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Universidade Estadual do Norte Fluminense

Métodos Matemáticos

Liliana A. L. Mescua
Rigoberto G. S. Castro

Abril de 2012
Sumário

Introdução 1

1 Equações Diferenciais Ordinárias 3

2 Equações Diferenciais de 1a Ordem 6

2.1 Problema de Valor Inicial (P.V.I.) ou Problema de Cauchy . . . . . . . 6

2.2 Interpretação Geométrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

2.3 Equações de Variáveis Separáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

2.3.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

2.4 Equações Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

2.4.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

2.5 Equações Exatas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

2.5.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

2.6 Fatores Integrantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

2.6.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

2.7 Equações Homogêneas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

2.7.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

2.8 Métodos de Substituição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

2.9 Equações Redutı́veis a um dos Tipos Anteriores . . . . . . . . . . . . . 29

ii
2.9.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

3 EDO’s Lineares de Ordem Superior 35

3.1 EDO Incompleta com Coeficientes Constantes . . . . . . . . . . . . . . 36

3.1.1 Caso I: Raı́zes Reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

3.1.2 Caso II: Raı́zes Reais Repetidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

3.1.3 Caso III: Raı́zes Complexas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

3.2 EDO Completa com Coeficientes Constantes . . . . . . . . . . . . . . . 40

3.2.1 Método dos Coeficientes a Determinar (MCD). . . . . . . . . . . 41

3.3 EDO Completa com Coeficientes Variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . 46

3.3.1 Método de Variação de Parâmetros (MVP) . . . . . . . . . . . . 46

3.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

4 Sistema de Equações Diferenciais Lineares 52

4.1 Sistemas Homogêneos de 1ra Ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

4.1.1 Autovalores Reais Distintos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

4.1.2 Autovalores Complexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

4.1.3 Autovalores Repetidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

4.1.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

4.2 Sistemas Não Homogêneos de 1ra Ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

4.2.1 Coeficientes Indeterminados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

4.2.2 Variação de Parâmetros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

4.3 Sistemas Homogêneos de 2da Ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

4.3.1 Aplicações à Mecânica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

4.4 Sistemas Não Homogêneos de 2da Ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

iii
5 Transformada de Laplace 73

5.1 Transformada Inversa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

5.2 Teoremas de Translação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

5.3 Derivada e Integral de uma Transformada . . . . . . . . . . . . . . . . 81

5.4 Função Degrau Unitário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84

5.5 A Convolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

5.6 Aplicação as Equações Lineares com Coeficientes Constantes . . . . . . 88

6 Equações Diferenciais Parciais 93

6.1 Séries Infinitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93

6.1.1 Séries de Potências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94

6.1.2 Séries de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

6.2 Equações Diferenciais em Derivadas Parciais (EDP) . . . . . . . . . . . 108

6.3 Equações Fundamentais da Fı́sica-Matemática . . . . . . . . . . . . . . 112

6.3.1 Equação do Calor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113

6.3.2 Equação de Onda ou da Corda Vibrante . . . . . . . . . . . . . 116

6.3.3 A Solução Geral da Eq. de Onda. Método de D’Alembert . . . 131

6.3.4 Equação de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133

6.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135

A 137

A.1 Números Complexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137

iv
Introdução

Ao estudar um fenômeno fı́sico com frequencia não é possı́vel achar de imediato


as leis fı́sicas que relacionam as magnitudes que caraterizam dito fenômento. Assim,
obtemos equações que contém as funções desconhecidas, escalares ou vetoriais sob o
sinal da derivada ou da diferencial.

As equações nas quais a função desconhecida, escalar ou vetorial se encontra sob


o sinal da derivada ou da diferencial, se chamam equações diferenciais. Vejamos
alguns exemplos de equações diferenciais.

dx
1. = kx é a equação da desintegração radioactiva, onde k < 0 é a constante
dt
de desintegração; x = x(t) é a quantidade da substância não desintegrada no
dx
tempo t. Em outras palavras, a velocidade de desintegração é proporcional à
dt
quantidade de substância que se desintegra.
d2 r  dr 
2. m = F t, r, é a equação do movimento de um ponto de massa m, sobre
dt2 dt
a influência de uma força F dependente do tempo, do vetor posição r e de sua
dr
velocidade . A força é igual ao produto da massa pela aceleração.
dt
∂2u  2
2 ∂ u ∂2u ∂2u 
3. − a + + = 0 é a equação de ondas que modela a propagação
∂t2 ∂x2 ∂y 2 ∂z 2
de som, da luz ou de outros fenômenos ondulatórios.

A busca das funções incógnitas, determinadas pelas equações diferenciais, é precisa-


mente o problema fundamental da teoria das equações diferenciais.

Se na equação diferencial as funções desconhecidas, escalares ou vetoriais, são


funções de uma só variável, a equação é chamada de Equação Diferencial Ordinária

1
(por exemplo as equações 1. e 2.). Por outro lado, se a função desconhecida é função
de duas ou mais variáveis independentes, a equação diferencial se chama Equação
Diferencial Parcial (por exemplo a equação 3.).

2
Capı́tulo 1

Equações Diferenciais Ordinárias

Definição 1.1. Chama-se equação diferencial ordinária (EDO) a uma equação


que estabelece uma relação entre a variável independente x, a função desconhecida y(x)
 dy d2 y d3 y
e suas derivadas y ′, y ′′, y ′′′ , . . . , y (n) y ′ = = Dy, y ′′ = 2 = D 2 y, y ′′′ = 3 =
dx dx dx
3 (n) dn y n

D y, . . . , y = n = D y .
dx

Simbolicamente, pode-se escrever:

F (x, y, y ′, y ′′, . . . , y (n)) = 0

sendo, x ∈ I (I intervalo aberto em R).

Exemplo 1.1. A seguir algumas equações diferenciais ordinárias


xy
a) y ′ = x b) y ′′ + y = 0 c) (1 + x2 )y ′ = arctan x d) y ′ = .
x2 + y2

Equações diferenciais são classificadas de acordo a ordem e linearidade:

Definição 1.2. A ordem de uma equação diferencial é o maior ordem (grau) da


derivada que figura nessa equação.

Exemplo 1.2. Do exemplo anterior concluimos que

i) As equações a), c), d) são de ordem 1. Diz-se que são equações de 1ra ordem.

ii) A equação b) é de ordem 2. Equação de 2da ordem.

iii) y (4) + y ′′ − y 3 = sen x, com x ∈ R é de 4a ordem.

3
Definição 1.3. (EDO Linear) Sejam as funções ai (x), i = 1, 2, . . . , n, e b(x)
contı́nuas em (a, b) e a0 (x) 6= 0, ∀ x ∈ (a, b). Uma equação da forma

a0 (x) y (n) + a1 (x) y (n−1) + a2 (x) y (n−2) + · · · + an−1 (x) y ′ + an (x) y = b(x), (1.1)

chama-se equação diferencial ordinária linear de ordem n (n ≥ 1).

Pode-se escrever a equação (1.1) na forma:

y (n) + p1 (x) y (n−1) + p2 (x) y (n−2) + · · · + pn−1 (x) y ′ + pn (x) y = q(x), (1.2)

ou
h i
D (n) + p1 (x) D (n−1) + p2 (x) D (n−2) + · · · + pn−1 (x) D + pn (x) y = q(x). (1.3)

Observação 1.1. Denotando a expressão a esquerda de (1.3) pelo operador linear


L(D) y, obtemos L(D) y = q(x), ou abreviadamente

L(y) = q(x). (1.4)

Se q(x) = 0 para todo x, a equação (1.4) é chamada homogênea ou incompleta.


Se q(x) 6= 0 para algum x, a equação (1.4) se diz não homogênea ou completa.

Exemplo 1.3. A equação y ′′ − 2y ′ + y = 0 é uma EDO de 2da ordem linear homogenea

Exemplo 1.4. As equações yy ′′ − 2y = x e y ′′′ + y 2 = 0 são EDO’s não


lineares, de 2da e 3a ordem respectivamente (a EDO é não-linear quando não for de
primeiro grau em y ou em suas derivadas).

Definição 1.4. A EDO dada na definição (1.1) está na forma normal quando se
encontra explicitada em relação à derivada de maior ordem que nela figura, isto é

y (n) = G(x, y, y ′, y ′′, . . . , y (n−1) ).

As equações diferenciais a) e d) do exemplo (1.1) estão na forma normal. As outras


arctan x
não o estão, mas é possı́vel pô-las escrevendo y ′′ = −y e y ′ = . A equação
1 + x2
do item (iii) do exemplo (1.2) em sua forma normal escreve-se y (4) = sen x − y ′′ + y 3 .

Observação 1.2. Nem sempre é possı́vel escrever uma equação em sua forma normal.

4
Exemplo 1.5. As equações
1
a) y = xy ′ − (y ′)2
4
b) (y ′ )4 − (x + 2y + 1)(y ′ )3 − 2xyy ′ = 0

são equações de 1ra ordem, em que y ′ não pode ser explicitada em função de y e de x.

Definição 1.5. Solução de uma EDO F (x, y, y ′, . . . , y (n) ) = 0 num intervalo I, é uma
função y = φ(x) tal que

F (x, φ(x), φ′ (x), . . . , φ(n) (x)) = 0, ∀x∈I

Dependendo do contexto do problema, I pode ser un intervalo aberto (a, b), um


intervalo fechado [a, b], um intervalo infinito (a, ∞), etc.

Exemplo 1.6. A função y = x2 é solução em (−∞, ∞), da equação y ′ = 2x. Mais


ainda y = x2 + 1, y = x2 + π, y = x2 + ln 3 são também soluções de y ′ = 2x. A solução
y = x2 + C é chamada de solução geral da equação diferencial y ′ = 2x onde C é uma
constante arbitrária.

Exemplo 1.7. A função y = sen x é solução de y ′′ + y = 0. De fato, se y ′ = cos x,


então y ′′ = − sen x. Logo, − sen x + sen x = 0, ∀ x ∈ R.

5
Capı́tulo 2

Equações Diferenciais de 1a Ordem

As EDO’s de primeira ordem se apresentam sob duas formas equivalentes:

1. Forma Normal: y ′ = f (x, y).

2. Forma Diferencial: P (x, y) dx + Q(x, y) dy = 0.

2.1 Problema de Valor Inicial (P.V.I.) ou Problema


de Cauchy

Trata de resolver uma EDO de primeira ordem


dy
= f (x, y)
dx
sujeita a condição inicial
y(x0 ) = y0 .

Em termos geométricos, procuramos uma solução para uma EDO, definida em algum
intervalo I tal que o gráfico da solução passe por um ponto (x0 , y0) ∈ I determinado
apriori.

Exemplo 2.1. Resolver o problema de valor inicial em I = (−∞, ∞).



 y ′ = y,
(2.1)
 y(0) = 3.

6
Sol.: É simples de ver que y = Cex satisfaz a equação y ′ = y em I, onde C é uma
constante arbitrária (Ver Fig. 2.1). Embora, y = 3ex é a única função da famı́lia que
satisfaz a condição y(0) = 3e0 = 3.

Figura 2.1: Famı́lia de Soluções de y ′ = y.

Observação 2.1. O exemplo anterior, levanta duas questões funtamentais:

1. Existe sempre uma solução para o problema de Cauchy?

2. Se existe ela é única?

Em outras palavras, por cada ponto fixo (x0 , y0) passa uma única solução y = y(x)?.

O seguinte exemplo, mostra que a resposta a segunda pergunta as vezes é não.


x4
Exemplo 2.2. Uma simples substituição permite verificar que as funções y = e
16
y = 0 satisfazem o P.V.I,

 y ′ = xy 1/2 ,
(2.2)
 y(0) = 0.

7
Figura 2.2: Soluções de y ′ = xy 1/2 .

O Teorema de Picard nos garante as condições de existência e unicidade das soluções


do P.V.I.

Teorema 2.1. (Existência e Unicidade) Seja o problema de valor inicial



 y ′ = f (x, y)
(2.3)
 y(x ) = y
0 0

onde (x0 , y0 ) ∈ R = {(x, y) ∈ R2 /a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d}. Se f (x, y) e ∂f /∂x são


contı́nuas em R, então existe um intervalo I centrado em x0 e uma única função y(x)
definida em I que satisfaz o problema de valor inicial (2.3) (Veja a Figura 2.3).

2.2 Interpretação Geométrica

O ponto de vista geométrico é útil no caso de equações de primeira ordem, isto é,
equações da forma:

y ′ = f (x, y) (2.4)

Uma vez que a solução da equação diferencial (2.4) é uma função y = y(x), a repre-
sentação geométrica de uma solução é o gráfico de uma função. Geometricamente
a equação (2.4) afirma que em qualquer ponto (x, y), o coeficiente angular y ′ da

8
Figura 2.3:

solução neste ponto é dado por f (x, y). Podemos representar graficamente esta situação
traçando um pequeno segmento de reta no ponto (x, y) com coeficiente angular f (x, y).
O conjunto de segmentos de reta é conhecida como o campo de direções da equação
diferencial (2.4).

Exemplo 2.3. Seja a equação diferencial y ′ = y, onde f (x, y) = y. O campo de


direções desta equação diferencial é mostrada na Figura 2.4. Note que a solução é a
função y(x) = Cex , onde C ∈ R.

Figura 2.4: Campo de direções da equação y ′ = y.

dy p
Exemplo 2.4. Seja a equação diferencial = x2 + y 2. Para a construção do
dx
campo de direções desta equação, acha-se o lugar geométrico dos pontos nos quais as
tangentes as curvas integrais (ou gráfico das soluções) procuradas conservam

9
dy p 2
Figura 2.5: Campo de Direções e Isóclinas da eq.= x + y2.
dx
uma direção constante. Tais linhas chamam-se isóclinas (Fig. 2.5). A equação
dy
das isóclinas obtem-se considerando = k, onde k é uma constante. Logo, para
p dx
este exemplo temos x2 + y 2 = k, ou x2 + y 2 = k 2 . Conseqüentemente as isóclinas
são circunferências com centro na origem de coordenadas, e o coeficiente angular da
tangente às curvas integrais procuradas é igual ao raio de ditas circunferências. Para
construir o campo de direções, damos a constante k certos valores determinados.

2.3 Equações de Variáveis Separáveis

Uma equação diferencial ordinária de 1ra ordem é separável se for possı́vel, por mani-
pulações algébricas elementares, reescrever a equação na forma diferencial

M(x) dx + N(y) dy = 0 (2.5)

ou equivalentemente

N(y) dy = −M(x) dx. (2.6)

Para resolver (2.6) simplesmente se reduz a uma integração em cada variável.

Exemplo 2.5. Resolva a EDO y ′ = 2x e−y .

Sol.: Como dy/dx = 2x e−y , então podemos escrever ey dy = 2x dx. Assim, integrando
temos ey = x2 + C. Observemos que devido a que ey > 0 teremos que x2 + C deve ser

10
positivo. Logo, tomando o logaritmo neperiano resulta que

y(x) = ln(x2 + C), onde x2 + C > 0. (2.7)

Exemplo 2.6. Resolva o Problema de Valor Inicial (PVI)

 y ′ = 2 √y

(2.8)
 y(−1) = 0

√ dy √
Sol.: Como dy/dx = 2 y, então √ = dx. Logo, y = x + C. Fazendo x = −1 e
2 y

y = 0 temos que C = 1. Logo, y = x + 1, ( note que x + 1 ≥ 0 e o domı́nio de y é
[−1, ∞]). Portanto, a solução é

y(x) = (x + 1)2 , x ≥ −1. (2.9)

Exemplo 2.7. Resolva o Problema de Valor Inicial (PVI)



 y′ = y2 − 4
(2.10)
 y(0) = −2

Sol.: Se y 2 − 4 6= 0 então dy/(y 2 − 4) = dx, então integrando


dy
Z Z
= dx
(y − 2)(y + 2)
1 1 1 
Z  Z
− dy = dx
4 y−2 y+2
(y − 2)
ln = 4x + C
(y + 2)
(y − 2)
= e4x+C . (2.11)
(y + 2)
Portanto,
1 + Ce4x
y(x) = 2 (2.12)
1 − Ce4x
Fazendo x = 0 e y = −2 chegmos a que 1 = −1. Observamos que y deve ser distinto
de −2 (condição imposta) em (2.12).

Porém y = −2 é solução da equação dada. Mais ainda, de (2.12) observamos:

1. Soluções limitadas quando C < 0, −2 < y(x) < 2, x ∈ R.

2. Soluções ilimitadas quando C > 0. Veja a Figura 2.6.

11
Figura 2.6:

2.3.1 Exercı́cios

1. Usando variáveis separáveis determine a solução da equação.



(a) y 1 − x2 y ′ = x (e) xyy ′ = y + 2 ; y(0) = −2

(b) x5 y ′ + y 5 = 0 (f) y ′ − y = 3 ; y(1) = −3

(c) x dy = (1 − 2x2 ) tan y dx; (g) y ′ (1 + y) = (1 − x2 ); y(−1) = −2


dy 3x2
(d) e−x dy + (xey + e−x+y )dx = 0 (h) = 2 ; y(1) = 0
dx 3y − 4

2. A equação diferencial p dv + kv dp = 0 descreve a variação adiabática (processo


de transformação de um sistema no qual no há trocas térmicas com o exterior)
do estado do ar, com p = pressão; v = volume; k = constante. Exprima p como
função de v.

3. O planeamento dum sistema de abastecimento de água para uma povoação baseia-


se no modelo matemático
dp
= kp(pM − p)
dt
em que k = 10−6 habitante/ano; pM = 105 habitantes; p = população no instante
t. A população inicial é de 104 habitantes. Determine o tempo aproximado,
necessário para a população atingir 15000 habitantes.

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4. Sabendo que a velocidade de resfriamento de um corpo, num ambiente de temper-
atura constante, é proporcional à diferença entre a sua temperatura T (t) em cada
instante e a temperatura do meio ambiente Tm (Lei do resfriamento de Newton),
isto é:
dT
= k(T − Tm )
dt
Resolva o seguinte problema: Um objecto metálico à temperatura de 100o é mer-
gulhado num rio. Ao fim de cinco minutos a temperatura do objecto desceu para
60o. Determine o instante em que a temperatura do objecto é de 31o , sabendo
que a temperatura da água do rio é de 30o.

5. A velocidade de desintegração radioactiva de um elemento é proporcional à sua


dA
concentração em cada instante: = kA. Sabendo que a meia vida (o tempo
dt
gasto para metade dos átomos de uma quantidade inicial A0 se desintegrar ou se
transmutar em átomos de outros elemento) do rádio é de 1590 anos, determine a
percentagem de massa que se desintegra ao fim de 100 anos.

6. A população de uma certa comunidade cresce a uma taxa proporcional ao número


de pessoas presentes em qualquer instante. Se a população duplicou em 5 anos,
quando ela triplicará?. Quando quadriplicará?

7. Use o campo de direções gerado pelo computador para esboçar, a mão, uma curva
integral aproximada que passe pelos pontos indicados.
dy dy
a) dx
= xy ; y(4) = 2. c) dx
= sen x cos y; y(1) = 0.
dy 2 dy
b) dx
= e−0,001xy ; y(0) = −4. d) dx
= 1 − xy; y(−1) = 0.

2.4 Equações Lineares

Uma equação diferencial da forma

a0 (x)y ′ + a1 (x)y = g(x) (2.13)

é chamada de equação linear de primeira ordem.

Dividindo pelo coeficiente a0 (x) obtemos a forma mais útil de uma equação linear

y ′ + p(x)y = q(x) (2.14)

13
Para resolver esta equação multiplicamos a equação diferencial por um fator inte-
grante µ(x) apropriado e assim colocá-la em uma forma integrável. Temos então

µ(x)y ′ + µ(x)p(x)y = µ(x)q(x) (2.15)

e queremos reconhecer o lado esquerdo de (2.15) como a derivada de alguma função.


Como um dos termos é µ(x)y ′ sugere que o lado esquerdo da eq. (2.15) pode ser a
derivada do produto µ(x)y. Para que seja verdade µ′ (x)y = µ(x)p(x)y que por sua
vez significa que µ(x) deve satisfazer a equação diferencial

µ′ (x) = p(x) µ(x). (2.16)

Se µ(x) > 0 a equação (2.16) pode ser escrita como

µ′ (x)
= p(x), ou (2.17)
µ(x)
(ln µ(x))′ = p(x). (2.18)

Então, integrando ambos os termos temos


Z
ln µ(x) = p(x) dx + k. (2.19)

Escolhendo k = 0 obtemos a função µ na sua forma mais simples, ou seja


R
p(x) dx
µ(x) = e . (2.20)

Uma vez determinado µ voltamos a eq. (2.15) e obtemos que


R R
p(x) dx
(e y)′ = e p(x) dx
q(x). (2.21)

Integrando ambos membros de (2.21) obtemos


R
Z R
p(x) dx
e y = e p(x) dx q(x) dx + C, ou
R hZ R i
− p(x) dx p(x) dx
y(x) = e e q(x) dx + C (2.22)

Portanto, esta é a solução geral da equação (2.15).

Exemplo 2.8. Ache uma solução geral de (x2 + 1)y ′ + 3xy = 6x.

14
Sol.: Dividindo por (x2 + 1) a anterior equação fica
3x 6x
y′ + y = .
x2 + 1 x2 + 1
3x 6x
Então, p(x) = e q(x) = 2 .
x2 +1 x +1
O fator integrante é dado por:
3x
Z
3 ln(x2 + 1)
2
dx
µ(x) = e x + 1 =e 2 = (x2 + 1)3/2 .

Logo, a solução é dada por

2 −3/2
hZ 6x i
y(x) = (x + 1) (x2 + 1)3/2 2 dx + C
x +1
hZ i
2 −3/2 2 1/2
= (x + 1) 6x(x + 1) dx + C

= (x2 + 1)−3/2 [2(x2 + 1)3/2 + C]

= 2 + C (x2 + 1)−3/2 , C∈R (2.23)

Exemplo 2.9. Resolva o Problema de Valor Inicial (PVI)



 y ′ − 3y = e2x
(2.24)
 y(0) = 3

R
Sol.: Temos que p(x) = −3 e q(x) = e2x . O fator integrante é µ(x) = e −3 dx
= e−3x .
Logo, a solução é dada por
Z  Z 
−3x 2x 3x
y(x) = e e dx + C e = e−x dx + C e3x (2.25)
 
= − e + C e3x = −e2x + C e3x .
−x
(2.26)

Pela condição inicial temos

y(0) = −1 + C = 3 =⇒ C = 4.

Logo, a solução do PVI é dado por y(x) = 4e3x − e2x .

Exemplo 2.10. Resolva o Problema de Valor Inicial (PVI)



 x2 y ′ + x y = sen x
(2.27)
 y(1) = 2

15
Sol.: Dividindo por x2 temos que y ′ + y/x = sen x/x2 , de modo que o fator integrante
1
R
é µ(x) = e dx = eln x = x. Assim, a solução é
x

Z sen x 
−1
 Z sen x 
y(x) = x 2 dx + C x = dx + C x−1 . (2.28)
x x

Observamos que a antiderivada de sen x/x não é possivel calcular. Podemos usar
o Teorema Fundamental do Cálculo para escrever uma antiderivada de uma função
Rx
contı́nua arbitrária f (x) na forma F (x) = a f (t) dt. Logo, temos que:
 Z x sen t 
y(x) = dt + C x−1 . (2.29)
0 t

O limite de integração a = 0 é permissı́vel porque sen t/t → 1 quando t → 0.

Aplicando a condição inicial temos


Z 1
sen t
y(1) = dt + C = 2.
0 t
R1
Logo, C = 2 − 0 sent t dt, de onde substituindo em (2.29) obtemos
x Z 1
sen t
Z sen t  −1
y(x) = dt + 2 − dt x .
0 t 0 t

2 1 x sen t
Z
Portanto, y(x) = + dt é a solução do PVI.
x x 1 t

2.4.1 Exercı́cios

1. Determine a solução geral para os problemas seguintes

(a) y ′ − xy = 0 (g) y ′ − 2y = t2 e2t

(b) y ′ + xy = x (h) y ′ + (1/x)y = 3 cos 2x


1
(c) y ′ + y = 1+e2x
(i) ty ′ + 2y = sen t , t > 0

(d) y ′ + y = 2xe−x + x2 (j) (1 + t2 )y ′ + 4ty = (1 + t2 )−2 , t > 0

(e) (1 + x2 )y ′ + 2xy = cot x (k) ty ′ − y = t2 e−t

(f) y ′ + y = 5 sen 2t (l) 2y ′ + y = 3t2


2. Ache a solução do problema de valor inicial proposto

16
(a) xy ′ + y = 3xy ; y(1) = 0 (g) (1 + x)y ′ + y = cos x ; y(0) = 1

(b) xy ′ + 3y = 2x5 ; y(2) = 1 (h) y ′ = 1 + x + y + xy ; y(0) = 0

(c) y ′ + y = ex ; y(0) = 1 (i) xy ′ = 3y + x4 cos x ; y(2π) = 0


2
(d) xy ′ − 3y = x3 ; y(1) = 10 (j) y ′ = 2xy + 3x2 ex ; y(0) = 5

(e) y ′ + 2xy = x ; y(0) = −2 (k) (x2 + 4)y ′ + 3xy = x ; y(0) = 1

(f) y ′ = (1 − y) cos x ; y(π) = 2 (l) 2xy ′ = y + 2x cos x ; y(1) = 0


3. Expresse a solução geral de y ′ = 1 + 2xy em termos da função de erro
Z x
2 2
erro(x) = √ e−t dt
π 0

4. Em um circuito em série contendo somente um resistor e um indutor, a segunda


lei de kirchhoff diz que a soma da queda de tensão L (di/dt) e da queda de tensão
do resistor iR é igual à voltagem E(t) no circuito, isto é:

di
L + Ri = E(t)
dt
onde L e R são conhecidas como a indutância e a resitência, respectivamente. A
corrente i(t) é a chamada resposta do sistema.

Resolva o seguinte problema: Uma bateria de 12 volts é conectada a um circuito


em série no qual a indutância é de 1/2 henry e a resistência, 10ohms. Determine
a corrente i se a corrente inicial é zero.

5. Se A é a quantidade de sal (em gramas) no tanque no instante t. A taxa de


variação de A(t) é dada por:

dA
= (taxa de entrada de sal) − (taxa de saı́da de sal) = R1 − R2
dt
sendo que:

• taxa de entrada de sal = concentração (g/l) × velocidade de entrada (l/min)

• taxa de saı́da de sal = concentração (g/l) × velocidade de sáida (l/min)

Resolva o seguinte problema: Um tanque contém 200 litros de fluido no qual


foram dissolvidos 30 gramas de sal Uma salmoura contendo 1 grama de sal por
litro é então bombeada para dentro do tanque a uma taxa de 4 L/min; a solução

17
bem misturada é bombeada para fora à mesma taxa. Ache o número A(t) de
gramas de sal no tanque no instante t.

6. Forma-se um lago quando á agua é recolhida numa depressão cônica de raio a


e profundidade h. Suponhamos que a água aflutua à vazão constante k e que o
lago sofra evaporação a uma taxa proporcional à área superficial da água.

a) Mostrar que o volume V (t) da água no lago, no instante t, satisfaz à equação


diferencial
dV /dt = k − απ(3a/πh)2/3 V 2/3

b) Achar a profundidade de equilı́brio da àgua no lago.

c) Achar a condição para que o lago não transborde.

2.5 Equações Exatas

Definição 2.1. Uma expressão diferencial

M(x, y) dx + N(x, y) dy

é uma diferencial exata em uma região R do plano xy se ela corresponde à diferen-


cial total de alguma função f (x, y). Isto é, df = M(x, y) dx + N(x, y) dy onde
∂f ∂f
=M e = N.
∂x ∂y
Definição 2.2. Uma equação diferencial da forma

M(x, y) dx + N(x, y) dy = 0 (2.30)

é chamada uma equação exata se a expressão do lado esquerdo é uma diferencial


exata.

Observação 2.2. Dizemos que (2.30) é uma equação exata se existe f (x, y) tal que

∂f ∂f
= M, = N,
∂x ∂y

e a solução é dada implı́citamente por f (x, y) = C .

18
Exemplo 2.11. A equação diferencial x2 y 3 dx + x3 y 2 dy = 0 é exata. De fato,
1 
d x3 y 3 = x2 y 3 dx + x3 y 2 dy. Logo, a solução é implı́citamente pela equação
3
1 3 3
x y = C.
3
Teorema 2.2. (Critério para uma Diferencial Exata) Sejam M(x, y) e N(x, y) funções
contı́nuas com derivadas parciais contı́nuas numa região R = [a, b] × [c, d]. Então,

∂M ∂N
M(x, y) dx + N(x, y) dy = 0 (A equação é exata) ⇐⇒ = (2.31)
∂y ∂x

Demonstração: ⇒) Se M(x, y) dx + N(x, y) dy = 0 é uma equação exata, então


existe uma função f = f (x, y) tal que

∂f ∂f
df = dx + dy = M(x, y) dx + N(x, y) dy = 0, ∀ (x, y) ∈ R = [a, b] × [c, d].
∂x ∂y

Logo,

∂f ∂f
= M(x, y) e = N(x, y) (2.32)
∂x ∂y

Portanto,

∂M ∂  ∂f  ∂2f
= = (2.33)
∂y ∂y ∂x ∂y ∂x
∂N ∂ ∂f
  ∂2f
= = . (2.34)
∂x ∂x ∂y ∂x ∂y

Como M e N são funções contı́nuas com derivadas contı́nuas (vêr (2.32-2.34), temos
que:

∂M ∂2f ∂2f ∂N
= = = . (2.35)
∂y ∂y ∂x ∂x ∂y ∂x

⇐) Devemos provar que existe uma função f = f (x, y) tal que

∂f ∂f
= M(x, y) e = N(x, y). (2.36)
∂x ∂y
∂f
Z
Integrando = M obtemos f (x, y) = M(x, y) dx + ϕ(y). Note que ϕ é tal que
∂x
∂f ∂ 
Z 
= M(x, y) dx + ϕ′ (y) = N(x, y). (2.37)
∂y ∂y
R 

Logo, ϕ′ (y) = N(x, y) − ∂y M(x, y) dx .

19
Devemos provar que ϕ′ é uma função que depende de y. Derivando em relação a x,
temos

∂ϕ′
   
∂ ∂ ∂  ∂ ∂ ∂ 
Z Z
= N(x, y) − M(x, y) dx = N(x, y) − M(x, y) dx
∂x ∂x ∂x ∂y ∂x ∂y ∂x
∂ ∂
= N(x, y) − M(x, y)
∂x ∂y
=0 (2.38)

Portanto, integrando (2.37) obtemos:


Z Z Z Z
f (x, y) = M(x, y) dx + N(x, y) dy − M(x, y) dx = N(x, y) dy.

∂f
Consequentemente, = N(x, y).
∂y
∂f (x, y)
Analogamente se prova que = M(x, y).
∂x
Exemplo 2.12. Determine se a equação 2xy dx + (x2 − 1) dy = 0 é exata.

Figura 2.7: Soluções da equação 2xy dx + (x2 − 1) dy = 0.

Sol. Com M(x, y) = 2xy e N(x, y) = x2 − 1 temos:

∂M ∂N
= 2x = .
∂y ∂x

Logo, pelo Teorema anterior existe uma função f (x, y) tal que

∂f ∂f
= 2xy e = x2 − 1 (2.39)
∂x ∂y

20
Integrando em x a primeira das equações anteriores temos

f (x, y) = x2 y + ϕ(y)

e derivando esta em função de y

∂f
= x2 + ϕ′ (y) = x2 − 1
∂y

Logo, ϕ(y) = −y.

Assim, f (x, y) = x2 y − y = (x2 − 1)y = C. Portanto,

C
y(x) = é a solução. Veja Figura 2.7.
x2 −1

Exemplo 2.13. Resolva



 (x + y)2 dx + (2xy + x2 − 1) dy = 0
(2.40)
 y(1) = 1

Sol.: Façamos M(x, y) = (x + y)2 e N(x, y) = 2xy + x2 − 1, então

∂M ∂N
= 2(x + y) = .
∂y ∂x

Logo, (2.40) é uma EDO exata. De fato, seja f = f (x, y) tal que

∂f ∂f
= (x + y)2 e = 2xy + x2 − 1.
∂x ∂y

Então,

x3
Z
f (x, y) = (x2 + 2xy + y 2) dx = + x2 y + y 2 x + ϕ(y). (2.41)
3

Daı́

∂f
= x2 + 2xy + ϕ′ (y) = 2xy + x2 − 1.
∂y

o que implica que ϕ(y) = −y.


x3
Portanto, f (x, y) = + x2 y + y 2 x − y = C é solução da equação (2.40).
3
Usando a condição inicial temos que C = f (1, 1) = 1/3 + 1 + 1 − 1 = 4/3. Portanto,
x3 4
f (x, y) = + x2 y + y 2x − y = é sol. do problema (2.40).
3 3
21
2.5.1 Exercı́cios

1. Nos problemas a seguir, verifique se a equação dada é exata. Se for, resolva.


y x
(a) (2x − 1)dx + (3y + 7)dy = 0 (g) 2 2
dx + dy = 0
1−x y 1 − x2 y 2
(b) (5x + 4y)dx + (4x − 8y 3)dy = 0 1 x x x
(h) − sen dx + 2 sen dy = 0
y y y y
(c) (2y 2 x − 3)dx + (2yx2 + 4)dy = 0 (i) (2x − y)dx − (x + 6y)dy = 0
(d) (x + y)(x − y)dx + x(x − 2y)dy = 0 (j) (x3 + y 3)dx + 3xy 2 dy = 0
(e) (1 − 2x2 − 2y)dy = (4x3 + 4xy)dx (k) (3x2 y +ey )dx+(x3 +xey −2y)dy = 0
(f) xdy = (2xex − y + 6x2 )dx
 y
(l) 1 + ln x + dx = (1 − ln x)dy
x
2. Nos problemas a seguir, resolva a equação diferencial dada sujeita à condição
inicial indicada.

(a) (x + y)2dx + (2xy + x2 − 1)dy = 0, y(1) = 1

(b) (4y + 2x − 5)dx + (6y + 4x − 1)dy = 0, y(−1) = 2

(c) (ex + y)dx + (2 + x + yey )dy = 0, y(0) = 1

3. Determine uma função M(x, y) para que a seguinte equação diferencial seja exata:
 
xy 1
M(x, y)dx + xe + 2xy + dy = 0
x

2.6 Fatores Integrantes

Se a equação diferencial

M(x, y) dx + N(x, y) dy = 0 (2.42)

não é exata, o procedimento será tentar achar uma função µ(x, y) (fator integrante)
que ao ser multiplicada pela equação (2.42) a transforme numa equação exata, isto é:

∂ ∂
[µ M] = [µ N].
∂y ∂x

22
Logo, temos

∂µ ∂M ∂µ ∂N
M +µ = N +µ
∂y ∂y ∂x ∂x
 
∂µ ∂µ ∂M ∂N
M− N = −µ −
∂y ∂x ∂y ∂x
 
1 ∂µ M 1 ∂µ ∂M/∂y − ∂N/∂x
− =− (2.43)
µ ∂y N µ ∂x N

• Suponhamos agora que exista um fator integrante dependente só da variável x,


isto é, µ = µ(x). Então,
 
1 dµ ∂M/∂y − ∂N/∂x
= . (2.44)
µ dx N

Note que o lado esquerdo da equação anterior é uma função de x. Portanto, o mesmo
acontece com o lado direito. Assim, denotando por
 
∂M/∂y − ∂N/∂x
g(x) =
N

temos a equação em variávies separáveis:

1 dµ
= g(x)
µ dx

cuja solução é
R
g(x) dx ∂M/∂y − ∂N/∂x
µ(x) = e onde g(x) = . (2.45)
N

• Se o fator integrante for dependente só da variável y, isto é, µ = µ(y). Então, de
forma análoga temos que:
1 dµ
= h(y)
µ dy
cuja solução é
R
h(y) dy ∂N/∂x − ∂M/∂y
µ(y) = e onde h(y) = . (2.46)
M

Observação 2.3. Embora na teoria sempre exista um fator integrante, na prática só
há dois casos em que a determinação de um fator integrante é fácil, se:

1. µ é uma função que só depende da variável x.

23
2. µ é uma função que só depende da variável y.

Exemplo 2.14. Determine um fator integrante da equação

(3xy + y 2 ) dx + (x2 + xy) dy = 0. (2.47)

Sol. Sejam M(x) = 3xy + y 2 e N(x) = x2 + xy. A equação (2.47) não é exata, pois

∂M ∂N
= 3x + 2y 6= = 2x + y.
∂y ∂x

A seguir,
∂M/∂y − ∂N/∂x x+y 1
= =
N x(x + y) x
depende apenas de x. Assim, bastará supor que a expressão anterior será nosso g(x),
logo

1
R R
g(x) dx dx
µ(x) = e =e x = x, x > 0. (2.48)

Portanto, multiplicando (2.47) pelo fator integrante µ(x) = x, temos a equação exata,

(3x2 y + xy 2 ) dx + (x3 + x2 y) dy = 0.

Usando o método anterior é possivel resolver a equação anterior.

Exemplo 2.15. Determine um fator integrante para a seguinte equação:

y dx + (2x − yey ) dy = 0 (2.49)

Sol.: Se M(x) = y e N(x) = 2x − yey , então:

∂N/∂x − ∂M/∂y 2−1 1


= = .
N y y

Concluı́mos que, no caso de existir um fator integrante µ(y) que dependa apenas de y,

1
R
dy
µ(y) = e y = y, y > 0.

Logo, a equação exata é:

y 2 dx + (2xy − y 2 ey ) dy = 0. Resolva esta equação!!..

24
2.6.1 Exercı́cios

1. Nos problemas a seguir, resolva a equação diferencial dada, verificando qua a


função indicada µ(x, y) seja um fator de integração.

(a) 6xydx + (4y + 9x2 )dy = 0, µ(x, y) = y 2

(b) (2y 2 + 3x)dx + 2xydy = 0, µ(x, y) = x

(c) y(x + y + 1)dx + (x + 2y)dy = 0, µ(x, y) = ex

2. Use o método do fator integrante para resolver as equações diferenciais seguintes


(a) (xy − 1)dx + (x2 − xy)dy = 0 (d) (4x + 3y 3)dx + 3xy 2 dy = 0

(b) 2xy dx + (y 2 − x2 )dy = 0 (e) (x + 2) sen y dx + x cos y dy = 0

(c) (4xy 2 + y)dx + (6y 3 − x)dy = 0 (f) (y ln y − 2xy)dx + (x + y)dy = 0

2.7 Equações Homogêneas

Definição 2.3. Uma função f (x, y) é uma função homogênea de grau α, onde α é
um número real, se

f (tx, ty) = tα f (x, y), para todo t > 0.

Exemplo 2.16. Determine se as funções dadas a seguir são homogêneas.

(a) f (x, y) = −3xy + y 2


p
(b) f (x, y) = 3 x2 + y 2

Sol.:

(a) Como f (tx, ty) = −3t2 xy + t2 y 2 = t2 f (x, y), então f é homogênea de grau 2.
p p
(b) Como f (tx, ty) = 3 t2 x2 + t2 y 2 = t2/3 3 x2 + y 2 = t2/3 f (x, y), diremos que f é
homogênea de grau 2/3.

Observação 2.4. Muitas vezes uma função homogênea pode ser reconhecida exami-
nando o grau de cada termo

(a) f (x, y) = 6xy 3 − x2 y 2 homogênea de grau 4


(b) f (x, y) = x2 − y não é homogênea pois os graus de x2 e y são diferentes.

25
Definição 2.4. Uma equação diferencial da forma
dy M(x, y)
M(x, y) dx + N(x, y) dy = 0 ou =−
dx N(x, y)
é chamada homogênea se ambos os coeficientes M e N são funções homogêneas do
mesmo grau.

Uma equação diferencial homogênea M(x, y) dx+N(x, y) dy = 0 pode ser resolvida


por meio de uma substituição algébrica,

y = µ x ou x = ν y

desde que µ e ν sejam as novas variáveis independentes.

Esta substituição transformará a equação em uma equação diferencial de primeira


ordem de variáveis separáveis.

Se por exemplo y = µ x, então dy = µ dx + x dµ. Logo, substituindo na equação


obtemos

M(x, µx) dx + N(x, µx) [µ dx + x dµ] = 0.

Do fato de M e N serem funções homogêneas de grau n temos:

xn M(1, µ) dx + xn N(1, µ) [µ dx + x dµ] = 0,

ou equivalentemente xn [M(1, µ) + µ N(1, µ)] dx + xn [x N(1, µ)] dµ = 0. Consequente-


mente,
dx N(1, µ)
+ dµ = 0, (2.50)
x [M(1, µ) + µ N(1, µ)]
é uma equação diferencial separável.

Exemplo 2.17. Resolva a equação diferencial (x2 + y 2 ) dx + (x2 − xy) dy = 0.

Sol.: Observe que a equação diferencial não é exata, porém é homogênea. Fazendo
y = µ x temos,

(x2 + (µ x)2 ) dx + (x2 − x (µ x)) [µ dx + x dµ] = 0

(1 + µ2 ) dx + (1 − µ) [µ dx + x dµ] = 0

26
Logo,

dx 1 − µ
+ dµ = 0
x 1+µ
dx 1 − µ
+ dµ = 0
x 1+µ
dx h 2 i
+ −1+ dµ = 0
x 1+µ
ln |x| + 2 ln |1 + µ| − µ = ln |C|
y y
ln |x| + 2 ln 1 + − = ln |C|. (2.51)

x x

2.7.1 Exercı́cios

1. Nos problemas a seguir, determine se a função dada é homogênea. Especifique o


grau de homogeneidade quando for o caso.
1
(a) x3 + 2xy 2 − y 4/x (d) p
2 x2 + y2
x3 y − x2 y 2 x
(b) (e)
x + 8y p
y 2 + x4 + y 4
x2
(c) cos ln x3
x+y (f)
ln y 3
2. Nos problemas a seguir, resolva a equação diferencial usando uma substituição
apropriada.

(a) (x2 − 2y 2)dx + xydy = 0 (f) (x + y)dx + xdy = 0


dy x + 3y
(b) (y 2 + yx)dx − x2 dy = 0 (g) =
dx 3x + y
√ dy
(c) −ydx + (x + xy)dy = 0 p
(h) x − y = x2 + y 2
y dy y x dx
(d) x sen = y sen + + x dy y y
x dx x y (i) = ln
dx dx x x
(e) x = y + 2xe−y/x 2 −y/x
(j) (x e + y 2)dx = xy dy
dy
3. Nos problemas a seguir, resolva a equação diferencial dada sujeita à condição
inicial indicada.
dy
(a) xy 2 = y 3 − x3 , y(1) = 2
dx
(b) (x + yey/x )dx − xey/x dy = 0, y(1) = 0

27
4. Suponha que M(x, y)dx + N(x, y)dy = 0 seja uma equação homogênea. Mostre
que a substituição x = r cos θ, y = r sen θ leva a uma equação separável.

5. Seja f (x, y) uma função homogênea de grau n. Mostre que

∂f ∂f
x +y = nf
∂x ∂y

2.8 Métodos de Substituição

Uma equação pode parecer diferente de todas as que vimos e estudamos, mas mudando
a variável, tal vez um problema aparentemente difı́cil possa ser resolvido de forma fácil.
dy ln x
Exemplo 2.18. Resolva a EDO x e2y + e2y = .
dx x

Sol.: Façamos µ = x2 e2y e observemos que:

dµ dy  dy  ln x
= 2x e2y + 2x2 e2y = 2x e2y + x e2y = 2x = 2 ln x.
dx dx dx x

Logo,

dµ = 2 ln x dx ⇒ µ = 2 (x ln x − x) + C. (2.52)

Portanto,

x2 e2y = 2x ln x − 2x + C.

Exemplo 2.19. Resolva a EDO y ′ + y ln y = y ex

Sol.: Fazendo w = ln y temos que:

dw 1 dy y′
= = ,
dx y dx y

de onde resulta a eq. linear.

dw
+ w = ex .
dx

Multiplicando a eq. anterior pelo fator integrante µ(x) observamos que

(w µ(x))′ = µ(x) ex ⇔ µ′ (x) = µ(x) ⇔ µ(x) = ex .

28
Logo,
e2x
Z Z Z
x x ′ x
w(x) e = (w(x) e ) dx = µ(x) e dx = e2x dx = + C. (2.53)
2
Portanto,
1 x
w(x) = e + Ce−x .
2
Consequentemente
1 x
ln y = e + Ce−x .
2

2.9 Equações Redutı́veis a um dos Tipos Anteriores

Caso 1: Uma equação da forma

y ′ = f (ax + by + c), b 6= 0, (2.54)

pode-se reduzir a uma equação de variáveis separáveis, por meio da subtituição:

w = ax + by + c. (2.55)

2
Exemplo 2.20. Resolva a EDO y ′ =
2x + y + 3

Sol.: Fazendo w = 2x + y + 3 temos


dw dy dy dw
=2+ ⇒ = − 2.
dx dx dx dx
Logo, substituindo na EDO a ser resolvida, temos
dw 2
−2 = ,
dx w
ou que implica que
dw 2 2 + 2w
= +2=
dx w w
w
dw = dx
2 + 2w
dw dw
− = dx
2 2(1 + w)
w ln |w + 1|
− = x + C.
2 2

29
Consequentemente

2x + y + 3 − ln(2x + y + 4) = 2x + 2C

Caso 2: Considere a equação da forma


 ax + by + c 
y′ = f . (2.56)
a1 x + b1 y + c1

• Se c = c1 = 0 a equação é homogênea.

• Se c e c1 não são nulos simultáneamente temos que: as retas ax + by + c = 0 e


a1 x+ b1 y + c1 = 0 no plano XY intersectam-se em um ponto ou elas são paralelas.

a) Se em (2.56) as retas intersectam-se num ponto (x0 , y0 )

Observa-se que no caso da eq. homogênea


 ax + by 

y =f
a1 x + b1 y
as retas ax + by = 0 e a1 x + b1 y = 0 intersectam-se na origem dos eixos coordenados.
Isto sugere que no caso em que c e c1 não são nulos simultáneamente se efectue uma
translação dos eixos coordenados, de modo que a nova origem coincide com (x0 , y0 ).
−7x + 3y + 7
Exemplo 2.21. Resolva a EDO y ′ = .
3x − 7y − 3

Sol.: Calculando o ponto de interseção das retas −7x + 3y + 7 = 0 e 3x − 7y − 3 = 0


obtemos o ponto x0 = 1 e y0 = 0. Ver Figura 2.8.

Logo, fazendo

 X =x−1
(2.57)
 Y =y

e substituindo na EDO temos


−7(X + 1) + 3Y + 7
y′ = Y ′ = ,
3(X + 1) − 7Y − 3
a qual é uma equação homogênea da forma:

−7X + 3Y
Y′ = .
3X − 7Y

30
Figura 2.8:

Logo, para resolver esta última equação usamos a substituição Y = µ X. Assim, temos
que:

−7X + 3µX −7 + 3µ
µ′ X + µ = = ,
3X − 7µX 3 − 7µ
′ −7 + 3µ −7 + 7µ2
µ X= −µ= (2.58)
3 − 7µ 3 − 7µ

Se −7 + 7µ2 6= 0, tem-se
 
3 − 7µ dX
dµ =
−7 + 7µ2 X
3 − 7µ 7
dµ = dX
(µ − 1)(µ + 1) X
−2 −5 7
dµ + dµ = dX. (2.59)
µ−1 µ+1 X

De onde integrando cada termo resulta

− 2 ln |µ − 1| − 5 ln |µ + 1| dµ = 7 ln X − ln C,
|µ − 1|−2 X7
 
ln = ln . (2.60)
|µ + 1|5 C

Logo,

C = |µ + 1|5 X 7 |µ − 1|2. (2.61)

31
Portanto,
 5  2
Y 7 Y
C= +1 X −1 ,
X X
C = (Y + X)5 (Y − X)2 ,

C = (y + x − 1)5 (y − x + 1)2 . (2.62)

Exercı́cio: Determine a solução da equação diferencial



 (4y + 2x − 5) dx + (6y + 4x − 1) dy = 0
(2.63)
 y(−1) = 2

b) Se em (2.56) as retas são paralelas

Neste caso temos que


a c
 
 ax + by + c = 0  y =− x−

a a1
⇒ b b ⇒ = (2.64)
a1 c1 b b1
 a x + b y + c = 0.
1 1 1  y =− x−
 = 0.
b1 b1
a b
Assim, fazendo λ = = ∈ R na equação (2.56) temos:
a1 b1
 λa x + λb y + c   λ(a x + b y) + c 
1 1 1 1
y′ = f =f .
a1 x + b1 y + c1 a1 x + b1 y + c1
Introduzindo a nova variável z = a1 x + b1 y obtém-se
dz dy
= a1 b1 = a1 + b1 y ′
dx dx
e consequentemente (2.56) reduz-se a uma equação de variáveis separáveis da forma:
z ′ − a1  λz + c 
=f ,
b1 z + c1
dz
  = dx (2.65)
b1 f λz+c
z+c1
+ a1

2x + y − 1
Exemplo 2.22. Resolva a EDO y ′ = .
4x + 2y + 5

Sol.: Resolvendo, as seguintes equações temos que são retas paralelas (Ver Figura2.9):
 
 2x + y − 1 = 0  y = −2x + 1
⇒ (2.66)
 4x + 2y + 5 = 0  y = −2x − 5
2
32
Figura 2.9:

dz z−1
Fazendo z = 2x + y temos = 2 + y ′ . Logo, z ′ − 2 = ,
dx 2z + 5
dz z−1 z − 1 + 4z + 10 5z + 9
= +2= = .
dx 2z + 5 2z + 5 2z + 5
Consequentemente, para z 6= −9/5,
2z + 5
dz = dx. (2.67)
5z + 9
Integrando
2z + 5 2 7 1
Z Z Z
dz = dz + dz
5z + 9 5 5 5z + 9
2 7
z+ ln |5z + 9|. (2.68)
5 25
Portanto, de (2.68)
2 7
z+ ln |5z + 9| = x + C
5 25
Substituindo o valor de z = 2x + y na equação anterior obtemos a solução na sua forma
implı́cita.
2 7
(2x + y) + ln |5(2x + y) + 9| = x + C
5 25

2.9.1 Exercı́cios

1. Determine a solução para os problemas seguintes

33
2x − 3
(a) y ′ = (e) (2x + 4y − 5)dx − (4x + 6y − 1)dy =
x+y−3
x−1 0; y(−1) = 2
(b) y ′ =
3y + 2
1−x−y (f) (x + 2y − 1)dx − (2x − 3)dy = 0; y(1) = 0
(c) y ′ = 1 − 2y − 4x
x+y (g) y ′ = ; y(1) = 0
1 1 + y + 2x
(d) y ′ = x+y−1
x+y (h) y ′ = ; y(1) = 1
x−y+1
2. Resolva a equação y ′ = cos2 (y − x) usando a substituição y − x = u

3. Resolva o problema de Cauchy y ′ = cos2 (y − x), y(0) = π. A solução encontrada


é uma solução particular de (2). Justifique.

4. Verifique que a equação da forma y ′ + a(x)y = b(x)y k (Eq. de Bernoulli),


com k 6= 0 se pode transformar numa eq. linear, usando a mudança de variável
z = y −k+1.( Sugestão: multiplique ambos os membros da eq. dada por y −k ).

5. A equação dy/dt = q1 (t)+q2 (t)y +q3 (t)y 2 é conhecida como a ”Eq. de Ricatti”.
Suponhamos que uma certa solução y1 seja conhecida. Uma solução mais geral,
com uma constante arbitrária, pode ser conseguida pela substituição y = y1 +
1/ν(t). Mostrar que ν(t) obedece à eq. linear de primeira ordem dν/dt = −(q2 +
2q3 y1 )ν − q3 .

6. Dada uma solução particular, resolver cada uma das seguintes equaçõesde Ricatti.

(a) y ′ = 1 + t2 − 2ty + y 2; y1 (t) = t


1 y 1
(b) y ′ = − 2 − + y 2; y1 (t) =
t t t
2 2 2
2 cos t − sin t + y
(c) y ′ = ; y1 (t) = sin t
2 cos t

34
Capı́tulo 3

EDO’s Lineares de Ordem Superior

Uma EDO linear geral de ordem n (n > 1), é da forma

L[y] = y (n) + a1 (x) y (n−1) + a2 (x) y (n−2) + · · · + an−1 (x) y ′ + an (x) y = b(x), (3.1)

onde os coeficientes ai (x) e b(x) são funções contı́nuas em algum intervalo I.

Associado à EDO (3.1) é considerado a EDO incompleta ou homogênea:

L[y] = y (n) + a1 (x) y (n−1) + a2 (x) y (n−2) + · · · + an−1 (x) y ′ + an (x) y = 0, (3.2)

Aqui o termo homogêneo tem significado diferente daquele usado na seção de Equações
Homogêneas.

Teorema 3.1. (Existência e Unicidade) Seja x0 um número real fixado no intervalo I.


Dados n-números reais y0 , y1 , . . . , yn−1, existe uma única solução y(x) da EDO (3.1)
definida no intervalo I, satisfazendo as seguintes condições iniciais:

y(x0 ) = y0 , y ′(x0 ) = y1 , y ′′(x0 ) = y2 , . . . , y (n−1) (x0 ) = yn−1.

Teorema 3.2. Existem n-soluções reais linearmente independentes (LI) y1 , y2 , . . . , yn


da equação EDO incompleta (ou homogênea) (3.2) com a seguinte propriedade: qual-
quer solução y(x) da EDO incompleta (3.2) é da forma

y(x) = C1 y1 (x) + C2 y2 (x) + · · · + Cn yn (x)

Em particular, a coleção S das soluções de (3.2) é um espaço vetorial real de di-


mensão n e o conjunto B = {y1 , y2 , . . . , yn } é uma base para S.

35
3.1 EDO Incompleta com Coeficientes Constantes

Na equação linear geral de ordem n (3.2) consideramos ai (x) = ai , onde ai são


constantes reais. Logo, a equação linear incompleta com coeficientes constantes é da
forma

L[y] = y (n) + a1 y (n−1) + · · · + an−1 y ′ + an y = 0, (3.3)

Seja a equação linear incompleta de primeira ordem com coeficientes constantes

y ′ + ay = 0.

É sabido que uma solução geral desta equação é da forma:

y = C e−a x

Isto, sugere que no caso geral (n > 1) de uma equação linear incompleta com coefi-
cientes constantes (ai (x) = ai , ∀i = 1, 2, . . . , n), se procurem soluções do tipo y = erx ,
com r constante.

Se y = erx é solução de L[y] = 0, então existem

y ′ = r erx , y ′′ = r 2 erx , . . . , y (n) = r n erx .

Substituindo em (3.3) temos

r n erx + a1 r n−1 erx + · · · + an−2 r 2 erx + +an−1 r erx + an erx = 0

erx (r n + a1 r n−1 + · · · + an−1 r + an ) = 0 (3.4)

Como erx 6= 0 ∀x ∈ R, então:

r n + a1 r n−1 + · · · + an−1 r + an = 0 (3.5)

Esta última equação denomina-se equação caracterı́stica ou polinômio carac-


terı́stico e tem n-raı́zes reais ou complexas, e com estas raı́zes construiremos n-soluções
reias L.I. da equação (3.3)

36
3.1.1 Caso I: Raı́zes Reais

(I1) As raı́zes r1 , r2 . . . , rn são reais e distintas.

Se as raı́zes r1 6= r2 6= r3 6= · · · =
6 rn , então as n-soluções correspondentes são:

y1 = er1 x , y2 = er2 x , . . . , yn = ern x .

Por outro lado, para estas soluções o wronskiano é definido por


 
er1 x er2 x ... e rn x
 
 r1 er1 x r2 er2 x ... rn e rn x 


 
W (x) = det  . . (3.6)
 

 
. .
 
 
 
r1n er1 x r2n er2 x ... rnn ern x

e, usando propriedades do determinante, obtemos que:


 
1 1 ... 1
 
 r1 r2 ... rn 
 
 
r1 x r2 x rn x
W (x) = e e ...e det  . . . (3.7)
 
 
 . . 
 
 
r1n n
r2 ... rnn

Como o determinante do lado direito da anterior equação conhecido como o determi-


nante de Vandermond, é diferente de zero, pois as raı́zes ri são diferentes, o wronskiano
é diferente de zero (W (x) 6= 0).

Logo, {er1 x , er2 x , . . . , ern x } é um conjunto linearmente independente do espaço


vetorial C n (R) (Espaço vetorial das funções contı́nuas com derivadas contı́nuas até
ordem n). Portanto, [{er1 x , er2 x , . . . , ern x }] é um subespaço vetorial de C n (R). Conse-
quentemente, qualquer solução de L[y] = 0, é combinação linear dos elementos da base
B = {er1 x , er2 x , . . . , ern x }, isto é

y = c1 er1 x + c2 er2 x + · · · + cn ern x (3.8)

Exemplo 3.1. Resolva y ′′′ − 3y ′′ + 2y ′ = 0

37
Sol.: A eq. dada pode-se escrever na forma

(D 3 − 3D 2 + 2D) y = 0, (3.9)

de modo que a eq. caracterı́stica é

r 3 − 3r 2 + 2r = 0. (3.10)

Daı́, fatorando (3.10) temos que r(r 2 − 3r + 2) = r(r − 2)(r − 1) = 0. Logo as raı́zes
desta equação são:

r1 = 0, r2 = 2, r3 = 1.

Uma base do espaço de soluções da eq. (3.9) dada é: B = {e0x , e2x , ex } = {1, , e2x , ex }.
Logo, a sol. geral é

y = c1 + c2 e2x + c3 ex .

3.1.2 Caso II: Raı́zes Reais Repetidas

Se existem k-raı́zes do polinômio caracterı́stico associados à EDO L[y] = 0 tais que


r1 = r2 = · · · = rk = r, então as respectivas soluções da equação diferencial são iguais a
erx . Portanto, é necessário procurar k funções LI que sejam soluções da eq. incompleta
L[y] = 0. Com a raiz r de multiplicidade k construiremos k soluções LI, y1 , y2 , . . . , yk
da EDO da seguinte maneira:

y1 = erx , y2 = x erx , y3 = x2 erx , . . . . . . , yk = xk−1 erx .

Essa construção é feita com todas as raı́zes da equação caracterı́stica, para obtermos
n soluções LI da EDO, que formam uma base para o espaço das soluções.

Exemplo 3.2. Resolva a equação diferencial y ′′′ − 2y ′′ + y ′ = 0.

Sol.: A equação caracterı́stica é r 3 − 2r 2 + r = 0. As raı́zes desta equação são r1 = 0


e r2 = r3 = 1, logo as soluções LI são dadas por:

y1 (x) = e0x = 1 associado à raı́z r1 = 0

y2 (x) = ex , y3 (x) = x ex associados à raı́z r2 = 1 (3.11)

38
Portanto, B = {1, ex , x ex } é uma base do espaço de soluções da eq. dada., conse-
quentemente a solução geral é

y(x) = C1 + C2 ex + C2 x ex .

Exemplo 3.3. Resolva a equação diferencial y ′′ − 6y ′ + 9y = 0.

Sol.: A equação caracterı́stica é r 2 − 6r + 9 = 0. Resolvendo esta equação quadrática


temos a raiz dupla √
6± 36 − 36
r= = 3,
2
com isso a solução geral é

y(x) = C1 e3x + C2 xe3x = e3x (C1 + C2 x).

3.1.3 Caso III: Raı́zes Complexas

Suponhamos que λ = a+bi, b 6= 0, é uma raiz complexa da equação caracterı́stica (3.5).


Como os coeficientes desta equação são reais, temos pela observação A.1 (Apêndice)
que o conjugado λ̄ = a − bi é também uma raiz. É fácil verificar que ϕ(x) = eλx
é uma solução complexa da EDO (3.3) e as funções ϕ1 (x) = Re(ϕ(x)) e ϕ2 (x) =
Im(ϕ(x)) são soluções reais linearmente independentes. Assim, temos que as soluções
correspondentes às raizes λ e λ̄ são

1
ϕ1 (x) = Re(ϕ(x)) = [ϕ(x) + ϕ̄(x)] = eax cos bx (3.12)
2
1
ϕ2 (x) = Im(ϕ(x)) = [ϕ(x) − ϕ̄(x)] = eax sen bx (3.13)
2

Quando houver multiplicidade da raiz λ (e, portanto de λ̄), aplicamos o processo


descrito para raı́zes repetidas.

Exemplo 3.4. Ache a solução geral da EDO linear de ordem quatro y (4) + 9y = 0.

Sol.: A EDO linear de


√ ordem quatro tem√ equação caracterı́stica
√ λ4 +9 = 0,√cujas raı́zes
6 6 6 6
complexas são λ1 = (1 + i), λ2 = (1 − i), λ3 = (−1 + i), λ4 = (−1 − i).
2 2 2 2

39
Correspondendo as raı́zes λ1 e λ2 temos as soluções reais:
√ √

6
x 6 √
6
x 6
ϕ1 (x) = e 2 cos x e ϕ2 (x) = e 2 sen x
2 2

Correspondendo as raı́zes λ3 e λ4 temos as soluções reais:


√ √

− 26 x 6 √
− 26 x 6
ϕ3 (x) = e cos x e ϕ4 (x) = e sen x
2 2

Logo, a solução geral é


√ √ i √ √ i

6
x
h 6 6 −

6
x
h 6 6
y(x) = e 2 C1 cos x + C2 sen x + e 2 C3 cos x + C4 sen x .
2 2 2 2

Exemplo 3.5. Resolva a equação diferencial y (4) + 2y ′′ + y = 0.

Sol.: As raı́zes da equação caracterı́stica λ4 + 2λ2 + λ = (λ2 + 1)2 = 0 são:

λ1 = i, λ2 = −i

ambas de multiplicidade 2.

Assim, as soluções reais associadas a λ1 e λ2 são:

ϕ1 (x) = cos x e ϕ2 (x) = sen x.

Pelo fato de essas raı́zes serem de multiplicidade 2, temos mais duas soluções reais:

ϕ3 (x) = x cos x e ϕ4 (x) = x sen x.

Portanto, a solução geral é:

y(x) = C1 cos x + C2 sen x + C3 x cos x + C4 x sen x.

3.2 EDO Completa com Coeficientes Constantes

Uma equação linear completa com coeficientes constantes é da forma

L[y] = y (n) + a1 y (n−1) + · · · + an−1 y ′ + an y = b(x), (3.14)

40
Teorema 3.3. A solução y da eq. completa L[y] = b(x) (3.14) obtem-se adicionando
uma solução particular de (3.14) com a solução geral da EDO incompleta associada
L[y] = 0.

Em simbolos, escrevemos:

y(x) = yH (x) + yP (x)

onde yH (x) e yP (x) representam, respectivamente, a solução da EDO incompleta L[y] =


0 e uma solução particular da EDO completa L[y] = b(x).

A seguir apresentamos dois métodos que nos permitem achar a solução particular
yP (x) de (3.14).

3.2.1 Método dos Coeficientes a Determinar (MCD).

Este método como o mesmo nome sugere, inicia-se supondo conhecida a forma da
solução particular yP , salvo as constantes multiplicativas, as quais uma vez determi-
nadas levaram a suposta solução yP da EDO (3.14).

Este método é aplicado com sucesso para alguns casos especiais da função b(x).

• 1er Caso: Seja b(x) for um polinômio de grau k,

b(x) = a0 + a1 x + · · · + ak xk .

Se as soluções do problema incompleto L[y] = 0 são diferentes da expressão

yP (x) = A0 + A1 x + · · · + Ak xk

então diremos que yP é uma solução particular da (3.14).

Exemplo 3.6. Ache a solução particular da EDO y ′′ − 5y ′ − 6y = 3x + 4

Sol.: A solução do problema homogêneo y ′′ − 5y ′ − 6y = 0 é

yH (x) = C1 e6x + C2 e−x .

41
Como a função b(x) é o polinômio de primeiro grau 3x + 4, então suporemos que a
solução particular yP é da forma:

yP (x) = A0 x + A1 .

Assim, substituindo na EDO original nos dá:

0 − 5A0 − 6(A0 X + A1 ) = 3x + 4

e, identificando os termos semelhantes, chegamos ao sistema algébrico:

− 6A0 = 3

− 6A1 − 5A0 = 4 (3.15)

de onde segue A0 = −1/2 e A1 = −1/4.

Consequentemente a solução particular do problema é


1 1
yP (x) = − x −
2 4
e a solução geral desta EDO é
1 1
y(x) = C1 e6x + C2 e−x − x− .
2 4

• 2do Caso: Quando b(x) é do tipo

b(x) = (a0 + a1 x + · · · + ak xk ) eα x

admitiremos como solução particular a função

yP (x) = (A0 + A1 x + · · · + Ak xk ) eα x

Exemplo 3.7. Encontre a solução particular da EDO y ′′ + 4y ′ + 4y = (x + 2) e2x

Sol.: A solução do problema homogêneo é

yH (x) = C1 e−2x + C2 x e−2x .

Por outro lado, ja que b(x) = (x + 2) e2x uma suposta solução particular será da forma
yP (x) = (Ax + B) e2x = A e2x x + B e2x . Logo, substituindo yP no problema temos
que:

[2A + 2A + 4Ax + 4B] e2x + 4[A + 2Ax + 2B] e2x + 4(Ax + B) e2x = (x + 2) e2x

42
Comparando as constantes das variáveis da mesma ordem, resulta que

8A + 16B = 2

16A = 1. (3.16)

Assim, A = 1/16 e B = 3/32. Portanto, a solução geral da EDO proposta é:

1 3 2x
y(x) = C1 e−2x + C2 x e−2x + x e2x + e .
16 32

• 3er Caso: Quando b(x) for do tipo

b(x) = (a0 + a1 x + · · · + ak xk ) eα x sen βx

ou

b(x) = (b0 + b1 x + · · · + bj xj ) eα x cos βx

a solução particular é da forma:

yP (x) = (A0 + A1 x + · · · + Ak xk ) eα x sen βx + (B0 + B1 x + · · · + Bj xj ) eα x cos βx

Exemplo 3.8. Ache a solução particular da EDO y ′′ − y ′ − 2y = sen 2x

Sol.: A solução do problema homogêneo é

yH (x) = C1 e2x + C2 e−x .

Como b(x) = sen 2x, então suporemos que a solução particular yP é da forma:

yP (x) = A sen 2x + B cos 2x,

a qual levada a EDO original nos dá:

(−4A sen 2x−4B cos 2x)−(2A cos 2x−2B sen 2x)−2(A sen 2x+B cos 2x) = sen 2x

e, identificando os termos semelhantes, chegamos ao sistema algébrico:

− 6A + 2B = 1

− 2A − 6B = 0 (3.17)

43
de onde segue A = −3/20 e B = 1/20.

Consequentemente a solução particular do problema é


3 1
yP (x) = − sen 2x + cos 2x.
20 20
Portanto, a solução geral desta EDO é
3 1
y(x) = C1 e2x + C2 e−x − sen 2x + cos 2x.
20 20

• 4er Caso: (Generalização) Quando a função b(x) é a soma (ou diferença) de


funções dos casos anteriores, admitimos para solução particular yP (x) a soma (ou
diferença) das supostas soluções correspondentes.

Quando algum termo da suposta solução particular yP (x), sem considerar


as constantes multiplicativas, coincidir com algum termo da solução geral
yH (x) da EDO homogênea associada, a solução yP (x) deve ser modificada,
multiplicando-a pelo peso xm , de modo que elimine tal coincidência. Isto,
afasta a possibilidade de chegarmos a igualdades óbvias do tipo 0 = 0, ou
um sistema algébrico sem soluções.

Exemplo 3.9. Ache a solução geral da EDO y ′′ + y = sen x.

Sol.: Observando que a solução da equação incompleta é yH = C1 cos x + C2 sen x, e


inspirados no caso das raı́zes repetidas, tentaremos para nossa solução particular:

yP (x) = A0 x cos x + A1 x sen x.

substituindo yP na EDO original temos

(A0 x cos x + A1 x sen x)′′ + A0 x cos x + A1 x sen x = sen x

logo
−2A0 sen x + 2A1 cos x = sen x.

Assim, identificando os termos semelhantes, chegamos ao sistema algébrico:

A0 = −1/2

A1 = 0

44
de onde segue que a solução geral desta EDO é
1
y(x) = C1 cos x + C2 sen x − x sen x
2
Exemplo 3.10. Ache a solução geral da EDO y ′′ − 3y ′ + 2y = ex − 2e2x + sen x.

Sol.: A solução do problema homogêneo é

yH (x) = C1 ex + C2 e2x ,

e, de acordo com a descrição do método, a solução particular deveria ser do tipo


A ex + B e2x + C sen x + D cos x, que contém termos idênticos aos que aparecem na
solução yH (x). Logo, será necessário substituir a solução particular pela função:

yP (x) = A xex + B xe2x + C sen x + D cos x.

Assim, substituindo yP na EDO original temos

ex − 2e2x + sen x =[A(2 + x)ex + B(4 + 4x)e2x − C sen x − D cos x]

− 3[A(1 + x)ex + B(1 + 2x)e2x + C cos x − D sen x]

+ 2[A xex + B xe2x + C sen x + D cos x]

e, identificando os termos semelhantes, chegamos ao sistema algébrico:

−A = 1

B = −2

3D + C = 1 (3.18)

D − 3C = 0

de onde segue A = −1, B = −2, C = 1/10 e D = 3/10.

Consequentemente a solução particular do problema é


1 3
yP (x) = −xex − 2 xe2x + sen x + cos x.
10 10

Portanto, a solução geral desta EDO é


1 3
y = C1 ex + C2 e2x − xex − 2 xe2x + sen x + cos x.
10 10

45
3.3 EDO Completa com Coeficientes Variáveis

As equações lineares completas com coeficientes variáveis da forma

L[y] = y (n) + a1 (x) y (n−1) + · · · + an−1 (x)y ′ + an y = b(x), (3.19)

serão tratadas pelo Método de Variação de Parâmetros (MVP) que, a grosso modo,
pode ser visto como generalização do Método de Coeficientes a Determinar.

3.3.1 Método de Variação de Parâmetros (MVP)

Consideremos a equação de segunda ordem

L[y] = y ′′ + a1 (x) y ′ + a2 (x)y = b(x), (3.20)

Seja B = {y1 , y2 } uma base do espaço de soluções da eq. incompleta L[y] = 0 associada
à EDO (3.19), então y = C1 y1 + C2 y2 é solução geral da eq. incompleta L[y] = 0.

Admitindo que as constantes C1 , C2 são parâmetros que dependem de x, isto é:


C1 = C1 (x), C2 = C2 (x), então:

y ′ = C1′ y1 + C1 y1′ + C2′ y2 + C2 y2′ .

Escolhendo C1 (x), C2 (x) de modo que:

C1′ y1 + C2′ y2 = 0,

temos que:

y ′ = C1 y1′ + C2 y2′

y ′′ = C1′ y1′ + C1 y1′′ + C2′ y2′ + C2 y2′′ . (3.21)

Logo, substituindo (3.21) na equação (3.20) temos

(C1′ y1′ + C1 y1′′ + C2′ y2′ + C2 y2′′ ) + a1 (x)(C1 y1′ + C2 y2′ ) + a2 (x)(C1 y1 + C2 y2 ) = b(x)

C1 (y1′′ + a1 (x) y1′ + a2 (x) y1 ) + C2 (y2′′ + a1 (x) y2′ + a2 (x) y2 ) + C1′ y1′ + C2′ y2′ = b(x).

46
Como y1 , y2 são soluções da equação L[y] = 0, então a última equação se reduz a
expressão:

C1′ y1′ + C2′ y2′ = b(x).

Consequentemente, da hipótese inicial e do anterior temos que

C1′ y1 + C2′ y2 = 0

C1′ y1′ + C2′ y2′ = b(x),

ou equivalentemente, em forma matricial


    

y y C 0
 1 2  1 =  . (3.22)
y1′ y2′ C2′ b(x)
 
y1 y2
Se W = det   6= 0, então
y1′ y2′
   −1       
′ ′
C y y 0 y −y2 0 −b(x) y2
 1 =  1 2  = 1  2  = 1  
C2′ ′ ′
y1 y2 b(x) W ′
−y1 y1 b(x) W b(x) y1

Portanto,

1 1
C1′ (x) = − b(x) y2 (x) e C2′ (x) = b(x) y1 (x)
W W

ou

1 1
Z Z
C1 (x) = − b(x) y2 (x) dx e C2 (x) = b(x) y1 (x) dx
W W

Consequentemente a solução particular de (3.20) é


 Z  Z 
1 1
yP (x) = − b(x) y2 (x) dx y1 + b(x) y1 (x) dx y2 (3.23)
W W

Exemplo 3.11. Determine a solução geral da eq. completa y ′′ + y = tan x.

Sol.: Observa-se que a solução da equação y ′′ + y = 0 é:

yH (x) = C1 cos x + C2 sen x,

47
onde {cos x, sen x} é um conjunto LI no espaço das soluções do problema homogêneo
associado, isto pois o wronskiano
 
cos x sen x
W = det   = 1 6= 0
− sen x cos x

Consequentemente,
 Z  Z 
yP (x) = − tan x sen x dx cos x + tan x cos x dx sen x
 Z  Z 
2
= tan x cos x − cos x sec x dx cos x + sen x dx sen x
 Z 
= sen x − sec x dx cos x − cos x sen x
 
= sen x − ln | sec x + tan x| cos x − cos x sen x

= − ln | sec x + tan x| cos x (3.24)

Exemplo 3.12. Determine a solução geral da eq. completa

(1 − x) y ′′ + x y ′ − y = ex (1 − x)2 , ∀x>1

sabendo que B = {x, ex } forma uma base do espaço de soluções da eq. homogênea
associada.

Sol.: A EDO proposta equivale a resolver a equação diferencial


x 1
y ′′ + y′ − y = ex (1 − x), (3.25)
1−x 1−x
onde B é uma base do espaço de soluções da equação
x 1
y ′′ + y′ − y = 0. (3.26)
1−x 1−x
Logo,

yH (x) = C1 x + C2 ex .

Como o wronskiano é:


 
x
x e
W = det   = (x − 1) ex 6= 0
x
1 e

48
então, a solução particular é dada por
 Z  Z 
1 x x 1
yP (x) = − e (1 − x) e dx x + e (1 − x) x dx ex
x
(x − 1) ex (x − 1) ex
Z  Z 
x
= e dx x − x dx ex

x2 x
= x ex − e . (3.27)
2

Portanto, a solução geral de (3.25) é:


x2 x
y(x) = C1 x + C2 ex + x ex − e . (3.28)
2
Exemplo 3.13. Determine a solução geral da eq. completa y ′′′ − 2y ′′ − y ′ + 2y = ex .

Sol.: Uma base do espaço de soluções da equação homogênea associada é B = {e−x , ex , e2x }
cujo wronskiano é:
 
−x x 2x
e e e
 
 −x x 2x 2x
W = det −e e 2e  = 6e 6= 0.

 
e−x ex 4e2x
Usando o método de Variação de Parâmetros temos que

yP = C1 (x) e−x + C2 (x) ex + C3 (x) e2x , (3.29)

sendo C1′ (x), C2′ (x), C3′ (x) as soluções do sistema

C1′ (x) e−x + C2′ (x) ex + C3′ (x) e2x = 0

−C1′ (x) e−x + C2′ (x) ex + 2C3′ (x) e2x = 0 (3.30)

C1′ (x) e−x + C2′ (x) ex + 4C3′ (x) e2x = ex .

Calculando estas soluções temos:


   −1    T  
′ −x x 2x 3x x
C (x) e e e 0 2e 6e −2 0
 1      1    
 ′   −x x
C2 (x) = −e e 2e2x   0  = 2x −5e3x 3ex 0   0  (3.31)
      
      6e    
′ −x x 2x
C3 (x) e e 4e ex e3x −3ex 2 ex

        
′ 3x 3x 3x 4x 1 2x
C (x) 2e −5e e 0 e e
 1  1    1    6 
 ′   x
C2 (x) = 2x  6e x x 2x 1
3e −3e   0  = 2x −3e  =  − 2  (3.32)
      
  6e     6e    
1 −x
C3′ (x) −2 0 2 ex 2ex 3
e

49
Integrando obtemos

1 2x x 1
C1 (x) = e , C2 (x) = − , C3 (x) = − e−x . (3.33)
12 2 3

Logo, a solução particular é dada por

1 2x −x x x 1 −x 2x
yP (x) = e e − e − e e
12 2 3
1 x x x 1 x
= e − e − e
12 2 3
1 x x x
=− e − e . (3.34)
4 2

Portanto, a solução geral é:

1 x x x
y(x) = C1 e−x + C2 ex + C3 e2x − e − e . (3.35)
4 2

3.4 Exercı́cios

1. Determine a solução geral de cada uma das equações.

(a) y ′′ − y = 0 (e) y ′′′ − 3y ′′ − 3y ′ + y = 0

(b) y ′′ − 2y ′ − 8y = 0 (f) y ′′′ + 10y ′′ + 25y ′ = 0

(c) y ′′ − 2y ′ + 3y = 0 (g) y (4) + 2y ′′ + y = 0

(d) y ′′ + 3y ′ − 10y = 0 (h) y (5) − 2y (4) + 17y ′′′ = 0.

2. Determine a solução geral de cada uma das equações.

(a) y ′′′ + 5y ′ = 0 (d) y (5) + 16y ′ = 0

(b) y (4) − 7y ′′ − 18y = 0 (e) y (5) + 5y (4) − 2y ′′′ − 10y ′′ + y ′ + 5y = 0

(c) y (4) + 2y ′′ + y = 0 (f) y ′′′ + 12y ′′ + 36y ′ = 0

3. Resolva as seguintes equações diferenciais sujeitas às condições iniciais indicadas.

(a) y ′′ + 16y = 0; y(0) = 2, y ′ (0) = −2 (d) y ′′ − y = 0; y(0) = 1, y ′(0) = 1

(b) y ′′ + 6y ′ + 5y = 0; y(0) = 0, y ′(0) = 3 (e) y ′′ + y = 0; y(0) = 0, y ′ (0) = −1,


d4 y
(c) y ′′′ − 8y = 0; (f) = 0; y(0) = 2, y ′(0) = 3,
dx
y(π/3) = 0, y ′(π/3) = 2, y ′′ (π/3) = 0 y ′′(0) = 4, y ′′′(0) = 5

50
4. Determine a solução geral de cada uma das equações usando o método dos coe-
ficientes a determinar (MCD).

(a) y ′′ + 3y ′ − 10y = 6e4x (d) y ′′ + 4y ′ + 8y = x + ex

(b) y ′′ − y ′ − 6y = 20e−2x (e) y ′′ − 3y ′ + 2y = 14 sen 2x − 18 cos 2x

(c) y ′′ − 2y ′ + 5y = 25x2 + 12 (f) y ′′ − 2y ′ + 2y = ex sen x.

5. Encontre a solução do problema de valor inicial

y (4) − y ′′′ − y ′′ − y ′ − 2y = 8x5

com as condições iniciais y(0) = y ′(0) = y ′′ (0) = y 3 (0) = 0

6. Seja a equação mx′′ +kx = F0 cos wt que descreve oscilações não amortecidas
de um sistema mecânico massa-mola. Ache a solução geral para esta equação.

7. Resolva o problema de valor inicial:


y ′′ + 9y = 80 cos 5x , y(0) = y ′ (0) = 0.

8. Determine a solução geral de cada uma das equações usando o método de variação
dos parâmetros (MVP).

(a) y ′′ + 2y ′ + y = e−x ln x (e) y ′′ + y = sec x tan x

(b) y ′′ − 3y ′ + 2y = (1 + e−x )−1 (f) y ′′′ + y ′ = sec x

(c) y ′′ − 2y ′ − 3y = 64xe−x (g) y ′′ + y = sec x

(d) y ′′ − y ′ = tan 2x (h) x2 y ′′ − 2y = (x − 1)x−2 , y1 = 1/x, y2 = x2 .

51
Capı́tulo 4

Sistema de Equações Diferenciais


Lineares

Um sistema de equações diferenciais ordinárias é um conjunto de equações que en-


volve dois ou mais variáveis dependentes que dependem de uma variável independente.

No decorrer deste capı́tulo, trabalharemos apenas com sistemas lineares com Coe-
ficientes Constantes.

4.1 Sistemas Homogêneos de 1ra Ordem

Consideremos o sistema de n-equações diferenciais com coeficientes reais





 x′1 = a11 x1 + a12 x2 + ... + a1n xn


x′2 = a21 x1 + a22 x2 + ... + a2n xn






.


(4.1)


 .


.






 x′ = a x + a x + ... + a x

n n1 1 n2 2 nn n

Em forma matricial, escreve-se (4.1) da forma:

X′ = A X, (4.2)

52
onde
 
  a11 a12 . . . a1n
x  
 1  
a21 a22 . . . a2n 

 ..  
X= .  e A= .. .. .. 
 .
. . ... . 
  

xn  
an1 an2 . . . ann
n×n

O sistema (4.2) é chamado de Sistema Linear Homogêneo de Primeira Or-


dem, cuja solução em um intervalo I é qualquer vetor X cujos elementos são diferen-
ciáveis que verificam o sistema (4.2) no intervalo.

Definição 4.1. Qualquer conjunto X1 , X2 , . . . , Xn de n-vetores solução linearmente


independentes do sistema homogêneo (4.1) em um intervalo aberto I (isto é, onde o
Wronskiano W (X1 , X2 , . . . , Xn ) 6= 0 para t ∈ I) é chamado um conjunto funda-
mental de soluções no intervalo. A matriz
   
x x12 · · · x1n x
 11   1i 
h i  x21 x22 · · · x2n 
 
 x2i 
 
Φ = X1 X2 · · · Xn =   .. ..  , onde Xi =  .. 
   (4.3)
 . .   . 
   
xn1 xn2 · · · xnn xni

é chamada uma matriz fundamental do sistema no intervalo.

Teorema 4.1. (Princı́pio de Superposição) Sejam X1 , X2 , . . . , Xn n-soluções L.I.


do sistema homogêneo (4.1) no intervalo aberto I. Se c1 , c2 , . . . , cn são constantes,
então a combinação linear X = c1 X1 + c2 X2 + · · · + cn Xn é também solução de
(4.1) em I.

Definição 4.2. Seja X1 , X2 , . . . , Xn um conjunto fundamental de soluções do sis-


tema homogêneo (4.1) em um intervalo I. Define-se a solução geral do sistema no
intervalo como
 
c
 1
 c2 
 
X = c1 X1 + c2 X2 + · · · + cn Xn = ΦC, C=
 .. 
 (4.4)
.
 
cn

onde Φ é a matriz fundamental e os ci são constantes arbitrárias.

53
Teorema 4.2. (Existência de uma solução única) Seja t0 um ponto pertencente
ao intervalo I, tal que

 X′ = A X
(4.5)
 X(t ) = X
0 0

Então, existe uma única solução X(t) definida em I que satisfaz o problema de valor
inicial (4.5).

A Partir de (4.4) temos que X(t) = Φ(t)C. Logo, substituindo a condição inicial
X(t0 ) = X0 , encontramos que

X(0) = Φ(0)C

X0 = Φ(0)C

C = Φ(0)−1 X0

Portanto, a solução do problema de valor inicial homogêneo é dado por


X(t) = Φ(t)Φ(0)−1 X0 .

Para determinarmos uma solução geral X que satisfaza (4.2) usaremos um método
análogo ao que foi empregado para resolver equações lineares de 1ra ordem incompletas
com coeficientes constantes. Isto é, procuramos soluções de (4.2) da forma:

X(t) = ~v eλ t (4.6)

onde o expoente λ e o vetor constante ~v são grandezas a determinar.

Substituindo (4.6) em (4.2) temos λ ~v eλ t = A(~v eλ t ) ⇒ λ ~v = A(~v), logo

(A − λI) ~v = 0. (4.7)

Note-se da última identidade que o problema agora consiste em achar os autovalores λ


e autovetores ~v associados à matriz A.

4.1.1 Autovalores Reais Distintos

Como consequência do Principio de Superposição temos que, a solução corres-


pondente ao sistema (4.1) quando a matriz A tem n-autovalores reais diferentes (λ1 6=

54
λ2 6= · · · =
6 λn ) é da forma

X(t) = c1 −
→ eλ1 t + c −
v1
→ λ2 t + · · · + c −
2 v2 e
→ λn t
n vn e (4.8)

onde −
→, −
v → −

1 v2 , . . . , vn são os correspondentes autovetores de λ1 , λ2 , . . . , λn .

Exemplo 4.1. Ache a solução geral do sistema


 
1 1
X′ =   X.
4 1

Sol.: Suponhamos que X(t) = ~v eλt é uma solução do sistema, logo


    
1−λ 1 v 0
(A − λ I) ~v =   1  =  . (4.9)
4 1−λ v2 0

O polinômio caracterı́stico será denotado por p(λ), que é o determinante da matriz


associada à equação caracterı́stica. Assim p(λ) = (1 − λ)2 − 4, isto é

p(λ) = (1 − λ)2 − 4 = 1 − 2λ + λ2 − 4 = λ2 − 2λ − 3 = (λ + 1)(λ − 3) = 0

Portanto, os autovalores de A, que são as raı́zes da equação caracterı́stica, são: λ1 = −1


e λ2 = 3.

Para cada um destes autovalores precisamos calcular previamente os autovetores ~v


associados.

Assim, em (4.9) substituindo o valor de λ1 temos:


     
2 1 v1 0
(A − λ1 I) ~v =  · =  ⇒ v2 = −2v1
4 2 v2 0
   
v1 1
Logo, o autovetor ~v é do tipo   = v1  .
−2v1 −2
Note que o auto-espaço
 associado
 a λ1 é Sλ1 = [(1, −2)]. Portanto, uma solução
1
do sistema é X1 (t) =   e−t .
−2

55
Por outro lado, calculando o autovetor ~v associado ao autovalor λ2 do sistema (4.9)
temos:
     
−2 1 v1 0
(A − λ2 I) ~v =   .  =  ⇒ v2 = 2v1
4 −2 v2 0
   
v1 1
Logo, o autovetor ~v é do tipo   = v1   .
2v1 2
Note que o auto-espaço
 associado a λ2 é Sλ2 = [(1, 2)]. Portanto, uma solução do
1
sistema é X2 (t) =   e3t .
2

Assim, a solução do sistema proposto constitue um conjunto fundamental L.I de


soluções (W [X1 , X2 ] 6= 0). Logo, a solução geral do sistema é:
   
1 1
X(t) = c1 X1 (t) + c2 X2 (t) = c1   e−t + c2   e3t .
−2 2

4.1.2 Autovalores Complexos

Mesmo se alguns dos autovalores são complexos, desde que sejam distintos, o método
descrito anteriormente, ainda fornece n-soluções linearmente independentes. A única
complicação é que os autovetores associados aos autovalores complexos, são normal-
mente complexos, assim, teremos soluções complexas.

Teorema 4.3. (Soluções complexas correspondentes a autovalores complexos)


Seja A a matriz de coeficientes do sistema homogêneo (4.2) e seja v um autovetor cor-
respondente ao autovalor complexo λ = α + iβ, com α e β reais (v o autovetor
conjugado correspondente ao autovalor conjugado λ̄). Então,

X1 (t) = v.eλt e X2 (t) = v.eλ̄t

são soluções complexas de (4.2).

Exemplo 4.2. Encontre as soluções complexas do sistema



 dx = 6x − y

dt
dy

 = 5x + 4y
dt

56
Sol.: Os autovalores são as raı́zes do polinômio caracterı́stico

6 − λ −1

p(λ) = det(A − λI) =
5 4−λ

= (6 − λ)(4 − λ) + 5 = λ2 − 10λ + 29 = 0. (4.10)

Assim, os autovalores são: λ1 = 5 + 2i e λ2 = 5 − 2i.

Para λ1 = 5 + 2i, vemos que seu autovetor associado v = (v1 , v2 ) é solução do


sistema
     
1 − 2i −1 v 0  (1 − 2i)v − v = 0 v1 = 1
  1  =   ⇔ 1 2

5 −1 − 2i v2 0  5v − (1 + 2i)v = 0
1 2 v2 = 1 − 2i
 
1
Portanto o autovetor v associado a λ1 é:  .
1 − 2i
Em conseqüência do Teorema 4.3, as duas soluções complexas do sistema, são
   
1 1
X1 =   e(5+2i)t e X2 =   e(5−2i)t .
1 − 2i 1 + 2i

Teorema 4.4. (Soluções reais correspondentes a um autovalor complexo)


Seja λ = α + iβ um autovalor complexo da matriz A de coeficientes reais no sistema
homogêneo (4.2) e v seu autovetor correspondente.
1 i
Se B1 = Re(v) = [v + v̄] e B2 = Im(v) = [−v + v̄], então:
2 2

X1 = Re(veαt ) = (B1 cos βt − B2 sen βt) eαt (4.11)

X2 = Im(veαt ) = (B2 cos βt + B1 sen βt) eαt (4.12)

são soluções reais linearmente independentes do sistema homogêneo (4.2).

Exemplo 4.3. Ache uma solução geral real do sistema



 dx = 6x − y

dt
dy

 = 5x + 4y
dt

Sol.: No exemplo anterior, vimos que:

57
     
1 1 0
Para λ1 = 5 + 2i seu autovetor associado é:  =  +i   e
1 − 2i 1 −2
     
1 1 0
para λ2 = λ̄1 = 5 − 2i seu autovetor associado é:  =  +i  .
1 + 2i 1 2
Em conseqüência do Teorema 4.4, as duas soluções reais do sistema são:
    !  
1 0 cos 2t
X1 =   cos 2t −   sen 2t e5t =   e5t (4.13)
1 −2 cos 2t + 2 sen 2t
    !  
0 1 sen 2t
X2 =   cos 2t +   sen 2t e5t =   e5t . (4.14)
−2 1 −2 cos 2t + sen 2t

Usando o princı́pio da superposição, concluimos que a solução geral do sistema é:


   
cos 2t sen 2t
X = c1   e5t + c2   e5t .
cos 2t + 2 sen 2t −2 cos 2t + sen 2t

4.1.3 Autovalores Repetidos

Seja A a matriz n × n de coeficientes do sistema homogêneo (4.2). Se λ é um


autovalor de multiplicidade m (m ≤ n), distinguimos duas possibilidades:

1. Existem m autovetores linearmente independentes −


→, −
v → −→
1 v2 , . . . , vm correpondentes

ao autovalor λ. Neste caso, a solução geral do sistema contém a combinação


linear

c1 −
→ eλt + c −
v1
→ λt −→ λt
2 v2 e + · · · + cm vm e .

2. Se há apenas um autovetor correspondendo ao autovalor λ de multiplicidade m.


Este caso não será tratado pois requer de um estudo mais detalhado.

Exemplo 4.4. Ache uma solução geral do sistema

dx
  

 = 9x + 4y 9 4 0
 dt


dy
 
= −6x − y ou X′ = −6 −1 0 X
 
 dt  
 dz = 6x + 4y + 3z

6 4 3


dt

58
Sol.: Os autovalores são as raı́zes do polinômio caracterı́stico

9−λ 4 0


p(λ) = det(A − λI) = −6 −1 − λ 0


6 4 3−λ

= (λ − 5)(λ − 3)2 = 0. (4.15)

Assim, os autovalores são: λ1 = 5 e λ2 = λ3 = 3 (λ2 de multiplicidade 2).

Para λ1 = 5, vemos que o sistema


      
4 4 0 v 0  1
  1     v = −v  
1 2
 −6 −6 0   v2  =  0  ⇔ ⇔ ~v = v1 −1
      
      v =v  
1 3
6 4 −2 v3 0 1

Para λ2 = 3, vemos que o sistema


      
 
6 4 0 v 0 1 0
  1       
 −6 −4 0   v2  =  0  ⇔ 3v1 = −2v2 ⇔ ~v = v1 −3/2 + v3 0
        
        
6 4 0 v3 0 0 1
 
2
 
Considerando v1 = 2 e v3 = 0 temos o autovetor associado a λ2 ,  −3 .
 
 
0
 
0
 
Quando v1 = 0 e v3 = 1 temos outro autovetor associado a λ2 , dado por:  0 .
 
 
1
Como o conjunto de vetores {(1, −1, 1), (2, −3, 0), (0, 0, 1)} são linearmente in-
dependentes, usando o princı́pio da superposição, concluimos que a solução geral do
sistema é:
     
1 2 0
     
X(t) = c1  −1  e5t + c2  −3  e3t + c3
  3t
 0 e .
   
     
1 0 1

4.1.4 Exercı́cios

1. Achar a solução geral do sistema de equações

59
 
  5 5 2
5 −1  
(a) X′ =  X (b) X′ = −6 −6 −5 X
 
0 3  
6 6 5
 
1 0 0  

  1 −10
(c) X = 2 1 −2 X (d) X′ =  X
 
  −7 10
3 2 1

2. Resolver o problema de valor inicial proposto


       
5 −1 2 −2 1 1
(a) X′ =   X, X(0) =   (d) X′ =   X, X(0) =  
3 1 −1 −5 4 3
       
1 −5 1 −3 2 1
(b) X′ =   X, X(0) =   (e) X′ =   X, X(0) =  
1 −3 1 −1 −1 −2
       
1 1 2 2 0 0 −1 7
       
(c) X′ =  0 2 2 X, X(0) = 0 (f) X′ =  2 0 0  X, X(0) = 5
       
       
−1 1 3 1 −1 2 4 5

3. Resolver o problema de valor inicial proposto


   
3 −4 3
(a) X′ =   X, X(0) =  
4 −7 2
   
−5/2 1 1 2
   
(b) X′ =  1 −5/2 1  X, X(0) =  3 
   
   
1 1 −5/2 −1

4.2 Sistemas Não Homogêneos de 1ra Ordem

Um sistema linear de primeira ordem não homogenêo é da forma

X′ = AX + B(t), (4.16)

onde B(t) é contı́nua em um intervalo I.

Uma solução geral de (4.16) é da forma:

X(t) = Xh (t) + Xp (t), (4.17)

60
onde Xh é a solução geral do sistema homogêneo X′ = AX e Xp é uma solução
particular de (4.16).

Teorema 4.5. (Existência de uma solução única) Suponhamos B(t) uma função
contı́nua em um intervalo I que contenha o ponto t0 . Então, existe uma única solução
X(t) definida em I que satisfaz o problema de valor inicial

 X′ = A X + B(t)
(4.18)
 X(t ) = X
0 0

Cálculo da Solução Particular Xp : Dois métodos podem ser usados

1. Coeficientes Indeterminados

2. Variação de Parâmetros

4.2.1 Coeficientes Indeterminados

Este método é restrito a sistemas lineares de equações com coeficientes constantes da


forma

X′ = AX + B(t) (4.19)

onde A é uma matriz constante n × n e B(t) é uma combinação linear de productos


de polinômios, funções exponênciais e senos e cosenos.

Exemplo 4.5. Encontre uma solução geral do sistema


  ′     
 x′ = 4x + 2y − 8t x 4 2 x −8t
⇔   =   +   (4.20)
 y ′ = 3x − y + 2t + 3 y 3 −1 y 2t + 3

Sol.: Desde que a solução geral é X = Xh + Xp procederemos em duas etapas.

1ra Etapa: Para calcular a solução Xh determinamos as raı́zes do polinômio caracte-


ristico
   !
4 2 1 0
p(λ) = det(A−λ I) = det   −λ   = (λ+1)(λ−4)−6 = (λ−5)(λ+2)
3 −1 0 1

61
Assim, temos para λ = 5 que:
      
−1 2 v 0 2
(A − λI)~v =    1 =   ⇒ v1 = 2v2 ⇒ ~v = v2   .
3 −6 v2 0 1

Analogamente, para λ = −2,


      
6 2 v1 0 1
(A − λI)~v =    =   ⇒ v2 = −3v1 ⇒ ~v = v1  .
3 1 v2 0 −3

Portanto,
   
2 1
Xh (t) = c1   e5t + c2   e−2t .
1 −3

 
xp (t)
2da Etapa: Suponhamos que a solução particular é da forma Xp =   = ~a t + ~b,
yp (t)
   
a1 b1
onde ~a =   e ~b =   . Então:
a2 b2
      
a1 4 2 a t + b1 −8t
X′p =   =   1 + 
a2 3 −1 a2 t + b2 2t + 3
     
4a1 + 2a2 4b + 2b2 −8t
= t +  1 + 
3a1 − a2 3b1 − b2 2t + 3
   
4a1 + 2a2 − 8 4b1 + 2b2
= t +  . (4.21)
3a1 − a2 + 2 3b1 − b2 + 3

Portanto,
 
 4a + 2a = 8  4b + 2b = a1
1 2 1 2
e (4.22)
 3a − a = −2  3b − b + 3 = a
1 2 1 2 2

Resolvendo o sistema anterior resulta que

a1 = 2/5 b1 = 2/25 (4.23)

a2 = 16/5 b2 = 1/25 (4.24)

62
 
2/5 t + 2/25
Consequentemente, Xp (t) =  
16/5 t + 1/25
Concluı́mos de ambas etapas que:
     
2 1 2/5 t + 2/25
X(t) = c1   e5t + c2   e−2t +  .
1 −3 16/5 t + 1/25

4.2.2 Variação de Parâmetros

Seja Xh uma solução do problema homogêneo X′ = AX, onde

Xh (t) = c1 X1 (t) + c2 X2 (t) + · · · + cn Xn (t),

onde X1 , X2 , . . . , Xn são soluções fundamentais.

Denotemos
  por Φ(t) a matriz fundamental cujos vetores coluna são: X1 , X2 , . . . , Xn
c
 1
 .. 
e C =  . , então:
 
cn

Xh (t) = Φ(t) C ⇔ Φ′ (t) = A Φ(t). (4.25)

Uma solução Xp (particular) do sistema linear não homogenêo

X′ = AX + B(t) (4.26)

será asssumida da forma

Xp (t) = Φ(t) ~u(t).

O propósito agora é determinar ~u(t) de forma que Xp (t) satisfaça (4.26). Assim,

X′p (t) = Φ′ (t) ~u(t) + Φ(t) ~u′ (t) = AΦ(t) ~u(t) + B(t). (4.27)

Portanto, de (4.25) segue-se que

Φ(t) ~u′ (t) = B(t). (4.28)

63
Consequentemente,
Z Z
′ −1 −1
~u (t) = Φ (t)B(t) ⇒ u(t) = Φ (t)B(t) dt ⇒ Xp (t) = Φ(t) Φ−1 (t)B(t) dt.

(4.29)

Logo, a solução geral de (4.26) é da forma:

X(t) = Xh (t) + Xp (t)


Z
= Φ(t) C + Φ(t) Φ−1 (t)B(t) dt. (4.30)

Observação 4.1. Deve-se notar que:

1. A escolha da constante em (4.29) é irrelevante pois precisamos apenas de uma


solução particular.

2. Em problemas de valor inicial é convenienete escolher a constante de integração


de modo que Xp (0) = 0, e desta maneira integrar de 0 para t,
Z t
Xp (t) = Φ(t) Φ−1 (s)B(s) ds.
0

Desta maneira temos que a solução geral é


Z t
X(t) = Φ(t) C + Φ(t) Φ−1 (s)B(s) ds.
0

Exemplo 4.6. Ache a solução geral do PVI


   
4 2 15
X′ =   X −   t e−2t (4.31)
3 −1 4
 
1
X(0) =   (4.32)
−1

Sol.: Dividiremos a solução do exercı́cio em duas etapas:

1ra Etapa: (Solução do Problema Homogêneo X′ = AX).


 
4−λ 2
Calculando as raı́zes de p(λ) = det   = (λ − 5)(λ + 2) = 0, obtemos
3 −1 − λ
os autovalores λ1 = 5 e λ2 = −2.

64
   
2 → =  1 .
Para λ1 = 5 temos o autovetor −
→ =   e para λ = −2 o autovetor −
v1 2 v2
1 −3
Portanto,
      
5t −2t
2 1 2e e c
Xh (t) = c1   e5t + c2   e−2t =    1
1 −3 e5t −3e−2t c2

= Φ(t) C (4.33)

2da Etapa: (Solução Particular do Problema Não Homogêneo X′ = AX + B(t) ).


R
Pelo que foi visto, Xp (t) = Φ(t) Φ−1 (s) B(s) ds, sendo
 T  
−2t 5t −2t −2t
1 1 −3e −e
 =− 1 
−3e −e
Φ−1 (t) = [Cof Φ]T = 3t 3t

det Φ −7e −e −2t
2e 5t 7e −e 5t
2e5t
 
1 3e−2t e−2t 
= 3t . (4.34)
7e e5t −2e5t

Logo, uma solução particular é


    
5t −2t Z t −2s −2s −2s
2e e 1 3e e −15 s e
Xp (t) =  
3s
  ds
e5t
−3e −2t 0 7e e5s
−2e 5s
−4 s e−2s
   
2e5t e−2t 1 −49 s e−4s 
Z t
=  
3s
ds
e5t −3e−2t 0 7e −7 s e3s
   
2e5t e−2t −7 s e−7s
Z t
=    ds
5t −2t
e −3e 0 −s
   R 
5t −2t t −7s
2e e −7 0 s e ds
=  
t

e5t −3e−2t
R
− 0 s ds
   t 
−7s −7s
2e 5t
e−2t se + 1/7 e
=   t 0
5t −2t 2
e −3e −1/2 s
0
   
5t −2t −7t −7t
2e e t e + 1/7 e − 1/7
=   
5t −2t 2
e −3e −1/2 t
 
−2t 5t 2
e (2t + 2/7 − 2/7 e − 1/2 t )
=  (4.35)
−2t 5t 2
e (t + 1/7 − 1/7 e + 3/2 t )

65
Consequentemente a solução geral é:

X(t) = Xh (t) + Xp (t).

4.3 Sistemas Homogêneos de 2da Ordem

Consideremos o sistema de n-equações diferenciais com coeficientes constantes



 x′′1 = a11 x1 + a12 x2 + ... + a1n xn




x′′2 = a21 x1 + a22 x2 + ... + a2n xn






.


(4.36)


 .


.






 x′′ = a x + a x + ... + a x

n n1 1 n2 2 nn n

Em forma matricial, escreve-se (4.36) da forma:

X′′ = A X, (4.37)

onde
 
  a a ... a1n
x1  11 12 
 a21 a22 ... a2n 
   
X= .  e A= .
  
 . . . . 
   
xn  
an1 an2 ... ann
n×n

O sistema (4.37) é chamado de Sistema Linear Homogêneo de Segunda Ordem.

Para determinarmos uma solução de (4.37) usaremos uma solução tentativa da


forma:

X(t) = ~v eα t (4.38)

onde ~v é um vetor constante.

Então, X′′ (t) = α2 ~v eαt . Assim, substituindo em (4.37) tem-se α2 ~v eαt = A ~v eαt ,
o que implica que

A ~v = α2 ~v.

Portanto, X(t) = ~v eαt é solução de X′′ = AX, se e somente se, A ~v = α2 ~v.

66
4.3.1 Aplicações à Mecânica

Consideremos três massas ligadas uma a outra e a duas paredes por quatro molas,

Suponhamos que as massas deslizam sem atrito e que cada mola obedece a “lei de
Hooke”(sua extensão ou comprenssão x e força F de reação é relacionada pela formula
F = −kx).

Se os deslocamentos para a direita x1 , x2 , x3 das três massas (apartir de suas


posições de equilibrio) são todos positivos, então:

• A primeira mola está esticada da distância x1 ;

• A segunda mola está esticada da distância x2 − x1 ;

• A terceira mola está esticada da distância x3 − x2 ;

• A quarta mola está comprimida da distância x3 .

Portanto, aplicando a 2da lei de Newton (ma = F ), temos para as três massas suas
equações de movimento

m1 x′′1 = −k1 x1 + k2 (x2 − x1 ) = −(k1 + k2 )x1 + k2 x2

m2 x′′2 = −k2 (x2 − x1 ) + k3 (x3 − x2 ) = k2 x1 − (k2 + k3 )x2 + k3 x3 (4.39)

m3 x′′3 = −k3 (x3 − x2 ) − k4 x3 = k3 x2 − (k3 + k4 )x3


   
x m 0 0
 1  1 
Chamando X = x2  o vetor deslocamento, de M =  0 m2 0  a matriz de
   
   
x3 0 0 m3

67
 
−(k1 + k2 ) k2 0
 
massa, e a matriz de rigidez de K =  k2 −(k2 + k3 ) k3  temos que
 
 
0 k3 −(k3 + k4 )
(4.39) toma a forma matricial

MX′′ = KX.

Como o det M = m1 m2 m3 6= 0, então existe M−1 , logo

X′′ = M−1 KX.

Chamando A = M−1 K temos um sistema matricial de 2da ordem homogêneo, da forma

X′′ = AX. (4.40)

Logo, X(t) = ~v eαt é uma solução de (4.40) se e somente se

A ~v = α2 ~v. (4.41)

Portanto, λ = α2 é um autovalor de A e ~v um autovetor associado.

Como X′′ = AX modela um sistema mecânico, é tı́pico que os autovalores sejam


p
números reais negativos. Se λ = α2 < 0 ⇒ α = ±i |λ|.

Portanto,
√ h p p i
X(t) = ~v eαt = ~v e−i |λ| t = ~v cos |λ| t + i sen |λ| t (4.42)

As partes real e imaginaria são:


p p
x1 (t) = cos |λ| t e x2 (t) = sen |λ| t.

Então,
h √ √ i
X(t) = c1 cos λ t + c2 sen λ t ~v (4.43)

Teorema 4.6. Se a matriz A ∈ Mnxn tem autovalores negativos distintos −w12 , −w22 ,
. . . , −wn2 com autovetores associados ~v1 , ~v2 , . . . , ~vn , então a solução geral de X′′ = AX
é dada por:
n
X
X(t) = [aj cos wj t + bj sen wj t] ~vj (4.44)
j=1

68
onde aj e bj são números reais. No caso especial que de um autovalor nulo não-repetido
λ0 = 0 com autovetor associado ~v0 , a parte correspondente da solução geral é:

X0 (t) = (a0 + b0 t)~v0 (4.45)

Importante


• A frequência natural interna é definida por ωi = −λi ∈ R, onde λi é um
autovalor de A.
2π 2π
• O perı́odo é definido por P = =√ .
ωi −λi
Exemplo 4.7. Ache a solução do sistema massa mola MX′′ = KX, quando m1 =
2, m2 = 1, k1 = 100, k2 = 50.

Como não há uma terceira mola ligada a uma parede direita, no sistema (4.39)
fazemos k3 = 0. Assim,

m1 x′′ (t) = −(k1 + k2 )x(t) + k2 y(t) = −150 x(t) + 50 y(t)

m2 y ′′ (t) = k2 x(t) − k2 y(t) = 50 x(t) − 50 y(t), (4.46)

ou dito de outra forma,


     
2 0 −150 50 x
  X′′ =   X, onde X =   . (4.47)
0 1 50 −50 y

Resolvendo este sistema obtemos:


 −1       
2 0 −150 50 1 0 −150 50 −75 25
X′′ =    X = 1   X =   X.
0 1 50 −50 2 0 2 50 −50 50 −50

69
Então,

X(t) = ~v eα t onde A~v = α2 ~v.

Calculando os autovalores através do polinômio caracterı́stico p(λ) = det(A − λ I) = 0,


obtemos
 
−75 − λ 25
det  =0 ⇔ λ = −100 ou λ = −25.
50 −50 − λ

Para λ = −100 temos que o autovetor ~v = (v1 , v2 ) é solução do sistema


          
25 25 v1 0 v1 v1 1
(A + 100 I)~v =     =   ⇔ ~v =   =   = v1   .
50 50 v2 0 v2 −v1 −1

Para λ = −25 temos que o autovetor ~v = (v1 , v2 ) é solução do sistema


          
−50 25 v 0 v v 1
(A + 25 I)~v =    1  =   ⇔ ~v =  1  =  1  = v1   .
50 −25 v2 0 v2 2v1 2

Consequentemente, pelo Teorema 4.6


   
1 1
X(t) = (a1 cos 10t + b1 sen 10t)   + (a2 cos 5t + b2 sen 5t)   . (4.48)
−1 2

4.4 Sistemas Não Homogêneos de 2da Ordem

Suponha agora que a i-ésima massa de um sistema massa-mola é submetida a uma


força externa F em acrescimo às forças exercidas pelas molas a ela ligadas. Então, a
equação homogênea MX′′ = KX é substituida pela eq. não homogênea

MX′′ = KX + F ou X′′ = M−1 K X + M−1 F = AX + f. (4.49)

Caso Particular: Força Externa Periódica f = F0 cos ωt.

Uma solução particular neste caso é:

Xp (t) = C cos ωt, (4.50)

onde C é o vetor coeficiente a ser determinado.

70
Assim, temos que:

− C ω 2 cos ωt = AC cos ωt + F0 cos ωt

(AC + C ω 2 ) cos ωt = −F0 cos ωt

(A + ω 2 I) C = −F0 . (4.51)

Se a matriz (A + ω 2 I) é não singular, então C = (A + ω 2 I)−1 F0 com o que teremos


resolvido (4.49), a não ser que −ω 2 = λ seja um autovalor de A. Deste modo, uma
solução particular periódica Xp = C cos ωt existe, desde que a frequência forçada
externa ω não se iguale a uma das frequências naturais ω1 , ω2 , . . . , ωn (autovalores do
sistema (A + ω 2 I)~v = ~0).

Exemplo 4.8. Ache a solução do sistema de massa-mola X′′ = M−1 K X + f (4.49),


quando m1 = 2, m2 = 1, k1 = 100, k2 = 50. Suponha que a segunda massa m2 é
submetida à força externa periódica de 50 cos ωt.

Sol.: Substituindo os dados no sistema obtemos a eq. não homogênea


   
−75 25 0
X′′ =  X +  .
50 −50 50 cos ωt
 
c1
Supondo que Xp(t) = C cos ωt é solução particular de (4.49), por (4.51) C =  
c2
satisfaz:
   !  
−75 25 1 0 0
  + ω2   C= . (4.52)
50 −50 0 1 −50

71
Logo,
     −1  
2 2
ω − 75 25 0 ω − 75 25 0
 C =   ⇒ C=   .
2 2
50 ω − 50 −50 50 ω − 50 −50

Portanto,
  
2
1 ω − 50 −25 0
C= 2   
(ω − 100)(ω 2 − 25) −50 ω 2 − 75 −50
 
1 1250
= 2 2
 . (4.53)
(ω − 100)(ω − 25) −50(ω 2 − 75)

Assim, a oscilação forçada resultante é descrita por

1250 √
x1 (t) = cos 50t (4.54)
(ω 2 2
− 100)(ω − 25)
−50(ω 2 − 75) √
x2 (t) = 2 cos 50t. (4.55)
(ω − 100)(ω 2 − 25)
 
−1
• No caso em que ω 2 = 50, obtem-se de (4.53) que C =  . Neste caso, a oscilação
−1
é descrita por:
     √ 
x1 (t) −1 √ − cos 50t
Xp (t) =   =   cos 50t =  √  (4.56)
x2 (t) −1 − cos 50t

o que quer dizer que as duas massas oscilam com amplitudes e direções iguais. Portanto,
de (4.48-4.56) temos que a solução geral é

X(t) = Xh (t) + Xp (t)


   √ 
a1 cos 10t + b1 sen 10t + a2 cos 5t + b2 sen 5t − cos 50t
= + √ 
−a1 cos 10t − b1 sen 10t + 2a2 cos 5t + 2b2 sen 5t − cos 50t
(4.57)

Observação 4.2. No exemplo anterior verifica-se que a frequência externa ω tem que
ser diferente as frequências internas ω1 = 10 e ω2 = 5. É evidente, pois quando
ω → ω1 ou ω → ω2 , as componentes da amplitude C, c1 e c2 aproximam-se de ∞.
Este fenômeno se conhece como ressonância.

72
Capı́tulo 5

Transformada de Laplace

Muitos problemas práticos de engenharia envolvem sistemas mecânicos ou elétricos


atuados por agentes descontı́nuos ou impulsivos. Um método apropriado a estes proble-
mas embora tenha utilidade muito mais geral, está baseado na transformada de Laplace.

Definição 5.1. Uma integral imprópria sobre um intervalo infinito é definida como
um limite de integrais sobre intervalos limitados; isto é,
Z ∞ Z x
g(t) dt = lim g(t) dt. (5.1)
a x→∞ a

Se o limite em (5.1) existe, então dizemos que a integral imprópria converge. Do


contrário, ela diverge ou deixa de existir.

Definição 5.2. Seja f uma função definida para t ≥ 0. Então, a transformada de


Laplace de f é a função F de s definida como segue:
Z ∞
L[f (t)] = F (s) = e−st f (t) dt (5.2)
0

para todos os valores de s onde a integral imprópria converge.

Observe que o integrando da integral imprópria em (5.2) contém o parâmetro s adi-


cionalmente à variável de integração t. Portanto, quando a integral em (5.2) converge,
ela não converge meramente para um número, mas para uma função F de s.

Exemplo 5.1. Calcule a transformada de Laplace de f (t) = 1, para t ≥ 0.

73
Sol.: Usando a definição temos que
Z ∞ Z b
−st
L[1] = e dt = lim e−st dt
0 b→∞ 0
1
= lim − (e−sb − 1)
b→∞ s
1
= , para s > 0. (5.3)
s
Teorema 5.1. Se f (t) é seccionalmente contı́nua para t ≥ 0 e de ordem exponencial
(existem constantes k e a tais que |f (t)| ≤ k eat , para todo t ≥ M > 0). Então,
L[f (t)] existe para s > a.


 2, se 0 ≤ t < c
Exemplo 5.2. Calcular L[f (t)] sendo f (t) =
 1, se t ≥ c.

Sol.: Na figura seguinte é fácil observar que f é seccionalmente contı́nua e de ordem


exponencial.

Logo, temos que


Z ∞ Z x
−st
L[f (t)] = e f (t) dt = lim e−st f (t) dt.
0 x→∞ 0

74
Calculando temos que,
Z x Z c Z x
−st −st
e f (t) dt = e f (t) dt + e−st f (t) dt
0 0 c
Z c Z x
−st
= 2e dt + e−st dt
0 c
c x
2 −st 1 −st
=− e − e
s 0 s c
2 −sc 1 −sx
= − (e − 1) − (e − e−sc ). (5.4)
s s

Supondo s > 0 temos que


Z x  
−st 2 −sc 1 −sx −sc
lim e f (t) dt = lim − (e − 1) − (e −e )
x→∞ 0 x→∞ s s
1
= (2 − e−sc ). (5.5)
s

Portanto,

1
L[f (t)] = [2 − e−sc ], para s > 0.
s

Teorema 5.2. Se α, β são constantes e f, g funções cujas transformadas de Laplace


existem, então:
L[α f (t) + β g(t)] = α L[f (t)] + β L[g(t)].

Demonstração: Se L[f (t)], L[g(t)] existem, então se prova que a transformada de


Laplace é uma transformação Linear, isto é,
Z ∞ Z ∞
−st
α L[f (t)] + β L[g(t)] = α e f (t) dt + β e−st g(t) dt
Z ∞0 0

= e−st (α f (t) + β g(t)) dt


0

= L[α f (t) + β g(t)]. (5.6)

Exemplo 5.3. Calcular L[3t − 5 sen 2t].

Sol.: Usando o Teorema anterior temos que

L[3t − 5 sen 2t] = 3L[t] − 5L[sen 2t]


Z ∞ Z ∞
−st
=3 e t dt − 5 e−st sen 2t dt. (5.7)
0 0

75
Calculando separadamente cada uma das integrais temos:
Z ∞ Z x
−st
e t dt = lim e−st t dt
0 x→∞
0 Z x 
−t −st x 1 −st
= lim e + e dt
x→∞ s 0 0 s
 
−x −sx 1 −sx 1
= lim e − 2e + 2
x→∞ s s s
1
= 2 (5.8)
s
e
Z ∞ Z x
−st
e sen 2t dt = lim e−st sen 2t dt
0 x→∞
0 x Z x 
−st cos 2t −st cos 2t
= lim − e − se dt
x→∞ 2 0 0 2
s2 x −st
 −sx 
−e cos 2x 1 s −sx
Z
= lim + − e sen 2x − e sen 2t dt
x→∞ 2 2 4 4 0
Z x
1 s2
= − lim e−st sen 2t dt
2 4 x→∞ 0
1 s2 ∞ −st
Z
= − e sen 2t dt. (5.9)
2 4 0
Portanto,
1 2
L[t] = e L[sen 2t] = .
s2 4 + s2
Segue-se então que
3 10 12 − 7s2
L[3t − 5 sen 2t] = − = (5.10)
s2 4 + s2 s2 (4 + s2 )
Teorema 5.3. (Transformada de Algumas Funções Básicas)

1
1. L[1] =
s
n!
2. L[tn ] = , n = 1, 2, . . . .
sn+1
1
3. L[eat ] =
s−a
k
4. L[sen kt] =
+ k2 s2
s
5. L[cos kt] = 2
s + k2

76
k
6. L[sinh kt] =
s2
− k2
s
7. L[cosh kt] = 2
s − k2

Demonstração: Fazer como exercicio.

5.1 Transformada Inversa

O problema agora é dada uma função F (s), tentaremos encontrar uma função f (t) cuja
transformada de Laplace seja F (s). Dizemos que f (t) é a Transformada Inversa de
F (s) e escrevemos

f (t) = L−1 [F (s)].

A transformada de Laplace inversa L−1 goza das mesmas propriedades de L.

Teorema 5.4. (Transformada Inversa de Algumas Funções Básicas)


 
−1 1
1. L =1
s
 
−1 n!
2. L = tn , n = 1, 2, . . . .
sn+1
 
−1 1
3. L = eat
s−a
 
−1 k
4. L = sen kt
s2 + k 2
 
−1 s
5. L = cos kt
s2 + k 2
 
−1 k
6. L = sinh kt
s2 − k 2
 
−1 s
7. L = cosh kt
s2 − k 2

Demonstração: Uma consequência do teorema anterior.

77
Observação 5.1. Para a função



 1, se; t ≥ 0, t 6= 1, t 6= 3

f (t) = 2, se; t = 1 (5.11)


 0, se t = 3,

tem-se que: L[f (t)] = 1/s.

De fato,
Z 1 Z 3 Z x 
−st −st −st
L[f (t)] = lim e dt + e dt + e dt
x→∞ 0 1 3
e−st 1 e e−st x −st 3
 
= lim − − −
s 0 s 1 s 3

x→∞

e−s 1 e−3s e−s e−sx e−3s


 
= lim − + − + − +
x→∞ s s s s s s
= 1/s. (5.12)

Consequentemente,

f (t), dado em (5.11)
  
1
L−1 =
s  1, para todo t > 0.

O que implica que a transformada inversa pode não ser necessariamente única, mais
isso não é tão ruim, pois se,

L[f1 (t)] = L[f2 (t)],

pode-se mostrar que f1 e f2 são essencialmente iguais, isto é, elas podem ser diferentes
somente nos pontos de discontinuidade, como no caso de f (t) e 1.

78
1
Exemplo 5.4. Calcular L−1 [ s2 +64 ]

Sol.:
   
−1 1 1 −1 8 1
L = L = sen 8t. (5.13)
s2 + 64 8 s2 + 8 2 8
 
−1 1
Exemplo 5.5. Calcular L
(s − 1)(s + 2)(s + 4)

Sol.: Desde que

1 A B C
= + +
(s − 1)(s + 2)(s + 4) s−1 s+2 s+4
A(s + 2)(s + 4) + B(s − 1)(s + 4) + C(s − 1)(s + 2)
(s − 1)(s + 2)(s + 4)
A(s + 6s + 8) + B(s2 + 3s − 4) + C(s2 + s − 2)
2

(s − 1)(s + 2)(s + 4)
2
s (A + B + C) + s(6A + 3B + C) + (8A − 4B − 2C)
,
(s − 1)(s + 2)(s + 4)

então, A = 1/15, B = −1/6, C = 1/10.

Segue-se daı́ que:


       
−1 1 1 −1 1 1 −1 1 1 −1 1
L = L − L + L
(s − 1)(s + 2)(s + 4) 15 s−1 6 s+2 10 s+4
1 t 1 −2t 1 −4t
= e − e + e . (5.14)
15 6 10

5.2 Teoremas de Translação

Usar a definição para calcular uma transformada de Laplace pode resultar extremada-
mente trabalhosa, por exemplo a integração por partes no cálculo de L[et t2 sen 3t]. A
seguir um teorema que vai a facilitar estes cálculos.

Teorema 5.5. (Primeiro Teorema de Translação) Se a ∈ R e L[f (t)] = F (s), então:

L[eat f (t)] = F (s − a). (5.15)

79
Demonstração:
Z ∞ Z ∞
at −st at
L[e f (t)] = e e f (t) dt = e−(s−a)t f (t) dt = F (s − a). (5.16)
0 0

Exemplo 5.6. Calcular L[e5t t3 ] e L[e−2t cos 2t]

Sol.: Aplicando o Teorema de translação, temos


3! 6
L[e5t t3 ] = F (s − 5) = 4
= (5.17)
(s − 5) (s − 5)4
e
s+2
L[e−2t cos 2t] = F (s + 2) = . (5.18)
(s + 2)2 + 4
 
−1 s
Exemplo 5.7. Calcular L .
s2 + 6s + 11

Sol.: Desde que,


s s s+3 3
= = √ − √ , (5.19)
s2 + 6s + 11 2
(s + 3) + 2 2
(s + 3) + ( 2)2 (s + 3) + ( 2)2
2

então,
     
−1 s −1 s+3 −1 3
L =L √ −L √
s2 + 6s + 11 (s + 3)2 + ( 2)2 (s + 3)2 + ( 2)2
   √ 
−1 s+3 3 −1 2
=L √ −√ L √ .
(s + 3)2 + ( 2)2 2 (s + 3)2 + ( 2)2
(5.20)

Lembremos que
√ s s+3
F1 (s) = L[cos 2t] = √ ⇒ F1 (s + 3) = √
+ ( 2)2 s2 (s + 3)2 + ( 2)2
√ √
√ 2 2
F2 (s) = L[sen 2t] = √ ⇒ F2 (s + 3) = √ .
s2 + ( 2)2 (s + 3)2 + ( 2)2

80
Logo, do Teorema de translação,

L[eat f (t)] = F (s − a) ⇒ L−1 [F (s − a)] = eat f (t).

Portanto,

L−1 [F1 (s + 3)] = e−3t cos 2t

L−1 [F2 (s + 3)] = e−3t sen 2t.

Consequentemente,
√ √
 
−1 s −3t 3 −3t
L = e cos 2t − √ e sen 2t. (5.21)
s2 + 6s + 11 2
 
−1 s
Exemplo 5.8. Calcular L .
(s + 1)2

Sol.: Desde que


s A B As + A + B
= + = , (5.22)
(s + 1)2 s + 1 (s + 1)2 (s + 1)2
então, A = 1, B = −1.

Logo,
     
−1 s −1 1 −1 1
L =L −L . (5.23)
(s + 1)2 s+1 (s + 1)2

Lembrando que
1 1
L[eat ] = e L[t] = ,
s−a s2
temos que
 
−1 s
L = e−t − L−1 [F (s + 1)]
(s + 1)2
= e−t − te−t , (pelo teor. de translação). (5.24)

5.3 Derivada e Integral de uma Transformada

Teorema 5.6. (Derivadas de Transformadas) Para n = 1, 2, 3, . . . ,

n dn n
L[t f (t)] = (−1) F (s), onde F (s) = L[f (t)]. (5.25)
dsn

81
R∞
Demonstração: Como F (s) = L[f (t)] = 0
e−st f (t) dt,
Z ∞ 
d d −st
F (s) = e f (t) dt
ds ds 0
Z ∞  
d −st
= e f (t) dt
0 ds
Z ∞
= −te−st f (t) dt
0
Z ∞
=− e−st (tf (t)) dt
0

= −L[tf (t)]. (5.26)

Portanto,

d
L[tf (t)] = − F (s)
ds

Analogamente,

d2 F (s)
 
2 d d dF (s)
L[t f (t)] = L[t(tf (t))] = − L[tf (t)] = − − = . (5.27)
ds ds ds ds2

Exemplo 5.9. Calcular L[t sen t], L[te−t cos t] e L[te−t cosh t].

Sol.: De fato,
 
d d 1 2s
L[t sen t] = − L[sen t] = − 2
= 2 . (5.28)
ds ds s + 1 (s + 1)2

d
L[t e−t cos t] = − L[e−t cos t]
ds
d s
= − F (s + 1), onde F (s) = L[cos t] = 2
ds   s +1
d s+1
=−
ds (s + 1)2 + 1
s2 + 2s
= 2 . (5.29)
(s + 1)2 + 1

82
d
L[t e−t cosh t] = − L[e−t cosh t]
ds
d s
= − F (s + 1), onde F (s) = L[cosh t] = 2
ds   s −1
d s+1
=−
ds (s + 1)2 − 1
s2 + 2s + 2
=− 2 . (5.30)
(s + 2s)2
Teorema 5.7. (Transformada de Laplace de uma Derivada) Se f (t), f ′ (t), . . . , f (n−1) (t)
forem contı́nuas em [0, ∞), de ordem exponencial, e se f (n) (t) for contı́nua por partes
em [0, ∞), então:

L[f (n) (t)] = sn F (s) − sn−1 f (0) − sn−2 f ′ (0) − . . . . . . − f (n−1) (0), (5.31)

onde F (s) = L[f (t)].

Exemplo 5.10. Calcular L[2 sen t cos t].

Sol.: De fato,
 
d
L[2 sen t cos t] = L sen t = s L[sen2 t] − sen2 0
2
dt
 
1 − cos 2t s s
=sL = L[1] − L[cos 2t]
2 2 2
   
s 1 s s
= −
2 s 2 s2 + 2 2
2
= 2 . (5.32)
s +4
 
f (t) R∞
Teorema 5.8. Se existirem L[f (t)] = F (s), L e s F (p) dp, então:
t
  Z ∞
f (t)
L = F (p) dp. (5.33)
t s
Z ∞
sen t π
Exemplo 5.11. Prove que dt = .
0 t 2

1
Sol.: Desde que L[sen t] = = F (s), então pelo Teorema anterior,
s2 + 1
  Z ∞
sen t 1
L = 2
dp. (5.34)
t s p +1

83
Desenvolvendo cada um dos termos anteriores e considerando s = 0 temos
  Z ∞ Z ∞ Z ∞
sen t −st sen t 0t sen t sen t
L = e dt = e dt = dt
t 0 t 0 t 0 t

e
∞ M
1 1
Z Z
2
dp = lim dp
0 p +1 M →∞ 0 +1 p2
M
= lim arctan p 0 = lim arctan M
M →∞ M →∞
π
= .
2

Logo, substituindo em (5.34) segue-se o resultado procurado.

Teorema 5.9. Se existe L[f (t)] = F (s), então:


Z t 
F (s)
L f (τ ) dτ = . (5.35)
0 s
Rt
Exemplo 5.12. Calcule 0 sen 2τ dτ .

Sol.: De fato,
Z t  
−1 2
sen 2τ dτ = L
0 s(s2 + 4)
 
−1 1 s
=L −
2s 2(s2 + 4)
   
1 −1 1 1 −1 s
= L − L
2 s 2 s2 + 4
1 1
= − cos 2t. (5.36)
2 2

5.4 Função Degrau Unitário

A função degrau unitário U(t − a), onde a é um número real, é definido por

0, 0 ≤ t < a

U(t − a) = (5.37)
1, t ≥ a

Exercı́cio: Grafique U(t − 5) e U(t)

84
Observação 5.2. Se a função f definida para t ≥ 0 é multiplicada por U(t − a), a
função degrau unitário “desliga” uma parte do gráfico dessa função. Veja-se o seguinte
gráfico:

(a) f (t) = 2t − 3 (b) f (t) U(t − 1)

A função degrau unitário é usada também para escrever funções por partes em
forma compacta. Por exemplo,

 g(t), 0 ≤ t < a
f (t) = = g(t) − g(t)U(t − a) + h(t)U(t − a)
 h(t), a ≤ t.

Teorema 5.10. (Segundo Teorema de Translação) Se a ∈ R e L[f (t)] = F (s), então:

L[f (t − a) U(t − a)] = e−as F (s) (5.38)

ou

L[g(t) U(t − a)] = e−as L[g(t + a)] (5.39)

Exemplo 5.13. Calcule L[sen(t − π/6) U(t − π/6)]

Sol.: Usando o segundo teorema de translação temos:


e−sπ/6
L[sen(t − π/6) U(t − π/6)] = e−sπ/6 L[sen t] =
s2 + 1

5.5 A Convolução

As vezes encontramos que a transformada de Laplace H(s) é produto de duas transfor-


madas F (s) = L[f (t)] e G(s) = L[g(t)] conhecidas, no entanto ja que a transformada

85
de Laplace não conmuta com a multiplicação usual, não é possı́vel afirmar que que
H(s) seja a transformada do produto de f e g. Por outro lado, se definirmos, conve-
nientemente, um ”produto generalizado”, então a situação muda, conforme enunciado
no teorema a seguir.

Teorema 5.11. Se ambas F (s) = L[f (t)] e G(s) = L[g(t)] existem para s > a ≥ 0,
então
H(s) = F (s)G(s) = L[h(t)], s > a,

onde Z t Z t
h(t) = f (t − τ )g(τ )dτ = f (τ )g(t − τ )dτ.
0 0

A função h é conhecida como a convolução de f e g, f ∗ g, isto é

h(t) = (f ∗ g)(t).

A convolução f ∗ g tem muitas propriedades da multiplicação usual. Por


exemplo, é simples provar que:

1. f ∗ g = g ∗ f (conmutatividade)

2. f ∗ (g1 + g2 ) = f ∗ g1 + f ∗ g2 (distributividade)

3. (f ∗ g) ∗ h = f ∗ (g ∗ h) (associatividade)

4. f ∗ 0 = 0 ∗ f = 0

Observação 5.3. No entanto, a multiplicação tem outras propriedades que a convolução


não tem. Por exemplo, não é verdade que:

1. f ∗ 1 = f (falso!), pois
Z t Z t
(f ∗ 1)(t) = f (t − τ ).1 dτ = f (t − τ ) dτ 6= f (t).
0 0

Assim, para f (t) = cos t, temos que:


Z t
t

(f ∗ 1)(t) = cos(t − τ ) dτ = − sen(t − τ ) = sen t 6= f (t).
0 0

86
2. f ∗ f ≥ 0 (falso!), pois
Z t
(f ∗ f )(t) = f (t − τ ).f (τ ) dτ.
0

Assim, para f (t) = sen t, temos que:


Z t
1 t
Z
(f ∗ f )(t) = sen(t − τ ) sen τ dτ = (cos(t − 2τ ) − cos t) dτ
0 2 0
t
sen(t − 2τ ) τ sen t t
=− + cos t = + cos t 6= f (t).
4 2 0 4 2

As convoluções aparecem em diversas aplicações onde o comportamento do sistema


em qualquer instante t não depende apenas do estado no instante t, mas também da
sua história passada. Sistemas de esse tipo são chamados, algumas vezes, de sistemas
hereditários e ocorrem em campos tão diversos quanto transporte, viscoelasticidade
e dinâmica populacional.

Exemplo 5.14. Encontre a inversa de:


a
H(s) =
s2 (s2 + a2 )

Sol. Ja que
a 1
F (s) = = L[sen at] e G(s) = = L[t]
s2 + a2 s2
então H(s) = F (s)G(s). Logo, pelo Teorema anterior temos que H(s) = L[h(t)], onde
h(t) é a convolução de sen t e t. Portanto, a transformada inversa de H(s) é
Z t
at − sen at
h(t) = sen a(t − τ )τ dτ =
0 a2
Exemplo 5.15. Encontre a inversa de:
a
H(s) =
s2 (s2 + a2 )

Sol. Ja que
a 1
F (s) = = L[sen at] e G(s) = = L[t]
s2 + a2 s2
então H(s) = F (s)G(s). Logo, pelo Teorema anterior temos que H(s) = L[h(t)], onde
h(t) é a convolução de sen t e t. Portanto, a transformada inversa de H(s) é
Z t
at − sen at
h(t) = sen a(t − τ )τ dτ = .
0 a2

87
5.6 Aplicação as Equações Lineares com Coeficientes
Constantes

Exemplo 5.16. Resolva o problema de Cauchy seguinte usando transformada de Laplace





 y ′′ + 5y ′ + 4y = 0,

y(0) = 1, (5.40)


 y ′(0) = 1.

Sol.: Aplicando a transformada de Laplace na eq. anterior temos

L[y ′′ + 5y ′ + 4y] = L[0]

L[y ′′] + 5L[y ′] + 4L[y] = 0

(5.41)

Chamando F (s) = L[y], do Teorema 5.7 temos

[s2 F (s) − s y(0) − y ′(0)] + 5[s F (s) − y(0)] + 4F (s) = 0

(s2 + 5s + 4) F (s) = s y(0) + y ′(0) + 5y(0) = s + 1 + 5


s+6
F (s) = . (5.42)
s2 + 5s + 4

Portanto,
   
−1 s+6 −1 s+6
y(t) = L =L
s2 + 5s + 4 (s + 4)(s + 1)
    
−1 2 1 5 1
=L − +
3 s+4 3 s+1
   
2 −1 1 5 −1 1
=− L + L
3 s+4 3 s+1
2 5 1
= − e−4t + e−t , (Lembre que: L[eat ] = ). (5.43)
3 3 s−a

Exemplo 5.17. Resolva o seguinte problema de Cauchy usando transformada de Laplace





 y ′′ + y = sen t,

y(0) = −1, (5.44)


 y ′(0) = 1.

88
Sol.: Aplicando a transformada de Laplace na eq. anterior temos

L[y ′′ + y] = L[sen t]

L[y ′′] + L[y] = L[sen t] (5.45)

Se F (s) = L[y], do Teorema 5.7 temos:

1
[s2 F (s) − s y(0) − y ′(0)] + F (s) =
s2 +1
1
(s2 + 1) F (s) = + s y(0) + y ′ (0)
+1 s2
1 s 1
F (s) = 2 − + . (5.46)
(s + 1)2 s2 + 1 s2 + 1

Portanto,
 
1
−1 s 1
y=L − +
(s2 + 1)2 s2 + 1 s2 + 1
     
−1 1 −1 s −1 1
=L −L +L
(s2 + 1)2 s2 + 1 s2 + 1
 
1
= sen t − cos t + L−1 . (5.47)
(s + 1)2
2

 
−1 1
Cálculo de L :
(s2 + 1)2
 
1 −1 1
Supondo F (s) = 2 temos que f (t) = L = sen t. Assim, pelo
s +1 s2 + 1
Teorema 5.6,

d
− F (s) = L[t f (t)]. (5.48)
ds

Logo,
 
−1 2s
L = t sen t.
(s2 + 1)2
2s
Por outro lado, aplicando o Teorema 5.9 quando F (s) = , temos
(s2 + 1)2
    Z t
−1 F (s) −1 2
L =L = τ sen τ dτ
s (s2 + 1)2 0
Z t
t
= −τ cos τ 0 + cos τ dτ
0

= −t cos t + sen t. (5.49)

89
Logo,
 
−1 1 sen t − t cos t
L 2 2
= .
(s + 1) 2

Portanto,

sen t − t cos t
y(t) = sen t − cos t + . (5.50)
2

Exemplo 5.18. Encontre a solução do problema de valor inicial:



 y ′′ + 4y = cos t + U(t − 2π) cos(t − 2π)
 y(0) = 0, y ′(0) = 1

Sol. Usando a transformada de Laplace obtemos,

s
s2 F (s) − 1 + 4F (s) = + L[U(t − 2π) cos(t − 2π)]
(s2 + 1)

Pelo segundo teorema de translação:

s
(s2 + 4)F (s) − 1 = 2
+ e−2πs L[cos(t)]
(s + 1)

Logo,

1 s s
F (s) = + 2 + e−2πs 2
s2 2
+ 4 (s + 1)(s + 4) (s + 1)(s2 + 4)
   
1 s s −2πs s s
= 2 + − +e −
s +4 3(s2 + 1) 3(s2 + 4) 3(s2 + 1) 3(s2 + 4)

Portanto, aplicando a transformada inversa e a inversa do segundo teorema de translação


resulta que

sen 2t cos t cos 2t U(t − 2π) cos(t − 2π) U(t − 2π) cos 2(t − 2π)
y(t) = + − + −
2 3 3 3 3

Exemplo 5.19. Encontre a solução do problema de valor inicial:



 y ′′ + 4y = g(t)
 y(0) = 3, y ′(0) = −1

Sol. Usando a transformada de Laplace obtemos,

s2 F (s) − 3s + 1 + 4F (s) = G(s)

90
então:

3s − 1 G(s) s 1 2 1 2
F (s) = 2
+ 2 =3 2 − 2
+ 2
G(s)
s +4 s +4 s +4 2 s +4 2 s +4

Portanto,
t
1 1
Z
y = 3 cos 2t − sen 2t + sen 2(t − τ )g(τ )dτ.
2 2 0

Exemplo 5.20. Encontre a solução do problema de valor inicial:



 ay ′′ + by ′ + cy = g(t)
 y(0) = y , y ′(0) = y
0 1

Sol. Usando a transformada de Laplace obtemos,

(as2 + bs + c)F (s) − (as + b)y0 − ay1 = G(s)

então:

(as + b)y0 + ay1 G(s)


F (s) = 2
+ 2 = Φ(s) + Ψ(s).
as + bs + c as + bs + c

Portanto,

y = L−1 [Φ(s)] + L−1 [Ψ(s)].

EXERCÍCIOS:

1. Encontre a transformada de Laplace inversa da função dada usando o teorema


sobre convolução.
1 1
a) F (s) = c) F (s) =
s4 (s2
+ 1) (s + 1)2 (s2 + 4)
s G(s)
b) F (s) = d) F (s) = 2
(s + 1)(s2 + 4) s +1
2. Encontre a transformada de Laplace da função
Z t Z t
2
a) f (t) = (t − τ ) cos 2τ dτ c) f (t) = (t − τ )eτ dτ
Z 0t Z0 t
−(t−τ )
b) f (t) = e sen τ dτ d) f (t) = sen(t − τ ) cos τ dτ
0 0

3. Exprese a solução do PVI dado, em função de uma convolução.

91
(a) y ′′ + ω 2 y = g(t); y(0) = 0, y ′(0) = 1

(b) y ′′ + 2y ′ + 2y = sen αt; y(0) = 0, y ′ (0) = 0

(c) 4y ′′ + 3y ′ + 2y = cos αt; y(0) = 1, y ′(0) = 0

(d) y (4) − y = g(t); y(0) = y ′ (0) = y ′′(0) = y ′′′ (0) = 0

(e) y ′′ + 4y ′ + 4y = g(t); y(0) = 2, y ′ (0) = −3

4. Use a transformada de Laplace para obter a corrente i(t) em um circuito em série


de malha simples contendo somente um resistor e um indutor, onde a segunda lei
de kirchhoff diz que a soma da queda de tensão L (di/dt) e da queda de tensão
do resistor iR é igual à voltagem E(t) no circuito, isto é:

di
L + Ri = E(t)
dt

onde L e R são conhecidas como a indutância e a resistência, respectivamente.

a) Determine a corrente i se a corrente inicial é zero e se L = 1 henry, R = 10


ohms e E(t) = sen t − U(t − 3π/2) sen t.

b) Use um programa gráfico para fazer o gráfico de i(t) no intervalo 0 ≤ t ≤ 6.


Estimar os valores máximo e mı́nimo da corrente.

5. A deflexão estática y(x) de uma viga uniforme de comprimento L suportando


uma carga de w(x) por unidade de comprimento satisfaz a equação de 4ta ordem

d4 y
EI = w(x)
dx4

onde E é o módulo de elasticidade de Young e I é um momento de inércia de


uma seção transversal da viga

Encontre a deflexão da viga de comprimento L fixa em ambos extremos (engas-


tada, isto
 é y(0) = y(L) = 0, y ′ (0) = y ′(L) = 0); quando a carga é dada por:
 w , 0 < x < L/2
0
w(x) =
 0, L/2 < x < L.

92
Capı́tulo 6

Equações Diferenciais Parciais

6.1 Séries Infinitas

Um processo que intrigou matemáticos por séculos foi a soma de infinitos termos, a
qual pode resultar em um número, como em

1 1 1 1
+ + + + . . . = 1.
2 4 8 16

Outras veces a soma infinita era infinita, como em

1 1 1 1
1+ + + + + . . . = +∞,
2 3 4 5

e algumas vezes era impossı́vel definir a soma infinita, como em

1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + . . . =?

Nesta seção, estudaremos como as séries infinitas formam a base para uma técnica
notável que nos permite expressar funções diferenciáveis como polinômios infinitos
(chamados de séries de potências) e, ao mesmo tempo, calcular o erro quando trun-
camos esses polinômios para torná-los finitos. Verêmos também como usar somas in-
finitas de termos trigonômetricos, chamados séries de Fourier, para representar funções
importantes usadas nas aplicações da ciência e engenharia.

93
6.1.1 Séries de Potências

Definição 6.1. Uma série de potência de (x − a) é uma soma infinita da forma



X
cn (x − a)n = c0 + c1 (x − a) + c2 (x − a)2 + . . .
n=0

A seguir uma técnica mais geral para a construção de séries de potências que repre-
sentam funções diferenciáveis.

Teorema 6.1. (Teorema de Taylor) Se f (x) é uma função que tem todas as derivadas
até a (n + 1)−ésima ordem, numa vizinhança I do ponto a (i.e: I é um intervalo que
contém o ponto a), então para cada x ∈ I existe um número c entre x e a tal que
f ′ (a) f ′′ (a) f (n) (a)
f (x) = f (a) + (x − a) + (x − a)2 + . . . + (x − a)n + Rn (x) (6.1)
1! 2! n!
onde o termo complementario Rn (x) se calcula segundo a fórmula
f (n+1) (c)
Rn (x) = (x − a)n+1 . (6.2)
(n + 1)!
Observação 6.1. Se Rn (x) → 0 quando n → ∞ para todo x ∈ I, dizemos que a série
de Taylor gerada por f em torno de a converge para f em I e escrevemos

X f (k) (a)
f (x) = (x − a)k . (6.3)
k=0
k!

Exemplo 6.1. Represente em séries de Taylor as seguintes funções com a = 0.

1. ex 5. cosh x

2. sen x 6. ln(1 + x)
1
3. cos x 7.
1−x
4. sinh x 8. (1 + x)n

Sol.:

1. Se f (x) = ex , então f (0) = 1, f ′ (0) = 1, f ′′ (0) = 1, . . .. Logo,


1 1 1
ex = 1 + x + x2 + . . . + xn + Rn (x)
1! 2! n!
2 n
x x
= 1+x+ + ...+ + Rn (x) (6.4)
2 n!

94
onde

f (n+1) (0) n+1 1


Rn (x) = x = xn+1 −→ 0, ∀ x ∈ (−1, 1). (6.5)
(n + 1)! (n + 1)! n→∞

Consequentemente,

x
X xk
e = .
k!
k=0

2. Se f (x) = sen x, então f (0) = 0, f ′ (0) = 1, f ′′ (0) = 0, f ′′′ (0) = −1, f (iv) (0) =
0 . . ., logo

1 0 −1 3 0 4 1 5 f (n) (0) n
sen x = 0 + x + x2 + x + x + x + ...+ x + Rn (x)
1! 2! 3! 4! 5! n!
x3 x5 x7 f (n) (0) n
=x− + − + ...+ x + Rn (x), (6.6)
3! 5! 7! n!

onde para cada n ∈ N e ∀ x ∈ (−1, 1),

(−1)n+1 2n−1
R2n−1 (x) = x −→ 0 e R2n (x) = 0 −→ 0. (6.7)
(2n − 1)! n→∞ n→∞

Consequentemente,

X (−1)k 2k+1
sen x = x .
k=0
(2k + 1)!

3. Se f (x) = cos x, então f (0) = 1, f ′ (0) = 0, f ′′ (0) = −1, f ′′′ (0) = 0, f (iv) (0) =
1 . . ., logo

0 −1 2 0 3 1 4 0 5 f (n) (0) n
cos x = 1 + x+ x + x + x + x + ...+ x + Rn (x)
1! 2! 3! 4! 5! n!
x2 x4 x6 f (n) (0) n
=1− + − + ...+ x + Rn (x), (6.8)
2! 4! 6! n!

onde para cada n ∈ N e ∀ x ∈ (−1, 1),

(−1)n 2n
R2n−1 (x) = 0 −→ 0 e R2n (x) = x −→ 0. (6.9)
n→∞ 2n! n→∞

Consequentemente,

X (−1)k
cos x = x2k .
k=0
2k!

95
4. Se f (x) = sinh x, então f (0) = 0, f ′ (0) = 1, f ′′ (0) = 0, f ′′′ (0) = 1, f (iv) (0) =
0 . . ., logo
1 0 1 0 1 f (n) (0) n
sinh x = 0 + x + x2 + x3 + x4 + x5 + . . . + x + Rn (x)
1! 2! 3! 4! 5! n!
x3 x5 x7 f (n) (0) n
=x+ + + + ...+ x + Rn (x), (6.10)
3! 5! 7! n!
onde para cada n ∈ N e ∀ x ∈ (−1, 1),
1
R2n−1 (x) = x2n−1 −→ 0 e R2n (x) = 0 −→ 0. (6.11)
(2n − 1)! n→∞ n→∞

Consequentemente,

X x2k+1
sinh x = .
(2k + 1)!
k=0

5. Se f (x) = cosh x, então f (0) = 1, f ′ (0) = 0, f ′′ (0) = 1, f ′′′ (0) = 0, f (iv) (0) =
1 . . ., logo
0 1 0 1 0 f (n) (0) n
cosh x = 1 + x + x2 + x3 + x4 + x5 + . . . + x + Rn (x)
1! 2! 3! 4! 5! n!
x2 x4 x6 f (n) (0) n
= 1+ + + + ...+ x + Rn (x), (6.12)
2! 4! 6! n!
onde para cada n ∈ N e ∀ x ∈ (−1, 1),
x2n
R2n−1 (x) = 0 −→ 0 e R2n (x) = −→ 0. (6.13)
n→∞ 2n! n→∞
Consequentemente,

X x2k
cosh x = .
k=0
2k!

6. Se f (x) = ln(1 + x), então f (0) = 0, f ′ (0) = 1, f ′′ (0) = −1!, f ′′′ (0) =
2!, f (iv) (0) = −3! . . ., logo
1 −1 2 2! 3 −3! 4 (−1)n+1 (n − 1)! n
ln(1 + x) = 0 + x + x + x + x + ...+ x + Rn (x)
1! 2! 3! 4! n!
x2 x3 x4 (−1)n+1 n
=x− + − + ...+ x + Rn (x), (6.14)
2 3 4 n
onde para cada n ∈ N e ∀ x ∈ (−1, 1),
(−1)n+2 n+1
Rn (x) = x −→ 0. (6.15)
(n + 1)! n→∞

96
Consequentemente,

X (−1)k+1
ln(1 + x) = xk .
k=1
k

1
7. Se f (x) = , então f (0) = 0, f ′ (0) = 1, f ′′ (0) = 2!, f ′′′ (0) = 3!, f (iv) (0) =
1−x
4! . . ., logo
1 1 2! 3! 4! n! n
= 1 + x + x2 + x3 + x4 + . . . + x + Rn (x)
1−x 1! 2! 3! 4! n!
= 1 + x + x2 + x3 + x4 + . . . + xn + Rn (x), (6.16)

onde para cada n ∈ N e ∀ x ∈ (−1, 1),

Rn (x) = xn+1 −→ 0. (6.17)


n→∞

Consequentemente,

1 X
= xk .
1 − x k=0

8. Se f (x) = (1 + x)α , então f (0) = 1, f ′ (0) = α, f ′′ (0) = α(α − 1), f ′′′ (0) =
α(α − 1)(α − 2), . . ., logo
α α(α − 1) 2 α(α − 1)(α − 2) 3
(1 + x)α =1 + x+ x + x + .........
1! 2! 3!
α(α − 1) . . . (α − (n − 1)) n
...+ x + Rn (x), (6.18)
n!
onde para cada n ∈ N e ∀ x ∈ (−1, 1),
α(α − 1) . . . (α − n) n+1
Rn (x) = x −→ 0. (6.19)
(n + 1)! n→∞

Consequentemente,

α
X α(α − 1) . . . (α − (k − 1))
(1 + x) = 1 + xk .
k!
k=1

6.1.2 Séries de Fourier

Definição 6.2. A série de funções da forma


a0 πx πx 2πx 2πx
+ a1 cos + b1 sen + a2 cos + b2 sen + ... (6.20)
2 L L L L

97
ou simplificadamente
∞  
a0 X kπx kπx
+ ak cos + bk sen (6.21)
2 k=1
L L

chama-se de série trigonométrica. Os números constantes a0 , a1 , ..., ak e b1 , b2 , ..., bk


são os coeficientes da série.

Definição 6.3. No conjunto de pontos x em que a série (6.21) for um número finito,
ela define uma função f cujo valor em cada ponto x, é a soma da série para este valor.
Neste caso, a série (6.21) é chamada de série de Fourier de f e
∞  
a0 X kπx kπx
f (x) = + ak cos + bk sen . (6.22)
2 k=1
L L

O nosso objetivo é determinar que funções podem ser representadas como a soma
de uma série de Fourier e achar um processo para calcular os coeficientes da série de
Fourier.

Previamente lembremos a seguinte definição.

Definição 6.4. Uma função f é periódica, se f (x + T ) = f (x) ∀ x ∈ Dom(f ).


Diremos que o menor valor T 6= 0 que satisfaz a igualdade anterior é o perı́odo de f .
nπx
Exemplo 6.2. A função f (x) = sen , é uma função periódica de perı́odo T = 2L/n.
L
De fato, f é periódica se,
nπx nπ(x + T )
f (x) = sen = sen = f (x + T ), ∀x ∈ R
L L
ou seja,
nπx nπx nπT nπx nπT
sen = sen cos + cos sen . (6.23)
L L L L L
Logo, para x = L/2n temos:
π π nπT π nπT
sen = sen cos + cos sen
2 2 L 2 L
nπT
1 = cos . (6.24)
L

Por outro lado, da identidade sen2 θ + cos2 θ = 1, segue que:


nπT
sen = 0. (6.25)
L

98
Como estamos interessados no menor valor positivo de T que satisfaça (6.24) e
(6.25), simultaneamente, obtemos que:
nπT 2L
= 2π ⇒ T = .
L n
Observação 6.2. Como as funções seno e cosseno são periódicas então a função (6.22)
é periódica, de perı́odo P = 2L.

Cálculo dos coeficientes de Fourier de f (x)

Queremos calcular os coeficientes de Fourier de uma função f (x) definida num intervalo
com ponto médio na origem, isto é [−L, L]. Supondo que f seja integrável em [−L, L],
os seguintes casos serão considerados:

1. f é uma função definida no intervalo [−L, L].

2. f é uma função definida no intervalo [−π, π].

3. f é uma função par ou ı́mpar.

4. f é uma função definida no meio intervalo [0, L].

1.- f definida em [−L, L].

Seja F (x) uma função periódica em R, de modo que F (x) = f (x) em [−L, L], da
definição 6.3 resulta que
∞  
a0 X kπx kπx
F (x) = f (x) = + ak cos + bk sen ∀x ∈ (−L, L). (6.26)
2 k=1
L L
Integrando ambos lados de (6.26) no intervalo [−L, L], temos
Z L Z L ∞ Z L  
a0 X kπx kπx
f (x) dx = dx + ak cos + bk sen dx. (6.27)
−L −L 2 −L
k=1
L L
Calculando por separado cada integral do segundo membro temos
Z L
a0
dx = a0 L
−L 2
Z L L
kπx L kπx L 
ak cos dx = ak sen = ak sen kπ − sen(−kπ) = 0, ∀ k ∈ N
−L L kπ L −L kπ
Z L L
kπx L kπx L 
bk sen dx = −bk cos = −bk cos kπ − cos(−kπ) = 0, ∀ k ∈ N.
−L L kπ L −L kπ

99
Logo, substituindo as equações anteriores em (6.27) temos que
Z L
f (x)dx = a0 L.
−L

Portanto,
L
1
Z
a0 = f (x) dx. (6.28)
L −L

nπx
Por outro lado, multiplicando ambos os termos da equação (6.26) por cos e
L
integrando em [−L, L] temos:
L L ∞ Z L  
nπx a0 nπx nπx kπx kπx
Z Z X
f (x) cos dx = cos dx + cos ak cos + bk sen dx
−L L 2 −L L k=1 −L L L L

= Lan , (6.29)

já que

L  0, n 6= k, L
nπx kπx nπx kπx
Z Z
cos cos dx = e cos sen dx = 0, ∀ k, n.
−L L L  L, n = k −L L L

(6.30)

Logo,
L
1 kπx
Z
ak = f (x) cos dx (6.31)
L −L L

nπx
Análogamente, multiplicando (6.26) por sen e integrando esta expressão em
L
[−L, L] temos
L L ∞ L
nπx a0 nπx nπx kπx kπx
Z Z X Z
f (x) sen dx = sen dx + sen {ak cos + bk sen } dx.
−L L 2 −L L k=1 −L L L L
(6.32)

Usando (6.30) e a seguinte identidade,



Z L


 0, n 6= k,
nπx kπx 
sen sen dx = L, n = k (6.33)
−L L L 


100
obtem-se que
L
1 kπx
Z
bk = f (x) sen dx (6.34)
L −L L

Os coeficientes determinados pelas formulas (6.28), (6.31) e (6.34) chaman-se coe-


ficientes de Fourier da função f , e a série trigonométrica (6.21) com tais coeficientes é
chamada série de Fourier da função f .

Exemplo 6.3. Calcular a série de Fourier da função periódica definida em [−3, 3] por:

 1, se 0 ≤ x ≤ 3;
f (x) = (6.35)
 0, se − 3 ≤ x < 0.

Sol.:

Usando (6.28)-(6.31)-(6.34) temos que

1 3
Z 3
1
Z
a0 = f (x) dx = 1 dx = 1
3 −3 3 0
3
1 3 kπx 1 3 kπx 1 kπx
Z Z
ak = f (x) cos dx = cos dx = sen =0 (6.36)
3 −3 3 3 0 3 kπ 3 0
3
1 3 kπx 1 3 kπx 1 kπx 1
Z Z
bk = f (x) sen dx = sen dx = − cos = (1 − cos(kπ))
3 −3 3 3 0 3 kπ 3 0 kπ

Portanto,
∞ ∞
1 X kπx 1 X 1 kπx
f (x) = + bk sen = + (1 − cos(kπ)) sen
2 k=1 3 2 k=1 kπ 3

1 X 2 (2k − 1)πx
= + sen . (6.37)
2 k=1 (2k − 1)π 3

Na Figura (4.3) e mostrada a aproximação da função.

101
Figura 6.1: Aprox. da função f (x) em [−3, 3] para k ≤ 3, k ≤ 15, k ≤ 30

2.- f definida em [−π, π].

Para obter um desenvolvimento de Fourier da função f bastará fazer L = π em


(6.22). Assim,

a0 X
f (x) = + {ak cos kx + bk sen kx}. (6.38)
2 k=1

onde os coeficientes de Fourier da função f obtem-se de modo análogo ao caso anteior-


mente considerado. Logo,

1 π
Z
a0 = f (x) dx. (6.39)
π −π
1 π
Z
ak = f (x) cos kx dx (6.40)
π −π
1 π
Z
bk = f (x) sen kx dx (6.41)
π −π

Exemplo 6.4. Ache a série de Fourier da função periódica f no intervalo [−π, π]



 0, x ∈ [−π, 0]
f (x) = (6.42)
 x, x ∈ (0, π]

Sol.:

Como esta função é periódica em [−π, π] (Fig. 4.1), então usando (6.39), (6.40) e
(6.41) temos
π π
1 1 π
Z Z
a0 = f (x) dx = x dx = (6.43)
π −π π 0 2

102
Figura 6.2:

1 π
Z π
1
Z
ak = f (x) cos kx dx = x cos kx dx
π −π π 0
 π Z π  Z π π
1 sen kx sen kx 1 cos kx
= x − dx = − sen kx dx = 2
π k 0 0 k kπ 0 k π 0
1 
= 2 cos(kπ) − 1 (6.44)
k π

1 π
Z π
1
Z
bk = f (x) sen kx dx = x sen kx dx
π −π π 0
 π Z π   π 
1 cos kx cos kx 1 π sen kx
= −x + dx = − cos kπ +
π k 0 0 k π k k 2 0
1
= − cos kπ (6.45)
k
Consequentemente,

a0 X 
f (x) = + ak cos kx + bk sen kx
2 k=1
∞  
π X 1  1
= + cos(kπ) − 1 cos kx − cos kπ sen kx (6.46)
4 k=1 k 2 π k

Observação 6.3. Se f é uma função periódica em [−π, π] então


Z π Z λ+2π
f (x) dx = f (x) dx (6.47)
−π λ

3.- f é par ou ı́mpar, definida em [−L, L].

Se uma função g(x) é uma função par em [−L, L] (g(x) = g(−x)), então
Z L Z L
g(x) dx = 2 g(x) dx.
−L 0

103
Figura 6.3: Aprox. da função f (x) para k ≤ 3, k ≤ 10, k ≤ 20

De fato,
Z L Z 0 Z L Z L Z L Z L
g(x) dx = g(x) dx+ g(x) dx = g(−x) dx+ g(x) dx = 2 g(x) dx
−L −L 0 0 0 0

Analogamente, se g(x) é uma função ı́mpar em [−L, L] (g(x) = −g(−x)), então


Z L
g(x) dx = 0.
−L

De fato,
Z L Z 0 Z L Z L Z L
g(x) dx = g(x) dx + g(x) dx = g(−x) dx + g(x) dx
−L −L 0 0 0
Z L Z L
=− g(x) dx + g(x) dx = 0. (6.48)
0 0

• Se uma  função
 par f (x) se desenvolve em série de  Fourier
 em [−L, L], o produto
kπx kπx
f (x) cos é também par e o produto f (x) sen é uma fução ı́mpar, já que
L L

104
   
kπx kπx
a função cos é par e sen é ı́mpar, então
L L
Z L
2
a0 = f (x) dx
L 0
Z L
2 kπx
ak = f (x) cos dx (6.49)
L 0 L
1 L kπx
Z
bk = f (x) sen dx = 0.
L −L L

• Analogamente, se uma função


 ı́mpar f (x) se desenvolve em série de Fourier
 em
kπx kπx
[−L, L], o produto f (x) cos é também ı́mpar e o produto f (x) sen é
L L
uma função par, então
Z L
1
a0 = f (x) dx = 0
L −L
Z L
1 kπx
ak = f (x) cos dx = 0 (6.50)
L −L L
2 L kπx
Z
bk = f (x) sen dx.
L 0 L

Exemplo 6.5. Ache a Série de Fourier da função periódica f (x) = x2 em [−1, 1].

Sol.: Como f (x) é par e periódica em [−1, 1], então usando (6.49) temos

Z 1
2 2
a0 = x2 dx =
1 0 3
Z 1  1 Z 1 
2 2 2 sen kx
sen kx
ak = x cos kx dx = 2 x − 2x dx
1 0 k 0 0 k
 1 Z 1 
2 4 cos kx cos kx
= sen k − −x + dx
k k k 0 0 k

105
1
2 4 4 sen kx
= sen k + cos k −
k k2 k 2 k 0
2 4 4
= sen k + cos k − sen k
k k2 k3
bk = 0. (6.51)

Figura 6.4: Aprox. da função f (x) = x2 para k ≤ 2, k ≤ 5, k ≤ 20

Consequentemente,
∞ ∞  
1 X 1 X 2 4 4
f (x) = + ak cos kx = + sen k + 2 cos k − 3 sen k cos kx. (6.52)
3 k=1 3 k=1 k k k

Exemplo 6.6. Calcular a série de Fourier da função periódica f (x) = x definida em


[−π, π]

106
Sol.: Como esta função é ı́mpar e periódica em [−π, π], então usando (6.50) temos

a0 = 0

ak = 0 (6.53)
π  π Z π 
2 2 cos kx cos kx
Z
bk = x sen kx dx = −x + dx
π 0 π k 0 0 k
 
2 cos kπ
=− π
π k

 2 , se k é ı́mpar

= k (6.54)
− 2 , se k é par

k

Figura 6.5: Aprox. da função f (x) = x para k ≤ 3, k ≤ 10, k ≤ 20

Consequentemente,
∞ ∞ ∞
k+1 2 sen kx
X X X
f (x) = bk sen kx = (−1) sen kx = 2 (−1)k+1 (6.55)
k k
k=1 k=1 k=1

4.- f não periódica.

Suponhamos que a função contı́nua por partes esteja definida num intervalo [a, b].

Podemos representar esta função f (x) nos pontos de continuidade por uma série de
Fourier. Para isso, devemos considerar uma função arbitrária periódica g(x) de perı́odo
2µ > |b − a| que coincida com a função f (x) no intervalo [a, b]. Logo, como g(x) se
desenvolve em série de Fourier, f (x) também se desenvolverá em série de Fourier.

a0 X
g(x) = + (ak cos kx + bk sen kx)
2 k=1


f (x) = g(x) . (6.56)
[a,b]

107
Por outro lado, se f (x) é definida no intervalo [0, L] completamos a função de modo
arbitrário no intervalo [−L, 0]. Logo, podemos desenvolver em série de Fourier a função
f periódica de perı́odo 2L em [−L, L]. Podemos completar a função de forma par ou
ı́mpar dependendo se desejarmos que a série esteja em função de cossenos ou de senos.

6.2 Equações Diferenciais em Derivadas Parciais (EDP)

Definição 6.5. A forma geral de uma equação diferencial parcial de segunda


ordem em duas variáveis independentes x e y é

∂2u ∂2u ∂2u


 
∂u ∂u
a(x, y) 2 + b(x, y) + c(x, y) 2 = f x, y, u, , . (6.57)
∂x ∂x ∂y ∂y ∂x ∂y

108
No caso particular que a função
 
∂u ∂u ∂u ∂u
f x, y, u, , = d(x, y) + e(x, y) + g(x, y)
∂x ∂y ∂x ∂y

diremos que a EDP é linear. Neste caso, se g(x, y) = 0 a equação se diz homogênea,
em caso contrário, é não-homogênea.

Definição 6.6. (Classificação de Equações) A equação diferencial parcial de segunda


ordem (6.57) é

1. Hiperbólica em (x0 , y0 ), se b2 (x0 , y0) − 4a(x0 , y0 )c(x0 , y0 ) > 0

2. Parabólica em (x0 , y0 ), se b2 (x0 , y0 ) − 4a(x0 , y0 )c(x0 , y0 ) = 0

3. Elı́tica em (x0 , y0 ), se b2 (x0 , y0 ) − 4a(x0 , y0 )c(x0 , y0 ) < 0

∂2u ∂2u
Exemplo 6.7. A Equação da onda − 2 = f (x, t) é linear, não homogênea,
∂t2 ∂x
e desde que a(x, t) = −1, b(x, t) = 0 e c(x, t) = 1 será tipo hiperbolica no domı́nio de
f.
∂u ∂ 2 u
Exemplo 6.8. A Equação do Calor − 2 = f (x, t) é linear, não homogênea,
∂t ∂x
e como a(x, t) = −1, b(x, t) = 0 e c(x, t) = 0 será tipo parábolica no domı́nio de f .
∂2u ∂2u
Exemplo 6.9. A Equação de Laplace + = f (x, y) é linear, não homogênea,
∂x2 ∂y 2
e já que a(x, y) = 1, b(x, y) = 0 e c(x, y) = 1 será tipo elı́tica no domı́nio de f .
∂2u ∂2u
Exemplo 6.10. A Equação de Tricomi y + 2 = 0 é linear, homogênea, e
∂x2 ∂y
visto que a(x, y) = y, b(x, y) = 0 e c(x, y) = 1, será de tipo misto.

De fato, já que b2 (x, y) − 4a(x, y)c(x, y) = −4y,

1. no semiplano y < 0, a eq. será hiperbólica,

2. no eixo y = 0, a eq. será parabólica,

3. no semiplano y > 0, a eq. será elı́tica.

109
Exercı́cios: Classifique as equações abaixo

1. 4uxx + 12uxy + 5uyy = 6ux − uy

2. uxx − 4uxy + 4uyy = 4 + 2ux

3. 2uxx + 9uxy + 9uyy = xy u

4. (1 + x2 )2 uxx − 2(1 + x2 )(1 + y 2)uxy + (1 + y 2 )2 uyy = 0

5. (1 + x2 )2 uxx − (1 + y 2 )2 uyy = 0

6. uxx − (1 + x2 )2 uyy = 0.

Definição 6.7. Uma solução de uma EDP de duas variáveis independentes x e y é


uma função u(x, y) que possui todas as derivadas parciais que comparecem na equação
(6.57) e que satisfaz a equação em alguma região do plano xy.

Para achar soluções particulares de uma EDP usaremos um método chamado método
de separação de variáveis, o qual consiste em procurar soluções u(x, y) da forma

u(x, y) = X(x)Y (y), (6.58)

de modo que a EDP seja reduzida a duas EDO’s.

Exemplo 6.11. Ache a solução da EDP uxx = 4uy .

Sol.: Se u(x, y) = X(x)Y (y) então substituindo na EDP temos:

X ′′ (x)Y (y) = 4X(x)Y ′ (y). (6.59)

Logo,

X ′′ (x) Y ′ (y)
= = α ( constante). (6.60)
4X(x) Y (y)

Como o membro esquerdo da igualdade anterior é independente de y e é igual ao


membro direito, que é independente de x, concluı́mos que cada membro da eq. (6.60)
deve ser uma constante. Distinguimos os seguintes casos:

110
Caso I Se α = λ2 > 0, então

X ′′ (x) Y ′ (y)
= = λ2 . (6.61)
4X(x) Y (y)

conduzem a

X ′′ (x) − 4λ2 X(x) = 0 e Y ′ (y) − λ2 Y (y) = 0. (6.62)

2y
Estas equações admitem as soluções X(x) = c̃1 e2λx + c̃2 e−2λx e Y (y) = c3 eλ ou

2
X(x) = c1 cosh 2λx + c2 sinh 2λx e Y (y) = c3 eλ y .

Consequentemente

2y
u(x, y) = (C1 cosh 2λx + C2 sinh 2λx)eλ (6.63)

Caso II Se α = −λ2 < 0, então

X ′′ (x) Y ′ (y)
= = −λ2 . (6.64)
4X(x) Y (y)

conduzem a

X ′′ (x) + 4λ2 X(x) = 0 Y ′ (y) + λ2 Y (y) = 0. (6.65)

Estas equações admitem as soluções

2
X(x) = c4 cos 2λx + c5 sen 2λx e Y (y) = c6 e−λ y .

Consequentemente

2y
u(x, t) = (C3 cos 2λx + C4 sen 2λx) e−λ (6.66)

Caso III Se α = 0, então

X ′′ (x) Y ′ (y)
= = 0. (6.67)
4X(x) Y (y)

conduzem a

X ′′ (x) = 0 Y ′ (y) = 0. (6.68)

111
Estas equações admitem as soluções

X(x) = c7 x + c8 e Y (y) = c9

Consequentemente

u(x, t) = C5 x + C6 . (6.69)

Note-se que a solução adotada vai depender das condições iniciais e de fronteira
para obter soluções não nulas..

Observação 6.4. A separação de variáveis não é um método geral para achar soluções
particulares, algumas EDP’s lineares simplesmente não são separáveis. Por exemplo,
uxx − uy = x

Teorema 6.2. (Principio de Superposição) Se u1 , u2 , . . . , un são soluções de uma


equação de derivadas parciais linear homogênea, então a combinação linear

u = c1 u 1 + c2 u 2 + . . . + cn u n ,

também é solução, quaisquer que sejam os valores das constantes c1 , c2 . . . , cn .

6.3 Equações Fundamentais da Fı́sica-Matemática

Chamam-se equações fundamentais da fı́sica-matemática (para o caso de funções de


duas variáveis independentes) as seguintes equações diferenciais com derivadas parciais
de segunda ordem

1. Equação de Onda (D’Alembert -1949): Aplicada na análise de processos


de vibrações transversais de uma corda, oscilações elétricas em um condutor,
oscilações de um gás, etc. Esta equação é a mais simple do tipo hiperbólico.

2. Equação de Transferência de Calor: Ajuda na análise de processos de


propagação de calor, filtração de lı́quido e gás em um meio poroso (por exemplo
filtração de petróleo e gás em areniscos subterráneos). Esta equação é a mais
simple do tipo parabólico.

112
3. Equação de Laplace. Aplica-se ao estudo de campos electricos e magnéticos
sobre o estado térmico estacionário, e em problemas de hidrodinámica, difusão,
etc. Esta equação é a mais simple do tipo elı́tico.

6.3.1 Equação do Calor

Consideremos uma vara que se estende ao longo do eixo x. Assumimos que a vara
tem seção transversal perpendicular ao eixo x, com área A que é feita de um material
homogêneo, de forma que possamos supor que:

• A seção transversal da vara é tão pequena que u é constante em cada seção


transversal;

• A superfı́cie lateral da vara é isolada de modo que não passe calor através dela;

• A vara tem comprimento L e que sua função-temperatura é f (x) no instante


t = 0.

Se cada extremo da vara fosse fixada num bloco grande de gelo terı́amos as condições
de fronteira

u(0, t) = u(L, t) = 0.

Assim, combinando tudo isto, temos o problema de contorno:



ut − c ∂x2 u = 0 em Q = (0, L) × (0, T )






u(0, t) = u(L, t) = 0 t ∈ (0, T ) (6.70)




u(x, 0) = f (x),

x ∈ (0, L),

onde c é a condutividade térmica do material da vara. A equação (6.70) modela a


variação de temperatura u(x, t) com a posição x e o tempo t numa vara aquecida que
se estende ao longo do eixo x.

113
Solução por Separação de Variáveis da Equação do Calor

Procuraremos uma solução particular da forma:

u(x, t) = X(x)T (t)

Substituindo-se na equação (6.70) obtemos:

X(x)T ′ (t) = cX ′′ (x)T (t)

Separando as variáveis obtemos

X ′′ (x) T ′ (t)
= = α, α constante. (6.71)
X(x) cT (t)

1er Caso Se α = −λ2 < 0, então temos as seguintes EDO’s


T ′ (t) 2
a) = −λ2 c ⇒ (ln T (t))′ = −λ2 c ⇒ T (t) = C e−λ ct , C = cte.
T (t)
b) X ′′ (x) + λ2 X(x) = 0 (E.D.O. de 2a ordem), cujo polinômio caracterı́stico é
p(r) = r 2 + λ2 = 0, com raı́zes r = ±λi. Logo, a solução desta EDO é

X(x) = A cos λx + B sen λx

Portanto, uma solução particular é:

2 ct
u(x, t) = (A cos λx + B sen λx)C e−λ

Utilizando as condições de fronteira, obtemos que:

2 ct
u(0, t) = A C e−λ =0 ⇒ A=0 (6.72)
2 ct nπ
u(L, t) = B C e−λ sen λL = 0 ⇒ λL = nπ ⇒ λ= (6.73)
L

Consequentemente, para cada n ∈ N temos soluções particulares da forma


  2
−λ2 ct nπx − nπ
un (x, t) = B C sen(λ x) e = B C sen e L ct .
L

Portanto, pelo princı́pio de superposição, a solução geral de (6.70) é


∞ 2  
X − nπ ct nπx
u(x, t) = Bn e L sen . (6.74)
n=0
L

114
Por outro lado, se f (x) admite um desenvolvimento em séries de Fourier em [0, L],
das condições de fronteira obtemos que
∞   ∞     
X nπx a0 X nπx nπx
u(x, 0) = Bn sen = f (x) = + an cos + bn sen .
n=0
L 2 n=1 L L

Da igualdade acima é claro que a0 = 0, an = 0, e

2 L
 
nπx
Z
Bn = bn = f (x) sen dx
L 0 L

Para o caso α = 0 e α > 0 obtemos soluções nulas.

Exemplo 6.12. Suponha que uma vara de 50 cm de comprimento é imersa em vapor


até que sua temperatura seja de 100o C ao longo dela toda. No instante t = 0, sua
superfı́cie lateral é isolada e suas duas extremidades são enterradas em gelo a 0o C.
Calcule a temperatura no seu ponto médio após meia hora, se a vara é feita de:

1. ferro (c = 0, 25).

2. concreto (c = 0, 005)

Sol.: Seja L = 50 e f (x) = 100, então o problema consiste em achar u(x, t) tal que

ut − c ∂x2 u = 0






u(0, t) = u(50, t) = 0 (6.75)




u(x, 0) = 100, ∀ x ∈ (0, 50).

Usando (6.74) temos que


∞  
X
−( nπ )2 c t nπx
u(x, t) = Bn e 50 sen ,
n=0
50

onde
Z 50   50
2 nπx 50 nπx 200
Bn = 100 sen dx = −4 cos = [1 − cos nπ]
50 0 50 nπ 50 0 nπ

 0, se n for par
= 400 (6.76)
 , se n for ı́mpar.

115
Consequentemente
 
X 400 −( nπ )2 c t nπx
u(x, t) = e 50 sen . (6.77)
n= ı́mpar
nπ 50

Assim, quando o material é ferro, a temperatura no ponto médio x = 25 cm, no


instante t = 30 min = 1800 seg. é:
 
400 X 1 ( −450 n22 π2 ) nπ
u(25, 1800) = e 50 sen
π n ı́mpar n 2

400 X (−1)n−1 ( −9 (2n−1)2 π2 )
= e 50 ≈ 21, 54oC. (6.78)
π n=1 2n − 1

Quando o material é concreto, a temperatura no ponto médio x = 25 cm, no


instante t = 30 min = 1800 seg. é:
 
400 X 1 ( −9 n22π2 ) nπ
u(25, 1800) = e 50 sen
π n∈ ı́mpar n 2

400 X (−1)n−1 ( −9 (2n−1) 2 π2
)
= e 502 ≈ 100o C. (6.79)
π n=1 2n − 1

6.3.2 Equação de Onda ou da Corda Vibrante

Estuda as pequenas vibrações transversais de uma corda flexı́vel. O fenômeno tem


lugar num plano (x, u) e supõe-se que a corda vibre em torno da posição de repouso

116
ao longo do eixo x.

Consideremos uma corda uniforme, fina e flexı́vel, com comprimento L a qual está
fortemente esticada entre dois suportes fixos, em um mesmo nı́vel horizontal, de modo
que o eixo coordenado x seja coincidente com a corda.

Suponhamos que a vibração da corda seja no plano vertical (x, u), de tal maneira
que cada ponto da corda se mova na direção perpendicular ao eixo x e paralelamente ao
eixo das ordenadas u (vibrações transversais). Isto é, não existe movimento na direção
horizontal pois as componentes horizontais das tensões se anulam. A corda elástica
pode ser a corda de um violino, ou um cabo de retenção, ou uma linha de transmissão.
O objetivo é determinar a forma da corda em qualquer momento e a lei de movimento
de cada ponto da corda em função do tempo.

A fim de determinar a equação diferencial que rege o movimento da corda, consi-


deramos as forças que atuam sobre um pequeno elemento de corda de comprimento
∆x situado entre os pontos x e x + ∆x.

Denotemos por u(x, t) o deslocamento vertical no instante t > 0 do ponto x da


corda desde sua posição de equilı́brio. Então, para qualquer valor fixo de t, a forma da
corda no instante t é definida por u = u(x, t). Logo, temos algumas suposições para
encontrar uma solução:

• A corda é perfeitamente flexı́vel e não oferece resistência a vibração.

117
• A corda é homogênea, isto é, com densidade linear constante ρ (ρ é a massa por
unidade de comprimento).

• Os deslocamentos u(x, t) são pequenos se comparados com o comprimento da


corda.

• Como a corda é perfeitamente flexı́vel a tensão T (x, t) no ponto (x, t) atua tan-
gencialmente ao longo da onda e seu módulo é o mesmo em todos os pontos dela.
Esta força é infinitamente maior do que o peso da corda, por isso a atuação da
gravidade é nula.

Com estas suposições podemos esperar soluções u(x, t) que descrevam bem a realidade
fı́sica. Assim, num determinado instante t visualizamos a corda fixa nos pontos 0 e L
como na figura seguinte:

Consideremos I = [x, x + ∆x], onde 0 < x < L. Como não existe movimento na
direção horizontal, as tensões se anulam e daı́ temos que:

T (x + ∆x, t) cos(θ + ∆θ) − T (x, t) cos θ = 0 (6.80)

Pela Segunda Lei de Newton a resultante das forças verticais é igual ao produto da
massa m (m = ρ ∆x) pela aceleração. Sendo assim, temos:

T (x + ∆x, t) sen(θ + ∆θ) − T (x, t) sen θ = ρ ∆x utt (x, t) (6.81)

118
onde x é a coordenada do centro de massa do elemento da corda que está sendo anali-
sado. Como é claro, x está no intervalo (x, x + ∆x). Note-se que o peso da corda que
atua na vertical para baixo, não aparece em (6.81), pois, esta é considerada desprezı́vel.

Denotando por TV = T (x, t) sen θ a tensão vertical e TH = T (x, t) cos θ a tensão


horizontal (não depende de x), de (6.80-6.81) temos que:

TH (x + ∆x, t) = TH (x, t)

TV (x + ∆x, t) − TV (x, t) = ρ ∆x utt (x, t) (6.82)

Logo, dividindo por ∆x a segunda igualdade temos

TV (x + ∆x, t) − TV (x, t)
= ρ utt (x, t)
∆x

Consequentemente, tomando o limite quando ∆x → 0 temos que x → x e

d
TV (x, t) = ρ utt (x, t).
dx

TV (x, t) TV (x, t)
Por outro lado, tan θ = = , então
TH (x, t) TH (t)
d
[TH (t) tan θ] = ρ utt (x, t)
dx

Porém, tan θ = ux (x, t), logo

d
TH (t) [ux (x, t)] = ρ utt (x, t).
dx

Portanto,

TH (t)
utt (x, t) − c2 uxx (x, t) = 0, onde c2 = (6.83)
ρ

Para pequenos movimentos da corda é possı́vel assumir TH = T não dependendo de t.


massa
Como T = massa × aceleração e ρ = , então:
comprimento
r s
massa × aceleração × comprimento comprimento2
c= = = velocidade
massa tempo2

É possı́vel identificar c com a velocidade com que uma pequena perturbação (a onda)
se desloca ao longo da corda.

119
Observação 6.5. De acordo com o tipo de forças temos os seguintes casos:

1. Vibrações Livres, quando as únicas forças atuantes são as de tensão, logo

utt − c2 uxx = 0

2. Vibrações Forçadas, quando a corda esta sujeita a uma força exterior, logo

utt − c2 uxx = F (x, t)

3. Vibrações Amortecidas, quando a corda esta imersa em um fluı́do (ou ar) que
opõe uma resistência ao movimento. Nesse caso, há uma força externa F (x, t)
dependendo de forma linear ou não linear da velocidade. Por exemplo, no caso
linear temos:
utt − c2 uxx = −but (x, t) (b > 0)

4. Vibrações sob ação de uma Força Restauradora, quando existe uma força tendente
a trazer a corda a posição inicial u ≡ 0. Por exemplo,

utt − c2 uxx = −au(x, t) (b > 0)

Condições Iniciais e de Fronteira

Sob o ponto de vista matemático é importante conhecer as Condições Iniciais do


problema, isto é, o deslocamento inicial da corda, representado por u(x, 0), e o modo
como a corda é abandonada nesta posição, o que é traduzido pela velocidade inicial
ut (x, 0). Resumindo,

u(x, 0) = f (x), ut (x, 0) = g(x) 0 ≤ x ≤ L.

Embora, a descripção do processo vibratório de uma corda finita só ficará completo
se considerarmos o tipo de articulação das extremidades, chamadas Condições de
Fronteira, vejamos alguns casos:

1. Corda Finita com Extremidades Fixas. Implica que u(0, t) = u(L, t) = 0.

120
2. Corda Finita com Extremidades Livres. Implica que ux (0, t) = ux (L, t) = 0.

3. Outras condições de Fronteira. Por exemplo, o caso de uma corda cujas extre-
midades se movem, transversalmente

u(0, t) = a(t), u(L, t) = b(t), para t ≥ 0

Solução da Eq. de Onda por Séries de Fourier

A seguir usando o método de Separação de Variáveis e as séries de Fourier resolveremos


o problema de deslocamento vertical de uma corda vibrante com extremidades fixas:

utt (x, t) = c2 uxx (x, t) 0 < x < L, t ≥ 0






u(0, t) = u(L, t) = 0, t ≥ 0 (6.84)




 u(x, 0) = f (x), ut (x, 0) = g(x) 0 ≤ x ≤ L

Observe-se que a corda é perturbada de sua posição de equilı́brio f (x) e depois libertada
com velocidade g(x) no instante t = 0, a fim de vibrar livremente.

Para resolver o problema (6.84) usaremos o método de separação de variáveis ou


também chamado método de Fourier.

Supondo u(x, t) = X(x)T (t) então

X(x) T ′′ (t) = c2 X ′′ (x) T (t). (6.85)

Pelas condições de fronteira u(0, t) = X(0) T (t) = 0 e u(L, t) = X(L) T (t) = 0


resulta que

X(0) = 0 e X(L) = 0. (6.86)

Separando as variáveis temos


X ′′ (x) 1 T ′′ (t)
= 2 = α, com α sendo uma constante. (6.87)
X(x) c T (t)
Consideramos três casos:

1o Caso Se α = λ2 > 0 , então


X ′′ (x) 1 T ′′ (t)
= 2 = λ2 . (6.88)
X(x) c T (t)

121
Logo,

 X ′′ (x) − λ2 X(x) = 0
e T ′′ (t) − λ2 c2 T (t) = 0 (6.89)
 X(0) = X(L) = 0

Resolvendo a EDO X ′′ − λ2 X = 0 usando a equação caracterı́stica: r 2 − λ2 = 0,


encontramos que r = ±λ, logo

X(x) = C1 eλx + C2 e−λx .

Mais pelas condições iniciais X(0) = X(L) = 0, resulta que

C1 = −C2 e C1 eλL = −C2 e−λL . (6.90)

Uma vez que L > 0 temos que C1 = C2 = 0, logo X(x) = 0, ∀ x ∈ [0, L]. Portanto,

u(x, t) = 0 (6.91)

2o Caso Se α = 0, então

X ′′ (x) 1 T ′′ (t)
= 2 = 0. (6.92)
X(x) c T (t)

Consequentemente X ′′ (x) = 0 cuja solução é X(x) = Ax + B. Pelas condições de


fronteira X(0) = 0 e X(L) = 0 resulta que A = 0 e B = 0, logo X(x) = 0. Portanto,

u(x, t) = 0. (6.93)

3o Caso Se α = −λ2 < 0, então

X ′′ (x) 1 T ′′ (x)
= 2 = −λ2 . (6.94)
X(x) c T (t)

Logo,

 X ′′ (x) + λ2 X(x) = 0
e T ′′ (t) + λ2 c2 T (t) = 0 (6.95)
 X(0) = X(L) = 0

Para resolver a EDO X ′′ + λ2 X = 0 usamos a equação caracterı́stica: r 2 + λ2 = 0,


cujas raizes são r = ±λi. Logo

X(x) = A cos λx + B sen λx (6.96)

122
onde A e B são constantes reais.

Usando a condição de fronteira X(0) = 0 em (6.96) tem-se que, A + 0 = 0 e


portanto A = 0. Análogamente, de X(L) = 0, resulta que A cos λL + B sen λL = 0,
o que implica que B sen λL = 0. Como B 6= 0, então sen λL = 0. Isto é, λL = nπ ,

λ= , n = 1, 2, 3, ....
L
Portanto, uma solução da EDO dada em (6.95) é
nπx
Xn (x) = B sen , n = 1, 2, 3, ...
L

Agora para cada λn = resolvemos o problema:
L
T ′′ (t) + λ2n c2 T (t) = 0. (6.97)

A equação caracterı́stica associada a (6.97) é dada por r 2 + λ2n c2 = 0 a qual tem por
nπc
solução r = ± λn c i = ± i. Portanto,
L
   
nπc t nπc t
Tn (t) = C cos + D sen . (6.98)
L L

Consequentemente, para cada n ∈ N obtemos soluções da equação de onda da


forma:
     
nπx nπct nπct
un (x, t) = sen an cos + bn sen , (6.99)
L L L
que satisfazem a condição de fronteira u(0, t) = u(L, T ) = 0. Estas soluções são
chamadas de ondas estacionárias, pois para x, tal que n π x/L = kπ, isto é, se
x = kL/n, k = 1, 2 . . . , n, temos sen(n π x/L) = 0. Portanto esses pontos, e apenas
esses, permanecem parados se a vibração da corda é descrita apenas pela função un
(nós da onda estacionária).

Logo, pelo princı́pio de superposição, uma solução formal do problema (6.84) é



X
u(x, t) = αn un (x, t)
n=1
∞       
X nπct nπct nπx
= αn an cos + bn sen sen
n=1
L L L
∞       
X nπct nπct nπx
= An cos + Bn sen sen (6.100)
n=1
L L L

123
e também solução se a série for convergente.

Resta apenas escolher {An } e {Bn } para que seja satisfeita a condição inicial. Para
isto, devemos supor que as funções f, f ′ , f ′′ e g, g ′ sejam contı́nuas em [0, L] e f ′′′ e
g ′′ seccionalmente contı́nuas em [0, L].

Como, u(x, 0) = f (x), então


∞  
X nπx
An sen = f (x) ∀ x ∈ [0, L].
n=1
L

Mas isto é a série de Fourier em senos de f (x) desde que escolhamos:

2 L
 
nπx
Z
An = f (x) sen dx (6.101)
L 0 L

Por outro lado, como ut (x, 0) = g(x) então


∞  
X nπc nπx
Bn sen = g(x), (6.102)
n=1
L L

de onde resulta que


Z L  
2 nπx
Bn = g(x) sen dx. (6.103)
nπc 0 L

Exemplo 6.13. Encontre a solução da equação da onda


 2
∂ u ∂2u
− 25 =0


 ∂t2 ∂x2



u(0, t) = u(3, t) = 0 (6.104)


u(x, 0) = 1 sen πx, ut (x, 0) = 10 sen 2πx



4

124
1
Sol.: Substituindo L = 3, c = 5 e a função f (x) = sen πx em (6.101), temos:
4
2 31 1 3
   
nπx nπx
Z Z
An = sen πx sen dx = sen πx sen dx
3 0 4 3 6 0 3
 Z 3     
1 1 nπx nπx
cos πx − − cos πx + dx, se n 6= 3


6 Z0 2  3 3

=
1 31

1 − cos(2πx) dx, se n = 3



6 0 2
     3
 1 nπx 1 nπx
nπ sen πx − − sen πx +

 , se n 6= 3

12(π − 3 ) 3 12(π + 3 ) 3 0

= 3
 x sen(2πx)

 − , se n = 3
12 24π 0


0, se n 6= 3

= (6.105)
 1 , se n = 3

4

Analogamente, para g(x) = 10 sen 2πx, substituindo em (6.103), obtemos:


Z 3   Z 3  
2 nπx 4 nπx
Bn = 10 sen 2πx sen dx = sen 2πx sen dx
5nπ 0 3 nπ 0 3
cos(2πx − nπx ) − cos(2πx + nπx
 Z 3
)

4 3 3
dx, se n 6= 6