DEBATE MULTICULTURAL
ETAPA 2
CENTRO UNIVERSITÁRIO
LEONARDO DA VINCI
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www.uniasselvi.com.br
Autora
Luciane da Luz
Pedro Fernandes da Luz
Organização
Fábio Roberto Tavares
Reitor da UNIASSELVI
Prof. Hermínio Kloch
Diagramação e Capa
Letícia Vitorino Jorge
Revisão
Fabiana Lange Brandes
José Roberto Rodrigues
A CIÊNCIA ANTROPOLÓGICA
APRESENTAÇÃO
Num primeiro momento, nós veremos o que é Antropologia, seu objeto e método.
A seguir, revelaremos a você, prezado leitor, tanto as definições mais aceitas desta
disciplina, explicitando do que a mesma se ocupa (qual o objeto de sua investigação),
quanto as maneiras pelas quais a Antropologia se aproxima da realidade que ela pretende
elucidar, seu método próprio e quais são seus campos de pesquisa.
2 ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL
FIGURA 1 - A EVOLUÇÃO CULTURAL DO SER HUMANO
Embora a Antropologia possa ser vista, como de fato foi por alguns autores, em
outras dimensões que não a científica (por exemplo, enquanto Filosofia ou Arte), aqui
nós focaremos em analisar este saber enquanto ramo da Ciência.
Buscando atingir aquele conhecimento total (ou idealmente total) do ser humano,
os teóricos do saber antropológico procuram uma compreensão mais aguda da
humanidade, com a intenção de dar aplicações práticas ao conhecimento que produzem,
tendo em vista beneficiar efetivamente as diversas populações humanas com as quais
lidam.
Fica claro, assim, que a Antropologia Cultural tem seu foco privilegiado na
investigação do desenvolvimento das sociedades humanas, ao longo de toda sua
história. A Antropologia Cultural pesquisa os comportamentos que apresentam os
diferentes grupos humanos, investigando, entre outros aspectos, os costumes, hábitos,
práticas e convenções de origens sociais e culturais; como surgiram e se desenvolveram
as diversas instituições que caracterizam as sociedades humanas, a saber: a família, a
religião e outras; e, igualmente, como evoluíram as técnicas que nós seres humanos
desenvolvemos com o fito de lidar com a natureza e prover nossas necessidades nesta.
De acordo com Hoebel e Frost (2006), destaca-se como a característica mais notável
da Antropologia Social o enfoque sincrônico desta e sua resistência à diacronia, ou
seja, a Antropologia Social não leva em conta a reconstituição histórica das instituições
que observa em uma dada sociedade, mas, antes, dá privilégio à comparação das
mesmas com outras observadas em sociedades diversas. Segundo estes autores, os
antropólogos sociais mostram-se especialistas nas relações sociais que se apresentam
manifestas na família e no parentesco, bem como nos diferentes grupos de idade, na
organização política e jurídica e nas atividades econômicas, ou seja, aquilo que os
mesmos denominam de estrutura social.
deste saber passa pela etnografia e pela etnologia. Mas no que consistem estas,
exatamente?
2 A ETNOLOGIA E A ETNOGRAFIA
Em sua origem, até mesmo a Antropologia lidava com relatos feitos por
exploradores, missionários, funcionários administrativos, viajantes, comerciantes,
soldados e demais indivíduos que tiveram contato com povos distintos e descreveram
estes. É apenas no final do século XIX que os antropólogos passam a ir a campo e é então
que eles mesmos começam a fazer as descrições dos povos que investigam.
Na Antropologia atual, uma das grandes “provas iniciáticas”, que fazem parte do
processo de se tornar antropólogo, consiste em realizar a etnografia da cultura sobre a
qual o antropólogo pretende refletir. No ideário da profissão, todo antropólogo deveria
começar sua carreira realizando a descrição etnográfica de algum povo, cultura, ou
grupo social, foco de suas pesquisas.
Apesar de ter um caráter prático, a etnografia não se mostra isenta da influência das
teorias que a Antropologia produz, isto porque toda etnografia é (LEITE DA LUZ et al.,
2015, p. 19): “(...) informada por certo referencial teórico que lhe dá uma estrutura e enfoque
próprio, muito embora as descrições etnográficas não se ocupem de problemas teóricos,
nem formulem hipóteses ou teses acerca dos fenômenos sociais e culturais que descrevem”.
Sobre essa questão, Marconi e Presotto (2001, p. 27) citam Lévi-Strauss (1967),
o qual afirma que a etnografia:
Desta maneira, a etnologia apresenta-se como a reflexão, ou estudo, que tem por
base os fatos e acontecimentos documentados no registro de uma cultura, dentro da
perspectiva da apreciação analítica destes e de sua comparação com dados análogos
de outros povos.
A etnologia, análise científica dos povos, suas culturas e suas trajetórias, enquanto
tal, ao longo da história, representa uma superação da produção etnográfica, procurando,
dentro da perspectiva científica, revelar e compreender as relações que os diversos
povos estabelecem com o ambiente, natural e social, onde se dão suas vivências, e ainda
a relação dos seres humanos com as culturas a que pertencem e das culturas entre si e
suas diferenças (HOEBEL; FROST, 2006).
Prezado aluno, esperamos que por agora você já tenha uma boa ideia do que seja
a Antropologia e das etapas que constituem o fazer antropológico. Chegou a hora de
lançarmos um olhar sobre o contexto histórico no qual a disciplina foi forjada.
Com o final do século XVIII e o início do século XIX, vemos uma série de
transformações técnicas no modo de produção capitalista que levaram à Revolução
Industrial. Esta teve como consequência o deslocamento de vastos contingentes
populacionais do campo para a cidade e o estabelecimento do trabalho fabril, com longas
e penosas jornadas de trabalho, muitas vezes em condições sub-humanas. Paralelamente,
vemos o desenvolvimento da resistência e reflexão contra o sistema capitalista, que
levou ao florescimento do pensamento social (ERIKSEN; NIELSEN, 2012).
Antropologia e Sociologia têm de fato prestado uma grande ajuda uma à outra
na elucidação de questões de caráter gerais relativas ao ser humano enquanto ser social.
De fato, como Marconi e Presotto (2001) chamam a atenção, as duas disciplinas têm se
emprestado mutuamente conceitos próprios, a primeira cedendo à segunda o conceito
de cultura; e a segunda o conceito de sociedade àquela outra, ambos os conceitos sendo
instrumentais tanto à Antropologia, quanto à Sociologia.
Com relação à Psicologia, Marconi e Presotto (2001) colocam como fator principal
do estreito relacionamento que esta mantém com a Antropologia, o fato de as duas
disciplinas terem interesse no comportamento humano, a primeira centrando no
indivíduo, enquanto que a Antropologia se ocupa do comportamento grupal.
Uma vez que não existe sociedade humana que não se organize politicamente,
isto por meio de diferentes instituições responsáveis pela distribuição do poder,
manutenção da ordem e da integridade do grupo, faz parte das preocupações centrais
da disciplina antropológica registrar e analisar como isto se dá nas diferentes sociedades.
Uma das grandes contribuições da Antropologia neste sentido foi demonstrar a relação
intricada que há entre os diversos sistemas de parentesco, os ritos e a noção de sagrado
nas sociedades simples, e suas respectivas formas de organização política (MARCONI;
PRESOTTO, 2001).
Quanto à essa, em Leite da Luz et al. (2015, p. 63) vemos as seguintes definições:
Para Gomes (2013, p. 56), a observação participante seria o método mais as-
sociado à Antropologia e distinção desta entre as ciências humanas. Para este
autor, malgrado o método de observação participante ser difícil de aplicar, este
seria de grande importância para nossa disciplina e representaria a própria
diferença entre ser ou não antropólogo. Segundo Gomes, observação partici-
pante consiste em “o pesquisador buscar compreender a cultura pela vivência
concreta nela, ou seja, morar com os ‘nativos’, participar de seus cotidianos,
comer suas comidas, se alegrar em suas festas e sentir o drama de ser de outra
cultura - tudo isso na medida do possível”. A ideia por detrás deste método,
tão característico da Antropologia, está em considerar que o estudo de uma
determinada cultura é privilegiado (ou em última análise, somente possível)
através da imersão nesta mesma cultura. Assim, não seria suficiente observar os
fenômenos sociais e anotar os comentários dos que deles participam, tampouco
basta conhecer a produção documental e ideológica da cultura pesquisada, é
preciso, antes de tudo, vivenciá-la!
Esperamos que tenha ficado claro para você como e por que surgiu a Antropologia,
o que esta faz enquanto ciência e qual sua especificidade diante das outras Ciências
Sociais. Na etapa seguinte veremos aqueles conceitos antropológicos fundamentais para
a compreensão do fenômeno do multiculturalismo.
REFERÊNCIAS
LUZ, Pedro Fernandes Leite da; BOHMANN, Junqueira Katja. Sociologia crítica.
Indaial: Uniasselvi, 2013.