Você está na página 1de 101

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB

PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO - PROEX

LAYZE MARIANA TENÓRIO DE LIMA

RELATÓRIO DAS AÇÕES DESENVOLVIDAS PELA BOLSISTA AO LONGO


DA PREPARAÇÃO PARA A EXECUSSÃO DO PROJETO DE EXTENSÃO
“PORTUGUÊS INSTRUMENTAL PARA ALUNOS UNIVERSITÁRIOS E PRÉ-
UNIVERSITÁRIOS”

CAMPINA GRANDE – PB

JULHO/ 2018
LAYZE MARIANA TENÓRIO DE LIMA

RELATÓRIO DAS AÇÕES DESENVOLVIDAS PELA BOLSISTA AO LONGO


DA PREPARAÇÃO PARA A EXECUSSÃO DO PROJETO DE EXTENSÃO
“PORTUGUÊS INSTRUMENTAL PARA ALUNOS UNIVERSITÁRIOS E PRÉ-
UNIVERSITÁRIOS”

Relatório apresentado à Comissão de


Avaliação de Programas/Projetos de
Extensão da PROEX/UEPB, como
requisito para comprovação das
atividades desenvolvidas entre os
meses de dezembro/2017 e
janeiro/2018 pela bolsista do
Programa/Projeto junto à Pró-Reitoria
de Extensão.

CAMPINA GRANDE – PB

JULHO/ 2018
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 04
2 ATUAÇÃO DA BOLSISTA DURANTE A PREPARAÇÃO DO CURSO DE 04
EXTENSÃO................................................................................................................

2.1 DESCRIÇÃO DAS AÇÕES DESENVOLVIDAS PELA BOLSISTA EM 04


DEZEMBRO DE 2017...............................................................................................
2.2 DESCRIÇÃO DAS AÇÕES DESENVOLVIDAS PELA BOLSISTA EM 05
JANEIRO DE 2018.....................................................................................................

APÊNDICES 07
APÊNDICE I: Versão inicial da sequência didática, referente à primeira fase do
projeto – Gêneros Jornalísticos, elaborada durante o mês de janeiro

ANEXOS 50
4

1. INTRODUÇÃO

O curso de extensão ―Português Instrumental para Alunos Universitários e Pré-


Universitários‖ tem como proposta minimizar a carência que os estudantes do Ensino Médio e
os universitários possuem acerca dos gêneros textuais, principalmente aqueles que pertencem
às esferas jornalística e acadêmica. Além disso, buscamos melhorar o conhecimento dos
atuais discentes dos cursos de graduação de qualquer instituição superior, pública ou privada,
bem como dos atuais pré-universitários da Paraíba, que almejam frequentar um curso
superior.
Todavia, para que pudéssemos alcançar esse objetivo, foi necessário que em nosso
cronograma de execução das atividades1 houvessem momentos destinados à preparação do
curso. Dessa forma, o presente relatório trará uma melhor explanação das ações realizadas
pela bolsista ao longo dos meses de dezembro de 2017 e janeiro de 2018.

2. ATUAÇÃO DA BOLSISTA DURANTE A PREPARAÇÃO DO CURSO DE


EXTENSÃO

A coordenadora do projeto, Tatiana Fernandes Sant’ana, apontou os meses de dezembro


de 2017 e janeiro de 2018 como propícios para a elaboração do curso ―Português Instrumental
para Alunos Universitários e Pré-Universitários‖, tendo em vista dois motivos centrais: o
primeiro estava relacionado ao final do semestre de 2017.1 e por isso a bolsista e os
voluntários estariam encerrando suas atividades acadêmicas; e o segundo não apresentava dias
letivos, pois foi reservado para as férias dos estudantes da UEPB. Portanto, descreverei nos
tópicos a seguir minha atuação durante a preparação do projeto de extensão, na condição de
bolsista.

2.1 DESCRIÇÃO DAS AÇÕES DESENVOLVIDAS PELA BOLSISTA EM


DEZEMBRO DE 2017

Ao longo do mês de dezembro de 2017, tive três encontros semanais com a coordenadora do
projeto:

1
O cronograma encontra-se em anexo.
5

1° Encontro (11/12/2017)2

Este encontro foi destinado às orientações iniciais para os alunos integrantes do projeto. Nele,
discutimos os seguintes pontos:

 Dia de realização do curso;


 Gêneros textuais abordados na primeira etapa do curso;
 Ideias e estratégias para a elaboração do curso;
 Leituras teóricas para o próximo encontro.

2° Encontro (18/12/2017)

Neste segundo momento, debati, juntamente com a coordenadora e os alunos voluntários, o


texto de Marcuschi (2002)3, na tentativa de preencher possíveis lacunas deixadas pelo curso
de Letras-Português no que diz respeito à distinção entre gêneros textuais e tipologias
textuais. Ademais, como a primeira etapa do projeto enfatiza a leitura de gêneros de textos
jornalísticos, foi necessário discutir as concepções de leitura apontadas por Geraldi (2001)4.

3° Encontro (26/12/2017)

No terceiro encontro, também foram discutidos textos teóricos. Só que desta vez estes eram
voltados para a argumentação no ensino de língua, bem como a importância da produção de
gêneros acadêmicos na universidade. Esses textos foram produzidos por Nascimento (2012) e
Silva e Medeiros (2012), respectivamente. Depois disso, todo o grupo decidiu que a
elaboração da versão inicial da sequência didática5 da primeira fase do projeto seria realizada
em janeiro.

2
Os textos lidos ao longo das reuniões do mês de dezembro também estão em anexo.
3 MARCUSCHI, L.A. Gêneros Textuais: definição e funcionalidade. IN: DIONISIO, Ângela Paiva et.
alii (org). Gêneros Textuais do Ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002, p. 19-36.
4 GERALDI, João W. (org.). O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 2001.
5 A elaboração de sequências didáticas faz com que a abordagem dos gêneros textuais nas aulas de
Língua Portuguesa seja facilitada e, consequentemente, mais proveitosa. Portanto, essa ferramenta é definida por
Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 96) como ―um conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira
sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito‖.
6

2.2 DESCRIÇÃO DAS AÇÕES DESENVOLVIDAS PELA BOLSISTA EM


JANEIRO DE 2018

Depois do último encontro com a coordenadora, me dediquei, na companhia dos demais


integrantes do projeto, à produção das aulas que seriam futuramente por nós ministradas. Ao
todo, elaboramos oito encontros entre os dias 03/01/2018 e 17/01/2018. Finalizada essa etapa,
precisamos, entre os dias 18/01/2018 e 31/01/2018, nos aprofundar nas seguintes leituras:

 ARAÚJO, Denise Lino. Enunciados de atividades e tarefas escolares: modos de


fazer. Olinda: Livro Rápido, 2014. (150 p.)
 Antunes, Irandé. Textualidade: noções básicas e implicações pedagógicas. São
Paulo: Parábola Editorial, 2017. 168 p. (Estratégias de ensino; 60)
 MOTTA-ROTH, Désirré; HENDGES, Graciela H. Produção textual na
universidade. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.
 PEREIRA, Regina Celi Mendes. A didatização de gêneros no contexto de
formação continuada em EAD (Org). João Pessoa: Editora Universitária/UFPB,
2012. (192 p.)
 RAMOS, Paulo. A leitura oculta: processos de produção de sentidos em histórias
em quadrinhos. In: BUNZEN, Clecio; MENDONÇA, Márcia (Orgs). Múltiplas
linguagem para o ensino médio. São Paulo: Parábola Editorial, 2013.
7

APÊNDICES

APÊNDICE I: Versão inicial6 da sequência didática, referente à primeira fase do projeto –


Gêneros Jornalísticos, ELABORADA DURANTE O MÊS DE JANEIRO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA


PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO
SEQUÊNCIA DIDÁTICA
1. IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO DE EXTENSÃO

TÍTULO DO PROJETO DE EXTENSÃO: Português instrumental para alunos


universitários e pré-universitários

BOLSISTA E VOLUNTÁRIOS:
Layze Mariana Tenório de Lima Matrícula: 151231222
Angelica Maria Barbosa Matrícula: 142230138
Dayane Kelly B. Freire Sales Matrícula: 132233240
Helton de Farias Henrique Matrícula: 141231530
COORDENADORA: Tatiana Fernandes Sant’ana
LOCAL DE REALIZAÇÃO:
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) SALA: 105
PÚBLICO ALVO: Alunos da Educação Básica, de nível médio; Alunos do ensino superior,
de qualquer curso e/ou instituição
HORÁRIO: Quartas-feiras, 14h00 às 17h00
DURAÇÃO DO TRABALHO: 08 ENCONTROS

6
Chamamos de versão inicial porque a produção de uma sequência didática não é estática, tendo em
vista que essa ferramenta didática pode ser modificada a partir das dificuldades apresentadas pelos alunos no
decorrer do curso.
8

GÊNEROS ABORDADOS:

Tirinha
Charge
Publicidade
Propaganda
Notícia
Carta do Leitor
Artigo de Opinião

OBEJETIVO GERAL:

 Contribuir com o processo-aprendizagem dos alunos, visando à formação do leitor


proficiente, através dos gêneros textuais de esfera jornalística.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

 Despertar o interesse para a leitura e a produção de gêneros jornalísticos;


 Abordar os gêneros: tirinha, charge, publicidade, propaganda, notícia, carta do leitor e
artigo de opinião;
 Estimular as habilidades de interpretação de textos dos discentes;
 Refletir sobre as estratégias argumentativas dos gêneros da esfera jornalística;
 Fazer com que os alunos se apropriem da funcionalidade dos gêneros de texto
abordados.

1° ENCONTRO:

Elemento motivador: Exemplos de gêneros textuais: redação, placa, fotografia, meme,


charge, lista de compras, conto, outdoors retirados de livros, blogs, redes sociais, etc.

Recursos didáticos utilizados: Notebook e Datashow.

Descrição das ações:

 No primeiro momento, realizaremos nossa apresentação perante os participantes do


curso;
 Após a interação inicial, pediremos que os integrantes nos relatem suas experiências e
dificuldades na leitura e na produção de gêneros textuais, tanto no ensino médio
quanto na universidade. Bem como, as suas expectativas de como o curso poderá
suprir suas adversidades com esses gêneros.
9

 A posteriori, apresentaremos o projeto de extensão expondo nossos objetivos,


justificativa e evidenciando sua importância;
 Em seguida, comentaremos que nosso curso partirá de noções básicas, que muitas
vezes esquecemo-nos de refletir sobre elas. Diante dessa afirmação, questionaremos
aos alunos ―O que são textos?” e ainda, “Todo conjunto de palavras é um texto?”.
Após darmos alguns minutos para que cheguem às suas conclusões, exibiremos,
através de slides, alguns exemplos com o intuito do alunado analisar e apontar os
motivos desses exemplos serem ou não textos.

1)
Fonte: ANTUNES, Irandé. Textualidade: noções básicas e implicações pedagógicas. – 1° ed. – São
Paulo: Parábola, 2017 (p. 43-44).

 No exemplo um, temos um conjunto de palavras que não mantém nenhuma relação
entre si, dessa forma, não conseguimos identificar as ideias que estão sendo expostas.
Portanto, não se configura como texto.

1) O macaco e vovô

Vovô é o macaco de boneca.

A boneca menina:

- Vovô, menina a boneca.

Menina dá boneca a vovô

Fonte: GERALDI, João Wanderley. No espaço do trabalho discursivo, alternativas. In: . Portos de
passagem. – 4° ed. – São Paulo: Martins fontes, 1997. – (Texto e linguagem) (p.138)
10

 O exemplo dois trata-se de uma redação de um aluno do 2° ano do Ensino


Fundamental, de outubro de 1989.
A proposta de produção solicitava-o que escrevesse uma história baseada em uma
determinada gravura. No entanto, esse aluno se limita a ilustrar a parte verbal, sem se
preocupar em organizar as ideias e nem dar sentido a sua produção. Entretanto,
faremos com que a turma analise esse exemplo em duas perspectivas: a do aluno e a
nossa como leitores não inseridos no contexto de produção.
O próximo exemplo também será uma redação de um aluno 2° ano do Ensino
Fundamental de outubro de 1989, que o solicitava que escrevesse sobre a escola.
Diferente do exemplo anterior, podemos dizer que estamos diante de um texto, pois
esse aluno torna-se sujeito do seu dizer na medida em que deixa claro sua opinião
sobre a escola e que conhece suas regras:

2) A escola

a secola é bonita e lipa e não pede traze-


chiclete e não pe de traze ovo naora do lanche
tem mutascoza no lanche e não po de repiti e
tem mutajeteque repétenolanche e trazemateriau
na secola e senão aprofesora da chigo. Fonte: Ibidem. (p.140)

2) Fonte: https://www.todamateria.com.br/linguagem-verbal-e-nao-
verbal/

Aqui também estamos diante de um texto, pois apesar da placa de aviso não conter
nenhuma palavra escrita conseguimos entender a advertência que ela transmite, a
partir desse exemplo conseguiremos desmistificar a noção de que os textos são
11

constituídos unicamente pela linguagem verbal. Também será necessário salientar que
uma única palavra também pode ser um texto, como por exemplo, ―Silêncio‖, tendo
em vista que tem uma função comunicativa, alguém produziu e pronunciou para outro
alguém, expressa um sentido e por fim, é interpretável;

3) Fonte:https://mdemulher.abril.com.br/estilo-de-
vida/memes-para-voce-nunca-mais-ficar-sem-responder-uma-conversa/
 Esse exemplo também é um texto não verbal. Num primeiro momento, a imagem
poderá ser uma fotografia, porém, ao inseri-la em outro contexto, como em uma
conversa de Whatsapp ou Facebook, ela se tornará um novo gênero, o meme. E poderá
expressar reações em determinadas circunstância e para comprovar isso, pediremos
que os alunos nos apontem situações que possam ser representadas por esse meme.
Dessa forma, ficará nítido que, em alguns casos, o sentido de um texto também
depende do contexto de comunicação na qual ele estar inserido;

4)
Fonte: http://blogdothiagoferraz.com.br/charge-do-dia-12/
12

 Dessa vez, o texto é concretizado com um misto de linguagem verbal e não verbal o
que é algo comum ao gênero charge. Nesse caso, é suficiente para recuperarmos o
significado as palavras Iabadabadu e gasolina, bem como nosso conhecimento sobre o
personagem Fred, dos Flintstone;
 Logo após, perguntaremos “Dentro do que discutimos até agora, foi possível perceber
que não é qualquer conjunto de palavras ou de frases que constitui um texto. Dessa
forma, quais os principais fatores que os textos devem apresentar para serem
reconhecidos como tal?”. Depois que ouvimos as respostas dos discentes revelaremos
que são dois os fatores principais: a coesão e a coerência. A seguir, indagaremos qual
o conhecimento da turma sobre esses termos;
 Depois da discussão, disponibilizaremos nos slides alguns textos que apresentem
ocorrências desses conceitos, na tentativa de proporcionar um melhor entendimento.
Primeiramente, mostraremos uma lista de compras, no intuito de evidenciar que em
certos gêneros não exigem a coesão. Logo após, será exibido o conto ―Circuito
fechado”, de Ricardo Ramos e a partir disso esclareceremos que apesar dele não
conter elementos de coesão para ligar as palavras, como por exemplo, os conectivos, é
um texto que possui sentido, pois conseguimos identificar que quem realiza as ações é
um homem, trabalha como publicitário, é fumante e assim por diante. Além disso, o
autor ao escrever o conto dessa maneira nos mostra como uma rotina pode ser tornar
mecânica. Subsequentemente, apresentaremos dois anúncios que ―escorregam‖ nas
informações que transmitem, pois se contradizem e por isso, tornam-se incoesos.
5)
13

Fonte: http://organizesemfrescuras.com.br/organizacao/organizacao-pessoal/lista-de-compras-de-supermercado-
para-imprimir

6)
14

Circuito fechado
Ricardo Ramos

Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de
barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme
para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó.
Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço. Relógio, maço de cigarros, caixa de
fósforos, jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros.
Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda,
copo com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso
com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo.
Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone,
papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro,
fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo,
quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia. Água. Táxi, mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos,
talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes,
pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo,
telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta,
cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara,
jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó,
gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos,
guardanapos. Xícaras. Cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor,
poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama,
espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.

RAMOS, Ricardo. Circuito fechado: contos. São Paulo: Globo, 2012.


15

7)
Fonte: http://biblioamigos2010.blogspot.com.br/2010/07/na-semana-dele-domingo-nao-e-dia-sera.html

8)
Fonte: https://redafacil.blogspot.com.br/2013/10/tenha-cuidado-quanto-incoerencias-nas.html

 Por último, chamaremos atenção de, quase sempre, ao nos direcionarmos para cada
exemplo não nos limitamos em chamá-los simplesmente de textos, mas sim de
gêneros. Dando continuidade, procuraremos fazer com que os alunos reflitam sobre
essa alternância entre as denominações. Após isso, explicitaremos que o texto gênero
textual, como diz Antunes (2017), é utilizado para especificar os textos materializados
que temos contato diariamente, pois cada um possui características distintas, como por
exemplo, o conteúdo, a função, o objetivo, o estilo, a estrutura ou o suporte. Dessa
forma, é incorreto substituir o termo gêneros textuais por tipos textuais, porque este
último referem-se somente as tipologias textuais, que são narração, argumentação,
exposição, descrição e injunção.
16

2° Encontro:
Elementos motivadores: Exemplares diversos de tirinhas e charges.
Recursos didáticos utilizados: Notebook, Datashow.

 Inicialmente discutiremos com os alunos as características estruturais e estilísticas das


tirinhas. Para isso, mostraremos vários tipos diferentes de tiras mostraremos aos alunos que
não existe uma fórmula precisa para determinar como é sua estrutura, que ela pode fugir do
conceito tradicional que a define (faixa retangular com até quatro quadrinhos). Se apropriar
do gênero e compreender que sua forma não é estanque, e que tem diversas
funcionalidades e intenções.

Tiras tradicionais

Fonte: https://iacobus.wordpress.com/2007/06/26/toda-mafalda/

Fonte: http://deliriumnerd.com/2016/04/14/catarse-gibi-baleia-de-rebeca-prado/
17

Fonte: http://arquivosturmadamonica.blogspot.com/2013/06/pocket-l-chico-bento-historias-de.html

Tiras experimentais

Fonte: https://www.contioutra.com/tiras-do-desenhista-paulo-stocker-conquistam-publicos-de-todas-as-
idades/
18

Fonte: http://mentirinhas.com.br/mentirinhas-385/

Fonte: http://deliriumnerd.com/2016/04/14/catarse-gibi-baleia-de-rebeca-prado/

Fonte: http://deliriumnerd.com/2016/04/14/catarse-gibi-baleia-de-rebeca-prado/

Tiras experimentais com meta linguagem


19

Fonte: https://br.pinterest.com/juhennerich/tirinhas/

Fonte: http://www.ospassarinhos.com.br/2014/04/16/chuva-na-tirinha/
 Daremos início a discussão acerca do gênero de texto charge questionando se os
discentes costumam ter frequentemente contato com o gênero e quais são os motivos que
os levam a lê-lo.
 A priori, revelaremos que esse gênero textual é bastante antigo, pois circula em nossa
sociedade desde meados do século XIX. Em seguida, falaremos que a palavra charge tem
origem francesa e significa carga. No jornalismo se refere a uma carga contra um
adversário que para conseguir seu objetivo faz uso de humor e ironia;
 Dando continuidade, explicitaremos que o gênero Charge surgiu com o objetivo de
criticar alguém ou um determinado acontecimento através de sátiras. No entanto, a
produção inicial desse tipo de ilustração estava voltada para questões de cunho político. E
20

para que possamos comprovar essa informação, exibiremos nos slides a primeira charge
produzida no Brasil: A campainha e o cujo, publicada em 1837, no Jornal do Comércio do
Rio de Janeiro. Sua autoria foi atribuída a Manoel de Araújo Porto-Alegre. Nela
observamos uma crítica ao pagamento de propina, que nesse caso, estava direcionada ao
jornalista Justiniano José Rocha, que na época apoiava o governo imperial de D. Pedro II.
Além disso, acrescentaremos que o segundo reinado foi crucial para a consolidação da
imprensa, já que era um período com grande liberdade de expressão, pois o imperador não
se incomodava em ser constantemente ironizado/ridicularizado nos periódicos. Logo após,
diremos que com o passar do tempo o gênero conquistou o gosto da população e até hoje é
apreciado e utilizado pelos brasileiros;

Texto contido na charge:

A Campainha O Cujo
Quem quer; quem quer redigir Com três contos e seiscentos
O Correio Oficial! Eu aqui'stou, meu senhor
Paga-se bem. Todos fogem? Honra tenho e probidade
Nunca se viu coisa igual Que mais quer d'um redator
Fonte: http://estudiorafelipe.blogspot.com.br/2009/11/primeira-charge-do-brasil.html

 A seguir, lembraremos aos alunos que com o passar do tempo esse gênero de texto deixou
de ser exclusivo das páginas dos jornais, pois o avanço da tecnologia trouxe novos
veículos de comunicação. Dessa forma, os questionaremos sobre os locais em que
atualmente podemos encontrá-los e quem são seus produtores.
21

 Logo depois, falaremos acerca da importância da charge ao que se refere à rápida


assimilação de ideias que a mesma nos proporciona, uma vez que ela mistura a linguagem
verbal e visual, pois como aponta Grudzinski (2009, p.1) é através ―do humor, da crítica e
dos fatos ocorridos, o leitor cria um elo com essas ilustrações e, muitas vezes, opta pela
leitura da charge que se torna de fácil entendimento e de rápida assimilação‖.
 Posteriormente, começaremos a mostrar exemplos de charges com o intuito de
proporcionar que o alunado construa uma definição sobre o gênero e perceba sua função
comunicativa. Nesses exemplos demonstraremos o quando as charges possuem temáticas
diversas, pois se na época do seu surgimento a ênfase era em questões políticas, hoje
abordam assuntos de ordem econômica, social, cultural, etc.
 Num primeiro momento, evidenciaremos como é comum nas charges a presença de
personagens caricatos, que beiram o ridículo. Logo após, perguntaremos o que são
caricaturas? Depois diremos que a ―caricatura é a representação da fisionomia humana
com características grotescas, cômicas ou humorísticas [...] Retrato humano ou de objetos
que exagera ou simplifica traços, acentuando detalhes ou ressaltando defeitos. Sua
finalidade é suscitar risos, ironia. Trata-se de um retrato isolado [...] genericamente,
significa a forma de expressão artística através do desenho que tem por fim o humor‖
(Melo 2003, p. 167). Caricatura é uma arte autêntica, uma arte de caracterizar, que pode
levar ao riso ou ao rancor, à alegria ou à tristeza. Outro ponto que salientaremos é o fato
desse gênero apresentar personagens reais presentes em nosso dia a dia, como por
exemplo, políticos, famosos, professores ou qualquer indivíduo presente em nossa
sociedade. Dessa maneira, se diferenciam das tirinhas que em sua maioria possuem
personagens fictícios.
22

Fonte: https://www.blogderocha.com.br/charges-de-agora-495/

Fonte: https://br.sputniknews.com/charges/2018022010572335-eua-siria-curdos-brincar-fogo/

Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br/opiniao/noticia/2017/06/iotti-se-nada-der-certo-para-temer-lula-e-
aecio-9808740.html

Fonte: http://www.orm.com.br/galerias/NTA=/Charges-2018
23

Fonte: http://putzverdadenemeu.blogspot.com.br/2010/10/o-mais-visto.html

Fonte: http://blogdoeliomar.com.br/2013/10/30/a-charge-do-clayton-317/
24

Fonte: http://humortadela.bol.uol.com.br/charges/33251

Fonte: http://www.scrapsdinamicos.com.br/imagens/charges-engracadas-futebol/5

 A posteriori, deixaremos claro que os chargistas ao criarem suas ilustrações não


buscam somente o humor, pois também têm o objetivo de mostrar a realidade, chamar
a atenção para os problemas sociais e expor sua opinião acerca dessas adversidades. E
é justamente a parte visual (imagens) de uma charge que auxilia o produtor a
convencer o público.

Fonte: http://saotomenoticias.blogspot.com.br/2018/01/charge.html
25

Fonte: http://www.marcelo.sabbatini.com/educacao-em-charges-2/

Fonte: https://www.humorpolitico.com.br/educacao/educacao-basica/

Fonte: http://www.feuc.br/revista/index.php/tag/avaliacao-escolar/
26

Fonte: http://chargesbruno.blogspot.com.br/2012/10/

Fonte: https://vitoralbertoklein.wordpress.com/2012/04/30/algumas-charges-interessantes/
27

Fonte: http://www.orm.com.br/galerias/NTA=/Charges-2018

Fonte: http://www.arionaurocartuns.com.br/2016/04/charge-discriminacao-da-mulher-trabalho.html

.
Fonte: https://medium.com/@pingonoi/a-viol%C3%AAncia-contra-a-mulher-o-feminic%C3%ADdio-no-
brasil-99174fc681cc
28

Fonte: https://latuffcartoons.files.wordpress.com/2014/03/normalizacao-do-machismo.gif

 Em seguida, questionaremos aos alunos se conseguiram perceber qual a função da


charge. Logo após, falaremos que esse gênero tem por finalidade satirizar, por meio de
uma caricatura, algum acontecimento atual com uma ou mais personagens envolvidos. No
entanto, ainda será necessário perguntar: Os assuntos discutidos nos exemplos de charges
são temporais ou atemporais? Ou ainda Dentro do que vimos até aqui, a charge é um
gênero informativo ou opinativo?

3° ENCONTRO:

Elementos motivadores: Exemplos diversos de publicidade e propaganda retirados de blogs,


Youtube, Facebook, etc.

Recursos didáticos utilizados: Notebook e Datashow.

Descrição das ações:

 Iremos começar a aula exibindo nos slides um exemplo de publicidade e outro de


propaganda e depois questionaremos aos alunos Que gêneros são estes? e Quais são
as suas características?
 Começaremos o estudo sobre publicidade a partir de características que eles
identificaram no exemplo do gênero.
 Partindo dos conceitos do livro ―Linguagem Publicitária: Análise e produção‖ de
Lucilene Gonzales iremos falar sobre a linguagem como forma de sedução na
publicidade.
29

 Em seguida, exibiremos nos slides alguns exemplos para que o alunado perceba a
importância do slogan na publicidade e também enfatizaremos a necessidade de
vocábulos criativos que esse elemento possui.
 A partir desse momento analisaremos como a publicidade é exposta em diferentes
veículos buscando encontrar diferenças de como ela é apresentada e o impacto que
tem sobre o público alvo.
 Para concluir a análise do gênero em questão, buscaremos construir um conceito de
publicidade com os alunos.
 Dando continuidade a aula, iniciaremos o estudo do gênero propaganda e
começaremos pela história de seu surgimento, que foi ocasionado pelo desejo da igreja
católica de fundar seminários.
 Posteriormente, apresentaremos o conceito de propaganda mediante os apontamentos
de Gonzales (2003).
 Apresentaremos exemplares de propagandas e em seguida pediremos para que os
alunos apontem qual a ideia está sendo divulgada nos exemplos.
 O estudo sobre esses gêneros terminará com os questionamentos sobre as diferenças
de propaganda e publicidade.

Exemplos selecionados para a discussão

Fonte: www.linharaid.com.br/esquadrao-raidhtm
30

Fonte: http://priabreupsico.blogspot.com/2012/11/campanha-se-voce-acha-que-seu-filho-
e.html
31

Fonte: http://girodosantigos.blogspot.com/2010/05/clique-na-imagem-para-ampliar.html

Fonte: https://www.propagandashistoricas.com.br/2014/03/lingerie-valisere-1952.html

Fonte:http://canalpetropolis.com.br/2018/01/estado-do-rio-cria-lei-que-proibe-propaganda-sexista-e-multa-pode-
chegar-a-r-13-milhao/

Fonte: http://profjosideolli.blogspot.com/2012/07/1_17.html
32

Fonte: https://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/campanha-de-dilma-imita-pecas-das-ditaduras-militar-e-do-estado-
novo-e-cria-o-pessimildo/

Fonte: http://www.visaonoticias.com/mobile/noticia/29984/vender-bebida-alcoolica-para-menor-e-crime-e-pode-
fechar-estabelecimento
33

Fonte: https://propagandaposterstore.com/product/donald-trump-i-am-gonna-build-a-wall-poster/

Fonte: https://escolakids.uol.com.br/o-que-e-intergenericidade.htm

Fonte: https://portugues.uol.com.br/redacao/intergenericidade.html

4° ENCONTRO:

Recursos didáticos utilizados: Notebook e Datashow.

Descrição das ações:

 No primeiro momento da aula discutiremos a temática escolhida, o suicídio.


Primeiramente perguntaremos aos alunos se eles têm percebido que as notícias sobre
pessoas que cometem suicídio têm aumentado atualmente. Em seguida, justificaremos
para os discentes justificaremos que optamos por discutir essa temática tendo em vista
que esta é muito atual e pouco discutido em sala de aula.
34

 De início, distribuiremos para a turma uma cópia do conto ―Suicídio na granja‖, de


Lygia Fagundes Teles. Logo depois, pediremos que eles façam uma leitura silenciosa
e nos relatem suas percepções, pois esse conto cita algumas suposições sobre as
pessoas que cometem suicídio, bem como as suas causas.

Suicídio na granja

Lygia Fagundes Telles

Alguns se justificam e se despedem através de cartas, telefonemas ou pequenos gestos —


avisos que podem ser mascarados pedidos de socorro. Mas há outros que se vão no mais
absoluto silêncio. Ele não deixou nem ao menos um bilhete?, Fica perguntando a família, a
amante, o amigo, o vizinho e principalmente o cachorro que interroga com um olhar ainda
mais interrogativo do que o olhar humano, E ele?!
Suicídio por justa causa e sem causa alguma e aí estaria o que podemos chamar de vocação, a
simples vontade de atender ao chamado que vem lá das profundezas e se instala e prevalece.
Pois não existe a vocação para o piano, para o futebol, para o teatro. Ai!… para a política.
Com a mesma força (evitei a palavra paixão) a vocação para a morte. Quando justificada pode
virar uma conformação, Tinha os seus motivos! Diz o próximo bem informado. Mas e aquele
suicídio que (aparentemente) não tem nenhuma explicação? A morte obscura, que segue
veredas indevassáveis na sua breve ou longa trajetória.
Pela primeira vez ouvi a palavra suicídio quando ainda morava naquela antiga chácara que
tinha um pequeno pomar e um jardim só de roseiras. Ficava perto de um vilarejo cortado por
um rio de águas pardacentas, o nome do vilarejo vai ficar no fundo desse rio. Onde também
ficou o Coronel Mota, um fazendeiro velho (todos me pareciam velhos) que andava sempre de
terno branco, engomado. Botinas pretas, chapéu de abas largas e aquela bengala grossa com a
qual matava cobras. Fui correndo dar a notícia ao meu pai, O Coronel encheu o bolso com
pedras e se pinchou com roupa e tudo no rio! Meu pai fez parar a cadeira de balanço, acendeu
um charuto e ficou me olhando. Quem disse isso? Tomei o fôlego: Me contaram no recreio.
Diz que ele desceu do cavalo, amarrou o cavalo na porteira e foi entrando no rio e enchendo o
bolso com pedra, tinha lá um pescador que sabia nadar, nadou e não viu mais nem sinal dele.
Meu pai baixou a cabeça e soltou a baforada de fumaça no ladrilho: Que loucura. No ano
passado ele já tinha tentado com uma espingarda que falhou, que loucura! Era um cristão e
um cristão não se suicida, ele não podia fazer isso, acrescentou com impaciência. Entregou-
me o anel vermelho-dourado do charuto. Não podia fazer isso!
Enfiei o anel no dedo, mas era tão largo que precisei fechar a mão para retê-lo. Mimoso veio
correndo assustado. Tinha uma coisa escura na boca e espirrava, o focinho sujo de terra. Vai
saindo, vai saindo!, Ordenei fazendo com que voltasse pelo mesmo caminho, a conversa
agora era séria. Mas pai, por que ele se matou, por quê?! Fiquei perguntando. Meu pai olhou o
charuto que tirou da boca. Soprou de leve a brasa: Muitos se matam por amor mesmo. Mas
tem outros motivos, tantos motivos, uma doença sem remédio. Ou uma dívida. Ou uma
tristeza sem fim, às vezes começa a tristeza lá dentro e a dor na gaiola do peito é maior ainda
do que a dor na carne. Se a pessoa é delicada, não agüenta e acaba indo embora! Vai embora,
35

ele repetiu e levantou-se de repente, a cara fechada, era o sinal: quando mudava de posição a
gente já sabia que ele queria mudar de assunto. Deu uma larga passada na varanda e apoiou-se
na grade de ferro como se quisesse examinar melhor a borboleta voejando em redor de uma
rosa. Voltou-se rápido, olhando para os lados. E abriu os braços, o charuto preso entre os
dedos: Se matam até sem motivo nenhum, um mistério, nenhum motivo! repetiu e foi saindo
da varanda. Entrou na sala. Corri atrás. Quem se mata vai pro inferno, pai? Ele apagou o
charuto no cinzeiro e voltou-se para me dar o pirulito que eu tinha esquecido em cima da
mesa. O gesto me animou, avancei mais confiante: E bicho, bicho também se mata? Tirando o
lenço do bolso ele limpou devagar as pontas dos dedos: Bicho, não, só gente.
Só gente? — eu perguntei a mim mesma muitos e muitos anos depois, quando passava as
férias de dezembro numa fazenda. Atrás da casa-grande tinha uma granja e nessa granja
encontrei dois amigos inseparáveis, um galo branco e um ganso também branco, mas com
suaves pinceladas cinzentas nas asas. Uma estranha amizade, pensei ao vê-los por ali, sempre
juntos. Uma estranhíssima amizade. Mas não é a minha intenção abordar agora problemas de
psicologia animal, queria contar apenas o que vi. E o que vi foi isso, dois amigos tão
próximos, tão apaixonados, ah! Como conversavam em seus longos passeios, como se
entendiam na secreta linguagem de perguntas e respostas, o diálogo. Com os intervalos de
reflexão. E alguma polêmica, mas com humor, não surpreendi naquela tarde o galo rindo?
Pois é, o galo. Esse perguntava com maior frequência, a interrogação acesa nos rápidos
movimentos que fazia com a cabeça para baixo, e para os lados, E então? O ganso respondia
com certa cautela, parecia mais calmo, mais contido quando abaixava o bico meditativo,
quase repetindo os movimentos da cabeça do outro mas numa aura de maior serenidade.
Juntos, defendiam-se contra os ataques, não é preciso lembrar que na granja travavam-se as
mesmas pequenas guerrilhas da cidade logo adiante, a competição. A intriga. A vaidade e a
luta pelo poder, que luta! Essa ânsia voraz que atiçava os grupos, acesa a vontade de ocupar
um espaço maior, de excluir o concorrente, época de eleições? E os dois amigos sempre
juntos. Atentos. Eu os observava enquanto trocavam pequenos gestos (gestos?) de
generosidade nos seus infindáveis passeios pelo terreiro, Hum! olha aqui esta minhoca, sirva-
se à vontade, vamos, é sua! — dizia o galo a recuar assim de banda, a crista encrespada quase
sangrando no auge da emoção. E o ganso mais tranqüilo (um fidalgo) afastando-se todo
cerimonioso, pisando nas titicas como se pisasse em flores, Sirva-se você primeiro, agora é a
sua vez! E se punham tão hesitantes que algum frango insolente, arvorado a juiz, acabava se
metendo no meio e numa corrida desenfreada levava no bico o manjar. Mas nem o ganso com
seus olhinhos redondamente superiores nem o galo flamante — nenhum dos dois parecia dar
maior atenção ao furto. Alheios aos bens terreirais, desligados das mesquinharias de uma
concorrência desleal, prosseguiam o passeio no mesmo ritmo, nem vagaroso nem apressado,
mas digno, ora, minhocas!
Grandes amigos, hem?, Comentei certa manhã com o granjeiro que concordou tirando o
chapéu e rindo, Eles comem aqui na minha mão!Foi quando achei que ambos mereciam um
nome assim de acordo com suas nobres figuras, e ao ganso, com aquele andar de pensador, as
brancas mãos de penas cruzadas nas costas, dei o nome de Platão. Ao galo, mais questionador
e mais exaltado como todo discípulo, eu dei o nome de Aristóteles.
Até que um dia (também entre os bichos, um dia) houve o grande jantar na fazenda e do qual
não participei. Ainda bem. Quando voltei vi apenas o galo Aristóteles a vagar sozinho e
36

completamente desarvorado, os olhinhos suplicantes na interrogação, o bico entreaberto na


ansiedade da busca, Onde, onde?!… Aproximei-me e ele me reconheceu. Cravou em mim um
olhar desesperado, Mas onde ele está?! Fiz apenas um aceno ou cheguei a dizer-lhe que
esperasse um pouco enquanto ia perguntar ao granjeiro: Mas e aquele ganso, o amigo do
galo?!
Para que prosseguir, de que valem os detalhes? Chegou um cozinheiro lá de fora, veio ajudar
na festa, começou a contar o granjeiro gaguejando de emoção. Eu tinha saído, fui aqui na casa
da minha irmã, não demorei muito mas esse tal de cozinheiro ficou apavorado com medo de
atrasar o jantar e nem me esperou, escolheu o que quis e na escolha, acabou levando o
coitado, cruzes!… Agora esse daí ficou sozinho e procurando o outro feito tonto, só falta falar
esse galo, não come nem bebe, só fica andando nessa agonia! Mesmo quando canta de
manhãzinha me representa que está rouco de tanto chorar.
Foi o banquete de Platão, pensei meio nauseada com o miserável trocadilho. Deixei de ir à
granja, era insuportável ver aquele galo definhando na busca obstinada, a crista murcha, o
olhar esvaziado. E o bico, aquele bico tão tagarela agora pálido, cerrado. Mais alguns dias e
foi encontrado morto ao lado do tanque onde o companheiro costumava se banhar. No livro
do poeta Maiakóvski (matou-se com um tiro) há um verso que serve de epitáfio para o galo
branco: Comigo viu-se doida a anatomia / sou todo um coração!

Fonte: http://contobrasileiro.com.br/suicidio-na-granja-conto-de-lygia-fagundes-telles/

 Antes de adentrarmos de forma minuciosa no que se refere às características que


norteiam o gênero notícia, explicaremos que todo gênero se caracteriza por exercer uma
função social específica de comunicação. Desse modo, em cada gênero há uma função
sociocomunicativa, sendo assim perguntaremos para os alunos, qual seria a função
sociocomunicativa das notícias?
 Instigaremos os alunos para que os mesmos digam a princípio o que seria uma notícia
e qual a finalidade e intencionalidade desse gênero
 Continuar explicando, que assim como todo gênero a noticia obedece a uma estrutura
e conforme o teórico Bonini (2002), pontua e explicar a composição da notícia:

1) manchete: título ou chamada da notícia;

2) lead: resumo dos fatos principais;

3) evento principal: o fato noticioso;

4) contexto: descrição sociocultural do local em o fato aconteceu;

5) eventos anteriores: fatos ocorridos há pouco tempo que, com relação ao fato
noticioso, o caracterizam;
37

6) história: história do fato (causas históricas ou fatos similares acontecidos há muito


tempo);

7) consequências/reações: respostas ao fato ocorridas na sociedade, seja na forma de


ações, seja como medidas e discussões;

8) expectativa: comentário com previsões do jornalista (pouco ocorrente)

9) avaliação: julgamento moral do fato (pouco ocorrente) (BONINI, 2002, p. 83)

 Identificar nas notícias as características que compõem esse gênero textual


socializando as análises e instigando a participação oral e a compreensão;

Alguns exemplares de notícias selecionados para a discussão:

Mãe abandona duas crianças pequenas e vizinhos chamam polícia


Profissionais constaram situação de abandono e abrigaram as crianças.
Essa não seria a primeira vez que mãe abandona as filhas enquanto sai.
LG Rodrigues
Do G1 Santos 18/08/2014

Duas meninas, uma com menos de um ano de idade e a outra com dois anos, foram resgatadas pelo
Conselho Tutelar de Santos, no litoral de São Paulo, após vizinhos denunciaram a mãe das
crianças. Ao chegar à residência na manhã desta terça-feira (18) os profissionais constaram a
situação de abandono e levaram as duas crianças para um abrigo.
De acordo com informações da Delegacia da Mulher de Santos, onde o caso foi inicialmente
tratado, essa não seria a primeira vez que a mãe abandona as filhas sozinhas em casa, no bairro
Chico de Paula, enquanto sai durante a noite. As crianças foram encaminhadas até a delegacia e
posteriormente foram levadas a um abrigo. Até o momento a mãe das crianças não foi localizada.

Fonte: http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2014/03/mae-abandona-duas-criancas-
pequenas-e-vizinhos-chamam-policia.html
Adolescente vítima de bullying se suicida nos EUA

Antes de tirar sua própria vida, a adolescente de 13 anos deixou um bilhete no qual dizia ser
"feia e perdedora"

Por AFP

05 dez de 2017
38

Vítima de abusos e bullying em sua escola na Califórnia, a adolescente Rosalie Ávila, 13


anos, tirou a própria vida: ―sou feia e perdedora‖, escreveu, em um bilhete encontrado por
seus pais depois da tragédia.
Rosalie tentou se matar na terça-feira passada e, na sexta, teve sua morte cerebral declarada.
Foi mantida conectada até ontem para que seus órgãos fossem doados, informou a imprensa
local.

―Minha filha foi vítima de bullying‖, escreveu sua mãe em um site para arrecadar fundos para
pagar o funeral e os gastos médicos.

―Era uma pessoa bonita por dentro e fora, era uma grande artista, muito adorável e amada‖,
continuou.

Estudante do oitavo ano em uma escola pública em Calimesa (114 km ao leste de Los
Angeles), Rosalie se enforcou em seu quarto depois de deixar uma bilhete de despedida para
os pais: ―me desculpem, pai e mãe. Eu amo vocês‖.

―Desculpe mãe, que você vá me encontrar assim‖, leu seu pai, Freddie Ávila, citado pelo site
CBS.

Os pais contaram que a jovem, que sonhava com ser advogada, era agredida em redes sociais,
além da escola: nesse dia, antes de tentar se matar, já havia sido alvo de piadas por causa do
aparelho nos dentes.

―Guardou isso para si‖, desabafou o pai, na entrevista à NBC, acrescentando que ―por dentro,
ela ficava aos pedaços por sempre implicarem com ela‖.

Ao todo, 5.900 menores e jovens, entre 10 e 24 anos, tiraram a própria vida nos Estados
Unidos em 2015, segundo números oficiais.

Em nota, o distrito educacional de Yucaipa-Calimesa, ao qual pertencia a escola de Ensino


Médio de Ávila, lamentou a morte de sua estudante. Vigílias também foram realizadas.

―Estamos comprometidos com manter uma cultura positiva e inclusiva que permita aos nossos
estudantes crescer acadêmica e socialmente‖, acrescentou o texto.

Uma investigação está aberta para determinar se houve ―bullying‖ na escola.

O site governamental ―Stop Bullying‖ indica que 28% dos estudantes nos Estados Unidos
sofrem esse tipo de abuso entre o sexto e 11º ano, e 9%, agressão pelas redes sociais.

Em setembro, um adolescente matou um colega e feriu outros três em sua escola no estado de
Washington, em mais um caso de ―bullying‖.

Fonte: https://exame.abril.com.br/mundo/adolescente-vitima-de-bullying-se-suicida-nos-eua/

Focos de incêndio no Estado de São Paulo já são o dobro de 2017


39

De 1º de janeiro até quarta-feira, 18, foram 1.421 focos, ante 675 no mesmo
período de 2017 - alta de 111%
Por Estadão

São Paulo – Pelo interior paulista, queimadas têm destruído lavouras e áreas de preservação,
além de atrapalhar a rotina dos moradores. A temporada seca ainda não chegou ao seu auge,
mas o Estado já sofreu mais que o dobro de focos de incêndio em relação ao ano passado. De
1º de janeiro até quarta-feira, 18, foram 1.421 focos, ante 675 no mesmo período de 2017 –
alta de 111%. Já supera também este período de 2016, que teve 1.313 focos e era o maior dos
últimos anos.
A seca, sentida nos baixos níveis de umidade da capital (mais informações nesta página) e
observada na redução dos reservatórios de água do Estado, deixa folhas e galhos mais
propícios ao fogo, na maioria das vezes causado por ação humana. Com exceção de fevereiro,
os meses deste ano tiveram mais focos de incêndio que os mesmos meses de 2017, que já
tinha chamado a atenção – setembro passado foi particularmente atípico, com 1.931 focos. Os
dados são do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe).

Em Presidente Epitácio, município que lidera em número de focos de incêndio no Estado –


desde quarta-feira foram 89 -, os moradores têm convivido cada vez mais com o ar
enfumaçado. ―Tem hora que fica até difícil respirar‖, contou o mecânico Jair Alcindo Cruz.
Segundo ele, quando parece que o ar está melhorando, o fogo volta a atingir outras áreas da
cidade, na região de Presidente Prudente.

Valdemir Garcia usou as redes sociais para protestar. ―Aqui é uma estância turística que vai
acabar em cinzas‖, escreveu. ―Tem queimadas por todo lado e no fim da tarde um cheiro
insuportável invade a cidade.‖

Segundo o Corpo de Bombeiros local, têm sido registrados seis ou sete incêndios por dia,
mais do que anos anteriores. Alguns chegaram a tomar grandes proporções. Na noite de
quarta, o fogo destruiu cerca de 40 hectares da reserva ambiental da Associação em Defesa do
Rio Paraná, Afluentes e Mata Ciliar. A causa ainda é desconhecida.

Em Martinópolis, oeste paulista, um incêndio em um canavial e em áreas de preservação às


margens da rodovia SP-284 destruiu, em junho, 120 hectares de cana e 24 de mata,
equivalente a 180 campos de futebol. Em meio às cinzas, foram encontrados tamanduás,
quatis e tatus mortos.

Sérgio Marçon, coordenador de Fiscalização Ambiental da Secretaria Estadual do Meio


Ambiente e responsável pela Operação Corta Fogo, afirma que diante do ―caótico setembro
em chamas‖ de 2017, o governo adotou medidas para aperfeiçoar o combate ao fogo e para
preveni-lo, em especial em unidades de conservação.

Foram adquiridos 11 caminhonetes 4×4 em que é possível acoplar tanques de 3 mil litros; 4
caminhões-pipa e 3 caminhões-plataforma para transportar máquinas para fazer o aceiro. ―Já
tínhamos previsão que apontava para uma estiagem complicada. A matéria orgânica estava
mais seca e o verão pouco chuvoso não ajudou. É só ver como estão os reservatórios. Há
previsão de chuva no começo de agosto, mas se voltar a ficar sem, há risco de termos outro
setembro com muito fogo.‖
40

Para o pesquisador Alberto Setzer, coordenador do monitoramento de queimadas do Inpe,


ainda é cedo para imaginar como podem ser os próximos meses. Ele explica que mais de 70%
das ocorrências de fogo no inverno paulista costumam ocorrer em agosto e setembro, mas
afirma que o cenário é de atenção.

―Estamos com uma seca mais intensa. Há regiões no Estado que estão há mais de um mês sem
uma gota de chuva‖, afirma. ―É normal termos anos mais ou menos secura. Por enquanto
parece uma variação natural. A meteorologia não aponta a ocorrência de nada extravagante,
como os fenômenos El Niño ou La Niña, mas começamos a temporada de modo
preocupante‖, diz Setzer.

Fonte: https://exame.abril.com.br/brasil/focos-de-incendio-no-estado-de-sao-paulo-ja-sao-o-
dobro-de-2017/

5° ENCONTRO:

 Encontro destinado à produção do gênero notícia.


 De início, releremos o conto ―Suicídio na Granja‖, de Lygia Fagundes Telles.
 Dando continuidade, faremos uma revisão das características da notícia e depois
questionaremos O que é retextualização?
 Após os esclarecimentos acerca da retextualização, solicitaremos que os alunos
retextualizem os fatos presentes no conto de Telles e os transformem em uma
notícia. Além disso, esclareceremos que eles devem acrescentar ou modificar as
informações, como por exemplo, o nome dos indivíduos ou o local em que
ocorreram as ações.

6° ENCONTRO:

Elementos motivadores: Leitura do ―Manifesto sobre a vida do artista‖ da Marina


Abramovic; Exemplares do gênero de texto carta.

Recursos didáticos utilizados: Notebook, Datashow.

 Iniciaremos a aula abordando o que são os manifestos e os motivos que fazem com
que muitos artistas recorreram a este gênero para discutir sobre inúmeras perspectivas
de sua vida. Para exemplificarmos faremos a leitura do ―Manifesto sobre a vida do
artista‖ da Marina Abramovic, que será o elemento utilizado na produção do gênero;
Ex:

Manifesto sobre a vida do artista, Mariana Abramovic


41

A respeitada artista Marina Abramovich é amplamente conhecida por suas


performances iniciada nos anos 1970. Aqui ela expõe um pouco sobre o que é ser artista
em diversos aspectos. Interessante manifesto.

1. Conduta de um artista em sua vida:


– Um artista não deve mentir para si mesmo ou aos outros
– Um artista não deve roubar ideias de outros artistas
– Um artista não deve comprometer, para si ou em relação ao mercado de arte
– Um artista não deve matar outros seres humanos
– Um artista não deve se fazer de ídolo
– Um artista não deve se fazer de ídolo
– Um artista não deve se fazer de ídolo

2. Relação de um artista para sua vida amorosa:


– Um artista deve evitar se apaixonar por um outro artista
– Um artista deve evitar se apaixonar por um outro artista
– Um artista deve evitar se apaixonar por um outro artista

3. Relação de um artista para o erótico:


– Um artista deve desenvolver um ponto de vista erótico do mundo
– Um artista deve ser o erótico
– Um artista deve ser o erótico
– Um artista deve ser o erótico

4. Relação de um artista ao sofrimento:


– Um artista deve sofrer
– Desde o sofrimento vem o melhor trabalho
– O sofrimento traz transformação
– Através do sofrimento de um artista transcende o seu espírito
– Através do sofrimento de um artista transcende o seu espírito
– Através do sofrimento de um artista transcende o seu espírito

5. Relação de um artista para a depressão:


– Um artista não deve estar deprimido
– A depressão é uma doença e deve ser curada
– A depressão não é produtivo para um artista
– A depressão não é produtivo para um artista
– A depressão não é produtivo para um artista

6. Relação de um artista ao suicídio:


– O suicídio é um crime contra a vida
– Um artista não deve cometer suicídio
– Um artista não deve cometer suicídio
– Um artista não deve cometer suicídio

7. Relação de um artista para inspiração:


– Um artista deve olhar profundamente dentro de si em busca de inspiração
– Os mais profundo que olhar para dentro de si, mais universal que se tornem
42

– O artista é o universo
– O artista é o universo
– O artista é o universo

8. Relação de um artista para auto-controle:


– O artista não deve ter auto-controle sobre sua vida
– O artista deve ter total auto-controle sobre seu trabalho
– O artista não deve ter auto-controle sobre sua vida
– O artista dele ter total auto-controle sobre seu trabalho

9. Relação de um artista com transparência:


– O artista deve dar e receber ao mesmo tempo
– Transparência significa receptivo
– Transparência significa dar
– Transparência significa receber
– Transparência significa receptivo
– Transparência significa dar
– Transparência significa receber
– Transparência significa receptivo
– Transparência significa dar
– Transparência significa receber

10. Relação de um artista para símbolos:


– Um artista cria seus próprios símbolos
– Os símbolos são a linguagem de um artista
– A linguagem deve então ser traduzida
– Às vezes é difícil encontrar a chave
– Às vezes é difícil encontrar a chave
– Às vezes é difícil encontrar a chave

11. Relação de um artista para o silêncio:


– Um artista tem que entender o silêncio
– Um artista tem que criar um espaço de silêncio para entrar no seu trabalho
– O silêncio é como uma ilha no meio de um oceano turbulento
– O silêncio é como uma ilha no meio de um oceano turbulento
– O silêncio é como uma ilha no meio de um oceano turbulento

12. Relação de um artista à solidão:


– Um artista deve dar tempo para os longos períodos de solidão
– A solidão é extremamente importante
– Longe de casa
– Fora do estúdio
– Longe da família
– Fora de amigos
– Um artista deve permanecer por longos períodos de tempo em cachoeiras
– Um artista deve permanecer por longos períodos de tempo em vulcões explodindo
– Um artista deve permanecer por longos períodos de tempo a olhar para os rios corrida
rápida
– Um artista deve permanecer por longos períodos de tempo olhando para o horizonte onde o
mar e o céu se encontram
43

– Um artista deve permanecer por longos períodos de tempo a olhar para as estrelas no céu
noturno

13. Conduta de um artista em relação ao trabalho:


– Um artista deve evitar ir para o estúdio todos os dias
– Um artista não deve tratar o seu horário de trabalho como se fosse um empregado do banco
– Um artista deve explorar a vida e trabalhar apenas quando surge uma ideia para ele em um
sonho ou durante o dia como uma visão que surge como uma surpresa
– Um artista não deve se repetir
– Um artista não deve esgotar sua produção
– Um artista deve evitar a sua poluição própria arte
– Um artista deve evitar a sua poluição própria arte
– Um artista deve evitar a sua poluição própria arte

14. Posses de um artista:


– Monges budistas recomendam que o melhor é ter nove posses em sua vida:
Uma túnica para o verão
Uma túnica para o inverno
1 par de sapatos
1 tigela implorando por comida
Uma rede mosquiteira
Um livro de orações
Um guarda-chuva
Uma esteira para dormir
Um par de óculos, se necessário
– Um artista deve decidir por si mesmo os bens pessoais mínimo eles devem ter
– Um artista deve ter mais e mais cada vez menos
– Um artista deve ter mais e mais cada vez menos
– Um artista deve ter mais e mais cada vez menos

15. A lista de amigos do artista:


– Um artista deve ter amigos que elevam seus espíritos
– Um artista deve ter amigos que elevam seus espíritos
– Um artista deve ter amigos que elevam seus espíritos

16. A lista de inimigos de um artista:


– Os inimigos são muito importantes
– O Dalai Lama disse que é fácil ter compaixão com os amigos, mas muito mais difícil ter
compaixão com os inimigos
– Um artista tem que aprender a perdoar
– Um artista tem que aprender a perdoar
– Um artista tem que aprender a perdoar

17. Diferentes cenários de morte:


– Um artista tem que ser consciente de sua própria mortalidade
– Para um artista, não só é importante como ele vive sua vida, mas também como ele morre
– Um artista deve olhar para os símbolos de seu trabalho para os sinais de diferentes cenários
de morte
– Um artista deve morrer conscientemente, sem medo
44

– Um artista deve morrer conscientemente, sem medo


– Um artista deve morrer conscientemente, sem medo

18. Diferentes cenários de funeral:


– Um artista deve dar instruções antes do funeral para que tudo seja feito da maneira que ele
quiser
– O funeral é obra do artista. Sua última arte antes de sua partida
– O funeral é obra do artista. Sua última arte antes de sua partida
– O funeral é obra do artista. Sua última arte antes de sua partida.

Fonte: http://arteref.com/gente-de-arte/manifesto-artistico/

 Daremos início a discussão acerca do gênero de texto carta questionando se os


discentes tiveram ou tem contato com esse gênero;
 Com o auxílio das contribuições teóricas de Koche (2014), discutiremos com os
alunos as características estruturais e de linguagem utilizadas nas cartas. Para isso,
mostraremos vários tipos diferentes de cartas, mostraremos aos alunos as diferentes
modalidades do gênero carta e suas funções;
 Trataremos sobre a relevância de tal gênero textual na nossa sociedade, ressaltando
que seu uso é bastante antigo. Em seguida, falaremos que com o passar dos anos a
carta foi se adaptando a diversos suportes, como por exemplo, nos e-mails;
 Dando continuidade, explicitaremos que o gênero carta surgiu com o objetivo de ser
um instrumento que permite a comunicação entre pessoas, entre instituições, etc.
Sendo possível estabelecer diferentes tipos de cartas;
 Em seguida, diremos que a carta pessoal trata de assuntos mais íntimos ou pessoais
entre o remetente e destinatário. (Características e estruturas serão expostas no
slide)

Ex:
São Paulo, 12 de janeiro de 2015

Amiga querida,

Estive pensando muito em você esses dias e resolvi lhe mandar uma carta para falar sobre o
ocorrido naquela noite. Antes de mais nada, quero ressaltar que a Ana estava de olho no
Adriano desde o início da festa (e já sabemos que antes disso!!!).
Como você não estava presente, ele aproveitou o momento para chegar nela. Todo mundo viu
eles ficando e isso foi uma surpresa para todos. Quero que saiba que quando precisar
45

conversar conte comigo. Estarei aqui sempre que precisar! Podemos combinar um cafezinho
esses dias. O que acha? Tenho muitas saudades de nossas conversas Bia!

Te adoro demais!!!

Beijos grandes e enormes abraços!!!

Espero ansiosa sua resposta!!!


Carol
PS: Até quando você fica na cidade? O Davi está agora na praia, mas chega dia 15. Uhuuu!!!
Fonte: https://www.todamateria.com.br/carta-pessoal/

 A carta comercial é utilizada pelo ramo comercial ou industrial. Postadas por pessoas
jurídicas com ou sem fins lucrativos. (Características e estruturas serão expostas no
slide)

Ex:

Timbre da Empresa: Auto Peças Ponta Grossa


DAM 207/15 (Departamento Administrativo)
Ponta Grossa, 24 de maio de 2015
Assunto: Recebimento da Entrega

Senhor Diretor:

Informamos a vossa senhoria que recebemos a mercadoria solicitada, no dia 15 de maio, a


qual faz referência ao mês de abril. Agradecemos a celeridade da entrega dos produtos.

Atenciosamente,
Rodrigo Almeida dos Santos
Diretor do Departamento Administrativo
Fonte: https://www.todamateria.com.br/carta-comercial/

 Após a explanação desses dois tipos iremos nos ater a carta do leitor, que será o foco
da nossa aula. A carta do leitor é veiculada geralmente em jornais e revistas, onde os
46

leitores podem apresentar suas opiniões. (Características e estruturas serão


expostas no slide)
 Começaremos a mostrar exemplos de cartas do leitor com o intuito de proporcionar
que o alunado construa uma definição sobre o gênero e perceba sua função
comunicativa. Nesses exemplos demonstraremos o quanto as cartas do leitor são
importantes para que o destinatário tenha um retorno do público acerca do conteúdo
em questão (KOCHE, 2014).

Ex: Mossoró, 7 de julho de 2011

AO CORREIO DA TARDE - RN

Prezado Editor,
Li a matéria publicada na edição de 6 de julho, sobre os acidentes envolvendo motociclistas, e
queria dizer que discordo de uma parte do que foi escrito nela, ou seja, sobre os causadores
dos acidentes envolvendo carros e motos.

Em minha opinião, ao contrário do que foi escrito, creio firmemente que quem mais causa
acidentes são os condutores de veículos de QUATRO rodas.

A moto é o meu transporte preferido, para driblar o lento trânsito mossoroense, e digo que,
conforme define o jornal no mesmo artigo, sou motociclista, respeito às leis do trânsito, mas
vejo muitos carros cujos condutores não têm o devido respeito com a vida humana. Os
maiores sustos que tomei foram proporcionados justamente por motoristas desatentos, ou, no
mínimo, descuidados: curvas malfeitas, celulares colados na orelha com só uma das mãos ao
volante etc.

São muitas as situações que observamos no dia a dia que mostram o menosprezo de
motoristas por motociclistas. Minha opinião, não é voz isolada; em encontros de motociclistas
esse assunto sempre vem à tona. Um dos casos relatado por um colega foi o de que um carro
derrubou uma moto e o seu ocupante - a condutora do veículo que bateu saiu do carro ainda
falando ao celular e ainda achando que tinha toda a razão!

Saudações,

Juarez Belém – Motociclista- Mossoró /RN

Fonte:https://professoraivaniferreira.blogspot.com/2015/08/avaliacao-de-recuperacao-de-
lingua_80.html
47

 Após estabelecermos um diálogo com os alunos sobre cartas do leitor, iremos solicitar
a produção de uma carta destinada a artista Marina Abramovic, na qual os discentes
irão expor seus pensamentos acerca do manifesto anteriormente discutido.

7° ENCONTRO

 Elemento motivador: Exemplo de artigo de opinião


 Recursos didáticos utilizados: Xerox, quadro branco e lápis.
 Iniciaremos a aula entregando aos alunos uma xerox com um exemplo do gênero
artigo de opinião, com o título “Mulheres negras: história e (des)igualdades”, que
aborda o preconceito que a mulher negra sofre em nosso país. Em seguida, pediremos
que eles realizem uma leitura silenciosa desse gênero. Dando continuidade, iremos
pedir para que eles apontem qual a mensagem que o texto está passando, qual a
problemática discutida e qual a finalidade parece ter, se a linguagem é comum ou é de
difícil entendimento, bem como se eles conseguem identificar a quem se destina tal
texto e onde é possível encontrá-lo.
 Em seguida, iremos apresentar a estrutura desse gênero, apontando para o próprio
texto, para que os alunos identifiquem a situação-problema, o local em que é
evidenciado o objetivo da argumentação, a discussão estabelecida quando os
argumentos são expostos e a opinião do autor é construída e, por fim, a solução -
avaliação que é identificada, a resposta sobre à questão apresentada no texto.
 Depois, iremos explorar os conhecimentos prévios dos alunos sobre o gênero. Para
isso, questionaremos se já tiveram a oportunidade produzi-lo ou se sabem quais as
principais características desse gênero. Em seguida, escreveremos no quadro as
principais características do gênero artigo de opinião, para que o alunado possa usar
como possível referência na futura produção.
 Explicaremos que para dar consistência argumentativa a um artigo de opinião, como
aponta Koche (2014), é necessário usar vários tipos de argumentos e justificativas para
suas afirmações. O uso de operadores argumentativos como: mas, porém, conforme,
portanto, além disso, etc. auxiliam o texto a se tornar mais coerente.
 Produção textual de um artigo de opinião.

Exemplo de artigo de opinião

Mulheres negras: história e (des)igualdades


48

No dia 25 de julho foi o Dia Nacional da Mulher Negra. Foram 380 anos de
escravidão, mas, onde esteve e onde está a mulher negra brasileira? Para iniciarmos nossa
reflexão, vamos fazer uma rápida viagem no tempo. A mulher negra veio para o Brasil na
condição de escrava. Ali iniciava seu processo de vulnerabilidades sobrepostas. Trabalhava de
sol a sol ao lado dos homens escravos. Vista como fogosa e disponível, sofria todo tipo de
abuso sexual, vendo, por vezes, seus filhos sendo-lhe arrancados para apagar a prova do crime
e não atrapalhar o serviço, mas tendo que amamentar os filhos das sinhás.

O Código Criminal de 1830 elencava tipos penais relacionados à escravidão.


Estabelecia, por exemplo, o crime de açoite. Assim, as escravas, pelo temor de serem
açoitadas ou verem seus filhos e esposos levando chibatadas, acabavam cedendo às violências
sexuais. Algumas eram escolhidas para servirem a seus donos dentro da Casa Grande. Sim,
davam banhos, penteavam, trocavam seus senhores, sem direito a descanso e com o dever da
mansidão. São 388 anos de escravidão. E assim chegamos à liberdade e igualdade. Será?

Ao contrário das mulheres brancas, que na década de 60 lutaram para sair do seu
espaço doméstico, da vida privada para a vida pública, por conquistas no mercado de trabalho,
a mulher negra sempre esteve ali, firme, resistindo, trabalhando dentro e fora de casa. A
branca foi à luta para sair do espaço doméstico, lutou e continua lutando por igualdade de
tratamento e remuneração ao desempenhar as mesmas funções que os homens.

Não queremos com isso dizer que a vida da mulher branca não é feita também por
resistências. A violência de gênero, ou seja, aquela que a mulher sofre por ser mulher, alcança
indistintamente brancas, negras, índias quilombolas, idosas, trans e portadoras de
necessidades especiais.

O que se quer com essa reflexão é mostrar que nos últimos 129 anos, a despeito dos
avanços e conquistas das mulheres negras, não têm sido de igualdade entre as diversas
mulheres, o que nos leva indubitavelmente a afirmar que precisamos que as políticas públicas
sejam construídas e executadas levando em consideração as especificidades das mulheres
negras.

GARCIA, Cláudia Albuquerque. Mulheres negras e (des) igualdades. Disponível


em: http://www.gazetaonline.com.br/opiniao/artigos/2017/07/mulheres-negras-historia-e-des-
igualdades-1014083181.html
49

8° ENCONTRO

Elemento motivador: Produções dos alunos.

Recursos didáticos utilizados: Nobebook, Datashow, lousa e lápis para lousa branca.

 Neste encontro faremos algumas reflexões acerca dos gêneros produzidos, juntamente
com os participantes do curso.
 Logo após, revelaremos que decidimos publicar os textos produzidos em uma página
no Facebook e pediremos que a turma aponte algumas ideias para incrementar essa
página.
 Encerraremos a primeira etapa do projeto de extensão ofertando alguns comes e bebes
e por fim nos despediremos da turma.

REFÊRENCIAS

ANTUNES, Irandé. Lutar com as palavras: coesão e coerência. – São Paulo: Parábola,
2005.
. Textualidade: noções básicas e implicações pedagógicas. – 1° ed. – São Paulo:
Parábola, 2017.
BONINI, A. Gêneros Textuais e Cognição: um estudo sobre a organização cognitiva da
identidade dos textos. Florianópolis: Insular, 2002.

CORREA, Vanessa Loureiro. Língua portuguesa: da oralidade para a escrita. – Curitiba:


ESDE Brasil S.A. , 2009. 192 p.
DOLZ, J. SCHNEUWLY, B. Gêneros orais e escritos na escola. Trad. Roxane Rojo e Glaís
Sales Cordeiro. São Paulo: Mercado de Letras, 2004.
GONZALES, Lucilene. Linguagem publicitária: análise e produção. – São Paulo: Artes &
Ciência, 2003.
KOCHE, Vanilda Salton. Leitura e produção textual: gêneros textuais do argumentar e do
expor. – 6. Ed. – Petrópolis: Vozes, 2014.
RAMOS, Paulo. Tiras no ensino. – São Paulo: Parábola Editorial, 2017.
50

ANEXOS
ANEXO I: Cronograma de execução das atividades do projeto

DURAÇÃO EM MESES (12/2017 a 11/2018)


FASES DO PROJETO
12 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11
Leitura de referências teóricas sobre leitura
e escrita de textos X X
Definição e estudo dos gêneros a serem X
explorados no curso X
Elaboração da sequencia e dos módulos a X X
serem utilizados no curso
Divulgação do curso em escolas públicas X
estaduais e na universidade
Realização do curso – parte I (gêneros X X X
jornalísticos)
Realização do curso – parte II X X X
(gêneros universitários)
Avaliação do curso X

Redação do Relatório Final


X X
Apresentação dos resultados na Semana de
Extensão X
51

ANEXO II: textos discutidos no segundo encontro com a coordenadora.

MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONISIO, A.


P. et al. (org.) Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002, p. 19-36.
Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/322091/mod_resource/content/1/MARCUSC
HI%20G%C3%AAneros%20textuais.pdf

Gêneros textuais: definição e funcionalidade

Luiz Antônio Marcuschi

1. Gêneros textuais como práticas sócio-históricas

Já se tornou trivial a idéia de que os gêneros textuais são fenômenos históricos,


profundamente vinculados à vida cultural e social. Fruto de trabalho coletivo, os gêneros
contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia. São
entidades sócio-discursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer situação
comunicativa. No entanto, mesmo apresentando alto poder preditivo e interpretativo das
ações humanas em qualquer contexto discursivo, os gêneros não são instrumentos
estanques e enrijecedores da ação criativa. Caracterizam-se como eventos textuais
altamente maleáveisl. dinâmicos e plásticos. Surgem emparelhados a necessidades e
atividades sócioculturais, bem como na relação com inovações tecnológicas, o que é
facilmente perceptível ao se considerar a quantidade de gêneros textuais hoje existentes em
relação a sociedades anteriores à comunicação escrita.
Quanto a esse último aspecto, uma simples observação histórica do surgimento dos
gêneros revela que, numa primeira fase, povos de cultura essencialmente oral
desenvolveram um conjunto limitado de gêneros. Após a invenção da escrita alfabética por
volta do século VII A. c., multiplicam-se os gêneros, surgindo os típicos da escrita. Numa
terceira fase, a partir do século XV, os gêneros expandem-se com o flores cimento da
cultura impressa para, na fase intermediária de industrialização iniciada no século XVlII,
dar início a uma grande ampliação. Hoje, em plena fase da denominada cultura eletrônica,
com o telefone, o gravador, o rádio, a TV e, particularmente o computador pessoal e sua
aplicação mais notável, a intemet, presenciamos uma explosão de novos gêneros e novas
52

formas de comunicação, tanto na oralidade como na escrita.


Isto é revelador do fato de que os gêneros textuais surgem, situam-se e integram-se
funcionalmente nas culturas em que se desenvolvem. Caracterizam-se muito mais por suas
funções comunicativas, cognitivas e institucionais do que por suas peculiaridades
lingüísticas e estruturais. São de difícil definição formal, devendo ser contemplados em
seus usos e condicionamentos sóciopragmáticos caracterizados como práticas sócio-
discursivas. Quase inúmeros em diversidade de formas, obtêm denominações nem sempre
unívocas e, assim como surgem, podem desaparecer.
Esta coletânea traz estudos sobre uma variedade de gêneros textuais relacionados a
algum meio de comunicação e analisa-os em suas peculiaridades organizacionais e
funcionais, apontando ainda aspectos de interesse para o trabalho em sala de aula. Neste
contexto, o presente ensaio caracteriza-se como uma introdução geral à investigação dos
gêneros textuais e desenvolve uma bateria de noções que podem servir para a compreensão
do problema geral envolvido. Certamente, haveria muitas outras perspectivas de análise e
muitos outros caminhos teóricos para a definição e abordagem da questão, mas tanto o
exíguo espaço como a finalidade didática desta breve introdução impedem que se façam
longas incursões pela bibliografia técnica hoje disponível.

1. Novos gêneros e velhas bases


Como afirmado, não é difícil constatar que nos últimos dois séculos foram as novas
tecnologias, em especial as ligadas à área da comunicação, que propiciaram o surgimento
de novos gêneros textuais. Por certo, não são propriamente as tecnologias per se que
originam os gêneros e sim a intensidade dos usos dessas tecnologias e suas interferências
nas atividades comunicativas diárias. Assim, os grandes suportes tecnológicos da
comunicação tais como o rádio, a televisão, o jornal, a revista, a internet, por terem uma
presença marcante e grande centralidade nas atividades comunicativas da realidade social
que ajudam a criar, vão por sua vez propiciando e abrigando gêneros novos bastante
característicos. Daí surgem formas discursivas novas, tais como editoriais, artigos de
fundo, notícias, telefonemas, telegramas, telemensagens, teleconferências,
videoconferências, reportagens ao vivo, cartas eletrônicas (e-mails), bate-papos virtuais,
aulas virtuais e assim por diante.
Seguramente, esses novos gêneros não são inovações absolutas, quais criações ab ovo,
sem uma ancoragem em outros gêneros já existentes. O fato já fora notado por Bakhtin
53

[1997] que falava na 'transmutação' dos gêneros e na assimilação de um gênero por outro
gerando novos. A tecnologia favorece o surgimento de formas inovadoras, mas não
absolutamente novas. Veja-se o caso do telefonema, que apresenta similaridade com a
conversação que lhe pré-existe, mas que, pelo canal telefônico, realiza-se com
características próprias. Daí a diferença entre uma conversação face a face e um
telefonema, com as estratégias que lhe são peculiares. O e-mail (correio eletrônico) gera
mensagens eletrônicas que têm nas cartas (pessoais, comerciais etc.) e nos bilhetes os seus
antecessores. Contudo, as cartas eletrônicas são gêneros novos com identidades próprias,
como se verá no estudo sobre gêneros emergentes na rnídia virtual.
Aspecto central no caso desses e outros gêneros emergentes é a nova relação que
instauram com os usos da linguagem como tal. Em certo sentido, possibilitam a redefinição
de alguns aspectos centrais na observação da linguagem em uso, como por exemplo a
relação entre a oralidade e a escrita, desfazendo ainda mais as suas fronteiras. Esses
gêneros que emergiram no último século no contexto das mais diversas mídias criam
formas comunicativas próprias com um certo hibridismo que desafia as relações entre
oralidade e escrita e inviabiliza de forma definitiva a velha visão dicotômica ainda presente
em muitos manuais de ensino de língua. Esses gêneros também permitem observar a
maior integração entre os vários tipos de semioses: signos verbais, sons, imagens e formas
em movimento. A linguagem dos novos gêneros torna- se cada vez mais plástica,
assemelhando-se a uma coreografia e, no caso das publicidades, por exemplo, nota-se uma
tendência a servirem-se de maneira sistemática dos formatos de gêneros prévios para
objetivos novos. Como certos gêneros já têm um determinado uso e funcionalidade, seu
investimento em outro quadro comunicativo e funcional permite enfatizar com mais vigor
os novos objetivos.
Quanto a este último aspecto, é bom salientar que embora os gêneros textuais não
se caracterizem nem se definam por aspectos formais, sejam eles estruturais ou
lingüísticos, e sim por aspectos sócio-comunicativos e funcionais, isso não quer dizer que
estejamos desprezando a forma. Pois é evidente, como se verá, que em muitos casos são as
formas que determinam o gênero e, em outros tantos serão as funções. Contudo, haverá
casos em que será o próprio suporte ou o ambiente em que os textos aparecem que
determinam o gênero presente. Suponhamos o caso de um determinado texto que aparece
numa revista científica e constitui um gênero denominado "artigo científico";
54

imaginemos agora o mesmo texto publicado num jornal diário e então ele seria um "artigo
de divulgação científica". É claro que há distinções bastante claras quanto aos dois gêneros,
mas para a comunidade científica, sob o ponto de vista de suas classificações, um trabalho
publicado numa revista científica ou num jornal diário não tem a mesma classificação na
hierarquia de valores da produção científica, embora seja o mesmo texto. Assim, num
primeiro momento podemos dizer que as expressões "mesmo texto" e "mesmo gênero" não
são automaticamente equivalentes, desde que não estejam no mesmo suporte. Estes
aspectos sugerem cautela quanto a considerar o predomínio de formas ou funções para a
determinação e identificação de um gênero.

2. Definição de tipo e gênero textual


Aspecto teórico e terminológico relevante é a distinção entre duas noções nem sempre
analisadas de modo claro na bibliografia pertinente. Trata-se de distinguir entre o que se
convencionou chamar de tipo textual, de um lado, e gênero textual, de outro lado. Não
vamos aqui nos dedicar à observação da diversidade terminológica existente nesse terreno,
pois isso nos desviaria muito dos objetivos da abordagem.
Partimos do pressuposto básico de que é impossível se comunicar verbalmente a não
ser por algum gênero, assim como é impossível se comunicar verbalmente a não ser por
algum texto. Em outros termos, partimos da idéia de que a comunicação verbal só é
possível por algum gênero textual. Essa posição, defendida por Bakhtin [1997] e também
por Bronckart (1999) é adotada pela maioria dos autores que tratam a língua em seus
aspectos discursivos e enunciativos, e não em suas peculiaridades formais. Esta visão
segue uma noção de língua como atividade social, histórica e cognitiva. Privilegia a
natureza funcional e interativa e não o aspecto formal e estrutural da língua. Afirma o
caráter de indeterminação e ao mesmo tempo de atividade constitutiva da língua, o que
equivale a dizer que a língua não é vista como um espelho da realidade, nem como um
instrumento de representação dos fatos.
Nesse contexto teórico, a língua é tida como uma forma de ação social e histórica que,
ao dizer, também constitui a realidade, sem contudo cair num subjetivismo ou idealismo
ingênuo. Fugimos também de um realismo externalista, mas não nos situamos numa visão
subjetivista. Assim, toda a postura teórica aqui desenvolvida insere-se nos quadros da
hipótese sácio-interativa da língua. É neste contexto que os gêneros textuais se constituem
55

como ações sócio-discursivas para agir sobre o mundo e dizer o mundo, constituindo-o' de
algum modo.
Para uma maior compreensão do problema da distinção entre gêneros e tipos textuais
sem grande complicação técnica, trazemos a seguir uma definição que permite entender
as diferenças com certa facilidade. Essa distinção é fundamental em todo o trabalho com a
produção e a compreensão textual. Entre os autores que defendem uma posição similar à
aqui exposta estão Douglas Biber (1988), John Swales (1990.), Jean- Michel Adam (1990),
JeanPaul Bronckart (1999). Vejamos aqui uma breve definição das duas noções:

(a) Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de construção
teórica definida pela natureza lingüística de sua composição {aspectos lexicais, sintáticos,
tempos verbais, relações lógicas}. Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia
dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição,
injunção.
(b) Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para
referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam
características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais,
estilo e composição característica. Se os tipos textuais são apenas meia dúzia, os gêneros
são inúmeros. Alguns exemplos de gêneros textuais seriam: telefonema, sermão, carta
comercial, carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva,
reunião de condomínio, notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista
de compras, cardápio de restaurante, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha,
edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta eletrônica, bate-papo por
computador, aulas virtuais e assim por diante.

Para uma maior visibilidade, poderíamos elaborar aqui o seguinte quadro sinóptico:

TIPOS TEXTUAIS GÊNEROS TEXTUAIS

1. constructos teóricos 1. realizações lingüísticas


definidos por propriedades concretas definidas por
lingüísticas propriedades
intrínsecas; sócio-comunicativas;
2. constituem 2. constituem textos
seqüências lingüísticas empiricamente realizados
ou seqüências de cumprindo
enunciados e não são textos funções em situações comunicativas;
empíricos
56

3. sua nomeação abrange um conjunto limitado de categorias teóricas


determinadas por aspectos lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo
verbal;
4. designações teóricas dos tipos: narração, argumentação, descrição, injunção e
exposição
5. sua nomeação abrange um conjunto aberto e praticamente ilimitado de
designações concretas determinadas pelo canal, estilo, conteú-
do, composição e função;

exemplos de gêneros: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance,


bilhete, aula expositiva, reunião de condomínio, ho- róscopo, receita culinária, bula de
remédio, lista de compras, cardápio, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha,
edital de concurso, piada, conversação espontânea, con- ferência, carta.eletrônica, bate-
papo virtual, aulas virtuais etc.
Antes de analisarmos alguns gêneros textuais e algumas questões relativas
aos tipos, seria interessante definir mais uma noção que vem sendo usada de
maneira um tanto vaga. Trata-se da expressão domínio discursivo.

3. Usamos a expressão domínio discursivo para designar uma esfera ou instância


de produção discursiva ou de atividade humana. Esses domínios não são textos nem
discursos, mas propiciam o surgimento de discursos bastante específicos. Do ponto de
vista dos domínios, falamos em discurso jurídico, discurso jornalístico, discurso religioso
etc., já que as atividades jurídica, jornalística ou religiosa não abrangem um gênero em
particular, mas dão origem a vários deles. Constituem práticas discursivas dentro das quais
podemos identificar um conjunto de gêneros textuais que, às vezes} lhe são próprios (em
certos casos exclusivos) como práticas ou rotinas comunicativas institucionalizadas.

Veja-se o caso das jaculatórias, novenas e ladainhas, que são gêneros exclusivos do
domínio religioso e não aparecem em outros domínios. Tome-se este exemplo de uma
jaculatória que parecia extinta} mas é altamente praticada por pessoas religiosas.

Exemplo (1) jaculatória (In: Rezemos o Terço. Aparecida} Editora Santuário, 1977,
p.54)

Senhora Aparecida, milagrosa padroeira, sede nossa guia nesta mortal


carreira!áVirgem
Virgem Aparecida, sacrário do redentor, dai à alma desfalecida vosso poder
Aparecida, fiel e seguro norte, alcançai-nos graças na vida, favorecei-
e valor. má
nos na
orte!
57

A jaculatória é um gênero textual que se caracteriza por um conteúdo de grande fervor


religioso} estilo laudatório e invocatório (duas seqüências injuntivas ligadas na sua
formulação imperativa)} composição curta com poucos enunciados, voltada para a
obtenção de graças ou perdão} a depender da circunstância.
Em relação às observações teóricas acima, deve-se ter o cuidado de não confundir
texto e discurso como se fossem a mesma coisa. Embora haja muita discussão a esse
respeito} pode-se dizer que texto é uma entidade concreta realizada materialmente e
corporificada em algum gênero textual. Discurso é aquilo que um texto produz ao se
manifestar em alguma instância discursiva. Assim, o discurso se realiza nos textos. Em
outros termos} os textos realizam discursos em situações institucionais} históricas, sociais
e ideológicas. Os textos são acontecimentos discursivos para os quais convergem ações
lingüísticas} sociais e cognitivas} segundo Robert de Beaugrande (1997).
Observe-se que a definição dada aos termos. aqui utilizados é muito mais operacional
do que formal. Assim} para a noção de tipo textual predomina a identificação de
seqüências lingüísticas típicas como norte adoras; já para a noção de gênero textual}
predominam os critérios de ação prática} circulação sócio-histórica} funcionalidade, conteúdo
temático, estilo e composicionalidade, sendo que os domínios discursivos são as grandes
esferas da atividade humana em que os textos circulam. Importante é perceber que os
gêneros não são entidades formais, mas sim entidades comunicativas. Gêneros são formas
verbais de ação social relativamente estáveis realizadas em textos situados em
comunidades de práticas sociais e em domínios discursivos específicos.

4. Algumas observações sobre os tipos textuais


Em geral, a expressão "tipo de texto", muito usada nos livros didáticos e no nosso dia-
a-dia, é equivocadamente empregada e não designa um tipo, mas sim um gênero de texto.
Quando alguém diz, por exemplo, "a carta pessoal é um tipo de texto informa!", ele não está
empregando o termo "tipo de texto" de maneira correta e deveria evitar essa forma de falar.
Uma carta pessoal que você escreve para sua mãe é um gênero textual, assim como um
editorial, horóscopo/ receita médica, bula de remédio, poema, piada, conversação casual,
entrevista jomalística, artigo científlco, resumo de um artigo, prefácio de um livro. É evidente que
em todos estes gêneros também se está realizando tipos textuais, podendo ocorrer que o
58

mesmo gênero realize dois ou mais tipos. Assim, um texto é em geral tipologicamente
variado (heterogêneo). Veja-se o caso da carta pessoal, que pode conter uma seqüência
narrativa (conta uma historinha), uma argumentação (argumenta em função de algo), uma
descrição (descreve uma situação) e assim por diante.

Um elemento central na organização de textos narrativos é a seqüência temporal. Já


no caso de textos descritivos predominam as seqüências de localização. Os textos
expositivos apresentam o predomínio de seqüências analíticas ou então explicitamente
explicativas. Os textos argumentativos se dão pelo predomínio de seqüências contrastivas
explícitas. Por fim, os textos injuntivos apresentam o predomínio de seqüências
imperativas.
Se voltarmos agora ao exemplo (2) da carta pessoal apresentada acima, veremos
que cada uma daquelas seqüências lá identificadas realiza os traços lingüísticos aqui
apresentados. Não é difícil tomar os gêneros textuais e analisálos com esses critérios,
identificando-lhes as seqüências. Para o caso do ensino, pode-se chamar a atenção da
dificuldade que existe na organização das seqüências tipológicas de base, já que elas não
podem ser simplesmente justapostas. Os alunos apresentam dificuldades precisamente
nesses pontos e não conseguem realizar as relações entre as seqüências. E os diversos
gêneros seqüenciam bases tipológicas diversas.

4. Observações sobre os gêneros textuais

Como já lembrado, os gêneros textuais não se caracterizam como formas estru-


turais estáticas e definidas de uma vez por todas. Bakhtin [1997] dizia que os gêneros eram
tipos "relativamente estáveis" de enunciados elaborados pelas mais diversas esferas da
atividade humana. São muito mais famílias de textos com uma série de semelhanças. Eles
são eventos lingüísticos, mas não se definem por características lingüísticas: caracterizam-
se, como já dissemos, enquanto atividades sócio- discursivas. Sendo os gêneros
fenômenos sócio-históricos e culturalmente sensíveis, não há como fazer uma lista fechada
de todos os gêneros. Existem estudos, feitos por lingüistas alemães que chegaram a nomear
mais de 4000 gêneros, o que à primeira vista parece um exagero (Veja-se Adamzik, 1997).
Daí a desistência progressiva de teorias com pretensão a uma classificação geral dos
gêneros.
Quando dominamos um gênero textual, não dominamos uma forma lingüística e sim
59

uma forma de realizar lingüisticamente objetivos espeáficos em situações sociais


particulares. Pois, como afirmou Bronckart (1999:103), "a apropriação dos gêneros é um
mecanismo fundamental de socialização, de inserção prática nas atividades comunicativas
humanas", o que permite dizer que os gêneros textuais operam, em: certos contextos, como
formas de legitimação discursiva, já que se situam numa relação sócio-histórica com
fontes de produção que lhes dão sustentação muito além da justificativa individual.

A expressão "gênero" sempre esteve, na tradição ocidental, especialmente ligada aos


gêneros literários, mas já não é mais assim, como lembra Swales (1990:33), ao dizer que
"hoje, gênero é facilmente usado para referir uma categoria distintiva de discurso de
qualquer tipo, falado ou escrito, com ou sem aspirações literárias". É assim que se usa a
noção de gênero em Etnografia, Sociologia, Antropologia, Folclore, Retórica e,
evidentemente, na Lingüística.
Os gêneros não são entidades naturais como as borboletas, as pedras, os rios e as
estrelas, mas são artefatos culturais construídos historicamente pelo ser humano. Não
podemos defini-Ios mediante certas propriedades que lhe devam ser necessárias e
suficientes. Assim, um gênero pode não ter uma determinada propriedade e ainda continuar
sendo aquele gênero. Por exemplo, uma carta pessoal ainda é uma carta, mesmo que a
autora tenha esquecido de assinar o nome no final e só tenha dito no início: "querida
mamãe". Uma publicidade pode ter o formato de um poema ou de uma lista de produtos em
oferta; o que conta é que divulgue os produtos e estimule a compra por parte dos clientes ou
usuários daquele produto. A título de exemplo, observe-se este artigo de opinião da Folha
de São Paulo, que, embora escrito na forma de um poema, continua sendo um artigo de
opinião:

Exemplo (2) NELFE - 350 - artigo de opinião

Um novo José Josias de Souza

-São Paulo- Diga: ora, Drummond, Agora

Calma José. Se você gritasse,


A festa não começou, se você gemesse,
60

a luz não acendeu, se você dormisse,


a noite não esquentou, se você cansasse,
o Malan não amoleceu, se você morresse ...
mas se voltar a pergunta: O Malan nada faria,
e agora José? mas já há quem faça.
Diga: ora Drummond,
agora Camdessus. Ainda só, no escuro,
Continua sem mulher, qual bicho-do-mato,
continua sem discurso, ainda sem teogonia,
continua sem carinho, ainda sem parede nua,
ainda não pode beber, para se encostar,
ainda não pode fumar, ainda sem cavalo preto,
cuspir ainda não pode, Que fuja a galope,
a noite ainda é fria, você ainda marcha, José!
o dia ainda não veio, Se voltar a pergunta:
o riso ainda não veio, José, para onde?

não veio ainda a utopia, Diga: ora Drummond,


o Malan tem miopia, por que tanta dúvida?
mas nem tudo acabou, Elementar, elementar,
nem tudo fugiu, sigo pra Washington
nem tudo mofou. e, por favor, poeta,
Se voltar a pergunta: não me chame de José.
E agora José? Me chame Joseph.

Fonte: Folha de São Paulo, Caderno 1, pág. 2 - Opinião, 04/10/1999

Aspecto interessante no texto acima é que ele apresenta uma configuração híbrida,
t
endo o formato de um poema para o gênero artigo de opinião. Isso configura uma estrutura
inter-gêneros de natureza altamente híbrida e uma relação intertextual com alusão ao
61

poema e ao projeto autor do poema no qual se inspira e do qual extrair elementos: "E
agora]osé , de Carlos Drummond de Andrade. Essa característica pode ser analisada de
acordo com a sugestão de Ursula Fix (1997:97), que usa a expressão "intertextualidade
inter-gêneros para designar o aspecto da hibridização ou mescla de gêneros em que um
gênero assume a função de outro. Esta violação de cânones subvertendo o modelo global
de um gênero poderia ser visualizada num diagrama tal como este:

INTERTEXTUALIDADE TIPOLÓGICA

/
artigo de opinião
/

Formado
gênero A
Função do gênero A

/
Função do gênero B

/
poema
62

Forma do gênero B

A questão da intertextualidade inter-gêneros evidencia-se como uma mescla de funções


e formas de gêneros diversos num dado gênero e deve ser distinguida da questão da
heterogeneidade tipológica do gênero, que diz respeito ao fato de um gênero realizar várias
seqüências de tipos textuais No exemplo acima, temos um gênero funcional (artigo de
opinião) com o formato de outro (poema). Em princípio, isto não deve trazer dificuldade
interpretativa, já que o predomínio da função supera a forma na determinação do gênero, o
que evidencia a plasticidade e dinamicidade dos gêneros.
Resumidamente, em relação aos gêneros, temos:

(1) intertextualidade inter-gêneros == um gênero com a função de outro


(2) heterogeneidade tipológica == um gênero com a
(3) presença de vários tipos
o exemplo do artigo de opinião analisado é um caso para a situação (1) da
hibridização textual com inter-gêneros; já a carta pessoal analisada anteriormente é um
exemplo para (2), com uma heterogeneidade tipolÇ>gica muito grande. No geral, este
segundo caso é mais comum que o primeiro. Contudo, se tomarmos alguns gêneros,
veremos que eles são mais propensos a uma intertextualidade inter-gêneros. Veja, por
exemplo, a publicidade que se caracteriza por operar de maneira particularmente produtiva
na subversão da ordem genérica instituída, chamando atenção para a venda de um
produto. Desenquadrar o produto de seu enquadre normal é uma forma de enquadrá10 em
novo enfoque, para que o vejamos de forma mais nítida no mar de ofertas de produtos.
É esta possibilidade de operação e maleabilidade que dá aos gêneros enorme.
capacidade de adaptação e ausência de rigidez e se acha perfeitamente de acordo com
Miller (1984:151), que considera o gênero como "ação social", lembrando que uma
definição retoricamente correta de gênero "não deve centrar-se na substância nem na forma
do discurso, mas na ação em que ele aparece para realizarse". Este aspecto vai ser central
na designação de muitos gêneros que são definidos basicamente por seus propósitos
(funções, intenções, interesses) e não por suas formas. Contudo, voltamos a frisar que isto
não significa eliminar o alto poder organizador das formas composicionais dos gêneros.
63

O próprio Bakhtin [1997] indicava a "construção composicional", ao lado do "conteúdo


temático" e do "estilo" como as três características dos gêneros.
De igual modo, para Eija Ventola (1995:7), os "gêneros são sistemas semióticos que
geram estruturas particulares que em última instância são captadas por comportamentos
lingüísticos mediante os registros". Enquanto resultado convencional numa dada cultura,
os gêneros se definiriam como "ações retóricas tipificadas baseadas em situações
recorrentes" (Miller, 1984:159). As formas tornam-se convencionais e com isto genéricas
precisamente em virtude da recorrência das situações em que são investidas como ações
retóricas típicas. Os gêneros são, em última análise, o reflexo de estruturas sociais
recorrentes e típicas de cada cultura. Por isso, em princípio, a variação cultural deve trazer
conseqüências significativas para a variação de gêneros, mas este é um aspecto que
somente o estudo intercultural dos gêneros poderá decidir.

4. Gêneros textuais e ensino

Tendo em vista que todos os textos se manifestam sempre num ou noutro gênero
textual, um maior conhecimento do funcionamento dos gêneros textuais é importante tanto
para a produção com para a compreensão. Em certo sentido, é esta idéia básica que se
acha no centro dos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), quando sugerem que o
trabalho com o texto deve ser feito na base dos gêneros, sejam eles orais ou escritos. E esta
é também a proposta central dos ensaios desta coletânea de textos que pretende mostrar
como analisar e tratar alguns dos gêneros mais praticados nos diversos meios de
comunicação.

As observações teóricas expostas não só visam a esclarecer conceitos como também a


apontar a diversidade de possibilidades de observação dos gêneros textuais. Por certo, não
estamos aqui em condições de nos dedicarmos a todos os problemas envolvidos, mas é
possível indicar alguns. Em especial seria bom ter em mente a questão da relação oralidade
e escrita no contexto dos gêneros textuais, pois, como sabemos, os gêneros distribuem-se
pelas duas modalidades num contínuo, desde os mais informais aos mais formais e em
todos os contextos e situações da vida cotidiana. Mas há alguns gêneros que só são
recebidos na forma oral apesar de terem sido produzidos originalmente na forma escrita,
como o caso das notícias de televisão ou rádio. Nós ouvimos aquelas notícias, mas elas
foram escritas e são lidas (oratizadas) pelo apresentador ou locutor.
64

Assim, é bom ter cautela com a idéia de gêneros orais e escritos, pois essa distinção é
complexa e deve ser feita com clareza. Veja-se o caso acima citado das jaculatórias,
novenas e ladainhas. Embora todas tenham sido escritas, seu uso nas atividades religiosas
é sempre oral. Ninguém reza por escrito e sim oralmente. Por isso dizemos que oramos e
não que escrevemos a Deus.
Tudo o que estamos apontando neste momento deve-se ao fato de os eventos a que
chamamos propriamente gêneros textuais serem artefatos lingüísticos concretos. Esta
circunstância ou característica dos gêneros tornaos, como já vimos, fenômenos bastante
heterogêneos e por vezes híbridos em relação à forma e aos usos. Daí dizer-se que os
gêneros são modelos comunicativos. Servem, muitas vezes, para criar uma expectativa no
interlocutor e prepará-Io para uma determinada reação. Operam prospectivamente, abrindo
o caminho da compreensão, como muito bem frisou Bakhtin (1997).
Muitas vezes, em situações orais, os interlocutores discutem a respeito do gênero de
texto que estão produzindo ou que devem produzir. Trata-se de uma negociação tipológica.
Segundo observou o lingüista alemão Hugo Steger (1974), as designações sugeridas pelos
falantes não são suficientemente unitárias ou claras, nem fundadas em algum critério geral
para serem consistentes. Em relação a isso, lembra a lingüista alemã Elizabeth Gülich
(1986) que os interlocutores seguem em geral três critérios para designarem seus textos:
a) canal! meio de comunicação: (telefonema, carta, telegrama)
b) critérios formais: (conto, discussão, debate, contrato, ata, poema)
c) natureza do conteúdo: (piada, prefácio de livro, receita culinária, bula de
remédio)

Contudo, isso não chega a oferecer critérios para formar uma classificação nem
constituir todos os nomes. Para Douglas Biber (1988), por exemplo, os gêneros são
geralmente determinados com base nos objetivos dos falantes e na natureza do tópico
tratado, sendo assim uma questão de uso e não de forma. Em suma, pode-se dizer que os
gêneros textuais fundam-se em critérios externos (sócio-comunicativos e discursivos),
enquanto os tipos textuais fundam-se em critérios internos (lingüísticas e formais).
Elizabeth Gülich (1986) observa que as situações e os contextos em que os falantes ou
escritores designam os gêneros textuais são em geral aqueles em que parece relevante
designá-Ias para chamar a atenção sobre determinadas regras vigentes no caso. É assim
65

que ouvimos pessoas dizendo: "nessa reunião não cabe uma piada, mas deixem que eu
conte uma para descontrair um pouco". Ou então ouvimos alguém dizer: "fulano não
desconfia e discursa até na hora de tomar uma cerveja". Por outro lado, notamos que há
casos institucionalmente marcados que exigem, no início, a designação do gênero de texto
e a informação sobre suas regras de desenvolvimento. Este é o caso de uma tomada de
depoimento na Justiça, em que o Juiz lê as regras e expõe direitos e deveres de cada
indivíduo.
Assim, contar piadas fora de lugar é um caso de inadequação ou violação de normas
sociais relativas aos gêneros textuais. Isso quer dizer que não há só a questão da produção
adequada do gênero, mas também um uso adequado. Esta não é uma questão de etiqueta
social apenas, mas é um caso de adequação tipo lógica, que diz respeito à relação que
deveria haver, na produção de cada gênero textual, entre os seguintes aspectos:

 natureza da informação ou do conteúdo veiculado;


 nível de linguagem (formal, informal, dialetal, culta etc.)
 tipo de situação em que o gênero se situa (pública, privada, corriqueira, solene
etc.)
 relação entre os participantes (conhecidos, desconhecidos, nível social, formação
etc)
 natureza dos objetivos das atividades desenvolvidas

É provável que esta relação obedeça a parâmetros de relativa rigidez em virtude das
rotinas sociais presentes em cada contexto cultural e social, de maneira que sua
inobservância pode acarretar problemas. Assim, numa reunião de negócios, por exemplo,
um empresário que se pusesse a cantar o Hino Nacional seria considerado um tanto
esquisito e talvez pouco confiável para uma parceria de negócios. Ou alguém que, durante
um culto e no meio de uma oração, começasse a esbravejar contra o sacerdote ou o pastor
não ia ser bem-visto. Neste sentido, os indicadores aqui levantados serviriam para
identificar as condições de adequação genérica na produção dos gêneros, espedalmente os
orais.
Considerando que os gêneros independem de decisões individuais e não são facilmente
manipuláveis, eles operam como geradores de expectativas de compreensão mútua.
Gêneros textuais não são fruto de invenções individuais, mas formas socialmente
66

maturadas em práticas comunicativas. Esta era também a posição central de Bakhtin


[1997] que, como vimos, tratava os gêneros como atividades enunciativas "relativamente
estáveis".
No ensino de uma maneira geral, e em sala de aula de modo particular, pode-se tratar
dos gêneros na perspectiva aqui analisada e levar os alunos a produzirem ou analisarem
eventos lingüísticos os mais diversos, tanto escritos como orais, e identificarem as
características de gênero em cada um. É um exercício que, além de instrutivo, também
permite praticar a produção textual. Veja-se como seria produtivo pôr na mão do aluno
um jornal diário ou uma revista semanal com a seguinte tarefa: "identifique os gêneros
textuais aqui presentes e diga quais são as suas características centrais em termos de
conteúdo, composição, estilo, nível lingüístico e propósitos". É evidente que essa tarefa
pode ser reformulada de muitas maneiras, de acordo com os interesses de cada situação de
ensino. Mas é de se esperar que por mais modesta que seja a análise, ela será sempre
muito promissora.

5. Observações finais
Em conclusão a estas observações sobre o tema em pauta, pode-se dizer que o trabalho
com gêneros textuais é uma extraordinária oportunidade de se lidar com a língua em seus
mais diversos usos autênticos no dia-a-dia. Pois nada do que fizermos lingüisticamente
estará fora de ser feito em algum gênero. Assim, tudo o que fizermos lingüisticamente
pode ser tratado em um ou outro gênero. E há muitos gêneros produzidos de maneira
sistemática e com grande incidência na vida diária, merecedores de nossa atenção.
Inclusive e talvez de maneira fundamental, os que aparecem nas diversas mídias hoje
existentes, sem excluir a mídia virtual, tão bem conhecida dos internautas ou navegadores
da Internet.
A relevância maior de tratar os gêneros textuais acha-se particularmente situada no
campo da Lingüística Aplicada. De modo todo especial no ensino de língua, já que se
ensina a produzir textos e não a produzir enunciados soltos. Assim, a investigação aqui
trazida é de interesse aos que trabalham e militam nessas áreas. Uma análise dos manuais
de ensino de língua portuguesa mostra que há uma relativa variedade de gêneros textuais
presentes nessas obras. Contudo, uma observação mais atenta e qualificada revela que a
essa variedade não corresponde uma realidade analítica. Pois os gêneros que aparecem
nas seções centrais e básicas, analisados de maneira aprofundada são sempre os mesmos.
67

Os demais gêneros figuram apenas para 11 enfeite" e até para distração dos alunos. São
poucos os casos de tratamento dos gêneros de maneira sistemática. Lentamente, surgem
novas perspectivas e novas abordagens que incluem até mesmo aspectos da oralidade.
Mas ainda não se tratam de modo sistemático os gêneros orais em geral. Apenas alguns, de
modo particular os mais formais, são lembrados em suas características básicas.
No entanto, não é de se supor que os alunos aprendam naturalmente a produzir os
diversos gêneros escritos de uso diário. Nem é comum que se aprendam naturalmente os
gêneros orais mais formais, como bem observam Joaquim Dolz e Bemard Schneuwly
(1998). Por outro lado, é de se indagar se há gêneros textuais ideais para o ensino de
língua. Tudo indica que a resposta seja não. Mas é provável que se possam identificar
gêneros com dificuldades progressivas, do nível menos formal ao mais formal, do mais
privado ao mais público e assim por diante.
Enfim, vale repisar a idéia de que o trabalho com gêneros será uma forma de dar conta
do ensino dentro de um dos vetares da proposta oficial dos Parâmetros Curriculares
Nacionais que insistem nesta perspectiva. Tem-se a oportunidade de observar tanto a
oralidade como a escrita em seus usos culturais mais autênticos sem forçar a criação de
gêneros que circulam apenas no universo escolar. Os trabalhos incluídos neste livro
buscam oferecer sugestões bastante claras e concretas de observação dos gêneros textuais
na perspectiva aqui sugerida e com algumas variações teóricas que cada autor dos textos
adota em função de seus interesses e de suas sugestões de trabalho. No conjunto, a
diversidade de observações deverá ser um benefício a mais para quem vier a usufruir
dessas análises.
GERALDI, João Vanderley. Prática de leitura na escola. In: GERALDI, João Vanderley (org.). O texto na sala de aula. São Paulo:
Ática, 2001, p. 88 – 98. Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
ANEXO III: Textos discutidos no terceiro encontro com a coordenadora no projeto de extensão
Figueired
SILVA, D.C.e; MEDEIROS, C. M. de. Práticas de leitura e escrita na academia:
o e saberes
Bonini na esfera científica. In: Cadernos de monitoria
n. 3, 2012. Disponível em: www.arquivos.info.ufrn.br/arquivos/.../CadernodeMonitoria03_Cap10.pdf
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
ANEXO IV: Textos discutidos no terceiro encontro com a coordenadora do projeto.
 NASCIMENTO, Erivaldo Pereira do. Gêneros textuais: argumentação Figueired
e ensino. In: PEREIRA, Regina Celi Mendes. A
o e Bonini
didatização de gêneros no contexto de formação continuada em EAD (Org). – João Pessoa: Editora Universitária/UFPB,
2012. (70-94).
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini
Figueired
o e Bonini

Você também pode gostar