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03063
Introdução
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pelos autores que elegemos estudar, ou seja, de acordo com a historiografia francesa
referente às Universidades no medievo, observamos o surgimento desta, no final do século
XII e início do século XIII, baseando-se na historiografia, à medida que a entendemos
como uma corporação e este é um fenômeno próprio deste século.
Acreditamos que as formulações historiográficas mostram a importância das
universidades como instituições que primam pela preservação e estruturação do saber.
Desse modo, é necessário que entendamos as reflexões dos autores, em análise, em
consonância com as questões históricas.
O caminho que percorremos para realização dessa pesquisa foi fundamentado na
concepção da História Social sob a qual observamos o objeto considerando-o como parte
da totalidade, priorizando, por conseguinte, o método escolástico desenvolvido neste lócus
do saber.
A História Social, de acordo com a historiografia, surgiu da Revista dos Annales,
fundado por Marc Bloch e Lucien Febvre, na França, em 1929. Eles propunham a noção de
história como problema e apresenta a ideia de que a história deve contemplar diferentes
campos do conhecimento como a Sociologia, a Antropologia, a Literatura a outros. Esses
conhecimentos, aliados aos saberes produzidos na sociedade, possibilitariam, segundo eles,
compreender as situações do presente.
Desse modo, Bloch e Febvre propunham uma nova maneira de entender a produção
historiográfica que direciona a uma visão interdisciplinar, ou seja, apontava uma tendência
de convergir estudos de diversas disciplinas para compreender a história. Dito de outro
modo, a interdisciplinaridade serviria como base para formulação dessa noção de história
como problema.
Castro (1997) informa que esse debate, isto é, essa interdisciplinaridade indica para
a noção de que o homem, sendo um ser social, constitui-se em objeto final da pesquisa, ao
qual essa abordagem faz menção à afirmação de Duby em considerar o homem como
objeto próprio da história, o homem em sociedade:
[...] Mesmo que, hoje, a própria noção genérica de “homem” seja objeto
de discussão, creio que poucos historiadores discordariam da afirmação
de Duby de que o homem em sociedade constitui o objeto final da
pesquisa histórica. Atualmente, mesmo a história política, até mais
recentemente atrelada a uma abordagem tradicional, passa a fazer parte
do campo de atuação desta história-problema, como dimensão específica
da vida em sociedade. [...] (CASTRO, 1997, p. 46)
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A figura do homem é, a nosso ver, vista como algo complexo, por essa razão os
fundadores dos Annales queriam instituir a interdisciplinaridade para a compreensão da
história, conhecimento este que seria alcançado com o auxílio das diversas ciências e das
relações sociais entre os homens.
Com isso percebemos a História Social como uma síntese de todo o saber sobre o
homem e a civilização. Assim, em nossa pesquisa realizamos um recorte sobre a História
da Educação Medieval a fim de focalizar um aspecto, qual seja, o processo histórico do
século XIII que contribuiu para o nascimento e desenvolvimento das Universidades
medievais.
Com relação à escolha das fontes para nossa pesquisa, concordamos com as
formulações de Bloch (2001), especialmente ao afirmar a necessidade de buscar o passado
por meio de vestígios deixados à posteridade.
Ainda sob influência de Bloch (2001), daremos prosseguimento ao estudo de
autores que se dedicaram a Idade Média, a fim de conhecermos o contexto em que a
Universidade e filosofia cristã (consequentemente, a Escolástica) se desenvolveram, bem
como as formulações contemporâneas sobre o tema.
Outro fundamento que sustenta nosso trabalho é o fato de julgarmos importante a
compreensão do processo educativo medieval para entendermos a própria sociedade
medieva. De acordo com Oliveira (2005):
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valores precisos à sua regulamentação/organização em suas relações sociais, bem como,
explicações teóricas para diversos aspectos (naturais e sociais).
Com a afirmação acima, gostaríamos de mencionar que pensamos como os autores
estudados, que homem é um ser social, que sofre mudanças no tempo. Observamos,
também, que em virtude desse entendimento o homem do medievo apresenta mudanças ao
longo do processo histórico e é justamente nessas mudanças que observamos os elementos
que interferiram e estimularam o nascimento das Universidades.
Dadas as premissas, acreditamos que para iniciarmos nossa análise é necessário
abordarmos o contexto histórico em que esta instituição foi gestada, observando, em ultima
instância, que a Universidade e o método desenvolvido nela, a Escolástica, são oriundos
das transformações sociais que vinham ocorrendo desde fins do século XII e início do
século XIII.
Este período, segundo Le Goff (2005), foi marcado por transformações sociais,
dentre elas, o renascimento comercial e urbano, proveniente da consolidação do sistema
feudal.
Com relação ao renascimento urbano, cumpre mencionar que o movimento e o
desenvolvimento das cidades medievais devem a um conjunto complexo de estímulos e a
diversos grupos. Dentre estes, estão os homens recém-chegados evadidos do campo, das
famílias monásticas, os quais estavam prontos a negociar e obter ganhos. Outro grupo era
os agentes senhoriais saídos da escravidão e da servidão denominado de ministeriales, que
logo se elevaram às camadas superiores da hierarquia feudal (LE GOFF, 2005).
Outro fato a ser destacado como relevante para se entender o nascimento das
cidades e da universidade vincula-se ao desenvolvimento das atividades agrícolas. De
acordo com Le Goff (2005), em A Civilização do Ocidente Medieval, o desenvolvimento
agrícola, provavelmente tenha nascido das exigências dos senhores feudais sobre os
camponeses bem como, do surgimento, a partir do século X, de novas técnicas agrícolas.
Entretanto, o século XI marca um período em que o progresso técnico da
agricultura apresenta seu período de crescimento mais acelerado pois, segundo Le Goff,
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com as melhorias no sistema produtivo agrícola houve um aumento considerável da
população entre os séculos X e XIII o que propiciou maior estímulo à produção no campo.
Le Goff (2005) afirma, ainda, que o crescimento populacional e o desenvolvimento
feudal marcaram o início do crescimento da cristandade medieval após a Alta Idade Média.
Entretanto, ainda que estes acontecimentos sejam fundamentais para se compreender a
historia do Ocidente medieval neste período, destacamos dois aspectos deste processo
histórico que foram essenciais ao surgimento das universidades, estamos nos referindo ao
renascimento urbano e comercial.
Nos séculos XII e XIII, Le Goff (2005) menciona que as relações dos dois grupos
que dominavam o grande comércio Hanseático ao norte e italiano ao sul, sofreram
alteração e, em vez de vias terrestres, preferiram o mar. O grande comércio também
desempenhou um papel capital na expansão da economia monetária. Como centros de
consumo e de troca, as cidades precisaram do uso da moeda para regular suas transações.
Ao introduzi-las nas áreas rurais, modificaram a renda feudal. Com isso, o progresso da
economia monetária passa a ser elemento crucial na transformação do Ocidente medieval.
A respeito desta questão, observemos as palavras de Le Goff (2007, p.168):
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Cumpre mencionar que estas novas necessidades apontadas por Le Goff, são
também destacadas, anteriormente, por Pirenne (1964) quando este analisa o renascimento
comercial no Ocidente medievo. Pirenne (1964, p.180-181) explicita-nos que:
Com esta passagem de Pirenne, observamos que a instrução (leitura, escrita), antes
restrita aos homens do clero e da nobreza, passa a ser necessária ao mercador e aos demais
setores da sociedade. Convém mencionar que além da leitura e da escrita, esta sociedade
precisou também aprender o cálculo. Este ensino, por sua vez, é realizado com o uso de
objetos, ou seja, é ensinado de forma simples com o manuseio do ábaco e do tabuleiro de
xadrez, conforme afirma Oliveira (2005). A autora menciona que o cálculo teve
proliferação com manuais de aritmética a partir do século XIII.
Assim, em consonância com o surgimento dos vários ofícios que tinham como
intuito a produção de bens de consumo (o cultivo da terra, a produção dos artesãos)
encontra-se a figura do professor ou intelectual. Segundo Le Goff (2007, p. 174):
Notamos nesta passagem que o autor, a fim de explanar o nascimento desse novo
homem, que tinha a incumbência de despertar nos alunos o desejo do saber e a reflexão
sobre as inquietações e demandas de sua época, revela que esse papel social dos
intelectuais incide no que hoje chamamos de pesquisa, e que eles tinham a função de
conduzir seus alunos à leitura e escrita, com vistas à reflexão, buscando atender as questões
e demandas de sua época.
Ao abordar brevemente o contexto do século XIII, observamos que o nascimento da
Universidade estava intimamente ligado ao seu contexto histórico. Além disso, deparamos
com a figura do intelectual que nos encaminha ao interior desta instituição, uma vez que o
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mesmo faz parte das relações (culturais, políticas e sociais) contidas nessa ambiência de
ensino. Nesse sentido, é preciso vincular o papel social desempenhado por estes
personagens ao passo que entendemos a universidade medieval como lócus de preservação
e estruturação do saber.
Sem a ação dos príncipes e dos Papas, a passagem das escolas do século
XII às universidades que vão ocupar a dianteira da cena no século XIII
teria provavelmente sido impossível. Este elemento de contexto permite
também compreender que esta mutação tenha sido feita, ao menos num
primeiro momento, somente em um número limitado de locais,
proporcionais ao número e às necessidades ainda relativamente limitadas
destes novos poderes soberanos. [...] Os Papas e os príncipes do fim do
século XII e do início do século XIII também tinham a sensação,
provavelmente exagerada mas muito viva, de dever enfrentar sem cessar
perigos cada vez maiores que exigiam o uso de armas intelectuais até
então inéditas (VERGER, 2001, p. 184-185).
Alguns aspectos destacados pelo autor são fundamentais para se entender como esta
instituição foi gestada. Em primeiro lugar, Verger mostra a importância da ação tanto dos
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papas quanto dos príncipes para a constituição da Universidade medieval. Com isso o autor
destaca o papel social desempenhado pelos mestres universitários no seio da comunidade,
tanto laica quanto religiosa. Os intelectuais são, então, vistos como forças para cessar
perigos que esses poderes (eclesiásticos e laico) poderiam enfrentar, ou seja, procuravam
nos intelectuais bases teóricas para sustentar seu poder (OLIVEIRA, 2005). Com isso,
observamos que cada vez mais a vida medieva se processa na ambiência das cidades.
Em segundo lugar observamos que é, justamente, lutando ou buscando apoio contra
os poderes, ora eclesiásticos ora laicos, que esta instituição adquire sua autonomia. Esta
questão é observada em Oliveira (2007, p. 120):
A autora elucida o motivo pelo qual estes poderes disputavam para ter a
Universidade como aliada às questões de ordem política e cultural, pois os poderes civis e
eclesiásticos viam vantagens com a presença universitária, uma vez que representam uma
quantidade econômica considerável. No entanto, convém mencionar que não é somente
esta questão que interessa aos referidos poderes, mas como afirma Verger (2001, p. 185):
“O papado precisa dos magistri para pregar a Cruzada, reforçar a doutrina e formar os
clérigos para a ação pastoral e sacramental”. E complementa:
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inquietações e, por conseguinte, uma vida intensa que impulsionou as novas instituições
educativas, sobretudo, a universidade medieval.
Cumpre mencionar que as universidades eram regidas por leis e regulamentos. De
acordo com Oliveira (2007, p):
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Não analisaremos cada documento por não fazer parte de nosso objetivo inicial. Contudo, observamos esta
ser uma discussão pertinente para aqueles que queiram aprofundar no tema. O intuito em mencionar os
documentos é ilustrar a fundamentação teórica em que as relações sociais se balizavam nessa instituição de
ensino.
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isso, intervir tanto no ensino como nas relações dos mestre e alunos quanto estes e a
comunidade (OLIVEIRA, 2007).
Cumpre mencionar que o florescimento da vida urbana estimulada nesse contexto
do século XIII, no qual encontramos a importância do intelectual, a atividade dos artesãos,
dos mercadores, encontra-se também o amadurecimento do principal método de ensino
recorrente na Universidade, a escolástica.
De acordo com Oliveira, em Escolástica (2005), a escolástica não pode ser
simplificada a um método intelectual isolado, resultado da capacidade fecunda de alguns
sábios medievais, mas sim, se constitui como essência do pensamento medieval, da qual os
homens desse tempo obtinham os saberes e valores para regulamentar suas relações
sociais. É preciso destacar que junto com o método de ensino que amadurece na
universidade, a própria dinâmica da universidade obedece aos ditames de seu tempo, ou
seja, tal como os demais ofícios, se organiza sob a forma de corporação.
A escolástica, segundo Le Goff (2007), advém do desenvolvimento da dialética,
uma das disciplinas do trivium. Para este autor, a escolástica pode ser considerada como o
estabelecimento entre e a justificação de uma concórdia entre Deus e o homem, isto é,
entre fé e a razão.
Embora, de acordo com o medievalista francês, este método ganhe corpo no século
XIII, seu desenvolvimento ocorre no século XII. Ousamos dizer que o propósito deste
método de ensino, em última instância, é conduzir seus alunos e também mestres à escrita
com vistas à reflexão e, por conseguinte, às publicações, cuja finalidade se explica na
difusão e a promoção dos livros por parte das universidades.
Observamos, a partir das formulações de Le Goff (2007), que no século XIII as
produções escolásticas se exprimem em duas formas: os comentários2 e as sumas3. Dentre
os célebres escolásticos e suas sumas, podemos citar Alberto Magno, o mestre de Santo
2
Com a disputatio, o comentário foi o aguilhão essencial do desenvolvimento do saber no século XIII.
Graças ao comentário pôde ser elaborado um saber original produzido pelos mestres em função das
preocupações contemporâneas, mas apoiando-se na tradição e fazendo-a evoluir. A Europa dos comentários
inaugura a Europa do progresso intelectual, sem ruptura com a tradição (LE GOFF, 2007, p. 187).
3
O próprio nome de suma exprime o desejo dos intelectuais do século XII oferecerem uma síntese
documentada e argumentada de uma filosofia que não estava ainda separada da teologia (LE GOFF, 2007,
p.187).
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Tomás de Aquino 4, o qual é autor de uma imensa obra, dentre ela podemos citar a Suma
Teológica (obra inacabada em decorrência de sua morte), Suma contra os gentios (1259-
1265), entre outras.
Considerações finais
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Cumpre destacar que o dominicano Alberto Magno (primeiro alemão a obter o título de mestre em teologia
da universidade de Paris em 1248) foi mestre de Tomás de Aquino e ele trouxe o pensamento aristotélico
para a cristandade.
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REFERÊNCIAS
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