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EAD

Fundamentos de
Histologia

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1. OBJETIVOS
• Compreender os níveis de organização do organismo.
• Reconhecer a organização celular em tecidos.
• Definir e classificar os principais tipos de tecidos do corpo
humano e suas funções.

2. CONTEÚDOS
• Tecido epitelial.
• Tecido conjuntivo: tecido ósseo e tecido cartilaginoso.
• Tecido muscular.
• Tecido nervoso.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
102 © Biologia Humana

1) Durante o estudo desta última unidade, tente construir


o mapa conceitual dos conteúdos apresentados.
2) Para compreender a Histologia, você deverá ter em men-
te todos os conceitos estudados em Citologia; portanto,
caso ainda tenha dúvidas sobre os conteúdos estudados
nas unidades anteriores, esta será a hora de solucioná-
las.
3) Pesquise em livros e na internet sobre a importância dos
tecidos para a constituição do corpo humano e para a
atividade física, e como o exercício físico pode alterá-
los.
4) É importante que você leia o texto com atenção e anali-
se os cortes histológicos representados nas figuras para
compreender a estrutura dos tecidos epiteliais. Não se
esqueça de anotar os pontos mais relevantes e as suas
dúvidas para serem solucionadas com seu tutor.
5) Aprofunde seu conhecimento estudando o processo de
contração muscular nas bibliografias indicadas.
6) Analise as figuras e estude o processo de transmissão de
impulso nervoso, analisando a despolarização e a repo-
larização.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Nas unidades anteriores, tivemos a oportunidade de con-
hecer os dois tipos celulares básicos e caracterizar cada um, anal-
isando sua composição estrutural e química, assim como os com-
partimentos celulares, suas funções e interdependência.
Agora, nesta unidade, poderemos nos dedicar ao estudo da
composição dos principais tipos de tecidos do corpo humano e à
análise de suas funções.
Inicialmente, faremos uma breve análise sobre a formação,
os principais tipos e a classificação dos tecidos do corpo humano.
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Esperamos que, ao final desta unidade, você seja capaz de


identificar e classificar os tipos básicos de tecidos humanos, com
suas respectivas funções, o que lhe proporcionará um amplo con-
hecimento para o ensino e a prática de atividades físicas com segu-
rança, reduzindo o risco de lesão de seus futuros alunos.
Então, vamos lá! Bom estudo!

5. HISTOLOGIA
A Histologia pode ser definida como a ciência que estuda a
organização e as funções dos tecidos corporais. Esse estudo ajuda
a compreender a anatomia e as doenças.
Mas o que são os tecidos?
Os tecidos são um conjunto de células que exercem a mes-
ma função e que consequentemente formarão os órgãos. São ba-
sicamente constituídos de células e matriz extracelular produzida
pelas próprias células. Dependendo do tipo de tecido, pode haver
escassez ou abundância de material extracelular.
Embora o corpo humano seja bastante complexo, há basi-
camente quatro tipos de tecidos, que não estão isolados, mas li-
gados entre si para formar os órgãos que compõem os sistemas
orgânicos (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 1995).
Os quatro tipos básicos de tecidos humanos são:
1) Tecido epitelial.
2) Tecido conjuntivo.
3) Tecido muscular.
4) Tecido nervoso.
Você pode estar se perguntando: como esses tecidos são for-
mados? Bem, vamos tentar entender.
Como vimos na unidade anterior, o organismo humano é
composto de 46 cromossomos, sendo 23 de sua mãe e 23 de seu

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pai. O espermatozoide (23, X ou Y) encontra-se com o ovócito (23,


X) e ocorre a fecundação, gerando um zigoto. Esse zigoto passa por
mitose e transforma-se em um blastômero, que tem a capacidade
de gerar todos os tipos celulares que compõem os vários tipos de
tecidos do organismo. Essas células são chamadas de completa-
mente indiferenciadas ou totipotentes.
Para a formação de um tecido, as células totipotentes pas-
sam por um processo de diferenciação celular e passam a apre-
sentar certas características e a exercer funções especializadas; a
partir de então, não podem mais originar células com outras fun-
ções. Por exemplo, se uma célula totipotente se especializar em
contração muscular, constituirá o tecido muscular e perderá a sua
capacidade de gerar outras células. Além disso, as células difer-
enciadas passam a sintetizar a matriz extracelular específica para
cada tipo de tecido, cuja composição básica são proteínas, fibras
(colágenas, elásticas e reticulares), pouco ou muito hidratadas.
As células com a mesma função estabelecem associações per-
manentes para formar os tecidos, denominadas junções celulares.
Essas junções permitem a união entre as células, estabelecendo
comunicações entre seus citoplasmas, ou vedam os espaços entre
as células para impedir a passagem de substâncias. Dependendo
de qual função ela exerce, as junções celulares podem ser classifi-
cadas em três grupos:
• Junções aderentes ou desmossomos: une fortemente
uma célula à outra.
• Zônula oclusiva: vedação entre as células.
• Junção comunicante ou gap junction: permite a comuni-
cação entre as células.

6. TECIDO EPITELIAL
O tecido epitelial é constituído por células justapostas, isto
é, intimamente aderidas umas às outras, formando uma camada
celular contínua com pouquíssimo material extracelular.
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Distinguem-se basicamente dois tipos de tecidos epiteliais,


segundo sua estrutura e função, sendo eles o epitélio de revesti-
mento e o epitélio glandular.
Os epitélios de revestimentos, como o próprio nome sugere,
revestem as superfícies externas e as cavidades do corpo, como
pele, cavidade bucal, tubo digestório, mucosas das fossas nasais,
árvore respiratória etc. Já os epitélios glandulares são formados
por células com capacidade de secreção, como, por exemplo, glân-
dulas salivares e sudoríparas.
Não podemos deixar de falar de um tipo especial de epitélio,
cuja função é captar estímulos externos como luz, odor, gosto, de-
nominado neuroepitélio.
Vamos, agora, estudar esses epitélios isoladamente.

Epitélio de revestimento
Como já foi dito, os epitélios fazem o revestimento das su-
perfícies externas e das cavidades do corpo. Devido à sua local-
ização, apresentam funções de proteção do organismo, formando
uma barreira contra a entrada de micro-organismos, além de atuar
na absorção de nutrientes e na divisão do organismo em compar-
timentos funcionais.
Como característica geral, as células epiteliais apresentam
em sua superfície uma delgada camada de proteína chamada gli-
cocálice ou glicocálix, que são fundamentais para os processos vi-
tais destas células. Além do glicocálice, possuem uma lâmina basal,
na qual as células epiteliais se prendem e também se separam do
tecido conjuntivo adjacente. A lâmina basal, por ser muito delga-
da, não pode ser observada no microscópio óptico e é constituída
por colágeno tipo IV. No entanto, em algumas regiões, apresen-
tam inúmeras fibras reticulares presas a ela, formando uma estru-
tura visível ao microscópio óptico, denominada membrana basal.
Portanto, a membrana basal é formada pela lâmina basal mais as
fibras reticulares. As estruturas do tecido epitelial podem ser ob-
servadas na Figura 1.

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Fonte: Junqueira e Carneiro (1995) (Fig. 5. 4 do Atlas


colorido).
Figura 1 Corte histológico de uretra masculina,
mostrando a membrana basal e o tecido epitelial.

O tecido epitelial pode ser classificado segundo a morfologia


(forma) de suas células, número de camadas celulares, presença
da proteína estrutural queratina e presença de especializações.
De acordo com a morfologia celular, o epitélio pode ser clas-
sificado em:
1) Cuboide, cuboidal ou cúbicas: células com formato cú-
bico, com a altura, largura e profundidade equivalentes.
2) Colunar ou prismático: células com a forma de colunas
altas, nas quais a altura é maior que o comprimento e a
profundidade.
3) Pavimentoso: células com o formato achatado.
4) De transição: a forma da célula muda conforme a posi-
ção do órgão que reveste.
Já de acordo com o número de camadas celulares, o tecido
epitelial pode ser classificado em:
• Simples: possui apenas uma camada de células presas à
lâmina basal.
• Estratificado: possui mais de (uma) camada de células.
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• Pseudoestratificado: possui a aparência do estratificado,


porém todas as suas células estão presas à lâmina basal.
Para nomear os epitélios, os dois critérios, isto é, a morfolo-
gia celular e o número de camadas, podem ser utilizados; assim,
podemos ter:
1) Epitélios simples.
2) Tecido epitelial cúbico ou cuboidal (sempre simples):
formado por uma camada de células com formato cú-
bico, cuja função é de absorção, secreção e proteção.
Exemplos: revestimento dos ovários, túbulo renal.
3) Tecido epitelial pavimentoso simples: formado por uma
camada de células com formato pavimentoso. Devido à
sua pequena espessura, atua na troca de gases. Exem-
plos: revestimento de vasos (endotélio), alvéolos pulmo-
nares, como também revestimentos das cavidades peri-
toneal, pericárdica e pleural (mesotélio).
4) Tecido epitelial prismático simples: formado por uma
camada de células com formato prismático. Exemplo:
revestimento do intestino delgado.
5) Tecido epitelial pseudoestratificado (sempre prismáti-
co): formado por uma camada de células, com núcleos
em várias alturas, parecendo que é estratificado. As fun-
ções desse tecido são de secreção, absorção, lubrifica-
ção, proteção e transporte. Exemplos: revestimento da
traqueia, dos brônquios e tubo auditivo. Observe esse
tipo de tecido na Figura 3.
Confira, na Figura 2, os cortes histológicos e fique atento aos
tipos de tecido epiteliais simples.
.

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Fonte: Junqueira e Carneiro (1995) (Fig. 4.1 do Atlas colorido).


Figura 2 Cortes histológicos mostrando os tipos de tecido
epiteliais simples: (A) tecido epitelial pavimentoso simples,
(B) tecido epitelial cúbico e (C) tecido epitelial prismático
simples.

Fonte: Junqueira e Carneiro (1995) (Fig.4.2B do Atlas colorido).


Figura 3 Cortes histológicos mostrando o tecido epitelial
prismático pseudoestratificado.

Epitélios estratificados
Para classificação morfológica celular dos tecidos epiteliais es-
tratificados, utiliza-se como critério a forma das células da camada
mais superficial do tecido e, assim, podem ser classificados em:
• Tecido epitelial pavimentoso estratificado: formado por
várias camadas de células, em que a forma das células
mais externa é achatada. Pode ser queratinizado (pre-
sença de queratina) ou não queratinizado (ausência de
queratina). A pele é um exemplo de tecido epitelial pavi-
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mento estratificado queratinizado. Os não queratinizados


revestem a boca, a orofaringe, o esôfago e a vagina.
• Tecido epitelial estratificado de transição: é um tipo de
epitélio exclusivo do sistema urinário, sendo caracteriza-
do por células que mudam sua forma de acordo com a
posição do órgão, no caso, a bexiga urinária.
• Tecido epitelial prismático estratificado: formado por vá-
rias camadas de células, em que a forma das células mais
externas é prismática. São encontrados, na conjuntiva
dos olhos, grandes ductos excretores e uretra masculina,
apresentando funções de secreção, absorção e proteção.
Observe, nas Figuras 4 e 5, os cortes histológicos dos tecidos
estratificados.

Fonte: Junqueira e Carneiro (1995) (Fig. 4.3A, 4.3B e 4.4 do Atlas colorido).
Figura 4 Cortes histológicos mostrando os tecidos epiteliais estratificados e de transição:
(A) tecido epitelial pavimentoso estratificado não queratinizado, (B) tecido epitelial
pavimentoso estratificado queratinizado e (C) tecido epitelial de transição.

Epitélio glandular
O tecido epitelial glandular é formado por células que se es-
pecializaram na produção e na secreção de substâncias. São origi-
nados do tecido epitelial de revestimento, cujas células se prolif-

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eraram, aprofundaram e invadiram o tecido conjuntivo adjacente,


apresentando uma lâmina basal ao seu redor, formando, assim,
uma glândula.
Há dois tipos básicos de glândulas:
1) Glândula exócrina: apresenta um ducto que conduz o
produto da secreção para a superfície epitelial. As glân-
dulas exócrinas apresentam, além do ducto secretor, uma
porção secretora que produz a secreção. Podem ser clas-
sificadas de acordo com a ramificação do ducto (simples e
composta), quanto à forma da porção secretora (tubulo-
sa, acinosa ou alveolares e túbulo-alveolares) e quanto ao
tipo de substância secretada (mucosa, serosa ou mista).
2) Glândula endócrina: não apresentam ductos, e a secre-
ção ocorre no meio extracelular e é levada pelo sangue.
As glândulas endócrinas podem ser cordonais, quando
as células se dispõem em cordões ao redor dos capilares
sanguíneos, ou vesiculares, quando as células formam
uma vesícula que armazena os produtos de secreção.

Fonte: Junqueira e Carneiro (1995, p. 57).


Figura 5 Desenho esquemático demonstrando a origem das glândulas
exócrinas e endócrinas a partir das superfícies epiteliais.
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7. TECIDO CONJUNTIVO
O tecido conjuntivo caracteriza-se pela presença de diversos
tipos celulares separados por abundante material extracelular ou
matriz extracelular. A matriz extracelular é composta pelas chama-
das fibras do conjuntivo e pela substância fundamental amorfa,
que é uma substância transparente que parece um gel semifluido,
composto por polissacarídeos, glicoproteínas, fibras colágenas e
elásticas.
Do ponto de vista funcional, o tecido conjuntivo proporciona
a sustentação estrutural e metabólica para os tecidos e órgãos do
corpo humano, estabelece a integração entre os diferentes teci-
dos corporais, bem como regula a troca de nutrientes, gases e
metabólitos entre os tecidos e sistema circulatório. Também está
envolvido no armazenamento de gorduras em seus adipócitos e
participa das defesas do organismo, fazendo uma barreira contra
a entrada de micro-organismo e participando do sistema imune,
por meio de suas células. Não podemos deixar de lembrar que as
células e as fibras do tecido conjuntivo participam ativamente do
processo de cicatrização e reparo após lesões teciduais.
O tecido conjuntivo pode ser classificado em:
1) Tecido conjuntivo propriamente dito: pode ser frouxo,
denso (modelado ou não modelado).
2) Tecido conjuntivo com propriedades especiais: tecido
adiposo, tecido elástico, hemocitopoético, tecido muco-
so.
3) Tecido ósseo.
4) Tecido cartilaginoso.
Neste momento, vamos nos concentrar no estudo do tecido
conjuntivo propriamente dito.
O tecido conjuntivo propriamente dito, como todos os out-
ros, é constituído de células e matriz extracelular composta de fi-
bras colágenas, elásticas e reticulares e substância fundamental

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amorfa. Possui como funções a manutenção da forma do corpo,


a ligação dos demais tecidos que formam os órgãos e preenchi-
mento.
Os três tipos de fibras do conjuntivo são:
1) Fibras colágenas: compostas pela proteína estrutural
colágeno, que apresenta grande resistência às pressões.
São encontrados no corpo humano cerca de 12 tipos de
colágenos, dos quais 90% são classificados como coláge-
no tipo I.
2) Fibras elásticas: compostas pela proteína elastina e pos-
suem a propriedade de ceder às pressões e retornar à
posição inicial ao cessarem as pressões.
3) Fibras reticulares: menos abundantes e estão geralmen-
te associadas às fibras colágenas.
Observe, na Figura 6, a aparência das fibras do conjuntivo.

Fonte: Junqueira e Carneiro (1995) ( 5.2 e 5.3 do Atlas colorido). Figura 6 Cortes histológicos
mostrando as fibras colágenas, elásticas e reticulares do tecido conjuntivo.

Além das fibras, o tecido conjuntivo é composto de vários ti-


pos celulares, que podem ser encontrados somente no tecido con-
juntivo ou provenientes do sangue. Essas células são: fibroblastos,
macrófagos, mastócito, plasmócito, leucócito e células adiposas.
Os fibroblastos são células próprias do tecido conjuntivo e as
mais abundantes e importantes para sua manutenção, sendo re-
sponsáveis pela formação das fibras do conjuntivo e pela produção
e manutenção do material extracelular. O fibroblasto está em in-
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tensa atividade, produzindo as fibras e o material extracelular. No


entanto, em algumas células, ele pode estar em um estado de
repouso (quiescência), sendo chamado de fibrócito. É, também,
muito importante no processo de cicatrização.
Após uma lesão, na qual há perda de grande quantidade de
células, ocorre a intensa proliferação dos fibroblastos, o que repa-
ra a lesão. A esse tecido que se formou chamamos cicatriz, o qual,
dependendo da extensão da lesão, pode comprometer a função
da região.
As outras células do conjuntivo participam dos processos
de defesa e resposta imunitária do organismo, habitando o tecido
conjuntivo caso haja algum processo inflamatório. Os macrófagos
são células móveis e que possuem muitos lisossomos no seu cito-
plasma. Portanto, são células responsáveis pela fagocitose. Já os
mastócitos são células grandes que possuem em seu citoplasma
estruturas contendo os mediadores químicos que estão envolvi-
dos no processo inflamatório do tecido e na resposta alérgica. Os
plasmócitos sintetizam e secretam os anticorpos durante a res-
posta inflamatória. Os leucócitos são células que participam da
primeira barreira de defesa do organismo contra a entrada de mi-
cro-organismos, sendo os mais encontrados no tecido conjuntivo
os neutófilos, eosinófilos e linfócitos (T e B).
A substância fundamental amorfa é responsável pelo
preenchimento dos espaços entre as células e as fibras do tecido
conjuntivo propriamente dito. É bastante hidratada e apresenta
inúmeras proteínas estruturais. A água existente no material ex-
tracelular é proveniente do sangue, passando através dos capilares
arteriais sanguíneos para o tecido conjuntivo, e, depois, retorna
para os capilares venosos ou linfáticos.
Para que isso aconteça, há duas pressões atuando: uma é
a pressão hidrostática do sangue (pressão arterial), que faz que a
água saia do capilar; e a outra é a pressão osmótica (coloidosmóti-
ca) do plasma sanguíneo, que faz que a água retorne para o capilar

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venoso. Em condições normais, a pressão hidrostática aumenta e


a água vai para o tecido conjuntivo e, com o aumento da pressão
osmótica, a água retorna para o capilar venoso. Entretanto, se
houver alguma lesão que altere essas pressões, a água irá acumu-
lar no meio extracelular do tecido conjuntivo, causando o edema
(inchaço).
Em caso de lesões, o melhor a fazer de imediato é colocar gelo
sobre a região afetada, pois, assim, haverá uma vasoconstrição,
diminuindo a quantidade de líquido que sairá do capilar para o
tecido, reduzindo o edema e o risco de uma lesão secundária.
As células adiposas (ou adipócito) são células responsáveis
pela síntese e pelo armazenamento de lipídios, constituindo um
tipo especial de tecido conjuntivo denominado tecido adiposo.
O tecido conjuntivo propriamente dito pode ser classificado
em:
1) Tecido conjuntivo frouxo: caracteriza-se pela presença
de grande quantidade de substância fundamental amor-
fa, na qual estão dispersas as fibras colágenas e elásticas,
muito delgadas e frouxamente entrelaçadas, e as células
do tecido conjuntivo. É bem distribuído pelo organismo
e está presente em locais onde há pouca pressão mecâ-
nica, como, por exemplo, na pele e nas mucosas. Tam-
bém está associado ao tecido epitelial de revestimento
e glandular, formando uma camada em torno dos vasos
sanguíneos linfáticos. Observe esse tipo de tecido na Fi-
gura 7.
2) Tecido conjuntivo denso: possui os mesmos componen-
tes do tecido conjuntivo frouxo, porém, caracteriza-se
pela presença de maior quantidade de fibras colágenas
e menos células, o que lhe oferece maior resistência
às pressões. Dependendo da disposição de suas fibras,
pode ser:
• Tecido conjuntivo denso não modelado: as fibras co-
lágenas estão distribuídas de maneira aleatória, pro-
porcionando resistência mecânica em todas as dire-
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ções. É encontrado nas camadas mais profundas da


pele (derme) e na parede de órgãos ocos (intestinos
e vasos).
• Tecido conjuntivo denso modelado: os feixes de fibras
colágenas estão organizados e paralelamente orienta-
dos. Essa orientação é feita de acordo com o sentido
das forças mecânicas aplicadas, conferindo ao tecido
resistência a ela. É encontrado principalmente em ten-
dões musculares, ligamentos, aponeuroses e fáscias
musculares (membrana que reveste os músculos).
Esses tipos de tecidos podem ser observados na Figura 7.
Analise com atenção a disposição das fibras nesses tecidos.

Fonte: Junqueira e Carneiro (1995) (Fig.5.7, 5.8 e 5.9 do Atlas colorido).


Figura 7 Cortes histológicos demonstrando (A) tecido conjuntivo frouxo, (B) tecido conjuntivo
denso não modelado, (C) tecido conjuntivo denso modelado.

Agora que já estudamos a constituição do tecido conjuntivo,


sobretudo do tecido conjuntivo propriamente dito, passaremos ao
estudo de dois tipos especializados de tecido conjuntivo, o tecido
cartilaginoso e o tecido ósseo, os quais são de fundamental im-
portância para os profissionais da Educação Física.

Tecido cartilaginoso
O tecido cartilaginoso é um tipo especial de tecido conjun-
tivo, constituído de células e de abundante material extracelular,
como qualquer tipo de tecido conjuntivo. As células do tecido car-
tilaginoso são os condrobastos e condrócitos. A maior caracterís-

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tica da cartilagem é a rigidez, devido à mineralização de sua matriz


extracelular, à presença das fibras colágenas e à capacidade de ab-
sorver impactos em virtude da presença de fibras elásticas.
As funções da cartilagem são:
1) Revestir as superfícies ósseas.
2) Dar suporte aos tecidos moles.
3) Facilitar o deslizamento dos ossos que se articulam.
4) Absorver choques mecânicos.
5) Contribuir na formação e no crescimento de ossos longos.
Outras características importantes do tecido cartilaginoso
são: a ausência de vasos sanguíneos, linfáticos e nervos, sendo nu-
trido pelo pericôndrio ou pelo líquido sinovial. Essas característi-
cas conferem à cartilagem um metabolismo baixo, o que dificulta
sua regeneração após uma lesão.
A fim de atender às necessidades do organismo, diferem-se
três tipos de cartilagens, de acordo com as características de sua
matriz, que são:
• Cartilagem hialina: é o tipo mais frequente no organismo
e pode ser envolvida pelo pericôndrio, que é uma del-
gada camada de tecido conjuntivo. Forma o primeiro es-
queleto no embrião, o qual passará por um processo de
ossificação, denominado ossificação endocondral (será
estudado no tecido ósseo). Uma parte dessa cartilagem
não é invadida pelo tecido ósseo, formando um disco
(disco epifisário) entre a diáfise (corpo) e as epífises (ex-
tremidades) dos ossos longos, cuja função é permitir o
crescimento dos ossos, mas também pode permanecer
no indivíduo adulto revestindo as superfícies ósseas que
se articulam, a cartilagem articular. Pode ser também en-
contrada no aparelho respiratório (fossas nasais, traqueia
e brônquios) e nas costelas.
• Cartilagem elástica: esse tipo de cartilagem se caracteriza
pela presença de fibras elásticas na matriz extracelular,
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dispostas em camadas, proporcionando-lhe maior elasti-


cidade. É encontrada na orelha externa, epiglote, laringe
e ouvido interno.
• Cartilagem fibrosa: é muito semelhante estrutural e fun-
cionalmente com o tecido conjuntivo denso modelado,
sendo resistente às pressões. Outra característica asso-
ciada à fibrocartilagem é a presença de fibras colágenas,
que se orientam de acordo com as forças mecânicas, que
podem ser aplicadas e não apresentam pericôndrio. É en-
contrada nos discos intervertebrais, sínfise púbica (entre
os ossos púbicos do quadril).
Os tipos de tecido cartilaginoso podem ser observados na
Figura 8:

Fonte: Junqueira e Carneiro (1995) (Fig. 7.1, 7.3 e 7.4 do Atlas colorido).
Figura 8 Cortes histológicos demonstrando (A) cartilagem hialina, (B) cartilagem elástica e
(C) cartilagem fibrosa.

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Tecido ósseo
O tecido ósseo também é um tecido conjuntivo, mas com
propriedades especiais, apresentando vários tipos celulares e
matriz extracelular. As células do tecido ósseo são as células os-
teogênicas, os osteoblastos, os osteócitos e os osteoclastos. A
principal característica do tecido ósseo é a calcificação da matriz
extracelular, conferindo-lhe muita resistência.
O tecido ósseo forma o esqueleto, que possui importantes
funções, tais como:
1) Proteção de órgãos vitais como encéfalo, medula espi-
nhal e órgãos torácicos (coração e pulmão).
2) Proteção da medula óssea (produtora de células sanguí-
neas).
3) Fonte de cálcio e fosfato.
4) Suporte aos tecidos moles (músculos e ligamentos),
constituindo alavancas que ampliam as forças de contra-
ções musculares.
Vamos, agora, estudar um pouco as características das célu-
las ósseas:
1) Células osteogênicas: estão presentes na superfície da
matriz óssea e são capazes de se proliferar e se diferen-
ciar em osteoblastos; portanto, são importantes para o
crescimento e para a reparação óssea.
2) Osteoblastos: estão dispostos nas superfícies ósseas e são
semelhantes funcionalmente ao condroblasto e ao fibro-
blasto, apresentando alta capacidade de divisão e síntese.
Produzem a parte orgânica da matriz óssea, as fibras colá-
genas, e outros elementos da matriz óssea não mineraliza-
da, chamada osteoide, que posteriormente será minerali-
zada. Alguns osteoblastos sintetizam a matriz ao seu redor,
ficando aprisionados por ela, tornando-se um osteócito.
3) Osteócitos: localizam-se no interior da matriz óssea, em
espaços denominados lacunas, que se comunicam entre
si pelos canalículos, os quais permitem o fluxo interce-
lular de íons e pequenas moléculas. Embora possuam
pouca atividade sintética, são essenciais para a manu-
tenção da matriz óssea.
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4) Osteoclastos: são células móveis, grandes e multinucleadas


que se originam da fusão de células do sangue (monócitos).
Apresentam no seu citoplasma vesículas contendo enzima
digestiva colagenase, que ataca a parte orgânica da matriz
óssea e libera cálcio. Portanto, sua principal função é re-
absorver a matriz óssea, promovendo o modelamento ou
remodelamento ósseo no reparo de fraturas (Figura 9).

Fonte: Junqueira e Carneiro (1995, p. 112).


Figura 9 Desenho esquemático do tecido ósseo, demonstrando suas células à esquerda, e
corte histológico do tecido ósseo à direita.

A matriz óssea apresenta uma parte orgânica e uma in-


orgânica. A parte orgânica é constituída pelas fibras colágenas, fi-
bras elásticas e pequena quantidade de substância fundamental
amorfa, responsáveis pela resistência e elasticidade óssea. A parte
inorgânica é formada pelos íons cálcio e fosfato, responsáveis pela
rigidez da matriz óssea.
Existem algumas diferenças na composição e na atividade
das células ósseas nas matrizes ósseas, determinando dois tipos
de tecido ósseo: o primário e o secundário.
• Tecido ósseo primário: é o primeiro a ser formado, sen-
do substituído pelo tecido ósseo secundário; portanto, é
incomum em adultos. Apresenta fibras colágenas sem or-
ganização definida, menor quantidade de mineral e maior
porcentagem de osteócitos se comparado ao secundário.
• Tecido ósseo secundário: é o tipo predominante no adul-
to, sendo sua principal característica a organização das
fibras colágenas em lamelas dispostas em camadas ou

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paralelas. Quando dispostas em camadas, circundam va-


sos e formam o sistema de Harves, em cujo centro está o
canal de Havers, por onde passam nutrientes, eletrólitos
e água. Os canais de Havers comunicam-se entre si pelos
canais de Volkmann. Essa organização do tecido ósseo
pode ser observada na Figura 10.

Fonte: Mariscot, Carneiro e Abrahamsohn (2004, p. 90).


Figura 10 Desenho esquemático do tecido ósseo, demonstrando
a organização lamelar das fibras colágenas, o sistema de Havers
e o sistema de Volkmann.

A formação do tecido ósseo pode ocorrer pela ossificação


intramembranosa ou pela ossificação endocondral. Vamos estu-
dar, resumidamente, esses dois tipos de ossificação nos parágrafos
seguintes.
A ossificação intramembranosa tem origem a partir de um
molde de tecido conjuntivo, denominado membrana conjuntiva,
na qual ocorre a proliferação de vasos sanguíneos, fazendo que
suas células se diferenciem em osteoblastos que formam o os-
teoide. O osteoide é calcificado formando o osso; é o processo de
ossificação dos ossos do crânio e início da ossificação dos ossos
longos.
A ossificação endocondral ocorre através de um molde de
cartilagem hialina e depende de uma ossificação intramembrano-
sa prévia. É responsável pela formação dos ossos longos e curtos
(membro superior, membro inferior e do tronco). Para que ocorra
© U4 - Fundamentos de Histologia 121

a ossificação, é necessário que o condrócito se hipertrofie e morra


e, consequentemente à morte da matriz cartilaginosa, deixe cavi-
dades que são invadidas pelos vasos sanguíneos, trazendo células
osteogênicas. O processo tem início no centro do molde cartilagi-
noso (centro de ossificação primário) e propaga-se para as extrem-
idades. Posteriormente, começa a ocorrer a ossificação nas duas
epífises (extremidades) ósseas (ossificação secundária).
Os ossos formados são revestidos por uma membrana de
tecido conjuntivo denominada periósteo, que reveste as superfí-
cies interna e externa dos ossos e possui dois folhetos, um super-
ficial e outro profundo, sendo esse último chamado de endósteo.
O endósteo possui células osteogênicas e é essencial para a ma-
nutenção do tecido ósseo. O periósteo e o endósteo têm como
principal função a nutrição óssea, além de servirem de fonte de
osteoblasto para o crescimento e reparo ósseo (Figura 11).

Fonte: Sobotta (1995, p. 7).


Figura 11 Desenho esquemático da ossificação
endocondral, a partir de um molde cartilaginoso.

Para finalizar a análise do tecido ósseo, vamos fazer um breve


estudo sobre o processo de reparo ósseo após uma fratura:
1) Logo após a fratura, os macrófagos chegam ao local e fa-
zem a "limpeza" da área da fratura, removendo coágulos
sanguíneos, restos celulares e da matriz.

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122 © Biologia Humana

2) O periósteo e o endósteo respondem com proliferação,


formando tecido rico em células osteogênicas.
3) Entre as extremidades ósseas fraturadas, surge o tecido
ósseo primário pela ossificação endocondral de peque-
nos pedaços da cartilagem, como pela intermembrano-
sa.
4) Ocorre a formação do calo ósseo (tecido ósseo primá-
rio).
5) A remodelação óssea ocorre gradualmente com a volta
das atividades devido às pressões e à atividade dos os-
teoclastos.

8. TECIDO MUSCULAR
O tecido muscular é um tecido constituído de células espe-
cializadas em contração, proporcionando os movimentos corporais
ou mudança na forma dos órgãos. Essas células apresentam uma
enorme capacidade de transformar energia química em mecâni-
ca, através da quebra do ATP. Elas sofreram um grande processo
de diferenciação, passando a apresentar muitas particularidades,
dentre as quais destacamos a mudança no nome de seus compo-
nentes, como: sarcolema (membrana plasmática), sarcoplasma
(citoplasma), retículo sarcoplasmático (retículo endoplasmático) e
sarcossomas (mitocôndrias). Outra importante diferenciação des-
sas células é a síntese de proteínas específicas com uma organiza-
ção determinada, tais como os diferentes tipos de actinas, miosi-
nas e proteínas motoras filamentosas.
As células musculares apresentam formato fusiforme, alon-
gadas e são chamadas fibras musculares, as quais se dispõem de
forma paralela para permitir o encurtamento do tecido muscular,
produzindo o movimento.
O tecido muscular, dependendo de suas características mor-
fológicas e funcionais, pode ser classificado em tecido muscular
estriado esquelético, tecido muscular estriado cardíaco e tecido
muscular liso, cujas características serão estudadas a seguir.
© U4 - Fundamentos de Histologia 123

Fonte: Mariscot, Carneiro e Abrahamsohn (2004, p. 126).


Figura 12 Representação dos tipos de tecidos musculares em cortes histológicos
longitudinais (acima) e transversais (abaixo).

Tecido muscular estriado esquelético


O músculo estriado esquelético é o responsável pelo movi-
mento e pela estabilização do esqueleto, estando preso aos ossos.
É de contração rápida, potente e voluntária, ou seja, depende de
sua vontade.
As fibras musculares são extremamente alongadas e multi-
nucleadas, estando os núcleos localizados na periferia das fibras.
Essas fibras são formadas embriologicamente pela fusão de célu-
las menores e alongadas denominadas mioblastos. Possuem uma
estrutura especial denominada miofibrilas, dispostas longitudinal-
mente e apresentando estriações transversais, devido à alternân-
cia de faixas claras e escuras. Essas faixas são, respectivamente,
denominadas banda A e banda I, de modo que a essa última é
apresentada uma linha mediana chamada linha Z.
O fato de esse tipo de tecido muscular ser chamado de es-
triado deve-se à presença de sequências repetidas de unidades
chamadas sarcômeros. O sarcômero é a unidade contrátil funcio-
nal da fibra muscular, formado pela parte da miofibrila entre duas
linhas Z sucessivas (Figura 13).

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Fonte: Lundy-Ekman (2004, p. 159).


Figura 13 Estrutura do músculo esquelético, demonstrando o
sarcômero e as proteínas contráteis.

Além da actina e da miosina, existem mais duas proteínas


contráteis, a tropomiosina e a troponina, que estão ligadas à ac-
tina e as impedem de se fixar à miosina no músculo em repouso.
A contração muscular é produzida pelo deslizamento da actina
sobre a miosina, que se inicia com a liberação do neurotrans-
missor acetilcolina pelo neurônio motor na placa motora. Esse
neurotransmissor se liga aos receptores na membrana da fibra
muscular e provoca a liberação do cálcio armazenado no retículo
sarcoplasmático. O cálcio liga-se à troponina, afastando a tropo-
miosina dos locais de ligação na actina, expondo seus locais ativos
que se ligam à cabeça de miosina, produzindo o deslizamento da
actina sobre a miosina, resultando na contração muscular (Figura
14). Portanto, no processo de contração muscular, os filamentos
de actina (finos) deslizam sobre os filamentos de miosina (espes-
sos), causando uma aproximação das linhas Z.
© U4 - Fundamentos de Histologia 125

Fonte: Lundy-Ekman (2004, p. 160).


Figura 14 Estrutura do músculo esquelético, demonstrando o
sarcômero e as proteínas contráteis.

Fonte: Junqueira e Carneiro (1995) (Fig. 10.2 do Atlas


colorido).
Figura 15 Corte histológico demonstrando o tecido
muscular estriado esquelético.

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Tecido muscular estriado cardíaco


O tecido muscular estriado diz respeito ao músculo que com-
põe o coração, denominado miocárdio, e possui características
morfológicas semelhantes ao estriado esquelético, apresentando
um padrão estriado (Figura 15). Sua contração é rápida e potente,
porém, ocorre de forma involuntária, isto é, sem sua consciência.
As fibras do músculo cardíaco são longas e estriadas, conten-
do um ou dois núcleos de localização central. Uma particularidade
das fibras cardíacas é sua associação, umas com as outras, me-
diante junções especializadas, denominadas discos intercalares,
dispostos em intervalos regulares, responsáveis pela propagação
rápida do impulso nervoso de uma célula para outra, promovendo
sua contração (Figura 16).

Fonte: Junqueira e Carneiro (1995) (Fig. 10.4 do Atlas


colorido).
Figura 16 Corte histológico demonstrando o tecido
muscular estriado cardíaco.

Tecido muscular liso


O tecido muscular liso compõe a musculatura dos órgãos
(sistema digestório, vasos sanguíneos, útero e vesícula biliar) e é
© U4 - Fundamentos de Histologia 127

formado por células alongadas, fusiformes e com apenas um nú-


cleo central. Não apresenta o padrão de estrias transversais, é de
contração lenta e fraca e não está sob controle voluntário, mas,
sim, autômono e hormonal.
As células musculares lisas apresentam feixes de filamentos
contráteis (actina, miosina e tropomiosina) cruzadas em todas as
direções e, quando há um estímulo, nervoso ou hormonal, ocorre
o deslizamento desses filamentos de forma não sincronizada e de
lenta propagação. Um exemplo desse tipo de contração são os mo-
vimentos peristálticos que ocorrem no tubo digestório durante a
digestão dos alimentos (Figura 17).

Fonte: Junqueira e Carneiro (1995) (Fig. 10.5 do Atlas colorido).


Figura 17 Corte histológico demonstrando o tecido muscular
liso.

É interessante mencionar, ainda, que, após a morte, ocorre


uma rigidez ou endurecimento muscular dos membros do cadá-
ver, denominado rigor mortis ou rigidez cadavérica. Essa rigidez
é causada pelas alterações químicas musculares, resultando em
concentrações elevadas de cálcio, formando pontes de ligação
miosina-actina irreversíveis. O rigor mortis aparece em torno de
12 horas após a morte, e permanece até em torno de 36 horas,

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128 © Biologia Humana

quando se tem sua reversão, que ocorre naturalmente devido à


degeneração dos tecidos musculares.

9. TECIDO NERVOSO
O tecido nervoso consiste num complexo sistema de comuni-
cação entre o meio ambiente e o organismo, denominado sistema
nervoso.
O sistema nervoso possui as funções de receber as informa-
ções sensoriais (temperatura, dor, tato, pressão, visão, audição,
paladar) do meio ambiente e do próprio organismo, além de pro-
cessar ou integrar essas informações e produzir uma resposta que
pode ser uma contração muscular, uma secreção hormonal ou uma
contração visceral. É dividido anatomicamente em sistema nervoso
central (SNC), composto pela medula espinhal, tronco encefálico,
cérebro e cerebelo; e sistema nervoso periférico (SNP), composto
pelos nervos (espinhais e cranianos), pelos gânglios sensitivos e
pelas terminações nervosas (receptor e placa motora).
O tecido nervoso é constituído por células e pouca quanti-
dade de matriz extracelular. As suas células são os neurônios e os
vários tipos de células da glia ou neuroglia (Figura 18).

Figura 18 Corte histológico do tecido nervoso, mostrando os neurônios e


as células gliais.
© U4 - Fundamentos de Histologia 129

Neurônio
O neurônio é a unidade funcional do sistema nervoso re-
sponsável pela recepção e transmissão das informações sensoriais
e motoras. Reconhecemos dois tipos de neurônios, os aferentes
(sensoriais) e os eferentes (motores). Vejamos, a seguir, a funcio-
nalidade de cada um:
1) Neurônios aferentes: são responsáveis por transmitir as
informações sensoriais para a medula ou encéfalo (cére-
bro, tronco encefálico e cerebelo).
2) Neurônios eferentes: transmitem os impulsos (respos-
ta) gerados no SNC para o órgão efetuador (músculos e
glândulas).
Todos os neurônios possuem um corpo, chamado pericário,
em que estão localizados o núcleo e o citoplasma. Do corpo, par-
tem prolongamentos semelhantes a galhos de árvores, os dendri-
tos, e outro prolongamento longo, delgado e único, denominado
axônio. O axônio é o responsável pela transmissão das informa-
ções para outros neurônios, músculos ou glândulas. A transmissão
da informação ocorre através de um ponto de contato denomi-
nado sinapse. Para melhor entendimento, observe a Figura 19:

Figura 19 Desenho esquemático dos neurônios e seus componentes.

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130 © Biologia Humana

De acordo com o número de prolongamentos, os neurônios


podem ser classificados em:
1) Neurônio unipolar: possui um único prolongamento a
partir do corpo celular, não sendo encontrado nos seres
humanos.
2) Neurônio bipolar: possui dois prolongamentos que
saem do corpo celular, um dendrito e um axônio, sendo
encontrados no ouvido interno (gânglio coclear e vesti-
bular), na retina e na mucosa olfatória.
3) Neurônio pseudounipolar: possui um prolongamento
saindo do corpo celular, que, a seguir, se divide em dois:
um se dirige para a periferia e outro para o SNC, sendo
denominados, respectivamente, axônio periférico e axô-
nio central. São os neurônios sensoriais que transmitem
os impulsos nervosos da periferia para a medula espi-
nhal.
4) Neurônio multipolar: possui mais de dois prolongamen-
tos que saem do corpo celular, os dendritos e o axônio,
sendo a maioria dos neurônios do sistema nervoso.

Veja os tipos de neurônios ilustrados na Figura 20:

Fonte: Lundy-Ekman (2004, p. 29).


Figura 20 Desenho esquemático dos tipos de neurônios: (A) bipolar, (B)
pseudounipolar, (C) multipolar, (D) multipolar do cerebelo, (E) interneurônio.

Células gliais ou neuroglia


As células da glia estão localizadas entre os neurônios, e
suas funções não são de gerar impulsos nervosos, mas, sim, de dar
© U4 - Fundamentos de Histologia 131

suporte estrutural e funcional para os neurônios. Acredita-se que


há cerca de dez células da glia para cada neurônio.
Outras funções relacionadas a essas células, além de supor-
te, são de sustentação e defesa do sistema nervoso, revestimento
ou isolamento das fibras nervosas e modulação da atividade neu-
ronal.
Os tipos de neuroglia encontrados no sistema nervoso cen-
tral são os astrócitos, os oligodendrócitos, as células ependimárias
e as micróglias. No sistema nervoso periférico, encontram-se as
células de Schwann. As principais características e funções de cada
uma dessas células serão brevemente estudadas a seguir:
1) Astrócitos: são as maiores células gliais, com o forma-
to de estrela, possuindo diversos prolongamentos, cujas
funções estão relacionadas com as trocas metabólicas
entre neurônios e sangue, oferecendo, também, uma
barreira adicional, denominada barreira hematoence-
fálica, que controla a entrada de substância no tecido
nervoso, aumentando as defesas do sistema nervoso.
Os astrócitos sintetizam importantes substâncias para o
metabolismo neuronal e removem do meio extracelular
os restos celulares, excessos de neurotransmissores e
íons.
2) Oligodendrócito: são menores que os astrócitos e pos-
suem poucas ramificações e prolongamentos. Estão dis-
postas em fileiras entre os neurônios e são responsáveis
pela produção e pela manutenção da bainha de mielina,
bainha protetora que envolve os neurônios e aumenta a
velocidade da condução nervosa.
3) Células ependimárias: são as células que revestem as
cavidades ventriculares do encéfalo e do canal medular.
Suas funções estão envolvidas com a produção e movi-
mento do líquor (líquido encefalorraquidiano). O líquor
é um fluido aquoso e incolor que tem como função a
proteção mecânica do sistema nervoso central.
4) Micróglias: são as menores das células gliais e têm como
função fagocitar resíduos e estruturas danificadas do sis-

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132 © Biologia Humana

tema nervoso central, tendo, portanto, função de defesa


do tecido nervoso.
5) Células de Schwann: são células que envolvem os axô-
nios do sistema nervoso periférico, sendo responsáveis
pela formação da bainha de mielina desse sistema.
Os neurônios cujos axônios são revestidos pela bainha de
mielina são denominados de mielínicos, enquanto os que a não
apresentam são denominados amielínicos. A bainha de mielina é
interrompida entre cada célula de Schwann (SNP) e cada prolon-
gamento do oligodendrócito (SNC) pelo nódulo de Ranvier. Sua
função é promover isolamento elétrico das fibras, aumentando a
velocidade da condução nervosa, de tal modo que o impulso ner-
voso em uma fibra mielínica é conduzido cerca de 100 vezes mais
rápido do que na fibra amielínica. O impulso nervoso é passado
de um nódulo de Ranvier para outro nódulo de Ranvier, como se
saltasse, sendo, portanto, chamada de condução saltatória.

Para melhor compreensão dos tipos de neuroglia encontra-


dos no sistema nervoso central, observe a Figura 21:

Fonte: Lundy-Ekman (2004, p. 22-23).


Figura 21 Desenho esquemático das células da glia (A) astrócito e (B) oligodendrócito (A) e
Células de Schwann (B).

Todos os neurônios possuem um potencial elétrico através


de suas membranas, denominado potencial da membrana. Em re-
© U4 - Fundamentos de Histologia 133

pouso, esse potencial é negativo no interior da membrana e positi-


vo no seu exterior; é essa diferença de concentrações iônicas entre
os meios que mantém o potencial da membrana.
É importante saber que essa polaridade ocorre devido à alta
concentração de íons sódio, com carga positiva, no meio extrace-
lular, enquanto o líquido intracelular possui alta concentração de
íons potássio e de grandes moléculas de proteínas, portadoras de
cargas negativas que nunca saem do interior da fibra.
Para controlar o trânsito de íons, a membrana possui inúme-
ros canais e, é claro, a bomba de sódio-potássio. Para transmitir um
impulso nervoso, é necessário que haja uma alteração súbita das
polaridades da membrana, tornando-se positiva no meio interno e
negativa no meio externo, o que é conhecido por despolarização
da membrana. Quando ocorre a propagação da despolarização por
toda a membrana do axônio, gera-se um potencial de ação, que é
iniciado pela abertura de canais de sódio, que permitem a entrada
do sódio, eletricamente positivo, na célula, tornando a membrana
positiva. O potencial de ação propaga-se ao longo da fibra nervo-
sa, gerando um impulso nervoso, que transmite as informações de
uma parte do organismo para outra. Após a passagem do impulso
nervoso, a membrana retorna a seu valor negativo de repouso;
esse estágio é chamado de repolarização (Figura 22).

Figura 22 Desenho esquemático da geração e


propagação do impulso nervoso.

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134 © Biologia Humana

A observação macroscópica do sistema nervoso central per-


mite-nos identificar a presença de uma parte clara denominada
substância branca e uma mais escura denominada substância cin-
zenta. A substância branca é composta de células da glia e axônios
mielinizados responsáveis por sua coloração branca, ao passo que
a substância cinzenta é composta pelos corpos de neurônios, pro-
longamentos iniciais dos axônios e células da glia.

10. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS


Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Quais os tipos de tecidos?

2) Qual a constituição e as funções do tecido epitelial?

3) Qual a constituição e as funções do tecido conjuntivo?

4) Qual a constituição e as funções dos tecidos ósseo e cartilaginoso?

5) Qual a constituição e as funções do tecido muscular?

6) Qual a constituição e as funções do tecido nervoso?

11. CONSIDERAÇÕES
Ao longo do estudo desta unidade, foi possível perceber
que as células não permanecem isoladas no organismo, mas, sim,
diferenciam-se e agrupam-se com outras que apresentam as mes-
mas características para constituírem os tecidos corporais. Embora
o organismo humano seja bastante complexo, distinguem-se qua-
tro tipos básicos de tecidos, o epitelial, o conjuntivo, o muscular e
o nervoso, que se associam para formar os órgãos.
O tecido epitelial possui a função de revestimento da superfície
externa e das cavidades do corpo e, também, de secreção. Geral-
mente, não está sozinho, mas, sim, associado ao tecido conjuntivo.
© U4 - Fundamentos de Histologia 135

O tecido conjuntivo pode ser dividido em tecido conjuntivo


propriamente dito frouxo, denso não modelado e denso modela-
do, tecidos especializados (adiposo, mucoso etc.), tecido cartilagi-
noso e tecido ósseo. A principal característica do tecido conjuntivo
é a presença de vários tipos celulares (fibroblastos e células prove-
nientes do sangue) e de grande quantidade de substância extrace-
lular, ou matriz extracelular, contendo fibras colágenas, elásticas e
reticulares. Suas principais funções são de sustentação, preenchi-
mento, defesa, reparo tecidual, armazenamento, transporte e nu-
trição.
Os tecidos cartilaginoso e ósseo são tipos de tecidos conjun-
tivos com propriedades especiais, de modo que o ósseo é o mais
rígido devido à calcificação da matriz extracelular, enquanto o car-
tilaginoso, além de revestir as superfícies ósseas que se articulam,
serve de molde para o desenvolvimento e crescimento dos ossos.
O tecido muscular é o responsável pelos movimentos cor-
porais e viscerais, incluindo os batimentos (contrações) cardíacos.
Suas células possuem proteínas estruturais com alta capacidade
de contração, a actina, a miosina, a tropomiosina e a troponina,
que se deslizam uma sobre a outra durante a contração muscular.
O tecido nervoso forma um sistema complexo com a fun-
ção de receber, processar e conduzir informações, constituindo
o sistema nervoso, que é dividido anatomicamente em sistema
nervoso central e periférico. As células do tecido nervoso são
neurônios (unidade funcional do sistema nervoso) e células da
glia, localizadas entre os neurônios, cujas funções estão relacio-
nadas com isolamento, preenchimento, defesa e sustentação do
tecido nervoso, como também a formação da bainha de mielina.
Para que o professor de Educação Física tenha êxito em suas
atividades, é importante que conheça a constituição básica desses
tecidos, com o objetivo de trabalhar o indivíduo como um todo
e tendo em mente os mecanismos de funcionamento do corpo
humano, podendo evitar lesões ou facilitando sua recuperação.

Claretiano - Centro Universitário


136 © Biologia Humana

Portanto, é de fundamental importância que você tenha estudado


com atenção as unidades e pesquisado as bibliografias e os sites
sugeridos.

12. EͳREFERÊNCIAS

Lista de figuras
Figura 18 – Corte histológico do tecido nervoso, mostrando os neurônios e as células
gliais: disponível em: <http://www.notapositiva.com/superior/enfermagem/anatomia/
tecidonervoso.htm>. Acesso em: 23 nov. 2010.
Figura 19 – Desenho esquemático dos neurônios e seus componentes: disponível em:
<http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/sala_de_aula/biologia/biologia_animal/
sistema_nervoso/sist_nervoso>. Acesso em: 23 nov. 2010.
Figura 22 – Desenho esquemático da geração e propagação do impulso nervoso:
disponível em: <http://quatilokura.blogspot.com/2007/05/despolarizao-e-repolarizao.
html>. Acesso em: 23 nov. 2010.

13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004.
LUNDY-EKMAN, L. Neurociência: fundamentos para reabilitação. 2. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2004.
MORISCOT, A. S. Histologia para fisioterapia e outras áreas da reabilitação. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.
SOBOTTA. Atlas de Anatomia Humana. 20. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1995.

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