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84 Sistemas de corpos rígidos.

Treliças

6.2 Estruturas Articuladas


Definição: Estruturas reticuladas cujas barras estão ligadas entre si nas suas ex-
tremidades por rotulas ou articulações (nós articulados) e com o exterior por
apoios, designam-se por treliças.

As treliças são sistemas práticos e económicos de sustenção, por isso são muito
correntes em engenharia civil: suporte de uma cobertura, pontes, sistemas de
transporte para energia eléctrica, etc.

Componentes: linha de asna, perna da asna, pendural, montante, diagonal e nó.


perna da asna diagonal

montante
no

pendural
linha da asna

Asna de 2 águas para suporte de uma cobertura

        


   
de via inferior
   
treliça Inglesa


     


    

  
de via superior     treliça em K

treliça Howe

Exemplos de treliças para pontes e coberturas.

As treliças podem ser vistas como:

1. um conjunto de partículas (nós) ligados entre si por barras e com o exte-


rior por apoios;

2. um conjunto de barras (corpos rígidos) ligados entre si nas suas extremi-


dades por articulações (nós) e com o exterior por apoios.

As treliças transmitem acções (representadas por forças) para os apoios (pare-


des, pilares, etc...), portanto é necessário que elas sejam geometricamente inde-
formáveis e de ter uma posição fixa relativamente aos apoios.

Para garantir que a estrutura é geometricamente indeformável tem que existir uma
relação para entre o numero dos nós,n, barras, b, e apoios, re.
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A condição necessária para que uma treliças seja geometricamente estável é veri-
ficar a seguinte relação:
2 × n = b + re
A condição da estabilidade geométrica é satisfeita por um triângulo (estruturas
trianguladas).
Tabela 6.2: Relação nós, barras e apoios 2 n = b + re. Estatia e estabilidade ge-
ométrica das treliças
2 n ? b + re Ligações Estatia Estabilidade Geom.
2 n = b + re Suficientes isostática Indeformáveis
2 n > b + re Insuficientes hipostática Deformáveis
2 n < b + re Em excesso hiperstática Indeformáveis

As relações acima definidas são apenas condições necessárias mas não suficientes,
pois não englobam informação relativamente o posicionamento das ligações.
geometricamente indeformaveis geometricamente deformaveis
B=3 Nos= 3 R = 3 B=5 Nos= 4 R = 3 B = 13 Nos= 8 R = 3

B=9 Nos= 6 R = 3 B = 13 Nos= 8 R = 3

6.2.1 Hipóteses simplificativas


A análise das treliças têm o objectivo de cálculo das reacções externas e as
reacções internas ou forças nas barras, cujo estudo se baseia em três hipóteses
simplificativas:

1. As barras são consideradas rígidas e as dimensões da secção transversal são


reduzidas em relação ao seus comprimentos, por isto as barras podem ser
representadas pelos seus eixos.

2. As treliças são solicitadas por cagas concentradas aplicadas nos nós. O peso
próprio das barras é geralmente desprezável quando comparado com as
acções exteriores.

3. Os nós das treliças são articulações perfeitas portanto não impedem a ro-
tação e por isto não existe reacção de momento (Na realidade os nós não
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são perfeitamente articuladas e se desenvolvem esforços de flexão. No en-


tanto numa primeira aproximação os efeitos secundários são des presáveis
por serem geralmente pequenas as relações relativas dos nós.)

6.2.2 Análise das treliças


Exemplos de nós, esquematização e diagramas de corpo livre.

Considerando a representação das treliças como um conjunto de barras ligadas


entre elas nas suas extremidades por articulações, formando um sistema de corpos
rígidos, para determinar as reacções internas constroem-se os diagramas de corpo
livre para as barras.
A B HA A B HB

VA VB
C

Escrevendo as equações de equilíbrio na base do DCL da barra AB temos:


 P 
 P MB = 0  −VA lAB = 0
V = VB = 0
Fy = 0 ⇒ VA + V B = 0 ⇒ A
 P  HA = H B
Fx = 0 HA − H B = 0
Os resultados obtidos permitem concluir que as reacções na extremidade A e B
de uma barra bi-rotulada sem carregamento tem valor constante e a direcção co-
incide com a direcção da barra, mas têm sentido contrário:
~ A = V~A + H
R ~A = H
~A ; e ~ A = −R
R ~B

A B
NAC A

C
C NCA

Considerando a representação das treliças como um conjunto de nós ligados en-


tre si por barras bi-rotuladas, o equivalente mecânico das ligações entre os nós
(reacções internas) são forças de reacção com linhas de acção que coincide com a
direcção das barras.
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A B
A B

C
C
forças de ligaçao

As forças NAB e −NAB ( NBA e −NBA ) asseguram equilíbrio nas secções em que
actuam.
A NAB A B NBA B

−NAB −NBA

Como os nós estão em equilíbrio as barras sob acção das internas actuantes tam-
bém têm que estar em equilíbrio portanto NAB = NBA . As forças de reacção
internas quando actuam nas barras, chamam-se esforços.
Dependendo do sinal das forças de reacção internas (esforços) são de compressão
(entram no nó) ou de tracção (saem de nó).
Tracção Compressão

6.2.3 Calculo das reacções externas e dos esforços nas barras


Nos casos em que a treliça é isostática, as reacções externas determinam-se es-
crevendo as equações de equilíbrio global a partir do DCL da treliça, considerando
a treliças como um único corpo rígido sob acção das forças aplicadas e as reacções
externas.
As hipóteses simplificativas consideradas e as duas representações possíveis
para as treliças permitem concluir que as reacções internas, respectivamente
os esforços nas barras podem ser determinadas considerando o equilíbrio da
partícula (nó) ou o equilíbrio do corpo rígido, a partir do diagrama do corpo livre:

1. dos nós – pelo método dos nós;

2. de um conjunto de barras – pelo método das secções.

6.2.4 Método dos nós


As equações de equilíbrio escrevem-se na base de diagrama de corpo livre (DCL)
da cada nó (i), para qual se considera que sobre o nó actuam as forças aplicadas
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~i ), as reacções internas(N~ij ) e reacções externas (R


(P ~ i ), formando um sistema de
forças concorrentes. A equivalência do sistema de forças a zero é garantido desde
que R ~ = ~0, ou seja:
X
~i + R
P ~i + N~ij = ~0 (6.4)

A equação de equilíbrio vectorial se traduz em duas equações analíticas para o


caso plano e três equações de projecção para o espaço.
X X  X 
Fx = 0 ; Fy = 0 ; 3D : Fz = 0 (6.5)

Metodologia de resolução dos problemas pelo método dos nós


Para determinar as reacções externas e internas nos nós respectivamente esforços
nas barras os passos a percorrer são:

• determinar as reacções externas do equilíbrio global da estrutura (corpo


rígido);

• isolar sucessivamente todos os nós, desenhando os DCLs correspondentes,


representando as forças actuantes. Escrevem-se as equações de equilíbrio da
partícula e determinam-se as incógnitas. O numero das equações possíveis
para o conjunto total dos nós é de 2 × N RN os ( 3 × N RN os para o caso
3D), podendo determinar as N Rbarras incógnitas. O sentido do vector das
reacções internas arbitra-se e no final o resultado é corrigido.

Observação: Para maior eficiência do método convêm começar com os nós em


que incidem apenas duas barras de esforços desconhecidos.

6.2.5 Método das secções


Nos casos em que é preciso determinar o esforço em apenas algumas barras é con-
veniente utilizar um método mais eficaz, i.e. o método das secções, que se baseia
~ = ~0 ; M
no equilíbrio de um sistema de forças não concorrentes ou seja ( R ~ o = ~0).
X X
P~i + R
~i + N~ij = ~0 e ~ oi = ~0
M (6.6)

Metodologia de resolução dos problemas pelo método das secções


Para determinar as reacções externas e internas nos nós e esforços nas barras
consideram-se os seguintes passos:

• determinar as reacções externas do equilíbrio global da estrutura (corpo


rígido).
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• fazer corte na treliça de modo a abrir um numero máximo de três barras e


introduzir os esforços nas barras cortadas. Os DCLs obtidos para cada parte
após o corte ficará em equilíbrio. Escolha-se uma das partes e escrevem-se
as respectivas equações de equilíbrio (três para o caso plano e seis para o
caso 3D) para determinar as reacções internas nós que foram ligadas pelas
barras cortadas.
Se o numero das barras abertas pelo corte for maior de três, as equações de equi-
líbrio não serão suficientes para determinar os esforços nas barras cortadas. Ao
fazer o corte e preciso ter em conta que as barrar cortadas não podem ser parale-
las entre elas ou concorrentes num ponto que não seja o nó, nestes condições a
estrutura não é correctamente constituída.
Observação Para obter equações com uma incógnita podem usar-se as equações
de momento nulos em relação aos pontos de convergência de cada duas barras
(não co-lineares).

6.2.6 Método combinado


O método combinado consta em aplicar uma vez ou várias vezes o método das
secções em combinação com o método dos nós.

6.2.7 Nós sujeitas a condições especiais de carregamento


Algumas barras podem ter esforços nulos perante alguns casos de carregamento.
Os reforços nulos podem ser determinadas apenas aplicando algumas regras:
• se num nó sem carregamento concorrem apenas duas barras com direcções
diferentes os esforços nas respectivas barras são nulos, (Figura a).
• de num nó sem carregamento concorrem apenas três barras, dos quais duas
são co-lineares, o esforço na terceira barra é nulo e nas barras co-lineares
os esforços são iguais, (Figura b). (No caso em que existe carregamento no
nó na direcção da terceira barra, o esforço nesta barra é igual ao valor do
carregamento, sendo os esforços nas barras colineares iguais, Figura c).
• de num nó sem carregamento concorrem quatro barras, dos quais duas a
duas são co-lineares, o esforço nas barras directamente opostas são iguais,
(Figura d).
P
N2
N =0 N1 N1
N1
N1
N =0 N1
N1 N =0 N =P N2
a) b) c) d)

A aplicação destas regras não exclui a possibilidade da existência de outras barras


sem esforço.
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6.2.8 Exemplos de cálculo das treliças


Problema 6.35 Exemplos: Determine os esforços em todas as barras da treliça,
aplicando o método dos nós.

P B x DCL B
P B DCL C
y NCB
45 C
l NBA NBC NCA=0 45

A HC
C NAB VC
NAC=0
l DCL A
VA

Resolução Desenham-se os DCLs dos nós e começando com o nó B, determinam-


se os esforços nas barras e as reacções externas.
As equações de equilíbrio para o nó B são:
 P  √  √
P Fx = 0 ⇒ P + NBC 2/2√= 0 ⇒
NBC = −2P/ 2 (C)
Fy = 0 −NBA − NBC 2/2 = 0 NBA = P (T )

O esforço NBC têm a direcção contrária do arbitrado.


Do DCL do nó A resulta que o esforço na barra AC é nulo (caso particular) e
a reacção VA = P ↓. Do equilíbrio do nó C obtêm-se as reacções HC e VC : As
equações de equilíbrio para o nó B são:
 P  √ 
F x = 0 N CB 2/2
√ − H C = 0 HC = P ←
P ⇒ ⇒
Fy = 0 −NCB 2/2 + VC = 0 VC = P ↑

Problema 6.36 Aplicando o método das secções, determine os esforços nas bar-
ras HE, F H e EG da treliça.

DCL corte
P P
C E G I C E G I
A A

l l
B J B J
F H F H
l
D
l l l P/2 l
D
l l l P/2

DCL
N GE G I

N HE

J
N HF
H
l P/2
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Resolução As equações de equilíbrio global permitem determinar as reacções


externas. Observa-se a simetria do problema (treliça e carregamento simétricos).
As barras de esforço nulo podem ser identificadas a partir do DCL da treliça
inteira aplicando as regras da Secção 6.2.7: barras BD e HJ, CD e GH.
Segundo as mesmas regras, nas barras CE e CA, respectivamente GE e GI, DF
e F H, os esforços são da mesma intensidade.
As equações de equilíbrio para a parte II (a direita do corte) são:
 P  P  P
 P MH = 0  NGE l√+ 2 l = 0  NGE = − 2 (C)

2 P 2
F y = 0 ⇒ N HE √2
+ 2
= 0

⇒ N HE = −P 2
(C)
 P  
Fx = 0 2 2
NGE 2 + NHE 2 + NHF = 0 NHF = P (T )
Pela simetria do problema o esforço nas seguintes barras é conhecido:
NDF = NHF = P √
(T )
NDE = NHE = P 2/2 (C)
NCE = NGE = P/2 (C)
NCA = NGI = P/2 (C).
Problema 6.37 A treliça é composta por seis barras e está suportada por um
apoio fixo em B , uma biela curta em C e duas bielas curtas em D. Determine o
esforço instalado em cada barras.
y
2184N
DCLs: B e C
A
A

RDx 4.8
D
D

RDy 160.7 N NBC


C NBA
B O 2.1 NBD
RBx C
x
RBz 2.1 B 160.7 N
NBC
RCy 624 N
0.8 RBy
[m] 780 N
z 2.0

Resolução As equações de equilíbrio global permitem determinar as reacções


externas. X
Fz = 0 ⇒ RBz = 0
Observa-se a simetria do problema (treliça e carregamento simétricos) relativa-
mente a um eixo y (que passa pelo ponto A) e por consequência:

RDx = RBx ⇒ RDx = RBx = 0
RDy = RBy
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As restantes equações de equilíbrio, tendo em conta a simetria do problema, são:


 P  
M BD = 0 R Cy × 2.8 − 2184 × 0.8 = 0 RCy = 624 N ↑
P ⇒ ⇒
Fy = 0 RCy + 2 RDy − 2184 = 0 RDy = RBy = 780 N ↑

Pela simetria do problema os esforços nas barras AD e AB, respectivamente nas


barras CB e CD são iguais, NAD = NAB e NCB = NCD
Utilizando o Método dos nós, podemos calcular os esforços nas barras.
~ BC + N
Equilíbrio do nó B: N ~ BD + N
~ BA + 780~ey = ~0
Expressão analítica dos vectores:
√ √
lBC = 2.12 + 2.82 = 3.5 m ; lBA = 0.82 + 2.12 + 4.82 = 5.3 m

~ BC = NBC ~λBC = NBC (2.8 ~ex − 2.1 ~ez ) = NBC (0.8 ~ex − 0.6 ~ez )
N 3.5
~ BA = NBA~λBA = NBA (0.8 ~ex + 4.8 ~ey − 2.1 ~ez ) = NBA (0.15 ~ex + 0.91 ~ey − 0.4 ~ez )
N 5.3
~ BD = NBD ~λBD = −NBD ~ez
N

Equações de equilíbrio escalares:


 P  
 P Fx = 0  0.15 NBA + 0.8 NBC = 0  NBC = 160.71 N (T )
Fy = 0 ⇒ 0.91 NBA + 780 = 0 ⇒ NBA = −857.14 N (C)
 P  
Fz = 0 0.4 NBA + 0.6 NBC + NBD = 0 NBD = 246.43 N (T )

O esforço nas barras CD e AD é:

NCD = NCB = 160.71 N (T )


NAD = NAB = 857.14 N (C)

~ CB + N
Equilíbrio do nó C: N ~ CD + N
~ CA + 624 ~ey = ~0

~ CA :
Expressão analítica do vector N

lCA = 22 + 4.82 = 5.2 m
N~ CA = NCA~λCA = NCA (−2 ~ex + 4.8 ~ey ) = NCA (−0.385 ~ex + 0.923 ~ey )
5.2

Equações de equilíbrio escalares:


X
Fy = 0 ⇒ 0.923 NCA + 624 = 0 ⇒ NCA = −676 N (C)

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