Você está na página 1de 5

Universidade Federal da Fronteira Sul

Bolsista: Isabel S. Wendling


Fichamento:
CUNHA, Maria Teresa Santos; MIGNOT, Ana Chrystina Venancio; BASTOS, Maria
Helena Camara (Org.). REFÚGIOS DO EU: EDUCAÇÃO, HISTÓRIA, ESCRITA
AUTOBIOGRÁFICA. Florianópolis: Mulheres, 2000.

Tecendo Educação, História, escrita autobiográfica :


MIGNOT, Ana Chrystina Venacio; BATOS, Maria Helena Camara; CUNHA,
Maria Teresa Santos. Tecendo Educação, História, Escrita Autobiográfica. In:
MIGNOT, Ana Chrystina Venacio; BATOS, Maria Helena Camara; CUNHA, Maria
Teresa Santos. Refúgios do eu: Tecendo Educação, História, Escrita Autobiográfica.
Florianópolis: Mulheres, 2000. Cap. 2. p. 17-27.

- As autoras afirmam sobre a necessidade de pesquisa em arquivos autobiográficos


como fonte.
- Desde o século XIX as mulheres brasileiras tiveram maior acesso alfabetização,
permitindo que elas escrevessem então: cartas, diários, cadernos de receitas.
- Muitos desses cadernos, chamados diários, teriam então tudo sobre o cotidiano
feminino, sobre o secreto, o que a sociedade não poderia falar. Tendo então uma ótima
fonte de pesquisa.
- O perigo dessas fontes serem abandonadas pelos próprios donos em suas casas.
- Ausência de um modelo teórico consensual para a pesquisa com essas fontes. Permite
e permitiu, uma amplitude de analises metodológicas para a história da educação,
trazendo formas bem diferentes de análises, e conclusões.
- Responsabilidade do historiador não só com suas conclusões, mas sim com as questões
que ele coloca para a pesquisa.
- “Diante da especialização do conhecimento é necessária a compreensão global dos
problemas, não em direção a um sentido único, mas sobretudo na perspectiva de
reconstrução de múltiplos sentidos a partir das histórias de que os diferentes grupos são
portadores.” (p. 22)
- “Atualmente a História da educação passa a incorporar outros temas e questões:
gênero, dificuldades de aprendizagem, raças, etnias, religiões, culturais locais, o que
conduz a um outro olhar sobre os processos de escolarização e o status do
conhecimento, e as novas interpretações das relações individuais e coletivas da
educação” (p.22)
- A autora afirma fortemente a necessidade do uso de fontes autobiográficas no estudo
da História da educação, e ainda diz que por ser uma fonte nova a essa pesquisa,
necessita maiores discussões para a melhor forma de análise das mesmas.

Por uma bibliografia material das escrituras ordinárias: a escrita pessoal e


seus suportes
HEBRAD, Jean. Por uma bibliografia material das escrituras ordinárias: a escrita
pessoal e seus suportes. In: MIGNOT, Ana Chrystina Venacio; BATOS, Maria Helena
Camara; CUNHA, Maria Teresa Santos. Refúgios do eu: Tecendo Educação, História,
Escrita Autobiográfica. Florianópolis: Mulheres, 2000. Cap. 2. p. 17-27.

- O autor começa afirmando que existem muitas fontes pessoais nos arquivos
atualmente, mas que por falta de conhecimento da história do papel, ou uma história
comum, as análises dessas fontes muitas vezes não passam de uma transcrição. Assim,
afirma a necessidade de buscar, nem que seja de forma fragmentada, uma história por
“trás” daquele documento.
- O autor comenta que no século XIX, a população comprava primeiro as folhas
separadas, e somente em alguns casos, encadernavam tudo depois. Somente documentos
com maior importância.
- Maior conexão do escritor com as folhas do que com o caderno.
- Para os escribas, que estavam em constante contato com o ato de escrever, as folhas
facilitaram muito o trabalho, por ser mais fácil de estar organizando, não só a escrita,
mas também a própria mesa.
- Escrever sobre a folha já dobrada, para depois estar costurando todas, como um
caderno sem capa.
- A articulação entre a prática, o gênero de escritura do diário pessoal e o suporte que o
recebe se constitui em torno de uma exigência, a da continuidade textual, que parece
afastar a priori o uso de folhas separadas. (p.33)
- A invenção de Gutemberg foi capaz de mudar a forma de escrita: iniciando pelos
comerciantes, que no século XV passam a usar uma língua mais rápida do que o latim
para escrever, facilitando a linguagem. Além disso, um século mais tarde a igreja e o
estado, com o aumento do judiciário, passam a ter todo um crescimento de uma
hierarquia de ofícios e escriturários, desenvolvendo assim, o aumento de jovens
formados escreventes.
- O autor mostra então como o estudo das papelarias do século XVII pode mostrar quais
os usos que as pessoas davam a determinados materiais: cadernos, cadernetas, folhas,
etc. E qual a importância social que marcava cada um desses materiais.
- “Entre esses múltiplos tipos de escritura contábil, dois merecem nossa atenção: o
“livro diário” e o “livro de dinheiro pago”.” (p.38)
-O “Livro Diário” seria o livro que contém as coisas de todos os dias, utilizado
principalmente por comerciantes, para anotar todos os acontecimentos importantes do
dia.
- O “Livo de Dinheiro Pago” : “misturando as contas da loja com as da casa, abre
caminho para um deslocamento das escrituras profissionais, para os domésticas ou
pessoais, contribuindo assim para criar uma nova escritura contábil num setor em que
ela não esta juridicamente enquadrada.” (p. 38)
- “Dois séculos mais tarde, haverá uma mudanças nos sentidos: Duas constatações se
impõem a leitura dos verbetes correspondentes a livro, caderno, registro, caderneta,
diário. Por um lado os termos especializados dos negócios, que ocupavam no século
XVII o lugar central, regrediram muito; por outro lado, seu uso na língua tornou-se
menos técnico, permitindo passar mais facilmente dos usos profissionais aos
ordinários.” (p.39)
- “As escrituras mercantis são relativamente bem conhecidas, por um lado porque
deixaram numerosos testemunhos, por outro lado porque foram precocemente
estruturadas e padronizadas através dos múltiplos “livros de negociantes” que
descrevem sua arte e sua técnica”. (p.43)
- “Desde essa época, (século XVI) a escrituração dos livros de contabilidade se organiza
em torno de três registros: o memorial, o diário e o livro grande.” (p.44) O memorial
ficava a disposição de todos da família que precisassem.
- “Em resumo, o espaço mercantil caracteriza-se essencialmente pela correspondência
estabelecida entre os suportes de escrita. Todos ligado entre si, eles constituem um
continuum homogêneo que obedece tanto as logicas do tempo, quanto às da razão, ou
ainda as da divisão do trabalho.” (p.45)
- O status da hierarquia social dos negócios pode ser marcado pelo tipo de suporte
utilizado. Havia muita diferença no material que utilizava cada comerciante, entre o
grande e pequeno.
- O autor apresenta a importância do caderno na vida escolar, onde um caderno cheio de
anotações significava grande aprendizado e estudo. Mas era utilizado somente para
anotações de matérias importantes. As atividades de aritmética ou retórica eram na
maioria feitas em um papel separado.
- Os textos impressos deixados aos alunos eram de tal importância, que apenas era
deixado alguns espaços ao lado para anotações. Ou caso mais quisesse, seria no
caderno.
- Surge também o Almanaque: “O almanaque está ligado às práticas universitárias mais
tradicionais, pois permite reunir, a cada ano, todas as informações astronômicas
necessárias à elaboração do calendário litúrgico. [...]” No século XVI volta-se ao um
publico mais amplo de letrados. Se difunde rapidamente. (p.55)
- Com o almanaque, surge a agenda, com uma função mais simples e prática.
- Mais tarde o uso do caderno mudou, sendo muito mais utilizado em escolas mais
populares que antes: “Assim a escola pode ser (e ainda é) um lugar de uma
aprendizagem sutil dos gestos gráficos elementares, que prepara para as mais variadas
escrituras pessoais” (p.57)
- No século XIX tornou –se muito mais comum para a vida cotidiana, sendo utilizado
para contabilidade geral e pessoal. Mas para isso, o preço de venda e produção teve que
baixar muito, permitindo que toda a população tenha acesso a esse material.

Cartas adolescente. Uma leitura e modo de ser....


CARVALHo, Maria Rosa Rodrigues Martins de; Cartas adolescente. Uma
leitura e modo de ser.... In: MIGNOT, Ana Chrystina Venacio; BATOS, Maria Helena
Camara; CUNHA, Maria Teresa Santos. Refúgios do eu: Tecendo Educação, História,
Escrita Autobiográfica. Florianópolis: Mulheres, 2000. Cap. 2. p. 17-27.

- O ato de escrever a carta é pessoal e assim, existem formas e “rituais” na hora de


escrever, os quais são necessários entender primeiramente os motivos da escrita de tal
carta. Onde foi escrita, pra quem, por qual objetivo.
- Primeira dificuldade da pesquisa epistolar está na falta de disponibilização do arquivo,
por guardadores. Muitas vezes deixando o historiador com arquivos incompletos.
- “Carta. Objeto cuja materialidade se traduz nas cores, no apalpar, nas formas, nas
letras e nas múltiplas combinações desses elementos;” (p. 205)
- Vários são os cuidados que se devem ter ao analisar as cartas, cuidado no rastreamento
dos detalhes que as vezes nos perdem em primeiro momento. Além de perceber as
interações sociais, objetivos das cartas, como e por quê foram escritas assim, etc.
Trazendo assim uma leitura minuciosa das cartas.
O Objeto
- “A correspondência pode ser tida como uma prática ritualizada no qual os indivíduos,
confrontados com um conjunto de referências e modelos, devem classificar a realidade e
reavaliar suas ações com os outros. Nas situações mais banais, cada um é chamado a
extrair de um repertório comum palavras, imagens, conceitos, reelaborando-os,
buscando outras significações.” (p.208 e 209) A busca pelo alcance do outro.
- Para antes de iniciar a analise a fundo das cartas, a autora mostra a necessidade do
processamento das cartas, ordena-las em um tipo de ordem específico para melhorar a
compreensão e analise: por data, assunto, pessoa, etc.
- “O delineamento de outras relações é possível porque o que ora chamo de leitura
transversal, para além de uma leitura obliqua, é uma leitura que requer um “através das
cartas” e um ‘ir um pouco além dos textos das cartas’.” (p.210)
- A autora mostra as possibilidades na análise do envelope, onde contem o carimbo dos
correios, o nome do remetente e destinatário, (cuidando se haverá erros em algum dos
nomes), a cor do envelope, tamanho. No exemplo mostra a importância do carimbo dos
correios: “O carimbo dos correios é um dado muito importante, porque permite uma
organização mais objetiva do conjunto, já que a diferença entre as datas de escrita e as
datas de postagem pode variar, ou até mesmo a própria data de escrita pode estar errada,
como um ano trocado, por exemplo.” (p.210)
- Outros detalhes importantes que devem ser analisados na carta são: Suporte; Lugar
onde a carta foi escrita; O espaço onde a carta é lida ou escrita; Os vocativos; O
cerimonial epistolar; e por fim o Assunto. Cada um deles permite uma análise mais
perfeita do epistolário.
O ato de escrever carta
- Os motivos que se da inicio a uma troca de cartas pode ser variado. No caso da autora,
se tratava de duas amigas, que separadas pela distancia, matavam o tédio e a saudades
escrevendo cartas uma para a outra.
- Percebe-se uma variedade de assuntos trocados pelas adolescentes, e como a falta ou a
demora de uma carta trazia muito tédio para a outra. Talvez por isso que também
houvesse tanto assunto, para que a carta tivesse conteúdo.
- “A confidencia tem um papel primordial na elaboração da personalidade” (p.223)
Quando a autora mostra que as adolescentes buscam novas formas de escrita, para que
mais ninguém fosse capaz de ler.
- As cartas tinha maior intimidade quando escritas sem o olhar dos pais. Escritas na
escola em papel de caderno, ou bilhetes, adicionados as cartas, apresentado de certa
maneira, que as cartas com todos os protocolos e vigílias da mãe não seriam capazes
sozinhas de demonstrar a intimidade que as garotas tinham.
- “Nas pistas da escrita não fabricada, tornam-se bastante significativos os laços de
escrita que vão sendo delicada e firmemente dirigidos a interlocutora. Um deles é
“escreva-me urgente”: quem escreve também quer receber.” (p. 224)
- A autora mostra que, essas cartas das adolescentes se tornam um arquivo diferente das
cartas familiares, pois a primeira constituem cartas guardadas, simplesmente. Não
sofrendo alterações pelas correspondentes ou outros. Tendo então, o arquivo completo.
- Já as cartas familiares “o material dado ao pesquisador registra a sucessão de gestos
que de geração em geração constitui uma parcela de todas as cartas escritas e recebidas
em favor da identidade familiar. Mais do que organização, o arquivo de uma
correspondência familiar é sempre resultado de uma construção, além de triagem,
destruição e arquivagens.” (p. 227)
- A autora traz um questionamento interessante quanto ao laço que as cartas trazem:
seria uma construção de um laço de amizade? Ou a carta veio por algo que já existia. E
conclui: “Não é propriamente a carta o laço; é o pedaço de papel, as lembranças que
afloram, e com elas o sentimento e a emoção de momentos passados, que também são
laços. A carta é o veículo. A escrita, modos de ser. E a leitura, modos de ler.” (p. 227)

Você também pode gostar