Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DA COVID 19
INTRODUÇÃO
As Pessoas com Deficiência – PcD englobam no Brasil, uma série de condições que vão
desde de sua locomoção até sua comunicação. Compreende-se como pessoa com deficiência,
a pessoa que tem “impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou
sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação
plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas” como
definido na Lei Federal nº 13.146 (Brasil, 2015).
Mas foi por meio da Constituição Federal de 1988 que encontramos o preceito da Educação
como Direito, no qual, em seu artigo 205, traz a educação como um direito de todos,
garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para
o trabalho. Já no seu artigo 206, inciso I, estabelece a “igualdade de condições de acesso e
permanência na escola” (BRASIL, 1988). Os documentos como a Declaração Mundial de
Educação para Todos (1990) e a Declaração de Salamanca (1994), foram marcos importantes
para a garantia e o fomento ao debate sobre os direitos das pessoas com deficiência, pois
ambos passaram a influenciar a formulação das políticas públicas da educação inclusiva no
País.
Após a garantia do acesso à educação básica aos estudantes com deficiência, fez-se necessário
a criação de condições para promoção do seu sucesso acadêmico e permanência, que foi
concretizada por meio da Resolução Nº 04 de outubro de 2009, que instituiu as diretrizes
operacionais para o atendimento Educacional Especializado na Educação Básica – AEE
(BRASIL, 2009). Foi por meio dessa resolução que foi possível a garantia de serviços,
recursos de acessibilidade e estratégias que elimine barreiras e garanta sua plena participação
na sociedade e sua aprendizagem (BRASIL, 2009). Além da criação e implementação de sala
de recursos multifuncionais e o atendimento educacional especializado realizado no turno
inverso. Já o Programa de Acessibilidade na Educação Superior (Incluir) propõe ações que
garantem o acesso pleno das pessoas com deficiência nas instituições federais de ensino
superior (Ifes), por meio de ações institucionais que visam promover a integração de pessoas
com deficiência à vida acadêmica, eliminando barreiras comportamentais, pedagógicas,
arquitetônicas e de comunicação (BRASIL, 2013).
Dito isto, como observado, foi preciso a criação de mecanismos, metodologia e adaptações
para promover a sua inclusão, condições de aprendizagem e socialização do público alvo a
educação especial para garantia do direito à Educação das pessoas com deficiência. Esse
capítulo pretende discutir como, no cenário da pandemia, esse direito foi garantido ou não a
esse público, com destaque para os protocolos e planos de retorno às aulas presenciais. Os
protocolos priorizaram esse público escolar? As atividades remotas foram pouco planejadas
para reconhecer suas dificuldades? Longe de esgotar o assunto, pretende-se aqui lançar um
olhar para os desafios que a pandemia impôs a esses estudantes para melhor elaboração de
políticas públicas.
DESENVOLVIMENTO
A Organização Mundial da Saúde – OMS classificou a COVID-19 como pandemia, doença
causada pelo novo coronavírus no início de março de 2020. Desde então, diversas ações
estratégias sanitárias com objetivo de barrar o avanço da COVID-19 foram adotadas no
Brasil, das quais a suspensão das atividades educacionais presencias em todos os níveis de
ensino. Por meio da Portaria nº 343, de 17 de março de 2020 o Mistério da Educação - MEC,
autorizou em caráter excepcional, a substituição das disciplinas presenciais, por aulas que
utilizem meios e tecnologias de informação e comunicação, por instituição de educação
superior integrante do sistema federal de ensino. Posteriormente, tal Portaria recebeu ajustes e
acréscimos por meio das Portarias de nº 345, de 19 de março de 2020, nº 473, de 12 de maio
de 2020, nº 544, de 16 de junho de 2020, nº 1.030, de 1º de dezembro de 2020 e nº 1038, de 1
de dezembro de 2020.
No final de abril de 2020, o Conselho Nacional de Educação - CNE emitiu o parecer nº 5, que
trata sobre a reorganização do calendário escolar e cômputo das atividades não presenciais
para fins de cumprimento da carga horária mínima anual, em razão da Pandemia. O presente
documento é composto com sugestões para realização de atividades pedagógicas não
presenciais, que se aplicam aos estudantes de todas as etapas, níveis ou modalidades,
inclusive aos estudantes do Público-Alvo da Educação Especial (PAEE). Sendo necessário a
garantia do padrão de qualidade e acessibilidade no processo de ensino e aprendizagem por
meio das atividades pedagógicas não presenciais. No entanto o parecer nº 5 não apresenta
orientações especificas que venham garantir a acessibilidade ao ensino remoto para alunos
que possuem diferentes tipos de deficiências e que contemple as especificidades desses
estudantes.
O CNE emite o Parecer nº 11, de 7 de julho de 2020, sendo ele um documento orientador para
a realização de aulas e atividades pedagógicas presenciais e não presenciais da educação
nacional, em todos os níveis e modalidades, estados, municípios e federação no contexto da
pandemia. Com objetivos centrais propôs o suporte técnico na tomada de decisões,
apresentação das diretrizes orientadoras para o planejamento dos calendários e dos protocolos
específicos dos estabelecimentos de ensino e as recomendações organizacional e pedagógico.
O parecer ressalta que todos os estudantes devem seguir as mesmas orientações gerais de
retorno às atividades presenciais, lançando mão, para os estudantes do PAEE, do modelo
clínico sobre a deficiência que equipara a mesma a uma doença, normatizada, individualizada.
Assim, estabeleceu o não retorno às aulas presenciais com a privação de interações presencias
dos estudantes com deficiência em um possível retorno, como escrito a seguir:
O parecer nº16, de 09 de outubro de 2020, vem para corrigir a forma discriminatória que os
estudantes com deficiência foram tratando no parecer CNE nº 11, além de reafirma o seu
direito à educação e repudiar qualquer tipo de descriminação, além de apresentar orientações
gerais e especificas para o retorno às aulas para o público da Educação Especial no contexto
da pandemia da COVID-19. São apresentada 44 orientações sobre retorno das atividades
escolares presenciais e/ou manutenção dos processos de ensino em atividades remotas ou não
presenciais, sendo, 10 orientações gerais, 14 orientações aos sistemas educacionais acerca do
atendimento educacional, no contexto da pandemia e 20 Orientações aos Sistemas que
definirem o retorno do atendimento educacional presencial para todos os estudantes, incluindo
o público da Educação Especial, no contexto da pandemia. Abordando assim questões de
saúde individual e coletiva, implementação dos protocolos de sanitários, eliminação de
barreias, ações de inclusão e garantia de direitos aos estudantes com deficiência e as suas
especificidades até o momento negligenciadas. Ressaltamos novamente que tal parecer não
foi homologado.
A orientação de número 6 vai na contramão das orientações da OMS e do próprio guia que
recomenda inúmeras vezes o uso obrigatório de máscara no ambiente escolar, colocando
assim esse estudante com deficiência com risco maior de contaminação do SARS-CoV-2, o
vírus da COVID-19. A Campanha Nacional pelo Direito à Educação (Campanha) lançou o
Guia COVID-19 - Reabertura das Escolas - Informe-se e saiba como agir, cobrar, e trabalhar
pela proteção de todos de maneira colaborativa, o presente guia possuem três objetivos
centrais, sendo eles:
1. Compilar uma série de informações, conceitos, dados e referências confiáveis
sobre a reabertura de escolas segura e garantidora de direitos no quadro do contexto
da pandemia do coronavírus (COVID-19);
2. Elaborar recomendações para a garantia do direito à educação no período de
quarentena sem deixar ninguém para trás;
3. Orientar as comunidades escolares, as famílias e os profissionais da educação
sobre como atuar para além da ação individual. Este momento é de ação coletiva.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância - Unicef, a Unesco, o Banco Mundial e a
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura - FAO, emitiram um
documento com uma série de orientações para a reabertura das escolas. O presente traz um
quadro com orientações a serem executadas antes da reabertura, durante a reabertura e com as
escolas reabertas. São apenas três recomendações destinadas a estudantes com deficiência,
entre elas, acomodações de acessibilidade, serviços especializados e materiais/plataformas de
ensino, informações, serviços e instalações sejam acessíveis a pessoas com deficiência.
Garantia da realização das medidas básicas de higiene pessoal, tais como a lavagem
das mãos pelos estudantes com deficiência, transtornos o espectro autista e altas
habilidades/ superdotação, além de fornecer suporte para o mesmo.
Criação de um Guia com Orientações acessíveis, em linguagem clara e específicas.
Onde seja abordada as recomendações de prevenção, cuidados e orientações para
estudante com deficiência, sendo abordada as especificidades e particularidades das
deficiências.
Promoção de campanhas educativas totalmente acessíveis, contemplando as
particularidades de comunicação das deficiências, com intérpretes de libras, descrição
de imagens e ampliação e contraste na produção.
Os sistemas de ensino busquem e assegurem medidas locais e especificas de segurança
que garantam a oferta de serviços, recursos didáticos acessíveis e estratégias de
atendimento aos estudantes da Educação Especial, nas escolas das redes e no
Atendimento Educacional Especializado
Realização das adaptações estruturais em todo o ambiente escolar promovendo
segurança na autonomia dos estudantes com deficiência.
Garantia de condições sanitárias seguras para todos e orientações sobre os cuidados
especiais como a limpeza e higienização de órteses, próteses, bengalas e cadeiras de
roda e demais.
Difusão das orientações presentes no Documento “Tecnologia Assistiva e o
Enfretamento à COVID-19: Orientação de higienização de dispositivos para pessoas
com deficiência”. Onde são apresentadas dicas e orientações sobre como realizar a
higienização dos dispositivos de tecnologia assistiva mais utilizados, como órteses,
muletas, cadeira de rodas, bengalas, andadores e carrinhos adaptados.
Utilização do documento “Considerações sobre pessoas com deficiência durante o
surto da COVID-19” elaborado pela Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS
como norteador para elaboração de protocolos retorno das atividades presencias no
ambiente escolar. O presente documento contém inúmeras medidas específicas
destinadas as pessoas com deficiência durante a pandemia de COVID-19.
Utilização do relatório “Protocolos sobre educação inclusiva durante a pandemia da
COVID-19: Um sobrevoo por 23 países e organismos internacionais”, elaborado pelo
Instituto Rodrigo Mendes, como base para a construção e implementação de diretrizes,
protocolos e práticas quem visam assegura o direito a educação dos estudantes com
deficiência.
Execução das orientações já homologadas orientações nos Pareceres CNE/CP nº 5, de
28 de abril de 2020, e CNE/CP nº 11/2020, de 7 de julho de 2020.
Execução das orientações previstas no Parecer CNE/CP nº16, de 09 de outubro de
2020.
Garantia da vacinação de toda a comunidade escolar com deficiência, transtornos o
espectro autista e altas habilidades/superdotação como grupo prioritário.
CONCLUSÃO
As pessoas com deficiência historicamente foram invisibilizadas, e muitas vezes tendo seus
direitos negligenciados e negados. Na pandemia de Covid-19, causada pelo vírus SARS-CoV-
2, tivemos novamente momentos de invisibilidade dessa população por parte dos governantes.
Sendo necessária em diversas vezes durante esse período a reafirmação pela sociedade civil e
poder público que essa parcela da população possui direitos garantidos pela legislação
vigente, como por exemplo, o direito a educação de qualidade.
MAZZOTTA, Marcos José. Educação especial no Brasil: história e políticas públicas. 6. ed.
São Paulo: Cortez Editora, 2011.
(Ref https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/interactive-
timeline ).
https://abmes.org.br/arquivos/legislacoes/Portaria-mec-345-2020-03-19.pdf
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-376-de-3-de-abril-de-2020-251289119