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Arbitragem

Octávio Bueno Magano *


Professor Titular de Direito do Trabalho da F D U S P

1. Considerações preliminares

Uma causa trabalhista requer de cinco a sete anos para chegar ao seu ter-
m o final. Essa demora na solução dos litígios trabalhistas resulta de diversos
fatores mas principalmente de sua convergência exclusiva para organismos ju-
diciários (Justiça do Trabalho e Justiça Federal), onde é flagrante a despropor-
ção entre a avalanche de processos e o reduzido número de juizes incumbidos
de os julgar. Essa simples constatação já aponta para a conveniência de se in-
centivar o funcionamento de mecanismos de justiça privada, o que quer dizer
arbitragem.

2. Denominação

O de que se cuida é de arbitragem e não de arbitramento. O último termo


significa meio de prova, obra de perito, cujas conclusões não vinculam o juiz, a
quem cabe, se quiser, determinar nova perícia. A arbitragem, ao contrário, en-
cerra decisão de u m litígio.

3. Definição

Define-se, portanto, a arbitragem como decisão de um conflito levada a


efeito por pessoa ou pessoas escolhidas pelas partes nele envolvidas. Dois são
os elementos nucleares dessa definição: o caráter privado do juízo arbitrai e a
natureza voluntária do instituto. Dando-se prevalência ao primeiro elemento,
pode-se caracterizar a arbitragem como justiça privada, e m contraposição à jus-
tiça pública. Dando-se preeminência ao segundo, há de se dizer que a arbitra-
gem constitui procedimento de autocomposição, contraposto ao procedimento
de autodefesa e de tutela.

(*) Professor Titular de Direito do Trabalho da Faculdade de Direito da Universidade de


São Paulo.
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4. Divisão

A mais importante divisão da arbitragem é a que contrapõe a voluntária à


obrigatória^.

Configura-se a primeira quando as partes gozam de liberdade de percorrer


ou não a via arbitrai e do direito de escolher os árbitros incumbidos de dirimir
sua contendas. N ã o há qualquer óbice constitucional ao funcionamento da ar-
bitragem voluntária. C o m o observa Hamilton de Moraes e Barros, "constitui er-
ro grosseiro de direito dizer-se que a Constituição proibiu o juízo arbitrai,
quando, no art. 153, § 4-, declara que a lei não poderá excluir da apreciação do
Poder Judiciário qualquer lesão ao direito individual'*2K C o m efeito, a jurisdi-
ção só se mostra inevitável quando provocada por u m dos sujeitos de u m lití-
gio. M a s se ambos os litigantes concordam e m a pôr de lado, preferindo solu-
ção de justiça privada, jamis se poderá dizer que ficaram despojados do juiz
natural^. Exclui-se, assim, a idéia esposada por alguns juristas no sentido de
que a compatibilização do referido texto constitucional c o m o juízo arbitrai só
se torna possível através do expediente de homologação do laudo arbitrai pelo
judiciário^. Longe disso, a homologação tem a finalidade exclusiva de dar
executoriedade ao m e s m o laudo, já que o juízo arbitrai não goza de poderes
coercitivos.

O que particulariza a última não é a subtração do direito das partes de se


louvarem e m árbitros de sua escolha, porque se isso ocorresse não haveria mais
falar-se e m arbitragem. O que a distingue da arbitragem voluntária é a sua im-
peratividade c o m o meio de solução de conflito, c o m exclusão ou postergação
da via judicial e exclusão ou postergação das vias de fato. Enquanto excludente
da via judicial, a arbitragem obrigatória deve ser tida, entre nós, c o m o incons-
titucional por contrariar a regra do § 4-, do artigo 153, da Constituição. En-
quanto excludente das vias de fato, a arbitragem obrigatória padece também do
vício de inconstitucionalidade, pelo menos e m cotejo c o m as atividades e m re-
lação às quais o direito de greve é assegurado^. Contudo, a arbitragem obri-
gatória não se mostra incompatível n e m c o m a dilação do acesso à via judicial
n e m c o m o propósito de postergar a eclosão de vias de fato.

Força é não confundir a arbitragem compulsória com a tutela jurisdicio-


nal, c o m o parece haver ocorrido c o m o legislador brasileiro ao falar da conver-

(1) O Código de Processo Civil português fala em julgamento arbitrai necessário. (Vide
art. 1525).
(2) Comentários ao C P C , Rio, Forense, s.d.p., vol. IX, p. 377.
(3) Oliveira Jr., Waldemar Mariz de, D o Juízo Arbitrai, in Kncontro Participação c Pro-
cesso, São Paulo, s.c.e., 1987, p. 333.
(4) Carmon, Carlos Alberto, Arbitragem e Jurisdição, in Hncontro Participação c Pro-
cesso, s.c.e., 1987, p. 316.
(5) V. art. 162, da Constituição.
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são do juízo conciliatório e m arbitrai, no § 2-, do art. 764, da C L T . A compul-
soriedade de que se trata deixa intacto o caráter privado do juízo, desde que
sejam os árbitros de livre escolha das partes, o que contrasta c o m a atividade
jurisdicional exercida necessariamente por órgãos públicos, impostos às par-
tes^- Mais se realça a distinção entre os dois juízos quando se tenha presente
que o primeiro não pode empregar medidas coercitivas, quer contra as partes
quer contra terceiros n e m tampouco decretar medidas cautelares^, ao passo
que o último não sofre qualquer restrição nesse sentido.

De tudo resulta que a arbitragem voluntária pode funcionar livremente


entre nós, semriscode a atividade respectiva ser duplicada pela atividade ju-
risdicional. Quanto à arbitragem compulsória, a viabilidade de sua implantação
dependeria de não ser excludente da via judiciária e das vias de fato constitu-
cionalmente protegidas, e m relação às quais a sua função haveria de ser mera-
mente dilatória.

5. Arbitragem de causas trabalhistas

No que concerne às causas trabalhistas, há, desde logo, uma dificuldade a


enfrentar-se. N o s termos do Código Civil e do Código de Processo Civil, só
são passíveis de arbitragem os direitos patrimoniais sobre os quais se admita
transação(8). Ora, e m relação aos direitos trabalhistas, o entendimento domi-
nante é o de que não comportam n e m renúncia n e m transação. Parece que,
realmente, o legislador deu às normas respectivas caráter de ordem pública, se-
gundo se infere do disposto no artigo 444, da C L T , onde se lê que as relações
de trabalho não podem ser livremente pactuadas quando contravenham às dis-
posições de proteção ao trabalho, aos contratos coletivos que lhes sejam aplicá-
veis e às decisões das autoridades competentes. E m doutrina, fala-se m e s m o no
princípio da irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas^.

Na Itália corporativa, o legislador tomou posição explícita sobre o assun-


to, afirmando, peremptoriamente, no artigo 2.113, do Código Civil, a irrenun-
ciabilidade dos direitos trabalhistas e a sua incompatibilidade c o m o instituto da
transação. Por outro lado, o Código de Processo Civil italiano proibiu a inser-
ção de cláusulas compromissorias nos contratos coletivos de trabalho, afimde
resguardar o monopólio jurisdicional, e m relação às causas trabalhistas^1^. Es-

(6) Cibntra, Antônio Carlos do Araújo: Grinover, Ada Pcllegrini; Dinamarco, Cândido,
R.. Teoria Geral do Processo, São Paulo, RT; 1979, p. 88.
(7) Vide art. 1.086. do Código de Processo Civil.
(8) Vide art. 1.035. do Código Civil e 1.072, do Código de Processo Civil.
(9) Costa, Orlando Teixeira da. Interpretação e Aplicação do Direito do Trabalho, in
Curso de Direito do Trabalho, coordenado por Octávio Bueno Magano em homena-
gem a Mo/.art Victor Russomano, São Paulo, Saraiva, 1985, p. 129.
(I()r Vide art. 808.
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se quadro só deixou de prevalecer c o m o advento da Lei n- 533, de 11 de


agosto de 1973, que tornou possível a arbitragem de causas trabalhistas, quan-
do respeitantes à interpretação ou à execução de contratos ou acordos coletivos
de trabalho contendo cláusula compromissória^11^.

Para se desempedir o caminho da arbitragem de causas trabalhistas, no


Brasil, é de todo e m todo aconselhável a edição de ato legislativo ressalvando a
inaplicabilidade das limitações contidas nos artigos 1.035 do Código Civil e
1.072 do Código de Processo Civil às mesmas causas. Basta simples alusão à
admissibilidade da arbitragem relativamente aos dissídios trabalhistas, indivi-
duais ou coletivos. N ã o se diga que, c o m tal posicionamento, sujeita-se o tra-
balhador ao poder econômico do empregador, contrariando-se a índole tuitiva
do Direito do Trabalho, porque a arbitragem não implica tal sujeição e sim a de
ambas as partes do poder ao árbitro, cuja imparcialidade é condição de sua in-
vestidura. Por outro lado, há de se assinalar a tendência moderna no sentido de
as normas trabalhistas tornarem-se flexíveis, perdendo m e s m o o caráter tuitivo
para se converterem e m normas dispositivas^ l*A).

6. Favorecimento da arbitragem

O favorecimento da arbitragem de causas trabalhistas constitui política da


Organização Internacional do Trabalho, exteriorizada na Recomendação n- 92,
de 1951. Merece também realce a Carta Européia, que, e m seu artigo 6-, 3,
(Parte II) cuida do fomento à arbitragem voluntária, como solução para os con-
flitos trabalhistas. Vários são os países que, no m u n d o ocidental, têm procurado
incentivá-la. N a Europa, realça-se a Espanha que, a partir da Constituição de
1978, a adotou como procedimento privilegiado^2^. M a s o país e m que mais
vicejou foi, sem dúvida, os Estados Unidos da América do Norte. C o m o assi-
nala William B. Gould, mais de noventa e cinco por cento das convenções co-
letivas celebradas no referido país, contêm cláusulas de arbitragemíl3). Tal foi
o desenvolvimento ali alcançado pelo instituto que organizações especializadas
se formaram para o porem e m prática. A título ilustrativo, devem ser menciona-
dos o "Federal Mediation and Conciliation Service", a "American Arbitration
Association" e a "National Academy of Arbitrators"n4). A s principais caracte-
rísticas da arbitragem, nos Estados Unidos da América do Norte, podem ser as-
sim sintetizadas: a sua incidência predominante ocorre e m relação aos dissídios

(11) Tarzio, Giuseppe, Manualò dei Processo dei Lavoro, Milano, CiuíTrè. 1980, p. 29.
(1 IA) Bunel, Jean et Dupupet, Flcxibilité danls le débat social, in Flexibilité du Droit du
Travail, Paris, Editions Législatives et Administratives, s.d.p., p. K). Vide também
Lyon-Caen, Gérard, La bataille truquée de Ia flcxibilité. in Droit Social, n- 12. Dc-
cembre/1985, p. 801.
(12) Montoya Melgar, El arbitraje en los conflictos coletivos de trabajo. in Civitas, Hne-
ro-Março/198 l,p. 18.
(13) A Primieron American Labor Law, Massachusetts, The Mit Press. 1986, p. 136.
(14) Idem, p. 136/137.
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individuais, constituindo fenômeno relativamente raro a arbitragem de dissídios
coletivos^15); constitui, via de regra, epílogo de u m processo chamado "grie-
vance procedure"; a duração do referido processo é acentuadamente rápida; o
encargo de arbitrar é geralmente atribuído a árbitros selecionados pelas entida-
des já mencionadas; o laudo do árbitro pode ser executado perante órgãos judi-
ciais^16).

7. A arbitragem em cansas trabalhistas no Brasil

No Brasil, a arbitragem de causas trabalhistas é praticamente desconheci-


da, a despeito da previsão constante do item V , do artigo 613, da C L T , onde se
diz que as convenções coletivas devem conter obrigatoriamente "normas para a
conciliação das divergências surgidas entre os convenentes por motivos da
aplicação de seus dispositivos". A falta de voga do instituto, e m nosso país,
explica-se, e m primeiro lugar, pela preferência dos brasileiros pelas soluções de
tutela e, depois, pelas arestas do modelo legal vigente, cujo aplanamento se
requer.

Parece-nos que o primeiro obstáculo de nosso sistema a ser removido é o


da atual inclusão dos direitos trabalhistas entre os que se consideram insuscetí-
veis de transação ou renúncia, e isso pelas razões acima já expendidas.

A segunda providência a ser tomada, diz respeito à simplificação do


"iter" do processo de arbitragem. A luz do modelo tradicional, o aludido pro-
cesso compreende três fases: a da cláusula compromissória, a do compromisso e
a da arbitragem propriamente dita. A cláusula compromissória pode ser consi-
derada ou c o m o promessa de compromisso ou como o próprio compromisso,
sob a condição suspensiva de configuração de litígio^17). O compromisso "é o
contrato e m que as partes decidem submeter suas pendências a árbitros nele
nomeados"*^. A primeira se refere a u m a lide "nondum nata" e o segundo a
u m a lide "iam nata". Por exemplo, numa convenção coletiva, abre-se espaço à
cláusula onde se diz que qualquer pendência emergente de sua aplicação será
dirimida mediante arbitragem. E a cláusula compromissória. Surgida a diver-
gência, força será então celebrar-se o compromisso^19^, novo contrato e m que
se faz necessário a qualificação das partes; a designação e a qualificação dos
árbitros; a descrição minuciosa do objeto do litígio; a determinação de respon-

d i ) Ibidem. p. 134.
(16) Hlkouri. Frank e Flkouri, Edna Aspcr, H o w Arbitration Works, Washington D.C.,
lhe liureau oi" National AlTairs, Inc., 1985, p. 23, 118, 153.
(17) Robert. Jean, I/arbitrage, Paris, Dalloz, 1983, p. 67.
(18) Rodrigues, Silvio. Direito Civil, São Paulo, Max Limonad, s.d.p., p. 294.
(19) C o m o di/ Alfredo Bu/aid. o instituto do compromisso está intimamente ligado ao
juízo arbitrai, porque é u m meio cm relação a u m fim. (Do juízo arbitrai in
RT-271/9).
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sabilidade quanto ao pagamento dos honorários do perito. Para complementa-


ção do aparato contratual, recomenda-se ainda a designação do prazo e m que
deve ser proferido o laudo; o esclarecimento sobre se a sentença arbitrai será ou
não. passível de recurso; a previsão da pena a que se obrigue a parte infringente
da obrigação de não recorrer; a autorização concedida aos árbitros para julga-
rem por eqüidade. Para obviar a inconveniência da celebração de novo contra-
to, causa freqüentemente geradora de impasse, a tendência das legislações m o -
dernas é no sentido de admitir que a cláusula compromissória "vaut compro-
mis", devendo, para esse efeito, conter a designação de árbitros ou prever as
modalidades de sua designação^20^. Essa a diretriz consagrada pelo novo Códi-
go de Processo Civil francês^21\ pelo Código de Processo Civil português(22^ e
também pela lei brasileira sobre juizado especial de pequenas causas, Lei n 9
7.244, de 7 de novembro de 1984^23^. C o m a apontada parificação da cláusula
compromissória ao compromisso, o juízo arbitrai pode instaurar-se não só pelas
partes e m conjunto, mas por qualquer delas ainda que a outra recalcitreí24).

A terceira providência a ser tomada para incentivar a arbitragem refere-se


à composição do juízo arbitrai. Nos termos do Código de Processo Civil brasi-
leiro, a arbitragem torna-se inviável se houver escusa por parte de qualquer dos
árbitros; se qualquer delesficarimpossibilitado de votar, sem possuir substitu-
to; se houver divergência entre os árbitros, quanto à nomeação de u m terceiro.
C o m o as aludidas hipóteses de inviabilização da arbitragem são suscetíveis de
ocorrer c o m freqüência, inspirados na moderna legislação francesa(25), preco-
nizamos que, não havendo acordo entre as partes, quanto à nomeação de novos
árbitros, o juízo arbitrai possa ser constituído pelo Presidente do Tribunal do
Trabalho, e m cuja jurisdição ocorrer o litígio. Sob o aspecto ora e m foco, mos-
tra-se igualmente recomendável que ^legislação brasileira, tal c o m o a moderna
legislação francesaí26\ admita, na cláusula compromissória, ou no compromis-
so, a designação de pessoa jurídica c o m o responsável pela organização do pro-
cesso de arbitragem. C o m isso estimular-se-á a criação e o aprimoramento de
entidades privadas, especializadas e m arbitragem.

A quarta providência a ser tomada para incentivar a arbitragem concerne à


limitação das hipóteses de recurso contra o laudo arbitrai. N o caso de omissão
das partes, deve-se presumir que o laudo é irrecorrível, salvo a configuração de

(20) Robert,ob. cit.,p. 71.


(21) Vide art. 1.443.
(22) Art. 1513.2.
(23) Vide § único, do art. 25.
(24) Vide art. 1.445, do novo Código de Processo Civil francês: Lc liügc cst soumis au
tribunal arbitrai soit conjointement par les partics, soit par Ia partie Ia plus diligente
(25) Vide art. 1.444, do novo Código de Processo Civil trances.
(26) Vide art. 1.451, do novo Código de Processo Civil francês.
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nulidades. N o que tange a estas, impõe-se a supressão do artigo 1.100, do C ó -


digo de Processo Civil, afimde que sobre a matéria, ocorra apenas a incidên-
cia das causas gerais de nulidade.

Por último, é preciso reconhecer que a validade do laudo arbitrai não deve
ficar condicionada à homologação judicial, não só por ser tal exigência dimi-
nutiva mas também por causa de suas implicações burocráticas. Quanto ao pri-
meiro aspecto, v e m a talho novamente a invocação do moderno Código de Pro-
cesso Civil francês, e m cujo art. 1.476, lê-se o seguinte: "La sentence arbitrale
a, dès qu'elle est rendue, 1'autorité de Ia chose jugée relativement à Ia contesta-
tion qu'elle tranche"^27*. N o que tange às implicações burocráticas da homolo-
gação, vale a pena reproduzir aqui as considerações formuladas, sobre o as-
sunto, por Carlos Alberto Carmona: " A homologação transformou-se, aos pou-
cos, n u m dos grandes entraves do instituto, prejudicando (ou até m e s m o elimi-
nando) as tão apregoadas vantagens da arbitragem: ao invés de se simplificar a
solução do litígio, acaba-se por trazer novos elementos de complicação e pro-
crastinação..."^8) N e m m e s m o para efeito da execução é preciso manter a exi-
gência de homologação. Basta que se insira o laudo arbitrai na categoria de tí-
tulo executivo extrajudicial.

8. Conclusões

Não é possível que a consciência do povo brasileiro continue insensível


ao fato de que u m a causa trabalhista demore de cinco a sete anos para chegar
ao seu termofinal.A demora na prestação jurisdicional constitui forma disfar-
çada de denegação de justiça, estimulando renúncias e acordos ruinosos; geran-
do, ao m e s m o tempo, descrença nas instituições e revolta contra a ordem social
vigente. C o m o diria Camus, a revolta pode ser fruto de ascese de quem busca
novo Deus.

Antes que o povo brasileiro queira submeter-se a deuses estranhos, me-


lhor será que o livremos de suas frustrações, acenando-lhe c o m formas expedi-
tas de solução de contendas.

Dentre as diversas formas de que se possa excogitar, a mais expedita é a


da arbitragem. Daí desejarmos encorajar a sua prática. Referimo-nos ao incen-
tivo da arbitragem voluntária, para a solução dos dissídios individuais e ao da
arbitragem obrigatória, como fator dilatório e, por isso, eventualmente dissuasi-
vo de vias de fato, nas áreas de algumas atividades essenciais, sem prejuízo de
que, e m outras, c o m o as militares e para-militares, sejam totalmente proibidas.

(27) Vide no mesmo sentido art. 1.522. do Código de Processo Civil português.
(2S) Ob.cit.. p. 316.
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O objetivo sublinhado só poderá colimar-se c o m a adoção das medidas


sugeridas no corpo deste trabalho.

RESUMO: ARBITRAGEM

Hodiernamente, a solução de u m a causa trabalhista pelo Poder Público,


está demorando cerca de cinco a sete anos. Tal demora na prestação jurisdicio-
nal pode traduzir, muitas vezes, denegação de justiça, estimulando renúncias e
acordos ruinosos.

Referido problema poderia ser solucionado através da utilização da arbi-


tragem.

Realmente, apresenta-se a arbitragem como uma jurisdição pactuada pelas


partes, que acordam seja o litígio decidido por pessoa ou pessoas por elas es-
colhida.

A mais importante divisão da arbitragem é a que contrapõe a voluntária à


obrigatória. Configura-se a primeira quando as partes gozam da liberdade de
percorrer ou não a via arbitrai e o direito de escolher os árbitros incumbidos de
dirimir suas contendas; sendo perfeitamente possível nos termos do nosso orde-
namento jurídico. Já a arbitragem obrigatória se caracteriza pela sua imperativi-
dade c o m o meio de solução de conflito, c o m exclusão ou postergação da via
judicial, razão esta que a torna inconstitucional face a regra do artigo 153, § 4-,
da Constituição Federal.

No que concerne às causas trabalhistas há um óbice a ser enfrentado, qual


seja, a legislação civil e processual civil que só permitem sejam objeto de arbi-
tragem os direitos patrimoniais sobre os quais se admita transação. N a medida
e m que os direitos trabalhistas são tidos como irrenunciáveis, devido ao caráter
de ordem pública das normas que o regem ( C L T art. 444), mister se faz a edi-
ção de ato legislativo ressalvando a inaplicabilidade das limitações, contidas
nos artigos 1.035 do C C e 1.072 do C P C , às causas trabalhistas. Somando-se a
tal fato a preferência dos brasileiros pelas soluções de tutela, temos que a arbi-
tragem de causas trabalhistas no Brasil é praticamente desconhecida. A des-
peito disto, a própria C L T , no seu art. 613, V, prevê que as convenções coleti-
vas devem conter obrigatoriamente normas para a conciliação das divergências
surgidas da aplicação de suas normas.

No direito comparado a arbitragem é muito utilizada no campo trabalhista,


sendo, inclusive, recomendada pela Organização Internacional do Trabalho
(Recomendação n- 92, de 1951).
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Saliente-se ainda que a arbitragem apresenta muitas vantagens sobre a ati-
vidade jurisdicional, como, por exemplo, a rapidez, o sigilo, a possibilidade do
litígio ser decidido por u m experto que entende minuciosamente do m e s m o .

Em face do exposto, emerge a conclusão de que a arbitragem é, sem dúvi-


da, a forma mais expedita para que se resolva o problema de congestionamento
das vias judiciais.

SUMMARY: ARBITRATTON

Nowadays, a labor cause takes from five to seven years to be settled with
the Judicial Power. This delay is likable to generate, quite often, failure of jus-
tice stimulating waivers and ruinous agreements.

This issue might be settled with the use of arbitration.

Actually, an aribtration is presented as a jurisdiction agreed upon between


the parties, which consent on having the litigation decided by a person or per-
sons appointed by the parties.

The major division of an arbitration is that which oppose the willful to the
compulsory (obligatory). The former takes place w h e n the parties are free to
decide whether to follow the arbitration route or adopt the rigth to choose the
arbitrators designed to settle their dispute; this is entirely possible within the
terms of our legal system. The compulsory arbitration is characterized by its
mandatory aspect as a means to settle conflicts; an exception to this rule is,
however, the postponement of judicial arbitration, which would be inconstitu-
tional as provided by article 153, § 4th, of the Federal Constitution.

Insofar as labor causes are concerned, an hindrance has to be overcome,


i.e, the civil and civil/procedural legislation that only allow an arbitration to ta-
ke place w h e n therightsover assets are permitted to be traded. Inasmuch as la-
bor rights cannot be waived in view of the public nature of its rules ( C L T art.
444), the publication of a legislative act safeguarding the applicability of the
restrictions set forth in arts. 1035 of the C C and 1072 of the C P C on labor cau-
saes, becomes necessary. Adding to this fact the Brazilian preference for guar-
dianship solutions, w e consider that the arbitration of labor causes in Brazil is
virtually unknown. Nonetheless, as provided by CLT's art. 613, V , collective
conventions must obligatorily include rules to settle any dissenting stemmed
from the aplication of its rules.

The comparative jurisprudence consistently applies arbitration to the labor


field, and this is also recommended by the International Laboi Organization
(Recommendation 92 of 1951).
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Furthermore, it should be emphasized that the use of arbitration presents
numerous advantages over the jurísdictional activity, such "as speed, secrecy
and the possibility of having the suit decided by an expert with sound kno-
wledge of the matter.

In view of the foregoing, the obvious conclusion is that arbitration is the


fastest w a y to solve the issue of busy judicial channels.

UNTTERMOS
ARBITRAMENTO: meio de prova, obra de perito, cujas conclusões não vin-
culam o juiz, a quem cabe, se quiser, determinar nova
perícia.

ARBITRAGEM: decisão de um conflito levada a efeito por pessoa ou pessoas


escolhidas pelas partes nele envolvidas. Trata-se de justiça
privada, de natureza voluntária.

CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA: contrato preliminar, onde as partes pro-


metem efetuar contrato definitivo de
compromisso no caso de eventual litígio
futuro.

COMPROMISSO: contrato em que as partes decidem submeter suas pendên-


cias a árbitros nele nomeados.

HOMOLOGAÇÃO: ato através do qual o Poder Judiciário, reconhecendo que


os termos do compromisso foram executados, imprime a
força de coisa julgada à decisão dos árbitros.

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