisa por ela.
— Sim — ela admite, — eu teria... e é por isso que todos os dias
que ela estava viva eu contemplei em matá-la.
Meu coração para de bater, como se ela tivesse apenas puxado o
tampão em mim.
— Eu amava tanto a minha irmã — ela começa, — que eu sabia
que não podia deixá-la viva porque sempre me preocuparia com ela e
estava me deixando fraca.
— Você ia matá-la? — Eu mal posso acreditar, mas mais uma vez
eu posso. — Você ia matar a sua própria irmã? Sua irmã inocente que
nunca fez nada para você e que não tinha ideia em que você estava
envolvida? — Minhas palavras são atadas com descrença e nojo.
— Sim. Se Victor não tivesse matado Claire, eu teria feito isso
sozinha, eventualmente, e sim, eu estava vingativa porque ele matou
ela, mas ela era minha irmã e ela era minha para matar, não de Victor.
— Ela faz uma pausa e diz com sinceridade, — Eu sei que é muito
estômago, Izabel... eu sei. Eu sei que é impossível para você entender.
Mas eu não sinto emoções ou vejo as coisas da maneira que você faz.
Eu nunca vou, porque eu fui criado a partir do momento em que nasci,
para ser do jeito que sou, não é diferente de você ser do jeito que é.
Todos nós temos nossas falhas "imperdoáveis", eu suponho que isso só
passe a ser mais aparente em mim.
Minha boca está incrivelmente seca. Meu coração não está
batendo rápido ou lento, mas não está batendo bem, é como se ele não
consegue descobrir como. Victor contempla me matar como Nora
contemplou matar Claire? Ele poderia realmente se livrar de mim
porque eu estou interferindo em sua vida como um assassino? Ele
poderia matar Niklas? Uma parte de mim me diz que ela é apenas louca
e que Victor pode ser como ela em muitos aspectos, mas não nos modos
mais extremos — e eu acredito nisso! Meu coração me diz que ele nunca
iria recorrer a isso. Ele me mandou embora uma vez, de volta ao
Arizona, e não tinha intenção de me ver nunca mais... mas... mas ele
fez. Ele cuidou de mim o tempo todo.
Não! Eu não posso deixá-la chegar a mim assim. Eu não vou
deixá-la.
Tremo o meu queixo e recupero meu controle.
Nora provou que suas habilidades de manipulação ultrapassam
as minhas ou de alguém que eu já conheci. Ela pode fazer uma pessoa
acreditar apenas em qualquer coisa que ela queira, fazer a pessoa com
a mente mais forte duvidar de si mesmo, ou a pessoa mais fraca de
mente acreditar que ela é algo extraordinário. Eu sei como ela funciona
— eu experimentei em primeira mão — e eu não vou cometer esse erro
novamente. Talvez as coisas que ela está me dizendo não são uma
tática de manipulação em tudo, e eles são verdadeiramente nada mais
do que suas opiniões, mas eu não estou tomando quaisquer chances.
Vou ouvir meu coração, e meu coração está me dizendo que... apenas
algumas das coisas que ela está dizendo são verdadeiras... e a parte
sobre perder o que resta da minha vida pessoal, creio que é uma delas.
— Ele não sabe... — eu digo, embora eu não tenho certeza por que
eu estou dizendo a ela. Eu olho para a parede acima da sua cabeça; a
arma ainda está apontada para ela, mas minha mente está em outro
lugar.
— Ele não sabe o que? — Nora pergunta.
Muito tempo passa antes de eu responder.
— ... Ele desligou o áudio da sala quando eu confessei para você
— eu digo distante, vendo apenas os tijolos na minha frente. — Ele não
sabe que eu tive um bebê com Javier... que eu tenho um filho de sete
anos ou filha lá em algum lugar.
— E você acha que é melhor manter assim. — Eu acho que é a
maneira dela também de me dizer que ela vai manter meu segredo.
Olho para ela, surpresa por ela não ter se movido, porque no meu
breve momento de distração, alguém com habilidade de Nora poderia
ter reagido com rapidez o bastante para me derrubar dos pés e tirar a
arma de mim.
Eu seguro a arma com mais firmeza, percebendo.
Ela olha para a parede novamente, esperando e pronta para eu
matá-la. Sem medos. Sem arrependimentos. Nenhuma tentativa de
salvar sua própria vida. Nora Kessler aceitou seu destino.
— Confio no seu julgamento, Izabel — diz. — Quando se trata dos
outros, você é uma boa juíza de caráter.
Eu sinto como se estivesse presa dentro da minha própria mente
giratória. Olho para o cano da minha arma e as costas da cabeça de
Nora.
— Quão importante é a honestidade para você? — Eu pergunto a
ela.
— Não tenho nenhuma razão para mentir — diz ela, — a menos
que seja meu trabalho mentir, por que você pergunta?
— Então me diga — digo, ignorando seu inquérito, — vire-se e me
enfrente para que eu possa ver seus olhos, e me diga por que você quer
fazer parte de nossa organização.
Depois de um momento, Nora se vira, ainda de joelhos, para me
encarar. Ela olha para mim com curiosidade.
Então ela sorri com descrença e sacode a cabeça.
— Antes que você se faça de idiota, Izabel — diz ela, — se você
quer que eu fique por perto para treinar você só porque você quer
manter Victor, você pode muito bem me matar.
Empurro a arma para ela ameaçadoramente.
— Apenas responda a pergunta — exijo.
Seus olhos curiosos estudam o meu rosto, minhas reações, e
então ela diz:
— Eu entrei em um monte de problemas para me provar a Victor
Faust — a todos vocês. Eu poderia ter ferido ou matado as pessoas que
você ama, mas eu não fiz e não tive nenhuma intenção em fazê-lo. Eu
posso ter forçado a todos vocês para expor pelo menos um dos seus
segredos mais obscuros, e eu pode ter feito mais danos do que o
pretendido, mas nenhum de vocês pode me culpar pelas coisas que
você tem feito, os segredos você manteve um do outro - aqueles são os
seus erros, não meus. — Ela faz uma careta e ajusta a sua posição
ajoelhada apenas um pouco. — Mas para responder a sua pergunta,
eu quero ser parte desta Ordem porque eu perdi o único lugar que eu
pertencia quando eu deixei a FC-4. Eu não posso simplesmente sair
para o mundo, encontrar um emprego, encontrar amigos, me apaixonar
e agir como um ser humano normal. Porque eu não sou. E eu nunca
serei. E eu não posso voltar para a Sect porque eles vão me matar no
local por deserção. Para não mencionar por matar Solis. — Finalmente,
senta-se completamente em seu traseiro, incapaz de permanecer em
seus joelhos por mais tempo. — Eu nasci, literalmente, para fazer isso.
É tudo que eu sei. E isso é tudo o que tenho a dizer.
Eu acredito nela. Independentemente de quão manipuladora ela
seja, os fatos também não mentem.
— Então por que você não se mata? — Eu pergunto. — Se você
não tem medo da morte, e você não pode viver de outra maneira, por
que não acabar com ela?
— Porque o suicídio é o caminho do covarde.
Eu aceno com a cabeça e deixo isso assim.
— Mas o que o impede de tentar matar um de nós? — Inclino a
cabeça pensativamente, olhando para ela com desafio. — Já que você
parece não ter consciência.
— Eu sou toda negócios, Izabel, — ela responde imediatamente.
— E eu sou leal. Está no meu sangue fazer o que me disseram os meus
superiores. Eu faço isso sem questionar ou argumentar, e faço-o bem.
E se eu quisesse te matar, eu poderia ter isso no segundo em que você
me trouxe aqui. Eu poderia ter tomado essa arma de você momentos
atrás, quando você estava fora na terra pensando nos segredos de vocês
e decidir não contar Victor sobre isso, como se fosse fazê-lo.
Provavelmente esta noite está prevendo dormir com ele. — (Como ela
sabe essas coisas?) — Se eu quisesse matar qualquer um de vocês, eu
não teria passado seis anos planejando esta noite. Eu teria matado você
todas as vezes que eu segui você.
— Mas, e quanto a Claire? — Eu digo, ainda precisando de mais.
— Ela comprometeu você. Você a amava. Você ia matá-la. E você deixou
a única casa que você já conheceu, arriscou tudo, por causa dela. O
que quer dizer que não vai acontecer de novo?
— Porque as pessoas como eu só amam uma vez — ela responde
sem sequer ter que pensar sobre isso. — Para nós, a experiência é como
uma criança tocando uma panela quente.
Eu não digo nada por um tempo.
— Mas quando você está calma e não agi por raiva ou vingança,
você sabe o que está fazendo. E confio em você cem por cento.
— Você disse que me treinaria.
Nora acena com a cabeça.
— Eu fiz.
— Então por que você disse...
— Eu vou treiná-lo se a sua necessidade de aprender não é ditada
pelo seu amor de um homem — ela corta. — Isso não é diferente de
uma menina engravidar apenas para manter seu namorado, ou um
homem casando-se com uma mulher que ele não ama porque a
engravidou, nunca funciona. E não vou perder meu tempo com tolices.
— Victor não é a única razão pela qual quero aprender — digo. —
Eu não vou mentir e dizer que ele não é parte dela, mas ele não é tudo
isso. Eu sou diferente de você em quase todos os sentidos, — continuo
— mas a única maneira que nós somos iguais é que eu sei que esta é
a única vida para mim. Já fui por esse caminho normal e eu não acho
que posso fazer isso de novamente. Esta é a minha vida, e eu só quero
aprender para me manter viva nele por tanto tempo quanto que eu
puder. Victor nunca teve muito tempo para me treinar como eu preciso
ser treinada. Ou ele me enviou para outra pessoa — eu silenciosamente
me lembro de Spencer e Jacquelyn no estúdio Krav Maga — ou
começou a ficar tranquilo depois de um tempo, porque ele não queria
me machucar.
— Eu nunca iria ser fácil com você. — Nora sorri.
— Eu sei.
Então eu digo:
— Mas lutar não é a única coisa que quero aprender — quero
aprender tudo o que você pode me ensinar: técnicas de manipulação,
controle da dor, tudo...
Nora levanta uma sobrancelha.
— Você nunca será capaz de aprender todas essas coisas — diz
ela, — a menos que você queira perder a sua capacidade de amar
alguém e ser capaz de matá-los em vez disso, mas vou ensinar-lhe o
que eu puder.
— Mais uma pergunta.
— Hmmm?
— Apenas por curiosidade — começo, — quando confessei a você,
você parecia... simpática. Até mesmo aos sentimentos de Niklas. Se
você é tão... sem emoção... por que você parece se importar? Por que
zombar do seu pai e seu dedo desencadeia tanta raiva que
desencadeiam suas emoções tão controladas? E ausente.
— Eu ainda sou humana — ela diz simplesmente.
Eu penso nisso muito e muito. Sobre tudo.
E então dou a ela a minha arma.
Nora olha para ela brevemente e depois a leva para seus dedos
manchados de sangue.
— Então, bem-vindo a bordo — eu digo.
E o fato de que ela não atira em mim nas costas ou foge para as
ruas de Boston, quando eu a deixo sentada lá e volto para dentro, mais
prova que ela está dizendo a verdade que eu já sabia.
CapÍtulo VINTE E DOIS
Izabel

Quatro dias depois...


Gostaria de poder dizer que as coisas estão voltando ao normal
por aqui, mas isso não poderia estar mais longe da verdade. Niklas
ainda se foi e nenhum de nós o viu ou ouviu falar dele — ele poderia
estar em outro país, ou morando na parte de trás de um bar em algum
lugar próximo, e qualquer um seria crível. Seus telefones celulares nem
tocam mais: eles vão direto para o correio de voz ou me dizem que o
usuário não tem uma caixa de correio configurada para deixar uma
mensagem. Eu parei de ligar para ele dois dias atrás. Quando ele quiser
ser encontrado, ele nos avisará. E eu vou me preocupar com o resultado
disso até que isso aconteça.
Dorian, depois que Fredrik o interrogou por muitas longas horas,
estou feliz em dizer que ainda está vivo. Ele ainda está aprisionado na
cela C e provavelmente estará lá por um tempo até que Victor descubra
o que fazer com ele. Mas de acordo com Fredrik, tudo o que Dorian
disse a Victor parece ser verdade, e ele não escondeu nada mais do que
sabemos. Mas, a coisa em Victor mantendo vivo, eu acredito, tem
principalmente a ver com a Inteligência dos EUA e se eles vão retaliar
em reação à morte de Dorian. Mas Victor disse que ele parece o tipo de
contratante privado que Dorian é, se ele já fosse morto ou
comprometido, os Estados Unidos não afirmariam que sabia algo sobre
ele.
É que a inteligência dos Estados Unidos sabe sobre nós
impossibilitando que Victor tome uma decisão de qualquer maneira.
Dorian admitiu fazer o perfil de cada um de nós e deu essa informação
a seus superiores, empregadores, o que quer que eles sejam chamados
— eu estou no escuro quando se trata destas coisas e Victor não fala
muito sobre isso... ou talvez ele tenha dito e eu acabei por estar muito
envolvida no meu treino com Nora Kessler para notar.
Comecei no dia seguinte depois da noite em que a deixei entrar. E
já sinto que tenho que cuidar das minhas costas a cada momento do
cada dia — não porque ela não possa ser confiada, mas porque, como
parte de seu treinamento, ela me ataca do nada. Não existe tal coisa
como um descanso. A qualquer momento Nora poderia estar me
testando, mentalmente ou fisicamente, ou de qualquer forma que ela
achar conveniente. É o mesmo tipo de treinamento que comecei com
Victor há mais de um ano, mas muito mais intenso. Ela fode com minha
cabeça tantas vezes que eu não posso dizer a diferença quando ela está
mentindo no meu rosto ou me dizendo a verdade — eu deveria ser capaz
de descobrir isso. Aprender a confiar inteiramente nos meus instintos
e ser capaz de reagir a qualquer situação em conformidade, sem nunca
pensar nisso. — Se você tem que parar e pensar nisso, você já fodeu —
disse ela durante uma das raras vezes em que me deu um conselho. E
então: — Não é a mesma coisa que "pensar antes de reagir" trata-se de
mudar a maneira de pensar e reagir naturalmente.
Eu nunca esperava que qualquer treinamento fosse assim. E está
apenas começando.
Hoje Nora juntou-se à mesa para o seu primeiro encontro.
Victor não aprovou minha decisão de deixá-la se juntar a nós
quando eu lhe disse o que eu tinha feito. Não de primeira de qualquer
maneira. Eu tive que lembrá-lo que ele disse que confiava em mim, e
embora eu pense no fundo ele não precisasse disso, eu sei que ele
menos esperava que eu a deixasse viver e tudo veio como um choque
para ele. Para mim também. Eu tinha toda a intenção de eliminar Nora
naquela noite — eliminando; talvez eu esteja começando a me tornar
mais como Victor — mas no último minuto, eu fui com meu istinto em
vez do meu ódio por ela.
Entrei na sala de reuniões diante dos rostos de Victor, James e
Fredrik. Nora estará atrasada se ela não estiver aqui em cinco minutos.
Eu faço o meu caminho para a minha cadeira habitual perto de Victor,
onde me sento e tento parecer confiante — sei que Nora não estiver de
acordo com as expectativas de todos, isso estará sobre a minha cabeça,
porque eu fui a única que a deixou se juntar a nós. Estar atrasada na
sua primeira reunião não é uma boa maneira de começar.
A sala está repleta de silêncio. Quase nenhum movimento agita o
ar suave que escorre das aberturas no teto. James olha para a tela do
laptop. Fredrik senta-se solidamente, como um gigante deslumbrante
melancólico com as duas mãos apoiadas na mesa. Victor se senta com
as costas presas contra a cadeira e as mãos no colo — sempre o
poderoso no quarto, e qualquer um saberia apenas olhando para ele,
mesmo que nunca o tivessem visto antes. Eu sinto seus olhos em mim
— embora não os de Fredrik — mas não consigo olhar para nenhum
deles.
Finalmente, o som de saltos tocando contra o chão do outro lado
da porta ecoa pelo corredor. A porta se abre e Nora, com suas longas
pernas e com belos cabelos louros, entra na sala de reuniões, fechando
a porta atrás dela. Ela está vestida, de todas as coisas, um terno de
mulheres negras e altos saltos pretos. Uma camisa com um elegante
babado que puxa sob o casaco do terno e fica perfeitamente sobre seu
peito, puxado em torno de seu pescoço de uma forma delicada.
Delicado — uma palavra que eu nunca teria pensado associar com os
gostos de Nora Kessler.
— Chagando perto da hora — eu falo.
Nora senta-se ao lado de James, com as costas retas e refinadas.
— Sim, — ela diz com um sorriso de desculpas e então alcança o
bolso da jaqueta e retira um telefone celular. — Mas eu encontrei
Niklas.
Victor e eu olhamos um para o outro enquanto Nora desliza o
celular sobre a mesa e ao alcance de Victor. Ele pega e olha para a tela,
batendo uma vez com a ponta do dedo enquanto ela começa a se
desvanecer em preto. Eu me inclino mais perto de Victor para obter
uma visão melhor.
— Em Barlow, — Nora anuncia. — Ele parece estar gastando
muito do seu tempo lá, bebendo — eu olho para a tela para ver várias
fotos de Niklas sentado em um bar escuro iluminado com um tiro de
uísque no bar à sua frente — uma garota diferente todas as noites nas
últimas noites. Ele está ficando no hotel ao lado do bar.
— Isso é apenas trinta minutos daqui — eu digo, olhando para
Victor ansiosamente.
— Bebendo e mulheres — James fala do outro lado da mesa. —
Parece que ele não mudou, realmente. Acho que é seguro dizer que ele
está bem.
Franzem o cenho para James.
— Ele não está tão bem — eu digo.
— Mas ele estará — diz Victor.
Ele desliza o telefone de volta para Nora. Ela o deixa sobre a mesa
na frente dela.
Fredrik não diz nada.
Eu deslizo para trás em minha cadeira mais confortavelmente e
viro a Victor.
— Você quer que eu vá falar com ele? — Eu pergunto. — Tentar
trazê-lo de volta para cá para que você possa falar com ele?
Victor sacode a cabeça.
— Vamos discutir Niklas mais tarde — diz ele. — Primeiro, eu
tenho algo mais que precisa ser tratado.
Victor e Nora trocam um olhar, dando a impressão de que são os
únicos na mesa que já falaram sobre isso, seja lá o que for. Eu me sinto
incrivelmente incômoda de repente, mas curiosa e ansiosa, também.
— O que é? — Eu pergunto.
Victor respira fundo e olha para todos nós.
— Haverá uma missão importante no futuro próximo — ele diz
enigmaticamente e seus olhos caem sobre mim, — não no próximo ano,
mas porque levará, pelo menos, esse tempo para se preparar para isso,
ou melhor, para preparar Nora - Ele olha para ela por um instante.
— OK — eu digo, desconfiada, — que tipo de missão?
Ele fica quieto por um momento e depois diz:
— Preciso que você volte para o México.
Confusa, eu respondo:
— Por que o México? — Mas o que é tão confuso é o quão obscuro
ele está sendo. — Não tenho problema em ir lá, Victor. Você me dá uma
missão e eu vou executá-la. O México não me assusta. Já fomos lá uma
vez. Pegamos dois dos irmãos de Javier e libertamos algumas das
meninas deixadas no complexo. A missão não resultou como eu
esperava e muitas das garotas com quem eu vivi quando eu era
prisioneira lá, já haviam sido vendidas ou mortas quando chegamos.
Ele olha para longe dos meus olhos momentaneamente.
— Victor, o que é? Apenas diga.
Mais uma vez, sinto todos os olhos em mim, mesmo Fredrik desta
vez, mas eu não olho para ninguém além de Victor.
— Esta missão vai exigir algo mais do que matar alguém e voltar
— ele começa. — Nos próximos meses você estará treinando Nora para
isso.
Minhas sobrancelhas se dobram rigidamente.
— Eu treinando ela? — Estou começando a entender, o que será
toda esta missão , mas deixei Victor preencher as lacunas.
— Você estava por dentro, — ele diz para mim, — e você sabe
como as coisas funcionam. Tudo. Desde a compra e venda de drogas,
armas e meninas, até o modo como as meninas foram tratadas, até
como elas foram mortas. Nora certamente pode lidar com qualquer tipo
de missão dada a ela, mas mesmo ela precisa ser treinada para que ela
saiba exatamente com o que ela está lidando.
Olho bem para Nora, que fica quieta, mas com confiança.
— Espere um segundo, — Eu o cortei — então você está dizendo
que quer que eu a treine para ser uma escrava sexual? — De alguma
forma eu não pode imaginar essa imagem na minha cabeça, não
importa o quanto eu tente.
O rosto de James se ilumina com arrepiante prazer.
— Não necessariamente, — Victor diz. — Eu falei com ela
longamente sobre isso e nós dois concordamos que a melhor maneira
de abordar esse aspecto particular é para ela se tornar uma das
meninas, não apenas desempenhar o papel.
— É melhor se tornar uma delas — diz Nora, — se eu conseguir
ser uma delas, não que me ensine como ser uma delas.
Ficando mais confusa, eu olho entre Victor e Nora, procurando
respostas.
— Eu sou capaz de assumir qualquer papel, até mesmo uma
escrava do sexo, mas você precisa me dar dicas, me dizer sobre os
bastidores, sobre como ser mais consciente, como não me matem.
Eu balanço a cabeça, já não gosto dessa ideia.
— Victor, imagino que as coisas não são mais as mesmas. Javier
está morto. Izel está morta. Seus irmãos estão mortos.
— Elas podem estar — diz ele, — mas isso não significa que as
coisas mudaram muito. Javier tinha seis irmãos que conhecemos. Dois
deles ainda estão executando suas operações. O composto ainda está
no mesmo lugar. Meninas, drogas e armas ainda são compradas e
vendidas como se nada tivesse acontecido. Dentro de dois meses de
nossa última missão lá, eles estavam funcionando novamente.
Eu já sabia a maior parte dessa informação, mas vejo por que
agora ele tinha que repetir.
Balançando a cabeça com um olhar caído, inclino-me para a
frente com os braços sobre a mesa.
— OK mas porquê? Por que voltar? Não me interpretem mal, não
tenho nenhum problema em matar aqueles bastardos e libertar mais
das meninas, mas...
— Essa não é a missão, Izabel — diz Victor.
Eu pisco, um pouco atordoada.
Nora e Victor trocam outro olhar de conhecimento.
Então Victor diz:
— Nora me disse alguma coisa, na última noite em que ela foi
detida naquele quarto, antes dela se juntar a nós. Algo sobre você que
eu queria ter mais certeza antes de eu dizer qualquer coisa.
Eu apenas olho para ele, sentindo a dor da traição, mesmo
sabendo que ele não me traiu em tudo.
Victor continua:
— Além disso, depois de falar com Dorian quando ele foi detido
pela primeira vez, a história de Nora parecia ter mais verdade. — Depois
de uma pausa, ele diz: — A missão no México será descobrir quem é
Vonnegut. Você pode ser a única pessoa entre nós que já viu o
verdadeiro Vonnegut.
— O quê? — Eu não posso acreditar no que acabara de ouvir.
Ele balança a cabeça, e depois começa a falar, mas eu o
interrompo.
— Você viu ele — eu aponto. — Do que está falando, Victor?
— O homem que encontrei em raras ocasiões, quando eu fazia
parte da Ordem — ele começa, — onde eu era valorizado como um
operário, tenho razões para acreditar que não era o verdadeiro
Vonnegut. Ele era um chamariz. A verdade é que ninguém realmente
sabe quem é o verdadeiro homem por trás da organização de
assassinato mais antiga e maior ainda em funcionamento hoje. Nem
mesmo a CIA ou o FBI — ninguém. Apenas quando eles pensam que
têm uma identidade, descobrem apenas estavam correndo em círculos.
Victor me enche de tudo o que Dorian lhe contou, dos suspeitos
de Vonnegut de vender armas a terroristas e de que seu negócio é muito
mais do que matar por contrato. Ele continua a me falar sobre as coisas
Nora lhe disse em segredo, e sobre o dispositivo de rastreamento que
Victor me cortou quando nós estávamos nos escondendo.
— Niklas e eu sabíamos — diz Victor, — na noite em que tirei esse
aparelho de você, que algo de tão alta tecnologia tinha que vir de uma
fonte externa, que não havia ninguém como Javier Ruiz que fosse capaz
de produzir ele mesmo.
— Enquanto eu estava espionando todos vocês, — Nora
interrompe, — e mergulhando em informações da Ordem, eu descobri
que Vonnegut estava lidando com meninas, também, e estava
vendendo dispositivos de rastreamento de alta tecnologia como o que
eles encontraram em você.
Victor acrescenta:
— Acredito que o dispositivo que foi colocado em você veio de
Vonnegut. Acho que Vonnegut estava vendendo para Javier, e você
estava lá no interior, mais perto de Vonnegut do que quase ninguém já
esteve.
— Mas o que faz pensar que eu sei como ele se parece? — Eu atiro
de volta, ficando mais oprimida por esta informação surpreendente.
— Os homens ricos que você viu quando Javier estava usando
você como um troféu de braço — Victor diz, — um deles eu acredito
que é o Vonnegut real.
Imediatamente, começo a pensar em todos os seus rostos, cada
um movendo-se rapidamente através da minha mente como um borrão.
— Ele não pode ficar escondido para sempre — Victor continua.
— Alguém o viu. Ele pode ser um fantasma, mas ainda é humano e os
seres humanos por natureza precisam se associar a outros seres
humanos, estar na presença de outras pessoas — acho que ele era um
desses homens ricos, Izabel. E eu acho que Nora indo para esta missão
será como nós finalmente o encontraremos, destronaremos e
mataremos.
Ele faz uma pausa e acrescenta com profundidade,
— E então eu assumirei A Ordem, uma vez que ele está morto.
Não respondo ao seu último comentário, mas, pela primeira vez
desde que entrei na sala, os olhos de Fredrik se fecham nos meus.
Esta é a primeira vez que eu ouvi Victor dizer algo assim. Assumir
a ordem, a ordem... é uma conversa para outro dia. Neste momento
meu cérebro está sobrecarregado com... tudo.
Estou em silêncio por um longo tempo, deixando todo o resto que
ele me disse para assimilar. Ainda parece ser haver muito que foi
deixado sem resposta, mas me leva vários minutos para descobrir quais
são essas coisas.
— Mas por que mandar Nora? — Eu digo, olhando para ela por
apenas um segundo. — Quero dizer... bem, acho que não posso ser a
única a voltar porque muitos já sabem como eu pareço...
— Eu não deixaria você voltar de qualquer maneira — Victor me
corta. — Você vai para o México e estará em uma cidade turística, mas
Nora estará fazendo o trabalho interno.
Eu franzi o cenho.
— Por quê? O que quer dizer que você não vai me deixar voltar?
— Há ácido na minha voz.
Victor suspira e deixa cair as mãos no colo.
— Você não acha que eu sou capaz de volta ali, — Eu acuso. —
Você acha que eu sou como todo mundo; isso porque eu passei por
uma experiência traumática e que eu nunca seria capaz de me colocar
nisso de novo, que eu nunca seria capaz de lidar com isso. Bem, você
está errado — eu lanço uma mão no ar — Eu sou o oposto de todo
mundo. Eu não tenho medo disso. De qualquer um deles. Eu sou mais
forte agora do que nunca, e se alguém pode fazer este trabalho com
perfeição, sou eu. Não Nora, mas eu.
— Não se trata de se provar, Izabel — diz Nora calmamente e
gentilmente.
Eu olho para ela.
— Ninguém pediu sua opinião...
— Não, mas eu não sou o tipo que dar — ela devolve - Ah, mais aí
estar a verdadeira Nora Kessler: audaz, loquaz e irritante.
James se esconde na cadeira um pouco para colocar alguma
distância entre ele e Nora, provavelmente esperando que eu me jogue
na mesa em qualquer segundo agora.
O deixo passar, inalo uma respiração longa, profunda e volto para
olhar para Victor.
— Como você mesmo disse — Victor diz, — você não pode ser a
única a entrar porque você não pode arriscar ser vista.
— Talvez haja uma maneira de contornar isso — eu digo. —
Poderíamos...
— Izabel — Victor interrompe com um tom sombrio e firme, —
você não vai voltar lá... você não pode lutar contra todos os homens
naquele complexo que tentariam ter seu caminho com você.
— Ah, então é isso que se trata, — eu digo friamente. — Você acha
que eu não posso evitar que eu seja estuprada — eu o olho diretamente
nos olhos, sem piscar — confie em mim, eu poderia...
— Nora estará indo para a missão — diz ele, como se isso fosse o
fim.
Esfregando os dentes, respiro fundo e me levanto da cadeira.
— Ela não pode entrar lá com fios, — eu assinalo. — Ela não pode
levar uma câmera. Ela não terá acesso a um telefone. Eu não duvido
de suas habilidades, mas se ela vai ser uma das garotas e torná-la
crível, ela não pode se esgueirar para entrar em contato conosco — eles
saberiam em poucos minutos que ela está desaparecida. — Eu olho
para ela uma vez e digo: — Como você vai ser a única a descobrir quem
Vonnegut é se eu sou a única que supostamente o viu? — Eu cruzo os
braços e olho atentamente, os olhos correndo entre Nora e Victor.
— Vamos descobrir isso — diz Victor. — Temos vários meses para
chegar a um plano.
Eu balanço a cabeça, minha boca se levantando de um lado.
— Victor, eu não sou estúpida para acreditar que você não
conhece uma maneira certa de descobrir quem é Vonnegut.
Ele olha para mim, esperando.
— Através de mim — continuo. — No segundo Vonnegut me vê, eu
saberei que é ele porque a compreensão de quem o está olhando irá
piscar em seus olhos naquele instante. E eu iria vê-lo. Vonnegut está
bem consciente de como eu pareço.
— Sim — Victor diz, — essa é a melhor maneira de descobrir quem
ele é, mas vamos encontrar outro caminho. Você não vai entrar nesse
complexo.
— É o único caminho.
— Outros viram você — ele me lembra, ficando irritado.
— Mas Javier e Izel estão mortos. Luis e Diego estão mortos e eles
são os únicos outros irmãos de Javier que eu vi. Quem está correndo o
lugar agora duvido saibam quem eu sou.
— Não podemos correr esse risco.
— Concordo — diz James. — É muito perigoso.
— Victor...
— Izabel! — Ele levanta as costas da cadeira — Eu não vou deixar
você voltar lá! — ele respira fundo e acalma-se — Eu não estou
arriscando você naquele lugar, Nora sim - Suas palavras cruéis não a
perturbam nem um pouco; Ela não se importa com essas coisas. —
Você quer fazer missões sozinha e isso já é risco suficiente, não importa
o quão bom você seja, mas enviá-la em um lugar onde as pessoas
podem se lembrar de você e quem vai matar você no local no segundo
que eles percebam quem você é, não é um risco que estou disposto a
correr.
Olho para a parede, desapontada e zangada, mas tocada por seus
sentimentos e não posso simplesmente descartá-los como se eles não
fossem nada.
— Me desculpe, — eu digo suavemente e Victor estende a mão
para mim. Ele nunca mostra carinho comigo durante as reuniões,
então o gesto me deixa surpresa.
Eu ando e pego sua mão. Ele me puxa para ficar ao lado dele. Ele
beija o topo dos meus dedos.
— Vamos descobrir um caminho — ele diz gentilmente, — mas
Nora será a de dentro.
Eu aceno com relutância.
Quanto tempo você vai se permitir cortar os cantos por mim, Victor?
— Vou ensinar a Nora tudo o que ela precisa saber — eu digo
olhando para ela.
Então eu tomo meu assento outra vez.
— Você é a chave para fazer isso funcionar — diz Victor.
Quanto tempo você vai tomar a rota alternativa apenas para me
manter fora de perigo?
— Vou fazer o que eu tenho que fazer para ajudar a derrubar este
tirano — eu acrescento.
Quão mais…?
E farei o que Victor me pedir, mas uma grande parte de mim quer
ser a do interior. Não porque eu sinto a necessidade de provar a mim
mesma. Não porque ele está deixando Nora ir em vez de mim e eu sinto
alguma sensação de ciúme — isso não tem nada a ver com ciúme, ou
determinação imprudente; eu quero que seja eu porque eu passei nove
anos da minha vida no México entre esses homens e sinto que, se
qualquer missão deveria ser minha, é esta.
— Entretanto — Victor anuncia, — com a ausência de Niklas, e
considerando as mudanças feitas nesta Ordem, Nora será a sua nova
parceira.
Eu aceno com aceitação.
— E continuarei treinando você enquanto trabalho com você —
diz Nora.
— Vocês duas irão em várias missões juntas antes da missão no
México — diz Victor. — Vocês irão se concentrar em suas atuais
missões por enquanto, mas estejam se preparando para o México da
mesma forma.
O silêncio caí sobre o quarto quando cada um de nós pensar sobre
o caminho a seguir.
— E Niklas? — Pergunto, decidido a não deixá-lo ser esquecido.
— Estamos planejando todas essas missões sem ele?
— Por enquanto, sim — diz Victor. — Até que as coisas entre meu
irmão e eu tenham sido resolvidas, é melhor assumir que ele não fará
parte de nenhuma missão.
Concordo com a cabeça.
Nós cinco passamos os próximos trinta minutos discutindo os
detalhes das nossas futuras missões, incluindo começar cedo no
México. É muito estranho sentar nesta mesa sem Dorian e Niklas. E
com Nora, em vez disso. Sinto falta do sarcasmo de Dorian e
comentários ridículos sobre as mulheres que deviam me esfregar do
jeito errado, mas nunca fazem. E eu sinto falta das minhas lutas com
Niklas e seus olhares frios e o fedor de seus cigarros persistentes em
sua jaqueta.
Finalmente, quando a reunião chega ao fim, Fredrik fica de pé da
mesa.
Todos nós olhamos para ele.
— A menos que haja qualquer outra coisa, — ele diz, olhando
apenas para Victor, — eu tenho um lugar que eu preciso estar.
— E o que você poderia, eventualmente, ter que fazer? — Nora
pergunta, sua voz cheia de provocação, seus lábios vermelhos escuros
espalhando-se num sorriso. — Um homem tão frio como você não pode
ter qualquer tipo de vida fora desta Ordem. — Ela sorri docemente,
perversamente.
Fredrik e Nora raramente falam um com o outro, mas de vez em
quando, sua personalidade burlona escapa dela. Ontem ela se colocou
como se ela não pudesse quebrar e como ela é agora a segunda mulher
a vencê-lo. Ela está tentando consegui uma reação dele, eu realmente
não tenho ideia porque ela quer uma, mas Fredrik está, como sempre,
não se incomodando com suas provocações.
Até agora.
Ele tira a pasta da mesa.
— Almoço — ele diz simplesmente.
Os olhos castanhos de Nora se iluminam com sugestão.
— Oh? E vai comer sozinho neste almoço, ou gostaria de
companhia?
Fredrik anda pelo comprimento da mesa. Ele nunca olha para ela,
mas então ele nunca realmente olha para qualquer um de nós.
— Eu prefiro jantar sozinho — diz ele.
Nora apenas balança a cabeça, sorrindo. Nada parece incomodá-
la, e admiro isso nela. Silenciosamente, é claro; eu nunca a deixarei
saber disso.
Fredrik olha para Victor, esperando.
— Eu vou estar em contato — Victor diz a ele. — Se as coisas
forem como planejado, você estará interrogando um homem até o fim
da semana.
Fredrik acena, coloca a mão na porta e a empurra.
— Mas não deixe o país — Victor diz antes de Fredrik sair. — Eu
acho que é seguro dizer que seu tempo sozinho acabou.
— Claro — diz Fredrik. — Eu estarei esperando por sua ligação.
— A porta se fecha ligeiramente atrás dele quando ele sai do quarto.
Victor volta sua atenção para Nora.
— E que outras informações você tem para mim do FC-4? — Ele
pergunta.
Nora escova seu cabelo loiro sedoso longe de seus ombros e dobra
suas mãos juntos na mesa na frente dela; suas curtas unhas estão
pintadas de vermelho para combinar com seu batom. James olha para
ela brevemente, da mesma forma que faz a cada poucos segundos, mas
tenta não torná-lo tão óbvio.
— Também no final da semana — ela diz, — vou ter tudo o que
sei sobre eles à sua disposição.
Victor acena com a cabeça.
Então ele diz:
— Você tem um longo caminho a percorrer antes mesmo que eu
começar a confiar em você; um caminho difícil pela frente.
— Sim, estou bem ciente — diz ela em troca. — Se você já
confiasse em mim, eu não teria o respeito que eu tenho por você.
Nora olha para mim.
— Mas um pouco de confiança — diz ela, indicando o tipo que eu
tenho por ela, — é muito apreciado.
Eu aceno, aceitando seus agradecimentos.
Victor olha entre nós, mas não diz mais nada. Nora é o meu
projeto, a minha responsabilidade, meu fardo para carregar. Ele aceita
isso e não me privará dela e do que eu preciso dela mesmo que ele
temesse que ela seja um erro, mas eu sei que ele vai estar observando
cada movimento dela.
— Bem, pela minha parte — James fala, — estou feliz por ter você
a bordo. — Ele sorri estupidamente.
Nora lhe dá um olhar sensual, fazendo com que seu grande rosto
redondo fique vermelho.
— Não sei como Niklas vai se sentir sobre isso — James
acrescenta, — ou até mesmo Dorian, se e... ele alguma vez sai daquela
cela, é claro — ele olha para Victor — mas eu suponho que o tempo
dirá.
Sim, o tempo tende a conter as respostas para tudo. E, como as
coisas estão agora, como as coisas tomaram um rumo tão drástico em
nossa Ordem, estou ansiosa e com medo de ver o que o tempo revelará.
Acho que a única coisa que posso fazer é esperar. Esperar que Niklas
volte e segure a minha respiração como tudo o que está destinado a
acontecer entre ele e Victor, aconteça. Espere pelo dia em que o destino
de Dorian estará finalmente decidido. Esperar pelo momento que se,
ou quando, Victor descobrir sobre a criança que eu tive com Javier, e
abrace as consequências da verdade. Esperar para ver se meu
julgamento está, de fato, totalmente errado e Nora acaba me fazendo
uma tola, afinal.
Esperar. O tempo é uma cadela cruel.
Capítulo vinte e três
Fredrik

HÁ CERCA DE OITO ANOS...

Serafina. Meu anjo com asas pretas. Ela sorriu; um brilho carmesim
nos lábios, emoldurado por cabelos tão negros como a minha alma, os
olhos tão profundos como o poço sem fundo que é o meu coração. Ela se
deitou perto do corpo quente, seus dedos longos e brancos enrolados no
sedoso cabelo loiro da menina. Seus seios pródigos e cheios,
pressionados contra os menores da menina. Ambos estavam nus,
enrolados um ao lado do outro. Eles estavam esperando por mim.
— É muito simples — Seraphina disse e ela arrastou a ponta de
sua língua através do pescoço da menina, olhando através do quarto
para mim com aquelas piscinas escuras de pecado e salvação. — Nós
fazemos tudo juntos, meu amor — sua língua traçou o lábio inferior da
garota e a menina devolveu o gesto — meu diabo, meu príncipe negro.
Eu pisei para frente, quebrando os botões da minha camisa.
Seraphina prosseguiu:
— Nós buscamos vingança juntos. Nós fodemos, nós amamos, nós
condenamos e destruímos juntos até o dia em que morreremos juntos.
Ela estendeu a mão delicada, mas mortal e gesticulou para mim,
curvando seus dedos em direção à sua palma, lentamente e
sugestivamente.
— Venha cá e prove-a — disse ela, e então deixou cair a mão entre
as coxas da garota. — Você tem que prová-la.
A garota gemeu com o toque de Seraphina, sua cabeça loira
pressionando o ombro da minha esposa, seus peitos pequenos e macios
empurrando para a vista da luz fraca no pequeno qiarto.
Fiquei de pé ao pé da cama, observando-os, como os dedos de
Seraphina se moviam com tanta precisão artística, como as pernas da
menina se separaram para ela, expondo seu lugar mais secreto para
mim e para o ar fresco da noite.
— Eu disse para você não trazê-las aqui. — Eu finalmente digo
enquanto escorregava meu cinto dos laços da minha calça preta, o som
do couro se movendo contra a tela em um movimento lento e deliberado.
— Nunca sem minha permissão. E nunca aqui. — Eu estava furioso, mas
mantive-o contido.
Os lábios vermelhos escuros de Seraphina se espalharam em um
delicioso sorriso. A moça acariciou os seios de Seraphina, colocou a
cabeça no seu pescoço; ela tentou tocar embaixo Seraphina, mas não foi
permitida, então ela puxou a mão dela, arrastando as pontas dos seus
dedos em seu estômago.
— Oh, Fredrik — disse Seraphina, levantando as costas da cama -
você não pode dizer isso o tempo todo. Estou tentando te ajudar. Isso é
apenas parte do processo.
— Mas, da mesma forma — disse eu — disse-lhe para não trazê-
las para nossa casa.
Seraphina e eu compartilhamos um olhar, seu sorriso escurecendo
com desapontamento; meu rosto sem emoção não tinha mudado. Mas
minha esposa nunca desistir tão facilmente. Ela nunca fazia o que eu
dizia com um estalar de dois dedos, porque ela era ousada e desafiante
e eu adorava isso sobre ela.
Ela se levantou da cama.
A menina ficou alerta e sentou-se quando notou a tensão crescente
na sala.
— Quero que você a foda — disse Seraphina. — Eu a trouxe aqui
para você. Olhe para ela — ela acenou para a menina, que era muito
bonita com lábios cheios e grandes olhos castanhos e quadris curvilíneos
— Eu achei que você ia gostar dela. Eu gosto dela.
A menina olhou para trás e para frente entre nós nervosamente.
— Mas esta é a nossa casa, Seraphina. — Eu me aproximei de sua
forma alta e nua. — Você sabe que eu não gosto de fodê-los aqui, onde
dormimos, onde eu te fodo.
— Eu... acho que vou embora agora — disse a moça, levantando-se
da cama.
— Não! — Seraphina estalou, apontando para ela. — Sente-se,
caralho. — Ela olhou para mim, fulminando-me, rangendo os dentes.
Seus olhos castanhos brilharam em seu rosto oval irritado; O preto de
seu cabelo curto brilhando contra o branco cremoso de suas bochechas.
A menina estava com muito medo de se mover. Ela permaneceu na
cama, puxando os joelhos para ela e cobrindo seus seios com seus longos
cabelos.
— Você pode ir — eu disse a menina, empurrando minha cabeça
para trás, indicando a porta aberta atrás de mim.
— Eu disse que ela fodidamente fica, Fredrik!
Seraphina começou a se esgueirar através da cama para a garota,
mas eu a agarrei por trás, segurando-a firmemente em torno de sua
cintura. A moça levantou-se rapidamente com os olhos arregalados e
agarrou suas roupas do chão.
Seraphina lutou comigo a cada passo, a cada momento, até que a
menina saiu correndo e ouvi a porta da frente de nossa pequena casa
fechada atrás dela.
— Desgraçado!
Arrancando as mãos de Seraphina atrás de suas costas, eu a
empurrei para a frente na cama.
— Por que você faz isso, Seraphina? — Eu perguntei a ela, minha
voz sufocada de raiva e desespero. Ela lutou contra a cama, mas eu a
segurei ainda, pisando entre suas pernas e separando-as com a minha.
— É a minha única regra e você a quebrou. Por quê?
— Porque é uma regra fodidamente estúpida! — Ela gritou, uma
face pressionada contra o colchão.
Inclinando-me sobre seu corpo com os pulsos ainda presos atrás
dela em uma das minhas mãos, eu sussurrei em seu ouvido:
— É estúpido que eu te ame, Seraphina? — Meu aperto aperta em
torno de seus pulsos — É estúpido que eu nunca queira compartilhar
você ou eu com alguém em nossa casa?
— Que diferença faz? — Perguntou ela em uma voz mais calma,
mas amarga. — Não importa onde nós fazemos.
— É importante para mim. — Eu beijei o lado de sua boca.
— Por quê?
— Porque deve haver limites — eu disse e me levantei novamente.
— Nós não vamos foder, matar ou destruir qualquer pessoa em nossa
casa. Você entende?
Ela balançou a cabeça ainda pressionada contra o colchão.
— Agora você vai ficar quieta ou eu vou ter que amarrar você?
— Vou ficar quieta — disse ela.
Eu soltei seus pulsos e ela moveu seus braços para fora e
descansou-os sobre o colchão acima de sua cabeça.
— E por que você vai ficar quieta? — Perguntei quando peguei
firmemente o cinto em minha mão.
— Porque eu mereço — ela disse, da mesma forma que ela havia
dito as vezes antes que eu tinha que puni-la.
Agachei-me entre as pernas e, com ambas as mãos, separei um
pouco mais para a expô-la a mim.
— Eu não sei o que vou fazer com você — eu disse e beijei a carne
quente de seu traseiro.
— Você não sabe o que você faria sem mim — disse ela em troca.
Eu beijei a outra bochecha.
— Não, eu não, e eu nunca quero descobrir.
Ela gemeu e seu corpo se enrijeceu quando minha língua
serpenteou para fora e lambeu seu clitóris.
Eu me ergui em uma posição e pisei de entre suas pernas. Ela ficou
quieta, esperando, sabendo, preparando-se. Eu a observei por um
momento. Ela empurrou os dedos dos pés um pouco, o suficiente para
segurar suas pernas enquanto ela estava deitada de costas contra o
colchão da cintura para cima. Eu queria tanto colocar meu pau nela, eu
queria espremer seu traseiro em minhas mãos e fodê-la até que nenhum
de nós pudesse ver em linha reta, mas ela tinha que ser tratada primeiro.
Eu nunca poderia deixá-la ter seu caminho quando se trata dessas
coisas ou ela se tornaria incontrolável. Seraphina pode ter me ajudando
a controlar meus impulsos torturantes, meus impulsos assassinos, mas
eu não era o único de nós que precisava ser ensinado, controlado e
guiado por que Seraphina era uma mulher perigosa e perversa que
poderia se perder em qualquer momento e nunca poderia ter muito
controle.
O som da pele marcada pelo couro rasgou através do ar e
Seraphina gritou alto. Mas ela não se mexeu. Duas vezes. Quatro vezes.
Seis vezes. Dez vezes, o cinturão golpeou sua carne, deixando marcas
em sua bunda. Ainda assim, ela nunca se moveu; apenas seus dedos se
agarraram a cama, rasgando o lençol do colchão e esmagando-o em suas
mãos.
Onze. Doze. Treze.
Eu não cedi. Eu nunca poderia deixá-la ver a fraqueza em mim ou
eu iria perdê-la. Atacar Seraphina levemente, tendo piedade dela, só a
desligaria. Era uma coisa boa porque eu nunca teria tido piedade dela.
Eu gostava de infligir a dor tanto quanto ela gostava de tomá-la.
— Fredrik, por favor! — Ela implorou com uma voz chorar lágrima.
— Por favor pare…
Eu bati o couro novamente, e novamente, e novamente até chegar
a vinte. Era sempre vinte. Ela sabia que sempre haveria vinte chicotadas,
não importa o quanto ela me implorasse para parar.
Eu coloquei o cinto de lado na cama e agachado entre suas pernas
mais uma vez. Seu corpo tremia debaixo de minhas mãos cuidadas,
resistido por apenas segundos sob meus lábios quentes. Eu beijei cada
centímetro de sua dor, cada pedaço, cada minúsculo corte onde a pele
tinha quebrado. E então eu delicadamente puxei seus lábios separados
com meus dedos e arrastei a ponta da minha língua quente entre eles.
Lentamente. Atentamente. Seraphina gemeu e choramingou e cavou
seus dedos no colchão.
Ela já não sentia a dor.
Tudo que ela sabia era o prazer.
Eu a fodi duramente, a única maneira que qualquer um de nós
queria sempre — duro e violento. E depois que eu gozei, eu deitei em
suas costas, ainda enterrado dentro dela.
Eu a beijei de volta, sua coluna, seus ombros e seu pescoço. A
lâmina de barbear me acenou na mesa de cabeceira, mas esperei. Só
mais um pouco.
— Não há ninguém mais no mundo como nós, meu amor — ela disse
em uma voz suave, olhando para nada com seu rosto pressionado contra
o colchão. — Eu morreria sem você.
Distraidamente, eu continuei a me empurrar profundamente dentro
dela lentamente.
— Você nunca estará sem mim — eu disse e beijei a nuca. — E
como você disse antes, morreremos juntos.
— Você promete, Fredrik? Você vai junto comigo se eu morrer antes
de você?
Eu beijei o lado de sua boca, pressionando meus quadris contra
ela. Ela ofegou.
— Quando você morrer, eu também morro — eu sussurrei contra
sua orelha. — Você é o amor da minha vida. Meu lindo cisne. E você será
minha destruição.
Entrei dentro dela. Seus lábios se separaram em um gemido
silencioso e ofegante e seus dedos encontraram o topo do meu cabelo
escuro.
— Ninguém pode te amar como eu te amo — disse ela. — Nenhuma
mulher neste mundo conhece você como eu conheço você, entende suas
necessidades, sua dor, seu passado. Nenhuma mulher pode dar a você
o que eu lhe dou.
E ela estava certa.
Eu empurrei mais e mais e, de repente, a lâmina de barbear estava
presa entre as pontas dos meus dedos e o polegar.
Eu levantei meu peito de suas costas, apenas o suficiente para que
eu pudesse vê-la.
Seraphina choramingou e agarrou a cama quando eu fiz o primeiro
corte, verticalmente abaixo suas costas cerca de dois centímetros. Logo
iria curar e tornar-se como as outras cicatrizes que eu tinha deixado lá.
Então me inclinei e lambei o sangue que escorria da ferida com a língua.
Seraphina levantou seu traseiro contra mim, me forçando mais fundo.
Meus dedos feriram firmemente dentro de seu cabelo.
Inclinei-me mais um pouco, procurando sua boca com a minha, e eu
a beijei longa, dura e sangrenta.
— Ninguém, Fredrik, — ela sussurrou e lambeu minha língua, —
ninguém jamais te amará como eu.

Eu não sei quanto tempo eu estive olhando este jornal, as palavras


impressas em tinta preta borradas em toda a minha visão. Por quanto
tempo minhas memórias de Seraphina me torturarão? Oh sim, claro —
até eu morrer junto com ela como eu prometi.
Minha pasta está no chão embaixo da mesa, sentada entre a
parede e minhas pernas, escondida na escuridão. Os clientes neste
restaurante, como em todos os lugares públicos, são inconscientes.
Eles não têm percepção da verdade, a mesma verdade que os cerca
todos os dias de sua vida tranquila e inocente — que o mal vive na
porta ao lado, passa-os na calçada, prepara as refeições ou, neste caso,
come apenas uma mesa com eles. Se eles soubessem apenas que
segredos minha pasta tem, ou as coisas horríveis que estas mãos
fizeram. Ou as lembranças vívidas e impiedosas que atormentam
minha mente como uma ferida que nunca cura.
Enrolei dois dedos em torno da alça do meu café e trouxe a caneca
para os meus lábios, suavemente soprando o vapor subindo do topo
antes de tomar um gole cuidadoso. Mais uma vez, meus olhos
examinam o jornal na mesa da cabine diante de mim — talvez desta
vez eu realmente leia as palavras.
Eu vou colocar a caneca de volta para baixo, mas pouco antes de
ele se instala de volta em segurança na mesa, o garoto sentado na
cabine atrás de mim bate a cabeça contra a parte de trás do meu
assento novamente. Algumas gotas caem da borda e sobre a mesa. Eu
calmamente limpo-as com um guardanapo.
— Avery! — A mãe repreende. — Eu lhe disse para ficar quieto.
Sinto muito.
Acho que o último comentário foi para mim.
Viro a cabeça apenas ligeiramente, não o suficiente para ver a
mulher, mas o suficiente ela saber que a ouvi.
— Está tudo bem — eu digo e volto a ler o jornal.
Mais três vezes — além dos provavelmente dez outros antes
daquela — o garotinho bate contra a parte de trás do meu assento, até
que finalmente a mãe se apressa a sai com ele, pedindo desculpas
novamente antes de ela se afastar com a mão de seu filho na dela. E
mais uma vez, eu disse a ela que estava bem. O que eu não disse a ela,
porém, é que eu, de uma forma estranha, me congratulo com o
incômodo. Eu tendo a apreciar as coisas simples, e de outra forma
irritante em vida depois de uma noite de torturar alguém, um menino
inocente batendo a parte de trás da minha cadeira, sendo um menino,
é uma boa mudança de atmosfera. Eu invejo este “Avery”. Que tipo de
homem eu seria hoje se eu tivesse sido autorizado a jantar com a minha
mãe e não me importar com o que o homem sentado atrás de mim
pensaria com a minha cabeça batendo nas costas do seu assento?
Talvez aquela pasta debaixo da mesa fosse preenchida com papel e um
almoço embalado em vez de agulhas, facas, alicates, venenos e luvas
de borracha. Talvez não haveria outra mulher no mundo que pudesse
amar e me entender.
— Pronto para uma recarga? — Ouço uma voz doce dizer.
Olho para cima, puxando minha mente de volta para o momento,
para ver a minha garçonete cujo nome lê “Emily” segurando um pote
de café em uma mão.
— Não, obrigado.
Ela sorri para mim, um rosto de forma oval com lábios amáveis e
olhos tipo avelã e pele de cor creme.
— Você vai pedido de sempre hoje? — Ela pergunta. — Dois ovos
mexidos. Três fatias de bacon crocante e um copo de água com limão?
Eu olho para ela.
— Não, eu não vou tomar café hoje. — Eu olho de volta para o
jornal.
O silêncio enche o espaço entre nós.
Finalmente, ela diz:
— Bem, talvez amanhã, então...
— Não, também não estarei aqui amanhã.
— Oh.
O silêncio começa a se esticar. Eu nunca olho para cima do papel.
— Bem, OK eu vou... deixá-lo para o seu café.
A garçonete chamada Emily, que tem sido minha garçonete todas
as outras manhãs pelas últimas três semanas, começa caminhar,
deixando sua personalidade brilhante no chão atrás dela.
— Espere — eu chamo em uma voz normal, e ela se detém para
olhar para mim. — Eu uh... — Eu olho para a mesa, e então a minha
caneca de café, e depois de volta para Emily — ... sim, eu acho que eu
gostaria de ter o meu pedido habitual esta manhã.
Seu sorriso bonito retorna, seus olhos castanhos brilhando
debaixo de seus cabelos marrom-dourados.
— Ótimo — ela diz balançando a cabeça, — Eu estarei de volta em
alguns minutos.
Ela vem tentando falar comigo durante as duas semanas das três
que eu vim aqui, mas eu sempre a evitei. Ela é linda, amável, doce e é
precisamente por isso que eu não cedi a suas tentativas de conversa
casual — ela não é o tipo de garota que eu poderia foder e ir embora,
sem culpa por seus sentimentos feridos.
Não sei por que a parei.
Dez minutos depois ela volta com meu café da manhã com um
prato em uma mão e um copo de água de limão na outra. Ela os coloca
na mesa à minha frente enquanto eu afasto o jornal, dobrando-o e
colocando-o no assento.
— Você trabalha aqui perto? — Pergunta ela, enquanto nota algo
em seu tablet na palma da mão.
— Não — eu digo quando eu polvilhe pimenta nos meus ovos —
estou apenas desfrutando do café da manhã. — E gosto muito do senso
de normalidade que tomar café da manhã no mesmo restaurante todas
as outras manhãs me dá, eu não digo em voz alta.
Ela rasga um bilhete e o coloca de face para baixo sobre a mesa.
— Bem, estou feliz por ser sua garçonete todas as manhãs — ela
diz com um sorriso bonito que sugere algo mais.
Ela é tímida, mas ela está tentando ser corajosa e eu acho que é
cativante.
O silêncio começa a se esticar novamente.
— Bem, desfrute da sua refeição — diz ela e então coloca o bilhete
no bolso do avental.
— Obrigado — digo a ela e lhe dou um pequeno sorriso antes de
voltar para a minha refeição.
Ela balança a cabeça e olha para o bilhete o tempo suficiente para
eu pegá-lo. Sentindo como se ela quisesse que eu a olhasse antes de
ela se afastar, eu o levo aos meus dedos e virei-o para encontrar um
número de telefone escrito na frente, em vez da minha refeição ou
quanto devo.
Ela cora sob seu sorriso.
— Você pode me ligar se quiser sair algum dia — seu rubor se
aprofunda e só isso me intriga — isso é... se você for solteiro. Ou
mesmo... interessado.
Ela está muito nervosa e ficando ainda mais enquanto mais ela
fica ali e eu não digo nada.
— Quero dizer, você não é casado, tanto quanto eu posso dizer —
ela olha nervosamente para o meu dedo anelar sem um anel — mas se
você não está interessado...
— Você é uma mulher muito bonita — eu a cortei para que ela
pudesse verter o arrependimento e a humilhação que ela começara a
sentir. — E não, eu certamente não sou casado. Sou muito solteiro.
Ela sorri, com os lábios fechados. Noto outra garçonete de pé na
caixa registradora, nos observando, e sorrindo. Ela olha para longe
quando vê que eu notei.
Eu mantenho minha atenção em Emily.
— Você nunca perguntou a um homem antes, não é?
Seu rosto fica mais vermelho e ela mal pode olhar meus olhos
mais.
— É tão óbvio? — Ela pergunta, enrugando seu pequeno nariz.
Eu deixei o sorriso em meus olhos tocar meus lábios mais.
— Sim, mas eu gosto.
Não dizemos mais nada por alguns segundos. Ela não consegue
parar de sorrir e eu estou apenas confuso com a minha reação.
— Bem, eu tenho que voltar ao trabalho — ela diz e se vira sobre
os calcanhares.
Eu aceno com a cabeça e então, pouco antes de ela ir embora, eu
digo:
— Eu chego em casa às nove da noite. Eu ligo antes das nove e
meia.
Eu acho que não pode machucar, pelo menos, falar com ela...
Seu sorriso de lábios fechados se ilumina, ela balança a cabeça e
caminha até uma mesa onde dois novos clientes acabam de se sentar.
Eu como o meu café da manhã, coloco uma gorjeta grande sobre
a mesa debaixo da xícara de café e depois saio em silêncio com a minha
pasta na mão.
Perguntas para o
leitor
Será que Izabel jamais contará a Victor o seu segredo? Ou ele vai
descobrir por conta própria?

O que será de Dorian Flynn? Você acha que Victor deve levar
Dorian em cima de sua oferta para trabalhar com a Inteligência dos
EUA?

Será que o Niklas voltará à Ordem de Victor? Ele pode (ou deveria)
perdoar seu irmão?

Que impacto você acha que Nora Kessler terá na Ordem de Victor,
positiva ou negativa? E quanto a Izabel?

Será que Fredrik Gustavsson alguma vez encontrará o amor? Ou


você acha que ele deveria ficar longe das mulheres completamente?

Você acha que Nora estava certa em dizer a Izabel que seu
relacionamento com Victor está praticamente condenado?

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sobre a autora

Nascida em 25 de Novembro de 1975, J.A. (Jessica Ann)


Redmerski é uma autora best-selling do New York Times, EUA Today
e Wall Street Journal que manipula vários gêneros literários
diferentes. Ela mora em North Little Rock, Arkansas. É uma amante
de televisão e livros que empurram os lintes e é um grande fã de AMC
'The Walking Dead'.

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