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RESUMO
O objetivo desse artigo é contemplar as possibilidades de uso da Bateria Fatorial de Personalidade
(Teste BFP) no processo de acompanhamento e avaliação de pessoas com medo de dirigir. Dentre os
inúmeros testes de personalidade, como os expressivos e projetivos, a bateria fatorial, fundamentada
nos cinco grandes fatores, Extroversão, Abertura, Neuroticismo, Socialização e Realização, apresenta
certa praticidade e um potencial maior no processo de investigação da dinâmica e da estrutura de
personalidade e comportamento de um sujeito com medo de dirigir. Ela viabiliza o delineamento do
estilo emocional e motivações do sujeito e, junto com outros instrumentos, possibilita a construção
de um cenário sobre os modos de ser do avaliado e a forma como se estabelece e de desdobra o medo
de dirigir em sua vida. Empregar esse instrumento como uma ferramenta de rastreio pode contribuir
RESÚMEN
El objetivo de este artículo es contemplar las posibilidades del uso de la Batería Factorial de
Personalidad (Prueba BFP) en el proceso de acompañamiento y evaluación de personas con miedo
de conducir. Entre las innúmeras pruebas de personalidad, como los expresivos y proyectivos, la
batería factorial, fundamentada en los cinco grandes factores, Extroversión, Apertura, Neuroticismo,
Socialización y Realización, presenta cierta practicidad y un potencial más grande en el proceso de
investigación de la dinámica y de la estructura de personalidad y conducta de un sujeto con miedo de
conducir. Ella viabiliza el delineamiento del estilo emocional y motivaciones del sujeto y, junto con
otros instrumentos, posibilita la construcción de un escenario sobre los modos de ser del evaluado y
la manera como se establece y desarrolla el miedo de conducir en su vida. Emplear este instrumento
como una herramienta de investigación puede contribuir para la fundamentación de una intervención
efectiva junto a aquellas personas, pues sus indicadores se hacen herramientas para el análisis de los
puntos de dinámica psíquica y de la conducta del sujeto. Para aclarar a esta y otras hipótesis, esta
producción fue direccionada por el método cualitativo, a partir de lo cual fue posible explorar datos
biográficos referentes a la evaluación psicológica, de manera general, construir un pantallazo de lo
que es el miedo de conducir y, consecuentemente, reflexionar sobre la manera con que la BFR puede
ser utilizada en el proceso de evaluación de la búsqueda de datos y comprensión de los factores, a fin
de posibilitar la estructuración de una estrategia terapéutica efectiva, tanto en grupo cuanto en el
proceso psicoterapéutico individual, con capacidad para explicar, modificar y cualificar la relación
del individuo consigo mismo, con el otro y con el mundo, al darle condiciones de conducir su auto y,
consecuentemente, su propia vida.
1 INTRODUÇÃO
Este estudo foi desenvolvido com o objetivo de explorar as possibilidades de uso da Bateria
Fatorial de Personalidade (Teste BFP) no processo de acompanhamento e avaliação de pessoas com
medo de dirigir. Essa prática remete ao trabalho do psicólogo no âmbito do trânsito, cujo objetivo é
problematizar os fatores psicológicos e seus desdobramentos em relação ao referido contexto. Para
fundamentar as investigações a respeito daquela questão, foram utilizados documentos (portarias e
resoluções, por exemplo) disponibilizados pelos conselhos federal e regional de psicologia, além de
“o campo teórico da avaliação psicológica são as teorias psicológicas, construídas com base
em constructos, isto é, construções teóricas, geralmente sistematizadas na forma de conceitos
amplos ou específicos, que servem para exemplificar fenômenos e processos psicológicos
não observáveis diretamente”.
Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 3, n. 4, p. 9942-9958 jul./aug. 2020. ISSN 2595-6825
9945
Brazilian Journal of health Review
Esse aparato teórico respalda os métodos de investigação, que podem ser o clínico ou o
experimental. Por ser mais utilizado em pesquisas, o método experimental não será explorado aqui.
Já o clínico, desenroladono processo de “identificar, integrar, inferir e intervir” (PASQUALI, 2011,
p. 17), compreende a observação, o inquérito e a mensuração (quando necessária), realizados através
de instrumentos como as entrevistas, os testes psicológicos, os conteúdos trabalhos em grupo, a
observação participante, a escuta ativa, e outros.
É importante salientar, agora, que, dependendo do contexto, a finalidade da avaliação muda e
ela pode ser tratada em termos diferentes, como exame psicológico, psicodiagnóstico, psicotécnico e
testagem psicológica. O primeiro, de acordo com Alchieri e Cruz (2012, p.31), “define pontualmente
um procedimento de verificar as condições psicológicas das pessoas por meio de instrumentos
psicológicos”, a fim de fornecer um parecer em situações de seleção de pessoas, exames ocupacionais
ou outras finalidades clínicas.
O psicodiagnóstico é um processo avaliativo realizado no contexto clínico, que pode ser
demandado de um processo psicoterapêutico, por exemplo, com a finalidade de esclarecer hipóteses
de doenças psicológicas e quadros de sofrimento psicológico. É comum que desse esclarecimento o
avaliado seja encaminhado para algum profissional ou terapêuta que atenda às necessidades
levantadas.
Com relação à testagem, é um processo onde a principal fonte de informação são os testes
psicológicos, tanto os psicométricos, quanto os projetivos, os fatoriais, de personalidade e outros. Já
o psicotécnico é historicamente conhecido por ser realizado no contexto do trânsito, “com o objetivo
de verificar as condições psicológicas mínimas para dirigir, ou seja, para obter a Carteira Nacional de
Habilitação. ” (ALCHIERI& CRUZ, 2012, p.31).
Diante desses pontos, vale ressaltar que independente do termo, do contexto ou da finalidade,
o fato de ser uma fonte de informações dinâmica e explicativa a respeito de fatores psicológicos,
comportamentais e outros, intrínsecos aos seres humanos, demanda dos resultados da avaliação
considerações e análises dos
os primeiros estudos nessa área tinham como foco as consequências psicológicas nas vítimas
de acidentes de trânsito. Nesses estudos, notou-se que o diagnóstico de transtorno de estresse
pós-traumático (TEPT) e o medo de dirigir eram relativamente comuns em indivíduos
envolvidos em acidentes. No entanto, estudos com população geral, ou seja, com pessoas que
não experimentaram um evento traumático, são escassos. Ainda assim, parte da população
parece também apresentar esse medo. Com isso, não há dados conclusivos sobre a
prevalência do medo de dirigir na população em geral. (CANTINI, JESSYE ALMEIDA et
al., 2013, p.125)
Explorar essa temática é relevante, pois afirma a necessidade de atenção a essa demanda
emergente e incita a produção de conhecimento para compreensão das demais variáveis que
sustentam e envolvem o medo de dirigir. Tudo issofavorece a estruturação de uma estratégia
interventiva multiprofissional, que pode ser efetiva ao ser direcionada para o acompanhamento
integral do usuário.
Nesse sentido, é possível tecer algumas considerações a respeito da prática do psicólogo nesse
contexto (o do trânsito) para além do exame psicotécnico – prática arraigada à identidade desse
profissional nesse meio. Até então, o uso dos testes psicométricos no processo de avaliação é utilizado
como “recurso para predizer a habilidade para dirigir, especialmente para prever a probabilidade de
um indivíduo se envolver em acidentes” (Groeger, 2003 apud SAMPAIO &NAKANO, 2011, p.16).
Atualmente,
Por tudo isso, entende-se que é relevante encaminhar para avaliação ou avaliar no contexto
clínico aqueles sujeitos com medo de dirigir que apresentam em sua dinâmica prejuízo na vida
cotidiana, sentimentos de inadequação, impotência, frustração, constrangimento, dentre outros já
citados. O uso de testes psicológicos adequados no processo compõe uma linha compreensiva e
explicativa da dinâmica do sujeito (consigo, com o outro e com o mundo) e favorece o esclarecimento
dos fatores limitantes para que seja possível uma intervenção terapêutica.
Considerando todos os aspectos enunciados a respeito do medo de dirigir, do processo de
avaliação psicológica e da relevância desta para ‘rastrear’ os fatores envolvidos no exercício
comportamental, psíquico, afetivo e emocional de dirigir, será apresentada, a seguir, a proposta de
uso da Bateria Fatorial de Personalidade (BFP), como instrumento compreensivo da dinâmica
psíquica individual e norteador de uma intervenção terapêutica efetiva.
(1) elas avaliam estilos emocionais, interpessoais e motivacionais que podem ser de interesse
dos clínicos; (2) elas oferecem um panorama compreensível do indivíduo, que não pode ser
obtido com a maioria dos instrumentos clinicamente orientados, e (3) elas fornecem
informações suplementares que podem ser úteis na seleção do tratamento e prognóstico dos
casos. (NUNES, 2010, p.20).
Deste modo, o modelo dos CGF inclui a Extroversão, Socialização, Realização, Neuroticismo
e Abertura para novas experiências, com o objetivo de avaliar em suas facetas os traços de
personalidade, tais como “vulnerabilidade ao sofrimento, passividade, instabilidade, nível de
comunicação, dinamismo – assertividade, competência, ponderação, extroversão, nível de
comunicação, empenho, realização, busca por novidade, entre outros. ” (ALCHIERI & CRUZ, 2012,
p.92).
Nunes (2010) aponta que esses fatores são capazes de investigar e delinear transtornos de
personalidade ou padrões comportamentais identificados na prática clínica. O respaldo do
instrumento facilita o processo à medida que favorece, com certa precisão, o esclarecimento da
dinâmica da personalidade do indivíduo em relação a determinado contexto.
Abaixo, foram sintetizados os fatores com suas respectivas significações.
Cada fator é composto por subfatores, facetas exploratórias do conteúdo que se deseja
conhecer. O fator Neuroticismo, por exemplo, dispõe de indicadores de (1) vulnerabilidade, (2)
instabilidade emocional, (3) passividade/falta de energia e (4) depressão. De maneira geral, eles
significam a dinâmica emocional do indivíduo e produzem indícios da maneira com que ele enxerga
sua realidade.
Já o item Extroversão, explora a (1) comunicação, (2) altivez, (3) o dinamismo e as (4)
interações sociais. Aqui, principalmente, nas facetas 1 e 2, dependendo dos resultados obtidos, é
possível identificar tendências a uma dinâmica (transtorno) de personalidade histriônica e
dependente, tal como a transtornos de personalidade Esquizóide (desinteresse em relações
interpessoais) ou Esquizotípico (dificuldade em manter relacionamentos) e transtorno de
personalidade antissocial.
O fator Socialização explora a (1) amabilidade, (2) pró-sociabilidade e a (3) capacidade de
confiar em outras pessoas. Amarrada a essas facetas, a Socialização percorre a dinâmica da (1)
competência, (2) ponderação/prudência e do (3) empenho e comprometimento que, quando
associadas aos pilares da Abertura, (1) abertura a ideias, (2) busca por novidades e o (3) liberalismo,
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma, a avaliação psicológica – enquanto processo técnico-científico atribuído
exclusivamente ao psicólogo – quando sistematizada, embasada e alinhada, às necessidades de uma
demanda, oportuniza o levantamento de dados da personalidade e dos padrões comportamentais de
um indivíduo para que, a partir disso, seja possível direcionar uma intervenção que atenda as
idiossincrasias daquele e impacte positivamente em sua qualidade de vida e bem-estar.
No caso do medo de dirigir, trabalhar em uma linha compreensiva para esclarecer a sua
conformação e desdobramentos implica em desvelar as artimanhas do medo, um exercício constante
de autoconhecimento e autoanálise para dar uma nova roupagem ao fator medo ou transformar aquilo
que se apresenta através dele. Essa transformação embebida de afetos, histórias e outras faces que, às
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