Você está na página 1de 35

Manual de Formação

9640 – Comportamentos disfuncionais crianças e no jovem

Tipologia de Formação
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

Ficha técnica

Título 9640 - Comportamentos disfuncionais crianças e no


jovem
Autoria Luísa Maia
Coordenação Luisa Maia
Versão 1
Data 27/07/2020
Entidade Formadora GTI VC FORM – Formação e Consultoria de Gestão, Lda.

Condições de utilização
O presente manual destina-se ao curso nome do curso, sendo o conteúdo do mesmo, propriedade da GTI VC Form.
A sua duplicação para outros fins só poderá ser feita, mediante autorização expressa da GTI VC Form.
O Manual está estruturado de acordo com o índice e os conteúdos inseridos estão adaptados em função dos
objectivos /competências do curso e do público-alvo, sendo um instrumento de apoio à realização da acção de
formação.

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

Índice
1. Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.................................5
2. Perturbações do comportamento: diagnóstico, avaliação e intervenção..........7
3. Fatores de Stress e Resiliência............................................................11
4. Comportamentos disruptivos e antissociais:conceitos, causas e consequências 15
5. Comportamentos disruptivos e antissociais.............................................27
6. Papel da familia...............................................................................28
7. Papel das Instituições e dos profissionais...............................................31
8. Estratégias de intervenção.................................................................33
Bibliografia..........................................................................................35

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

1. Objetivos do Curso:
 Identificar fatores de risco no comportamento da criança e do jovem.
 Colaborar na implementação de estratégias de intervenção com crianças e jovens com
comportamentos disfuncionais e perturbações do comportamento.

2. Conteúdos Programáticos:
 Comportamentos disfuncionais na criança ou jovem
 Ansiedade e distúrbios emocionais
 Depressão
 Agressividade
 Isolamento
 Sono e seus problemas

 Perturbações do comportamento: diagnóstico, avaliação e intervenção

 Fatores de risco de perturbação do comportamento:


- Individuais: fatores genéticos, défices neurocognitivos da criança, período pré e pós natal
- Familiares: Tipo de vinculação, disfunção familiar, patologia psiquiátrica parental
- Ambientais: Grupos de pares delinquentes, insucesso e absentismo escolares, exposição a violência nos
meios de comunicação

 Fatores de stress e fatores de resiliência


 Comportamentos disruptivos e antissociais: conceitos, causas e consequências
Indisciplina, violência, “bullying”
 Papel da família
- Estilos parentais e sua relação com comportamentos disfuncionais ou disruptivos
 Papel das instituições
 Papel dos profissionais
 Estratégias de intervenção

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

1.Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem

Ansiedade | Depressão | Isolamento

Atualmente cerca de 3 a 11% da população adulta sofre com esta doença. Embora não
escolha idade a Depressão também tem sido detectada, com relativa frequência, num
número cada vez maior de crianças. Estudo recente revelou que 15% dos adolescentes e
90% das crianças sofrem de Depressão, contrariando pesquisas anteriores que
constatavam a Depressão em apenas 10% da população infantil. De difícil diagnóstico
no público infantil, esta doença desafia pais, professores, médicos e psicólogos. Todos
precisam estar atentos para reverter o quadro, o quanto antes, e amenizar o impacto
negativo de seus efeitos, que podem durar por toda uma vida quando não tratados
devidamente.

A origem da Depressão na criança

Ainda permanece desconhecida a origem exata da Depressão, tanto em adultos quanto


em crianças. A explicação científica mais atual que se tem é da ocorrência de um
desequilíbrio bioquímico caracterizado pela queda nos níveis de
• Serotonina (responsável pela motivação, apetite, humor),
• Noradrenalina (responsável pela energia física, interesse, concentração e sono)
• Dopamina (responsável pela sensação de prazer e bem-estar).

Essa desestabilização hormonal, por sua vez, pode ser desencadeada variavelmente por
eventos biológicos causados por:
• vida sedentária,
• problemas glandulares,
• mutações adaptativas (idade) e alimentação insuficiente ou inadequada.

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

Sabe-se que uma alimentação pobre em carboidratos (encontrado no arroz, milho, trigo
e outros cereais) pode desestabilizar a produção de Serotononia e provocar o estado
depressivo.

Esta disfunção química no cérebro também pode ocorrer provocada por eventos
psicológicos considerados traumáticos, tais como: perdas significantes (morte de ente
querido), frustrações (escolares, sociais), conflitos familiares (brigas, divórcio),
mudanças adaptativas (escola, bairro, cidade) e que também afetam a produção de
neurotransmissores causando oscilação de humor, ansiedade e inclusive o pânico.

Sono e os seus problemas

Na idade adulta existe uma correlação significativa entre os distúrbios do sono e os


transtornos depressivos e ansiosos. Se, por um lado, todos nós sabemos que a infância
acarreta, entre outras contingências, algumas dificuldades no que diz respeito ao sono,
em particular nos primeiros anos, por outro lado é importante diferenciar entre os
problemas “normais”, associados a esta etapa do desenvolvimento, e as dificuldades
mais sérias. É que, numa pequena percentagem dos casos, e tal como acontece nos
adultos, os problemas com o sono das crianças podem estar associados a uma depressão
infantil ou a um transtorno de ansiedade.

Pesquisas recentes mostraram precisamente que mais de 80% das crianças com
depressão apresentam distúrbios do sono, como insónias, que as levam, muitas vezes, a
dormir na cama dos pais. A incidência destes distúrbios nas crianças sem este
transtorno é de apenas 5%. Ora, esta correlação permite-nos olhar para este tipo de
dificuldades como um sinal de alerta, que não deve ser desvalorizado.

Então, o que é que está ao alcance dos pais no sentido de efetuar um despiste rigoroso?
A primeira ajuda deve ser a do pediatra da criança. É este profissional de saúde que
poderá avaliar até que ponto é que a criança deve ser encaminhada para um
especialista do sono e/ou outros profissionais.

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

Além disso, e tal como acontece na idade adulta, é importante cuidar da higiene do
sono, para que as crianças possam assim descansar e repor a energia de que precisam
para o seu dia. Quando as crianças não dormem bem, aumenta a probabilidade de
terem problemas de comportamento. Há alguns cuidados que os pais devem ter:

• A criança deve ir para a cama a uma hora fixa, para criar uma rotina.
• O quarto da criança deve ser confortável e acolhedor, para que se sinta
relaxada.
• A televisão, o computador e as consolas devem ser substituídas pela interação
com os pais, que lhes permite sentirem-se mais calmas à hora de deitar.
• Deve evitar-se que as crianças assistam a programas de televisão inapropriados
para a sua idade, mesmo durante o dia. A mesma regra é aplicável aos jogos de
computador e consolas.
• À noite deve evitar-se bebidas e alimentos que contenham cafeína – colas e
chocolates, por exemplo – já que são estimulantes.

2.Perturbações do comportamento: diagnóstico,


avaliação e intervenção

Um sintoma isolado ou esporádico não pode caracterizar nenhuma doença. Antes, é


preciso vários sintomas ocorrendo ao mesmo tempo e, mesmo assim, por um período
maior que duas semanas. É preciso ter bom senso no uso dessas informações, sabendo
que o médico, de preferência o psiquiatra, e o psicólogo são os profissionais mais
indicados para realizarem a observação e a entrevista clínica para fins de diagnóstico e
prognóstico. Entretanto, os pais devem ficar atentos aos seguintes sinais:

0 a 3 ANOS

Bebês, nesta faixa etária, ficam indiferentes ao meio, seu rosto é triste e seu olhar
vago e lastimoso. Ficam quietos a maior parte do tempo. Próximos à inércia, mal

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

balbuciam e quase não reagem aos estímulos visuais e auditivos. Quando movimentam
braços ou pernas é com lentidão que o fazem. Geralmente este comportamento é
acompanhado por moderação no apetite e prolongamento do período de sono habitual.
Perturbações psicossomáticas também podem ser observadas, tais como: taquicardia,
reações alérgicas frequente, respiração ofegante, dores no corpo sem causa aparente
refletidas por choros sofridos.

Entre os 2 e 3 anos a Depressão pode manifestar-se com quadro de Ansiedade de


Separação, onde podemos observar uma maior aproximação e apego excessivo à pessoa
de maior convívio, geralmente a mãe. Outros sinais da Depressão, nesta faixa etária,
são: atraso da linguagem, encoprese (faz cocó na calça mesmo depois de aprender a
usar o peniquinho) e enurese (faz xixi na calça ou na cama). Somente nos casos de
Depressão grave, pouco comum nesta idade, podem aparecer ideias delirantes onde a
criança afirma estar a ver vultos, imagens e bichos ou mesmo ficar amedrontada
quando algo ou alguém quer pegar nele/a..

3 a 10 ANOS

Nesta faixa etária as crianças deprimidas somatizam o transtorno afetivo, o qual se


manifestará através de dores por todo o corpo, em especial na região da barriga e
cabeça. Geralmente têm dificuldade em ganhar peso e apresentam algum déficit em
seu crescimento. Além do rosto triste, estão sempre nervosas e irritadas, ficam
hiperativas e também mais agressivas. Oscilam facilmente entre a coragem e o medo
inespecífico. Perdem o interesse por atividades lúdicas e apresentam perdas
significantes no rendimento escolar devido a maior dificuldade de concentração. As
respostas aos estímulos são frequentemente desproporcionais, por exemplo: destrói
furiosamente um brinquedo só porque a pilha acabou.

É também nesta fase do desenvolvimento, dos 3 aos 10 anos, que a criança aprende e
experimenta suas competências sociais, colocando em prática sua capacidade de
relacionar-se e competir com as outras pessoas. Estão sempre a comparar-se no intuito
de se afirmarem como pessoa. As manifestações indicativas de Depressão, mais comuns
nesta fase, são a propensão ao isolamento e a timidez exagerada, percebida nas

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

atividades coletivas. Pensamentos auto-depreciativos, bem como a mentira tornam-se


mais frequente. Sabe-se que muitas das dificuldades de aprendizagem têm como pano
de fundo a Depressão nesta fase da vida.

Entre 6 e 12 anos, as crianças com Depressão, além dos sintomas básicos anteriormente
citados, podem apresentar também comportamento anti-social grave, contrariando os
princípios sócio familiares e passam a fazer, propositadamente, asneiras têm condutas
agressivas e até pequenos furtos, sendo erroneamente rotulados de “delinquentes”
quando na verdade precisam de atenção e assistência.

Tratamento

Como toda e qualquer doença, quanto antes diagnosticada e tratada, melhor será a
recuperação. Hoje em dia o tratamento é muito eficiente e, levando em consideração
o estágio da doença, a idade e a estrutura biopsicosocial de cada criança, as melhoras
podem ser sentidas logo nos primeiros meses de medicação combinada com terapia
cognitiva. O tratamento pode durar entre 3 meses a 2 anos.

Segundo informações médicas, evita-se o tratamento com antidepressivos em crianças


menores de sete anos, sendo preferido o acompanhamento psicológico mais intenso.

Em Síntese;
Sinais de alerta mais comuns:

Os pais ou responsáveis devem procurar o médico ou o psicólogo ao perceber três ou


mais sinais persistentes, por um período maior que duas semanas.

0 a 3 anos

• choros constantes e histéricos


• perda de apetite ou recusa de alimentação
• alteração ou perturbação do sono

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

• letargia (a criança fica mais lenta)


• baixa resposta à estímulos verbais e visuais
• apego exagerado à pessoa mais próxima, como a mãe.

3 a 6 anos

• mudanças acentuadas no comportamento


• quietude (ficam mais tempo sem fazer nada)
• ansiedade ou agitação descontroada
• quebra constante de objetos
• falta de interesse em brincadeiras e atividades com os amigos
• irritabilidade e comportamentos agressivos
• indisciplina (desobediência e provocações)
• dificuldade ou resistência na realização de tarefas comuns como banho e
alimentação

6 a 12 anos

• dificuldade de interação pessoal


• comportamento traquina
• sentimentos de rejeição e de baixa auto-estima
• predileção por atividades de risco magoando-se
• queda no desempenho escolar
• regressão do comportamento (agir como se tivesse menos idade)
• tristeza com isolamento
• mau-humor e desinteresse geral

A principal dificuldade no diagnóstico preciso da Depressão Infantil está nas


semelhanças que têm os sintomas da doença com as características próprias da idade,
podendo deixar confuso até os mais experientes profissionais. Além das crianças nem
sempre saberem explicar exatamente o que estão a sentir.

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

3.Fatores de Stress e Resiliência

Como podemos ajudar as nossas crianças a serem mais resilientes?

Por vezes pode ser mais fácil acreditarmos que as crianças podem crescer sem
necessidade de serem protegidas mas, o ser criança por si, não garante um escudo
protetor contra os traumas emocionais que podem sentir e experienciar ao longo da sua
vida. As crianças podem ser desafiadas a lidar com várias situações difíceis, desde o
adaptar a uma nova escola, a situações de bullying ou até a viver num lar abusivo.
A capacidade de crescer e ultrapassar todos estes desafios parece residir no que
designamos por resiliência, ou seja, a capacidade de lidar de uma forma positiva,
construtiva, com o trauma, tragédia, ameaças e com qualquer fonte significativa de
stress.

No entanto, as crianças não nascem ensinadas, precisam ser guiadas, educadas e


cuidadas pelos adultos que as rodeiam. O desenvolvimento de capacidades de
resiliência pode ajudar as crianças a gerir o stress, ansiedade e as incertezas com as
quais se vão deparando.

Mas, ser resiliente não quer dizer que as crianças não venham a sentir dificuldades ou
stress.
A dor emocional, a tristeza fazem parte da nossa vida, ficar triste pela mudança de
escola, pela morte do animal de estimação ou até de uma pessoa importante da vida

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

familiar é normal e desejável, o ser resiliente ou não, determinará como a criança irá
lidar com esses sentimentos e como irá recuperar desse momento menos positivo.

Todos nós podemos desenvolver a capacidade de resiliência e ajudar as nossas crianças


a desenvolvê-la.

Aqui ficam algumas dicas que podem ser úteis para uma tarefa tão importante:

 Estabelecer relações; Ensinar à criança como pode fazer amigos, a ser empática
e a ser capaz de se colocar no lugar do outro compreendendo os seus sentimentos.
Encorajá-la a ser amiga para que tenha amigos. A construção de uma boa rede familiar
é fundamental para ajudar a criança a ultrapassar as inevitáveis desilusões no seu dia-
a-dia.

 Ajudar para ser ajudado - Possibilitar o reconhecimento por parte da criança,


que tem recursos que podem ser úteis para si e para os outros. Proporcionar à criança
situações em que possa ajudar os outros e sentir-se útil, seja em casa ou na escola.

 Manter uma rotina diária O manter uma rotina pode transmitir à criança um
sentimento de segurança e conforto, sobretudo aos mais novos. Encorajá-la a adaptar-
se às rotinas familiares mas dando-lhe espaço para que possa estabelecer as suas
próprias rotinas.

 Fazer uma pausa Embora seja importante ter rotinas, o estar sempre preocupada
com o que fazer e como fazer pode ser contraproducente. Ensinar à criança a ser capaz
de se focar em algo para além das suas preocupações. Procurar saber o que está a
preocupar a criança é fundamental para que possa desmistificar os seus pensamentos e
ajudá-la a fazer uma pausa e a dedicar-se a algo que lhe dê prazer.

 Ser um bom exemplo Ensinar à criança a importância de manter uma vida


saudável: boa alimentação, exercício e descanso q.b. Garanta que a criança tem tempo
para divertir-se e que não tenha o horário totalmente preenchido sem tempo para
poder relaxar. A brincadeira e a diversão proporcionam carregamentos de bons

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

sentimentos que ajudarão a criança a estar mais equilibrada para lidar com situações
mais stressantes.

 Estabelecer metas e objectivos Ensinar à criança o estabelecimento de


objectivos realísticos e a realizá-los um passo de cada vez. Ao manter-se focada num
objectivo e nas pequenas conquistas em relação ao mesmo, ajudará a criança a
valorizar o que consegue alcançar em detrimento do que não consegue, construindo
assim a capacidade de ser persistente e pró-activa em situações difíceis e desafiantes.

 Valorizar as capacidades positivas e fomentar o estabelecimento de uma boa


auto-estima Ajude a criança a lembrar-se das vezes em que lidou com situações difíceis
e foi bem sucedida, e ajude-a a perceber que estes desafios passados podem ajudá-la a
tornar-se mais forte para lidar com os desafios que ainda estão por vir. Ajude-a a
confiar em si própria no que toca à resolução de problemas e à tomada de decisão.
Ensine-a a ver a vida com humor, a ser capaz de rir de si própria, o humor é uma
ferramenta importante para lidar de forma positiva com o stress. Manter a perspectiva
e um olhar esperançoso perante a vida Quando a criança está a deparar-se com
situações penosas, ajude-a a olhar para o contexto de diferentes perspectivas e com
um olhar a longo prazo. Apesar das crianças muitos pequenas terem dificuldade em
descentraram-se do momento que estão a viver, ajuda-as a perceber que existe um
futuro para além da situação presente e que esse futuro pode ser bom, apesar da
vivência de um momento menos bom no aqui e agora. O desenvolvimento de um olhar
optimista possibilita à criança a capacidade para ver o que a vida tem de bom e a não
desistir quando a vida se torna mais complicada.

 Procurar oportunidades que possibilitem a auto descoberta tempos difíceis


geralmente proporcionam uma maior aprendizagem acerca de nós próprios. Ajude a
criança a perceber que perante um desafio pode aprender mais acerca de si próprio,
permitindo um progressivo auto-conhecimento.

 Aceitar a mudança como algo natural ao longo da vida a mudança pode ser
sentida como assustadora para as crianças e adolescentes. Ajude a criança a
compreender que mudar faz parte da vida, assim como o estabelecimento de novos

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

objectivos e o pôr de parte objectivos que não foram concretizados ou que deixaram
de fazer sentido. No entanto, esta tarefa pode tornar-se mais desafiante quando
lidamos com crianças muito pequenas, crianças que estão ainda a aprender a andar e a
falar, não sendo capazes ainda de expressar as suas ansiedades e medos. Embora possa
pensar que são ainda muito pequenas para compreender o que se passa, são desde
muito cedo capazes de absorver sentimentos de ansiedade e de medo das pessoas que
estão à sua volta.

Torna-se fundamental conhecer a sua criança, perceber quais os sinais de medo e


ansiedade.

A criança tornou-se demasiado exigente? A exigir mais carinho e contacto físico do que
o habitual? Começou a fazer xixi na cama? A chuchar no dedo depois de ter deixado de
o fazer?

A criança pode estar a reagir a sentimentos de pressão e ansiedade que sente no


mundo que a rodeia ou até assustada com um mundo ainda por conhecer.
Use a brincadeira para ajudar a criança a expressar os seus medos e encoraje a
criatividade, a arte, o jogo para que possa expressar os seus sentimentos para além das
palavras que ainda não domina.

Apesar de não haverem fórmulas mágicas de como educar e preparar uma criança para
a vida, sabemos que a família é um apoio fundamental:
 fortaleça os laços familiares,
 brinque,
 leia, procure ter tempo de qualidade com os seus filhos, conheça-os e dê-se a
conhecer.

É no desenvolvimento desta relação segura aquando os primeiros anos de vida com os


que a rodeiam, e posteriormente consigo própria, que se edifica uma boa capacidade
de resiliência.

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

Afinal, todos nós num primeiro momento, precisámos de andar acompanhados para
podermos andar connosco próprios.

4.Comportamentos disruptivos e antissociais:conceitos,


causas e consequências
Formas de disciplina

É natural que um dos pais assuma o papel de disciplinador, mas se esse papel não for
igualmente partilhado por ambos, os filhos podem ver um dos pais como o "bom" e o
outro como o "mau".

"A disciplina é o segundo presente mais importante que um pai pode dar a uma criança.
O amor vem em primeiro lugar."
T. Berry Brazelton

Um dos objetivos essenciais da educação, a ser alcançado a longo prazo, com


constantes avanços e recuos, é ensinar os filhos a serem disciplinados, orientando-os
para que hajam de maneira aceitável e aprendam a conviver com regras e limites:

- Em pequenos, conseguir que tenham, desde cedo (primeiro dia de vida), uma rotina
para fazerem as suas refeições, tomar banho e dormir sem muitas confusões.

- Quando maiores, que façam adequadamente os trabalhos de casa, sejam educados,


aprendam a cumprimentar as pessoas, agradecer um presente, sem nunca perderem a
iniciativa própria.

- Na adolescência, que saibam aceitar horários para chegar a casa, tenham


responsabilidade e autonomia com as suas tarefas escolares e os seus pertences.

Estes são apenas alguns exemplos, pois os limites variam muito em função do que é
esperado em cada cultura e em cada família.

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

Todo o lar deve ter as suas próprias regras, que devem ser respeitadas e aplicadas
coerentemente e com o comum acordo dos pais (tarefas domésticas, mesada,
televisão, horários para dormir, etc.).

É natural que um dos pais assuma o papel de disciplinador, mas se esse papel não for
igualmente partilhado por ambos, os filhos podem ver um dos pais como o "bom" e o
outro como o "mau" - situação que é muito difícil de reverter. É, por isso, fundamental
uma partilha constante de cuidados.

Existem várias formas de disciplina. Seguem-se algumas que vale a pena


experimentar:

• Avisos - ajudam a criança a estabelecer limites e a prepará-la para a mudança;


• Silêncio - como são constantemente interpeladas, corresponde a uma forma
surpreendente de captar a atenção da criança;
• Fazer uma pausa - cessa o mau comportamento e permite aos pais acalmarem-se;
• Repetir as coisas, da forma certa - ao incentivar as boas ações vamos encorajar a
criança, o que lhe permitirá readquirir autocontrolo e sentir-se recompensada;
• Reparar - leva a criança a pedir desculpas e fá-la entender que "o crime não
compensa";
• Perdão - incentivo para melhorar o seu comportamento. É importante a criança sentir
que pode ser perdoada;
• Planeamento - os pais enfrentam em conjunto os problemas, levando a criança a
planear e a resolver problemas;
• Humor - uma forma agradável de ultrapassar os problemas, "quebrar o gelo", sem
nunca entrar no gozo.

Formas que se revelaram inúteis:

• Castigos corporais;
• Vergonha, humilhação;
• Lavar a boca com sabão;
• Comparar as crianças umas com as outras;

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

• Suprimir comida ou usá-la como recompensa;


• Deitar mais cedo ou fazer uma sesta extra (a criança pode associar o ato de dormir a
situações negativas, o que pode provocar alterações no sono);
• Retirar o afeto, ameaçar com o abandono - a criança não se sente amada, sente
medo.
"Educar é conviver com a criança, caminhar a seu lado e não por ela, podendo oferecer
o seu exemplo, que é uma das melhores formas de ensinar e nunca esquecer que para
educar é necessário tempo para dar dedicação e amor."

Criança Hiperativa

"Ter compaixão é possuir um entendimento maior das fragilidades humanas. É quando


nos tornamos mais realistas, menos exigentes e mais flexíveis com as dificuldades
alheias."
Hammed

As crianças gostam de brincar, fazer asneiras e correr para lá e para cá. Mas é preciso
ter cuidado para não identificá-las erroneamente como portadora do TDAH.
Às vezes, a criança está apenas a passar por algum problema e essas características
aparecem.

Normalmente elas apresentam comportamentos agitados, não param quietas um só


instante, estão sempre a fazer alguma coisa “errada”, sendo apontadas como um mau
exemplo. Mas não é tão fácil assim identificá-las porque estas características
confundem-se com sintomas comportamentais de outras dificuldades infantis.

Características do Hiperativo

No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, da Associação Americana


de Psiquiatria, tem-se a orientação de diagnosticar pelo menos seis características pelo

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

período de mínimo de seis meses, e que estejam a dar transtorno para a vida da
criança, como por exemplo:

- ser inquieta (mexendo as mãos e os pés ou não parando quieta na cadeira),


- ter dificuldade em permanecer sentada,
- se corre sem destino,
- se tem dificuldade em fazer uma atividade quieta ou em silêncio,
- se fala excessivamente ou interrompe conversas de outras pessoas – sem pedir
licença,
- responder a perguntas antes de serem formuladas,
- agir como se fosse movida a motor,
- ter dificuldade em esperar a vez.

A hiperatividade costuma ser mais incidente em meninos e na faixa etária dos sete aos
nove anos. Essa fase é a que eles estão a começar a estudar e precisam ter mais em
atenção. Fica mais fácil perceber a dificuldade de concentração dessas crianças. Elas
ficam sem noção de espaço e de limites, não por teimosia, mas porque não têm noção
do que estão a fazer.

Como a família e a escola podem agir

Normalmente, para os pais, pede-se que diminuam os estímulos no quarto da criança,


como, por exemplo, vídeo, computador e jogos. A criança deve ter horários fixos para
todas as atividades (café da manhã, banho, brincar, dormir). Quando os pais falarem
com ela, devem solicitar que ela repita o que entendeu.
Elogiar o que ela fizer corretamente, mesmo que seja ficar sentada por cinco minutos,
pois é importante para que se sinta reconhecida nas atitudes e atividades que estiver a
fazer adequadamente.

É importante que os adultos fiquem atentos, pois as crianças hiperativas ficam com a
autoestima baixa a partir da repetição do erro, pois apenas dessa maneira elas
conseguem chamar atenção, mas é uma atenção negativa.

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

Problemas que podem ser confundidos com hiperatividade

·Autismo
·Depressão infantil
·Ansiedade
·Hipertiroidismo
·Dislexia
·Transtornos de aprendizagem
·Deficiência auditiva
·Epilepsia
·Transtorno obsessivo-compulsivo
·Transtorno bipolar ou mania
·Inquietação típica da idade
·Problemas familiares

Tratamento

O procedimento multidisciplinar - envolvendo pais e profissionais das áreas médicas,


saúde mental e pedagógica - é o mais eficiente para o tratamento do TDAH. Isso requer
um conhecimento real quanto à natureza da síndrome, em desenvolver estratégias
próprias: na administração do comportamento em casa e na escola, e num programa
pedagógico adequado, em terapia individual ou familiar e com uso de medicamentos.

Por isso, é fundamental para melhorar a qualidade de vida das crianças com a
síndrome, que haja conhecimento sobre a doença entre: médicos, profissionais de
saúde, professores, pedagogos, psicólogos, assistentes sociais e familiares.

Diagnóstico: esse deve ser o primeiro passo. O individuo precisa saber o que acarreta
toda essa “confusão” na vida dele;

Informação: quanto mais a pessoa aprende sobre a patologia, melhor ela reage ao
tratamento;

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

Estruturação: o uso de listas, agendas, lembretes, alvos, planeamento do dia, podem


reduzir a sensação de descontrole, aumentando a produtividade e sensação de controle
da pessoa;

Psicoterapia: terapia cognitivo-comportamental. Consiste num tipo de encorajamento


organizado para que as pessoas com o transtorno prosperem. É como se o terapeuta
fosse um técnico de um atleta desportivo, acompanha cada passo;

Medicação: a psico-estimulante (1a. escolha); anti-depressivo (2a. escolha) e anti-


psicóticos (comorbidades/intolerância). Os medicamentos ajudam a reduzir a sensação
de turbilhão interior e a ansiedade. Produz alívio profundo e é bastante seguro e eficaz
quando usado de maneira apropriada.

Dicas para o professor lidar com o Hiperativo

·Evite colocar alunos nos cantos da sala, onde a reverberação do som é maior. Eles
devem ficar nas primeiras carteiras das fileiras do centro da classe, e de costas para
ela;

·Faça com que a rotina na classe seja clara e previsível, crianças com TDAH têm
dificuldade de se ajustar a mudanças de rotina;

·Afaste-as de portas e janelas para evitar que se distraiam com outro estímulos;

·Deixe-as perto de fontes de luz para que possam ver bem;

·Não fale de costas, mantenha sempre o contato visual;

·Intercale atividades de alto e baixo interesse durante o dia, em vez de concentrar o


mesmo tipo de tarefa num só período;

·Repita ordens e instruções; faça frases curtas e peça ao aluno para repeti-las,
certificando-se de que ele entendeu;

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

·Procure dar supervisão adicional aproveitando intervalo entre aulas ou durante tarefas
longas e reuniões;

·Permita movimento na sala de aula. Peça à criança para buscar materiais, apagar o
quadro, recolher trabalhos. Assim ela pode sair da sala quando estiver mais agitada e
recuperar o auto-controle;

·Esteja sempre em contato com os pais: anote no caderno do aluno as tarefas


escolares, mande bilhetes diários ou semanais e peça aos responsáveis que leiam as
anotações;

·O aluno deve ter reforços positivos quando for bem sucedido. Isso ajuda a elevar sua
auto-estima. Procure elogiar ou incentivar o que aquele aluno tem de bom e valioso;

·Crianças hiperativas produzem melhor em salas de aula pequenas. Um professor para


cada oito alunos é indicado;

·Coloque a criança perto de colegas que não o provoquem, perto da mesa do professor
na parte de fora do grupo;

·Proporcione um ambiente acolhedor, demonstrando calor e contato físico de maneira


equilibrada e, se possível, fazer os colegas também terem a mesma atitude;

·Nunca provoque constrangimento ou menospreze o aluno;

·Proporcione trabalho de aprendizagem em grupos pequenos e favoreça oportunidades


sociais. Grande parte das crianças com TDAH consegue melhores resultados
acadêmicos, comportamentais e sociais quando no meio de grupos pequenos;

·Adapte suas expectativas quanto à criança, levando em consideração as deficiências e


inabilidades decorrentes do TDAH. Por exemplo: se o aluno tem um tempo de atenção

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

muito curto, não espere que se concentre em apenas uma tarefa durante todo o
período da aula;

·Proporcione exercícios de consciência e treinamento dos hábitos sociais da


comunidade. Avaliação frequente sobre o impacto do comportamento da criança sobre
ela mesma e sobre os outros ajuda bastante.

·Coloque limites claros e objetivos; tenha uma atitude disciplinar equilibrada e


proporcione avaliação frequente, com sugestões concretas e que ajudem a desenvolver
um comportamento adequado;

·Desenvolva um repertório de atividades físicas para a turma toda, como exercícios de


alongamento ou isométricos;

·Repare se a criança se isola durante situações recreativas barulhentas. Isso pode ser
um sinal de dificuldades: de coordenação ou audição, que exigem uma intervenção
adicional.

·Desenvolva métodos variados utilizando apelos sensoriais diferentes (som, visão, tato)
para ser bem sucedido ao ensinar uma criança com TDAH. No entanto, quando as novas
experiências envolvem uma miríade de sensações (sons múltiplos, movimentos,
emoções ou cores), esse aluno provavelmente precisará de tempo extra para completar
a sua tarefa.

·Não seja mártir! Reconheça os limites da sua tolerância e modifique o programa da


criança com TDAH até o ponto de se sentir confortável. O fato de fazer mais do que
realmente quer fazer, traz ressentimento e frustração.

·Permaneça em comunicação constante com o psicólogo ou orientador da escola. Ele é


a melhor ligação entre a escola, os pais e o médico.

Sintomas do Hiperativo:

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

A criança hiperativa tem pelo menos seis sintomas dos dois grupos
(explicados à seguir) por mais de seis meses.

Grupo 1 (Desatento):

·Não consegue enxergar detalhes ou comete erros por descuido nas tarefas escolares ou
em outras atividades
·Tem dificuldade de manter a concentração em tarefas ou brincadeiras
·Parece não ouvir o que se diz a ele (a)
·Não consegue seguir uma instrução até o fim e deixa de completar trabalhos escolares
ou tarefas domésticas (mas a recusa não decorre de comportamento desafiador ou da
falta de compreensão das instruções)
·Dificuldades em organizar tarefas e atividades
·Evita ou reluta em iniciar tarefa que exige grande esforço mental
·Perde com frequência objetos de uso diário, como material escolar e brinquedos
·Distrai-se com facilidade por estímulos externos
·Esquece atividades cotidianas.

Grupo 2 (Impulsivo)

·Inquietação constante (remexe as mãos ou os pés ou se contorce no seu lugar)


·Sai do seu lugar na sala de aula ou em outras situações em que deve permanecer
sentado
·Corre sem destino ou sobe em cima de móveis e objetos
·Dificuldade em se engajar em uma atividade recreativa com tranquilidade. Está
sempre em movimento, age como se estivesse ligado a um "motorzinho"
·Fala o tempo todo
·Começa a responder a perguntas que ainda não foram completadas
·Tem dificuldade em esperar sua vez em jogos ou situações em grupo, interrompe a
conversa de outras pessoas.

A Criança Hiperativa

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

A criança hiperativa pode ter dificuldade em ficar sentada, quieta, tem necessidade de
se mover muito, fala excessivamente, bate nas outras crianças, provoca vários
conflitos. É impulsiva e geralmente tem coordenação ou controle muscular pobre,
deixa cair as coisas e frequentemente derruba o que está bebendo.Tem dificuldade de
fixar a sua atenção e distrai-se facilmente. Com frequência a criança hiperativa
enfrenta dificuldades de aprendizagens, causadas por redução nas habilidades
perceptivas (visuais, audutivas, e às vezes táteis).

Suas dificuldades motoras provocam uma pobre coordenação ocular-manual afetam a


sua capacidade de escrever com facilidade e clareza. Geralmente têm poucos amigos,
pois tem pouca habilidade para relacionamentos interpessoais.
Há medicamentos indicados para a hiperatividade, mas deve-se tomar cuidado, pois
diagnóstico da hiperatividade pode ser confundido ou dado de maneira precipitada.

Sugestões de atividades para crianças hiperativas

Deve-se utilizar materiais calmantes como argila, pintura, areia e água, pois qualquer
experiência tátil ajuda essas crianças a concentrarem-se e a tornarem-se mais
conscientes de si mesmas. Colocar música clássica, enquanto as crianças pintam,
massajar as costas ou as mãos das crianças. Utilizar exercícios de relaxamento.

Permitir que as crianças corram, brinquem de pega-pega, brincadeiras de movimentos,


que caminhem em grupos, que conversem uns com os outros e que tenham
oportunidades de fazer escolhas.

Todas as crianças precisam fazer tomada de decisões para reforçar o seu eu,
especialmente a criança hiperativa precisa da oportunidade de exercitar sua vontade e
julgamento de modo positivo.

Criança Isolada/ Tímida

A timidez consiste em um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento psicossocial


sadio. Muitas vezes não é percebida como um problema ou uma dificuldade. Os adultos

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

reforçam esse comportamento e se agradam diante dessas crianças, uma vez que não
dão nenhum trabalho.

É frequente presenciar pais ou educadores, dizendo: "Olha que linda. Ela é tão
quietinha!" Normalmente o problema só se torna aparente pela família, quando a
criança inicia na escola ou então quando exagera seu comportamento tímido. Convém
lembrar que existe uma timidez transitória durante o início de socialização e que é tida
como normal. É o caso da criança que se encontra em um ambiente novo, com pessoas
desconhecidas e onde é natural uma inibição inicial, mas que aos poucos ela se vá
socializando.

Diferente da criança tímida que independente do tempo, continua isolada e não


socializa com ninguém. A timidez é mais facilmente observada na escola, pois são
frequentes as atividades em grupo e situações como recreio, momento em que a
criança percebe que todos estão interagindo, menos ela. A tensão e a ansiedade nessas
situações é muito acentuada, a criança não vê a hora de ouvir a campainha tocar.

Comportamentos Típicos:

• A principal característica é o isolamento social.


• Mantém-se afastada de outras crianças.
• Evita brincadeiras e jogos em grupo.
• Prefere brincar sozinha.
• Possui uma tendência a apatia, podendo permanecer horas sentada e sem
nenhuma atividade.
• Fala muito pouco e quando fala pode ser um sussurro ou ainda apresentar
gagueira.
• Possui dificuldade para expressar seus sentimentos e emoções, sejam positivas
ou negativas.
• Apresenta um forte vínculo afetivo, principalmente com a mãe.
• É comum presenciar uma criança tímida enterrar o rosto na saia da mãe diante
de outras crianças ou adultos.
• Sente-se inferiorizada e inadequada perante outras crianças.

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

• Apresenta uma tendência ao delírio. Foge para o mundo da fantasia em busca de


satisfação, já que não tem satisfação em sua vida real. Quando a criança tímida possui
alguns amigos, normalmente esses são de idade inferior a sua e incorpora várias
tentativas para conquistá-lo e nunca perdê-lo.
• Passa a adotar estratégias como: dar seu material escolar, comprar lanche, etc..

Diferença entre sexos:

A introversão na menina é menos óbvia. É mais frequente em meninos tímidos em


tratamento psicológico do que meninas. Essa diferença deve-se às influências culturais
e sociais. Vamos imaginar um menino que não possui amigos, fica em casa o tempo
todo, e isola-se no recreio. Esse menino vai chamar mais atenção do que uma menina
com os mesmos comportamentos. Na menina é esperado e reforçado que seja mais
"comportada", quieta e reservada. Assim quando uma menina fica em casa, ajuda sua
mãe nas tarefas domésticas e não tem amigas, é vista como adequada e sem dúvida
este comportamento pode estar a esconder um comportamento retraído.

O que fazer?

A família desempenha um papel muito importante na maturidade ou não, dessa


criança. Os pais são o único apoio emocional, é na presença deles que se sente segura
e amparada. Por isso os pais precisam ser cautelosos para não reforçar a timidez
patológica e contribuir para uma relação de dependência.

A relação com os pais, deve aos poucos, ceder lugar para outros relacionamentos,
incentivando a criança à socialização.

A timidez atrapalha e muito o desenvolvimento de habilidades sociais e hoje essas


habilidades são imprescindíveis para o sucesso pessoal e profissional. Essa criança
precisa de ajuda, pois continuando desta maneira, vai deixar de vivenciar novas
experiências e perder oportunidades. Não queremos que passe de um extremo ao
outro, de introvertida a extrovertida, precisamos respeitar a individualidade e a
personalidade de cada um, no entanto podemos ajudá-la a se desenvolver de maneira

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

mais funcional. Os pais podem ajudá-la, começando por criar situações sociais fáceis
para o filho, convidando outras crianças com idade semelhante para passar a tarde em
sua casa. No entanto, os pais não devem forçar a criança a enfrentar situações
embaraçosas, precisam acima de tudo respeitar seu filho.

5.Comportamentos disruptivos e antissociais

O que são as Perturbações de Comportamentos Disruptivos e do Controlo de Impulsos?

De acordo com o DSM – 5 as Perturbações do Comportamento Disruptivo e do Controle


dos Impulsos estão relacionadas com problemas ao nível do autocontrolo das emoções e
do comportamento. Estes problemas manifestam-se através de comportamentos que
violam os direitos dos outros (p.e. agressões, destruição de propriedade) e/ou que
colocam o indivíduo em conflito significativo com normas sociais ou com figuras de
autoridade.
As causas dos problemas de autocontrolo dos impulsos e do comportamento podem
variar amplamente entre as perturbações subjacentes a esta problemática
(perturbação de oposição e de desafio, perturbação explosiva intermitente e
perturbação do comportamento ou da conduta), e também entre os indivíduos
pertencentes a determinada categoria diagnóstica.
As perturbações do Comportamento Disruptivo e do Controle dos Impulsos tendem a
iniciar-se na infância e na adolescência. Em situações muito raras, a perturbação de
comportamento e a perturbação de oposição e de desafio poderão surgir na idade
adulta.
Estas perturbações tendem a ser mais comuns no sexo masculino, embora esta
predominância possa ser diferente entre as diferentes perturbações, bem como numa
determinada perturbação em idades diferentes.

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

6.Papel da familia

Tal como acontece com o indivíduo, a família passa também por vários estádios de
desenvolvimento, ao longo dos quais, deve preencher certas necessidades emocionais
(Cárter & MacGoldrick, 1980).
Determinados acontecimentos que surgem na família prejudicam a progressão de um
estádio para o outro. O nascimento de uma criança, por exemplo, traz um novo estádio
para a família. Neste caso cada membro tem que se ajustar e se acomodar à presença
deste novo membro familiar.

Segundo Cárter & McGoldrick (1980) existem seis estádios de ciclo de vida.

No primeiro estádio, o adulto separa-se da família de origem, inicia as suas funções no


meio de trabalho e desenvolve um íntimo relacionamento com a competição.

No segundo estádio, duas famílias são unidas pelo casamento de dois dos seus
membros. O casal começa a formar a sua própria família, efetuando reajustes com os
seus antigos relacionamentos, preparando-se para a aceitação de novos membros na
família.

O terceiro estádio é formado pela família com as crianças. O casal reajusta o seu
relacionamento, criando espaços físicos e emocionais para as suas crianças. Os adultos
tornam-se pais e os relacionamentos com as suas famílias de origem são novamente
remodelados, para se ajustarem aos novos papéis.
Relativamente ao quarto estádio, as crianças já se tornaram adolescentes e começa a
procurar a sua própria independência.
O relacionamento entre pais e filhos precisa mais uma vez ser reajustado, permitindo
aos jovens delinear os seus próprios horizontes e projetos, lançando-se mais para o
mundo exterior.

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

No quinto estádio, os filhos normalmente saem de casa. O relacionamento conjugal


volta a ter necessidade de se adequar novamente a uma vida a dois no lar. O
relacionamento com os filhos deixa de ser um relacionamento adulto-criança e passa a
ser um relacionamento adulto-adulto.

Por último, no sexto estádio, a família inverte os seus papéis, isto é, frequentemente
os pais, agora já mais velhos, tornam-se dependentes dos seus filhos e filhas.

Para todas as famílias o ajustamento de cada membro que deverá ser feito ao longo
destas fases de mudanças é, frequentemente, “stressante”. Apesar destes serem
comuns a todas as famílias existem, no entanto, alguns que são particularmente
problemáticos no contexto das famílias com crianças com deficiência.
Quando uma família tem uma criança com deficiência, o stress aumenta e os
ajustamentos multiplicam-se. Um indivíduo com deficiência, pode, por exemplo,
permanecer numa situação correspondente à de uma criança dependente para toda a
vida.
Assim, as fases de mudança que ocorrem na família podem ser diferentes numa família
com uma criança deficiente comparando com as que ocorrem com uma criança dita
normal durante os vários estádios.
Quando um casal está à espera do nascimento de uma criança, é normal e frequente
que fantasie a respeito dessa “criança sonhada”, ou seja, como é que será (a cor do
olhos, do cabelos, etc.).
Aquando do nascimento de uma criança com deficiência perde-se esse sonho. Os pais
passam por uma fase de grande pressão e stress, na tentativa de se ajustarem a essa
perda. Aqui se inicia todo o processo aflitivo.

O aparecimento desta criança na família vai desencadear no sei seio uma série de
reações. Quanto mais grave for a deficiência da criança, maior será a angústia do
agregado familiar, especialmente dos pais perante uma situação nova, inesperada,
desconhecida e perturbadora.

De facto, a severidade da deficiência e o grau de autonomia podem influenciar a


reação das famílias relativamente a essa deficiência.

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

Uma criança com surdez severa ou profunda trás problemas de comunicação bastante
graves, principalmente quando se trata de uma família que não tem na sua história
antecedentes relacionados com a surdez. Se a deficiência é logo detetada à nascença,
os pais vivenciam um choque imediato. No entanto, quando a deficiência é notada mais
tarde, como é o caso da deficiência mental, o choque dos pais não é tão grave, embora
muitas famílias se vejam como culpadas por a deficiência não ter sido detetada mais
cedo.

De facto, também a deficiência severa ou profunda que se torna visível pode ser
encarada por dois lados: por um lado culpabiliza o comportamento inadequado da
criança, por outro lado provoca na família um estigma social e uma rejeição.

É vulgar os pais, além de se culpabilizarem, chegarem mesmo a sentir vergonha em


relação à criança. Normalmente todos os pais têm uma reação ambivalente em relação
aos filhos. As suas atitudes têm sempre alguma rejeição: de facto, os pais amam os
filhos mas também os rejeitam, já que o nascimento de um filho pode, por vezes, levar
os pais a abdicar de uma ou outra atividade, consequentemente há um aumento de
responsabilidades, pequenos desapontamentos e angústias.

Quando se trata de uma criança deficiente, estas componentes negativas agravam-se.


No entanto, as reações podem variar, desde o desejo aberto e consciente que a criança
morra, até à hostilidade e rejeição reprimidas e simbólicas.
Estes sentimentos que no fundo originam culpabilidade vão por vezes resultar numa
proteção excessiva, numa tentativa de negação ou compensação dos sentimentos
hostis, facto que não beneficia a criança, uma vez que contribui para o seu isolamento
e consequente imaturidade.

As atitudes tomadas pelos pais perante um diagnóstico positivo estão diretamente


condicionadas, como já foi referido anteriormente, pela existência ou não de
antecedentes na família. Neste período considerado de luto é fundamental que quer os
membros da família, quer amigos e/ou profissionais saibam relacionar-se com os pais,
de modo a fazê-los perceber a importância e as vantagens de recorrer a programas de
intervenção precoce.

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

Estes programas são de extrema importância, tendo como base o facto de encontrar
estratégias para apoiar a família, tendo em conta a sua necessidade específica.
Há dois fatores que se devem ter em conta: a perceção que a família tem do problema
e a perceção que a família tem dos recursos disponíveis.
Os pais destas crianças deparam-se com muitas dificuldades na interação pai – criança,
uma vez que são crianças menos ativas, têm menos iniciativas para a interação e os
seus sinais normalmente são menos nítidos, o que por si só gera perturbações na
comunicação. Alguns dos estudos relativamente à análise da relação das mães com os
seus filhos com necessidades educativas especiais, demonstraram que também as mães
produzem menos respostas, revelando uma tendência a adotar um estilo mais diretivo.

De facto, o programa de intervenção precoce deve promover nos pais competências


para a interação, produzindo da mesma maneira mudança no estilo interativo da
criança.

O maior interesse da criança pela interação está diretamente ligado a mudanças


positivas nas competências interativas da mãe e/ou pai, o que evidência a relevância
que o impacto de uma intervenção centrada na interação pais/criança pode ter no seu
desenvolvimento
Podemos concluir que os pais têm um papel fundamental nas primeiras intervenções
com os seus filhos com necessidades educativas especiais. Sem o envolvimento ativo
dos pais, o progresso do desenvolvimento das crianças será sempre menor. De facto, as
crianças por si só não conseguem alcançar ou mesmo fazer conquistas duradouras e
fundamentais para o seu desenvolvimento.

7.Papel das Instituições e dos profissionais

Uma equipa pode definir-se como um grupo em interação, que realiza atividades
integradas e interdependentes. É necessário que os elementos partilhem de objetivos e
fins comuns.

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

Existem três modelos de funcionamento em equipa:


1. o multidisciplinar,
2. o interdisciplinar e
3. o transdisciplinar.

O modelo de funcionamento em equipa que intervém com a criança em questão é o


multidisciplinar devido à coexistência de diferentes professores de diferentes
disciplinas trabalharem independentemente uns dos outros, embora, por vezes,
partilhem o mesmo espaço e os mesmos instrumentos (McGonigel et al.; 1994,
McWilliam, 2003).

No modelo interdisciplinar as equipas são compostas pela família e por profissionais de


diferentes disciplinas. Os profissionais não podem ou devem envolver-se em práticas
que pertencem a outra disciplina, mas a informação de uma disciplina é útil para as
restantes. A avaliação pode ocorrer separadamente, mas os resultados e o plano de
intervenção são discutidos (McGonigel et al., 1994; McWilliam, 2003).

Por último, no modelo transdisciplinar as equipas são compostas pela família e pelos
profissionais de diferentes disciplinas. Este modelo tenta atravessar as fronteiras das
disciplinas, para maximizar a comunicação, interação e cooperação entre os elementos
(McGonigel et al., 1994, McWilliam, 2003). Os professores de diferentes disciplinas
ensinam, aprendem e trabalham em conjunto comum de objetos de intervenção para
uma criança e a sua família.

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

8.Estratégias de intervenção

Castigo

As crianças com problemas de temperamento prestam pouca atenção às consequências


do seu comportamento. A maior parte do comportamento inadequado advém de um
impulso (algo não premeditado) ou de uma intensidade emotiva que não permite o
controlo das reações. Em qualquer dos casos, castigar o comportamento não ajuda a
alterá-lo mas, por vezes, é necessário e inevitável.

Ignorar o comportamento

O ignorar o comportamento funciona com muitas crianças. Muitas crianças perturbam a


aula, por exemplo, para chamar a atenção. Tentam perceber, sobretudo, se o seu
comportamento afeta os outros.

Os elementos do ignorar eficaz são:


 eliminação do contacto ocular;
 eliminação da atenção não verbal, do contacto verbal e do contacto físico.

Recompensas

Algumas crianças com comportamentos de oposição e de agressividade raramente


ganham a recompensa. Eventualmente, desligam-se do adulto que prometeu e
começam a ver-se a si mesmas como fracassos. Têm dificuldade em fazer com que o
seu comportamento sirva os seus melhores interesses.

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

Reforços sociais positivos (elogios)

Empregam três tipos de recompensas:


1. Físicas (abraços, beijos, toques nas costas);
2. Verbais não específicas (“Muito bem”, “Gosto disso”, “Bom trabalho”);
3. Verbais específicas (frases elogiosas que descrevem o comportamento:
“Obrigada por me ajudares com o lixo”.

O elogio descreve o que a criança está a fazer e mostra-lhe que o seu comportamento é
valorizado. Deve ser genuíno e feito de modo adequado.

2006.E/GTI IR 24-10-2016
Comportamentos disfuncionais na criança e no jovem.

Bibliografia

• www. apee.pt
• http://www.psicologia.pt/profissional/etica/
• http://w3.ualg.pt/~lnunes/Textosdeapoio/Disciplinas/IEA
• http://www.eticus.com/teoriaseticas.php
• GENTILE, Paola. Indisciplinado ou hiperativo. Nova Escola, São Paulo, n. 132, p. 30-32,
maio. 2000.

2006.E/GTI IR 24-10-2016

Você também pode gostar