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GEOGRAFIA

PROFESSOR JOÃO FELIPE

AULA 02 – HISTÓRIA DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO (parte 2)

Recapitulação: A Geografia pré-institucionalizada configurava um saber geográfico. Ainda nesta fase de pré-
institucionalização, chama-se a atenção para a influência de pensadores como Kant (séc. XVIII), que não foi um pai da
Geografia, mas foi uma grande influência para os pais da Geografia institucionalizada (Humboldt e Ritter), que se deu a
partir do século XIX. Essa Geografia institucionalizada sofre modificações e se desenvolve diferentemente de acordo
com o interesse de cada país, conforme o momento histórico.

Assim, a Alemanha no final do século XIX, que já possui uma cátedra da Geografia há mais de 50 anos, bem como já tem
uma história geográfica, vai ver o surgimento da primeira corrente geográfica com Ratzel (que tem uma influência para
além da geografia, tornando-se o pai da geopolítica, a qual associa espaço geográfico e poder).

2. RATZEL

 Humboldt e Ritter morrem em 1859, toda a produção deles é prussiana. Essa produção influenciou Friedrich
Ratzel, um prussiano, cuja produção é de 1882 (Antropogeografia) e 1897 (Geografia política); ou seja, sua
produção, por ser num período pós-guerra franco-prussiana, é influenciada por esse ambiente de Alemanha
unificada e que tomou um território de disputa com a França. Portanto, sua produção é influenciada pelo
contexto histórico e por sua formação de zoólogo.

 Assim, Ratzel desenvolve o conceito de “Espaço Vital” (Lebensraum). Ele introduz esse conceito para justificar o
expansionismo alemão.

 “os grupos humanos são organismos que crescem e se multiplicam, tendendo a expandir-se e, por isso,
tendem a alargar seus territórios e fazendo a custa dos territórios vizinhos” (Ratzel)

 Na sua lógica, a ação alemã não se tratou de um imperialismo, mas apenas de um processo de expansão
natural, pois a área na qual a Alemanha possuía não era suficiente para os grupos humanos que ali viviam. Para
Ratzel, a Alemanha necessitava de uma área maior.

 Vale observar que ao colocar essa afirmação, Ratzel também está fundamentando a geopolítica e as relações de
poder do território.

 Deste modo, o discurso de Ratzel (final do século XIX) é que quem determina as condições do povo é o
território. É nesta linha de pensamento que surge a corrente determinista.

 Quem determina as condições humanas é a condição natural (nasce o determinismo)

 Os seguidores de Ratzel, como Kaplan por exemplo,foram mais deterministas do que ele.
 Portanto, no conceito de “Espaço Vital” do Ratzel, se determinada área não atende às condições sociais, há,
então, a tendência de que se busque a expansão. Logo, quem determina a riqueza é o próprio território. Esta é a
corrente do determinismo ambiental (a primeira corrente tradicional da Geografia).

3. LA BLACHE

 Da mesma forma se dá o discurso francês, pois neste momento a França está ocupando a Indochina e precisa de
um discurso que corrobore a sua ação, mas que ao mesmo tempo responda à alegação alemã.

 Nesse sentido, surge o discurso de Vidal de La Blache para responder ao imperialismo alemão de modo que não
sirva como crítica ao imperialismo francês.

 Ratzel é determinista, mas a resposta a essa corrente, por meio de Vidal de La Blache, estabelece o possibilismo
(segunda corrente tradicional da Geografia), pois para La Blache o território não determina a condição social,
mas sim possibilita a condição social.

 Para criar embasamento científico para o possibilismo, La Blache desenvolve o conceito de “gêneros de vida”.
Para ele, ao longo da história, grupos sociais que vivem em determinada área, desenvolveram técnicas para
aproveitar o que essa área oferece. Assim, a área não determina o que os grupos sociais vão ser, mas ela
oferece possibilidades.

 Nesse pensamento dos “gêneros de vida” de La Blache, a ação da França na Indochina não configuraria
opressão ou imperialismo, pois os grupos sociais que viviam tinham as condições que o território lhes conferia,
mas eles não aproveitavam as possibilidades oferecidas por aquele território. Então, a ação francesa seria de
levar até esses grupos as condições, as técnicas ( e até mesmo a civilização) para que sejam melhor aproveitadas
as possibilidades oferecidas por aquele território.

 É evidente que tanto Ratzel quanto La Blache trabalham com o binômio sociedade-natureza. No caso de Ratzel,
dá-se mais ênfase ao fator natureza; já La Blache enfatiza o elemento social.

4. CORRENTES GEOGRÁFICAS

 Deste modo, a corrente tradicional do determinismo ambiental, apresenta que o território determina a
condição social.

 A corrente do possibilismo afirma que o território confere possibilidades aos grupos sociais que nele vivem.

 Vale observar que as duas correntes anteriores datadas do final do século XIX se apresentam dentro de um
contexto mundial ainda bastante agrário. Surge, entretanto, uma terceira corrente tradicional da Geografia,
porém num cenário mundial em transformação, em decorrência da II Guerra Mundial. A partir dos anos 1940,
Hartshorne desenvolve a corrente Método Regional. Para Hartshorne, não cabe à Geografia saber se a natureza
ou a sociedade era mais relevante, mas a Geografia possui um método, e que cabe à Geografia estudar a
diferenciação das áreas no mundo. Assim, o objeto da Geografia passa a ser a região.
 A partir da II Guerra Mundial, o avanço tecnológico e o incremento da urbanização fazem com que o espaço
geográfico não possa ser mais explicado apenas pelo local, ou apenas pela região, tampouco apenas pelas
possibilidades ou pelas determinações que o território apresenta. Nesse sentido, há um movimento de
renovação da Geografia a partir da década de 1950.

 É no contexto dessa Renovação que surge a teoria da Geografia Pragmática ou Quantitativa ou Nova Geografia.
Essa Geografia Quantitativa busca usar a matemática para fazer a ligação da Geografia com outras ciências. Ela
tenta ser mais utilitária, trabalhando com a lógica do planejamento (urbano) e, por isso, sendo de grande valia
para o Estado.

 Já a Geografia Crítica vai justamente criticar a Geografia Quantitativa por usar a matemática como ferramenta
para analisar os dados sem levar em consideração o fator social sobre esses dados.

 “Se a geografia tradicional pode ser acusada de ter sido ingênua e alienada dos problemas reais que
afetam a sociedade, constituindo-se em uma ideologia, à “Nova Geografia” esta acusação é mais
cabível, acrescentando-se ainda que além de alienada ela é alienante: mistificando sobre a realidade
sócio-espacial com a “elegância”, “neutralidade” e “cientificidade” que o positivismo lógico fornece,
acaba transformando o geógrafo em um pesquisador alienado, que levanta falsas questões(...) que
muitas vezes se perde com “geometrias estéreis”, e que se preocupa com a aparência dos fenômenos
sociais, esquecendo-se de sua essência.” (CORRÊA, Roberto Lobato- Da Nova Geografia à Geografia
Nova. 1980)

 Recentemente, vem se desenvolvendo uma nova corrente geográfica, a Geografia Humanista, a qual entende
que os grupos sociais também influenciam a produção do espaço.

 “A Geografia Humanista procura um entendimento do mundo humano através do estudo das relações
das pessoas com a natureza, do seu comportamento geográfico, bem como dos seus sentimentos e
ideias a respeito do espaço e do lugar.” (TUAN, 1982)

 Sugestão de leitura: MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: Pequena História Crítica. São Paulo: Hucitec,
1997.

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