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Para Jen, Riordan,

Roarke, Lady D. e Sloane. Amo todos vocês.


Nota dos editores

O universo de STAR WARS é in nitamente rico e criativo. Desde 1977,


inúmeros planetas, raças alienígenas e personagens vêm despertando a
imaginação de fãs do mundo inteiro. A ideia de expandir um universo
ccional, embora não seja nova, ganha novas proporções com STAR
WARS. O livro STAR WARS: from the adventures of Luke Skywalker,
novelização do Episódio IV da saga, foi lançado em 1976, antes mesmo da
estreia do lme no cinema. E, antes do nal da trilogia clássica, já
existiam diversos quadrinhos e romances, que muitas vezes davam sinais
dos caminhos a ser seguidos depois nas telas, ou mesmo, como no caso do
livro Splinter of the mind’s eye, de Alan Dean Foster, diferiam
completamente da trajetória seguida nas continuações. Esse era apenas
um prelúdio da força que o Universo Expandido de STAR WARS
acumularia nas décadas seguintes.
Embora outras rarefeitas obras tenham sido lançadas no início dos anos
1980, dois marcos importantes deram impulso à saga, projetando-a ao
atual ousado projeto transmídia: em 1987, veio o lançamento do RPG
STAR WARS: e Roleplaying Game; em 1991, a publicação de STAR WARS:
Herdeiro do Império, de Timothy Zahn. Enquanto a importância do RPG
foi estabelecer novos cenários e trazer detalhes do universo de STAR
WARS, o livro de Zahn fez história ao ser o primeiro com autorização
o cial da Lucas lm para abordar os acontecimentos posteriores ao
Episódio VI. Os personagens e as histórias do livro foram aproveitados por
toda uma nova geração de autores, que escreveram centenas de obras a m
de complementar cada vez mais esse universo e saciar a sede dos fãs,
especialmente durante o intervalo de quinze anos entre os lançamentos
das duas trilogias no cinema – e também depois.
Em 2014, a Lucas lm lançou o novo conceito de STAR WARS, aplicável
a lmes, HQs, livros, videogames e séries televisivas relacionados à
franquia, formando um só cânone. Juntos, todos esses registros contam
uma única história no universo de STAR WARS, complementando e
continuando os lmes lançados no cinema entre 1977 e 2005, além de
servirem como preparação para os tão esperados novos lmes, a começar
com STAR WARS: O despertar da Força em 2015. Todas as obras publicadas
antes de 2014 passam a ser classi cadas como Legends: histórias que não
serviram como base para o cânone estabelecido pela Lucas lm para STAR
WARS, mas cuja importância e cuja qualidade continuam sendo
apreciadas.
Participando dessa nova e empolgante fase de STAR WARS, a Editora
Aleph pretende lançar todos os romances adultos do novo cânone, bem
como uma seleção dos títulos Legends mais relevantes. Convidamos os
leitores a embarcar conosco nessa jornada rumo a uma galáxia muito,
muito distante.
E trata-se de uma viagem que não tem ponto de partida nem direção
de nidos. Não importa por qual obra você decida começar, seja por uma
das novas ou uma das Legends. Temos a certeza de que viverá uma grande
aventura.
Que a Força esteja com você.
 
EDITORA ALEPH
Agradecimentos

Escrevi este livro no período mais desa ador de minha vida adulta. Isso
não teria sido possível sem Shelly Shapiro. Shelly, muito obrigado por sua
paciência.
Sumário

Capa
Folha de rosto

Dedicatória
Nota dos editores
Agradecimentos

Capítulo 1
Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4
Capítulo 5

Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13

Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17

Capítulo 18
Créditos
Oito anos após as Guerras Clônicas devastarem a galáxia, a República
acabou e o Império está em ascensão. O homem que governa como
imperador é secretamente um lorde Sith. Com seu poderoso aprendiz,
Darth Vader, e todos os recursos de sua vasta máquina bélica imperial, ele
subjugou a galáxia inteira.
A dissidência foi esmagada e a liberdade é uma mera lembrança, tudo
em nome da paz e da ordem. Mas, aqui e ali, focos de resistência começam
a pegar fogo e a se alastrar. O movimento mais ardente é o Ryloth Livre,
liderado por Cham Syndulla.
Agora, após muitos ataques em pequena escala contra os exércitos
imperiais que controlavam o mundo deles, Cham e seus companheiros,
combatentes em prol da liberdade, têm a oportunidade de desferir um
golpe fatal e mergulhar o Império no caos. Para isso, escolheram como alvo
o próprio coração imperial: o imperador Palpatine e Darth Vader...
Vader completou a meditação e abriu os olhos. No transparaço escuro e re exivo da câmara de meditação
pressurizada, tou um rosto pálido, deformado de modo selvagem pelas chamas. Sem a conexão neural com a
armadura, tinha plena consciência dos cotos das pernas, da ruína dos braços, da eterna dor em sua carne. Ele a
recebia de braços abertos. A dor alimentava o seu ódio, e o ódio alimentava sua têmpera. Antigamente, quando
era Jedi, meditava para encontrar a paz. Agora, meditava para aguçar a raiva.
Fitou o próprio re exo por um bom tempo. Os ferimentos tinham deformado o corpo dele, deixando-o em
farrapos, mas haviam aperfeiçoado seu espírito, consolidando a sua ligação com a Força. Do sofrimento, nascera
uma percepção profunda.
Um braço metálico automatizado segurava o capacete da armadura sobre sua cabeça, uma maldição prestes a
descer. Os olhos da viseira, que intimidavam tanta gente, não eram páreos aos seus olhos desmascarados. Sob um
mar de cicatrizes, seu olhar fervilhava em fúria controlada, contida. O respirador secundário, ainda conectado a
ele, sempre conectado a ele, mascarava a boca arruinada, e o som de sua respiração ecoava nas paredes.
Com a Força, baixou o braço automatizado. O capacete e a viseira envolveram sua cabeça em metal e
plastiaço, a carcaça em que existia. Deu boas-vindas às ferroadas de dor quando as agulhas neurais do capacete
se cravaram na carne do crânio e na base da espinha, uni cando corpo, mente e armadura, e formando um todo
interligado.
Quando homem e máquina se tornaram um só, embora já não sentisse mais a ausência das pernas e dos braços
– a dor carnal –, o ódio permanecia e a raiva ainda queimava. Ele nunca abandonava esses sentimentos; quando
sua fúria ardia, sentia-se ainda mais ligado à Força.
Com um esforço de concentração, Vader ordenou ao computador de bordo que vinculasse o respirador
primário ao secundário e vedasse o capacete ao pescoço, revestindo-o por completo. Estava em casa.
Em outras épocas, considerava a armadura odiosa, alienígena, mas agora sua percepção superava isso. Ele se
deu conta de que sempre fora predestinado a usá-la, assim como os Jedi sempre foram predestinados a trair seus
princípios. Ele sempre esteve predestinado a enfrentar Obi-Wan e a fracassar no planeta Mustafar – e a aprender
com o fracasso.
A armadura o separava da galáxia e de todas as pessoas, tornava-o singular, libertava-o das ânsias do corpo e
das inquietações físicas que antes o atribulavam, e lhe permitia focar-se apenas na relação com a Força.
Ele sabia que a armadura aterrorizava os outros, e isso lhe dava prazer. Usava o terror como ferramenta para
alcançar seus objetivos. Certa vez, Yoda lhe dissera que o medo conduzia ao ódio, e o ódio ao sofrimento. Mas
Yoda se enganara. O medo era a ferramenta usada pelos poderosos para acovardar os fracos. A fonte do poder
verdadeiro era o ódio. O resultado da submissão dos poderosos sobre os fracos não era o sofrimento, e sim a
ordem. Por sua própria existência, a Força exigia o jugo dos poderosos sobre os fracos; a Força exigia a ordem. Os
Jedi não perceberam isso e, portanto, não entenderam a Força e foram destruídos. Porém o mestre de Vader
percebeu. Vader percebeu. E, por isso, eram fortes. Por isso, governavam.
Ele se ergueu, a respiração alta nos ouvidos, alta na câmara, sua imagem enorme e sombria na parede
re exiva.
Com um aceno da manopla e um comando mental, transformou as paredes da câmara de meditação ovalada
em transparentes, em vez de re exivas. A câmara situava-se no recôndito de seus aposentos a bordo da Perigo.
Estendeu o olhar através da grande vigia que mostrava a galáxia e os incontáveis mundos e estrelas.
Seu dever era governar tudo aquilo. Agora percebia que a vontade manifesta da Força era essa. Existência sem
governo adequado signi cava caos, desordem, inferioridade. A Força – invisível, mas onipresente – pendia rumo
à ordem e servia de instrumento pelo qual essa poderia e deveria ser imposta, mas não por meio de harmonia,
não por meio de coexistência pací ca. Essa fora a abordagem dos Jedi, uma abordagem tola, fracassada, que só
fomentou mais desordem. Vader e seu mestre impuseram a ordem do único modo que poderia ser imposta, do
modo que a Força exigia: por meio da conquista, obrigando a desordem a curvar-se à ordem, vergando os fracos
à vontade dos poderosos.
A história da in uência dos Jedi na galáxia era a história da desordem e das guerras esporádicas que a
desordem provocara. A história do Império seria da paz coagida, da ordem imposta.
Uma transmissão pendente fez o intercom soar. Ele o ativou, e um holograma do comandante da Perigo, o
capitão Luitt, com o rosto aquilino e os cabelos riscados de prata, formou-se diante dele.
– Lorde Vader, houve um incidente no estaleiro Yaga Menor.
– Que tipo de incidente, capitão?
 
Na ponte, as luzes dos computadores piscavam ou não, conforme a pulsação da nave e os gestos da
heterogênea tripulação mínima dos combatentes pela liberdade que controlavam as estações. Em pé, atrás da
pessoa no leme, Cham tava, de modo alternado, a holotela e o escâner enquanto recitava mentalmente a frase
que há tempos entalhara em seu cérebro, para que pudesse, sempre que necessário, ler e recordar:
Terrorista, não: combatente em prol da liberdade. Terrorista, não: combatente em prol da liberdade.
Cham lutava por seu povo e por Ryloth há quase uma década. Lutara por um Ryloth livre quando a República
tentara anexar o planeta e agora lutava por um Ryloth livre do Império que solapava seus recursos.
Um Ryloth livre.
A frase, o conceito, era o norte em torno do qual sua existência sempre giraria.
Porque Ryloth não era livre.
Como Cham temera nas Guerras Clônicas, um líder de Ryloth, bem-intencionado, dera lugar a outro líder,
menos bem-intencionado, e a República foi, pela alquimia da ambição, transformada em Império.
Chamavam Ryloth de protetorado imperial. Nos mapas estelares imperiais, o planeta natal de Cham era
listado como “livre e independente”, mas as palavras só poderiam ser usadas assim com ironia, pois o signi cado
estava de pernas para o ar.
Porque Ryloth não era livre.
Orn Free Taa, o obeso representante de Ryloth no parasítico e ritualístico senado imperial, corroborava as
absurdas alegações imperiais com aquiescência traiçoeira. Mas eis que Ryloth não tinha escassez de
colaboradores imperiais, nem de gente disposta a se deitar de barriga para cima diante dos stormtroopers.
E assim... Ryloth não era livre.
Mas seria um dia. Cham se encarregaria disso. Ao longo dos anos, ele recrutou e treinou centenas de pessoas
que pensavam como ele, a maioria deles, mas nem todos, Twi’leks. Cultivara contatos e simpatizantes em todo o
sistema de Ryloth, estabelecera bases escondidas, juntara equipamentos e suprimentos militares. Ao longo dos
anos, planejara e executara ataque após ataque contra os imperiais, ataques precisos e cautelosos, é verdade, mas
e cazes. Dezenas de imperiais mortos conferiram testemunho silencioso à crescente e cácia do movimento
Ryloth Livre.
Terrorista, não: combatente em prol da liberdade.
Repousou a mão no ombro da timoneira, sentiu a tensão nos músculos contraídos dela. Assim como a maior
parte da tripulação, assim como Cham, ela era Twi’lek, e Cham duvidava que já tivesse pilotado algo além de
pequenas saltadoras, com certeza nada que se comparasse ao cargueiro armado que pilotava agora.
– Só mantenha a nave em curso, timoneira – falou Cham. – Não vai ser preciso fazer nenhuma manobra
extravagante.
Em pé, atrás de Cham, Isval acrescentou:
– Tomara.
A timoneira soltou um suspiro e assentiu com a cabeça. Seus lekkus, o par de tentáculos que descia da nuca e
se bifurcava na altura dos ombros, relaxaram de leve, em sinal de alívio.
– Certo, senhor. Nada extravagante.
Isval deu um passo à frente, ao lado de Cham, e tou a holotela:
– Cadê eles? – resmungou, mostrando a irritação no azul-escuro da pele e no agitar dos lekkus. – Já são vários
dias sem contato.
Isval sempre resmungava. Dona de inquietude perpétua, nômade presa numa gaiola que só ela enxergava,
explorando seus limites para lá e para cá, sempre testando a solidez das barras. Ela o fazia recordar-se de sua
lha, Hera, de quem sentia uma falta tremenda quando se permitia esses momentos. Cham apreciava a ânsia de
Isval por movimento constante, por ação constante. Um servia de contraponto perfeito ao outro. Ela, impetuosa;
ele, ponderado. Ela, pragmática; ele, escrupuloso.
– Paz, Isval – murmurou Cham suavemente. Muitas vezes, ele dissera a mesma coisa a Hera. Apesar do tom
calmo, o seu estresse brotava no suor das mãos entrelaçadas nas costas. Ele observou os dados na tela da ponte de
comando. Quase na hora. – Ainda não estão atrasados. E se tivessem fracassado, a esta altura já saberíamos.
Ela retrucou rápido.
– E se tivessem conseguido, a essa altura também já saberíamos. Não é mesmo?
Cham balançou a cabeça, agitando os lekkus.
– Não necessariamente. Fugiriam em silêncio. Pok não se arriscaria a falar pelo comunicador. Também
precisaria se aproximar de um gigante gasoso para reabastecer. E talvez tenha precisado despistar perseguidores.
Tinham muito espaço a percorrer.
– Mas ele daria um sinal de vida – insistiu ela. – Talvez a nave tenha explodido na tentativa do sequestro.
Talvez estejam todos mortos. Ou coisa pior.
Falou aquilo bem alto e, diante dos consoles, vários tripulantes ergueram os olhares preocupados. Cham
pousou a mão no ombro dela:
– Talvez, mas não estão. Paz, Isval. Paz.
Ela fez uma careta e engoliu em seco, como quem tenta se livrar de um gosto ruim. Afastou-se e recomeçou a
andar para lá e para cá.
– Paz. Só os mortos têm paz.
Cham sorriu.
– Então que tal continuarmos em guerra só mais um tempinho?
Essas palavras a zeram parar e exibir um de seus meios sorrisos, e isso era o mais próximo que Isval chegava
de sorrir. Cham possuía só uma vaga ideia do que ela sofrera como escrava, mas algo lhe dizia que deveria ter
sido horrível. Ela enfrentara um longo caminho.
– Concentrem-se, pessoal – instruiu ele. – Fiquem atentos.
O silêncio logo preencheu todo o espaço vazio na ponte de comando. A esperança permaneceu suspensa no
silêncio – frágil, quebradiça, pronta para ser estilhaçada com uma palavra em falso. O implacável peso da espera
atraía constantemente os olhares às telas que mostravam o passar do tempo. Mas nada ainda.
Cham escondera o cargueiro nos anéis de um dos gigantes gasosos do sistema. Os minérios metálicos nos
fragmentos rochosos que formavam os anéis esconderiam a nave de quaisquer varreduras.
– Timoneira, leve-nos acima do plano dos anéis – ordenou Cham.
Mesmo em sistemas não mapeados, era arriscado tirar o cargueiro do abrigo dos anéis do planeta. As
credenciais da nave não passariam por uma ampla análise imperial, e havia sondas e vigias imperiais em todos os
lugares – era o imperador tentando con rmar seu controle na galáxia e reprimir quaisquer rebeliões. Se eles
fossem notados, teriam de fugir.
– Ampliar a tela quando a visão clarear.
Mesmo ampliada, a tela mostrava muito menos do que os sensores de longo alcance, mas Cham precisava ver
com os próprios olhos e não apenas se basear nas leituras.
Isval deu um passo e cou ao lado dele.
A nave guinou para cima das faixas de gelo e rocha, e a imagem ampliada na tela mostrou a orla exterior. Em
órbita ao redor da opaca estrela do sistema, havia um só planetoide, ermo e longínquo. No breu do rmamento,
piscavam incontáveis estrelas. Anos-luz a estibordo, uma nebulosa sarapintava uma fatia de espaço sideral com a
cor de sangue.
Cham mirou a tela como se fosse possível atrair os companheiros no hiperespaço apenas com pura
determinação. Supondo que tivessem conseguido saltar. Toda a operação envolvia um risco enorme, mas Cham
calculara que valeria a pena garantir mais armamentos pesados e obrigar o Império a desviar alguns recursos para
longe de Ryloth. Também pretendia fazer uma declaração contundente, enviar uma mensagem inequívoca de
que ao menos alguns dos Twi’leks de Ryloth não aceitariam paci camente o jugo imperial. Queria ser a faísca a
atear fogo em toda a galáxia.
– Vamos lá, Pok – ele sussurrou e, sem querer, contraiu os lekkus, revelando seu estresse. Conhecia Pok há
anos e se considerava amigo dele.
Em voz baixa, Isval des ava um rosário de palavrões twi’leks.
Cham não tirava o olhar da tela. A hora combinada chegou. Cada minuto que passava diminuía a esperança
da tripulação. Suspiros pesados e lekkus prostrados em toda a nave.
– Paciência, pessoal – disse Cham em tom suave. – Vamos esperar. Vamos continuar esperando até saber.
– Vamos esperar – a rmou Isval com um aceno de cabeça. Andou para lá e para cá no deque, tando a holotela
que teimava em mostrar algo que ela não queria enxergar.
O tempo demorava a passar. A tripulação se remexia em seus lugares, trocava olhares discretos de desânimo.
Cham precisava se controlar para não apertar a mandíbula.
O silêncio foi quebrado pela engenheira de varredura.
– Captei algo! – exclamou ela.
Cham e Isval correram ao escâner. Todos os olhares os seguiram.
– É uma nave – informou a engenheira.
Um rumor de satisfação e alívio percorreu a tripulação da ponte de comando. Cham quase pôde escutar os
sorrisos. Observou o monitor.
– É uma fragata imperial – disse ele.
– É a nossa fragata imperial – completou Isval.
Na ponte, alguns membros da tripulação comemoraram em silêncio.
– Permaneçam a postos – orientou Cham, sem conter um sorriso.
– Mais perto agora – avisou a engenheira. – São eles, senhor. São eles! Estão entrando em contato.
– Avisem a equipe de descarga – falou Cham. – Temos que baldear aquelas armas e destruir aquela nave tão
logo...
Um crepitar de estática e, em seguida, a voz tensa de Pok.
– Fujam daqui agora mesmo! Vão embora!
– Pok? – indagou Cham, enquanto a alegria dos tripulantes se transformava em preocupação. – Qual é o
problema, Pok?
– É o Vader, Cham. Saiam daqui agora! Tentamos despistar nossos perseguidores. Fomos saltando de sistema
em sistema para confundi-los. Tentamos despistá-los, mas continuam em nosso encalço. Fuja, Cham!
A engenheira tou Cham, o tom da pele lavanda tornando-se azul-escuro nas bochechas.
– Mais naves se aproximam no hiperespaço, senhor. Mais de uma dúzia, todas pequenas. – A voz dela cou
tensa ao dizer: – Provavelmente, cruzadores V-wings. Talvez interceptadoras.
Cham e Isval xingaram em uníssono.
– Todos a postos! – ordenou Cham.
 
Em sua interceptadora Eta personalizada, Vader liderava a esquadrilha quando o túnel revestido de estrelas
do hiperespaço deu lugar ao breu do espaço comum. Com uma rápida varredura, localizou a fragata que
transportava o carregamento de armas e que havia sido sequestrada. Eles a perseguiram por vários sistemas,
enquanto a nave fugitiva tentava alcançar a Orla. A esquadrilha se desacoplou dos anéis do hiperespaço.
A fragata fortemente armada mostrava danos leves de raios na popa, junto ao propulsor triplo, atrás do
abaulado núcleo do setor de carga.
– Formação de ataque – ordenou Vader, e os outros pilotos da esquadrilha obedeceram ao comando e
adotaram a formação.
Imaginando que os sequestradores talvez tivessem saído do hiperespaço para atrair a esquadrilha a uma cilada,
fez uma rápida varredura em todo o sistema. O conjunto de sensores da interceptadora, que não era dos mais
sensíveis, só mostrou dois colossais gigantes gasosos, anelados, cada qual com vinte ou mais luas, um cinturão de
asteroides entre os planetas e a estrela do sistema, além de planetoides no exterior do sistema. Afora isso, o
sistema parecia um remanso desabitado.
– A varredura não mostra outras naves no sistema – a rmou Vader.
– Con rmado – respondeu o comandante da esquadrilha.
A voz de um dos pilotos surgiu no comunicador:
– Estão se preparando para outro salto, Lorde Vader!
– Sigam-me – ordenou Vader, acelerando para velocidade de ataque. – Não permitam um novo salto.
Os V-wings e a interceptadora de Vader eram bem mais velozes e manobráveis do que a fragata e a alcançaram
rápido, devorando o espaço que os separava. Vader nem se dava ao trabalho de conferir os instrumentos. Como
sempre, mergulhou na Força, voando por instinto.
Antes mesmo de a interceptadora e os V-wings chegarem ao alcance dos canhões de raios, um dos motores da
fragata tossiu uma bolha de chama azul e se apagou. Os sequestradores tinham sobrecarregado a fragata em sua
tentativa de fuga.
– Destruam os escudos de etores e desabilitem os outros dois propulsores – ordenou Vader. Desabilitar os
motores impediria outro salto no hiperespaço. – Não destruam aquela nave.
A artilharia mais pesada da fragata, com mais alcance, abriu fogo antes que a interceptadora e os V-wings
tivessem alcance de raio.
– Fogo aberto! Esquivem – avisou o líder da esquadrilha quando as barbetas automatizadas da fragata
preencheram o espaço entre as naves com plasmas verdes. A esquadrilha desviou e rodopiou num mergulho.
Vader não só enxergava os raios da fragata, como também os sentia. Deu uma guinada à esquerda, outra à
direita, depois mergulhou alguns graus para baixo, ainda colado à fragata. Um dos V-wings à sua esquerda foi
atingido por um feixe verde. Com a asa fragmentada, a nave girou em chamas sistema adentro.
As torretas maiores, tripuladas, rotatórias, montadas nas laterais da fragata, giraram e abriram fogo, espessas
pulsações de plasma vermelho.
– Distância – disse o capitão no comunicador. – Mais distância!
Uma explosão de plasma escarlate atingiu em cheio um dos V-wings e o vaporizou.
– Concentrem fogo nos de etores – ordenou Vader, fazendo a interceptadora rodopiar, deslizando entre os
raios vermelhos e verdes até atingir alcance. Disparou, e seus canhões enviaram feixes gêmeos de plasma nos
escudos da popa. Angulou o disparo para maximizar a de exão. Não queria perfurá-los e dani car a nave; apenas
esgotá-los e desativá-los.
O restante da esquadrilha fez o mesmo, atingindo a fragata de vários ângulos. Ela balançou sob o violento
ataque, os escudos de etores coruscando sob a carga de energia, visivelmente enfraquecendo a cada raio. Os
caças da esquadrilha ultrapassaram a fragata, cujos raios verdes e vermelhos os perseguiam sem cessar.
– Mantenham distância, esquivem e circulem para um novo ataque – orientou o capitão. – Dividam a
esquadrilha e venham por baixo.
As naves se desprenderam à direita e à esquerda, circulando para trás e para baixo, e se precipitaram em outro
vetor de interceptação. Vader desacelerou o su ciente para car na retaguarda e ordenou:
– Derrube os escudos nesta volta, capitão. Tenho algo em mente.
 
Pok deixou o canal aberto, de modo que Cham e sua tripulação pudessem ouvir a atividade a bordo da ponte
de comando da fragata sequestrada: Pok esbravejando ordens, alguém anunciando os vetores de ataque dos V-
wings, o estrondo dos raios nos escudos de etores.
– Pok! – exclamou Cham. – Podemos ajudar!
– Não! – disse Pok. – Já perdemos um propulsor. Não podemos ativar a hiperpropulsão ainda, e há um destróier
estelar em algum lugar atrás desses V-wings. Não há nada que você possa fazer por nós, Cham. – A um dos seus
tripulantes, Pok bradou: – Recupere a hiperpropulsão!
Uma explosão enviou um crepitar de estática e um guincho agudo ao longo do canal. Alguém gritou na ponte
da fragata de Pok:
– Escudos em 10%.
– Hiperpropulsão ainda não operacional – avisou outra pessoa.
Isval agarrou Cham pelo braço, com ímpeto su ciente para machucá-lo, e falou em voz baixa e rouca:
– Temos de ajudá-los.
Mas Cham não vislumbrava como. Se ele abandonasse a proteção dos anéis, os V-wings, as interceptadoras,
sejam lá quem fossem, os captariam na varredura, e Cham não tinha ilusões sobre a capacidade da timoneira
nem da nave caso eles fossem descobertos.
– Não. – Então Cham disse à timoneira: – Fique parada.
 
Vader assistiu à fragata desviar a bombordo, adotando um ângulo que permitia que as duas torretas laterais
disparassem contra os caças que se aproximavam. Tão logo entraram no alcance da fragata, as barbetas
automatizadas e as torretas tripuladas abriram fogo, preenchendo o espaço com feixes de plasma superaquecido.
Os V-wings arremeteram e se esquivaram, espiralando através da rede de energia rubroesmeraldina.
Na retaguarda, Vader pilotava sua nave em meio aos raios, acima deles, abaixo deles. Um terceiro V-wing foi
atingido por uma torreta de artilharia e explodiu, salpicando com detritos a cúpula da cabine de Vader
enquanto ele atravessava as chamas.
Quando os V-wings obtiveram alcance, abriram fogo, derrubando os de etores da fragata quase de imediato.
– Escudos derrubados, Lorde Vader – relatou o líder da esquadrilha.
– Eu pego os propulsores – falou Vader. – Destruam as barbetas e a torreta de estibordo.
Os pilotos da esquadrilha dele, selecionados pela excelência em pilotagem e por um comprovado recorde de
missões bem-sucedidas, cumpriram a ordem à risca. Pequenas explosões iluminaram o casco, e os locais de
armamento desapareceram em pétalas de fogo. A fragata sacudiu com o impacto, enquanto os V-wings
precipitavam-se na sua direção, passavam por cima dela e davam meia-volta.
Nesse meio-tempo, Vader desviou à esquerda e para baixo, aproximou-se dos propulsores e disparou uma, duas
vezes. Explosões abalaram a popa da fragata, e pedaços dos propulsores rodopiaram espaço afora. Explosões
secundárias sacudiram a nave, que, apesar disso, manteve-se intacta. Vader reduziu ainda mais e seguiu a
fragata.
– Agora ela avança pela inércia, senhor – comentou o capitão da esquadrilha. – Quando a Perigo chegar, ela
pode tracionar a fragata a um de seus compartimentos.
– Não pretendo deixar os sequestradores a bordo por tanto tempo – disse Vader. Sabia que eles tentariam
explodir a nave, e havia armas su cientes no setor de carga para fazer exatamente isso. – Vou abordá-la.
– Senhor, o grampo de atracagem da fragata está muito dani cado e não há plataforma de pouso – avisou o
capitão da esquadrilha.
– Sei disso, capitão – falou Vader.
A única torreta de artilharia restante – operada por um dos sequestradores – girou e abriu fogo contra a nave
de Vader. Ainda usando a Força como guia, Vader lançou sua nave para os lados, para cima e para baixo, cando
à frente dos raios enquanto mergulhava rumo à torreta. Pôde, por meio da rede da Força, enxergar o artilheiro
dentro da cúpula transparente, sentir sua presença, insigni cante e pequena.
– Senhor... – disse o comandante quando a esquadrilha de V-wings circulou por trás, mas Vader não respondeu
ao chamado.
Vader apertou um botão, despressurizou a cabine da interceptadora e a armadura o protegeu do vácuo. Ao se
aproximar da linha média da nave inimiga, ainda ziguezagueando para se esquivar da intensa artilharia,
escolheu um ponto na fragata, ao lado da torreta giratória e, utilizando-se da Força, assumiu o rme controle
daquele ponto.
Sua interceptadora passou como um raio em direção à torreta canhoneira, mirando diretamente nela.
Contente com a trajetória, Vader desconectou o cinto de segurança, desativou as seguranças da interceptadora,
empurrou a tampa da cabine para trás e ejetou-se no espaço.
Logo passou a rodopiar em gravidade zero, a nave e as estrelas alternando posições com rapidez. Ainda
manteve o domínio mental sobre o manípulo da câmara estanque, e sua armadura, lacrada e pressurizada, o
sustentou no vácuo. O respirador soava alto em seus ouvidos.
A nave dele se chocou contra a torreta de artilharia e com a fragata. Como o som não se propaga no vácuo, a
colisão ocorreu em tenebroso silêncio. O fogo chamejou por um átimo, só até o vácuo extingui-lo. Fragmentos
de detritos explodiram rumo ao espaço, e a fragata adernou.
 
Um grande estrondo ecoou pela conexão. Alarmes soaram, e uma balbúrdia de vozes sobrepostas explodiu na
ponte de Pok.
– Pok, o que foi isso? – indagou Cham. – Vocês estão bem?
– Tivemos uma colisão. Estamos todos bem. Qual a situação dos danos? – perguntou Pok a alguém na ponte. –
Mande alguém lá agora.
 
– Senhor! Senhor! – chamou o capitão da esquadrilha, a voz frenética no comunicador do capacete de Vader. –
Lorde Vader! O que está acontecendo, senhor?
Vader respondeu com a voz calma.
– Estou abordando a fragata, capitão.
Usando a Força, Vader parou de rodopiar e mergulhou rumo ao grande e disforme rombo fumegante que sua
interceptadora havia aberto no casco da fragata. Mangueiras soltas e os elétricos pendiam nas bordas do rombo,
vazando gases e lançando faíscas para o espaço. Uma parte da asa da nave dele sobrevivera ao impacto e estava
encravada na antepara. O resto tinha se vaporizado no impacto.
Vader embrenhou-se na destruição até se deparar com os restos de um corredor despressurizado. Pedaços de
metal e material eletrônico cobriam o deque estilhaçado, fumegando com o calor do impacto. Os V-wings
zuniram perto da fragata, visíveis através do rombo na antepara.
– Senhor? – indagou o comandante da esquadrilha.
– Tudo sob controle, capitão – disse Vader.
Vários membros da esquadrilha de caças sussurraram interjeições de admiração em seus comunicadores.
– Mantenham a disciplina de comunicação – esbravejou o líder da esquadrilha, mas Vader percebeu a
incredulidade no tom dele, também. – Meu senhor... há dezenas de sequestradores a bordo da fragata.
– Não por muito tempo, capitão – retorquiu Vader. – Agora você está em missão de escolta. Vou avisar se algo
mais for necessário.
Uma pausa e em seguida:
– Claro, senhor.
As travas automáticas tinham lacrado o corredor com uma porta antiexplosão, mas ele sabia os códigos para
desativá-las. A passos largos, andou pela nave destruída e inseriu o código. A enorme porta deslizou; o ar
pressurizado da ponte derramou-se num silvo. Vader avançou e fechou a porta atrás de si. Com novos toques no
computador embutido na parede, repressurizou o corredor. Nos alto-falantes das paredes, soou um alarme
estridente, avisando sobre a ruptura do casco da fragata.
Do outro lado do corredor, uma comporta se abriu e revelou um Twi’lek de pele roxa numa armadura
improvisada. Ao deparar com Vader, os lekkus do Twi’lek se contorceram, os olhos se arregalaram, e ele sacou a
arma de raios do cinturão. No instante em que o Twi’lek apertou o gatilho, Vader já estava com o sabre de luz
em riste. Assim, fez o raio ricochetear na parede, ergueu a mão livre e aplicou a Força. Com um movimento de
pinça dos dedos indicador e polegar, usou a Força para espremer a traqueia do Twi’lek.
Em frenesi, o Twi’lek levou a mão à garganta enquanto o poder de Vader o suspendia no ar; num instinto
derradeiro, agarrou a arma, e engasgando, quase morrendo, mirou e disparou contra Vader, e disparou, e
disparou. Vader só manteve seu aperto na garganta do alienígena enquanto, sem esforço algum, rebatia com o
sabre de luz os raios na direção da antepara. Logo, sem querer perder tempo, movimentou horizontalmente a
mão erguida, usando a Força para estraçalhar o Twi’lek contra a antepara. O impacto moeu o esqueleto do
alienígena e Vader deixou o corpo cair no deque. Uma voz surgiu no comlink do cinturão do Twi’lek.
– Tymo! Tymo! O que está havendo aí? Câmbio! Está me ouvindo?
Vader desativou o sabre de luz, pegou o comlink, abriu o canal e deixou o som de seu respirador transitar pela
conexão.
– Quem é você?
Vader respondeu apenas com a respiração.
– Tymo, é você? Está bem?
– Agora estou indo pegar vocês – disse Vader.
Cerrou o punho, esmagando o comunicador, reacendeu o sabre de luz, deu um passo sobre o Twi’lek morto e
enveredou no corredor.
Cham e Isval trocaram um olhar de sobressalto. Eles tinham escutado a conversa pelo canal aberto.
Conheciam o som do respirador.
– Será que...? – quis saber Isval.
– Vader – disse Cham. – Só pode ser. Pok?
– Concordo – emendou Pok. – Só pode ser Vader.
Conheciam a reputação de Vader.
Um silêncio sepulcral recaiu na ponte de comando.
– O que sabemos sobre ele? – sussurrou Cham a Isval.
Ela sacudiu a cabeça, os lekkus se contorcendo de agitação.
– Não muito. Relatos de segunda ou terceira mão. Os o ciais normais o odeiam, mas os stormtroopers
praticamente o veneram.
– Como ele subiu a bordo da nave de Pok?
Isval deu de ombros. Parou de andar para lá e para cá. Mau sinal.
– Dizem que ele é capaz de coisas que ninguém mais consegue fazer. Todo mundo tem medo dele. Isso é
ruim, Cham.
– Eu sei.
O olhar de Cham acompanhou os olhos de Isval, xos na tela. Claro, eles não enxergavam a fragata
sequestrada, mas Cham podia vê-la com a imaginação. E agora imaginava Vader a bordo.
– Situação, Pok.
Por um instante, Pok não respondeu. Talvez a atenção dele estivesse em outra coisa. De repente, disse:
– Os propulsores estão mortos, Cham. As armas estão destruídas. Parece que alguém... deu um jeito de abordar
a nave. Você ouviu o som.
– Como ele fez a abordagem? – indagou Cham. – Está sozinho?
– Sei lá – disse Pok e, em seguida, acrescentou para alguém na ponte: – Preciso dessa informação agora. – E
continuou: – Cham, somos 26 tripulantes. Podemos lutar. Ao menos, fazê-los pagar.
– Pok... – começou Cham, mas Pok lhe poupou a necessidade de falar.
– Não se preocupe. Ninguém vai nos capturar. Minha tripulação sabia dos riscos quando se voluntariou à
missão. Infelizmente não podemos nos autodestruir com os propulsores desativados, mas enviei um grupo de
elite ao porão de carga. Lá, podemos usar as armas para compensar a falta de energia... O quê? Só um pouco,
Cham. – Uma conversa inaudível ao fundo, depois a voz de Pok: – Bem, mande-os subir. Agora mesmo.
Uma pausa e, em seguida, alguém no fundo disse:
– Não respondem, Pok.
Cham silenciou o comunicador e disse à engenheira:
– Mantenha-nos ocultos e me informe imediatamente se um daqueles V-wings ameaçar vir em nossa direção.
Embora soubesse que os V-wings não tinham sensores de longa distância, Cham posicionara o cargueiro na
borda dos anéis. Até mesmo os V-wings o detectariam caso se aproximassem o su ciente.
– Sim, senhor – respondeu a engenheira. – Parece que estão mantendo a formação em torno da fragata que
transporta as armas.
– Não podemos simplesmente deixar que Pok se mate – disse Isval com a voz tensa. – Vamos até lá ajudá-los.
Depois conseguimos fugir.
– A nave deles está morta no espaço – falou Cham e logo se arrependeu da escolha de palavras.
– Cham...
Cham a ignorou e reativou a conexão.
– Pok?
Pok limpou a garganta. Silêncio na ponte da nave dele.
– Perdi a equipe enviada ao porão, Cham. Não sei o que houve. Ninguém atende. Acho que Vader os
interceptou.
Cham cerrou o punho, mas manteve a calma.
– Entendido.
Com os dentes semicerrados, Isval enfatizou devagar:
– Temos que ajudá-los.
Cham emudeceu a conexão e se virou, com a paciência esgotada.
– Ajudá-los como, Isval? Estão sem motores e cercados! Mesmo se destruíssemos todos os V-wings, e você sabe
que não conseguiríamos, levaria tempo para transferi-los da fragata à nossa nave. Há um destróier estelar a
caminho e um... homem a bordo, que eliminou sozinho o grupo de elite de Pok!
Isval não se intimidou com o desabafo dele. Os demais membros da tripulação afundaram os rostos nos
consoles.
– Vader não é um homem – a rmou ela de modo sucinto. – Não a julgar pelo que contam dele.
– Sim, ele é – retorquiu Cham, em alto e bom som, para toda a equipe da ponte de comando ouvir. – Tem de
ser. E não há nada que a gente possa fazer. Se tentarmos algo, também vamos morrer. Pok sabe disso; todos sabem
disso. E nós também. – Vergou o corpo e tou a holotela. – Não gostamos, mas todos sabemos disso.
A voz de Pok surgiu pelo comunicador.
– Cham está certo, pessoal. Sabíamos do perigo. Corremos os riscos de boa vontade.
Cham soltou um xingamento. Pensava que havia cortado a conexão.
– Pok, me desculpe – disse com a voz embargada. – Achei que...
– Sei – disse Pok e riu... muito. – É Isval que está ao seu lado?
– Sim, Pok – con rmou ela.
– Já percebi. Como sempre, bufando como uma tempestade de areia – comentou Pok. – Isso é ótimo. Ainda
bem que podemos nos despedir. Não deixe o Cham sair da rota, certo? Às vezes, ele é tão íntegro que se esquece
de cuidar de seu próprio bem.
– Não precisa ser uma despedida – disse Isval, encarando Cham.
– Precisa, sim. Mas primeiro vamos tentar matar este Vader. Preparei uma emboscada...
Alguém na ponte de Pok avisou:
– Raios disparados no corredor principal da ponte, senhor.
Por um momento, ninguém falou em nenhuma das pontes de comando. O tempo demorou a passar. De
repente, ao fundo, alguém falou na ponte de Pok. Cham não conseguiu distinguir.
– Situação? – indagou Pok a um tripulante da ponte.
– Ninguém responde.
– Será possível? Tínhamos uma equipe de oito homens à espera dele! O que está acontecendo lá fora?
– O elevador da ponte está chegando! – exclamou outro membro da tripulação de Pok.
Pok falou no comunicador, a respiração ofegante, como se estivesse bem perto do microfone.
– Cham, vamos matar Vader e explodir a nave. Ninguém vai nos capturar vivos.
– Pok... – começou Cham.
– Foi uma honra – disse Pok. – A luta continua. Para todos vocês.
Alguém na ponte de Pok gritou:
– Por um Ryloth livre! – Os demais tripulantes ecoaram o brado.
Isval apertava o braço de Cham tão forte que a mão dele se tornou dormente. Encarou o comunicador aberto
como se contivesse um signi cado secreto, algum mistério oculto que pudesse discernir, capaz de salvar Pok e
todos os outros. Mas não havia nada.
Os demais tripulantes permaneceram sentados, em silêncio, em suas estações, cabisbaixos, apenas ouvindo.
– Está se abrindo! – disse alguém na ponte de Pok.
Um estrondo de raios soou pela conexão, mas só por um momento fugaz. Seguiu-se o silêncio.
– Não há ninguém – disse uma voz. – O elevador está vazio.
– Con ra – ordenou Pok. – Ele continua a bordo, em algum lugar...
Subitamente, um chiado, um zumbido, gritos, um baque, o estrondo de vários raios disparados, um zunido
prolongado, subindo e descendo, uma sequência de berros e gritos.
– Pok! – exclamou Isval. – Pok!
Cham soltou um resmungo.
– O que está acontecendo lá? – quis saber Isval. – Que som é esse?
O crescente zunido suscitou lembranças do fundo da mente de Cham. Ele observou:
– É um sabre de luz.
O som dos sabres havia sido gravado em sua cabeça durante as Guerras Clônicas, quando os Jedi os brandiam:
os Jedi faziam coisas, como Vader, que outros seres comuns não conseguiam fazer. Mas já não existiam os Jedi e
já não havia a República. Só havia Vader e o Império.
Outro baque, depois outro. Mais gritos assustados. Só duas ou três armas disparavam raios, e, em meio à
relativa quietude, outro ruído surgiu no comunicador: uma respiração alta, como se ampli cada por meio de um
alto-falante ou respirador. A respiração de Vader.
– O que é isto? É o Vader? – indagou Isval, resfolegante.
Cham se apressou para fechar a conexão na sua ponta.
Mais gritos, a queda de algo pesado e ainda o oscilante zunido do sabre de luz.
– Por Ryloth! – gritou Pok, e o som de rápidos disparos de raios preencheu a comunicação.
O zunido do sabre de luz aumentava e diminuía, e Cham imaginou Vader desviando os raios disparados com
a lâmina. Ele já tinha visto isso antes. De repente, os disparos cessaram. Pelo comunicador, ouviu-se um suspiro
arfante: Pok, sendo as xiado.
– Ele está estrangulando o Pok! – gritou Isval.
O sufocamento durou instantes que pareceram horas, a respiração ampli cada de Vader fazendo o
contraponto aos moribundos arquejos de Pok. Cham sabia que devia cortar a conexão, mas não conseguiu. Se a
cortasse, teria a sensação de abandonar Pok duplamente.
– Conte o que eu quero saber – disse uma voz profunda, a voz de Vader. – E sua morte será mais fácil.
Ouviram um suspiro a ito e uma inalação profunda, seguido por Pok xingando Vader em twi’lek.
– A escolha é sua – disse Vader.
Novo aperto, até que Pok arfou pela última vez e calou-se. Então soou um baque, algo pesado, mas macio,
caindo no deque.
Isval deixou escapar um palavrão. O coração de Cham martelava entre as costelas, mas ele não disse nada. Não
havia nada a ser dito. Um único som vinha pelo comunicador: a respiração de Vader.
– Corte a linha, Cham! – gritou Isval.
Cham encarou o comunicador aberto, mas desligado na ponta de Cham. A respiração de Vader foi
aumentando, como se ele tivesse apanhado o comunicador para estudá-lo ou segurá-lo perto do rosto. A
respiração. A respiração.
– Corte, Cham! – gritou Isval.
Cham percebeu que trancava o fôlego. Parecia incapaz de respirar.
Só existia a respiração de Vader, pendular. Forte. Sinistra.
Por m, Cham recuperou o autocontrole e exalou, pensando em Pok, nos horríveis arquejos, nos últimos sons
emitidos pelo amigo.
– Seus aliados estão mortos – disse Vader, e as palavras zeram Cham se encolher.
Com um movimento brusco, Isval desligou o comunicador.
Silêncio.
– Cham, temos de ir – disse ela. – Agora mesmo.
Mas Cham já sabia que era tarde demais. Se tentassem fugir do sistema agora, terminariam exatamente como
Pok e sua tripulação: perseguidos, capturados e executados.
Como ele não respondeu, Isval disse à timoneira:
– Tire-nos daqui.
Isso despertou Cham.
– Desconsidere! – E para Isval, sussurrou suavemente: – É tarde demais para isso. Eles vão nos detectar.
– Os V-wings estão se dispersando, senhor – relatou a engenheira. – Parece que iniciam uma varredura. Outra
nave está entrando no sistema. Um destróier estelar.
Suspiros em uníssono. Todos os olhares recaíram em Cham. Aguardavam ordens, aguardavam salvação. Pok,
eliminado; o feitiço, quebrado; e Cham não hesitou.
– Leve a nossa nave aos anéis centrais. Vamos nos camu ar de rocha, timoneira. Mínimo suporte à vida.
Reduza tudo. Vamos apenas utuar.
– Se desligarmos os propulsores, vai ser impossível fugir se nos detectarem – ponderou Isval. – Até religarmos
os motores...
– Não há como fugir, Isval – falou Cham com naturalidade. – É se esconder ou morrer. Obedeça, timoneira.
A timoneira assentiu com a cabeça e cumpriu a ordem. A nave mergulhou profundamente nos anéis, e a
holotela se preencheu de blocos de gelo e pedra esburacados e irregulares, todos girando e rodopiando.
– Desligue os propulsores – ordenou Cham.
– Sim, senhor – disse a engenheira, e as luzes da ponte e a holotela se apagaram.
As opacas luzes auxiliares lançaram a ponte de comando numa suave penumbra alaranjada. Os rostos
sombreados da tripulação se entreolhavam, miravam o teto e as anteparas.
Pedaços de gelo e rocha atritavam contra o casco. Com o mínimo suporte à vida, a temperatura começou a
cair rapidamente. Mas isso não ameaçaria a vida, apenas a tornaria desconfortável.
Cham preocupava-se mais com a possibilidade de a nave sofrer um impacto de alta velocidade contra uma das
pedras maiores ou os fragmentos de gelo. O casco podia suportar choques, mas não era invencível, e, se a nave
começasse a ricochetear entre os anéis, ele não teria outra escolha a não ser acionar a propulsão.
– Firme agora, pessoal – avisou.
Alguns tripulantes inclinaram a cabeça; outros taram a holotela em branco. A tensão era pior do que o frio.
Em poucos minutos, Cham conseguia ver o próprio hálito no ar. Tentou não tremer. Caminhou de tripulante em
tripulante, tocando ombros, costas, sussurrando para carem à vontade. Por m, terminou a volta em Isval e
falou com ela calmamente.
– Eu devia ter cortado a comunicação. Nos coloquei em risco.
Isval não se deu ao trabalho de ser condescendente.
– Tomara que tenha a chance de repetir o erro.
– Aquilo foi... difícil de ouvir.
– Sim – concordou ela.
– É a última vez que vamos nos esconder de Vader – disse-lhe Cham.
Ela o encarou nos olhos e assentiu com a cabeça.
Um impacto abalou a nave, e a tripulação soltou uma exclamação. A timoneira quase caiu do assento, mas
usou o painel de instrumentos para permanecer em seu posto. Não houve impactos secundários.
– Só uma rocha – opinou Isval. – Calma, gente. Se esse destróier estelar nos pegar, vamos estar mortos antes de
sentir algo.
– Sabe motivar as pessoas – ironizou Cham, e Isval abriu um de seus meios sorrisos, ou talvez um quarto de
sorriso.
Sentaram-se em silêncio por um longo tempo, a esperança aumentando a cada minuto. Logo, a tripulação
voltou a respirar sossegada.
– Acho que é tempo su ciente – avaliou Cham. – Ligue a propulsão, timoneira.
Apesar do tempo transcorrido, a tensão tomava conta da tripulação à medida que os sistemas eram reativados.
Se quaisquer naves imperiais estivessem por perto e zessem uma varredura, o cargueiro apareceria nos sensores
deles imediatamente. As luzes e a holotela se reacenderam, os propulsores funcionaram e eles rumaram para fora
dos anéis. Em poucos instantes, os anéis deram lugar ao negror do sistema.
– Nada nos sensores – informou a engenheira.
A holotela mostrava um sistema vazio. Nem sinal dos V-wings, do destróier estelar, de Pok e sua tripulação.
Como se nada tivesse acontecido.
– Leve-nos de volta a Ryloth – ordenou Cham.
Ele se acomodou ao lado de Isval quando a nave saiu do poço de gravidade do gigante gasoso e acionou a
hiperpropulsão.
– Chega de meias medidas – falou ele. – Vamos car atentos, mas com objetivos elevados.
Isval se agarrou à primeira parte da a rmação dele e ecoou:
– Chega de meias medidas. Tudo certo, senhor.
Os pontos das estrelas se transformaram em linhas, e o negror do espaço rendeu-se ao azul do hiperespaço.
 
Em pé, atrás do trono de seu mestre, Vader esperava na penumbra da sala de recepção, no planeta-cidade
Coruscant. O ritmo constante do respirador marcava a passagem dos minutos. Dois membros da Guarda Real,
cobertos da cabeça aos pés com a armadura vermelha indicativa de sua ordem, anqueavam a porta. Cada um
portava um cassetete de energia. Vader sabia que cada capa carmesim escondia uma robusta arma de raios, uma
vibroadaga e várias outras armas. Enormes janelas descortinavam a silhueta dos prédios de Coruscant; inúmeras
naves zuniam perto dos pináculos de vidro, metal e concreto da megalópole. O sol lançava as últimas luzes no
horizonte, lavando o terreno de laranja e vermelho.
Sentado no trono, em silêncio, o imperador parecia absorto em pensamentos. Mas Vader, em pé atrás do
trono, não se deixava enganar. Seu mestre nunca estava absorto em pensamentos. O pensamento do imperador
superava o tempo e a distância de uma forma que nem mesmo Vader entendia completamente, permitindo-lhe
antecipar e se preparar para contingências que os outros não percebiam. Vader almejava aprender a técnica um
dia, contanto que não matasse seu mestre primeiro.
Logo após destruir os Jedi, o imperador alertara Vader: um dia, ele caria tentado a matá-lo. Contara que a
relação entre aprendiz e mestre Sith era simbiótica, mas com equilíbrio delicado. O aprendiz devia ao mestre
lealdade. O mestre devia ao aprendiz sabedoria, demonstrada apenas pelo poder. Só que as obrigações eram
recíprocas e contingentes. Se um deles não cumprisse a obrigação, o dever do outro era destruí-lo. A Força exigia
isso.
Desde antes das Guerras Clônicas, o mestre de Vader nunca mostrou nada além de poder, e então Vader não
tencionava mostrar nada além de lealdade. Dessa forma, seu governo mútuo estava seguro.
Talvez Vader tentasse matar seu mestre um dia. Os aprendizes Sith normalmente faziam isso. Precisavam fazê-
lo, se fossem bem treinados. O aprendiz mantinha-se inquestionavelmente leal até deixar de sê-lo. Os dois –
mestre e aprendiz – sabiam disso.
“Mas nossa relação é diferente, mestre”, dissera Vader na ocasião.
“Talvez”, respondera o seu mestre. “Talvez.”
Ou talvez se iludir fosse parte do treinamento incutido pelo mestre no aprendiz.
– Seus pensamentos estão agitados, meu amigo – disse o imperador, a voz alta quebrando o silêncio.
Muitas vezes, o imperador o chamava de amigo, e talvez o fossem, em certo sentido, embora Vader percebesse
um objetivo no uso do termo. Achava que o mestre usava um termo que pudesse usar com um colega para
enfatizar que mestre e aprendiz não eram, na verdade, colegas.
– Não, meu mestre. Agitados, não.
O imperador deu uma risadinha que virou uma gargalhada.
– “Agitados” é eufemismo. Seus pensamentos estão turbulentos.
Virou-se no trono e encarou o aprendiz, e o olhar dele faiscou no recesso sombreado do capuz.
– Re ete sobre a natureza do poder, não é mesmo?
Vader nunca mentia ao mestre. E sabia que o mestre só fazia perguntas de alcance, cuja reação revelasse mais
do que as palavras.
– Sim.
O imperador deu as costas a Vader, num gesto calculado.
– Compartilhe seus pensamentos, meu aprendiz.
Vader não hesitou.
– Pensava nas aulas que o senhor me deu sobre o relacionamento de um mestre Sith e seu aprendiz.
– E...? – perguntou o mestre.
Vader ajoelhou-se numa das pernas e fez uma reverência.
– E eu noto o seu poder em toda a minha volta, meu mestre.
– Ótimo – disse o imperador. – Excelente.
Em seguida, Vader levantou-se e cou a postos, atrás do mestre.
Juntos aguardaram a chegada de Orn Free Taa, o representante fantoche de Ryloth. Vader não sabia o objetivo
da audiência. Seu mestre revelou apenas o que ele precisava saber.
Pouco depois, os dois membros da Guarda Real, sem dúvida alertados sobre a chegada iminente do senador
pelos comlinks em seus capacetes, foram se aproximando para abrir a porta de folha dupla. Mas, antes de
tocarem nela, o imperador fez um gesto com o dedo e abriu as portas com a Força. A luz da antecâmara
retroiluminou a avantajada silhueta do corpulento senador Twi’lek. Permaneceu parado por um momento, como
que imobilizado pelo olhar do imperador, ou talvez apenas arranjando coragem para entrar.
– Entre, senador – ordenou o imperador, com a voz que ele usava ao tentar desarmar algo pequeno, fraco e
facilmente assustado.
– Claro, claro – falou Taa, entrando na sala gingando. Passou pelos guardas com um olhar de esguelha e
desacelerou o passo quando ouviu as portas se fecharem atrás dele.
Diante do trono, com o manto bordado, fez a mesura mais curvada que seu corpanzil permitia.
– Imperador Palpatine – murmurou ele.
O suor reluzia nas rugas da pele azulada, e o olhar nervoso dançava entre Vader e o imperador. Resfolegava
tão alto que praticamente acompanhava os sons do respirador de Vader.
– Como vai, meu amigo? – quis saber o imperador.
– Muito bem – falou Taa esbaforido. E logo acrescentou: – Muito bem. Ou melhor, nem tanto, meu imperador.
A nal, sei que a produção de especiarias em Ryloth diminuiu bastante devido a, digamos, certos acontecimentos
infelizes, mas...
– Chama de “acontecimentos infelizes” – o imperador inclinou-se à frente no trono – os ataques terroristas do
movimento Ryloth Livre?
Taa fungou e lambeu os dentes a ados, um tique nervoso. Contorceu os lekkus.
– Sim, meu imperador. Esses fanáticos iludidos colocam todo o meu povo em risco com sua imprudência. Mas
– tomou fôlego antes de continuar –, somando as tropas de segurança twi’leks e as tropas imperiais sob o
comando da moff Mors, creio que o problema está bem equacionado e, em breve, a produção vai ser retomada
com a capacidade plena.
– É uma pena – objetou o imperador –, mas não sou tão otimista assim, senador. Nem acho a moff tão
competente.
Taa pareceu levar um soco. Sua pele escureceu. Ele pestanejou, engoliu em seco e recuou meio passo.
– Mas, com certeza...
– Não acho que o problema esteja “bem equacionado”. Por isso, tomei uma decisão.
O olhar receoso de Taa dirigiu-se a Vader e de volta ao imperador.
– Meu senhor...
– A decisão é esta: Lorde Vader e eu vamos acompanhá-lo numa visita o cial a Ryloth. Lá vamos investigar o
problema pessoalmente. Vou avisar à moff Mors que estamos indo.
Taa soltou um suspiro de alívio.
– Estou... sem palavras.
– Não precisa falar nada – disse o imperador. – A decisão está tomada. O planejamento da viagem já está “bem
equacionado”.
– Claro. – Taa olhou para baixo e ajeitou as dobras das vestes em torno de sua barriga. – Mas eu também
retorno a Ryloth? Talvez eu possa lhe ser mais útil por aqui, meu imperador?
– Acho que não – vaticinou o imperador. – Lá, sua presença vai ser inestimável. Chegou a hora de o povo de
Ryloth sentir-se, de verdade, parte do Império. Não concorda?
– Oh, claro, claro – respondeu Taa, com as mandíbulas saltadas.
– Parece em dúvida, meu velho.
Taa sacudiu a cabeça com tanta energia que as orelhas carnudas se espalharam como asas.
– Não, não. Só que... – a voz dele baixou num sussurro. – Só que lá... é um lugar muito desagradável.
– Tenho certeza de que vai superar isso, senador – retorquiu o imperador, a voz carregando todo o peso de seu
desprezo. – Vamos viajar juntos, a bordo da Perigo.
Taa ergueu o olhar, o rosto bolachudo vincado de preocupações e desculpas, mas parecia estar pensando duas
vezes antes de verbalizá-las.
– Está dispensado, senador – disse o imperador.
– Meu imperador – disse Taa com uma reverência. – Lorde Vader.
Assim que as portas se fecharam, o imperador pediu a Vader:
– Dê-me suas impressões sobre o senador, meu amigo.
– Tem medo do senhor, como deveria ter, mas não é tão tímido quanto parece. Vai cumprir a ordem para
preservar os poderes e privilégios que ainda detém, e nada mais. E vai fazer tudo com um olho primeiro em seus
próprios interesses, depois ao seu povo e ao Império.
– Hum... quer dizer que o considera... leal?
– Levando em conta essas restrições, eu o consideraria leal.
– Concordo com a sua avaliação. Assim, concluo que Orn Free Taa não é nenhum traidor do Império.
– Suspeitava de traição da parte dele?
– Dele ou de um membro da comitiva. Parecia um candidato improvável, mas nunca se sabe. Alguém está
passando informações aos terroristas do tal movimento Ryloth Livre. O sequestro que você frustrou prova isso. A
origem da traição deve ser a comitiva de Taa.
Vader deveria ter percebido o objetivo do imperador. Como sempre, o pensamento do imperador estava um
passo à frente do dele.
– E é por isso que vamos viajar a Ryloth? – indagou Vader. – Para servir de isca? Por que correr esse risco,
quando eu poderia simplesmente matar Taa e toda a comitiva dele? Isso eliminaria o traidor.
O imperador sacudiu a cabeça e se levantou. Os guardas reais saíram apressadamente de seus postos na porta
para cercá-lo. Vader uniu-se ao grupo que rumou às portas do salão. O sol lançou os últimos raios sobre o
horizonte de Coruscant, jogando o ambiente na escuridão mais profunda.
– Mas isso não eliminaria as raízes da traição – explicou o mestre. – Nem revelaria o escopo dela. Suspeito que
vá muito além da comitiva do senador.
– Entendo – disse Vader. – Nesse caso, é melhor eu ir sozinho. Não há motivo para o senhor correr riscos.
– Mas há – ponderou o imperador. – Temos de cortar a deslealdade pela raiz e deixá-la de nhar, à vista de
todos.
– Para servir de lição.
– Sim. Uma lição a todo o Império.
– Uma lição indispensável – disse Vader.
Desde a transformação da República no novo Império Galáctico, bolsões de caos tinham despontado aqui e
ali. A maior parte da antiga República aceitava o Império sem reclamar, mas havia muitos bandos de
combatentes da resistência e separatistas remanescentes espreitando pela galáxia. O movimento Ryloth Livre era
um dos mais capazes e afamados.
– Sem dúvida – disse o imperador. – E eu devo administrar essa lição pessoalmente. Além do mais, velho amigo,
estou com saudades de viajarmos juntos. Informe à moff Mors que Orn Free Taa está voltando a Ryloth para
uma visita estatal, a bordo da Perigo. Ainda não precisa informar a ela que vamos acompanhar o senador.
– Sim, meu mestre.
– Já esteve em Ryloth antes, não é mesmo, Lorde Vader?
A pergunta resgatou, das profundezas da mente de Vader, lembranças de guerra.
– Há muito tempo, mestre. Antes de me tornar sábio.
– Claro.
Cham sentou-se sozinho em seu quarto mal iluminado. Encontrava-se num dos muitos campos de
abastecimento subterrâneos de onde conduzia as guerrilhas contra o Império. Dispunha de várias dessas bases
secretas em torno de Ryloth. Passara anos arrebanhando seu exército, cultivando sua rede, escondendo naves e
armas, fundando as bases para um ataque importante, e agora, aparentemente, descortinara-se uma
oportunidade melhor do que ele poderia esperar. Muito melhor.
Sentia o suor escorrer pelo corpo.
Encarou a mensagem decodi cada que segurava na mão. Até mesmo após a decodi cação, continuava
obscura:
OFT em rota c/ 1 e 2. Transporte 1DE. 10 ds.
Decifrou-a novamente, para garantir que zera direito.
Orn Free Taa retornava para Ryloth. Acompanhado pelo imperador Palpatine e Lorde Vader. A bordo do
destróier estelar, em dez dias.
Lia certo; apenas não fazia sentido. Farejou uma cilada.
Chamou Isval no seu comlink. Precisava da opinião dela.
Ela veio logo, a indagação no olhar, e Cham mostrou-lhe a mensagem decodi cada. Ao ler, Isval umedeceu os
lábios, depois tou a parede, pensativa. Ele perguntou:
– Impossível, certo?
– Quando chegou essa mensagem?
– Há uma hora, pelos canais de sempre.
– Con ável? – quis saber ela.
– A fonte? Sim, mas ninguém garante que não haja um equívoco.
– Certo – disse Isval.
Uma veia pulsou na testa dela. A veia pulsava desde o dia em que ouviram Vader matar Pok no sequestro
malfadado. Devolveu o papel a Cham, os lekkus balançando de irritação.
– Está errado ou é uma cilada. Tem que ser.
Ele amassou o papel e o queimou na chama da vela sobre a mesa.
– Foi o que pensei, também. Mas e se não for? É uma oportunidade.
A Twi’lek fungou, caminhou para lá e para cá no quarto dele, sacudindo a cabeça, as mãos sobre a dupla de
pistolas que carregava no cinturão.
– O destróier estelar até faz sentido. A Perigo é a nave emblemática de Vader, mas... e o motivo? Isso que não
fecha. Vader e o imperador vindo à Orla Exterior? O único lugar em que os dois se reúnem é em Coruscant. O
problema aqui é o “motivo”. Precisamos de um motivo.
Cham olhou xamente para a chama da vela, pensando em Pok.
– Sei lá. Dar uma lição em Mors, talvez? Demonstrar poder? Nossos ataques realmente reduziram a produção de
especiarias a um mínimo.
O Império usava a especiaria – ryll re nado, coletado nas inúmeras minas que tornavam Ryloth poroso – e
seus derivados para incontáveis ns, em especial na ciência imperial e na corporação médica.
– Ou substituir Mors? – conjeturou Isval. – Por Dray, quem sabe?
– Isso seria útil, mas... – Cham balançou a cabeça. – Não. Se Mors cair, Belkor Dray vai com ela. Ele não
percebe isso, mas não há como ele permanecer se Mors cair.
Isval continuou fazendo suposições.
– Trazer mais stormtroopers? Atualmente há um monte de recrutas e gente alistada. Otários procurando
aventura, mas não soldados de verdade. Talvez, para trazer mais tropas, tropas de elite, a m de dominar Ryloth
e a produção de especiaria?
– Talvez, mas um destróier estelar? Para o imperador e Vader?
– É um destróier estelar, Cham! Pense no que você está falando.
– Sim, mas...
– Aposto que a frota está bem diluída pela galáxia inteira – comentou Isval. Parou de zanzar; tou a parede, os
punhos cerrados, esperançosos para desferir um golpe certeiro. – Ou talvez o imperador não quisesse enviar uma
grande frota para não dar a impressão de que teme os insigni cantes rebeldes que lutam pela liberdade de
Ryloth.
– Isval, você precisa ser a voz da razão aqui. Estou com ideia xa.
– Sim, mas talvez esteja certo – ponderou Isval. – Está pensando demais no assunto, Cham. Quando a nossa
espionagem cometeu enganos? Talvez haja uma dúzia de motivos, mas, se gastarmos todo nosso tempo para
encontrá-los, podemos perder uma boa oportunidade.
– E você está pensando de menos. Essa dupla é esperta. Querem nos obrigar a dar um passo em falso...
– Até os espertos cometem erros – disse ela, retomando a habitual caminhada pelo recinto. – Além do mais,
eles não fazem ideia dos exércitos que temos, Cham. Há anos, agimos como se fôssemos um pequeno grupo de
terroristas...
– Combatentes em prol da liberdade – Cham a corrigiu.
– Combatentes em prol da liberdade. Mas temos naves, centenas de soldados, armamento pesado. Estamos
falando do imperador, de Vader e de Taa. Vader, Cham. Pense no que ele fez com Pok.
Cham tinha pesadelos recorrentes com Pok e sempre acordava ofegante, com a sensação de estar sendo
sufocado.
– Nem precisa me lembrar, Isval. Mas estamos lutando primeiro para libertar Ryloth, não para derrubar o
Império.
Isval parou e olhou para ele.
– E não é a mesma coisa?
– Como?
– É a mesma coisa, Cham. Se quisermos libertar Ryloth, então precisamos derrubar o Império. Ao menos,
enfraquecê-lo. Precisamos de focos de incêndio por toda a galáxia. Talvez, então, nos deixem em paz.
Cham não concordava, mas não importava. Matar Vader e o imperador enviaria a mensagem que Cham fazia
questão de enviar: é muito alto o custo de ocupar Ryloth, com ou sem especiarias. Respondeu:
– Tudo bem. Vamos começar a planejar e colocar as células em alerta. Mas não faça nada ainda, Isval. Estou
falando sério. Sem conversas extras. Vamos ver o que o Belkor nos conta. Se ele me disser que Vader e Palpatine
estão vindo, daí vou saber que aprontam uma cilada.
– Como assim?
– Belkor nunca nos avisaria sobre Vader e o imperador, a não ser que estivesse fazendo jogo duplo. Ele é
ambicioso, mas não é suicida.
Isval assentiu com a cabeça.
– Faz sentido.
– Bem, então vá se preparar. Eu lhe aviso se Belkor se manifestar.
Isval concordou, abriu um meio sorriso e escapuliu do recinto como se temesse que Cham mudasse de ideia.
Após ela sair, Cham sentou-se à escrivaninha, planejando como iria lidar com Belkor. O o cial imperial teria
uma surpresa e tanto.
 
Como de costume, Belkor Dray usava o voo de Ryloth até a lua maior para organizar as ideias e vestir a
máscara que usava ao enfrentar a moff Mors. Sentado sozinho no amplo habitáculo de passageiros, treinou as
várias expressões que usaria para esconder o desprezo que sentia por ela.
– Perto da lua agora, coronel – avisou o piloto no comunicador.
– Avise à moff que estamos chegando, Fruun – respondeu Belkor.
– Sim, senhor.
Fruun era um dos soldados de Belkor, um entre centenas cuja lealdade ele tinha comprado em troca de
favores ou assegurado por meio de chantagens. A moff Mors – a indolente e desleixada Delion Mors – delegava o
funcionamento da ocupação de Ryloth a Belkor, que de preguiçoso não tinha nada. Preenchera várias unidades
imperiais com comandantes leais primeiro a ele – não a Mors, nem mesmo ao Império –, e os soldados
obedeceriam à risca às ordens dos comandantes. Os stormtroopers representavam um problema, claro, mas não
havia muitos membros da corporação em Ryloth. Em essência, Belkor tinha um exército oculto à sua disposição,
e ele o chamaria no momento certo.
– Moff Belkor Dray – murmurou, experimentando o título, como zera com os falsos semblantes. Não coronel.
Não general. Moff.
Um dia.
Seria fácil desacreditar Mors, mas Belkor precisava fazê-lo de modo a passar uma boa impressão de si mesmo.
Tinha planos em andamento para realizar exatamente isso.
– Pousando, senhor – avisou Fruun.
Belkor se aprumou e conferiu o uniforme: limpo e engomado, com vincos de cortar carne. Coturnos
engraxados. A insígnia do posto na exata distância da borda do colarinho. Levantou o quepe para alisar o cabelo.
Belkor se interessava pelas pequenas coisas, os detalhes que os outros não percebiam. A prática o impedia de
car desleixado. E ele carregava segredos demais para se permitir qualquer brecha para o desleixo.
A nave de traslado pousou na plataforma externa, e Belkor apertou um botão para abrir a porta. Enrugou o
nariz ao farejar o ar úmido e verdejante. Árvores de quarenta metros de altura circundavam a plataforma como
sentinelas. As onipresentes trepadeiras de um braço de espessura, tão predominantes na lua, pendiam como
cordas enroladas nos grossos galhos. Guinchos e uivos da fauna nativa pontuavam o ar. O altaneiro dossel da
oresta bloqueava a visão do bem equipado posto de comando de Mors, construído com o trabalho forçado do
povo Twi’lek.
Um jovem o cial júnior, de quem Belkor esquecera o nome, e três soldados imperiais esperavam na
plataforma. Prestaram continência, de modo bem negligente no caso do o cial, quando Belkor desceu a rampa,
retribuindo o gesto com rispidez.
– A moff não pôde vir recebê-lo – esclareceu o o cial júnior.
Deve estar chapada com especiarias, pensou Belkor sem verbalizar. Ou atarefada com seus escravos Twi’leks.
– Vou conduzir o senhor até ela.
A nal, ela é preguiçosa demais para caminhar tanto, pensou Belkor. Mas limitou-se a dizer:
– Ótimo, tenente.
Uma patrulha de três V-wings cruzou o céu, em um sobrevoo rasante, o zumbido denunciador dos propulsores
silenciando temporariamente a cacofonia dos animais nativos.
O ar úmido do satélite fez o suor escorrer no corpo de Belkor, escoltado rumo aos ambientes climatizados do
luxuoso centro de comando de Mors – mais parecido com uma nobre mansão em Naboo do que com instalações
imperiais. As manchas de suor no uniforme deixaram Belkor mal-humorado, e ele praticamente nem respondeu
às continências dos stormtroopers de sentinela nas portas principais da mansão.
Amplas janelas permitiam vislumbrar o ondulante dossel esmeraldino da selva. Bordas arredondadas, mesas de
madeira polida, cadeiras e divãs estofados e salões pareciam estar em toda parte, dando a impressão de
suavidade, que combinava perfeitamente com a personalidade de Mors. As “esculturas” eólicas, tão apreciadas
pelos Twi’leks – pedaços de rocha naturalmente esculpidos pelos ventos de Ryloth, até onde Belkor entendia –,
estavam dispostas, aqui e ali, sobre as mesas. Servos Twi’leks perambulavam pelos salões como fantasmas verde-
água. Mors só escolhia Twi’leks com pele verde-água para serem seus empregados domésticos – a moff recusava-
se a chamá-los de escravos, embora nenhum pudesse ir embora. “A pele combina com as árvores” dissera ela uma
vez a Belkor.
Os stormtroopers da escolta se dispersaram e assumiram seus postos nas guaritas internas, enquanto o o cial
júnior levou Belkor rumo ao pátio central da mansão, onde Mors parecia passar todo o seu tempo, enquanto
Belkor realizava o trabalho planetário.
O pátio cava coberto por uma cúpula clara retrátil para permitir a entrada da luz ambiente. No momento, a
cúpula estava totalmente retraída, e centenas de insetos nativos coloridos, do tamanho de um palmo, comuns na
copa das árvores da selva, borboleteavam no ar.
Um caminho serpenteava em meio a ores coloridas, arbustos e variedades anãs das árvores nativas. No centro
do pátio, Belkor se deparou com Mors, aparentando ser tão ácida e macia quanto a mobília da mansão, sentada
no banco perto da fonte, inclinada, batendo papo com um Hutt, cujo corpo, com três metros de comprimento e
formato de lesma, revestido de pele enrugada e coriácea, convulsionou-se em algo que pareceu uma risada.
Belkor teve de fazer um esforço enorme para não transparecer o nojo em seu rosto. Arquivou a presença do Hutt
nos recônditos da mente, com a intenção de analisar registros de viagem mais tarde. Implicar Mors numa
conspiração com os Hutts, espécie envolvida numa gama de delitos, dava-lhe outra ferramenta para desacreditar
a moff.
Mors levantou um dedo para parar a aproximação de Belkor, enquanto terminava a conversa com o Hutt.
Observando a interação, Belkor se impressionou com as semelhanças entre os dois. A mulher e o alienígena
pareciam salsichas super-recheadas, com a diferença de que Mors vestia um uniforme amarfanhado em vez de
pele coriácea. Os olhos lacrimejantes e a expressão vagamente lassa mostravam que ela estava numa névoa de
especiarias. Os olhos lacrimejantes e a expressão lassa do Hutt mostravam que ele era, de fato, um típico
exemplar da sua espécie.
– Quem é ele? – indagou Belkor em voz baixa ao tenente.
– Nashi, o Hutt, emissário de Jabba.
Nenhum dos nomes dizia algo a Belkor, mas também os arquivou.
– O que o Império tem a ver com os Hutts? – sondou ele.
Quanto a isso, o o cial não disse nada. Belkor não pressionou. Nesse meio-tempo, o Hutt e a humana
compartilharam uma gargalhada – a entonação do Hutt inesperadamente aguda –, e Mors fez um gesto para
Belkor e o tenente se aproximarem.
– Venha, Belkor! – exclamou Mors. E, dirigindo-se ao o cial: – Tenente, por favor, acompanhe Nashi até a
nave. Ah, providencie que ele receba de presente três caixas de vinho een.
– Sim, senhora – disse o o cial.
Nashi virou o corpo serpentino para encarar Belkor. Antes que esse falasse, a criatura soltou uma nuvem com
odor de carne putrefata.
Belkor deu um passo para fora da nuvem, mas manteve o silêncio.
Nashi cochichou algo sobre o ombro no idioma dos Hutts e deu uma risadinha. Mors riu junto e respondeu
em hutês.
– Receio não falar a língua deste alien, minha senhora – empertigou-se Belkor, dirigindo-se a Mors.
A moff gesticulou com a mão, como se isso não importasse, como se nada importasse.
– Ah, ele falou que você parece tão rme e rígido como as árvores. Contei que você é um o cial jovem,
ambicioso, e que hoje a Academia treina todos vocês assim. Falei que ele devia car e ouvir você falar.
– Senhora?
Mors sorriu.
– Nunca escutou a si mesmo, Belkor? Você fala com oreios nas palavras.
Nashi balbuciou algo em hutês, e os dois caíram na risada outra vez.
Belkor não relaxou a postura.
– Claro, minha senhora.
– Ah, não se ofenda, Belkor. – Mors se ergueu sobre pernas bambas e curvou-se ao Hutt. – Faça uma viagem
segura, Nashi. Entro em contato.
O Hutt curvou-se da melhor forma que uma lesma conseguia fazer, acenou com a cabeça a Belkor e, em
seguida, saiu deslizando em companhia do tenente.
Mors voltou a baixar seu peso no banco.
– Não gosta disso tudo, não é, Belkor?
Belkor manteve o rosto impassível.
– Senhora?
– Isto – explicou Mors com um gesto largo. – Esse luxo. Ofende você, não é? Está escrito na sua cara.
Mentiras sempre vinham com facilidade aos lábios de Belkor.
– Foi... a aparência do Hutt, senhora. O luxo não me ofende. A hierarquia traz junto os privilégios.
Mors sorriu e recostou-se no banco, assentindo com a cabeça.
– Viu? Há um oreio nessas palavras. Ouviu isso? Ah! Bem, é verdade, a hierarquia tem lá seus privilégios. Nós
dois habitamos a pior parte do Império, então devemos contrabalançar com um pouco de luxo.
– Claro, minha senhora.
– O que acha, Belkor? Você exerce poucos desses privilégios. Toma um vinho comigo?
Ela bateu palmas, e uma Twi’lek com bandana, casaquinho e calça justa emergiu da folhagem próxima com
um jarro de vinho e duas taças. Belkor não a percebera antes.
– Preciso... car sóbrio para minha viagem de volta, minha senhora.
– Não sabe o que está perdendo – comentou Mors enquanto a escrava servia a bebida. – Então, a que devo a
honra de sua visita nesta luazinha, Belkor? Tudo tranquilo no planeta?
A mulher era mesmo tão estúpida quanto indolente.
– Trouxe meu relatório trimestral sobre Ryloth, minha senhora.
– Verdade? – Mors parecia genuinamente chocada. Brincou um pouco com o cabelo apertado no coque. –
Puxa vida, como o tempo voa.
– Em especial se a pessoa é tão ocupada quanto a senhora – frisou Belkor, contendo o sorriso.
– Com certeza – falou Mors e tomou um gole de vinho. – Se não tem remédio, remediado está. Prossiga,
coronel. O que está acontecendo naquela rocha árida lá embaixo de nós?
Sempre em pé, Belkor percorreu uma minuciosa lista dos itens que gostaria de informar a Mors – os recursos
de pessoal, os movimentos de tropas, embarques de especiarias e assim por diante. Mors não fez perguntas
durante o relatório de Belkor, apenas assentiu com a cabeça distraidamente de vez em quando.
– Alguma pergunta? – indagou Belkor, com palavras que faziam parte do treinamento. Mors raramente
perguntava algo, mas Belkor precisava manter a ilusão de deferência.
Mors entornou o último trago do vinho e estudou o cálice vazio com um olhar desamparado.
– Só uma coisinha. Como vai a situação com os terroristas? – a pergunta surpreendeu Belkor, e ele quase
deixou cair a sua máscara.
– O movimento Ryloth Livre?
– Os terroristas – reiterou Mors.
– Eu, hã, tenho os meus melhores recursos dedicados a senhora – explicou Belkor. – A situação anda tranquila
lá nas bandas do planeta. Já passou um mês desde o último ataque.
Belkor não tinha intenção de deixar o silêncio durar mais um mês. Precisava repassar a Cham Syndulla
algumas informações de espionagem a m de incentivar um ataque. Belkor precisava da violência do movimento
para obter a munição que ele, em última análise, usaria para desbancar Mors, mas Belkor não queria uma
escalada da violência quando fosse o encarregado de reprimi-la. Precisava de violência controlada. Violência
canalizada. E, há meses, manipulava Cham para esse m.
O olhar de Mors se centrou mais do que Belkor gostaria de ver. Pelo visto, a mulher conseguia segurar a onda
das especiarias.
– Mais de um mês desde um ataque aqui, Belkor. Mas o movimento tentou sequestrar um carregamento de
armas não faz muito tempo. Fracassou, é claro, mas...
Belkor não tinha ouvido nada sobre isso, nem de Cham nem de ninguém, e cou alarmado com o fato de
desconhecer o assunto.
– Onde? Quando?
Mors balançou a mão com delicadeza.
– Não importa. Já falei: eles se deram mal. Todos os terroristas foram mortos. – Caiu na risada, como se aquilo
fosse engraçado.
Belkor tomou cuidado com onde pisava. Esperava não ter perdido Cham, ou teria de recomeçar do zero com
outro líder da resistência.
– Algum, hã, nome conhecido entre os mortos?
– Não que eu saiba. A gentalha habitual, sem dúvida.
– Se eu soubesse disso antes, teria duplicado nossos esforços lá no planeta. Mas o movimento está sob controle.
– O movimento está sob controle? – indagou Mors, mirando Belkor incisivamente.
Belkor remexeu os pés.
– A senhora sabe, é complicado combater uma insurgência. A resistência se mistura com o populacho não
militante, e matar inocentes de modo indiscriminado só aumentaria o número de Twi’leks que deixam de ser
neutros para se transformarem em simpatizantes da resistência. Fizemos progressos, mas essa empreitada é longa.
– Claro – concordou Mors. – Claro. Sei que você está fazendo tudo o que pode ser feito. E acabei de saber
sobre o infeliz sequestro. Ah, mas por causa disso o senador Orn Free Taa vai visitar Ryloth daqui a dez dias.
Acabei de saber disso, também.
A mente de Belkor virou-se imediatamente para Cham e as possibilidades.
– Qual será o motivo da visita dele? Há muitos meses que ele não dá as caras por aqui.
– E quem é que entende a cabeça dos políticos, Belkor? Mas é provável que o imperador o tenha enviado para
divulgar o sequestro fracassado dos terroristas e oferecer apoio à ocupação, esse tipo de coisa.
– Tranquilizar os não militantes – ponderou Belkor. – Mostrar a eles que os terroristas estão fadados ao
fracasso.
– Exato – disse Mors. – Seja como for, agora sabe tanto quanto eu.
E Belkor saberia usar as informações coletadas.
– Vai organizar pessoalmente as boas-vindas, minha senhora? Ou quer que eu me encarregue?
– Ah, con o em você para tratar do assunto, coronel. Em meu nome, é claro. E agora, cadê minha garota do
vinho?
– Já vou providenciar os preparativos – disse Belkor. – Só isso?
– Sim, isso é tudo.
Enquanto Belkor se afastava, Mors o chamou.
– Belkor!
– Sim?
– Anime-se um pouco, coronel! Aprenda a se divertir! Ah, e se topar com minha garota do vinho, diga a ela
que venha cá.
– Claro – retirou-se Belkor, com um turbilhão de alternativas na cabeça.
Ao chegar à nave de traslado, já havia escolhido as melhores opções e bolara um plano. A oportunidade batera
à sua porta. O assassinato de Orn Free Taa na presença de Mors seria um golpe fatal para a moff. Taa era um
testa de ferro impotente, é claro, mas era um testa de ferro e porta-voz do imperador usado como ferramenta
quando se tratava de aquietar Ryloth. Belkor apenas precisava tomar cuidado para ele próprio não ser pego no
rastro da queda de Mors.
Pela primeira vez, moff Belkor Dray soou-lhe não apenas uma aspiração, mas algo plausível e iminente.
Ao chegar a seus aposentos planetários, usou um comunicador portátil pessoal para enviar uma mensagem
criptografada a Cham.
Precisamos nos encontrar imediatamente.
A resposta de Cham veio em uma hora, especi cando o horário e o lugar. A velocidade da resposta de Cham
surpreendeu Belkor. Era quase como se o Twi’lek estivesse esperando a mensagem.
 
Cinco horas após o cair da noite, Belkor tirou o uniforme, vestiu roupas civis, um casaco de capuz e registrou
no computador “fora da base, em recreação”, eufemismo que os o ciais usavam para visitar amantes Twi’leks ou
frequentar cantinas. Quando o o cial de serviço lia esse registro, por consideração, não tecia mais perguntas.
– Tenha uma viagem segura, senhor – disse o o cial de serviço pelo comunicador de Belkor. – Está ventando
lá fora.
Belkor liberou um aircar da garagem de veículos, digitou o código que baixava o campo eletromagnético da
garagem e saiu do complexo imperial.
Encravada num pináculo de pedra esculpido pelo vento, a capital de Ryloth, Lessu, espiralava-se ao redor da
montanha. As muralhas, as mansões, os sítios mais modestos e as empresas da cidade se agarravam como uma
cornucópia de líquens à encosta do pináculo. Milhares de túneis reforçados e cavernas naturais também
salpicavam a pedra e, de dia, Belkor achava a paisagem parecida com o resultado de um ataque de artilharia. A
cidade, assim como o planeta, vira muitas lutas, e as cicatrizes eram visíveis.
Dezenas de aircars, poucas almas corajosas curvadas contra o vento em motos velozes e planadores cinéticos
(meio de transporte nativo de Ryloth, cujas asas largas aproveitam as rajadas) sobrevoavam e rodeavam o
pináculo, com os faróis dos veículos brilhando ou piscando na escuridão. Belkor avistou duas viaturas da
patrulha imperial pairando baixo sobre a cidade. Ele usava naves imperiais criteriosamente ao impor o domínio
imperial. Às vezes, a visão de naves imperiais perturbava os nativos. Assim, ele preferia deixar a segurança urbana
cotidiana a cargo da polícia twi’lek, composta por Twi’leks cooptados por melhores condições de vida, pagos
para impor o jugo imperial contra seu próprio povo.
Con gurou o computador de bordo para transmitir um código de segurança de alto nível, a m de que não
fosse incomodado enquanto deixava o espaço aéreo da cidade.
Lá embaixo, fogueiras crepitavam em ruas, pátios e cavernas. Mesmo naquele horário, pessoas, animais de
carga e veículos se aglomeravam nas vias, buscando o ar livre para fugir do calor e do tédio.
O verão trouxe a Ryloth não só altas temperaturas, mas também tumultos noturnos. O calor atraía multidões
às ruas e às cantinas, e as multidões traziam a raiva, e a raiva incitava os tumultos. A política de Belkor,
administrada em nome de Mors, procurava conter as confusões, fazendo o possível para controlá-las, prevenir
mortes e maiores danos à propriedade, mas sem as abafar por completo. Ele as considerava um mecanismo útil,
uma espécie de válvula de escape. A maioria dos Twi’leks se situava numa posição intermediária entre os
colaboradores satisfeitos e os fanáticos da resistência, mas quase todos de vez em quando mostravam certo
ressentimento com a ocupação imperial. Eles precisavam de uma válvula de escape para sua raiva efervescente.
Belkor explicara a Mors: “Deixe que façam tumultos. O contrário os incitaria a entrar no movimento Ryloth
Livre. Com o tempo, vamos domá-los, e eles enxergarão a servidão com bons olhos. Muitos já o fazem.”
Mors captara a sabedoria da ideia. Na percepção de Belkor, Cham Syndulla já tinha combatentes e espiões
su cientes em seu movimento.
Belkor puxou os controles para trás e conduziu o aircar até a altitude de cruzeiro. A paisagem circundante se
descortinou, pálida à luz da maior lua de Ryloth, onde Mors residia.
Aldeias e cidadelas dispersas, cercadas de muralhas ou construídas no subsolo contra os ventos implacáveis e
os perigosos predadores do planeta, pontilhavam o relevo ondulado e pedregoso a poucos quilômetros de Lessu.
Arbustos ásperos, resistentes ao vento, e taquara-açoites de colmos exíveis, tão comuns em Ryloth, desenhavam
retalhos verde-escuros no terreno recortado.
Um movimento chamou a atenção de Belkor lá no solo. Enquadrou a câmera embarcada e ampliou: um trio
de enormes lyleks desmembrava outro menor, da mesma espécie. As pinças pontudas e as poderosas mandíbulas
dos grandes predadores insetoides mexiam-se para cima e para baixo de forma convulsiva, matando e cortando
com uma e ciência cruel que Belkor admirava. Carni cina sem esforço desperdiçado. Tudo muito corporativo;
muito parecido com os imperiais, pensou ele.
Virou a oeste para confrontar os ventos de Ryloth, e as rajadas tentaram dominar o veículo. Sujeira e detritos
atingiram a vigia da nave, como se fossem estilhaços de granada. Ele não era um bom piloto, então apenas
rmou os controles, suando, torcendo para que os compensadores estabilizassem a nave enquanto rumava ao
ponto de encontro.
Assim que se afastou do espaço aéreo de Lessu, desativou a transmissão do seu código de segurança.
Preocupado em não deixar vestígios que pudessem ser rastreados, não inseriu as coordenadas do ponto de
encontro no computador de navegação. Em vez disso, apenas colocou uma leitura ao vivo das coordenadas na
tela do computador e as observou enquanto o aircar engolia a distância.
Belkor sobrevoou cânions irregulares, planaltos salinos e vales rochosos pontilhados com vastas torres de
pedra. Enormes extensões de Ryloth encontravam-se desabitadas, exceto por ocasionais vilarejos de pouco
contato com o mundo exterior. Fora das urbes, hordas de predadores e presas preenchiam os campos. Não fosse a
presença do milagroso ryll, minério com aplicações militares, recreativas e cientí cas, o planeta seria
completamente irrelevante, a não ser como fonte de mão de obra escrava.
Ao longe, à direita, avistou as luzes de uma mina de ryll, mas a rolagem de coordenadas o instruiu a continuar
no sentido oeste. Desacelerou ao se aproximar do destino, observando a contagem regressiva das coordenadas
até o local designado.
Adiante, abaixo, avistou o ponto: um vale arborizado com taquara-açoites, arbustos e pedregulhos espalhados
como se gigantes os tivessem arremessados. Cavernas salpicavam as muralhas do vale. Cham estaria numa delas.
Belkor circulou o vale duas vezes, procurando a nave de Cham, mas não enxergou nada. Na segunda tentativa,
um farolete infravermelho riscou seu aircar, partindo de uma das cavernas.
– Boa noite, Syndulla – murmurou, baixando o veículo.
Desembarcou e foi acossado pelo vento onipresente e pela Twi’lek que parecia sempre acompanhar Cham –
ela se chamava Isval, se não estivesse enganado. A Twi’lek irrompeu dos arbustos, girou Belkor de modo brusco e
o revistou da cabeça aos pés para ver se estava armado. Seu olhar intimidava mais do que as duas armas de raios
e a vibroadaga que portava.
– Espere um pouco – disse ele, mas ela não esperou, e suas mãos enérgicas não deixaram dúvidas: seria inútil
resistir. Isval removeu a arma de raios do cinturão dele, mais cerimonial do que qualquer coisa: Belkor só havia
disparado uma arma de raios para se quali car ao posto, nunca em combate.
– Venha – ordenou ela. – E não fale comigo.
– E quem é você para...
Ela girou nos calcanhares e arreganhou os lábios, revelando os dentes que a ara propositalmente, prática
comum só em Twi’leks do sexo masculino. Com os punhos cerrados, rosnou:
– Não fui clara, imperial? Não me dirija a palavra.
Ela deu meia-volta e o levou em direção à caverna onde, presumivelmente, Cham esperava. Sem vontade
alguma de rever aqueles dentes, ele se manteve em silêncio.
Na boca da caverna, Cham segurava o farolete infravermelho, o rosto sombrio e fantasmagórico no ar noturno.
O vento fustigava o cabelo de Belkor. O nervosismo se arraigava em seu estômago. Não con ava em Cham, mas
também não o achava tolo. Cham sabia que Belkor era um traidor de Mors, quiçá do Império, mas também sabia
que ele tinha informações cruciais às operações do movimento. Nomes, lugares. Se precisasse, Belkor poderia
prejudicar a resistência. E Cham não correria esse risco. Mas esse encontro tinha uma sensação diferente das
reuniões prévias.
– Vamos fazer isso aqui mesmo – falou Belkor. – O que eu tenho a dizer não vai demorar muito.
– O que eu tenho a dizer vai – retorquiu Cham, desligando o infravermelho e virando-se para entrar na
caverna. – Siga-me.
Acompanhado por Isval e Cham, Belkor teve pouca escolha. Por instinto, levou a mão ao coldre vazio da arma
de raios. Isval riu entredentes.
– Olhos abertos – falou Cham por cima do ombro, e ela se posicionou na boca da caverna.
Belkor se apressou atrás de Cham, e os dois penetraram na caverna.
– Não consigo enxergar, Syndulla – reclamou Belkor, esticando os braços à frente do corpo, as mãos tateantes.
Twi’leks, que passam boa parte de suas vidas nos subterrâneos, enxergam muito bem na escuridão. Belkor nunca
se sentiu tão vulnerável. O peito arfava rápido, o suor escorria.
O farolete infravermelho se reacendeu, revelando Cham logo à frente, encarando-o.
– Droga! – resmungou Belkor.
– Essas cavernas são antigas – disse Cham. – De tão crivadas, as montanhas são meio porosas. Meu povo se
refugiou nelas para formar grupos de resistência. Isso se repete, ciclo após ciclo. O opressor muda, mas as
cavernas permanecem iguais.
Ergueu o facho de luz pelas paredes, e Belkor notou que eram forradas com gra tes antiocupação, com dizeres
que remontavam à época das Guerras Clônicas ou antes.
– Twi’leks detestavam os Jedi e os separatistas tanto quanto detestam o Império hoje – frisou Belkor.
– Detestamos toda e qualquer opressão – explicou Cham.
Atrás deles, uma rajada de vento uivou pela boca da caverna.
Belkor tentou recuperar o terreno perdido.
– Não vim aqui para aprender história, Syndulla.
– Não – falou Cham, a entonação mais autocon ante, diferente das conversas anteriores. – Veio aprender
outro tipo de lição.
– E que lição é essa? – perguntou Belkor, querendo soar indiferente.
Relanceou o olhar sobre o ombro, pensando que a Twi’lek estivesse lá atrás no breu, à espreita. Imaginou o
olhar dela cravado nele, como os predadores tam as presas, e em sua mente lampejou a imagem cristalizada no
voo, a dos lyleks desmembrando o menor e mais fraco.
Pigarreou e afastou a imagem da cabeça.
O túnel serpenteou à esquerda. Um brilho alaranjado iluminava uma câmara à frente.
Piso de areia, mobília austera. Mesa e duas cadeiras. Nada mais.
– Por acaso estamos jogando holoxadrez, Syndulla?
– Há anos estamos jogando holoxadrez, Belkor. E você acaba de levar xeque-mate. Só que não percebeu. Mas
logo, logo vai perceber. Sente-se. Agora, vamos colocar as cartas na mesa. Sejamos honestos.
– Isso parece pouco aconselhável – gracejou Belkor, na tentativa de afastar, com a piada, a preocupação
crescente.
O ar seco tragou-lhe a umidade da boca. Sentou-se na frente de Cham. O laranja da pele do Twi’lek se
intensi cou, seus lekkus balançaram-se ligeiramente, os olhos mirados em Belkor.
Só com esforço ele sustentou o olhar de Cham.
– Está chapado de especiarias, Syndulla? Acho que entendeu mal o nosso relacionamento, que nem a moça lá
fora. Eu não trabalho para você. É você que trabalha para mim. Posso perdoar um deslize uma vez, mas...
Cham ergueu a mão, a testa franzida de raiva, e Belkor gaguejou até se calar. Cham tomou a palavra:
– Pedi honestidade. E vou começar. Veio para me dizer que Orn Free Taa está voltando a Ryloth numa visita
o cial daqui a dez dias.
– Eu... – Belkor calou-se até recuperar o o da meada. – Você tem ótimos espiões.
– Mais do que você imagina. Ele vem a bordo da Perigo. Um destróier estelar.
Belkor recostou-se na cadeira, suando, examinando Cham, simulando indiferença, mas temia não estar
convencendo.
– E...?
Cham inclinou-se à frente na cadeira, agarrando a borda da mesa. Ele encarou Belkor de frente.
– E eu enxergo você, Belkor. Você me enxerga?
– O quê? Eu não... O quê? – Belkor se atrapalhou e, com certeza, devia parecer ridículo.
– Sempre enxerguei você – falou Cham. – Achou que eu dançava conforme a sua música o tempo todo, não é?
Achou que me manipulava? Você é um fedelho, Belkor.
Diante da convicção de Cham, Belkor pestanejou. Invocou palavras, não encontrou nenhuma; tentou invocar
a sua dignidade, estava em falta. Levantou-se sobre pernas trêmulas.
– Nossa relação acabou. Vou embora.
– Não vai, não. Sente-se, Belkor Dray. Sente-se.
Belkor engoliu em seco, sentiu o medo e a raiva pintarem-lhe o rosto.
– Vai me matar? Tomei precauções. Se algo me acontecer...
– Tem agentes que vão me matar? Lorota, Belkor. Você não con aria em ninguém o su ciente para informá-
los sobre a nossa relação. Ah, sei que em todo o planeta seus homens são leais a você, e não a Mors, mas você não
conta a eles sobre nós ou deixariam de ser leais, não é mesmo? O fato de você ter esse exército é o que me atrai.
Também tenho um exército, Belkor. Fazemos uma dupla e tanto.
– Um disquete – revelou Belkor, o tom estridente e apressado. – No caso de eu morrer. Identi cando você, a
localização de suas bases, seus principais ajudantes. Vai ser liberado para todos que precisam saber.
Cham sorriu.
– Nisso eu até acredito, mas não muda nada. Você não conhece nem metade de minha rede, Belkor. Esse
disquete seria um golpe, mas não fatal.
O Twi’lek calou-se por um momento, aparentemente para deixar Belkor processar as a rmações dele. Belkor
não sabia o que fazer com elas. Mentiras, verdades. Ele não conseguia de nir.
Cham mudou o tom, sombrio:
– Além do mais, estou preparado para morrer por meus princípios há muito tempo. Ameaças não me afetam.
Mas e quanto a você? Tem princípios, Belkor? Está preparado para morrer por eles? Está preparado para morrer
pelo Império? Aqui? Agora?
Levantou-se, sacou a arma de raios e a apontou para a cabeça de Belkor.
Belkor piscou, engolindo em seco.
– Não.
Cham guardou a arma no coldre e sentou-se.
– Como pensei. Morrer, por quê? Você é ambicioso, Belkor. Isso o torna fácil de ler e fácil de manipular. E isso
signi ca que, entre nós dois, você é o único com algo a perder. Deixa eu lhe mostrar algo.
Do cinturão, Cham tirou um holocristal portátil que cabia na palma da mão. Colocou-o sobre a mesa e o
ativou. Belkor assistiu a imagens de seus encontros anteriores com Cham reproduzidas no aparelho, dezenas
deles. Ouviu a própria voz contando a Cham ou a um dos agentes dele sobre um carregamento que chegaria
nesta ou naquela data, informações sobre o número de soldados imperiais em guarda nesta ou naquela fábrica de
especiarias, cronogramas de patrulha e como evitá-las, incontáveis momentos de incriminação, inúmeras
incidências de traição.
Belkor sentiu-se murchando, o ar esvaziando. Correu o olhar ao redor da caverna para localizar o gerador de
imagens, certo de que esse encontro, também, era gravado.
– Está lmando essa reunião, também – balbuciou.
– Claro – falou Cham. – Você é meu. Sempre foi meu. E agora sabe disso. Essa é a honestidade que prometi.
Agora estamos nos entendendo?
Belkor assentiu com a cabeça, cambaleante. Sentia-se tonto.
– Sim, estamos.
– Ótimo. Mas posso ser um mestre mais gentil para você do que o Império tem sido a Ryloth. Aqui, ninguém
precisa perder, Belkor. Isso também é verdade. Mais do que nunca, agora preciso de você. Preciso de mais
informações. Preciso de comprometimento. Preciso de colaboração.
Belkor meneava a cabeça.
– Não posso e não vou colaborar.
– Pode e deve colaborar.
E, apesar dos protestos, Belkor sabia que iria colaborar. Precisava fazê-lo. Em meio ao turbilhão de
pensamentos, não vislumbrou outra saída.
– Diga-me o que você quer – murmurou baixinho.
– Primeiro, me conte tudo sobre a Perigo. Taa vai trazer a comitiva completa? Algum outro líder a bordo?
– Só sei sobre Taa – disse Belkor. – Tenho certeza de que a comitiva dele vai estar lá, mas não sei de mais
ninguém digno de nota.
Cham estudou o rosto de Belkor, como se vasculhasse a mentira no olhar dele.
– Pedi honestidade.
– Essa é a verdade – a rmou Belkor. – Só Taa.
Cham franziu os lábios.
– Acredito nas suas palavras, Belkor. Então, eis o que preciso de você...
Cham se recostou na cadeira e, na meia hora seguinte, delineou os itens de que precisava. Belkor ouviu, cada
vez mais surpreso. Não imaginava que Cham tinha tanto pessoal e equipamento bélico à disposição. Ele
subestimara o Twi’lek, e agora pagava por isso.
Por m, Cham concluiu e perguntou:
– Entendeu?
Belkor assentiu e teve a sensação de estar se rendendo.
– Ótimo – falou Cham. – Agora, mais honestidade: se isso fracassar, vou entregar você.
– O quê? Já falei que vou dar toda a ajuda que você quer! Mas não posso garantir sucesso!
Cham abriu um sorriso, mas sem júbilo.
– Não quero sucesso garantido. Quero garantir seu empenho máximo. Sem meias medidas, Belkor. Está
envolvido até o pescoço. É termos sucesso juntos ou morrermos juntos, cada qual a seu modo. Entendido?
Belkor sequer abriu a boca. Apenas acenou rapidamente com a cabeça.
– Ótimo – falou Cham. – Então vamos dar o fora daqui.
Caminharam juntos pelo túnel, até avistarem a silhueta de Isval na boca da caverna. Algo estalou em Belkor.
Ele encarou Cham.
– E se eu não tivesse concordado com isso? Teria me matado, não é? Ou ela teria?
Cham não hesitou.
– Eu teria me encarregado disso, não ela. Por isso escolhi essa caverna profunda, sem animais carniceiros. O ar
seco mumi ca um cadáver com velocidade incrível. Você caria lá no fundo e me pouparia o trabalho e a sujeira
de enterrar o seu corpo. Ninguém jamais o encontraria.
Belkor tou o breu da caverna atrás deles, imaginando-a como seu túmulo, depois encarou Cham, que falou:
– Mas não chegou a esse ponto. Porque você é inteligente, Belkor. E agora vou dizer uma coisa importante:
está me ouvindo?
Belkor assentiu.
– Ao sair daqui, você vai car em dúvida. Vai pensar em como reverter a situação, salvar a própria pele e me
descartar. Mas não pode. Tenho gente em toda parte, Belkor. É assim que quei sabendo sobre Taa. Todas as
informações que me ofereceu no passado? Eu já sabia. Só queria que me contasse para que eu pudesse gravar
você me contando, guardá-lo em meu bolso, para retirá-lo e gastá-lo quando eu precisasse. Então agora vou
gastar você. Basta cometer um deslize, tentar virar a mesa, e carei sabendo na mesma hora. Daí, vou revelar
tudo sobre você.
– Você cometeu aqueles crimes. Não eu.
Até para Belkor as palavras soaram tolas, assim que as proferiu.
– Mas você deu cobertura. Imperiais mortos, Belkor. Muitos. O Império vai responsabilizá-lo e, não importa a
história que você contar, ninguém vai perdoar-lhe. Quando sair daqui e bater a dúvida, lembre-se: sou tudo que
você tem. E, se me trair, o que o espera é uma morte horrenda e mais escândalos para a sua família. Mas, se zer
o que peço, tudo vai funcionar para nosso benefício mútuo. Taa vai estar morto e Mors, desonrada. Vamos dar
um jeito para você parecer herói. Moff Dray. Que tal?
– Vou continuar em seu bolso – disse Belkor.
– Mas vai estar vivo. E com o título de moff. É a melhor alternativa.
Belkor não disse nada.
– Adeus, Belkor. Comece a tomar as providências. Entro em contato em breve. Ah! E bem-vindo à rebelião.
Belkor saiu da caverna, passou por Isval sem realmente a ver e retornou ao seu aircar. Lá dentro, permaneceu
imóvel por um instante até expelir toda a raiva dentro de si. Com o punho cerrado, esmurrou o painel de
instrumentos, e esmurrou, e esmurrou, e esmurrou.
– Droga! Droga! Droga! Droga!
Só parou ao notar que estava sangrando. A dor o ajudou a cair em si. Aninhou a mão na camisa, ligou os
propulsores e voltou para Lessu em meio à bruma. No meio do caminho, as dúvidas que Cham tinha previsto
começaram a borbulhar. Até onde sua mente confusa permitia, ele revirou a situação, examinando-a sob vários
ângulos. Além de colaborar com Cham ou entregar-se, visualizou apenas outra opção: fugir, esconder-se em
algum local isolado da galáxia e passar a vida na obscuridade. Cham ainda poderia expô-lo, é claro, mas ele
estaria longe.
Ao vislumbrar as luzes do Lessu ao longe, entretanto, já havia descartado a ideia de fugir. Ele sempre estivera
envolvido. Assim, encontrava-se no bolso de Cham. Podia administrar isso; podia administrar Cham. Precisariam
um do outro quando ele fosse promovido a moff.
E só precisaria colaborar com o assassinato de um senador Twi’lek.
Belkor poderia viver com isso.
 
Cham e Isval viram o breu e a distância tragarem o aircar de Belkor.
– Ele não mencionou Vader nem o imperador? – quis saber Isval.
– Não. Dei oportunidade, e ele havia baixado a guarda. Teria falado algo ou eu teria visto em seus olhos. Ele
não sabe.
Isval soltou o ar dos pulmões.
– Nosso informante acertou. Vader e Palpatine vêm junto com Taa.
Cham assentiu com a cabeça.
– Ainda pode ser uma armadilha. Talvez Belkor não faça parte dela. Pode ser que suspeitem dele.
– Não – ponderou Isval. – Temos sido cuidadosos, e ele também. E Mors é uma idiota. Fica lá sentada naquela
lua há anos e deixa Belkor comandar a festa, minando, cada vez mais, o controle dela. Não, eles simplesmente
não contaram a ela sobre a vinda de Vader e do imperador. Vão substituí-la, Cham, e fazer um escarcéu para
chamar a atenção. É provável também que tragam uma guarnição de stormtroopers. Já era tempo de enfrentar
coturnos mais pesados.
Cham concordou.
– Acho que você tem razão.
– E será que estamos prontos? – indagou ela saltitante.
– Estamos prontos – respondeu Cham. – E Belkor, coitado. Quando ele souber em que realmente se meteu...
Isval enrijeceu o corpo.
– Ele não passa de imundície, Cham. Imundície imperial. Não seja coração mole. Não em relação a ele. Nem
em relação a eles. Nunca.
A veemência dela não o surpreendeu, considerando o que experimentara na juventude.
– Não se trata de ser mole. Mas de princípios. Onde eu estaria sem isso?
– No lado vencedor, espero – disse Isval. E, mudando de assunto, perguntou: – E agora?
– Agora, vamos deixar tudo pronto – respondeu Cham. – E me re ro a tudo. Essa é a operação que sempre
esperamos. Mobilize todo mundo, deixe todas as armas e naves prontas para uso. Vamos precisar do cronograma
completo das patrulhas imperiais para coordenar as ações. Vamos descobrir se somos tão bons quanto pensamos.
– Somos – a rmou ela. – Considere feito. Mas escute, vou passar dois dias em Lessu. Vou providenciar as
coisas lá mesmo.
Cham virou-se para encará-la. Raramente prestava atenção na beleza dela, tantas vezes camu ada pela máscara
de raiva. Mas naquele instante, na penumbra dos luares, ela pareceu tão vulnerável quanto no dia em que os dois
se conheceram. E tão linda. Ele aplacou o sentimento que teimava em a orar por ela. Complicação à qual não
podia ceder. Ela mesma dissera para não ser coração-mole. Ele não seria.
– O que tem em Lessu? – quis saber Cham, preocupado.
A máscara retornou.
– Assuntos pessoais. Tudo bem?
Ele não se intrometeu. Não tinha o direito de se intrometer.
– Tudo bem. Apenas tome cuidado.
– Eu sempre tomo.
– Com certeza. – Cham sorriu.
 
Isval alugara outro pequeno sótão num complexo habitacional subterrâneo de uma zona pobre de Lessu. As
paredes nas permitiam a entrada de ruídos dos quartos adjacentes, gritos de um, risos estridentes do outro. O
cheiro do jantar de alguém penetrou pelo sistema de ventilação compartilhado. Isval descobriu que estava com
fome, mas não de alimento.
A visão de Dray – o penteado impecável, o uniforme engomado, com vincos agudos, a expressão
insuportavelmente presunçosa, autocon ante – aguçara sua necessidade. Ela já a sentira chegando dias antes,
como uma tempestade de areia de Ryloth, soprando vermelha e turva no horizonte, até nalmente explodir com
violência.
Dissera a Cham que estaria em Lessu por dois dias, mas planejava usar apenas um. A ânsia era muito intensa,
a pressão, a agitação. Não podia esperar dois dias. Precisava fazê-lo aquela noite. Precisava. Caso contrário, seria
inútil a Cham, muito dispersiva, muito zangada. Precisava de alívio.
Ela sabia qual a impressão que passava aos outros, com seu andar inquieto, seus modos curtos e grossos,
sempre à beira de uma explosão. A servidão a zera assim. Se ela fosse um monstro, o Império a havia criado.
Fitou o rosto no espelhinho da parede. Usava uma tiara do tipo que eles adoravam, e a maquiagem acentuava
as salientes maçãs do rosto, os olhos profundos e os lábios carnudos. A máscara que vestia para caçar.
Não era ela na máscara. Era a criatura que fora, transformada em monstruosa.
A imensidão azul-celeste de sua pele parecia água parada. Quantas vezes ouvira essas palavras da boca de
algum imperial? Muitas vezes. Na concepção de Isval, eles imaginavam que, se fossem simpáticos, se revestissem
a opressão com belas palavras, de alguma forma estariam dando escolha a ela. Mas não davam. Apenas mentiam
para si mesmos sobre o que tiravam dela e o motivo pelo qual era obrigada a ceder. A Twi’lek nunca tivera
escolha, não uma verdadeira, não até estrangular aquele cabo do exército imperial com a bandana e fugir para a
resistência.
Carregava, porém, as cicatrizes; sempre as levaria, não na pele, mas na alma, e as abria quando precisava se
lembrar da dor ou atear mais combustível à sua raiva. Os aviltamentos da servidão a debilitaram. Sabia que
jamais se reestruturaria, não por completo, mas não se importava. A ruptura a fragmentara, e agora usava suas
partes a adas e pontudas para cortá-los. Eles a transformaram em algo – uma escrava, uma possessão, uma coisa
–, mas, depois que escapara deles, o processo continuou. Ela forjou, a marteladas, o metal do próprio espírito, até
se tornar algo novo: guerreira e, muitas vezes, assassina. E Cham Syndulla a deu um cargo, e ela o amava por
isso. Para Cham, era uma causa; mas para ela, não. Para ela, representava apenas o vetor para descarregar sua
raiva contra o Império.
Tentou abrir um sorriso no espelho ao pôr um colar, achou o sorriso útil, apesar das presas a adas. Trajava
calças justas e blusinha que mostrava a barriga. Por cima, vestiu uma capa transparente e cintilante, sabendo que
o manto delineava suas curvas quando andava. Escondeu a arma de raios num coldre na junção do dorso com as
nádegas e a vibroadaga nas sensuais tiras que envolviam a panturrilha esquerda.
Hesitou por um momento, recordando as palavras do Cham sobre princípios. Sabia que ele não aprovaria o
que ela fazia – o que já zera uma dúzia de vezes – e que sua desaprovação não seria unicamente com base no
risco que corria, mas também em princípios. Princípios. Ela mesma parafraseava a resposta a ele, e isso a liberava
para agir.
– Fazemos o que é necessário para vencer, Cham. Esses imundos merecem o que recebem.
Percebeu que se convencia apenas pela metade – Cham a devia estar in uenciando mais do que ela percebera
–, mas metade já era su ciente com a ânsia que sentia.
Nas escadas, passou por um bêbado dormindo amontoado junto à parede e ganhou a rua. A via pública
preencheu seus sentidos: os sons do tráfego e o zumbido dos transeuntes; o cheiro das fogueiras para assar
comida, dos cachimbos de especiarias, sem falar no fedor suado e seco das típicas noites de Ryloth. O vento
grudava a capa em sua silhueta, e ela sentia os olhares cravados em si, xos em sua gura esguia, mas os
ignorava.
De braço erguido, chamou um veículo de serviço, e um logo parou por conta das curvas e da maquiagem dela.
Pediu-lhe que a levasse ao Octógono, importante praça de Lessu, com oito faces rodeadas por cantinas e clubes
frequentados por imperiais, prostitutas e homens. Não havia caçado lá antes.
O Octógono situava-se à meia altura do pináculo de Lessu, encravado bem fundo na pedra. O nível mais baixo
da praça cava a trinta metros no subsolo, e uma série de estruturas esculpidas na pedra – escadarias, túneis e
varandas –, todas iluminadas com tochas, conduzia a camadas cada vez amplas e a novas escadarias, criando um
lugar labiríntico que, por m, voltava a descer ao nível da rua.
Várias cantinas e clubes se entocavam na pedra, os interiores escondidos da vista. Veículos imperiais com
sorridentes o ciais imperiais, muitas vezes na companhia de moças Twi’leks, perambulavam para lá e para cá,
num uxo constante, entre os vários níveis do Octógono. Pendões tremulavam com o vento, e sinais iluminados
e homens-placa faziam propaganda para este ou aquele estabelecimento. Isval os observava pela janela de seu
veículo de serviço, odiando todos eles.
– Sétimo nível, por favor – instruiu ela, e o motorista a conduziu a uma das camadas do nível sete, mais
precisamente a segunda mais inferior.
A porta do veículo se abriu, e os cheiros a alcançaram instantaneamente, os ecos de sua vida anterior: fumaça,
perfume e especiaria. Risos e música saltavam dos níveis inferiores.
Um o cial pançudo, decrépito, em seu uniforme cinzento, olhou para ela enquanto o veículo de serviço
decolava. Fez-lhe uma proposta, com o erguer das sobrancelhas e o sorriso onisciente, mas ela o ignorou e
descambou por uma escada nas proximidades.
– Convencida! – gritou ele.
Esquinas sombrias, recantos secretos, túneis estreitos e becos sem saída emaranhavam-se no labirinto.
Bêbados, usuários de especiarias e prostitutas matavam tempo aqui e ali, párias do submundo de Lessu.
Enquanto Isval descia as camadas do Octógono, os vícios pioravam, os sinais luminosos se tornavam mais
explícitos. Ela havia passado a juventude no primeiro nível, o Antro, como era conhecido. E era lá que ela iria
caçar.
Com um sorriso falso e a habilidade de quem tem muita prática, ela se esquivava ou se desvencilhava das
mãos tateantes dos imperiais bêbados ou chapados de especiarias em seu caminho descendente. Um deles tirou a
mão muito devagar, então ela desferiu-lhe uma joelhada na virilha e o deixou gemendo na escada. Risadas lá de
cima a lembraram de que ela precisava tomar cuidado para não ser reconhecida.
Transpirava ao alcançar o fundo, e o fedor do primeiro nível fez tudo voltar para ela. A humilhação, a fome, o
abuso, o desespero constante e implacável.
A fumaça e o fedor formavam uma névoa no ar. As tochas eram raras, os dizeres, opacos ou apagados.
Humanos, Twi’leks e outros seres moviam-se pelo ar sufocante e sombrio como fantasmas, muito envergonhados
de seus gostos para praticá-los a não ser na semiescuridão. Atravessou o ambiente, ela própria um espectro, à
procura de um lugar e um alvo adequados. Sem demora, obteve os dois.
Sentou-se num nicho perto de um clube de especiarias e vícios, imersa na escuridão e na raiva, e avistou um
o cial júnior saindo de braços dados com uma Twi’lek jovem e desnutrida. A acompanhante seminua tinha
aproximadamente vinte verões. O o cial a apalpou enquanto os dois caminhavam noite adentro. O suor brotava
no rosto dele, afogueado por calor e expectativas. Ele se inclinou, cambaleante, e murmurou algo no ouvido da
Twi’lek, que abriu o sorriso falso bem conhecido de Isval e diversas vezes usado por ela.
Com desprezo, ela o mirou com ira crescente. Nada além de um tenente novato, talvez recém-desembarcado
de um cargueiro vindo dos mundos do Núcleo. Na visão dele, usar uniforme cinzento e portar uma arma lhe
dava o direito de reivindicar os recursos e as mulheres de Ryloth.
Isval se encolheu para tomar coragem, encontrou-a e saiu do nicho. Sua repentina aparição assustou tanto o
o cial como a garota. Mas, ao observar Isval da cabeça aos pés, a surpresa no olhar dele rapidamente deu lugar à
cobiça. Nenhuma vivalma nas imediações.
O rosto vermelho do o cial embriagado iluminou-se num sorriso desleixado e palavras arrastadas brotaram:
– E não é uma gatinha? Por que não se junta a nós...
Isval se aproximou, um sorrisinho nos lábios, e escorregou a mão à junção do dorso com as nádegas. Diante do
o cial, sacou a arma de raios e o golpeou na mandíbula com a empunhadura da arma. Dentes e sangue
respingaram na rua, e ele desabou, contorcendo-se em gemidos.
A moça soltou uma única exclamação de surpresa e deu a impressão de que iria disparar numa corrida
desenfreada.
– Não vá! Fique para me ajudar – pediu Isval. Ela desarmou o o cial, agarrou-o pelas axilas e o arrastou até o
nicho escuro. A garota não a ajudou, mas seguiu-a, hesitante e cautelosa. – Qual é o seu nome? – indagou Isval,
em pé ao lado do o cial. A garota piscou e não disse nada. – Não vou machucar você – prometeu Isval.
O o cial gemeu. A mão dele se retorceu. Isval pisou nela, sentiu algo se esmigalhar, e o o cial gemeu de novo.
– Ryiin – respondeu a garota em tom suave. O olhar dela se alternava entre Isval e o o cial. – Você... está nos
roubando?
– Você e isto aqui – ela chutou o o cial – não formam o pronome “nós”, não importa o que ele tenha dito a
você.
– Eu não... o quê?
– Diga o nome de seu clã – pediu Isval.
Ryiin desviou o olhar de vergonha.
– Você não tem clã – disse Isval, com um aceno de cabeça. Falou o que já falara muitas vezes antes. – A partir
de agora, já tem. Ouça-me, Ryiin. Já estive na sua posição. Passei três anos no Antro até escapar.
Não havia esperança no olhar de Ryiin.
– Escapar? Não há como escapar daqui.
– Basta querer.
Ryiin ergueu o olhar.
– Como?
– Venha comigo. Vou levá-la daqui. Tenho um lugar para você car. E recomeçar. Longe... disto. Eu sei, eu sei.
Você não con a em mim. Por que con aria? Mas a minha oferta é genuína.
Ryiin deu um passo para trás, como se Isval estivesse ameaçando machucá-la, em vez de oferecendo ajuda.
Isval não se surpreendeu. A fé e a con ança não são muito populares entre as trabalhadoras do Octógono.
– Não posso.
– Pode. E deve. Olhe para mim. Olhe. Eu vou ajudar você.
A cabeça dela tremia.
– Eles vão vir atrás de mim.
Isval não mentiu.
– Talvez. Mas provavelmente não. Não sabem o seu nome completo. E você vai sumir do mapa. E, se quiser,
pode continuar fora dele.
– Eu... não posso.
O o cial gemeu. Isval sacou sua vibroadaga.
– O que vai fazer? – indagou Ryiin, horrorizada.
– O que devia ser feito a todos eles – respondeu Isval e se ajoelhou, a lâmina desembainhada.
– Não, não! – implorou Ryiin, correndo até se ajoelhar ao lado de Isval e tocar-lhe o pulso, com o olhar
suplicante. – Tudo bem! Vou com você, mas não faça isso.
– Não quero que venha comigo para salvá-lo – retrucou Isval. – Quero que venha para salvar a si própria. O
que ele signi ca para você?
Ryiin tou o o cial e depois Isval.
– Nada, mas... ele não fez nada de mal para mim.
– Teria feito – vociferou Isval. – É um soldado do Império. Fez algo ruim a todos nós.
– Sei disso – concordou Ryiin. – Mas não. Certo? Simplesmente, não. Vou acompanhá-la. Eu quero. Só estou...
com medo.
Vozes da passarela perto do nicho as zeram paralisar e silenciar, mas os sons logo passaram.
– Então, este aqui lhe deve a vida – disse Isval. Ela se levantou e deu um pontapé na cabeça do o cial. Ele
nem sequer gemeu, apenas permaneceu com o corpo amolecido. – Vamos logo. Você não pode voltar para buscar
nada.
– Nem tenho nada para buscar.
Isval pegou Ryiin pela mão e a conduziu para fora do poço, deixando para trás a fumaça, os olhares lascivos, as
especiarias e os vícios, subindo, subindo. Chegando ao topo, sentiu-se tão leve como há meses não se sentia.
Tinha consciência de que a sensação não iria durar, mas a desfrutou enquanto pôde. Ficou se perguntando o
que Cham pensaria dela se soubesse o que fazia, o que a compulsão a obrigava a fazer. Imaginou que ele não
entenderia. Cham pregava princípios, mas apenas pessoas que nunca tinham descido ao primeiro nível do
Octógono pensavam em termos de princípios. Isval não caía nessa; talvez Ryiin não caísse nessa. No mundo real,
os princípios não funcionavam direito.
Quando alcançaram o topo do Octógono, suadas e sem fôlego, misturaram-se à multidão. Ryiin correu o olhar
arregalado ao redor, respirando a pestilência noturna.
– Quanto tempo faz? – quis saber Isval.
– Saí do Antro há algumas semanas – respondeu Ryiin.
– Continua bem? – indagou Isval.
Esse era o ponto em que algumas das moças anteriores tinham voltado. Era raro, mas às vezes acontecia. Ryiin
falou:
– Estou bem.
– Não volte nunca – disse Isval, e Ryiin assentiu com a cabeça. – Agora vamos para casa. Um novo lar.
Um veículo de serviço levou as duas ao sótão que Isval deixara naquela noite. Ela subiu as escadas com Ryiin –
o bêbado continuava lá –, e as duas entraram no sótão.
– É bem simples – disse Isval, mostrando o quarto a ela. – Mas é seguro e é seu.
– Como assim? Não vai car? Essa não é a sua casa?
– Não, é sua. Um ano de aluguel pago.
– Um ano!
– A despensa está cheia, e naquela gaveta tem algumas centenas de créditos. Isso deve ser su ciente para você
recomeçar a vida.
Ouvindo tudo isso, Ryiin sentiu as pernas trêmulas. Procurou uma cadeira, deslizou no assento. Seus olhos se
encheram de lágrimas. Isval sacou a tiara, as roupas e recolocou seu traje normal: camisa, calça e cinturão de
armas. Ryiin a observou o tempo todo.
– Não estou entendendo nada. Quem é você? Por que faz isso?
– Já contei a você – disse Isval, olhando-se no espelhinho. Pegou um trapo, molhou-o com a água de uma jarra
e removeu a máscara de maquiagem. – Eu costumava ser o que você é. O que você era. Eu... só quero ajudar.
Gostaria que alguém tivesse me ajudado.
– Não foi isso que eu quis dizer – explicou Ryiin. – Por que eu? Sou apenas um zero à esquerda.
– Não é, não! Deixe de bobagem. Escolhi você por acaso... Você estava com um imperial e ambos estavam
sozinhos.
– Então você... procura imperiais? Para matar? Por quê?
Isval a tou no re exo do espelho.
– Precisa perguntar?
Ryiin não conseguiu encarar o olhar re etido.
– Já... fez isso antes? Matou imperiais?
Dessa vez, Isval tou o próprio re exo.
– Precisa perguntar?
Ryiin não disse nada, mas estremeceu. Isval explicou:
– Meu amigo quer salvar o planeta. Mas isso... é muito grande para mim, é demais. Só quero salvar alguém,
algumas pessoas. Talvez você.
Ryiin sorriu.
Isval limpou a garganta e juntou seus pertences.
– Cuide-se, Ryiin. Não costumo entrar em contato de novo. É perigoso para nós duas.
– Não costuma? Já fez isso com outras garotas?
– Já.
– Parece que já salvou algumas. Posso perguntar quantas?
– Muitas. Não importa.
– E cada vez, você...
Mentalmente, Isval terminou a frase. “Matou alguém?”
– Agora, tenho de ir – disse Isval.
– Espere, nem sei seu nome.
– Não precisa. Adeus, Ryiin.
– Bem, muito obrigada. Não só por me salvar, mas por não o matar.
Isval parou na soleira da porta, mas sem se virar. Por cima do ombro, indagou:
– Por que se importa tanto com isso?
Ryiin sacudiu a cabeça, ajeitando-se na cadeira.
– Não sei, mas... uma hora isso precisa parar, não é? A violência. A matança. Alguém precisa parar, ou nunca
vai acabar. Certo? Talvez eu esteja salvando você. – E deu uma risada.
Isval olhou para as próprias mãos, mas não respondeu.
– O que foi? – indagou Ryiin. – Falei algo errado? Me desculpe.
– Você não falou nada errado – respondeu Isval. – Mas talvez não tenha passado muito tempo no Antro. Boa
sorte, Ryiin. Não volte para lá, certo?
– Só isso? – quis saber a garota.
– Só.
Nisso, Isval saiu do sótão, outra garota salva das amarras. Algumas das que ela ajudara tinham voltado à vida
pregressa, mas a maioria não. Suas novas vidas não eram fáceis, mas ao menos já não eram escravas.
Chamou um veículo de serviço, e, enquanto o veículo se afastava, as palavras de Ryiin martelaram no cérebro
dela.
Uma hora isso precisa parar, não é?
Isval não enxergava como poderia parar, não para ela. Pediu ao condutor que a levasse ao Octógono, segundo
nível.
– Você não parece uma dama do segundo nível – comentou ele.
– Você caria surpreso – respondeu ela.
Desceu do veículo e se embrenhou no subsolo, rumo à escuridão mais profunda. Logo encontrou o nicho, o
imperial ainda deitado semiconsciente, a mão fraturada, o rosto manchado de púrpura, do golpe que ela lhe
aplicara. Uma poça de saliva e sangue se acumulava perto de sua boca. Sacou a vibroadaga e a encostou no
pescoço do homem. As pálpebras dele se abriram, trêmulas. Ela imaginou que o imperial quase não enxergava.
– Não – murmurou ele.
Isval encarou o olhar enevoado de dor por um longo tempo, a lâmina pronta. Afastou-a do pescoço dele e
disse:
– Ryiin salvou sua vida esta noite. Lembre-se disso, pois, se você algum dia a procurar, eu vou voltar. Está me
ouvindo?
O homem assentiu com um gemido.
Ela embainhou a lâmina.
– Então, está decidido que você vai viver. Mas ainda me deve dor.
A Twi’lek o chutou nas costelas uma, duas vezes, sentiu-as cedendo num estalo audível. Ele arfou, soltando
gemidos de agonia. Ela avançou sobre o imperial, montou em cima dele, ergueu-o pela camisa e o esmurrou no
rosto, uma, duas, três vezes, até ele car tão grogue quanto uma boneca de pano. Ofegante, ela o deixou cair no
chão e olhou para ele. Depois olhou os nós dos próprios dedos, esfolados e sangrando, assim como o restante de
seu corpo.
Estava debilitada. E isso nunca iria acabar. Não para ela.
Olhares a acompanharam quando ela saiu do beco e galgou um lance de escadaria nas proximidades. Deixou
para trás um nível completo e ouviu gritos lá embaixo. Isval fora desleixada, não tinha encoberto suas pegadas,
não tinha – como Cham sempre lhe avisava – pensado na rota de fuga. Mas espancamentos aconteciam muitas
vezes no Octógono, e ela aparentava ser apenas mais uma escrava Twi’lek. Ganhou três níveis de distância sem
ouvir perseguição alguma.
A bordo do aircar, a ânsia se diluiu. Outra vez podia raciocinar com clareza, e sua mente já se direcionava aos
preparativos necessários a m de deixar tudo pronto para o ataque a Taa e Vader. Cham bolara um plano
so sticado e extremamente perigoso. Mas ela amava a ousadia dele.
Tinham nove dias para preparar tudo.
Cham caminhava para lá e para cá na rocha trincada da conturbada área de pouso. Sorriu consigo, pensando
que ele era pior do que Isval. Bastaria resmungar um pouco e a semelhança seria perfeita.
A base subterrânea na terceira lua de Ryloth fervilhava de agitação. Uma cornucópia de tecnologia, naves
droides e armas se espalhavam no piso do setor de lançamento. Dezenas de engenheiros Twi’leks e assistentes
droides cuidavam dos itens como mães preocupadas. Peças e ferramentas jaziam bem organizadas sobre os pisos,
com técnicos e droides pinçando o que precisassem do jeito que precisassem.
Todos se focavam tão intensamente no trabalho que ninguém sequer erguia o olhar para ele.
Por muitos anos, Cham e os seus agentes compraram, roubaram e construíram naves e armas. Nesse período,
ele criara esconderijos de armas em Ryloth e nas luas de Ryloth, desde caixotes de armas leves até áreas de pouso
improvisadas, repletas de tricaças droides e caças droides abutres. Tinha um numeroso exército à disposição,
construído debaixo do nariz do Império, tudo com o auxílio compelido de Belkor Dray.
Ao longo dos anos, seus engenheiros – mais particularmente Kallon, um gênio em se tratando de inteligência
arti cial – aprenderam a reprogramar os cérebros dos caças droides para que pudessem operar sem o comando de
uma nave central de controle de droides. Não teriam muita utilidade em combates aéreos com naves tripuladas,
mas esse tipo de combate não fazia parte dos planos de Cham.
Percorreu as etapas do plano em sua mente. Apesar da determinação, dúvidas persistiam. Arriscava tudo – seu
pessoal e os seus recursos – nessa jogada. Valeria a pena, caso matasse Vader e o imperador. Isso seria capaz de
desencadear uma rebelião galáctica e, em meio ao caos, com os recursos do Império pulverizados, ele poderia
trabalhar por um Ryloth livre. Caso contrário...
Para ele, não havia caso contrário.
Seu objetivo era claro: libertar Ryloth. E estava disposto a derrubar um império para alcançá-lo.
O minúsculo comlink implantado em seu canal auditivo lhe transportou a voz de Isval, como se ela falasse
direto em seu cérebro. A Twi’lek portava um implante parecido, o que lhes permitia ouvir até mesmo os
sussurros do outro, sem que alguém ao redor por acaso ouvisse. Os engenheiros de comunicações de Cham
tinham criado uma sub-rede de contatos montada num grupo de velhos satélites das Guerras Clônicas que
orbitavam Ryloth junto com o restante dos destroços da guerra. Os comsats deram ao movimento uma rede
segura e privada em todo o planeta, até pouco além da órbita da lua mais longínqua.
– Por aqui, tudo pronto – informou ela. – As três equipes já estão instruídas.
Ele mordeu duas vezes para ativar o implante.
– Está numa equipe isca, não é?
Ela respondeu sem hesitar:
– Não. Na verdade, estou no comando da principal. Eu preciso.
– Isval...
– Não vou discutir sobre isso, Cham. Sou a melhor chance que temos. Além do mais... Eu preciso. Pela
memória de Pok.
Ele não podia discutir com os pensamentos ou sentimentos dela, mas a possibilidade de perdê-la o deixava de
pernas bambas. Con ava muito nela, e se importava muito com ela. Lembrou-se da morte de Pok, o som do
amigo sendo as xiado até morrer...
– Sei no que você está pensando – disse ela. – Mas, se isso der errado, não vai mais precisar de mim mesmo.
Nem vai precisar mais de você. Não vai sobrar um movimento para ser comandado.
Ela estava certa, e ele sabia disso.
– Então vamos nos certi car de que não dê errado.
– Já veri quei e reveri quei – a rmou ela. – Até sonho com isso.
Cham também sonhava. Em seus pensamentos, já zera três veri cações, e tudo parecia sólido, mas nunca
haviam planejado algo em escala tão grande, com tantas imprevisibilidades e variáveis dinâmicas.
– Se não derrubarmos os escudos de etores, abortamos – avisou.
– Se não eliminarmos os escudos de etores, não vai haver nada a ser abortado, porque sequer teremos
começado.
De novo, Isval tinha razão, e a calma dela contribuiu para serená-lo. Ela costumava ser agitada e inquieta, mas
cava calma como água parada na iminência de entrar em ação. Cham era o oposto: em geral, calmo e
controlado, mas desassossegado em face da ação iminente. Ele se preocupava com seu povo, talvez até demais
para um revolucionário.
Em outra época, ele teria liderado missões assim. Agora só as planejava.
– Eu me tornei um burocrata – murmurou ele.
– Só não se torne um preguiçoso – gracejou Isval, e ele riu. Ela emendou, em tom sério: – Quando as últimas
naves droides vão partir?
Ele correu o olhar ao redor para os trinta e poucos droides abutres en leirados na área de pouso.
– Acho que hoje à noite. Quando Belkor nos der o sinal.
Belkor fornecera informações sobre patrulhas imperiais, naves em aproximação e sensoriamento remoto.
Cham usara as informações para mover os caças droides e minas à borda do sistema de modo despercebido.
– E por falar em burocratas – disse ela –, como é que o nosso pequeno Belkor está lidando com a situação?
– Ah, eu acho que ele também está sonhando com isso.
– Nenhuma pista de que ele sabe sobre Vader e o imperador?
– Nenhuma. – Cham fez uma pausa e, em seguida, disse: – Dois dias, Isval. Nosso setor de inteligência sabe
dos preparativos da Perigo.
– Dois dias – concordou ela. – Estamos prontos, Cham.
– Estamos prontos – repetiu ele, como se fosse capaz de transformar as palavras em realidade ao falar com
bastante convicção.
 
Dois dias depois, Cham sentou-se no centro de comando improvisado na terceira lua de Ryloth. Três dos seus
companheiros dividiam a sala com ele: Gobi no transmissor subespacial, os dedos grossos prontos para transmitir
comandos; Xira, monitorando as leituras do sensor das sondas droides, os olhos de pálpebras pesadas absorvendo
o uxo rápido dos dados exibidos na tela; e Kallon, o consultor de engenharia. D4L1, o droide que processava os
dados para Xira, cava ao lado do assento dela, um hotlink conectando-o ao uxo de entrada de dados.
Nove holotelas montadas na parede descortinavam os con ns do sistema de Ryloth, conforme visualizado a
partir da meia dúzia de sondas droides posicionadas no cinturão de asteroides do sistema. O restante das naves
droides que eles tinham preparado se escondia no cinturão de asteroides, também, com a energia propulsora
quase a zero, à espera do comando remoto de Gobi para se reativar. Uma nuvem de minas utuava no espaço,
ornamentos suspensos no breu, esperando que a Perigo emergisse do hiperespaço.
Pela décima vez em dez minutos, Cham imaginou se Belkor perdera a coragem, traindo-o ou repassando
informações erradas. E, pela décima vez, obrigou-se a deixar o pensamento de lado. Se Belkor os tivesse traído, o
movimento se prejudicaria seriamente, sem ter conquistado nada.
Belkor, porém, não havia traído o movimento; ele não podia, porque Cham deixara bem claro quais seriam as
consequências. Não, as coisas corriam conforme planejado. E, se continuassem assim, então logo milhares de
imperiais estariam mortos, incluindo o próprio imperador.
“Terrorista, não”, lembrou-se ele. “Combatente em prol da liberdade.”
Tudo o que conquistara a duras penas durante anos estava prestes a fracassar ou dar frutos, e tudo o que ele
podia fazer era observar via transmissão subespacial instantânea a mais de seiscentos mil quilômetros de
distância.
De fato, um burocrata.
 
Vader e o imperador rumaram ao nível central da ponte de comando da Perigo. Membros da Guarda Real os
seguiram e assumiram posições nos ancos do elevador principal atrás deles. Tripulantes se apressavam para lá e
para cá, ou permaneciam sentados em suas estações, todos focados na missão de preparar um salto hiperespacial
para uma das espaçonaves mais so sticadas e poderosas do Império. No deque, perto deles, o capitão Luitt
mantinha-se a alguns passos de distância. Evitava tar Vader direto nos olhos, sem esconder o desconforto.
O capitão virou-se ao imperador imerso na sombra do capuz:
– Creio que tudo correu bem a bordo da Provocação, meu senhor.
– A hiperpropulsão está pronta e o curso traçado, senhor – avisou o timoneiro, e a informação ecoou até Luitt.
– Seria uma honra se o senhor desse a ordem, imperador – disse Luitt.
– Deixe disso, capitão – a rmou o imperador, com um aceno de mão. – Sou um líder político, não um militar.
Faça o procedimento normal.
– Acionar a hiperpropulsão – ordenou o capitão, e o comando fez uma onda de atividade uir entre a
tripulação da ponte.
Vader sentiu o tênue retumbar no deque enquanto a poderosa hiperpropulsão da Perigo se engrenava. Estrelas
e o negror do espaço sumiram, substituídos pela rotatividade azul do hiperespaço.
– A caminho de Ryloth – comunicou o timoneiro.
– Suavize a vista – ordenou Luitt, e o transparaço escureceu até o hiperespaço não ser mais visível. Ele se
virou para o imperador. – Se o senhor e Lorde Vader preferirem se retirar a seus aposentos, aviso assim que
chegarmos ao sistema de Ryloth.
– Acho que vamos permanecer na ponte, por enquanto, capitão – informou o imperador.
– Perfeito, senhor – disse Luitt, franzindo os lábios sob o hirsuto bigode grisalho. – Não vai demorar muito.
O capitão se afastou, espiando sobre os ombros dos tripulantes, emitindo ordens, sempre mantendo distância
de Vader. Na ponte de comando, a tripulação foi estabelecendo seu ritmo próprio.
– Acho que você o deixa desconfortável, Lorde Vader – opinou o imperador.
Vader inquietava a maioria dos o ciais que encontrava. Para eles, Vader representava um vulto imponente e
sombrio, de fora de sua cadeia de comando, que surgira de repente e detinha poderes que eles não entendiam.
– O desconforto dele é útil para mim – avaliou Vader.
– Subalternos devem sempre se sentir desconfortáveis na presença dos superiores – disse o imperador. – Não
concorda?
Vader entendeu a pergunta oculta e respondeu conforme deveria:
– Sim, meu mestre.
– Ótimo.
Os dois vigiaram a ponte num silêncio rompido apenas pelo estridente respirador de Vader, enquanto a Perigo
cruzava parsecs num piscar de olhos. Após um tempo, a tripulação da ponte adotou um ritmo distinto e se
aprontou para retornar o destróier estelar ao espaço normal.
– Saindo do hiperespaço – avisou o timoneiro.
– Saindo do hiperespaço. Sim – o aviso ecoou na ponte de comando.
– E o teste começa – disse o imperador.
Vader tou o seu mestre, a cabeça inclinada com ar de questionamento, sem absorver o que ele queria dizer
com aquilo, até que ele, também, sentiu a perturbação na Força.
 
– Uma nave está saindo do hiperespaço – anunciou Xira com a voz empolgada.
Cham percebeu que estivera de punhos cerrados nos últimos trinta minutos.
– Ativar as minas. Vamos encurralá-los. Sangradores de escudos em espera.
O par de tentáculos de Kallon balançou com nervosismo, e sua pele roxa se tornou lavanda. Os sangradores
eram invenção dele. Como sempre, ele murmurava com os seus botões.
Cham pôs uma das mãos no ombro de Gobi.
– Prepare-se para transmitir às naves droides, Gobi.
– Estou mais do que pronto, Cham – informou Gobi, trêmulo de emoção ou tensão. – Vamos alimentar esses
imperiais com artilharia.
– Vamos fazer exatamente isso – concordou Cham.
Terrorista, não: combatente em prol da liberdade.
 
Enquanto a Perigo emergia do hiperespaço na borda externa do sistema de Ryloth, a colossal vigia clareou,
permitindo vislumbrar ao longe vários gigantes gasosos e, em primeiro plano, o cinturão de asteroides que
dividia o sistema em exterior e interior. Distante, a estrela do sistema ardia em um alaranjado brilhante. Ainda
não se enxergava o planeta Ryloth.
– Aceleração máxima – começou o capitão, mas, antes de terminar, um impacto soou a estibordo,
chacoalhando a imensa nave.
Cabeças se ergueram das estações, com olhares indagadores. Logo veio um segundo impacto, e depois um
terceiro, mais intenso que os anteriores, que fez a nave se inclinar. Vader tou a holotela e não enxergou nada. O
mestre dele olhou para o chão, um sorriso meio estranho no rosto.
– Situação! – solicitou o capitão, a voz tranquila.
– Senhor, estou...
Um quarto impacto abalou a nave, e mais outro, e mais outros. A nave se enviesou ainda mais. Alarmes
dispararam.
– Temos curtos-circuitos e alguns incêndios por toda a nave – informou o o cial de serviço. – Há relato de
feridos.
– O que está acontecendo, capitão? – quis saber Vader, dando um passo à frente e agarrando Luitt pelo braço
com pressão su ciente para provocar uma expressão de dor.
Luitt encarou Vader, o imperador e esbravejou com seu o cial de varredura.
– Situação, o cial?
– Minas, senhor – explicou o o cial de varredura. – Centenas delas, por todos os lugares.
– Minas? – repetiu o capitão. – Parada completa. Armas a postos.
Mais explosões sacudiram a nave, e uma dúzia de minas utuou no campo de visão da holotela – elas surgiam
em todos os formatos e tamanhos, enormes cubos com sensores magnéticos, esferas pontudas com detectores
cinéticos. Pelo design, Vader identi cou que algumas eram modernas, outras da época das Guerras Clônicas e
outras ainda mais antigas.
– Os escudos de etores vão impedir danos reais à nave, meu senhor – disse o capitão Luitt ao imperador. –
Peço desculpas pelo inconveniente.
– Faça uma varredura aprofundada nessa área do sistema – recomendou Vader. – Em especial, no cinturão de
asteroides. Pressinto algo...
O capitão Luitt franziu os lábios em impaciência.
– Meu senhor, é provável que seja apenas um conjunto de minas que sobrou das Guerras Clônicas utuando
no sistema exterior. Já ouvi relatos sobre isso. Elas não representam nenhuma ameaça para nós...
Vader pôs o dedo em riste na cara do capitão.
– Faça o que mandei, capitão.
Luitt franziu o cenho, mas não se atreveu a desobedecer.
– Às ordens, Lorde Vader. O cial de varredura, comece...
Outra série de explosões abalou os escudos da nave, fazendo o deque estremecer.
– Sem danos – avisou alguém da tripulação de ponte. – Escudos aguentando.
– Senhor! Ainda existem mais de trezentas minas lá fora – avisou o o cial de varredura.
Luitt não teve a coragem de erguer o olhar para Vader. Dirigiu-se a Palpatine:
– Imperador, talvez fosse melhor o senhor se retirar da ponte.
– Aí que você se engana – rebateu o imperador. – Meu lugar é exatamente aqui.
O o cial de varredura se debruçou sobre seu instrumental.
– Estou obtendo leituras bizarras, capitão. Acho que deve ver isso.
– O que foi? – indagou Luitt, irritadiço, mas aproximando-se rápido da estação de varredura. Vader o seguiu
de perto, assomando atrás de capitão e tripulante.
– Isso. – Ele mostrou o o cial de varredura, apontando a leitura na tela.
Vader e Luitt a observaram e logo compreenderam seu signi cado. Luitt deixou escapar um palavrão e
aprumou o corpo.
– Soar o alarme de estações de combate. Timoneiro, reversão total!
– Estamos cercados de minas por todos os lados, senhor. Se revertermos...
– Não me importa! Reversão total! Agora!
– É tarde demais para isso, capitão – ponderou Vader. Ativou um controle remoto na sua armadura a m de
deixar a interceptadora pronta para decolar. – Dê o alerta às equipes aéreas – recomendou ele a Luitt. – Prepare-
se para enviar seus V-wings.
– O quê? Por quê? – indagou Luitt, correndo o olhar de Vader ao imperador. – Os escudos ainda estão ativos.
– Mas não por muito tempo – previu Vader.
– Obedeça ao Lorde Vader – con rmou o imperador, colocando energia su ciente em seu tom para
atemorizar a todos na ponte.
– Dê o comando – disse Luitt ao o cial de serviço. – E duplique a capacidade dos escudos dianteiros.
 
D4L1 emitiu um bipe para Xira, e ela assentiu em resposta.
– A Perigo está revertendo.
– Detectaram os sangradores – observou Cham.
Todos eles assistiam às telas enquanto as minas próximas à popa da Perigo transformavam-se em fogo. Uma,
cinco, uma dúzia, vinte.
– Até agora, parece que as minas causaram pouquíssimos danos.
– Até agora – frisou Gobi, quase saltando na cadeira dele.
Kallon falava sozinho, tamborilando com o indicador na mesa à qual estava sentado.
Nas telas xadas à parede, Cham pôde visualizar o gigantesco destróier estelar de vários ângulos, a imagem
ocasionalmente obscurecida por um asteroide girando defronte a uma das sondas droides. Centenas de minas
não detonadas utuavam no espaço, seguindo o rastro da colossal nave em movimento reverso.
A próxima etapa seria crucial. Pressentiu o olhar de Kallon cravado nele. Cham preferia que a nave se
aproximasse mais do cinturão de asteroides, mas agora não havia alternativa.
– Ativar os sangradores de escudo, agora – ordenou ele, e Gobi assentiu com a cabeça.
– Vocês conseguem – disse Kallon, e continuou repetindo a frase para si, como se fosse um feitiço. – Vocês
conseguem.
Observaram as telas, vendo pelos olhos das sondas. Kallon redesenhara duas dúzias das minas. Quando
tocavam nos escudos de uma nave, elas não explodiam, mas, em vez disso, agarravam-se à energia própria dos
escudos, estabeleciam um contragradiente e, em tese, enfraqueciam-nos o su ciente para que os caças os
ultrapassassem.
Cham não sabia dizer quais minas foram manipuladas para explodir e quais eram programadas para derrubar
os escudos, mas poderia a rmar quando os sangradores atingissem os escudos da Perigo e se ativassem.
O espaço ao redor da imensa nave se transformou numa série de linhas cintilantes, veias no campo protetor
do escudo que se estendiam de cada um dos sangradores até os outros. Os escudos visivelmente tremeluziam
enquanto as linhas se expandiam. Parecia que a Perigo estava presa numa rede incandescente.
– Peixão na rede! – exclamou Gobi.
Talvez, pensou Cham, ainda não muito disposto a acreditar.
– Vocês conseguem – murmurou Kallon aos sangradores. – Conseguem.
– Fale comigo, Kallon – pediu Cham.
Kallon estudou os dados oriundos do computador de Xira. O D4L1 gorjeou algo que deve ter aborrecido
Kallon. Ele golpeou o droide em sua cúpula prateada.
– Acho que está funcionando – informou Kallon. Fitou, na tela, a rede que envolvia a Perigo. – Parece que está
funcionando.
– Mas está mesmo? – quis saber Cham.
– Os escudos estão se enfraquecendo – enfatizou Xira, também estudando os dados.
– Então, ao ataque – ordenou Cham. E a Gobi: – Lancem todas as naves droides.
Gobi emitiu o sinal. Pelos olhos das sondas, avistaram uma frota de centenas de caças droides abutres acelerar
além do campo de asteroides.
– Feito! – exclamou Gobi.
– Feito – ecoou Cham suavemente.
 
– O que é aquilo? – perguntou Luitt.
A holotela mostrava uma densa matriz de linhas, brilhantes como relâmpagos, traçando caminhos irregulares
ao longo dos escudos.
– Escudos a 50% – constatou o o cial de varredura, a entonação entre perplexa e alarmada. – Em 17! E 25 de
novo!
– Retorne-os à plena capacidade! – ordenou Luitt.
– Parada completa – ordenou Vader, e Luitt não deu contraordens.
Com os escudos enfraquecendo, não podiam correr o risco de se chocar contra as minas ao redor.
O timoneiro paralisou a Perigo, e o o cial de varredura tamborilou em sua tela.
– Capitão, algumas minas são diferentes. Têm dispositivos que criam uma espécie de alça de retroalimentação
na matriz do escudo. Não derrubam os escudos, mas os enfraquecem. Perfuram aberturas aqui e ali.
Um desconfortável rumor percorreu a tripulação da ponte. Vader olhou para seu mestre, mas o imperador
parecia imerso em pensamentos, um sorriso tênue erguendo os cantos dos nos lábios.
Luitt ia de estação em estação, estudando as leituras, e, ao falar, sua voz estava tensa.
– Deem um jeito de consertar. Armas, mirem nesses dispositivos e os eliminem.
– Existem centenas de minas lá fora, senhor – ponderou o o cial de armas. – Um erro com os escudos
enfraquecidos pode provocar uma reação em cadeia de explosões.
– Então não erre! – vociferou Luitt.
– Senhor – avisou o o cial de varredura –, não consigo identi car qual mina é comum e qual não é. São
muitas e de tamanho muito pequeno.
Luitt engoliu em seco. Sem dúvida, ele se sentia tão preso numa armadilha quanto a Perigo. Correu o olhar
entre o imperador, Vader e a tripulação da ponte de comando.
Outro tripulante acrescentou:
– As minas têm atratores de proximidade. Se os escudos caírem, vamos atraí-las e elas explodirão.
Outro rumor de desconforto atravessou a tripulação. A Perigo não podia se mover, mas precisava fazê-lo.
– Preciso de opções – disse Luitt, e a tripulação mergulhou em dados.
Vader lhe deu uma:
– Lance as esquadrilhas de caças – disse ele. – Vou liderá-las.
Seja qual fosse o desconforto que Luitt tinha com Vader, desapareceu em meio à crise. Ele assentiu, aliviado.
– Claro. Os caças podem eliminar as minas com precisão.
– Senhor – interpôs o o cial de varredura, a voz aguda tentando não transparecer alarmada. – Centenas de
droides abutres se aproximam além do cinturão de asteroides. Eles estão vindo direto para nós.
 
– Estações de combate – disse Luitt, e o alarme começou a tocar.
Vader virou-se para falar com o imperador, mas, antes de dizer algo, ele falou:
– Pensa em sugerir que eu me retire para um local mais seguro. A minha nave auxiliar, talvez, ou meus
aposentos.
Vader assentiu com a cabeça. Muitas vezes, o mestre dele captava seus pensamentos.
– Acho que vou car aqui para ver o desenrolar dos fatos – disse o imperador. – Mas siga em frente com seu
plano.
– Sim, mestre – respondeu Vader.
Com uma reverência, rumou ao elevador. Ao se aproximar, as portas se abriram para revelar um inquieto Orn
Free Taa. O Twi’lek saiu bamboleando do elevador, as orelhas enormes suspensas, a papada e a pança balançando,
e encarou a holotela apavorado.
– Minha nossa! O que está acontecendo?
– Saudações, senador – disse o imperador, e, antes que Taa pudesse responder, Vader fez um gesto com a mão
e usou a Força para arremessar o senador para fora de seu caminho. Taa arquejou ao bater na antepara e deslizou
aos pés de um dos guardas reais do imperador.
– Lorde Vader está com pressa – disse o imperador. – Perdoe-o.
Vader entrou no elevador, deu meia-volta e mirou Taa enquanto as portas se fechavam.
Ele tinha pouco tempo. Assim que as portas do elevador se abriram no nível da plataforma de voo, Vader se
precipitou pelos corredores da Perigo e, en m, pegou o elevador rumo à área dos caças.
Dezenas de V-wings se en leiravam no deque de voo com os propulsores já ligados. Os alarmes estridentes
deixaram o deque de voo fervilhando. Pilotos em seus trajes se apressavam para suas naves, e uma dúzia de
droides de manutenção rodava ao redor, emitindo bipes e zunindo. Ignorando a escada, Vader usou a Força para
subir na cabine da interceptadora e escorregar no assento. A velou-se, baixou a cúpula e escutou a voz do
capitão da esquadrilha no comunicador do capacete:
– O que vamos enfrentar lá, senhor?
– No mínimo, minas e droides abutres, capitão.
– Droides abutres? Faz um bom tempo que não via isso, senhor.
– Partam quando estiverem prontos – disse Vader à esquadrilha quando os propulsores antigravitacionais
ergueram sua nave do deque. Dezenas de V-wings imitaram o procedimento.
O comandante sincronizou as identi cações dos pilotos dos caças com o computador da ponte, de modo que
pudessem ser facilmente distinguidos das minas e dos droides abutres que se aproximavam.
– Pronto para lançar – informou o o cial da ponte.
– Lorde Vader – disse a voz de Luitt, no canal privado. – Os escudos estão a 16%.
– Entendi, capitão – falou Vader, acionando os propulsores iônicos.
Sua interceptadora acelerou espaço afora.
– Pode ampliar na área de lançamento? – indagou Cham, e Kallon, ainda murmurando consigo, agiu
conforme solicitado.
Uma das telas na parede ampliou a imagem no ventre da área de lançamento do destróier estelar e, através da
brilhante rede de escudos moribundos, eles assistiram à decolagem de dezenas de V-wings. Cham havia previsto
um contingente para combate aéreo. Um terço dos droides abutres combateria os V-wings. O restante
continuaria a missão deles.
– Situação dos escudos de etores? – indagou a Kallon.
Kallon balançou a cabeça.
– Longe demais para leituras precisas, mas...
Enquanto observavam, a rede de linhas ao redor da Perigo chamejou e expirou. Os escudos tinham sido
derrubados. Com um sorriso, Kallon se recostou no assento:
– Bem, no m das contas, temos uma leitura precisa. Derrubados.
– Sim – exclamou Gobi, batendo com o punho na mesa, derramando seu caf.
Nem mesmo Cham conteve um sorriso.
 
Vader viu os escudos chamejarem e se apagarem mesmo antes da frenética ligação de Luitt por meio do
comunicador.
– Escudos derrubados, Lorde Vader.
Dezenas de minas, magnetizadas por suas matrizes atratoras, utuaram em direção à nave, aos poucos
ganhando velocidade, e centenas de droides de combate perseguiram a nave como um enxame de abelhas.
Vader rodopiou sua interceptadora em direção às minas e aos droides abutres que se aproximavam. Pressentiu
uma ameaça maior nos droides do que nas minas.
– Libere todas as baterias para disparar nas minas, capitão.
A voz do capitão dos V-wings surgiu no comunicador.
– Dez segundos até os abutres entrarem no alcance. Por enquanto, mirem nas minas.
Vader mergulhou no poço profundo de raiva que jazia em seu âmago, usou-o para se centrar na Força e voar
inteiramente pelo instinto. Escolheu uma mina, disparou, presenciando-a se vaporizar, e atravessou as chamas.
Girando à direita, alvejou outra, e mais uma, destruindo uma mina a cada disparo. Às vezes, as explosões
acionavam as minas mais próximas, e o espaço logo foi preenchido por uma rede de detonações simultâneas.
Vader cruzou o caos com piruetas e espirais.
– São tantas que não vamos conseguir interceptar nem metade – disse um dos pilotos.
– Droides se aproximando – informou o comandante da esquadrilha.
– Espalhem-se para combater os droides – ordenou Vader.
Em torno dele, as temíveis baterias de artilharia do destróier estelar desenhavam linhas de plasma ionizado no
veludo espacial. Minas detonavam à esquerda e à direita de Vader. Ele realizou um amplo círculo para cima,
fazendo estremecer a ponte de comando da Perigo ao disparar em outra mina, e mais outra. E ainda havia
muitas.
A primeira mina atingiu o casco do destróier estelar, grudou-se à antepara e desabrochou numa corola de fogo
– duas, oito, uma dúzia, vinte. As explosões lançaram altas labaredas de fogo no espaço. Destroços e corpos
voaram para fora dos rombos da explosão e rumo ao vácuo. Vader pôde imaginar os incêndios, a morte, os
alarmes estridentes.
Ele sobrevoou a imensa pirâmide da nave, contornando a superestrutura da Perigo e destruindo três minas
antes que elas se conectassem ao casco para concentrar suas explosões na antepara da nave. As explosões
causavam danos super ciais, mas não estraçalhavam a nave.
– Droides ao alcance – avisou o comandante da esquadrilha. – Reagrupar e adotar formações de ataque.
 
Cham tou as telas, apertou a mandíbula, os ombros curvos, enquanto os caças se aproximavam. Eles pareciam
minúsculos contra o fundo do destróier estelar, moscas varejeiras ao redor de um lylek.
A escuridão do espaço em torno da Perigo se acendia com o fogo e as explosões da artilharia. Gobi assobiava
com alegria cada vez que uma mina atingia o destróier estelar e se transformava em fogo.
Cham sabia que os droides abutres redesenhados por Kallon não eram tão manobráveis quanto os normais,
não com sua carga e cérebros inchados. Não seriam páreos para os V-wings, mas Cham precisava que apenas uma
fração deles ultrapassasse e causasse danos incapacitantes à Perigo.
– Voem, passarinhos, voem – sussurrou ele.
O comunicador seguro que ele portava no ouvido soou: Isval.
– Fala – murmurou baixinho.
– Informes preliminares sobre o ataque chegaram ao planeta. Está um caos aqui embaixo.
– Interceptações? – perguntou ele.
– Não que eu saiba, mas estou numa nave de reparo. Tenho certeza de que não vai demorar muito.
Cham olhou para a tela.
– Eles vão chegar tarde demais para interromper isso.
– Como vão as coisas? – quis saber ela.
Cham tou a tela.
– Os abutres se aproximam. Está pronta?
– Estamos prontos – disse Isval.
– Mantenho contato – concluiu, cortando a conexão.
Na tela, os caças estelares – abutres de um lado, V-wings do outro – iluminavam o espaço com fogo de
artilharia.
– E aqui vamos nós! – exclamou Gobi.
 
A nuvem de droides abutres chegou abrindo fogo ao mesmo tempo, as armas de raios de repetição cuspindo
feixes de energia vermelha através do vácuo. Vader gingou sua interceptadora para longe da Perigo, que ardia
pelas dezenas de explosões de minas, e voou direto aos abutres que chegavam. Linhas de energia preencheram o
espaço ao redor, os sólidos pulsos verdes da Perigo e os intermitentes raios vermelhos dos droides.
Vader deixou a Força guiá-lo, as mãos suaves e rápidas nos controles, e a nave dançava incólume em meio à
matriz de explosões. Os droides abutres dispersavam para todos os lados, enquanto a interceptadora e os V-wings
se aproximavam. Vader mirou num droide abutre e disparou, destruindo-o; espiralou à direita, disparou de novo
e destruiu outro.
Talvez um terço dos droides tenha se dispersado para combater os V-wings, enquanto a maior parte seguiu
rumo à Perigo. O comunicador de Vader foi preenchido com a conversa dos pilotos da esquadrilha, chamando
uns aos outros, escolhendo alvos, cobrindo os ancos dos companheiros.
Vader escolheu um dos droides e saiu em seu encalço. O droide ziguezagueava tentando despistar seu
perseguidor. Os abutres voavam com lentidão, meio desajeitados, e ele cou descon ado – até se dar conta:
tinham sido modi cados. Todos eles apresentavam protuberâncias nos ventres, um compartimento adicional ou
algum tipo de arma. Isso tornava o voo deles esquisito, muito menos manobrável do que o habitual.
Para matar a curiosidade, ele perseguiu um, mirou com cuidado, disparou e arrebentou uma das asas em
forma de vagem. A nave redemoinhou fora de controle, e a energia centrífuga começou a destruí-la. Vader
observou-a até que o compartimento ventral se esfacelou e revelou seu conteúdo.
Centenas de esferas metálicas derramaram-se espaço afora. Vader bateu no manche, baixando a
interceptadora, mas não desviou dos estilhaços completamente. As esferas se chocaram na nave dele e se
grudaram nela, e ele percebeu que não eram estilhaços, mas sim droides zumbidos. Das esferas magnéticas
brotaram pernas e pedúnculos que se posicionaram nas asas e na fuselagem para causar danos maiores.
Esquivou-se do fogo de um droide abutre, descambando à esquerda, disparou em outro, destruiu-o, e então
mergulhou na Força para causar uma onda de energia cinética e repelir os droides de sua nave. Incapazes de
resistir à súbita explosão, eles voaram para todos os lados e, para sua surpresa, detonaram-se com potência
su ciente para que a série de ondas explosivas balançasse sua nave e temporariamente a arremessasse num
turbilhão. Um abutre encostou atrás de Vader enquanto ele estava vulnerável, disparou e atingiu sua asa antes
que ele conseguisse reequilibrar a nave e despistar o perseguidor.
– Os abutres estão com uma carga de droides zumbidos explosivos – informou Vader pelo comunicador. Fitou
a Perigo e avistou dezenas de abutres, gordos com os droides zumbidos explosivos, voando direto ao destróier
estelar.
– Tentem mantê-los longe da Perigo – avisou o comandante da esquadrilha ao restante dos pilotos, logo
compreendendo as implicações.
Vader acionou o manche e num rodopio apontou a nave rumo à Perigo, mas logo notou que era tarde demais.
Às dezenas, droides tinham sido vaporizados pela artilharia fulminante do destróier estelar, e os V-wings, mais
manobráveis, perseguiram e destruíram inúmeros deles, também, mas muitos passariam.
Nesse meio-tempo, nuvens de droides zumbidos que tinham sobrevivido à destruição dos droides abutres
utuavam livres no espaço, pernas e pedúnculos balançando. Vader observou vários se xarem a um V-wing, ao
voar por eles. Correram até as asas e a cúpula e detonaram, arrebentando uma asa, quebrando a cúpula e
destruindo o caça.
Vader acelerou e voou direto a uma nuvem deles, usando a mão livre para concentrar seu uso da Força ao se
aproximar. Com um gesto, um exercício de vontade, ele fez vários dos droides zumbidos, que utuavam à deriva,
se chocarem uns com os outros, detonando e abrindo caminho para ele. Saiu no encalço de outro droide abutre
antes de alcançar a Perigo, seguiu-o enquanto dava uma guinada à esquerda e, em um ato contínuo, disparou,
transformando o droide numa nuvem de chamas.
Como esperado, os droides abutres dispararam ao abordar o destróier estelar, mas não reduziram a velocidade
para aumentar a capacidade de manobra. Em vez disso, mantiveram a aceleração máxima, obviamente com a
intenção de colidir com a nave e liberar sua carga. Vader destruiu outra, e mais outra. Mas não conseguiu
interceptar todas, e os abutres sobreviventes se chocaram com a nave a toda velocidade.
Enormes colunas de chamas se ergueram da superestrutura da Perigo. Vader desviou à esquerda e contornou,
eliminando outro droide abutre na manobra. Imaginou que os danos ao interior do destróier estelar eram piores
do que conseguia ver, pois os droides abutres teriam ejetado seus droides zumbidos nos corredores. As diminutas
bombas rolavam para o interior da nave e detonavam.
Dois abutres rumavam direto ao gerador dos escudos. Ele destruiu um após o outro, mas os droides zumbidos
que eles traziam utuaram para fora do fogo que destruía os abutres, vagaram para o gerador de escudos e lá
explodiram em chamas. Um abutre se espatifou contra o deque de voo; outro se chocou próximo à ponte de
comando. Muitos se esfacelaram perto das torretas de artilharia da nave e as destruíram. Explosões secundárias
sacudiram a nave. Em dezenas de aberturas, o destróier estelar sangrava labaredas de fogo, destroços e cadáveres.
Vader sobrevoou a nave, à procura de mais alvos, e avistou outra onda de abutres avançando rumo à Perigo.
Ouviam-se xingamentos e exclamações de surpresa pelo comunicador das esquadrilhas de V-wings.
– Não percam a concentração – esbravejou o capitão. – E destruam os abutres antes que cheguem à nave.
Vader deu meia-volta, seguido pela maior parte da esquadrilha de V-wings, e abriu fogo contra os droides
abutres. Destruiu um, e mais um. A estibordo, um V-wing foi atingido pelos raios dos droides e explodiu.
 
Kallon parou de murmurar e até mesmo abriu um sorriso ao observar a Perigo incendiar. Inquieto, Gobi
caminhava de um lado para o outro, um olhar de empolgação nas telas, o sorriso estampado no rosto.
Mas Cham entendia melhor que os camaradas a capacidade da nave para resistir a danos. Eles conseguiram
feri-la, matando centenas, talvez milhares de imperiais, mas estavam longe de destruí-la.
– Os canhões dela estão fora de combate! – exclamou Gobi. – A nave está indefesa! Vamos acabar com ela!
– A segunda onda, Kallon – ordenou Cham, e Kallon enviou o comando para a segunda onda de droides
abutres que Cham mantivera na reserva. Ele voltou a resmungar consigo mesmo no momento em que mandou o
sinal.
Mais cento e poucos droides abutres, todos carregados com droides zumbidos explosivos, foram acionados e
aceleraram de fora do cinturão de asteroides rumo à nave. Cham observou a aproximação deles, deixando a
esperança se aninhar em seu peito. Mordeu duas vezes para ativar o minúsculo comunicador implantado no
ouvido e falou com Isval.
– Talvez nem seja necessário vocês entrarem em ação. As coisas estão indo bem.
– Assim seja – respondeu ela, e ele captou a decepção no tom da Twi’lek. – Mas estamos prontos.
 
Sentada no assento do copiloto da retangular nave de reparo, Isval observava a vasta plataforma de
lançamento subterrânea em Ryloth. Ao lado dela, no assento do piloto, Eshgo brincava com o computador.
O movimento fora capaz de colocar equipes a bordo de três das naves de reparo, e agora só estavam esperando.
Ela queria se erguer e car caminhando, mas não havia espaço. A palete de ferramentas antigravitacional e o
restante da equipe dela – Eshgo, Drim, Crost e Faylin, a única humana do grupo – preenchiam a acanhada nave.
Cham dissera que tudo corria bem. Se tudo corresse de acordo com o planejado – e as coisas normalmente
corriam quando Cham fazia os planos –, ela esperava uma ligação para decolar em breve. Se a Perigo estivesse
queimando, e ela esperava isso fervorosamente, seria necessário assistência que não fosse imperial.
Várias dezenas de outras naves de reparo jaziam na plataforma. Droides de manutenção e engenheiros com
datapads iam para cá e para lá, veri cando a situação das naves. A comunicação a bordo funcionava pelas
frequências emergenciais de Ryloth.
– Nada – falou Eshgo.
– Ainda não entraram em desespero para solicitar ajuda twi’lek – comentou Isval, correndo o olhar para fora
da nave. – Mas vão entrar.
Nesse meio-tempo, não havia nada a fazer além de esperar, e Isval detestava car esperando.
 
Vader avistou a onda de droides abutres e ordenou:
– Recue, comandante. A esquadrilha inteira. Destruam todas as naves que passarem por mim.
– Senhor, mas...
– As minhas ordens são essas, comandante.
– Sim, Lorde Vader.
A voz do capitão Luitt surgiu no comunicador, a entonação estressada. Alarmes soavam ao fundo.
– Lorde Vader, não sei se vamos sobreviver a outra leva de droides abutres.
– Não vai precisar – disse Vader, cortando a conexão.
Vader imergiu completamente na Força, deixou sua raiva uir através dele, a m de usá-la como arma, e voou
diretamente rumo aos droides abutres.
 
O júbilo se esvaiu do centro de comando, substituído pelo silêncio de uma pergunta silenciosa. Gobi a
verbalizou:
– Aquilo é só uma nave se separando das outras? É um V-wing ou outra coisa? O que está fazendo?
Cham não conseguia distinguir um caça estelar do outro, mas não tinha dúvidas sobre quem estava no
comando daquela nave desgarrada.
“Ele não é um homem”, dissera Isval, e Cham acreditou só pela metade. Ativou seu comunicador e falou com
Isval:
– Pensando bem, acho que podemos precisar de você.
– O que está acontecendo? – indagou ela, sem esconder a empolgação.
Ele balançou a cabeça, em dúvida.
– Vader. Pensei que talvez estivéssemos com sorte, mas... quem de prontidão.
 
Quando Vader cou ao alcance das armas dos abutres, o enxame inteiro se abriu em todas as direções e
disparou contra ele. Enredado na Força, intuitivamente calculou ângulos, velocidades e vetores: sua
interceptadora subia, descia, girava, rodopiava, navegando em meio ao ataque cerrado das rajadas de raios, com
milímetros de margem de erro. Ele não contra-atacou. Sua arma não eram os raios. Em vez disso, concentrou-se
nos droides abutres líderes e estendeu a mão com a Força.
Com um esforço de determinação e um pequeno gesto, estraçalhou o compartimento ventral de três caças
abutres. Os diminutos e explosivos droides zumbidos que eles continham se esparramaram no espaço. Muitos dos
droides abutres que vinham no rastro, incapazes de se desviar, colidiram com os droides zumbidos dispersos, e
explosões transformaram dúzias de droides abutres e droides zumbidos em destroços.
Um após o outro, Vader dominava e rasgava o ventre dos droides abutres. Nuvens de droides zumbidos
preencheram o espaço de incontáveis pequenas explosões, in igindo devastação no enxame de droides abutres.
Vader atravessou a nuvem e a ultrapassou, continuando a evitar as rajadas de raios. Fez um retorno fechado e os
perseguiu, enquanto os droides abutres sobreviventes – uns vinte, apenas – se dirigiam à Perigo.
– Não permita a passagem de nenhum dos retardatários, comandante – disse Vader ao capitão da esquadrilha,
enquanto acelerava no encalço deles.
Vader conseguiu cercar os droides abutres com a ajuda do restante da esquadrilha. Ergueu a nave para evitar
qualquer fogo cruzado e assistiu aos V-wings dispararem contra os droides. Os droides atacaram e destruíram
dois V-wings, mas o resto da esquadrilha não teve muito trabalho para eliminar os droides restantes. Destroços,
fogo e nuvens de droides zumbidos giraram no espaço.
– Bom trabalho, comandante – elogiou Vader. – Mantenha o perímetro. Estou voltando à Perigo.
Suspenso no breu espacial, o destróier estelar ardia em dezenas de pontos ao longo de sua superestrutura
cuneiforme. Rombos irregulares no casco pareciam bocas escancaradas.
Vader entrou pela área de desembarque repleta de fumaça e viu a destruição no local. Chamas por toda a
parte. Tubos rompidos sopravam gás e líquido. A tripulação desnorteada se esbarrava, alguns com máscaras de
oxigênio portáteis, outros sucumbindo em meio à fumaça. Droides, sistemas de supressão automatizados e
equipes de bombeiros combatiam os focos aqui e ali, mas a maioria ardia sem controle. Os danos superavam a
capacidade da tripulação para contornar o problema. Precisavam de ajuda. Cadáveres e corpos retalhados jaziam
dispersos entre os destroços. Naves queimavam na área de pouso, incluindo a nave auxiliar do imperador.
Ao deparar com aquilo, Vader suspeitou que seu mestre previra boa parte dos acontecimentos. Mas, se fosse
assim, ele zera muito pouco para impedi-los.
Vader pousou a nave, abriu a cúpula com um estalo, pulou para fora e atravessou, a passos largos, a carni cina
e a fumaça. Droides mecânicos arrebentados, ruínas de caças estelares e fragmentos de droides abutres
explodidos se espalhavam na área de pouso, espirais de fumaça subindo dos escombros. Os alarmes de
emergência tocavam estridentes. Vader se apressou rumo à ponte de comando.
Por toda a nave, o mesmo cenário. Tripulantes para lá e para cá, comandos esbravejados, gritos de dor, fumaça,
fogo, caos, desordem.
A raiva de Vader crescia a cada passo dado.
 
Em seus aposentos, Belkor se inquietava, o coração acelerado, o suor nervoso estampando um brilho
desconfortável no rosto. Respirou fundo quando seu comlink zumbiu.
– Aqui é o coronel Belkor.
– Senhor, venha imediatamente à central de comunicações. A Perigo foi atacada.
Belkor ensaiara a resposta dele muitas vezes.
– Estou a caminho – disse, com a quantidade calculada de alarme e de urgência. – Situação da Perigo?
– Desconhecida por enquanto, senhor. Ainda não temos detalhes. Ainda à espera de informações.
Belkor cortou a conexão, alisou o uniforme, ajustou o quepe, adotou sua máscara e rumou à central de
comunicações. Homens e mulheres uniformizados se apressavam pelos corredores da instalação. O estalido de
seus coturnos no piso sem carpete soou em seus ouvidos enquanto ele repetia mentalmente o que falaria a Mors.
Adiante, avistou as portas transparentes da central de comunicações. Elas se abriram quando ele se
aproximou, deixando escapar uma lufada de conversas frenéticas. Belkor captou trechos aqui e ali. O tenente-
coronel, no comando em sua ausência, o viu entrar e correu na direção dele, assentindo para algo em seu
comunicador de ouvido enquanto andava.
– Coronel Belkor – disse o tenente-coronel.
– Atualização – solicitou Belkor, com as pernas bambas.
– A Perigo foi atacada ao entrar no sistema, senhor.
De novo, a resposta ensaiada veio rápida aos lábios de Belkor.
– Atacada? Como? Por quem?
– Parece que por terroristas, senhor, mas não temos certeza.
– Situação?
Esperava ouvir que ela havia sido destruída, mas não ouviu.
– Danos graves, senhor.
A máscara de Belkor se derreteu no calor de sua surpresa.
– Como assim? Pensei... – mas controlou-se a tempo. E emendou: – Até que en m uma boa notícia. Continue.
– Os danos parecem graves, pelas informações recebidas. Os relatórios continuam chegando. Ela adernou e
pega fogo. Parece que foi atacada por um enxame de minas e antigos caças droides, se os relatórios estiverem
corretos. As naves da emboscada foram destruídas, mas o destróier estelar precisa de ajuda para conter os
incêndios e fazer reparos.
– Consiga uma ligação com a moff Mors.
– Sim, senhor.
Belkor sentiu a suave vibração do comunicador criptografado que guardava no bolso: Cham entrando em
contato. Ignorou a primeira vez, e a segunda, mas na terceira mirou ao redor, foi a um canto do salão e colocou
o comlink no ouvido.
– Sim – disse ele, como se estivesse falando apenas com outro o cial imperial. – Já ouvi, sim. É inacreditável.
A voz de Cham surgiu na conexão:
– Convoque todas as naves de reparo disponíveis, incluindo as naves não imperiais, para irem até a Perigo
oferecer ajuda.
Belkor engoliu a raiva dele e adotou um sorrisinho falso.
– Acho que não é possível. Você não fez o que deveria ter feito.
O tenente-coronel acenava para ele. Devia ter conseguido contato com a moff Mors. Belkor fez um sinal para
que ele esperasse.
– Convoque agora, Belkor. Agora. Ela está em chamas e em rota de colisão. Faça a convocação.
A raiva de Belkor por receber ordens de Cham o impediu de falar por um momento. En m rilhou entredentes:
– Vou ver o que posso fazer – e cortou a conexão.
Belkor se apressou na direção do tenente-coronel.
– A ligação com a moff – avisou o tenente-coronel.
– Vou atender na sala de conferência – disse Belkor.
– Sim, senhor.
Belkor se recompôs antes de entrar no silêncio da sala de conferências. Lá, ativou o comunicador e um
holograma de Mors se formou perto da mesa de reunião triangular. Ela parecia translúcida de uniforme, o olhar
límpido. Belkor não gostou nada daquilo. Balbuciou:
– Moff Mors. A Perigo foi atacada ao entrar...
– Já quei sabendo! – gritou Mors com o rosto vermelho de raiva. Uma mecha de cabelo escuro escapou do
coque apertado que ela usava e formou um gancho na testa. – Só quero saber como uma frota de naves rebeldes
se posicionou na orla do sistema sem ninguém se dar conta disso?
– Nossos recursos são limitados, a senhora sabe. Em geral, não fazemos patrulhas na parte mais externa do
sistema.
– Não foi isso que perguntei, coronel! Para começo de conversa, quero saber como elas foram parar lá!
Na verdade, Belkor tinha desviado patrulhas e emitido autorizações de voo para permitir a Cham que
posicionasse as naves, mas havia tomado o cuidado para fazê-lo usando o código de autorização de Mors. Por si
só, os desvios não eram necessariamente suspeitos – alterações em rotas de patrulha aconteciam o tempo todo
em resposta a informações coletadas pela espionagem. Mas, se suspeitas fossem levantadas, a investigação
apontaria a Mors. Seria a palavra de Belkor contra a dela, claro, mas nessa situação Belkor levaria a melhor. Ele
poderia mostrar que Mors era viciada em especiarias, que roubava os lucros das operações de mineração
imperiais, que confraternizava com os criminosos Hutts e que havia se esquivado da responsabilidade ao delegar
a gestão de Ryloth a Belkor. Por sua vez, Belkor, leal até a alma, zera o melhor para cumprir o seu dever.
– Vou descobrir o que aconteceu e identi car os responsáveis – disse Belkor. – Nesse meio-tempo, posso
sugerir uma convocação imediata a todas as naves de reparo disponíveis para que prestem auxílio à Perigo?
– Sim, sim – concordou Mors com um aceno. – Faça isso. O quê?
– Como é, senhora?
Mas Mors não estava mais falando com ele. Conversava com alguém de sua assessoria que Belkor não podia
ver. Enquanto Mors estava ocupada, Belkor abriu a porta e gritou ao tenente-coronel:
– Todas as naves de reparo disponíveis, incluindo as naves não imperiais, estão requisitadas para ajudar a
Perigo. Faça isso agora.
– Sim, senhor! – E o tenente-coronel começou a emitir ordens.
Belkor voltou à mesa. Mors continuava a falar com alguém que Belkor não podia ver. Algo mudara. Mors
parecia cabisbaixa, encolhida sobre si mesma, abatimento no rosto, medo no olhar.
– Con rme isso – falou Mors ao assessor com um tremor na voz. – Con rme isso agora.
Algo no tom de Mors alarmou Belkor.
– Moff? – indagou ele com a voz hesitante.
Mors engoliu em seco, pigarreou e sentou-se.
– Belkor... há relatos de que o imperador e Lorde Vader estão a bordo da Perigo.
As palavras atingiram Belkor como um pontapé no estômago. Por um momento, ele não conseguiu falar nem
respirar. Colocou as mãos na mesa para ajudar as pernas que pareciam ter se transformado em pano.
– Eu... o imperador?
– Isso aconteceu sob sua supervisão, Belkor – disse Mors. Ela soou pequena, intimidada, apavorada.
– Nossa supervisão – corrigiu Belkor. – Nossa supervisão, senhora.
Para isso, Mors não teve resposta.
Os pensamentos ricocheteavam na mente de Belkor, e nenhum deles fazia muito sentido.
Será que Cham tivera informações sobre isso? Como ele poderia ter sido informado?
Ele deveria ter sido. Cham soubera desde o início e havia envolvido Belkor, e agora ele estava naquilo até o
pescoço e seria responsabilizado por...
– Coronel! – exclamou Mors para trazê-lo de volta a si mesmo.
– Senhora? – disse Belkor.
– Consiga naves de escolta e de reparo e as envie lá para cima, Belkor. Vou descer a Ryloth.
– Claro – respondeu Belkor distraidamente e cortou o holograma. – Claro que vai.
Pegou o holoprojetor e o bateu contra a mesa uma, duas vezes, até ele se estraçalhar. Sentiu-se observado –
todos no salão da central de comunicações provavelmente olhavam para ele. Belkor não se importava. Por um
longo instante, apenas permaneceu ali sentado, a respiração pesada, os pensamentos absortos no turbilhão de
emoções. Vader. O imperador.
Tentou pensar em como poderia lidar com os fatos, em como poderia sair do buraco em que se enterrara.
Poderia fugir. Já pensara nisso antes. Poderia simplesmente escapulir do planeta e encontrar alguma choupana
bem longe da Orla e...
Sabia que não podia. Se Vader e o imperador estivessem mortos, e descobrissem que ele havia fugido, o
Gabinete de Segurança Imperial o perseguiria até os con ns do universo, e a Segurança Imperial sempre
encontrava quem caçava. E se Vader e o imperador não estivessem mortos, e descobrissem que ele fugira, o
próprio Vader o perseguiria.
Ele precisava ir até o m. Não tinha outra escolha.
Ergueu-se, respirou fundo, endireitou o uniforme e voltou à central de comunicações. Olhares que estiveram
concentrados nele procuraram seus respectivos consoles. O tenente-coronel, em pé ao lado da porta, assumiu
posição de sentido quando o olhar de Belkor recaiu sobre ele.
Belkor atravessou a porta e disse:
– Certi que-se de que as naves de reparo tenham a escolta de caças. Faça isso agora. Eu... já volto. Preciso
veri car algo.
– Sim, senhor – disse o tenente-coronel praticamente correndo rumo a um o cial de comunicações nas
proximidades.
Belkor engoliu em seco. Atravessou a central, enveredou pelo corredor, embarcou no elevador e, por m, se
refugiou num banheiro somente para o ciais. Grudou as costas na porta e cou ali. Não havia ninguém mais no
recinto, então se trancou. Conscientemente, relaxou o maxilar, os punhos, as tripas.
Vader e o imperador. Vader e o imperador.
Seu comunicador criptografado zumbiu: Cham. Belkor o arrancou do bolso, apertando-o com tanta rispidez
que o aparelho escorregou dos dedos e caiu no chão. Ele o pegou, soltando um palavrão, abriu o canal e o
segurou junto ao ouvido.
– Seu desgraçado – xingou ele. – Tem ideia do que você fez?
– Acalme-se, Belkor.
– Acalme-se? Você tentou matar... – caiu em si e baixou o tom de voz a um sussurro. – Tentou matar o
imperador e Vader.
– Eu vou matar o imperador e Vader – frisou Cham. – E você vai me ajudar.
Belkor relutava em concordar. Cham captou isso no silêncio dele.
– Vai me ajudar, Belkor. Precisa. O ataque já aconteceu. Você está envolvido. Não vai ter para onde fugir...
Belkor cortou a conexão, o coração acelerado, o corpo transpirando sob o uniforme, a mente outra vez confusa
pela estática do estresse. Caminhou no banheiro para lá e para cá, para lá e para cá, enquanto o comunicador
zumbia em seu bolso.
– Droga, droga, droga e mais droga.
Respondeu no comunicador.
– Não diga nada, coronel – vociferou Cham, pronunciando o posto militar de Belkor como se fosse um insulto.
– Apenas me ouça. Falei que iria entregá-lo se não me ajudasse e vou cumprir a palavra. Vou. Mas agora estamos
no mesmo barco. Convocou as naves de resgate? Fala logo!
– Sim – respondeu Belkor com rmeza.
– Ótimo. Agora, preste atenção: Vader, o imperador e Taa vão morrer hoje. Isso está prestes a acontecer. Não
precisa fazer mais nada além de supervisionar o reparo e o resgate como se fosse uma situação normal. Percebe,
nada suspeito? Percebe? Está me escutando, Belkor?
Belkor arrancou a resposta das profundezas de suas entranhas:
– Sim. Mors está descendo a Ryloth.
Cham cou em silêncio por um momento.
– Isso não muda nada. Faça o que acabamos de combinar. E mantenha o comunicador à mão, caso eu precise
de algo mais. Tudo vai se de nir na próxima hora.
Cham embolsou o comunicador criptografado e voltou a entrar no centro de comando. Ninguém sequer se
virou para vê-lo entrar. Todos os olhares ainda se concentravam nas telas, onde a Perigo, mesmo em chamas,
continuava a voar, cruzando o espaço do sistema a toda a velocidade rumo a Ryloth.
Na verdade, Cham não esperava destruir a Perigo com os abutres, embora até tenha chegado a torcer por isso
antes de Vader entrar no caminho.
Mordeu para ativar o canal de comunicação privado e conversar com Isval, porém falou alto o su ciente para
que os outros no centro de comando ouvissem:
– Fase dois, ativada. – E os olhares na sala se voltaram para ele. – O alerta vai ser dado em instantes. É com
você, Isval. A Perigo está queimando, mas voando direto a Ryloth.
– Entendido – respondeu ela.
– Boa sorte – desejou Cham.
Kallon, Xira e Gobi o taram com ar interrogativo. D4 fez um bipe indagador. Kallon compartilhou seus
pensamentos:
– Existe uma fase dois?
– Existe – revelou. Ele mantivera a informação reservada.
– Beleza! – exclamou Gobi.
Cham o encarou até fazer a alegria dele murchar.
– O que foi? – perguntou Gobi. – Falei algo errado?
– Isso não é brincadeira – disse Cham, pensando no perigo que Isval estava prestes a correr. – Entende? Tem
gente morrendo.
– Gente deles – disse Gobi debilmente.
– Até agora – rebateu Cham. – Espero que continue assim. Seja como for, não é brincadeira.
– Certo – assentiu Gobi, a pele escurecida, constrangido. – Certo.
Cham encarou as holotelas. O problema já não estava mais em suas mãos, e a parte mais perigosa do plano
apenas começava.
 
Isval compartilhou um olhar e um aceno de cabeça com Eshgo e esperaram pelo alerta. Não precisaram
aguardar muito tempo até ouvirem pelo comunicador: Todas as naves devem ajudar uma nave imperial em perigo.
– Nave de reparo 83, entendido – respondeu ela.
Ao redor de Isval, na plataforma de pouso, equipes de reparo twi’leks saíram de suas cavernas laterais e
correram rumo às naves. Outras naves, já tripuladas, zeram guinadas no ar, propelidas pelos antigravitacionais.
O computador de bordo piscou à medida que detalhes pertinentes, autorizações e atribuições começaram a
emergir da central. Ela esperou as informações chegarem, e, após isso, Eshgo os ergueu da plataforma. Em sua
pulseira comlink con dencial, Isval avisou as duas equipes de apoio:
– Estamos no ar. Situação?
– No ar e saindo – veio a primeira resposta.
– Fora da plataforma e esperando autorização – veio a segunda.
– De agora em diante, silêncio de rádio entre nós.
– Entendido – responderam em uníssono. – E boa sorte.
Ela cortou a conexão e disse por cima do ombro:
– Câmbio e desligo.
Drim, Faylin e Crost, todos ecoaram o sentimento dela.
Eshgo conduziu a nave área de pouso afora, em meio aos ventos de Ryloth. Ao atingir o ar livre, acelerou em
plena velocidade atmosférica. O terreno seco e rochoso de Ryloth foi sumindo abaixo deles. Pouco depois, a
moribunda luz planetária deu lugar ao escuro do espaço sideral.
– Ultrapassamos a atmosfera exterior – informou Eshgo, veri cando os instrumentos. – Aceleração plena.
Tempo estimado de chegada: menos de uma hora.
Uma frota de naves de reparo, algumas imperiais, mas a maioria rylothiana, salpicou o espaço rumo ao abalado
destróier estelar. Ao cruzarem pelas luas de Ryloth, o olhar de Isval se demorou num pequeno ponto rochoso
onde ela sabia que Cham e muitos membros do movimento estavam escondidos, numa antiga base subterrânea.
Os V-wings das bases imperiais da lua maior – a lua da moff – se aproximaram para escoltar.
Isval bateu os dentes para ativar a comunicação privada com Cham.
– Passando por vocês agora. Daqui a pouco, saímos das órbitas lunares. Vou perder contato depois disso.
– Entre e saia, Isval. O mais rápido que puder. A velocidade é a sua aliada.
Ela concordou.
– Alguma conversa imperial sobre Vader e o imperador?
– Os comunicados revelam que eles estavam a bordo, mas não há informações se ainda estão vivos. A Perigo se
aproxima rápido de Ryloth. Já passou do cinturão de asteroides.
– E Taa?
Cham soltou uma gargalhada.
– Só a gente que se preocupa com Taa, mas a essa altura ele é gurativo.
O comunicador estalou no ouvido de Isval. Ela estava perdendo a conexão. Cham murmurou algo, mas ela
não conseguiu entender.
– Pode repetir?
– Pense nas rotas de fuga, Isval. Está me ouvindo?
Ela abriu um sorriso. Já devia ter imaginado.
– Estou, Cham.
Toda a frota de reparo riscou o sistema como um raio.
– Lá está – avisou Eshgo, apontando para uma holotela que mostrava uma nave no limite do alcance de
varredura. – É ela.
Isval observou a Perigo tomar a forma de um ponto, em seguida, de uma bolha, e, por m, de uma cunha.
Inclinou-se à frente no assento enquanto se aproximavam, e a nave aumentava de tamanho. Faylin, Drim e Crost
se ergueram dos assentos na área de carga traseira e se aproximaram para espiar sobre ela e Eshgo, nos lugares
dos pilotos.
Drim assobiou. Faylin soltou um palavrão. Crost suspirou, revelando o estresse no mau hálito.
– Tudo bem com você? – indagou Isval.
Os lekkus dele se empertigaram.
– Eu? Sim, tudo bem.
– Ela está bem avariada – constatou Eshgo, referindo-se à nave.
– É verdade – disse Isval. A visão da Perigo severamente dani cada a encorajou.
– Olhem só esses incêndios – observou Drim. – Os abutres zeram um bom trabalho.
– Agora temos que fazer o nosso – disse Isval, acenando com a cabeça ao redor.
Com a área de pouso frontal dani cada e as bordas irregulares e carbonizadas arruinando a elegante cunha
aerodinâmica da nave, a Perigo possuía a aparência de uma bocarra prestes a engolir as estrelas. O destróier
estelar soltava labaredas a partir de dezenas de diferentes – e grandes – focos de incêndio a bordo, e isso era
apenas o que Isval enxergava de seu ângulo e distância. Ela imaginou que os droides zumbidos explosivos,
reprojetados por Kallon, tinham causado muitos danos adicionais ao interior da nave. Ou pelo menos torcia por
isso.
Com prazer, pensou em quantos imperiais já deviam ter morrido.
– E vem mais por aí – falou consigo mesma.
– Como é? – quis saber Eshgo.
– Nada – disse ela. – Pensando alto.
– Está imitando o Kallon? – gracejou Eshgo. – Agora resmunga com seus botões?
Ela abriu um sorriso.
Danos de droides abutres espalhavam manchas escuras ao longo de toda a superestrutura do destróier estelar.
Uma explosão transformara o conjunto de sensores frontais num coto de metal picotado, girando futilmente em
seus suportes. Apesar das avarias, a nave movia-se a toda velocidade, atravessando rápido o espaço. Uma
cornucópia de naves bombeiras, de todos os tamanhos e formatos, tanto imperiais quanto twi’leks, já cercavam a
imensa nave, pulverizando espuma de supressão nos focos de incêndio. As naves menores combinavam vetores
com o destróier estelar, à medida que avançavam, acompanhando o ritmo.
– Ela está indo rápido para Ryloth – disse Faylin.
– Acho que se sente vulnerável – comentou Eshgo. A irônica observação provocou sorrisos, mas nenhuma
risada.
Isval nunca estivera tão perto de um destróier estelar. À medida que se aproximavam, e o colosso preenchia o
vidro da cabine, ela cava abismada com suas proporções, mas não se deixou dominar pelo assombro. Se o
movimento quisesse dar um golpe decisivo no Império, precisava atacar nessa escala. E precisava matar
imperiais su cientes para causar abalo. E o mais importante: precisava matar Vader e o imperador. Correu o
olhar até a ponte de comando, onde imaginava que eles estariam, se ainda estivessem vivos.
– Fiquem atentos, pessoal – alertou ela à equipe, e todos assentiram, embora também estivessem de olhos
arregalados com o tamanho do destróier estelar.
Ordens e conversas chegaram pelo canal de comunicação, a tripulação do destróier estelar retransmitindo
ordens às naves de reparo que chegavam. Isval apenas aguardou a saudação. Não esperou muito.
– Aqui é a nave de reparo 83 de Ryloth – respondeu.
– Porta 45A – informou a chamada, junto com instruções para o computador da nave.
Isval veri cou rapidamente e constatou que a porta 45A se localizava no extremo da popa, longe demais do
alvo deles. Ela entrou em contato.
– Aqui é a reparo 83. Senhor, tenho uma equipe de especialistas a bordo, com habilitação para consertar
propulsores.
– Reparo 83, não temos nenhuma indicação sobre isso.
– Lá no planeta está um caos, senhor, como pode imaginar. A chamada veio e partimos. Numa hora dessas,
ordens e manifestos deixam de ser prioridade.
– Entendido, reparo 83. Hã... Nesse caso, porta 266R.
Isval conferiu a localização da 266R, e viu que se situava perto do compartimento dos motores, não muito
longe da câmara do hiperpropulsão.
– 266R – repetiu ela. – Obrigada, ponte.
– Aqui vamos nós – disse Eshgo.
Sentiu a mudança na equipe. A excitação nervosa, a tensão silenciosa encaroçando os ombros. Isval também a
sentiu, por isso distribuiu tarefas.
– Veri car equipamento, armas e explosivos. Todos armados, mas nada visível. Respirem fundo.
A equipe executou as ordens sem objeção, enquanto Eshgo pilotava a nave até a porta 266R. Isval fez uma
varredura no computador para ver as docas atribuídas às naves com as duas equipes de apoio. Gravou as portas
deles na memória.
Nesse ínterim, o computador de bordo emparelhava a velocidade do destróier estelar e Eshgo girava a nave
rumo à porta 266R. A porta da nave de reparo se encaixou na porta da Perigo e se xou. Luzes verdes mostraram
uma vedação perfeita.
– Façam cara de pro ssionais – disse ela para sua equipe.
Acenos de cabeça ao redor, os lekkus balançando, seriedade nos semblantes.
– Aqui vamos nós.
Isval pegou a coluna direcional da palete antigravitacional, um grande trenó metálico salpicado de
compartimentos – normalmente repletos com ferramentas e peças. O setor se abriu e revelou a Perigo.
O som a atingiu primeiro: a estridência dos alarmes, um uxo constante de conversas pelos
intercomunicadores da nave, o vaivém de gente no corredor abarrotado. O odor a atingiu, também, o odor de
plástico torrado, carne carbonizada, o cheiro acre de materiais elétricos queimando.
Em todo o largo corredor, terminais de computador pendiam suspensos dos suportes de parede, os os soltos
balançando, vomitando faíscas. Imperiais uniformizados se apressavam pelos corredores, individualmente ou em
grupos, todos com os olhares atordoados, falando com urgência no comlink das pulseiras. Homens e mulheres
feridos se escoravam nas paredes, o sangue manchando os uniformes e o piso outrora branco reluzente. Droides
ratos sobre rodas chispavam em meio ao caos. Uma tênue névoa de fumaça acumulava-se junto ao teto,
aguilhoando os olhos de Isval. A ventilação não conseguira expelir tudo ainda.
– Você! – gritou um o cial para ela.
O coração da Twi’lek disparou, mas ela se manteve impassível, com calma no semblante. O o cial, um
humano ruivo e sardento, segurava na mão um datapad. Falou algo na pulseira comlink enquanto ela girou a
palete antigravitacional na direção deles. A equipe a seguiu.
Um grupo de stormtroopers saiu de um corredor lateral e rumou para eles. Por um átimo, ela cou paralisada,
e logo levou a mão para sacar a arma, mas, antes de empunhar a arma de raios, os stormtroopers passaram por
eles rumo ao nal do corredor. Isval piscou e tentou se recuperar, ngindo procurar uma ferramenta.
– Identidades – pediu o o cial.
Ela saiu da palete e estendeu seu datapad, que trazia as credenciais forjadas. Torceu para que ele não as
examinasse com minúcia.
– Reparo 83. Conserto de propulsores. Nós...
– Ótimo, ótimo. – Ele olhou os dados apenas de relance, e logo inseriu alguns itens em seu próprio datapad.
Franziu a testa e acenou para um o cial júnior, em pé do outro lado do corredor.
– Tenente Grolt, guie essa equipe de reparo...
– Senhor, nós sabemos para onde vamos – disse Isval.
O o cial continuou como se ela nem tivesse falado.
– Guie essa equipe de reparo até as estações de acesso aos motores.
O magricela tenente Grolt lembrou Isval do o cial que ela espancara quase até a morte no Octógono. A
expressão em seu rosto pálido mostrava que o seu mundo tinha sido abalado pelo ataque à Perigo. Ele e todas as
pessoas a bordo sempre se sentiram invulneráveis no destróier estelar. Isval estava feliz, pois agora eles se sentiam
vulneráveis, conviviam com um pouco do medo que ela e todos os Twi’leks sentiam todos os dias.
– Claro, senhor. – Grolt prestou continência ao superior. Em seguida, dirigiu-se à Isval e sua equipe: – Sigam-
me. – E se embrenhou rapidamente no caos. No caminho, a Twi’lek observou a nuca dele, estudando formas de
matá-lo, caso necessário.
A palete antigravitacional ajudou a abrir caminho em meio ao tumulto do corredor ocupado. Por toda a nave,
a situação era igual: avarias graves, incêndios, alarmes, tripulantes mortos e feridos, e todo mundo correndo para
algum lugar, prestando pouca atenção aos outros.
No percurso, Isval consultou o rudimentar esboço do destróier estelar que guardava na cabeça. Aproximavam-
se do alvo. Precisavam fazer um desvio. Lançou a Eshgo um olhar revelador, e ele respondeu com um aceno
quase imperceptível.
– Daqui em diante, sabemos nosso caminho, tenente – ela disse a Grolt. – Tenho certeza de que você tem
outros afazeres.
Ele nem sequer se deu ao trabalho de olhar para ela.
– Recebi uma missão, Twi’lek – disse o homem, e Isval percebeu que matá-lo deixava de ser uma possibilidade
e se tornava uma certeza.
– Claro – disse ela, compartilhando um aceno com Eshgo.
Chegaram a um elevador e embarcaram. Ela manobrou a palete antigravitacional de modo a preencher o
elevador, e Grolt apertou o nível 29 no painel de controle do elevador.
Quando outro imperial tentou se esgueirar no elevador, Eshgo colocou o corpo no caminho.
– Com licença – falou ele, como se tentasse abrir espaço.
Isval bateu nos dois com a palete antigravitacional e disse:
– Desculpa. Acho que está lotado, senhor. Esta palete...
Ela encolheu os ombros, impotente.
– Desculpe – disse Grolt ao o cial.
– Vou esperar – falou o homem, dando um passo para trás.
Ele prestou continência a Grolt, que retribuiu o gesto.
Assim que as portas se fecharam, Isval sacou a arma de raios do coldre na parte de trás da cintura e disparou
na nuca de Grolt. Ele desabou sem emitir ruído. O disparo da pequena arma deixou a cabeça do imperial
intacta, e o ferimento de entrada, cauterizado pelo raio da arma, nem sequer sangrou.
Eshgo e Drim não precisaram de instruções. Abriram um dos maiores nichos da palete e tentaram en ar o
corpo de Grolt lá dentro.
– Depressa – disse Isval.
Ela observou, no mostrador digital, o nível do elevador: 22, 23.
– Vamos lá!
Faylin ajudou, torcendo os braços de Grolt em ângulos impossíveis, rasgando cartilagens e, em seguida,
empurrando a cabeça do homem, estufando o vão completamente.
Vinte e nove.
Eshgo fechou o nicho e as portas do elevador se abriram, revelando um par de o ciais uniformizados. Olhares
de surpresa perpassaram seus rostos. Um deles enrugou o nariz, talvez farejando um disparo de arma de raios.
– Fios queimados – explicou Isval.
– Que nível é este? – indagou Eshgo, olhando a plataforma. – Acho que erramos. Devíamos estar no andar de
baixo. Descem?
Os o ciais avaliaram o elevador cheio.
– Vamos esperar – disse o mais alto dos dois.
Isval abriu um sorriso forçado, e as portas do elevador se fecharam.
Todos soltaram suspiros de alívio, mas não disseram nada, enquanto o elevador descia e se abria no nível pelo
qual tinham passado momentos antes. Carregando o corpo de um o cial imperial morto, enveredaram pelos
corredores rumo à câmara de hiperpropulsão.
Ao se aproximarem daquela área da nave, os corredores se estreitaram e se tornaram menos movimentados. O
tumulto maior situava-se nos corredores principais. As passagens laterais estavam quase desertas.
– Poderíamos ter poupado um tempão se colocássemos um abutre e sua carga aqui – ponderou Faylin.
– Este é um local profundo e reforçado da nave – explicou Isval.
– E seria um tédio car em Ryloth sem fazer nada – concluiu Drim.
Conscientes do aviso de Cham, Isval teve o cuidado de memorizar o leiaute, em caso de precisarem fugir às
pressas. Se estivesse sozinha, não pensaria nas rotas de fuga, mas a equipe dela contava com isso, por isso prestou
atenção.
Dobraram uma esquina e depararam com um quarteto de stormtroopers em posição de sentido perante uma
grande e reforçada comporta que dava acesso à câmara de hiperpropulsão.
Os stormtroopers se empertigaram e levaram as mãos às armas de raios quando Isval e sua equipe se
aproximaram.
– Calma – murmurou Isval, embora sentisse as gotas de suor escorrendo das axilas em seus ancos. Esforçou-se
para parecer inofensiva.
Um dos soldados deu um passo à frente e ergueu a mão enluvada.
– Alto lá. Esta área é restrita – o ampli cador no capacete fez a voz dele soar robótica.
Isval diminuiu o ritmo, mas não parou.
– Somos da nave de reparo 83. Viemos consertar os propulsores.
– As estações de acesso aos propulsores cam naquela direção – disse o o cial, apontando para o caminho de
onde eles tinham vindo.
– Sei – falou Isval, aproximando-se. – Mas o hiperpropulsor também está dani cado. Estamos autorizados a
repará-lo. Está vendo?
Estendeu seu datapad, mas o stormtrooper mostrou-se irredutível.
– Não me interessa o que diz aí, Twi’lek. A passagem por essa porta não é permitida sem a presença de um
o cial autorizado. Vá embora. Agora.
Ele a encarou, e ela viu o próprio rosto re etido nas lentes pretas do capacete do stormtrooper.
Isval sentiu a tensão de sua equipe, mas decidiu dar um tempo para se reagruparem e disse:
– Certo. Vamos chamar um o cial e logo voltamos.
Ela começou a virar a palete antigravitacional, quando surgiu um som do interior do compartimento grande:
uma voz.
Alguém chamava pelo intercomunicador do tenente Grolt.
– Tenente Grolt – disse a voz abafada. – Precisamos de você no setor de armas 19. Grolt, responda.
Isval sentiu a pele escurecer.
Os stormtroopers olharam a palete, depois de volta a Isval e empunharam as armas de raios.
 
Enquanto o elevador subia rumo à ponte de comando, só uma coisa acompanhava Lorde Vader: sua raiva
crescente. As portas se abriram, e ele deparou com as imagens e os sons de uma nave em plena crise. Cada um
dos pálidos tripulantes cumpria sua missão com pro ssionalismo, o ar preenchido com o zunzunzum das
comunicações e, de vez em quando, alguém gritando uma ordem. À medida que chegavam de todas as partes do
destróier estelar, os relatórios de danos iam sendo transmitidos às estações de serviço adequadas em vozes
urgentes, relatos que enchiam o ar com contos de morte e de fogo. Luitt ia de estação em estação, pegando
relatórios, emitindo ordens, tentando retomar o controle da situação. Um membro da tripulação passou
correndo por Vader rumo ao elevador.
O imperador permanecia em pé na camada central e suspensa da ponte. Perto dele, Orn Free Taa espiava os
consoles dos tripulantes, inclinando a cabeça para ver as várias holotelas.
Os olhares se concentraram em Vader rumando ao setor central. Sem diminuir as passadas, usou a Força para
agarrar Orn Free Taa. Ergueu o obeso Twi’lek do chão e o suspendeu no ar diante do imperador. Taa, de olhos
arregalados, o queixo duplo tremendo, levou a mão à garganta, arfando para respirar. Vader tomou cuidado para
não o matar... ainda.
– Lorde Vader voltou – disse o imperador. – Parece descontente, velho amigo.
Vader soltou o aperto sobre Taa, e o Twi’lek caiu de bruços no deque. Vader pisou ao lado do imperador,
pairando sobre o imóvel Taa. Apontou um dedo ao Twi’lek.
– Há um traidor entre seus assessores, senador. E esse traidor é responsável pelo que aconteceu aqui.
As palavras pareciam chocar Taa a ponto de nem conseguir balbuciar uma resposta. Massageou a garganta e
recuou um pouco, afastando-se de Vader.
– O que foi? – indagou Luitt do deque inferior, galgando, de dois em dois, os degraus corrugados. – Essa
escória alienígena é um traidor?
Gemendo, arquejando pesadamente, Taa se levantou com esforço. O olhar dele correu de Luitt a Vader e ao
imperador, suplicante.
– Não. Ele não – falou o imperador. – Mas um ou mais assessores.
– Imperador – disse Taa, a voz rouca, estrangulada pela Força –, Lorde Vader, eu não sabia de nada. Se eu
soubesse... – Fungou e se aprumou. – Prometo descobrir os traidores por trás desse pér do ataque e...
– Ah, eu acredito em você – disse o imperador com desdém. – Mas isso di cilmente atenua a sua culpa,
senador. Você tinha um traidor no meio de seus assessores e ignorava o fato.
O imperador sinalizou para os membros da Guarda Real, e eles se posicionaram ao lado do senador. O queixo
de Taa tremia. Parecia que ele desandaria em prantos. O olhar estrábico viajava sem parar, tando os guardas,
depois Vader, depois o imperador.
– Meu imperador, se ao menos o senhor pudesse...
Para Luitt, o imperador disse:
– Mantenha a comitiva do senador con nada em seus aposentos, sem acesso a terminais de computador nem
a equipamentos de comunicações. Tome as providências de costume em situações desse tipo. Lorde Vader vai
interrogá-los quando chegarmos a Ryloth.
Vader ansiava pela oportunidade.
O imperador se virou para Taa.
– Senador, espero contar com sua ajuda em todos os assuntos de Ryloth num futuro breve. Com as especiarias,
o comércio de escravos e o movimento Ryloth Livre. Medidas mais severas podem ser necessárias para reprimir
as rebeliões no seu planeta. Acho que, se as minhas ordens saírem de sua boca, o povo vai aceitá-las mais
facilmente. Concorda?
– C... claro, meu imperador – respondeu Taa.
– Nesse meio-tempo, por que não ca aqui comigo e com Lorde Vader? É fascinante ver coisas estragadas
serem consertadas.
Taa não se deu ao trabalho de responder.
Os stormtroopers sacaram suas armas de raios ao mesmo tempo em que o grupo tático de Isval. Ela nem se
deu ao trabalho de levar a mão à arma; em vez disso, arremeteu a palete antigravitacional a toda velocidade
contra os stormtroopers, jogando-os contra a parede e dispersando seus tiros, desviando os raios para cima e para
os lados. Eshgo acertou um raio na cabeça de um soldado, Drim acertou outro no peito, e Faylin e Crost
dispararam nos rostos dos outros dois.
– Temos pouco tempo – disse ela e, em seguida, quebrou o silêncio de comunicação para convocar as equipes
iscas, seja lá onde estivessem.
Cham insistira nas equipes iscas, na hipótese de algo não funcionar direito e, como de costume, ele tinha
razão. Pense nas rotas de fuga, ela se lembrou, embora no momento estivesse mais preocupada em derrubar a Perigo
do que em fugir.
– Entrem em ação – ela avisou às equipes iscas. – Todas as equipes. Podem agir. Mas não estamos prontos.
Repito, ainda não estamos prontos.
Respostas a rmativas vieram. As duas outras equipes que tinham entrado no destróier estelar a bordo de naves
de reparo instalariam um ou três explosivos, até mesmo começariam um tiroteio, se necessário.
Isval sacou as duas armas de raios, Drim pegou um pesado fuzil de raios de um compartimento na palete, e
Eshgo e os demais da equipe prepararam armamentos. Drim anulou o protocolo de segurança da comporta dos
hiperpropulsores e a abriu para o lado. Entraram logo atrás da palete, deixando os stormtroopers para trás,
mortos no corredor.
 
– Capitão – chamou o o cial de comunicações da ponte, e algo no tom dele despertou a atenção de Vader. –
Senhor, há relatos sobre um tiroteio no deque 17 e explosões além da doca 12.
– Tiroteio? – indagou Luitt. – Como pode haver um tiroteio?
O o cial de comunicações colocou a mão no fone de ouvido, assentiu com a cabeça e explicou:
– Senhor, é uma das equipes de reparo. Twi’leks. As explosões também parecem ser intencionais. Há relatos de
várias baixas extras. As equipes de segurança estão a caminho.
Vader, então, percebeu: o ataque dos droides, mesmo sendo severo, não passara de um ardil, ou apenas metade
do plano. O movimento Ryloth Livre era bem mais engenhoso do que ele e o imperador tinham imaginado.
– Diga às equipes de segurança que matem todas as equipes de reparo de Ryloth a bordo – ordenou, as
palavras silenciando a tripulação da ponte. Ele se virou e caminhou ao elevador.
Luitt o chamou.
– Lorde Vader, existe quase uma centena de equipes a bordo! Meu imperador?
– Uma centena de equipes parece um número administrável – disse o imperador, sem olhar para o capitão,
mas sim para Vader.
– Dê a ordem, capitão – disse Vader. – Mate todos eles.
– Sim, Lorde Vader.
As portas do elevador se fecharam diante do rosto de Vader. Ele rumou ao deque 17.
 
A enorme placa vertical da hiperpropulsão do destróier estelar situava-se no fundo de uma depressão circular
no meio da cavernosa câmara. Uma passarela de metal corrugada circundava o setor de propulsão. Estações de
computador e outros equipamentos que Isval não reconhecia nem entendia revestiam as paredes. Por um
momento, o leiaute a lembrou o Octógono, em Lessu. A associação gerou um sorriso sinistro. Ela deixaria
imperiais mortos aqui, exatamente como deixava lá.
Engenheiros e o ciais mantinham posições espaçadas ao redor da passarela, veri cando ou monitorando os
computadores e cabos. Aparentemente, a espessa comporta os impedira de ouvir os disparos logo ali no corredor.
O mais próximo, um o cial de tecnologia, virou-se para encará-los, baixando o datapad que segurava.
– Não podem car aqui desacompa... – começou, mas parou, os olhos arregalados, ao perceber as armas de
raios nas mãos dela.
Isval disparou. Um dos raios atravessou o datapad e outro o acertou no peito. Homem e dispositivo caíram ao
chão. Ao lado dela, Drim abriu fogo com o fuzil de raios, enquanto Eshgo, Faylin e Crost também dispararam
contra os técnicos, provocando gritos e correrias.
– Tranque a comporta! – bradou ela para Eshgo; escolheu um alvo, disparou, e mais outro, disparou, e os dois
caíram no chão com buracos fumegantes nos uniformes.
Os imperiais correram, abaixando-se e tentando fugir para a outra saída. Um baixinho encorpado, com
uniforme de engenheiro, correu para soar o alarme, mas Drim o acertou pelas costas. Ele caiu de rosto na
antepara e desabou no chão, pintando a parede de sangue.
Nenhum imperial ofereceu resistência – em geral, engenheiros e técnicos não portavam armas. Assim, ela e a
equipe os abateram rápido.
– Encontre um uniforme – disse ela a Drim ao mover a palete até a base de uma escadaria. – Ou melhor, dois
uniformes. Pegue peças avulsas para completar, se for preciso. Sem buracos de armas de raios.
– Como? Por quê?
– Obedeça.
Eshgo, às voltas com o mecanismo de travamento da comporta por onde tinham entrado, apenas disparou no
painel de controle com sua arma de raios. O controle explodiu em meio a faíscas e fumaça.
– Mais lacrada, impossível – disse ele.
Deveria ser su ciente.
– Vigie a outra porta, Drim – ordenou Isval, apontando com o queixo. – Mas não estrague os controles.
Queremos uma saída.
– Entendi – falou Drim e circundou a passarela, saltando sobre os corpos, para a única outra comporta que
dava acesso à câmara. Isval sabia que ela conduzia a um setor de manutenção, e depois, por meio de uma série
de alas sinuosas, a um dos principais corredores da nave.
Faylin e Crost já tinham despido a camisa e a jaqueta de um dos o ciais, e a calça e o quepe de outro.
Com cuidado, Isval baixou a palete antigravitacional até a base dos degraus que desciam da passarela até se
posicionar diante da enorme placa de hiperpropulsão. Eshgo ajudou-a. A imponente placa tinha duas vezes a
altura dela. A proximidade fez sua pele formigar e os pelos dos braços se eriçarem. Espirais e redemoinhos
marcavam o metal cinzento da placa. Isval sabia que eles ajudavam a canalizar a energia do propulsor de alguma
forma, mas para ela tudo parecia uma linguagem indecifrável e mística. Cabos com a espessura de um braço,
relés de alta potência e outros equipamentos eletrônicos – a maior parte desconhecida por ela – plugavam-se nas
laterais da placa e sumiam em dutos sob o assoalho.
Abriu o compartimento inferior da palete e expôs a dúzia de cargas explosivas que tinham trazido a bordo.
Pareciam pequenos mísseis, cada qual equipado com temporizadores e poderosas almofadas magnéticas.
– Me ajude – disse ela a Eshgo, e os dois começaram a retirar os explosivos.
De algum modo, as ogivas pareciam mais pesadas do que quando as carregara em Ryloth. Isval imaginou que
a descarga de adrenalina da última meia hora a enfraquecera.
Um novo alarme soou no sistema de comunicação da nave, com o tom e a cadência diferentes do que eles
ouviram ao subir a bordo. Ela e Eshgo se entreolharam, e ele franziu a testa, preocupado.
– Já sabem que estamos aqui – disse ela. – Rápido, seus molengas! – gritou a Faylin e Crost.
– Sim, sim – concordou Faylin.
Isval abriu a parte superior da palete, puxou para fora o cadáver de Grolt, já enrijecido, e o largou no chão.
Arrancou o comlink dele e o esmagou sob o calcanhar.
– Tenho mais um trabalho para você, tenente Grolt – disse ela.
– O que está fazendo? – quis saber Eshgo.
– Precisamos de espaço – explicou ela. – Vamos instalar os explosivos.
 
Vader saiu do elevador e usou a Força para aumentar sua velocidade, correndo pelos corredores fumegantes e
repletos de gente. Adiante, viu uma equipe de reparo composta por Twi’leks, quatro homens e uma mulher. Eles
navegavam uma palete antigravitacional com ferramentas e peças pelo corredor, e nada neles parecia suspeito.
Ele não se importou. Acendeu o sabre de luz, e, ao fazê-lo, os imperiais no corredor abriram passagem, confusos,
os olhares arregalados.
Os Twi’leks mal tiveram tempo para detectar a aproximação de Vader antes que ele os decepasse numa rápida
sucessão de golpes. Seguiu deixando um rastro de cinco cadáveres e uma ala repleta de tropas em fuga.
Detalhes sobre a localização do tiroteio transitavam em seu comlink, e ele rumou direto para lá. Escutou o
som dos raios disparados antes de vê-los. No corredor adiante, um grupo de stormtroopers, agachado junto à
antepara, trocava disparos com inimigos invisíveis. O cabo que liderava o grupo o viu aproximando-se e se virou
para encará-lo.
– Lorde Vader, existem cinco sabota...
Vader o afastou para o lado e fez a curva, enredado na Força, o sabre de luz zunindo.
Um Twi’lek com pele verde e fuzil de raios saiu detrás da antepara e abriu fogo contra Vader. A linha vermelha
do sabre de luz de Vader lampejou, rebatendo os raios do Twi’lek, que cou com um buraco escuro no peito e
outro no rosto.
Enquanto Vader espreitava pelo corredor, um segundo Twi’lek pulou detrás da curva, a arma de raios
vomitando raios vermelhos. Vader os desviou, estendeu a mão livre e usou a Força para tomar posse da arma de
raios do Twi’lek. Ao sacudir a pistola da mão do alienígena e atraí-la para a sua, o Twi’lek sacou uma segunda
arma de raios do coldre em sua coxa. Sem diminuir o passo, Vader arremessou seu sabre de luz, e a lâmina
rodopiante partiu o Twi’lek no meio. Vader esmagou a arma de raios que ele sacara, largou-a no chão e, com a
outra mão, usou a Força para recuperar o sabre de luz.
Botas ecoaram no deque. Stormtroopers dobraram a curva apressados, passaram por Vader e dispararam seus
fuzis de raios. Quando Vader completou a volta, mais três Twi’leks jaziam mortos.
– Lorde Vader – comunicou o o cial de comunicações. – Há relatos de stormtroopers mortos perto da câmara
de hiperpropulsão. A comporta está lacrada por dentro.
Vader compreendeu tudo. Os Twi’leks que acabara de matar não passavam de um despiste.
– Estou indo para lá – avisou ele.
Passou sobre o cadáver e marchou à popa da Perigo.
 
Eshgo e Isval instalaram os explosivos, a maioria ao redor da placa de hiperpropulsão, mas alguns na base dos
componentes do sistema mais próximo, todos exatamente onde Kallon dissera. Tinham treinado aquilo dezenas
de vezes. As cargas, quando explodissem, destruiriam o hiperpropulsor. Aquela explosão desencadearia uma série
de detonações secundárias que resultaria na implosão da Perigo no espaço sideral.
Isval viu as mãos trêmulas de Eshgo mexendo nos temporizadores.
– Deixa comigo – disse ela.
Como sempre, ela nunca tremia ao matar imperiais. Ele recuou, e a Twi’lek instalou os temporizadores nos
explosivos, um após o outro. Explodiriam em sequência, com intervalos de milissegundos. Kallon avisara que a
cronometria devia ser exata para acionar a reação em cadeia.
– Prontinho – disse ela, enxugando o suor da testa.
Trocou olhares com a equipe, e todos assentiram. Poderiam ou não escapar, mas agora não havia como
interromper a destruição. Assim que armassem os explosivos e os temporizadores começassem a contagem
regressiva, nada poderia salvar a Perigo. Seria uma tumba voadora.
Eles tentariam fugir, é claro, mas, considerando que toda a nave estava em alerta, as chances eram remotas.
Faylin, a única humana na equipe de Isval, já se despira e começara a vestir as peças avulsas de um uniforme
imperial. Não lhe caía bem e estava desparceirado, mas não havia furos de armas de raios nas peças e talvez
passasse despercebido a um olhar super cial.
– Está bonita, cabo – elogiou Isval, mas o rosto pálido de Faylin parecia ainda mais branco do que o normal. –
Sente-se bem?
Faylin en ou a longa cabeleira escura embaixo do quepe imperial.
– Estou bem. Estou bem.
Isval apertou o ombro de Faylin, tirou as próprias roupas e também vestiu um uniforme imperial improvisado,
incluindo luvas e coturnos. Ela não podia fazer nada em relação aos lekkus ou à pele azul, mas usaria o corpo de
Grolt para se camu ar.
– Vão indo até a outra comporta, pessoal – ordenou, e a equipe levou a palete até a segunda comporta, onde
esperaram por ela.
Isval respirou fundo e armou as cargas explosivas. Na mesma hora, os temporizadores começaram a contar.
Eles tinham quarenta e dois minutos para sair da zona de explosão.
Um estrondo na comporta pela qual haviam entrado indicou o uso de um tipo de aríete, mas a estrutura não
cedeu. Outro estrondo, e a comporta aguentou o tranco.
– Drim? – consultou ela.
– Não ouço nada deste lado – disse ele, indicando a outra comporta. – Mas também nem sei se ouviria. A
comporta é grossa, Isval.
– Tudo bem, então – disse ela. – Vamos lá.
– E rápido – acrescentou Eshgo.
Isval atirou o corpo de Grolt por cima do próprio ombro, gemendo sob o peso e se apressou pelas escadas para
se juntar à equipe.
 
Vader atravessou a nave com pressa, a raiva indo antes dele e abrindo caminho em meio à tripulação que
abarrotava os corredores. Chegou à comporta da câmara de hiperpropulsão. Quatro soldados mortos jaziam no
deque, e outro grupo de stormtroopers e seguranças armados usava um aríete gravitacional portátil na tentativa
de abrir a comporta. O interruptor da comporta e o painel de controle não funcionavam, provavelmente
sabotados pelo outro lado.
O cabo no comando da equipe de segurança avistou Vader se aproximar e deu um passo ao encontro dele.
Enquanto isso, o aríete acelerou com um zumbido e se chocou contra a comporta, sem causar nada.
– Lorde Vader – disse o cabo. – A comporta está trancada por dentro e o interruptor foi desativado. Existe
apenas outro acesso para a câmara e já mandei uma equipe dar a volta...
Vader in amou o sabre de luz.
– Afastem-se – disse, sem reduzir o passo, e o pessoal da segurança e os stormtroopers quase tropeçaram uns
sobre os outros enquanto saíam do caminho.
Empunhou o sabre de luz com as duas mãos, canalizou a Força, canalizou a raiva e golpeou a comporta. A
lâmina penetrou no metal um braço de profundidade. O calor da lâmina desenhou na comporta um círculo
vermelho em brasa. Vader agarrou a empunhadura e derramou nela o seu poder. O metal começou a ceder ao
calor de sua arma, ao calor de sua ira.
Em menos de sessenta segundos, ele abriria um rombo na comporta e colocaria as mãos nos traidores.
 
Um chiado na comporta por onde tinham entrado fez todos virarem as cabeças. A comporta se avermelhava
devido ao calor, primeiro um pequeno círculo, depois se expandindo.
Alguém cortava uma abertura.
Isval deixou escapar um palavrão.
O círculo se expandiu. Fumaça começou a uir pela comporta quando a ferramenta usada para cortar
começou a derreter o metal.
– Nada deveria ser capaz de cruzar aquela comporta – falou Eshgo.
Isval consultou o mapa na própria mente e elaborou um caminho de volta à nave deles. Parecia estar a um
parsec de distância, levando em conta os desa os que se interpunham entre eles e a meta. Não tinha certeza se o
tempo seria su ciente.
Atrás deles, a reluzente ponta rubra de uma linha de energia rompeu a comporta. Isval a reconheceu: a lâmina
de um sabre de luz. Vader tentava entrar, o mesmo Vader que sozinho dizimara toda a tripulação de Pok.
Reconhecer o fato a emocionou e a apavorou ao mesmo tempo. Pensou no rosto de Pok, em vingança, mas a voz
de Eshgo a trouxe de volta.
– Isval, temos de sair!
Ela piscou e acenou com a cabeça.
– Pode abrir – disse a Drim, e todos da equipe se posicionaram, armas em riste. As duas folhas da comporta
deslizaram para os lados.
 
O metal derretido se empoçava no chão perto dos coturnos de Vader, borbulhando e fumegando, à medida
que seu sabre de luz perfurava a comporta. Ele pressentiu o medo dos traidores na câmara de hiperpropulsão.
Sem dúvida, eles tinham visto o sabre de luz e sabiam que ele estava chegando. Tinham razão em temer. E o
medo deles alimentava sua raiva. O ritmo constante de seu respirador marcou a passagem do tempo, os
momentos que faltavam antes de colocar as mãos nos traidores.
– Avise a sua equipe que os traidores devem ser capturados vivos – ordenou Vader ao cabo. – Eu quero dar um
m neles pessoalmente.
– Sim, Lorde Vader.
 
Um rombo se abriu na comporta. Não havia ninguém lá dentro.
Isval se deu conta de que estivera prendendo a respiração. Todos os outros também deviam tê-lo feito, pois
soltaram o ar em uníssono.
– Eshgo, Drim, Crost, entrem na palete – esbravejou. – Armas em prontidão.
– E tentem não disparar contra os companheiros – falou Eshgo quando Drim e Crost se amontoaram em dois
compartimentos da palete. – Vamos chegar em cima da hora – acrescentou a Isval.
Ela já sabia. Comentou com Faylin:
– Você pilota, Fay.
– E você? – perguntou Faylin enquanto Eshgo se contorcia no último compartimento.
– Estou ferida ou morta – disse Isval. – Vou me deitar aqui em cima. Dou cobertura a você, se for preciso.
Cubra-me com Grolt.
Faylin enrugou o nariz, mas assentiu com a cabeça.
Isval ativou o comunicador e se dirigiu às equipes de isca.
– A nave vai explodir daqui a meia hora. Se puderem, fujam agora.
Não obteve resposta.
– Alguém ouviu?
Nada. Não se a igiu com o signi cado daquilo. Não tinha tempo para se a igir com nada. A outra comporta se
derretia. Vader estava vindo.
Deitou-se sobre a palete, Faylin a tapou com o corpo de Grolt, ajeitando-o para di cultar que alguém
vislumbrasse sua cabeça. Faylin colocou o quepe de Grolt na cabeça de Isval para ajudar a esconder os lekkus.
– Qualquer pessoa que prestar atenção em nós vai notar você – concluiu Faylin. – Ou melhor, nem precisa
prestar atenção, só olhar.
Isval sabia, mas ela não caberia dentro da palete, também. Camu ar-se sob um cadáver era sua única jogada.
– Seja rápida – recomendou.
– Pode apostar.
Atrás deles, Isval escutou as gotas de metal na comporta que Vader cortava pingando no chão em bocados
crepitantes. Escutou vozes através do pequeno orifício que Vader já cortara. Resistiu ao impulso de correr pela
câmara, en ar o cano da arma de raios no buraco e disparar às cegas. Precisava evacuar a equipe ainda mais do
que precisava matar Vader. Os imperiais logo atravessariam a comporta e veriam as cargas explosivas.
Teve uma ideia.
Ela pensava nas rotas de fuga. Cham acharia graça.
– Faylin, nos tire daqui, vá a uma galeria lateral e espere.
– Esperar? Isval, só temos meia hora.
– Eu sei, mas faça isso.
– Isval...
– Apenas faça!
– Tem certeza? – indagou Eshgo do interior da palete.
– Se ele perguntar isso de novo, pode atirar nele, Drim – falou Isval.
Drim deu risada, e Faylin dirigiu a palete para fora da rede de galerias que conectavam a câmara de
hiperpropulsão a um dos corredores principais do destróier estelar. Isval, coberta pelo cadáver, respirou no
pescoço de Grolt. Teve de controlar uma náusea.
Antes de percorrerem dez metros, ela percebeu que se esquecera de algo e soltou um xingamento.
– O que foi? – quis saber Faylin, alarmada. – O que houve?
– Nada. Nada.
Mas era algo. Na pressa, Isval se esquecera de destruir o mecanismo que vedaria a comporta atrás deles. Assim
que Vader abrisse caminho através da primeira comporta, nada retardaria a perseguição dele.
– Qual corredor? – indagou Faylin.
– Qualquer um! – exclamou Isval.
Mas Faylin parecia congelada pela indecisão. De algum lugar à frente, soaram pesados passos de coturnos –
coturnos de stormtroopers.
– Aquele – murmurou Isval. – Ali mesmo. Só nos tire daqui.
O som dos coturnos e o burburinho das vozes aumentaram. Isval sentiu Eshgo, Drim e Crost se equilibrarem
na palete, sem dúvida, tentando se posicionar para disparar, caso a situação se tornasse mais complicada.
Faylin deu uma guinada na palete e enveredou por um estreito passadiço de manutenção. As luzes superiores
piscavam como um sinalizador.
Esperaram ali, calados, enquanto as vozes e os passos soavam mais altos. Instantes depois, um grupo formado
por stormtroopers e agentes de segurança cruzou rumo à câmara de hiperpropulsão.
Depois que eles passaram, Isval disse:
– Aproxime-nos do corredor principal e estacione de novo.
– O que está esperando? – quis saber Eshgo, a voz abafada pelas laterais da palete. – Essa é nossa chance.
– Não é, não – discordou Isval. – Ainda não.
Cuidadosa para não deslocar o corpo de Grolt, ela virou a cabeça e mexeu o braço para veri car o relógio de
pulso. Trinta e dois minutos.
 
Logo a lâmina de Vader abriu um rombo grande o su ciente na comporta. Com um estrondo, um círculo
metálico caiu ao chão. Ele se abaixou para cruzar o vão, e os soldados imperiais o seguiram.
Nem sinal dos traidores. Tinham escapulido pela outra comporta. Imperiais jaziam mortos em toda a câmara
de hiperpropulsão, vários deles sem peças dos uniformes, mas o hiperpropulsor em si parecia intacto.
A porta oposta deslizou e se abriu, e o grupo de imperiais que o cabo enviara para interceptar os traidores
entrou correndo na câmara, observando os corpos ao redor. A dúvida perpassou os semblantes não ocultos por
capacetes.
– Senhor – o cabo disse –, não vimos ninguém. Nós...
Vader ignorou-os. Pressentiu o perigo e pulou para o fundo do poço do hiperpropulsor. Logo avistou a dúzia
de cargas explosivas anexadas à unidade e aos seus ampli cadores de campo adjacentes. Cada temporizador
marcava apenas vinte e sete minutos antes de explodir.
Ajoelhou-se e examinou os explosivos de perto, viu os mecanismos de segurança. Se os engenheiros tentassem
remover ou desarmar os explosivos, eles detonariam. Se não zessem nada, explodiriam.
Ergueu-se, o som do respirador ecoando nas paredes do poço de hiperpropulsão. Ativou seu comlink.
– Capitão Luitt, o hiperpropulsor foi sabotado para explodir e o atentado não pode ser interrompido. Ordene
evacuação imediata.
Uma longa pausa, então:
– Como? Posso enviar uma equipe de engenheiros para...
– Você me ouviu, capitão.
– Tem... certeza?
– Dê a ordem, capitão. A Perigo vai explodir daqui a meia hora. E, capitão, o imperador é sua prioridade. Se ele
não for evacuado com segurança, você será o responsável.
– Cer...to, Lorde Vader – disse Luitt. – Mas... o imperador já deixou a ponte de comando.
Vader avaliou a informação.
– Obrigado, capitão. – E ativou o canal de comunicação privado com o imperador. – Mestre, a nave vai
explodir em menos de trinta minutos.
– Sim – disse o imperador. – Estou esperando você a bordo de minha nave auxiliar.
– Sua nave auxiliar? Mas...
– Eu tinha uma segunda nave auxiliar pronta na área de desembarque frontal. É melhor se apressar, meu
amigo. Há pouco tempo.
– Sim, mestre. – Vader não sabia da segunda nave auxiliar, mas não se surpreendeu.
Seu mestre se preparava para quase todas as contingências.
O alarme de evacuação começou a soar, estridente e prolongado. A tripulação zera incontáveis treinamentos,
e Vader imaginou todos os tripulantes correndo para suas respectivas cápsulas de fuga. A situação já caótica se
tornaria ainda mais caótica a bordo do destróier estelar.
Sem dúvida, os traidores tentariam fugir em meio ao tumulto. Vader não tinha intenção de deixá-los sair da
nave.
 
O som estridente do alarme de evacuação ecoou pelos corredores, o grito de morte de uma nave condenada.
Uma voz automatizada recitava em tom monótono a ordem para evacuar.
– Agora vamos – disse Isval sob o cadáver de Grolt.
Os corredores estariam abarrotados. Ninguém olharia duas vezes para a palete. Talvez, talvez tivessem uma
chance de escapar.
– Muito bem – murmurou Eshgo no interior da palete.
Ela não deu bola para ele e disse a Faylin:
– Ao corredor principal. Rápido. Não temos tempo para voltar à nossa nave de reparo. Se avistar algo
apropriado, qualquer nave que possamos utilizar, nave de reparo, nave de supressão de incêndio, seja lá o que
for, vá até ela. Entendeu? Se for preciso, vamos pegá-la na marra.
– Entendi – disse Faylin e manobrou a palete de volta aos corredores.
– A velocidade é sua amiga – disse Isval, ecoando as palavras de Cham para ela. – Mexa-se, Faylin.
Faylin acelerou a palete o máximo possível – mais ou menos o ritmo de uma corrida leve – até alcançar o
corredor principal.
Uma torrente de tripulantes apressados tomava os corredores, em busca de suas respectivas cápsulas e naves
de fuga. Droides andavam e rodavam em meio à tripulação, igualmente se encaminhando a seus pontos de
evacuação. Ninguém sequer diminuiu a velocidade para olhar a palete ou fazer qualquer pergunta.
Isval começou a pensar que realmente teriam chances de escapar.
Mas, se eles escapassem da nave, então muitos imperiais, provavelmente a maioria, também escaparia. Vader e
o imperador escapariam, ela não tinha dúvida. Precisava avisar Cham. Tinham de improvisar algo. Derrubar a
Perigo era magní co, mas não su ciente. Talvez os ainda experimentais droides tricaças...
Mordeu para ativar a comunicação direta que possuía com Cham.
– Cham? – sussurrou ela.
Estática e, em seguida, uma sílaba.
– ...val?
– Está me ouvindo?
Mais estática, uma palavra incompreensível.
Ainda estavam muito longe para obter um sinal consistente.
– Se consegue me ouvir, vou ligar de novo daqui a pouco.
Apenas ruído branco como resposta.
 
Vader usou a Força para saltar até a passarela que cercava o poço do hiperpropulsor.
Os stormtroopers e o pessoal de segurança se entreolharam com perplexidade em meio à estridente ordem de
evacuação.
– Fujam – ordenou Vader. – A nave está perdida.
A maioria deles assentiu com a cabeça, virou-se e partiu imediatamente, mas três stormtroopers
permaneceram.
– Senhor, nós temos de escoltá-lo até uma cápsula de fuga.
– Não – dispensou Vader. – Eu me viro. Fujam. É uma ordem.
Relutantes, os stormtroopers prestaram continência e saíram. Vader se virou e tou o vão por onde os
traidores haviam fugido. Pelo menos um deles vestia uniforme imperial – talvez dois. Não tinha muito tempo,
mas o bastante para capturá-los, matá-los e ainda escapar da Perigo.
Ele se concentrou na Força e, a passos largos, foi atrás deles. Não poderiam ter ido muito longe. Deveriam
estar se dirigindo ao corredor principal, para uma cápsula ou nave de fuga.
Alcançando o corredor principal, deparou com o tumulto de tripulantes e o ciais de rostos pálidos, de droides
apressando-se rumo às rotas de evacuação. O abafado tump do lançamento das cápsulas de fuga se repetia alto
em seus ouvidos.
Saltou até uma passarela do terceiro andar, assustando os tripulantes que passavam. Ao se afastarem,
sussurraram o nome dele baixinho.
Ficou ali, empoleirado, uma sombria ave de rapina, perscrutando a agitação lá embaixo, tentando detectar
Twi’leks ou alguma coisa incomum.
 
Isval mexeu de leve seu corpo para conseguir ver melhor e se orientar. Às pressas, a tripulação cruzava pela
palete nos dois sentidos, um borrão de pernas uniformizadas e vozes tensas. Tentou espiar um dos selos de
localização na antepara sem se mexer muito e en m avistou um: 183B.
Não estavam muito longe do local em que uma das equipes iscas ancorara. Era bem possível que a nave da
equipe de reparo ainda se encontrasse lá. Talvez a equipe não tivesse evacuado até o momento ou talvez –
levando em conta o silêncio do comunicador – ela não fosse evacuar.
– Vamos até o 137B – disse Isval a Faylin, erguendo a voz para ser ouvida no rebuliço do corredor. – A
primeira equipe isca ancorou lá.
Mais pernas apressadas, uniformes escuros, as armaduras brancas de um grupo de stormtroopers.
– Entendi – disse Faylin, que os conduziu pelo caos.
Isval observou os selos de localização desaparecerem atrás deles. 157, 153, 147. Quase lá.
Os sons graves do lançamento das cápsulas de fuga soavam constantes, numa espécie de batucada. A voz
monótona do computador, anunciando o tempo restante – dez minutos –, fazia o contraponto.
141.
Uma voz masculina soou da direita bem perto da palete. O rosto de Isval virou para o outro lado e ela não se
atreveu a se mexer. Ficou preocupada com a possibilidade de que o corpo de Grolt não estivesse escondendo os
seus lekkus. O homem indagou:
– Tudo bem? Alguém ferido? Precisa de ajuda?
Faylin nem parou a palete.
– Não, está tudo sob controle, senhor. Obrigada.
A mão de Isval empunhou a arma de raios com rmeza. Se o o cial visse o uniforme desparceirado de Faylin
ou notasse a pele azul de Isval...
A voz automatizada anunciou nove minutos.
O o cial escoltou a palete.
– Tem certeza... cabo?
Isval o imaginou intrigado quanto ao uniforme de Faylin.
– Espere. Qual é a sua unidade? Você está... o que vocês...
Seja lá qual fosse a pergunta que ele planejava fazer, ela nunca perpassou seus lábios. A arma de raios de Faylin
soou – uma descarga abafada, como se ela tivesse disparado com o cano grudado na barriga do imperial – e o
homem caiu por cima de Grolt e Isval.
– Não se mexa! – disse Faylin a Isval, mantendo a palete em movimento. – Não sei se alguém ouviu no meio
desse tumulto.
Uma voz se ergueu da retaguarda.
– Ei! Vocês aí! Parem!
Isval deixou escapar um resmungo.
– O que está acontecendo? – quis saber Eshgo no interior da palete.
– Não faça nada – avisou Faylin. – Fiquem parados. Todos vocês.
A voz que os mandou parar sumiu, soterrada pelo ruído ambiental.
– Não estava falando conosco – explicou Faylin.
O coração de Isval martelava contra as costelas. O estresse da situação somado ao peso de dois imperiais
mortos em cima dela praticamente a impediam de respirar. Virou o pescoço e viu o que gostaria de ver: 137.
Suas esperanças se renovaram, mas só por um lampejo.
– Já era – disse Faylin, soando derrotada.
– O que foi? – quis saber Isval. – A nave?
– Sim – disse Faylin. – Não há nada aqui.
Isval deixou escapar um palavrão. Talvez se esquecera do número da doca, ou os imperiais deveriam ter
transferido a nave, ou a equipe isca já zarpara, ou a doca atribuída a eles havia mudado após a veri cação de
Isval.
– O que mais temos aí? – indagou ela.
– Como assim?
– Outra nave, Faylin! Nada nas proximidades? Concentre-se.
– Não, espere... sim. Fique de sobreaviso.
Faylin conduziu a palete pela multidão.
O computador continuava a inexorável contagem regressiva – oito minutos. Faylin moveu a palete à lateral do
corredor e estacionou o veículo.
– Esperem – disse ela. – A palete não vai passar por essa comporta.
– Qual é a nave? – quis saber Isval.
– A nave salva-vidas ou a nave auxiliar de uma nave maior. Não tem ninguém aqui.
A tripulação atribuída a ela poderia ter sido morta no ataque droide contra a Perigo.
– Vocês vão ter que sair – disse Faylin. – Eu aviso quando.
Faylin circulou a palete, e Isval a imaginou tando os imperiais correndo por ela, esperando a hora certa. O
computador anunciou sete minutos.
– Agora – disse Faylin, largando um dos imperiais mortos da palete.
Isval empurrou o corpo de Grolt ao chão, enquanto Eshgo, Drim e Crost abriam seus compartimentos e saíam
da palete. Faylin ajudou Drim a se erguer, enquanto Isval levantou Crost pelas axilas.
 
Vader os avistou: Twi’leks rastejando para fora de uma palete de ferramentas conduzida por uma humana
trajando uniforme imperial roubado.
Tinha-os na palma da mão.
Ativou o sabre de luz, abraçou a sua raiva e mergulhou profundamente na Força.
Isval orientou sua equipe rumo à estreita comporta que conduzia à nave ancorada – constatou que era uma
escoltadora. Eshgo seria capaz de pilotá-la.
– Vamos! Vamos!
Drim tropeçou e caiu. Isval o ajudou a levantar, e nisso olhou de relance o caminho por onde tinham vindo.
Quase se engasgou. No saguão, ao fundo, avistou Vader saltar de uma passarela de dez metros acima do deque.
Ele aterrissou no chão se agachando, empunhando uma linha vermelha que só poderia ser seu sabre de luz.
– Vamos, Isval! – chamou Faylin, puxando a camisa dela.
– É ele – balbuciou Isval com a voz robótica.
Faylin puxou a camisa dela.
– Ele quem? Está na hora de ir, Isval!
Mas Isval pensou em Pok e não tinha intenção de sair. Conseguira salvar a sua equipe. Sua missão estava
completa. Ordenou a Faylin:
– Suba a bordo e ligue os motores. Agora, vá!
– Isval... – disse Eshgo.
– Ligue os motores! – ela exclamou e sacou as armas de raios.
A quarenta metros, Vader endireitou o corpo e atravessou imponente o saguão repleto de tripulantes. Fixou o
olhar nela, o sabre de luz em riste, e Isval sentiu o peso daquele olhar feito um soco. Ele explodiu em
movimento, correndo na direção dela a uma velocidade sobrenatural, as passadas devorando o espaço entre eles.
Feito um punhal, o vulto escuro abriu caminho na massa de tripulantes.
Ela ergueu as armas de raios e mirou nele, acionando os gatilhos o mais rápido que conseguia, picotando o ar
entre eles com feixes de energia escarlate. Vader não retardou sua arrancada e seu sabre de luz parecia um borrão
enquanto avançava, desviando os raios lançados em todas as direções. Alguns voltaram para ela. Um atingiu a
palete e esparramou as ferramentas, que deslizaram pelo deque. Outro chamuscou a antepara ao lado de Isval,
mas ela continuou a disparar.
A tripulação no saguão entrou em pânico e correu, apressada, em todas as direções. Um o cial se atravessou
no caminho de Vader, retardando a sua aproximação por um momento, e Vader o jogou para o lado com a mão
livre, como se o homem tivesse o peso de uma criancinha.
– Isval! – exclamou Eshgo detrás dela.
Vader estava poucos metros de distância.
Ela gritava, efetuava disparos, mas seus tiros não conseguiam ultrapassar a linha do sabre de luz e atingir o
alvo. Isval não entendia como isso era possível, até recordar a frase que ela mesma dissera: Vader não era um
homem.
Mas a Twi’lek se recusava a parar, ela não podia.
– Por Pok! – gritava ela a cada disparo. – Por Pok!
Seis minutos, avisou o computador. Vader a menos de dez metros. Ela não parava de apertar os gatilhos, aos
berros. Tiros de raios de algum outro lugar no corredor atingiram a antepara – stormtroopers, talvez.
Braços fortes a envolveram por trás, arrancando-a do deque: Eshgo.
– Pare! – Ela esperneou tentando contorcer o corpo para continuar a disparar. – O que está fazendo?
– Salvando a sua vida! – exclamou ele, arrastando-a pela comporta da doca enquanto raios de armas
ricocheteavam nos batentes.
Tão logo a fez atravessar o vão, ele a largou no chão, apertou um interruptor e as imensas folhas duplas da
comporta deslizaram para se fechar. Ela se virou, rilhando os dentes, e vislumbrou Vader antes de a comporta
bloquear sua visão – ainda correndo na direção deles, o sabre na mão, a capa esvoaçando atrás dele.
Isval levou a mão ao controle, pensando em apertar o botão e abrir a comporta, mas Eshgo acertou um raio de
arma no painel.
Ela se virou, apertando a empunhadura das armas de raios, cando na ponta dos pés para encará-lo.
– Não tinha o direito...
– Você viu o que eu vi! Ele não vai ser derrotado com raios de armas, Isval! Ele a teria cortado ao meio!
Como para enfatizar a ideia, a ponta do sabre de luz de Vader atravessou a comporta, quase acertando o
abdômen de Eshgo. Os dois recuaram para fora do alcance da lâmina, enquanto o calor da arma começou a
avermelhar o metal.
Os dois se entreolharam, arfando um na cara do outro.
– Tem razão – reconheceu ela, de ombros caídos. – Sei que você tem razão. Mas não me desobedeça de novo.
Vamos.
Embarcaram na escoltadora. Drim já acionara os motores. Ele deu lugar a Eshgo, que tomou o assento do
piloto, enquanto Isval se a velava na cadeira de copiloto.
– O que foi aquilo? – indagou Faylin.
– Quem foi aquilo. Vader – disse Isval. – Vader.
Faylin soltou um xingamento, e Isval só pôde concordar.
– Desconectando o grampo da doca – avisou Eshgo, e a nave se libertou do malfadado destróier estelar. –
Escapamos. E lá está Ryloth.
A nave balançou ao redor, e Isval espiou pela vigia. Ryloth pairava imenso no breu do espaço. A Perigo tinha
percorrido uma vasta distância com eles a bordo. O destróier estelar viraria cinzas bem perto do planeta que o
Império cruelmente oprimia. Isval considerou aquilo apropriado.
Centenas de cápsulas de fuga e uma cornucópia de outras naves, incluindo dezenas de V-wings, pontilhavam
o espaço ao redor da Perigo. Alguns pousariam na lua mais próxima. Alguns aterrissariam em Ryloth. E alguns
não se afastariam a tempo. O raio de explosão da Perigo seria gigantesco, levando em conta a origem da
detonação no hiperpropulsor.
– Não se afaste muito – disse ela a Eshgo.
– O quê? Temos de nos afastar o máximo...
– Obedeça – frisou Isval, e ele não ousou desobedecê-la outra vez.
Ela precisava entrar em contato com Cham.
 
Vader havia perdido os sabotadores.
O computador anunciou seis minutos para o m.
Vader desativou o sabre de luz, mergulhou na Força e se apressou para alcançar a nave auxiliar do imperador
na área de desembarque frontal. Os corredores se esvaziavam rapidamente à medida que os últimos tripulantes
evacuavam. Ao alcançar o hangar, ele parecia se mover numa nave fantasma.
Focos de incêndio persistiam, esparsos, na plataforma. A nave auxiliar do imperador descansava em seu
suporte, com os propulsores já ligados, e Vader correu até a prancha de embarque. Deparou com seu mestre
calmo, sentado na área de passageiros da nave, ladeado pelos membros armados da Guarda Real, em seus trajes
vermelhos. O mestre tocou um botão em sua poltrona.
– Pode zarpar – autorizou o imperador ao piloto, e a nave decolou imediatamente. – Sente-se, meu velho
amigo – disse a Vader.
– E o senador Taa? – quis saber Vader.
O imperador fez um gesto de desprezo.
– Ah, tenho certeza de que ele deu um jeito de fugir. Em naufrágios, os ratos são sempre os primeiros a
abandonar o barco.
 
Isval mordeu para ativar a comunicação particular com Cham.
– Cham, está me ouvindo?
– Sim!
– Escapamos.
– Escaparam? – ecoou ele, sem esconder o alívio, o que deixou Isval emocionada. – Estava com medo de
entrar em contato mesmo após vocês entrarem no alcance. Não queria distrair vocês. A Perigo aparece a meio
caminho entre a lua interna e o planeta. Qual é a situação de vocês?
– Os explosivos serão detonados. Ela vai ser destruída, Cham.
– Ela vai ser destruída – repetiu Cham, presumivelmente não para ela, mas para os outros na sala.
– Acho que as equipes iscas foram perdidas, e temos um problema.
Ele baixou o tom de voz:
– Qual problema?
Ela mirou o oceano de naves menores espalhado no espaço, tão espesso quanto um campo de asteroides,
enquanto Eshgo colocava alguma distância entre eles e a Perigo. Ela ergueu a mão para impedir que Eshgo se
afastasse demais. Não queria car muito distante. Ele suspirou para mostrar sua desaprovação, mas agiu como
ela mandou.
– Eles viram o que tínhamos feito e fomos obrigados a evacuar.
Cham permaneceu em silêncio por um longo instante. Suspirou e disse:
– Não vamos considerar isso um problema. Uma evacuação não é o ideal, mas ainda podemos dizer que
derrubamos um destróier estelar e matamos centenas de imperiais no processo. Isso é um golpe e tanto.
Ela desviou o rosto e sussurrou no comunicador:
– Mas não é um golpe su ciente. Não é su ciente, Cham.
– É, Isval. Tem que ser. Fizemos o que...
– Não acabou! Não pode ter acabado. A coisa toda é inútil se não matarmos Vader e o imperador. Você quer
começar um incêndio para que o Império se enfraqueça tentando apagá-lo. Isso aqui não vai resolver. Só vão
mentir, alegar que houve algo errado, e por isso a nave explodiu, mas o imperador e Vader escaparam ilesos.
Quer atear fogo? Mostrar que o Império é vulnerável? Temos que matar Vader e o imperador.
Ela o imaginou concordando.
– Só restaram vinte e poucos droides tricaças, Isval, ainda em mudança cerebral. Não foram testados em
combate. Kallon falou que eles...
– Esqueceu de nós, Cham? Estamos aqui. Aqui e agora.
Ela relanceou o olhar às naves em fuga. O tempo se esgotava.
– Cham, nós precisamos destruir apenas uma ou duas naves. Os tricaças serviriam de engodo para ocupar os
V-wings. Não precisamos deles prontos para o combate.
Isval tou o painel de controle, mas o leiaute não lhe era familiar. Indagou a Eshgo:
– Cadê os controles de armas? Por acaso essa geringonça tem armamento?
– Tem – a rmou Eshgo. – Aqui.
Ela assentiu e avisou Cham:
– Só precisamos encontrá-los. Se conseguirmos localizá-los, posso matá-los. Cham, está me ouvindo?
– Em que tipo de nave vocês estão?
– Uma com canhões de raios. Escoltadora. Faça Belkor nos passar a ID da nave do imperador e de Vader. Ela
deve ter uma identidade especial.
Isval observou mais cápsulas evacuando dos ancos da Perigo, e outras escapando pela área de pouso dianteira.
O destróier estelar deveria estar quase vazio. A explosão aconteceria em dois ou três minutos.
– Cham?
– Tudo bem, Isval. Vou lançar os tricaças. Darei um retorno sobre a identidade da nave. Preparem-se.
Ela se recostou na cadeira, aliviada.
– Prepare as armas – avisou a Eshgo. – A perseguição começa assim que os tricaças chegarem aqui.
Nesse meio-tempo, a Twi’lek se familiarizou com os instrumentos da nave.
 
– Como é que é?! – indagou Kallon, em resposta à ordem de Cham para lançar os tricaças, contorcendo os
lekkus de irritação. Detestava colocar equipamentos em batalha sem antes testá-los exaustivamente. – O cérebro
deles ainda é experimental. Vão ser inúteis em combate.
– Mesmo assim. Faça-os atacar tudo, menos a nave de Isval.
Kallon fungou.
– E qual é a nave dela?
– Uma escoltadora.
– Só isso? – disse Kallon. – Uma escoltadora? Sem identidade? Como vou impedi-los de atirar contra ela?
– Dando as especi cações de uma escoltadora imperial e instruindo para que atirem nas demais naves –
vociferou Cham. – Os tricaças são um engodo e não vão durar muito tempo mesmo. Não tenho tempo para
discutir, Kallon. Apenas os coloque no ar. Agora. Daqui a pouco, abandonamos essa base rumo a Ryloth.
Com isso, ele deixou Kallon resmungando, virou-se e saiu do centro de comando. Ativou sua comunicação
criptografada com Belkor.
O imperial retorquiu com rapidez e irritação.
– O que foi?
– A nave vai ser destruída, mas uma ordem de evacuação foi dada...
– Eu sei – esbravejou Belkor. – Já fomos informados e...
– Preciso da identidade da nave em que Vader e o imperador normalmente voam, e preciso disso agora.
Belkor permaneceu em silêncio por alguns instantes. Cham o imaginou mastigando o pedido e repelindo o
gosto.
– Se esses dois não morrerem – explicou Cham –, tudo isso cai por terra. Preciso dessa identidade e preciso
dela agora.
– Entro em contato – disse Belkor e desligou.
Cham não sabia se ele entraria em contato. Pensou que Belkor poderia ter simplesmente perdido a coragem.
Xingou ao observar os tricaças subirem em seus içadores e zarparem da área de pouso. Ativou a comunicação
com Isval.
– Tricaças lançados. Não sei quando vou obter as identidades. Tente conseguir algo por conta própria.
 
Em pé, no meio da agitada central de comunicações, Belkor tentou analisar a situação. Estava sendo
arrastado pela correnteza. O ar parecia abafado, as paredes, muito juntas. Ofegava com di culdade. Precisava de
espaço para se movimentar.
E precisava mais do que apenas Vader e o imperador mortos. As mortes deles não seriam su cientes, não para
ele.
Antes de se dar conta do que fazia, abriu um comlink com Mors.
– O que foi, coronel? – indagou Mors, a voz tensa pelo estresse.
O fato de Mors chamá-lo pelo posto em vez de pelo nome não era bom sinal.
– Veri cando a sua situação, senhora. Já partiu da lua?
– Partindo agora.
– Excelente, minha senhora. Vamos pedir ao piloto a identidade da nave e deixar tudo pronto para a sua
chegada.
Ele parecia agir fora de seu corpo, observando a si mesmo fazendo as coisas. Rumou a uma estação de
computador e obteve a identidade da nave auxiliar do imperador e da lançadeira de Mors. Converteu-as no
código criptografado com o qual costumava se comunicar com Cham e, em seguida, saiu da central e chamou o
Twi’lek.
– Conseguiu? – questionou Cham.
– Estou lhe enviando duas IDs.
– Duas? – quis saber Cham.
– Estão numa delas. Ou talvez um deles em cada uma. Foi o melhor que pude fazer. Destrua as duas naves
para ter certeza.
Transmitiu as identidades. O suor escorria em sua testa.
– Anotei – disse Cham. – Não lance nenhum outro V-wing até isso estar resolvido.
– Já retardei ao máximo – disse Belkor, sem esconder o tom de exasperação. – Faça o que for preciso, Twi’lek.
Cham desconectou sem responder, e Belkor cou ali, o suor grudando-lhe o uniforme na pele. Se Mors
morresse junto com Vader e o imperador, Belkor poderia colocar tudo nas costas da moff. Era a sua melhor
jogada, sua única jogada.
Através do vidro, mirou a colmeia de atividade na central de comunicações e respirou fundo para se acalmar.
Endireitou o uniforme, alisou o cabelo e retornou à sua estação.
Em poucos minutos, o destino dele estaria de nido.
 
Mors se apressou para embarcar em sua lançadeira, e Breehld, seu piloto particular, de imediato os fez utuar.
A lua se distanciou dela, a luxuriante cobertura da selva revestindo a superfície de verde.
– Situação – disse na pulseira comlink ao se acomodar no luxuoso e almofadado compartimento de sua
lançadeira.
O controle imperial de Ryloth informou a ela que a Perigo, em chamas e severamente dani cada, com
centenas ou milhares de mortos, situava-se agora entre o planeta e a órbita da lua mais próxima, a lua de Mors. O
destróier estelar localizava-se mais perto de Ryloth do que ela.
– Quando ela estiver em órbita planetária, quero todos os recursos canalizados para ajudar com os reparos e os
feridos.
– Claro, minha senhora.
O céu azul deu lugar ao espaço negro. A moff olhou para fora de uma vigia, e a lançadeira deixou a lua para
trás rumo a Ryloth.
Ela não gostava de Ryloth, de sua sujeira, do ar seco, dos ventos uivantes, da pobreza endêmica. Comida
ruim, pessoas com raiva, e para ela nunca zera sentido suportar aquilo se podia, em vez disso, desfrutar uma
vida confortável na lua de selva, deixando o trabalho sujo para Belkor.
Mas isso havia sido um erro. Belkor fracassara. Mors teria de fazer algo em relação ao jovem coronel. O
pensamento lhe desagradava, não porque ela gostasse de Belkor, mas porque isso signi cava trabalhar, e ela não
gostava de trabalho. Sentia-se velha demais para trabalhar.
 
Suspensa no vácuo entre Ryloth e a órbita da lua mais próxima, a Perigo sofreu o primeiro estrépito da reação
em cadeia. A popa da nave cuspiu várias bolas de fogo. Pedaços e fragmentos da superestrutura giraram no
espaço, mesclando-se às cápsulas de fuga e aos V-wings.
– E aqui vamos nós – murmurou Isval suavemente.
– De etores ao máximo – falou Eshgo, com a voz tensa. – Não sei se estamos a uma distância segura.
– Mantenha a posição – ordenou Isval, observando as centenas de naves e cápsulas que pontilhavam o espaço.
Mais explosões abalaram a traseira do destróier estelar, e línguas de fogo com centenas de metros de
comprimento iluminaram o breu, lambendo a escuridão.
– Temos de nos afastar – avisou Eshgo com rmeza na voz.
Isval sabia disso, como sabia também que eles precisavam car perto o su ciente para completar o trabalho de
limpeza. Ela não podia imaginar que Vader e o imperador não tivessem fugido da nave.
Em seguida, as explosões se espalharam rapidamente, uma após a outra. A seção da popa transformou-se numa
única e enorme bola de fogo, vaporizando os propulsores, embora a inércia mantivesse a rota do destróier estelar
em direção a Ryloth. Destroços e chamas voaram em todas as direções. As explosões percorreram todo o
comprimento da nave, seção após seção desaparecendo atrás de uma cortina alaranjada.
A escoltadora de Isval balançou com as ondas da explosão. Até mesmo a olho nu, ela avistou algumas das
cápsulas de fuga sendo atingidas pelas ondas e começando a rodopiar descontroladamente.
E ela sabia que aquilo fora um mero prelúdio. Quando as cargas que havia acoplado ao hiperpropulsor
detonassem...
– Segurem-se – avisou por cima do ombro a Drim, Faylin e Crost.
Como não tinham um modo de colocar cintos de segurança, agarraram-se a qualquer protuberância a xada na
cabine. O vácuo matou as chamas quase tão rápido quanto elas oresceram e, por um momento, o destróier
estelar deslizou no espaço, silencioso, sombrio, mas ainda enegrecido pela queima, estilhaçado pelas explosões.
Parecia quase pací co, como a relíquia de uma guerra antiga. O momento acabou quando a reação em cadeia
desencadeada pelo moribundo hiperpropulsor transformou a Perigo numa estrela em miniatura.
Uma explosão quente engolfou a superestrutura remanescente e estraçalhou a nave. Isval semicerrou as
pálpebras e espalmou a mão diante dos olhos. Em chamas, destroços retorcidos voaram em todas as direções.
– Segurem-se rme! – gritou Eshgo, agarrando-se aos controles.
A onda explosiva, visível como marola no espaço, expandiu-se em todas as direções do cadáver es apado do
destróier estelar. Atingiu em cheio algumas cápsulas de fuga, transformando-as em sucata, e lançou outras
cápsulas e V-wings feito seixos saltitantes numa correnteza.
A onda atingiu a escoltadora como uma muralha. O impacto jogou a nave para trás e a fez rodopiar. O metal
gemia e rangia. Alarmes soaram estridentes. Crost, Drim e Faylin, sem cintos de segurança, incapazes de se
segurarem, foram jogados para lá e para cá na traseira da nave. De repente, a energia falhou, aquietando os
alarmes e jogando o interior na escuridão.
Isval deixou escapar um resmungo. Crost, Drim e Faylin gemeram.
– Estão bem? – ela gritou para os três na parte traseira.
Exclamações positivas soaram.
– Precisamos voltar para lá, Eshgo! – exclamou ela.
 
– Segurem-se rme, meus senhores – avisou o piloto da nave auxiliar pelo intercom. Tentou aparentar calma,
mas a tensão se insinuou em suas palavras.
A onda de choque atingiu a lateral da nave auxiliar, fazendo-a adernar, arrastando-a por dezenas de
quilômetros, numa violenta inclinação. Vader e o imperador, sentados, usaram a Força para manter suas
posições, mas os quatro membros da Guarda Real foram atirados com ímpeto contra a antepara. Uma estação de
computador montada na parede cuspiu faíscas. Um alarme soou. As luzes da cabine piscaram, caram marrons e
falharam, lançando a cabine na escuridão e silenciando o alarme. No silêncio, ouvia-se apenas a respiração de
Vader.
A energia de segurança recuperou a luz na cabine.
– Um momento, meus senhores – disse o piloto no ruidoso comunicador.
Os propulsores se reativaram e o piloto endireitou a nave. Os guardas reais voltaram a assumir seus postos,
sem proferir uma palavra.
Vader espiou por uma das vigias e avistou centenas de cápsulas e naves utuando no espaço, muitas sem
energia, e milhares, senão milhões, de fragmentos e destroços jogados no espaço, náufragos da explosão e da
posterior onda explosiva.
A maioria das naves girava ou voava rumo à esfera marrom de Ryloth, mas algumas voavam rumo à lua
planetária mais próxima. O restante apenas espiralou espaço adentro.
– De etores dani cados, meus senhores, mas motores operacionais.
– Continue até Ryloth – ordenou o imperador.
– Vamos chegar em breve – respondeu o piloto.
– Excelente, capitão – respondeu o imperador.
 
A energia reserva veio um pouco mais tarde, e Eshgo rapidamente estabilizou a nave rodopiante.
– Recuperamos os motores – comemorou.
Pelo vidro, Isval avistou milhares de naves e pedaços do destróier estelar girando ou utuando impotentes na
esteira da onda de explosão. A primeira onda de cápsulas começou a atingir a atmosfera de Ryloth, iluminando o
céu em linhas alaranjadas à medida que o atrito de entrada gerava chamas. Vader e o imperador poderiam estar
em qualquer lugar. Ela tentou avistar algo maior, uma nave auxiliar ou algo semelhante, mas não enxergou nada
ao alcance do olhar. Simplesmente havia muita área a ser coberta, muitas naves, fragmentos e destroços.
– Consiga uma varredura completa – pediu ela a Eshgo, acionando a comunicação com Cham. – Preciso da
identidade dessas naves, Cham! Agora ou nunca!
Ele respondeu imediatamente:
– Já vai. – E seu computador de bordo mostrou as identidades.
– Faça a varredura para encontrá-las – disse ela a Eshgo, mas logo executou a varredura ela mesma, tando a
tela do computador, sem ousar não as encontrar.
– Naves se aproximando – avisou Eshgo, tamborilando na tela. – Parece que são os tricaças. Alguns V-wings
continuam operacionais e já os detectaram, também. Estão se movendo para interceptá-los.
Isval sabia que os cérebros experimentais dos droides tricaças não seriam páreos para os V-wings. Em outras
palavras: não havia muito tempo. Se Vader e o imperador tivessem escapado da Perigo, ela precisava encontrar a
nave deles e destruí-la em meio ao caos.
– Vamos lá! – ela exclamou para o computador.
 
Um suspiro coletivo soou na central de comunicações, quando as leituras mostraram a Perigo desintegrando-se
em milhões de pedaços. Muitos deles olharam para o teto por um momento, como se imaginassem a destruição
ocorrendo bem acima.
– Voltem às estações, pessoal – solicitou Belkor, com a voz oca.
Nas poucas vezes em que Belkor havia jogado sabacc, jogara mal, mas estava prestes a apostar tudo que tinha.
Dispensou o o cial de comunicações, manifestamente para permitir ao o cial júnior que se recompusesse, e
chamou a lançadeira da moff Mors.
– Aqui é o controle imperial – disse ele.
– Pode falar, controle – disse o piloto.
– A Perigo se foi. Cápsulas de fuga estão fora, e existe uma nave VIP em perigo. A nave de vocês é a mais
próxima e deve ir até lá para oferecer auxílio imediato.
– Como assim somos a mais próxima? – indagou o piloto. Belkor lembrou-se de que o nome dele era Breehld.
– Os V-wings estão partindo agora do planeta. Vocês são os mais próximos.
– Entendido.
Com isso, transmitiu a ID da nave auxiliar de Vader e do imperador e as coordenadas do último local
registrado da Perigo.
A lançadeira de Mors teria de contornar Ryloth, mas isso levaria apenas um ou dois minutos. E assim, se tudo
corresse bem, droides de Cham a explodiriam no espaço.
– Naves de resgates e salvamento – convocou ele. – Vamos ter muitos refugiados lá no espaço escuro e em
terra rme. Rastreiem o que puderem enquanto eles caem.
O terreno inóspito e as constantes tempestades de areia de Ryloth di cultariam as operações de busca e
salvamento, mas Belkor precisaria realizar uma boa encenação. A maioria dos o ciais e homens que estaria
envolvida nas operações lhe devia lealdade pessoal, por isso ele poderia controlar as coisas facilmente.
– Nenhum resgate deve ser lançado ainda – ordenou. – Primeiro, quero uma varredura completa e um
relatório detalhado sobre a situação.
– A rmativo, senhor.
Com o atraso, Cham alcançaria Vader, o imperador e Mors.
O comunicador crepitou com a voz de Breehld, o piloto de Mors:
– Minha senhora, hã, acabo de ser informado. – Uma longa pausa de que Mors não gostou. – A Perigo se foi.
Mors se ergueu do assento.
– Como assim, “se foi”?
Após uma pausa, ele disse:
– Ao que parece, ela foi destruída, minha senhora. Entre a órbita da primeira lua e Ryloth. Foi a informação
que recebi do controle de Ryloth.
Mors se afundou no assento outra vez e engoliu em seco. Até onde sabia, nunca antes na história um destróier
estelar imperial fora destruído. E agora um havia sido, bem acima do planeta que ela administrava, por um
movimento rebelde que cabia a ela suprimir.
Tudo o que restava de sua carreira explodira junto com a Perigo.
Embora sua lançadeira estivesse do outro lado do planeta, ela olhou pela vigia na ânsia de avistar partes do
destróier estelar boiando no espaço. Não entendia como as coisas tinham chegado àquele ponto.
Entendia, sim. Con ara demais em Belkor. E ele a decepcionara.
Chamou Belkor pelo comlink.
– Minha senhora, no momento estou resolvendo muitas coisas.
A voz do coronel soou estridente e estressada pela conexão.
Mors vociferou:
– Resolvendo muitas coisas? Você?
– A Perigo se foi, minha senhora. Mas Vader e o imperador escaparam. Na verdade, há muitos sobreviventes.
Instruí o seu piloto a...
– Você o quê?
– ... a desviar e ajudar no resgate do imperador e do Lorde Vader.
– Por que a área ainda não está repleta de V-wings e naves de resgate? O que está fazendo aí embaixo, Belkor?
– Minha senhora, temos um número limitado de naves, e aproximá-las da Perigo antes da explosão parecia
imprudente. Vou lançá-las agora.
Uma enxaqueca latejou na têmpora esquerda de Mors, um pico de dor que não sentia desde a época em que
se preocupava de verdade com o trabalho dela. Segurou o comunicador junto à boca e falou entredentes:
– Não faça mais nada, coronel, sem antes me consultar. Entendido?
Após uma pausa, Belkor disse:
– Sim, senhora.
– Vai ter de se explicar por todos os seus fracassos assim que eu colocar os pés em Ryloth. Entendido?
Uma longa pausa, e em seguida:
– Sim, senhora.
Mors cortou a conexão, fervendo de raiva. Ela se omitira por muitos anos, deixando Belkor gerenciar Ryloth
livremente. Precisava ao menos aparentar estar no comando. Uma investigação aconteceria. Uma punição
aconteceria.
A única chance de Mors se redimir na situação, ao menos parcialmente, seria localizar e trazer o imperador e
o Lorde Vader com segurança à superfície de Ryloth. Se conseguisse, talvez mantivesse o cargo. Poderia culpar
Belkor pela incapacidade de reprimir o movimento Ryloth Livre, culpar o promissor, mas relapso, o cial pelos
erros que levaram à destruição de um destróier estelar. Mors seria responsabilizada por delegar poder a alguém
desmerecedor, por fazer vista grossa às falhas de um subordinado, mas talvez conseguisse escapar do pior.
Não tinha alternativa. Ordenou:
– Contorne o planeta o mais rápido que puder, Breehld.
– Pois não, senhora.
A lançadeira acelerou ao máximo, circundando Ryloth a toda velocidade para localizar os destroços da Perigo.
 
– Captei uma nave – avisou Eshgo, apontando a tela do escâner.
Isval a avistou: uma lançadeira atravessando o campo de destroços em direção a Ryloth.
– Os tricaças também se aproximam.
– Armas prontas – disse Isval, ativando o modesto conjunto de canhões de raios da escoltadora. – Vamos pegá-
la.
Eshgo acelerou entre os escombros, balançando a escoltadora de um lado ao outro para se esquivar das
cápsulas e dos fragmentos da Perigo. O escâner apitava, indicando ter detectado a identidade da segunda nave
informada por Cham, a dezenas de milhares de quilômetros de distância.
– Siga a primeira – disse Isval. – Mas continue monitorando a outra. Vamos retornar.
 
Mors tou pela vigia e suspirou ao deparar com o âmbito da destruição. Por todos os lados, utuavam pedaços
metálicos, alguns maiores do que sua nave. À deriva, sem energia, cápsulas de fuga e V-wings pairavam entre os
destroços.
– Cadê as naves de resgate? – indagou Mors a si mesma. – Maldito Belkor.
Detritos rasparam no casco da nave.
A voz de Breehld surgiu no comunicador.
– Naves chegando, minha senhora.
– As naves de resgate? Quantas?
– Não, senhora. A varredura é estranha. Parecem os arcaicos droides tricaças.
– O quê? Deixa para lá. Localizou a nave auxiliar do imperador?
– Já apareceu no escâner, minha senhora.
– Estabeleça contato com eles.
– Certo. Espere... Senhora, uma escoltadora se aproxima em vetor de ataque.
Mors imaginou que, se os rebeldes tinham abutres e tricaças, também poderiam ter realocado escoltadoras
imperiais.
– Faça manobras evasivas – ordenou.
A moff se jogou no assento e, desajeitada, tentou a velar o cinto.
Breehld – sem dúvida, supondo que ela colocara o cinto – deu uma violenta guinada a bombordo. Mors foi
arremessada ao outro lado da cabine e chocou-se na antepara, perdendo o fôlego.
 
Linhas vermelhas iluminaram o espaço: a artilharia dos tricaças disparou repetidas vezes contra as naves
imperiais sobreviventes. Incapazes de se esquivarem com e cácia, as cápsulas de fuga explodiam em chamas. Os
V-wings remanescentes responderam ao fogo dos tricaças acionando os próprios canhões.
– A lançadeira fez manobras de evasão – informou Eshgo, oscilando a escoltadora para lá e para cá, tentando
se aproximar do alvo.
– Mais perto – orientou Isval a Eshgo, esperando o sinal do computador de alvo. – Um pouquinho mais perto.
O computador de alvo emitiu um ruído para indicar mira certa.
Isval disparou, e os canhões soltaram feixes de plasma quente.
 
Um impacto abalou a lançadeira, jogando Mors com ímpeto contra a antepara, expelindo-lhe o ar dos
pulmões. Alarmes gemeram. Ela soergueu o corpo, engatinhando, e chamou, com a respiração ofegante:
– Situação, Breehld.
Mas ele não respondeu. Talvez estivesse muito envolvido em manobrar a nave. A lançadeira dava fortes
guinadas para baixo e para cima. Listras vermelhas passaram pelas vigias a estibordo. Outro impacto fez a
traseira da nave trepidar; uma explosão secundária seguiu-se, maior do que o impacto, um ou mais motores indo
pelos ares. As luzes morreram na cabine e a nave baixou a proa, arremessando Mors pela cabine. Ela bateu a
cabeça com violência contra um dos assentos, arfou de dor e sentiu a visão turva. De um corte na cabeça, o
sangue escorreu-lhe entre os olhos.
– Breehld! Breehld!
Por algum vão, a fumaça se in ltrou na cabine, agredindo os olhos dela. Os alarmes pareciam se esvaecer – ou
talvez fossem os sentidos de Mors. Apoiou-se no assento. Surpresa ao ver sangue na mão, tentou se levantar. Seja
lá quem os estivesse atacando, voltaria para outra rajada. Ela não sabia se os de etores ainda estavam
funcionando. Se não estivessem...
Tentou reerguer-se, mas a vertigem voltou a derrubá-la no deque.
– Breehld – chamou, a voz soando estranhamente distante.
Os motores se apagaram, e a lançadeira despencou à direita e para baixo. A fumaça engrossou. As luzes se
apagaram por completo. Tossindo, engasgando, perdendo a consciência, a moff percebeu que estavam caindo.
Ela cou se perguntando o que acontecera com a energia de reserva.
 
– Maldição – disse Isval quando a lançadeira que eles atacavam deu uma guinada à direita e para baixo. Eshgo
teve de jogar a escoltadora à esquerda para desviar de uma cápsula de fuga, mas demorou uma fração de
segundo. A escoltadora tocou a cápsula, metal raspando metal, antes que ela se desprendesse.
– Sem danos – relatou Eshgo ofegante. – Estamos bem.
– Uma ova – disse Isval, tentando car de olho na lançadeira em meio a detritos, outras naves e cápsulas. Ela
já havia perdido a mira. – Faça meia-volta! Agora, Eshgo! Agora!
– Estou tentando – ele respondeu com os dentes semicerrados, a nave ziguezagueando pelos escombros.
Apesar de seu esforço, fragmentos de material bombardeavam o casco da escoltadora.
– Não consigo enxergá-la! – exclamou Isval.
– Ainda aparece no escâner – revelou Eshgo. – Olhem! Está sem energia! Nem mesmo o suporte à vida. Flutua
inerte, de cabeça para baixo.
– Cadê a outra? – quis saber Isval, e veri cou, ela mesma, o escâner de varredura.
Avistou a segunda nave rumando direto a Ryloth. Pior ainda: avistou V-wings aparecendo nos sensores,
subindo de Ryloth.
– Vamos perder a segunda nave, Isval – contou Eshgo.
– Eu sei! – exclamou ela, acionando Cham pelo comlink privado.
– Cham? Preciso extrapolar uma provável zona de impacto para...
– Não consigo ver nada, Isval. Estamos do outro lado do planeta, a bordo da nave, rumo à base em Ryloth. O
que está acontecendo aí?
– Atingimos uma das naves. Está com a energia desativada e caindo rumo à atmosfera. Não sei se Vader e o
imperador estavam a bordo. Mesmo assim, talvez ainda estejam vivos.
– Vamos perdê-la – avisou Eshgo, referindo-se à segunda nave, a nave auxiliar.
– Faça o que puder e dê o fora daí – Cham disse a Isval. – Belkor está instável. Uma rota de fuga, Isval. Pense
numa.
Ela assentiu com a cabeça.
– A gente se vê no planeta, Cham. – E, para Eshgo, emendou: – Vá atrás da segunda. Mais tarde encontramos
a primeira.
Ela observou no escâner enquanto a primeira nave, a lançadeira, impotente, despencava na atmosfera de
Ryloth. Eles a tinham estropiado, talvez fatalmente, mas, para ter certeza, só se encontrassem a nave ou os
destroços dela mais tarde. A interferência da atmosfera bloquearia a varredura ainda mais, e ela odiava a
incerteza. Mas não havia nada a fazer.
– Vetor de ataque contra a segunda espaçonave – ordenou a Eshgo. – E sem deixar dúvidas dessa vez.
 
Vader espiou por uma das pequenas vigias os milhões de fragmentos de destroços, um conjunto tão denso
quanto um campo de asteroides. Cada pedacinho de metal atiçava a sua raiva. Os rebeldes pagariam caro por
isso.
– A traição nunca passa impune, meu velho amigo – previu o imperador, como se lesse a mente de Vader.
O lorde percebeu um quê de ameaça no tom de seu mestre. Ele se virou, pensando em perguntar o que o
mestre queria dizer, mas, antes de fazê-lo, pressentiu algo por meio da Força: perigo iminente. O mestre dele
também deveria ter pressentido, pois verbalizou a preocupação.
– Estão vindo – avisou o imperador, a voz tão suave e gélida quanto uma brisa fria.
A voz do piloto surgiu no intercom.
– Meus senhores, parece que uma escoltadora imperial está vindo em nossa direção em vetor de ataque. Ela
não responde aos chamados.
– Ela é hostil – avisou o imperador pelo intercom. – Destrua-a.
Vader faria de tudo para preservar a segurança de seu mestre. Ele se levantou e foi em direção à cabine.
 
A escoltadora encurtou a distância entre ela e a nave auxiliar.
– Entramos no campo visual dela – comunicou Eshgo, ajustando o ângulo de abordagem. – Buscando mira.
– E ela entrou no meu – disse Isval, observando, quando o computador emitiu dois bipes para indicar alvo na
mira. – E estão muito atrasados. Vamos ver se seus escudos de etores funcionam, desgraçados.
Disparou exatamente quando a nave auxiliar imperial adotou manobras evasivas. Os disparos a atingiram
embaixo do nariz, destruindo a solitária barbeta de artilharia num jato de fogo e metal. A escoltadora
ultrapassou e contornou a nave auxiliar.
– Dando a volta! – exclamou Eshgo, arqueando a nave ao redor.
 
Vader abriu a porta da cabine, e o gemido dos alarmes derramou-se num jato. A nave hostil não era visível pela
vigia. Ao longe, ele avistou o brilho de disparos de V-wings.
– Atrás de nós – disse o piloto, não a Vader, mas ao copiloto.
– Nossas armas já eram. Os de etores estão aguentando.
Raios verdes passaram sobre a nave, atingindo uma cápsula de fuga à frente deles, a estibordo, vaporizando-a.
Vader se agarrou às laterais da porta para manter o equilíbrio. Nova carga de artilharia da escoltadora trespassou
o espaço próximo à nave auxiliar. Um segundo disparo atingiu a asa da nave auxiliar e a fez arriar a dianteira. O
piloto deu uma guinada a bombordo, realizando meia-volta, e a escoltadora passou zunindo por eles, tão perto
que Vader avistou de relance os pilotos da escoltadora: Twi’leks.
O piloto do imperador deixou escapar um xingamento e serpenteou a toda velocidade no disperso, mas ainda
denso, campo de destroços da explosão da Perigo. Puxou o manche com ímpeto, mas a nave reagiu devagar. Um
pedaço de superestrutura à deriva se chocou contra a nave auxiliar e transformou a grande vigia da cabine numa
rede de rachaduras.
Vader já vira o su ciente. Deu dois passos à frente. Com uma das mãos, desa velou o cinto de segurança do
piloto; com a outra, içou o homem do assento e o jogou para o lado.
– Vá embora – disse Vader, tomando o assento do piloto. E acrescentou ao copiloto: – Você, também.
O copiloto desconectou o cinto, com os olhos esbugalhados, ajudou o piloto a se erguer, e os dois escapuliram
da cabine.
Num relancear de olhos, Vader absorveu os dados fornecidos pelo painel de instrumentos. A escoltadora se
aproximava para uma nova bateria de raios. Com as armas da nave auxiliar em estado inoperante, Vader se
concentrou na evasão naquele momento. Usando os destroços a seu favor, ele gingou a nave auxiliar
violentamente a bombordo, depois à popa, depois de volta outra vez, mudando de altitude durante as manobras,
rodopiando pelos pedaços utuantes da Perigo. Os canhões da escoltadora pulverizaram o espaço com linhas
verdes, mas os raios se espalharam para cima, atingindo detritos e cápsulas.
Vader permitiu uma proximidade relativa e, de repente, acionou os propulsores reversos a toda potência. Foi
arremessado à frente no assento e, num ato contínuo, acelerou na direção normal. A parada momentânea fora
su ciente. A escoltadora passou reto por cima dele. Vader saiu em perseguição instantânea, invertendo a nave
auxiliar. Ela estava desarmada, isso era verdade, mas Vader tinha lá suas armas.
 
Isval e Eshgo deixaram escapar impropérios ao acelerar e ultrapassar a nave auxiliar.
– O piloto é bom – comentou Eshgo tenso. – Muito bom.
– Cadê ele? – indagou Faylin do setor traseiro. – O que está fazendo?
Isval realinhou sua varredura.
– Captamos! Ele está...
Espiou através da cúpula da escoltadora, o olhar arregalado e cético, e vislumbrou a nave auxiliar a dezenas de
metros, voando invertida. As cabines das naves se defrontaram. Isval avistou Vader, e ele os avistou. Vader fez um
gesto com a mão enluvada, como se realizasse uma punção para estancar o sangramento de uma artéria, e Isval
sentiu um aperto na garganta. Instintivamente levou a mão ao pescoço, mas não havia nada lá, só a pressão, só o
estrangulamento. Ela não conseguia respirar! Apalpou o pescoço, agora entrando em pânico e debatendo-se. Ao
lado dela, Eshgo se comportava da mesma forma. Ela lutava para inalar, mas não conseguia. As mãos em torno
do colarinho, contorceu-se no assento e emitiu um leve suspiro. Seja lá o que fosse, as xiava-a cada vez mais.
– Qual o problema? – berrou Drim de trás. – O que está havendo?
As vistas dela se escureceram. Pequeninas explosões de luz nadavam diante de seus olhos. Ela se lembrou dos
sons que Pok zera quando Vader o matara – o longo silêncio pontuado por arquejos abortados.
Vader a sufocava de alguma forma. Só podia ser isso.
Isval relanceou o olhar para cima e tou a nave auxiliar imperial, com Vader nos controles.
Alguém chamava o nome dela. Cham? Drim? Faylin?
Ela não conseguia responder. A boca não funcionava. Não tinha fôlego, nem palavras. Sua visão, em
tunelamento, concentrou-se em Vader, apenas Vader. Ela se imaginou re etida na viseira do capacete dele. O
mundo de Isval se destilou no olhar de Vader e na raiva dela, e essa destilação lhe deu um lampejo de clareza.
Sabia que estava nas últimas, moribunda, mas não morreria sozinha.
Tirou as mãos da garganta e agarrou o manche. Puxou o controle para trás, e a escoltadora rumou de nariz
empinado para a nave auxiliar. Tudo escureceu.
 
Vader pressentiu o perigo uma fração de segundo antes de a moribunda Twi’lek direcionar a escoltadora
contra a nave auxiliar. Bateu no manche com ímpeto à direita e para trás, mas a nave auxiliar não era tão
manobrável quanto a sua interceptadora Eta e respondeu muito devagar.
A escoltadora atingiu a nave auxiliar no ventre e a arremessou num giro, popa sobre a proa, as estrelas e o
planeta na vigia rodopiando numa espiral enlouquecedora. O metal gemeu e os alarmes soaram, mas só por um
momento antes de a nave perder toda a energia. Vader viu-se sentado no assento do piloto, segurando um
manche inerte numa cabine escura. A armadura dele compensou a escuridão, ativando os ampli cadores de luz
nas lentes do capacete. O som do respirador preencheu o silêncio. Pela vigia, o espaço parecia um vertiginoso
panorama de imagens dinâmicas: Ryloth, destroços da Perigo, cápsulas, a lua distante de Ryloth, estrelas. Ryloth
crescia a cada giro da nave que despencava rumo ao planeta.
Um movimento piscou no campo de visão de Vader por um átimo: a escoltadora. Ainda tinha energia, mas
estava gravemente dani cada pela colisão. Espiralava rumo a Ryloth, fumegante, em chamas, prestes a uma
reentrada em ângulo muito acentuado; ela se despedaçaria na atmosfera.
Fixou-se não na perspectiva rodopiante da vigia, mas no painel de instrumentos. Calmo, imerso na Força,
tentou reativar a energia de emergência, mas sem sucesso. Raramente precisava aplicar o talento mecânico que
possuía desde a infância, mas agora teria boa utilidade. Tinha um tempo bem curto antes de a nave atingir a
atmosfera do planeta. E, se a nave a atingisse girando fora de controle, explodiria.
Começou a redirecionar todo o poder latente das baterias da nave aos propulsores. Precisaria só de momentos
fugazes de propulsão para endireitá-la e, em seguida, reassumir o leme para a reentrada. Dedilhou com rapidez o
equipamento. Ryloth tornava-se maior a cada instante.
Uma lembrança o apunhalou, tão aguçada quanto uma lâmina. Certa vez, utuara sobre Ryloth, sozinho numa
cápsula de fuga, rodopiando bem acima de sua superfície, após arremeter um cruzador contra uma nave de
controle droide. Outro nome a orou e rompeu a superfície do mar de lembranças.
Ahsoka.
Às vezes, ele a chamava de “Abusada”, pela atitude impertinente.
Afastou a recordação errante e se concentrou na tarefa. Pouco depois, já canalizara energia das baterias de
reserva su ciente para ao menos alguns segundos de funcionamento de propulsão.
Não hesitou. Mergulhou na Força, tou a vigia, sentiu o movimento da nave e reativou os propulsores.
A rotação da nave desacelerou e seu ângulo amainou. Outra rápida combustão interrompeu o giro por
completo, e a nave auxiliar entrou numa rota que ao menos permitiria a reentrada. Além disso, ele ainda tinha
um pouco de energia de bateria.
Atrás dele, a porta da cabine se abriu, e Vader sentiu a presença de seu mestre.
– A nave está quase sem energia – informou. – Mas vamos conseguir pousar.
– Sem dúvida – disse o mestre, tomando o assento do copiloto. – Já estivemos em situações como essa antes,
você e eu.
Vader não disse nada, mas em sua mente rememorou uma batalha sobre Coruscant, pouco após ter matado
Darth Tyranus. Como sempre, seu mestre parecia preencher todo o espaço disponível com sua presença,
pressionando Vader com seu poder.
– Sobre Coruscant – con rmou o mestre. – E... noutras ocasiões.
Com o canto dos olhos, Vader examinou o olhar encapuzado do mestre, mas, através do ninho daquele rosto
vincado, nada se revelou.
Ryloth preencheu a vigia durante a queda da nave. O avistar dos marrons sarapintados de seu relevo, das
manchas verdes e ocres, trouxe memórias de outros tempos, da lama de seu passado longínquo, nomes em que
raramente voltava a pensar. Anakin. Mace. Plo Koon...
A nave auxiliar atingiu a atmosfera com muita intensidade e saltitou, ricocheteando e com o metal rangendo
devido ao esforço. Ele in amou os propulsores por uma fração de segundo, corrigiu o ângulo de abordagem e
reduziu os solavancos a meras vibrações. Chamas da fricção de reentrada atmosférica envolveram a nave. O fogo
os cercava. Fogo.
Mustafar.
Obi-Wan.
Lançou mão de sua raiva onipresente para incinerar as memórias, mas as crostas do passado se xaram na
vanguarda da consciência dele.
Padmé.
Ele raramente se permitia lembrar-se do nome dela.
A raiva escapou do seu controle, e Vader cerrou o punho com tanta violência que o manche acabou rachando.
Ofegou pesado, rápido, ruidoso.
Sentiu o olhar do mestre cravado nele, sempre nele, o peso daquele olhar, as perguntas contidas nele. Sabia
que o mestre conseguia penetrar em sua mente e perpassá-la.
– Está com problemas, meu amigo – disse o mestre, a voz calma enquanto a nave zunia atravessando a
estratosfera de Ryloth.
– Não, mestre – a rmou Vader. Ele se afundou totalmente na Força e usou a concentração para exorcizar o
passado de seus pensamentos.
Concentrou-se no presente, em pousar em segurança uma nave auxiliar quase desprovida de energia. Sua
armadura regulava a respiração e, em vez de ser dominado por sua emoção, ele a aproveitou e imergiu ainda
mais profundamente na Força. Direcionou a energia restante das baterias ao leme atmosférico de emergência e a
utilizou para abrandar o ângulo de abordagem. Percebeu que muitas e muitas naves, centenas delas, deviam estar
caindo do céu, ao redor de todo o planeta.
As manchas de verde, marrom e ocre se tornavam mais nítidas durante a queda. Conseguiu distinguir as
características do terreno à luz do sol poente: des ladeiros, cordilheiras, cânions, leitos uviais secos, tudo isso
passou num risco, a superfície em todos os lugares sulcada e rachada. Adiante, uma imensa oresta se erguia da
terra ressequida. Parecia deslocada, uma lesão na superfície outrora morta de Ryloth, mas ele sabia que o planeta
contava com várias e amplas reservas orestais.
A nave inclinou tragada pelas implacáveis garras da gravidade. O solo crescia como se ela tivesse sido
disparada por uma arma de raios. Vader continuava num ângulo acentuado demais, mas os controles de leme
mal e mal respondiam, mesmo com toda a resistência dele. Baixou os apes de emergência atmosféricos, e eles
ajudaram a suavizar a abordagem. Os marrons e os ocres desapareceram. A oresta preencheu a vigia por inteiro,
abaixo, acima, como se sobrevoassem um oceano de árvores.
– Preparar para o impacto – avisou ele, mas claro que o mestre já a velara o cinto de segurança.
A nave auxiliar podou o topo da linha das árvores, e Vader tentou usar os galhos nos da coroa do dossel
orestal como freio improvisado. Os galhos rasparam o casco, alguns pequenos, outros grandes, e a nave
sacolejou e ricocheteou até deslizar mais fundo no dossel. A vigia frontal mostrava apenas árvores e folhas e
galhos grossos estalando. Metal guinchava, raspava, a nave roçando numa árvore após outra.
Ao bater numa árvore frondosa, a vigia frontal rachou, e a nave adernou à direita, atingindo outra árvore na
queda, e mais outra, bamboleando de cabeça para baixo, até se chocar em mais uma árvore e se virar de anco.
Um galho com o dobro da espessura do braço de Vader se projetou vigia adentro, estilhaçando-a e dividindo o
espaço entre Vader e seu mestre. Logo desapareceu quando a nave continuou a cair no meio das árvores, a
velocidade e a massa da nave ainda abrindo uma faixa através da ora. Colidiram em outra árvore, e mais outra,
até que a nave en m se afundou na macia serapilheira da oresta, enterrando a lateral um metro no chão fofo. A
terra invadiu a nave pelo rombo da vigia e preencheu a cabine até meio metro de altura.
O silêncio repentino soou bizarro, estranha justaposição contra o caos dos momentos anteriores. Vader
afrouxou o aperto no manche. O guincho de um animal da fauna de Ryloth ecoou em algum lugar da oresta. A
luz do sol ltrou-se palidamente através do dossel de oresta, lançando a cabine arruinada na penumbra. Pelos
ltros de sua armadura, Vader sentiu o agradável aroma orgânico do solo que a nave deslocara no pouso, o
cheiro vegetal da oresta. Vader veri cou o instrumental. Tudo estava apagado, sem qualquer tipo de energia.
– O sinal de socorro está inoperável – constatou ele, e em seguida soltou o cinto de segurança e apoiou os pés
na antepara, que agora servia de deque, pois a nave jazia em seu anco. O mestre também se liberou do cinto,
girou ao cair e aterrissou na antepara, ao lado de Vader.
– Essa aterrissagem foi bem abaixo de suas capacidades – comentou o mestre. – Já vi você fazer melhor em
circunstâncias bem mais exigentes. Imagino que sua mente não estivesse concentrada na tarefa.
Por um instante, Vader avaliou como responder. Ao falar, não se deu ao trabalho de mentir.
– Por um momento... quei pensando em outra coisa.
O mestre acenou com a cabeça.
– Foi o que imaginei. E estou feliz por você ter dito a verdade, embora eu ache que foi apenas meia-verdade.
Seja como for, seu lapso deixou quatro cadáveres no setor traseiro.
Vader não perguntou como seu mestre sabia que quatro homens tinham morrido. O mestre simplesmente
sabia das coisas, de muitas coisas, da maioria das coisas, e isso já era explicação su ciente. Claro que seu mestre
não se importava realmente com os mortos. Apenas ligava para a falha de Vader, para a meia-verdade dele.
– Isso não vai se repetir, mestre – falou Vader, com uma reverência.
– Espero que não – ponderou o mestre, talvez se referindo à pilotagem medíocre, talvez se referindo a outra
coisa.
Vader se virou e agarrou a porta que se abria para o setor dos passageiros, pensando em abri-la para dar uma
espiada.
– Você falou que estava pensando em outra coisa – ponderou o mestre, usando o tom que às vezes usava para
montar uma armadilha verbal. – No que era?
Vader tirou a mão da porta e se virou. Fitou o rosto enrugado de seu mestre e dessa vez não ofereceu meias-
verdades.
– O passado. Minha vida pregressa.
O mestre o encarou de volta, os olhos escuros parecendo buracos profundos, e soltou um tênue suspiro.
– Entendo.
– Não signi ca nada para mim – explicou-se Vader, com um aceno da mão enluvada. – Pensamentos dispersos,
nada mais.
– Hum... – murmurou o mestre. – O passado é um espectro que nos assombra. Espectros devem ser banidos.
Remoer o passado é fraqueza, Lorde Vader.
– Sim, mestre – concordou Vader.
Percebendo que o mestre encerrara a lição, Vader deu meia-volta, agarrou a maçaneta da porta e a escancarou.
Teve de se ajoelhar para espiar dentro do habitáculo. Os corpos do piloto e copiloto jaziam não muito longe da
porta, olhos abertos, os membros saindo dos corpos em ângulos improváveis. A aterrissagem tinha fraturado as
articulações.
Os quatro guardas reais jaziam espalhados na cabine de passageiros, dois ainda a velados nos assentos
desalojados.
– Lorde Vader – disse o capitão dos guardas, soltando-se do cinto. – Cadê o imperador? Ele está...?
– Está aqui – informou o imperador logo atrás de Vader, embora esse não tivesse ouvido nem sentido sua
aproximação. – E ileso.
– Levante-se – ordenou Vader, e os dois que estavam presos em seus cintos de segurança se ergueram,
vacilantes. Os outros dois permaneceram no deque. Para a surpresa de Vader, a perna de um deles se contorceu
na armadura. Ele não estava morto.
– Há apenas três mortos aqui – informou ao mestre.
– Verdade? – indagou o imperador.
O líder dos guardas se ajoelhou e veri cou o seu companheiro.
– Está inconsciente, meu imperador. Não se prendeu e foi arremessado durante o pouso.
O guarda ferido gemeu. Abriu e fechou a mão enluvada.
– Mate-o – ordenou o mestre.
O líder da Guarda Real, condicionado a obedecer a qualquer ordem do imperador instantaneamente sem
questionar, não hesitou. Levantou-se, sacou sua poderosa arma de raios e disparou uma vez na cabeça do
companheiro, abrindo-lhe um buraco escuro e fumegante no capacete.
– E agora há quatro – emendou o mestre.
Vader compreendeu. Virou-se para encarar o mestre, o seu respirador alto e constante.
O imperador abanou a cabeça com falso arrependimento.
– Era um idiota. E a idiotice, como a nostalgia, é uma fraqueza. Não suporto fraquezas em pessoas perto de
mim. É uma pena, mesmo. Mas às vezes temos de tomar decisões difíceis. Agora, Lorde Vader, tome a frente para
sairmos daqui.
Vader ativou seu sabre de luz. O sabre chiou, e o mestre tou, inexpressivo, o rosto dele.
Vader dirigiu o sabre de luz através da antepara e o utilizou para abrir uma porta na superestrutura. Saiu em
primeiro lugar, seguido pelos dois guardas reais e, em seguida, pelo mestre.
Folhas secas e galhos caídos cobriam a argila macia do chão da oresta. Árvores com imponentes troncos de
setenta metros obscureciam o céu e as últimas luzes do crepúsculo. De tão gigantescos, os sistemas radiculares
parcialmente expostos formavam emaranhados com nós de madeira da altura de Vader. Lá em cima, o dossel
balançava com as constantes rajadas de ventos de Ryloth, como se toda a oresta estivesse cochichando. Algo
volumoso voou ao alto, remexendo as folhas. Ao longe, no breu, animais da fauna nativa uivavam com o término
do dia.
– Veri quem os kits de sobrevivência – recomendou Vader aos guardas reais. – Vejam o que pode ser
aproveitado.
Eles não obedeceram até que o mestre de Vader con rmasse a ordem com um aceno de cabeça. Depois que se
retiraram, Vader se virou para o mestre e tentou manter o tom respeitoso.
– Está me testando, mestre?
– Testando você? É assim que percebe as coisas?
– Estou errado?
O mestre abriu um sorriso, estendeu o braço e repousou a mão – mão capaz de emitir relâmpagos da Força –
no ombro de Vader, gesto que serviu como sinal de afeto e a rmação de poder.
– Testes são contínuos, amigo. Testes nos fortalecem, e fortalecimento é poder, e o poder é o que importa.
Devemos superar todos os testes que enfrentamos. – Uma pausa e emendou: – Ou morrer tentando.
Vader não decifrou o rosto do mestre nem o signi cado por trás de suas palavras. De qualquer modo, ele
raramente os decifrava.
A central de comunicações fervilhava com o som de ordens, mas por trás delas, ao fundo, havia o
burburinho de ceticismo coletivo. O ar cheirava a suor, a sofrimento.
– O que está acontecendo lá em cima? – indagou um tenente.
– Situação da lançadeira da moff? – perguntou outro.
– Tricaças, agora? Quantos?
Em meio ao tumulto, Belkor andava de estação em estação, absorvendo fatos, dando ordens e fazendo
o seu melhor para passar a impressão de que tentava resgatar as pessoas que na verdade desejava ver
mortas, de que controlava os fatos que há tempos o haviam ultrapassado. Não obtivera con rmação sobre
a destruição da nave da moff, só que ela havia sumido dos escâneres. O mesmo valia para a nave auxiliar
do imperador. Dois sinais esperançosos, mas ele sequer ousava ter esperança.
Notou que ofegava. Sentiu o uniforme muito apertado, a impressão de que as paredes estavam muito
próximas, o teto muito baixo.
– Tudo bem com o senhor?
– O quê? Claro que sim. Prossiga, tenente.
Mas não estava tudo bem com ele. Estaria tudo bem se soubesse que o imperador, Vader e Mors
estavam mortos.
– Cápsulas de fuga estão pousando em todo o hemisfério ocidental do planeta e da lua próxima, senhor
– informou outro tenente. – Estamos recebendo milhares de sinais de socorro. O setor de busca e
salvamento está priorizando as zonas de resgate, mas, senhor, isso é demais. Eles não têm pessoal
su ciente. Vai demorar vários dias.
– Posição da nave auxiliar do imperador ou da lançadeira da moff?
– Nada ainda, senhor.
Belkor assentiu, ao mesmo tempo aliviado e aterrorizado. Se, de algum modo, ele tivesse conseguido, o
próximo desa o seria inventar uma história convincente o bastante para se esquivar da culpa.
Primeiro, entretanto, precisava se certi car de que o imperador, Vader e a moff estavam mortos.
 
Isval ouviu alguém gritando.
– Isval! Eshgo! Ergam-se, um de vocês! Preciso de ajuda!
Era a voz de Faylin. Isval abriu os olhos, grogue. Pestanejou, respirou fundo, sentiu a garganta rouca e...
Ryloth preenchia a tela, enorme e fulgente, e depois sumia, substituído pelo negror, e voltava, e sumia.
Rodopiavam com a proa acima da popa. Isval fechou as pálpebras para conter uma ânsia de vômito. Estava
confusa, mas se deu conta de que logo a nave rodopiante ia se chocar contra a atmosfera. Ela se
despedaçaria e incendiaria até cair no solo.
– Faylin? – indagou, com a garganta arranhada e dolorida. – Eshgo?
Eshgo estava emborcado no assento ao lado dela, o queixo grudado no peito. Em cima dele, meio
desajeitada, Faylin tentava operar os controles da escoltadora.
– Ele está morto, Isval! – exclamou ela. – E Crost e Drim estão inconscientes! Não consigo endireitar a
nave! Já pilotei simuladores, mas...
– Morto? – repetiu Isval, as ideias lentas, o luto borbulhando no lodo.
– Isval! Você pilota melhor do que eu! Precisa pilotar esta nave ou vai se juntar a ele! Lamente mais
tarde! Isval!
O tom de Faylin a ajudou a se concentrar. Ela sentou-se e tentou raciocinar com clareza.
– Primeiro, o giro – disse Isval, pegando o manche na mão. – Me passa o controle.
– Não sei como passar o controle! – gritou Faylin.
– Sabe, sim – retorquiu Isval, encontrando a calma que sempre invocava em plena crise. – Lembre-se de
seu tempo no simulador. O botão azul, perto da mão esquerda. Rápido.
– Certo – disse Faylin, acalmando-se um pouco.
Apertou o botão e Isval acionou os dinamizadores, compensando o giro. A rotação foi desacelerando,
diminuindo, até que parou. Ryloth preencheu a tela. Cairiam no lado em que era dia, em ângulo íngreme
demais. Isval tentou corrigir.
– Posso fazer algo? – quis saber Faylin.
– Segure-se rme – disse Isval. – Agora mesmo.
Atingiram a atmosfera exterior, e a sensação foi a de acertar uma muralha.
A súbita perda de velocidade jogou as duas à frente. Faylin soltou um grito, mas se agarrou no assento
de Eshgo. Baques soaram no setor traseiro, e Isval nem quis pensar no que isso signi cava para Drim e
Crost. Chamas envolveram a nave, pintando a cabine com luz alaranjada.
O metal do casco gemia e estalava. A nave balançava tanto que os dentes de Isval doíam.
– Amainando – disse mais para si do que para Faylin. – Abrandando.
A nave continuava a vibrar, mas era o sacolejo normal de reentrada.
– O que aconteceu com a outra nave? – indagou a Faylin. – Aquela que abordamos?
– O quê?
– A outra nave, Faylin! Viu o que aconteceu com ela?
– Eu... sim, perdeu a energia e rodopiou em direção a Ryloth.
– Ela se incendiou? Viu se queimou na reentrada? Isso é importante, Faylin.
– Não vi, não. Também girávamos e eu mal conseguia... Estava tentando acordar você. Pensei que íamos
colidir.
Isval deixou escapar um xingamento. A áspera vibração da reentrada deu lugar a um voo suave ao
alcançarem a atmosfera normal. Ela endireitou a nave. Ryloth se estendia abaixo delas, sombrio e marrom,
tão ressequido pelo sol quanto uma fruta seca.
A Twi’lek veri cou o escâner, mas o aparelho não revelou nada que ela pudesse usar. Relanceou o olhar
para fora da cabine e imaginou uma chuva de cápsulas e naves caindo rumo à superfície. Possivelmente
uma delas continha Vader e o imperador, mas não tinha como...
– Registros – disse, batendo nas teclas do computador da nave.
– Registros? – quis saber Faylin.
– Veri que Drim e Crost.
Faylin rastejou ao setor traseiro. Pouco depois, deu o veredito:
– Mortos. Só sobramos nós duas.
Isval assentiu com a cabeça, focada na sua tarefa, recusando-se a ser dominada pelo pesar. Faylin
insistiu com a voz trêmula:
– Você me ouviu? Falei que estão mortos.
– Escutei. Volte aqui e sente-se. Preciso de você.
– Isval...
– Sente-se, Faylin! Isso ainda não acabou e não quero que eles tenham morrido em vão. Você quer?
– Não – disse Faylin em tom suave. Delicada, removeu Eshgo do assento, deitou o corpo no deque e
assumiu o seu lugar. – Claro que não.
Isval conferiu os registros de varredura e en m achou o que procurava. Espetou o dedo na tela.
– Ali!
– O quê?
– É a trajetória da nave auxiliar que caiu. Você falou que ela não possuía energia, então só estava
caindo. Teria mantido essa rota, pelo menos aproximada, durante a queda. Isso reduz um pouco as
possibilidades.
Ela mordeu para ativar a comunicação privada com Cham.
 
Kallon pilotava o transporte, perfurando o espaço rumo a Ryloth. Sentado no assento do copiloto,
Cham tentou de nir como se sentia: estranho, fora de si, quase oco. Esgotara a maioria dos recursos
disponíveis para o movimento, mas tinham derrubado um destróier estelar imperial e, talvez, talvez,
assassinado o imperador e Vader. Devia estar exultante, mas, em vez disso, sentia-se entorpecido. Após ser
in ado pela adrenalina durante a última hora, agora estava murchando.
Tentou novamente contatar Isval, mas não recebeu resposta. Sentiu o olhar de Kallon cravado nele e
evitou revelar a preocupação no rosto, mas seus lekkus se contorceram.
O transporte penetrava no lado noturno do planeta, no lado oposto à região em que a Perigo fora
destruída. Mais de dez naves sobrevoavam as proximidades, todas repletas com rebeldes e o máximo de
equipamentos que eles tinham sido capazes de carregar rapidamente e retirar da base lunar. Voavam a
baixa potência e baixa velocidade, a emissão dos propulsores dispersa por difusores, tudo no esforço de
minimizar o per l de sensoriamento.
– As varreduras estão limpas – disse Kallon, observando a leitura. – O Império está ocupado com os
resgates. A porta dos fundos está aberta e não tem ninguém em casa.
– Aterrissamos no planeta e nos reagrupamos – planejou Cham.
Precisava de relatórios sobre as situações. Precisava saber a posição de Isval e se estava tudo bem com
ela.
– Bom plano – comentou Kallon. – E depois?
A pergunta pegou Cham de surpresa. De fato, e depois? Haviam alcançado mais do que ele poderia ter
almejado, e ele estivera tão preocupado arquitetando a destruição da Perigo que nem se dera ao trabalho
de planejar o futuro. Talvez nem acreditasse que iam conseguir. Tinha um movimento para liderar, uma
rebelião, mas a partir de hoje não sabia os rumos por onde enveredar. Precisava dar ao movimento a
próxima meta, algo em que se concentrar. Ele mesmo precisava disso.
– Estou planejando os próximos passos – disse ele a Kallon, apenas para despistar.
Quando o comlink privado de Isval soou, Cham suspirou aliviado.
– Isval, você está bem! Graças a...
– Estou lhe enviando uma última trajetória conhecida – avisou ela, falando no tom sucinto e rápido
que usava quando absorta numa tarefa. – Estabeleça a provável zona de impacto. Vai ser ampla, centenas
de quilômetros quadrados, mas já é um começo. Preciso que você con rme as minhas conclusões.
– O quê? Acalme-se.
– Não há tempo para se acalmar, Cham. A nave auxiliar de Vader e do imperador foi derrubada, mas
não se incendiou. Estão vivos. Tenho certeza disso. E estou lhe passando a última rota conhecida deles.
Cham processou as palavras enquanto os dados relacionados à trajetória chegavam. De imediato,
alimentou os dados no computador da nave e executou uma sub-rotina.
– O que está acontecendo? – indagou Kallon.
Cham não se deu ao trabalho de responder. E também não questionou a a rmação de Isval de que
Vader e o imperador ainda estavam vivos. Con ava nela implicitamente, e ele, como ela, presenciara
Vader fazer coisas inimagináveis, coisas de que ninguém mais teria sido capaz. Cham não conseguia
imaginar que uma mera colisão o mataria. Ele duvidava que sequer tivessem colidido.
E Cham se deu conta de que queria Vader morto. Ele precisava vê-lo morto. Isval tinha razão. Desferir
um golpe contundente contra o Império signi cava cortar a cabeça desse governo.
E então obteve seu próximo objetivo.
– E sobre a outra nave que você alvejou? Quem estava nela? Como sabe que Vader estava a bordo dessa
e não daquela?
– A outra também foi derrubada, mas Vader não estava nela. Eu o enxerguei a bordo dessa, Cham.
A sub-rotina completou os cálculos, corroborando as conclusões de Isval. Cham sobrepôs o resultado a
um mapa com a superfície de Ryloth e o enviou a Isval.
– Cálculos con rmados. Se essa trajetória estiver certa, temos uma zona de busca – constatou Cham. –
Mas o imperador poderia estar na outra nave. Como assim, você enxergou Vader?
– Acredite em mim. Eu enxerguei – a rmou Isval. – Então vamos nos basear no que sabemos. Vader
estava naquela nave. Difícil imaginar que o imperador não estivesse com ele. Hum... Aquela área é
densamente coberta por orestas.
Sem dúvida, Isval observava o mesmo mapa que Cham.
– Área difícil para fazer buscas – constatou ela.
Cham teve o mesmo pensamento.
– Vai demorar muito para encontrar algo naquela região. E, se eles sobreviveram à colisão, já devem ter
estabelecido contato. O resgate provavelmente está a caminho. Vai ser difícil chegar primeiro a eles.
A resposta dela foi imediata.
– Estavam apagados, Cham, sem energia. Faylin viu. Vai levar um tempo para que estabeleçam uma
rede de comunicações portátil com alcance su ciente para entrar em contato com as equipes de busca e
salvamento. E deve haver chamados e pedidos de todos os lugares sobre a superfície. O sinal vai se perder
no tumulto. Temos algum tempo.
– Não muito. Menos de uma hora, talvez. – Cham teve uma ideia. – A menos que...
– Fala. A menos que o quê?
Cham já delineava os detalhes na cabeça dele.
– Kallon pode hackear os satélites imperiais quando quiser. Ele é capaz disso há anos. Só guardamos
essa carta na manga porque ela é inútil sozinha. A menos que tomássemos aquela estação de
retransmissões equatorial. Podemos fazer isso, então hackear os satélites para enviar um sinal de
interferência...
– A comunicação será reduzida à linha de visada – disse Isval, e Cham a imaginou batendo com o
punho cerrado sobre a instrumentação. – É isso aí, Cham. Eles vão car isolados. E vamos ganhar tempo
para caçar.
Cham se preparou para a tarefa.
– Vamos precisar de Belkor. Ele vai perguntar sobre a segunda nave. Preciso da última trajetória dela,
também. Caiu sem energia?
– Sim, e sem o suporte à vida – informou Isval. – Aí vão os dados.
Tão logo chegaram, Cham falou:
– Espere aí que eu ligo de volta.
– Entendido. – Ela hesitou um pouco e disse: – Cham, agora somos só Faylin e eu. Os demais... se
foram.
Os lekkus de Cham murcharam. Sentiu um nó na garganta, mas engoliu em seco. Tinham sido bons
soldados – amigos, até. Hoje ele perdera muitos bons colaboradores. O peso da perda fez sua cabeça doer.
– Entendido. Sinto muito, Isval. Fiquem a postos.
Antes de falar com Belkor, Cham destinou quatro das naves que voavam com eles para vasculhar a zona
que Isval indicara à procura de uma nave auxiliar imperial abatida. Elas aceleraram e contornaram o
planeta a toda velocidade.
Logo após, Cham saudou Belkor pelo comlink criptografado.
 
Belkor sentiu o comlink criptografado vibrar junto ao peito, um inseto irritante que não parava de
importuná-lo. Tentou ignorá-lo, mas a saudação azucrinante continuava. Ele se retirou da central de
comunicações e entrou num gabinete adjacente.
– Aqui é Belkor – atendeu com rmeza.
– Ouça com atenção e não me interrompa – disse a voz de Cham. – As duas naves foram abatidas, mas
não posso con rmar se qualquer uma delas foi completamente destruída. Tenho uma trajetória da nave
de Vader...
– E quanto à outra?
– Avisei para não me interromper, Belkor.
Com raiva, a mandíbula de Belkor se fechou tanto que ele se perguntou se seria capaz de abri-la
novamente. Cham prosseguiu:
– Vai contar ao núcleo de retransmissões equatorial que uma escoltadora imperial se aproxima com
feridos VIPs da Perigo. Eles devem baixar os escudos e acolher esta nave. Entende?
Belkor nem sequer se deu ao trabalho de perguntar como Cham sabia sobre instalações secretas, ocultas
no verdor equatorial do planeta. Cada vez que Belkor falava com Cham, o Twi’lek dizia coisas que faziam
a cabeça dele nadar. Em cada ocasião, ele parecia estar sempre um ou dois passos à frente do pensamento
de Belkor.
– Não posso fazer isso.
– Pode e deve. Os relés de satélite daquela estação precisam ser destruídos.
– Com que nalidade? Não vou fazer nada...
– Depois vamos hackear os satélites de comunicações e fazê-los enviar um sinal de interferência.
As implicações sedimentaram-se em Belkor.
– Você vai perturbar a rede inteira, romper as comunicações em todo o planeta.
– Sei disso. A comunicação será apenas em linha de visada. E é isso que eu preciso. Achamos que Vader
e o imperador estão vivos, mas encalhados.
O coração de Belkor pulsava como um malho nas costelas.
– Não recebemos um pedido de socorro – sussurrou. – Por que acha que estão vivos? Se a nave deles
caiu...
– Já vimos do que Vader é capaz, Belkor, e uma colisão não vai matá-lo. Vamos ter que en ar uma arma
de raios na viseira do capacete e acionar o gatilho para ter certeza. Basta desativarmos as comunicações e
deixá-los isolados. Isso vai nos dar tempo, e vamos usar esse tempo para caçá-los.
Belkor percebeu muito bem o uso do verbo no plural, e ele supôs que já era garantido. Belkor era um
traidor, do mesmo quilate de Cham. Considerando tudo o que já zera, poderia tranquilamente ter sido
um membro do movimento de Cham, o Ryloth Livre. Seria tratado da mesma forma se fosse apanhado.
Percebeu que andava para cá e para lá, e sua agitação atraía os olhares através das paredes de vidro
transparente do gabinete. Respirou fundo para se equilibrar, parou de andar e deu as costas para o vidro.
– Como sabe onde eles estão?
– Não sei ao certo – admitiu Cham. – Tenho uma zona de busca. Mas é grande. É por isso que preciso
de tempo extra.
Os pensamentos de Belkor se voltaram para Mors.
– A segunda nave. Falou que foi abatida. Como sabe?
– Meu pessoal a avistou. Isso é tudo que posso dizer com certeza.
O suor escorreu em letes pelos ancos de Belkor.
– Bem, eu preciso saber mais, Syndulla. – Baixou a voz para um sussurro ainda menor. – A moff estava
nele. Preciso que ela não saia da nave. Entende?
– Sim – anuiu Cham. – Tudo indica que ela esteja morta, Belkor. A nave dela estava apagada; o suporte
à vida, desligado. Só falta matar Vader e o imperador, e essa confusão chega ao m. E você é o novo moff.
– Preciso saber – insistiu Belkor. – Preciso da trajetória da nave da moff. Envie-a para mim.
– Não posso desperdiçar quaisquer recursos para vasculhar outra zona de pouso.
– Eu mesmo vou veri car! – esbravejou Belkor. – Basta me enviar os malditos dados.
– Certo. Sem problemas – concordou Cham, no tom que usava ao se dirigir a uma criança exasperada.
Belkor se enfureceu. – Aí vai.
O comlink de Belkor iluminou-se ao receber os dados.
– Recebido – con rmou ele.
– Então faça o que pedi, e faça agora – emendou Cham.
Belkor alisou o cabelo e reuniu o que sobrava de sua compostura.
– Vou alertar a base.
– Boa caçada, Belkor – desejou Cham.
Belkor não foi capaz de desejar o mesmo a Cham.
 
Kallon os conduziu pela reentrada e mergulhou no céu noturno de Ryloth. A partir daí, atravessou
rápido os ventos fustigantes até en m direcionar a nave rumo à boca escancarada da caverna, acesso de
uma antiga mina de especiarias, as tortuosas jazidas mineradas até o m, isso dez anos (ou mais) antes
das Guerras Clônicas. As naves que os acompanhavam caram para trás. Kallon ativou as luzes externas de
sua nave e voou pelo labirinto da mina. Sabia o caminho de cor.
Olhando pelo vidro da cabine os paredões rugosos, minerados pelas máquinas, Cham imaginou quanto
tempo levaria até serem obrigados a abandonar essa base, também. Ele estava cando sem esconderijos e
recursos, consumindo-os todos num só dia. Só valeria a pena se realmente matassem Vader e o imperador.
Entrou em contato com Isval antes que a distância subterrânea tornasse as comunicações precárias.
– Por onde anda? – indagou ela.
– Em segurança, na base oriental – contou ele. – Descendo. Kallon está pronto.
Ao lado dele, Kallon assentiu com a cabeça.
– Prontíssimo.
– Tem algo para mim? – indagou Isval a Cham.
Como de costume, o tom dela era pragmático. Cham sorriu.
– Belkor está informando ao núcleo de retransmissões equatorial sua aproximação. Você está
transportando feridos VIPs da Perigo. Conseguiram escapar pouco antes de o destróier estelar ir pelos ares.
– Malditos rebeldes – disse ela.
Ele sorriu.
– Sem dúvida. Parece que o dia deles está rendendo.
O tom de Isval voltou a car sério.
– Con a em Belkor para fazer isso?
Cham balançou a cabeça.
– Não con o nem um pouco nele, mas isso não tem a ver com con ança. Ele vai fazer porque precisa
fazer. Já foi muito longe para recuar. Vai reclamar, mas vai fazer tudo o que precisamos.
– Está certo – concordou ela. – Então, mãos à obra.
– Vamos reabastecer e depois voltar à área de busca. Kallon vai hackear os satélites assim que você
desativar a estação.
– Simples como apertar um botão – con rmou Kallon.
– Como ele vai saber quando estiver desativada? Se você estiver no subsolo, não consigo avisá-lo.
– Como vai saber quando estiver desativada? – indagou Cham a Kallon.
– Eu vou saber.
– Ele vai saber – Cham disse a Isval.
– Entendido – respondeu Isval. – Encontro vocês na zona de busca, então.
– Aproximem-se devagar, Isval. Supostamente, sua nave está dani cada.
– Certo – disse ela.
– Boa sorte – desejou Cham. – A gente se vê em breve.
Ele a enviou um conjunto de coordenadas dentro da área de busca onde supunham que Vader e o
imperador tinham caído. Eles se encontrariam lá.
– Recebido – disse a Twi’lek. – Boa sorte para você, também.
– Rotas de fuga, Isval. Sempre pense numa. Depois pense em outra.
– Sempre – ela respondeu, conseguindo não soar irônica.
A profundidade no subsolo logo cortou as comunicações.
Cham achou melhor não avisar Isval de que ele já tinha desviado algumas naves rebeldes que
retornavam à base lunar e as enviara à zona do mapa, para iniciar a busca pela nave auxiliar de Vader e do
imperador. Com sorte, elas encontrariam suas presas antes de Cham e Isval chegarem.
– Depressa – disse a Kallon. – Quero voltar para lá.
O comunicador de Isval soou numa frequência aberta, usando o sinal de chamada dela. Faylin e a Twi’lek se
entreolharam, surpresas. Não deveriam estar recebendo contatos. Mesmo assim, ela abriu o canal.
– Fala – disse Isval.
– Aqui é Nordon. Encontramos algo na área de busca. Parece a nave em que Vader deveria estar...
– Nordon! Peraí, o que você está fazendo na área de busca? Cham autorizou isso? E o que está fazendo nesta
frequência?
O tom dela foi mais categórico do que o pretendido, mas por um motivo apenas: Isval não queria que mais
ninguém encontrasse Vader. Ela queria encontrá-lo, por Pok, por Eshgo, encontrá-lo e ver-se re etida nas lentes
do capacete dele ao apertar o gatilho e trespassar-lhe o peito com um disparo de arma de raios.
– A comunicação está criptografada, Isval. Somos os primeiros a chegar aqui, e, sim, Cham está sabendo. Ele
nos desviou na retirada de estação lunar. Mais duas equipes estão a caminho.
– Três quando chegarmos – corrigiu ela.
– Certo. Seja como for, encontramos o que parece uma nave caída na oresta nas seguintes coordenadas.
As coordenadas apareceram no computador de bordo de Isval. Extremo norte da área de busca.
– Envie as coordenadas para as outras equipes a caminho – mencionou ela.
– É a nave auxiliar do imperador? – quis saber Faylin, sem esconder a ansiedade na voz.
– Con rmaram a identidade da nave? – indagou Isval a Nordon, e, na expectativa da resposta, prendeu a
respiração.
– A oresta é muito densa, mas parece uma nave imperial. Podemos pousar e dar uma olhada.
Isval já estava balançando a cabeça.
– Negativo, negativo. Não aterrissem, Nordon. Se for Vader... não aterrissem. Entendido?
– Entendido. O que fazemos, então?
Isval avaliou as opções.
– Já informou Cham?
– Não consigo contato com ele.
Ainda na base subterrânea, então. Ela sabia o que Cham aconselharia: fazer o reconhecimento e aguardar
reforços.
– Visualize-a da melhor maneira possível, Nordon. Se con rmar que é a nave auxiliar do imperador, ou se
obtiver contato visual com Vader ou o imperador, elimine-os.
– Entendido. O que vocês andam fazendo?
– Mandando as coisas pelos ares – respondeu ela.
– Como sempre – disse Nordon. – Até mais, então.
– Aqui vamos nós – Isval falou a Faylin.
 
O gerador ganhou vida, cantarolante, e o prato da matriz de comunicações portátil começou a girar,
procurando sinal.
– Daqui a pouco, vamos obter uma conexão, Lorde Vader – anunciou o capitão da Guarda Real.
– Use a frequência pessoal do imperador. Providencie imediata...
Vader as pressentiu antes de avistá-las. Relanceou um olhar mordaz ao mestre, percebeu que ele olhava para o
céu, para duas luzes que se aproximavam rápido em altitude decrescente – naves, Vader sabia. Talvez tivessem
avistado o fogo.
– Naves chegando, meus senhores – avisou um dos guardas reais. Ele portava ampliadores de campo nas lentes
do capacete. – Não imperiais. Parecem duas fragatas twi’leks... Lanço um sinalizador, meus senhores?
– Acho que não vai ser necessário – retorquiu o imperador com um sorriso in exível.
As naves percorreram a distância com rapidez, as silhuetas desajeitadas, em formato de disco, tornando-se
nítidas à medida que se aproximavam.
Vader ativou o sabre de luz e pulou à frente de seu mestre.
 
Isval tentou esquecer a descoberta de Nordon e pilotar a escoltadora em ritmo lento rumo à linha equatorial
de Ryloth. Lá embaixo, a superfície do planeta parecia um oceano rochoso e desigual de retalhos marrons, beges
e pretos. Leitos de rios secos sulcavam o terreno. Capões de mato pontilhavam a paisagem aqui e ali. Ao longe,
uma das cordilheiras equatoriais erguia-se majestosamente ao céu, iluminada pelos raios vermelhos e
alaranjados do sol poente. Era raro Isval se permitir tempo para apreciar as belezas da vida, mas passou um
instante fazendo exatamente isso.
– Nada mal, hein? – indagou Faylin. – Nem sou Twi’lek e, às vezes, perco o fôlego ao ver.
– De longe, tudo parece lindo – comentou Isval. – Mas de perto a realidade é grosseira.
– Certo – disse Faylin afastando o olhar das montanhas. Inclinou-se e conferiu a holotela.
– Ainda não vejo a base.
– Estamos a trezentos quilômetros de distância – explicou Isval, observando a leitura do escâner. – Nenhuma
nave nas redondezas.
– Estão todos em resgate ou patrulha – opinou Faylin.
– Vamos acabar com isso e começar a caçada.
Faylin concordou.
– Entendido.
Ao alcançarem a distância costumeira para comunicações no protocolo imperial, Isval saudou a base:
– Base equatorial alfa, aqui é a escoltadora imperial 29, está me ouvindo?
A resposta foi imediata.
– Escoltadora, escutamos você em alto e bom som.
– Trago feridos VIPs da Perigo que precisam de ajuda médica imediata. Consigam uma equipe médica de
prontidão e me forneçam o número de uma plataforma de aterrissagem.
Isval analisou o escâner, esperando o desligamento dos escudos de etores da estação. Inquieta, Faylin sentou-
se no assento ao lado dela.
– Vamos lá – murmurou Faylin. – Mostre a barriguinha que vamos lhe fazer um afago.
Mas os escudos permaneceram ligados, e um estalo soou pelo comunicador.
– Aqui é o major Steen Borkas. Fomos informados que vocês estavam a caminho. Peço desculpas por isso, mas
encaminhe as suas credenciais, escoltadora 29. E quem são essas pessoas importantes? Servi na Perigo uma época.
Sou amigo de muitos tripulantes.
Isval trocou um rápido olhar com Faylin e mordeu o comlink que a conectava com Cham.
– Querem credenciais, Cham. E nomes dos feridos. Parece que o comandante da base já serviu na Perigo.
Nada. Cham continuava no subterrâneo.
– O nome do capitão era Luitt – lembrou-se Faylin. – Podíamos usar o nome dele.
– Como sabe disso? – quis saber Isval.
Faylin deu de ombros.
– Captei numa conversa. O que vai dizer a eles?
Isval começou a tecer mentiras na própria mente.
Faylin se inclinou à frente e apontou.
– Lá está.
Adiante, elas avistaram as vastas instalações, com múltiplos prédios de concreto, o gerador de escudo e a série
de grandes antenas parabólicas que formavam o núcleo de retransmissões imperiais em Ryloth. O crepúsculo
pintava a paisagem de laranja. Isval pensou ter avistado dois pequenos transportes nas plataformas de pouso, mas
nenhum caça.
– Isval? – indagou Faylin.
A Twi’lek ativou o comunicador.
– Temos a bordo alguns tripulantes da ponte de comando.
– Tripulantes da ponte? – indagou Borkas. – Ouvi falar que Luitt escapou são e salvo. Quem vocês têm? O
o cial imediato?
Isval silenciosamente se congratulou por não ter usado o nome de Luitt e então começou a entretecer as
mentiras:
– Senhor, na verdade, não sei a rmar. Sou apenas a piloto da escoltadora. Os o ciais que estou levando estão
em condições críticas, e minha nave também. Foi um caos lá em cima e escapamos por muito pouco. Nem tenho
como fazer o download de minhas credenciais. O computador está desordenado.
Ao lado dela, Faylin gritou, como se estivesse ferida e com dores.
– Senhor – disse Isval ngindo desespero –, precisamos de ajuda.
– Escoltadora 29, está liberada para pousar na plataforma nove – avisou o major Borkas. – A equipe médica
está a caminho.
Isval desconectou.
– Só vamos atacar quando chegarmos mais perto – ela combinou com Faylin.
Isval não conteve um sorriso quando o escâner mostrou que os escudos tinham sido desligados. À medida que
se aproximavam da base, elas conseguiram notar mais detalhes: um grupo de tropas e uma equipe médica com
seus droides se apressavam rumo à plataforma de pouso número nove; o deque de observação e controle estava
iluminado por dentro, o que lhes permitia avistar o ciais e soldados em pé, perto dos janelões, assistindo à sua
abordagem.
– Vejo quatro pratos – constatou Faylin. – Podemos eliminar todos eles num só rasante.
– Os pratos são a prioridade e vou tomar conta deles. Seu trabalho é matar todos os imperiais que puder.
Faylin a tou, talvez surpresa por sua sede de sangue, e assentiu com a cabeça.
Elas se aproximaram, a propulsão da escoltadora devorando os quilômetros. A base foi crescendo de tamanho,
e Isval começou a escolher a ordem de seus alvos e a manobrar suavemente a escoltadora para uma trajetória de
ataque. Precisariam acertar todos os pratos na primeira arremetida. Isval não pensava que a escoltadora tivesse
poder de fogo para destruir um gerador de escudo resistente, assim, elas tinham de eliminar os pratos antes que
Borkas percebesse o que estava acontecendo e reativasse os escudos.
Um estalo soou no comunicador.
– Aquela era a plataforma de pouso nove – avisou Borkas. – Nove, escoltadora 29.
– Entendido – disse Isval, mas sem mudar de rumo. Em vez disso, aplicou aceleração máxima. Ativou o
computador de pontaria, sabendo que os imperiais perceberiam a manobra, e alçou mira.
– Fogo à vontade – disse a Faylin.
Manteve uma contagem mental na cabeça, calculando que tinham, no máximo, trinta segundos.
Faylin passou os canhões laterais para o manual e começou a disparar. Raios de plasma se chocaram contra a
base, espalhando a equipe médica e deixando alguns cadáveres na plataforma. Isval disparou contra o alvo na
mira, e um dos pratos foi pelos ares numa nuvem de fogo e fumaça.
Três segundos.
Ela não se deu ao trabalho de alçar mira no segundo prato; não havia tempo. Trocou a arma para manual e
disparou, conectando o espaço entre a nave e o prato com linhas de plasma. O segundo prato explodiu, a base
cou em chamas, e a parabólica tombou sobre um prédio vizinho, causando uma explosão secundária que
esfumaçou toda a área.
Cinco segundos.
Isval não enxergava nada, mas manteve os olhos no equipamento enquanto desacelerava e dava uma forte
guinada a bombordo. Restavam vinte segundos. O computador de pontaria alçou mira no terceiro prato e ela
disparou. A parabólica desapareceu numa coluna de fogo e fumaça, e uma chuva de detritos caiu no casco da
escoltadora. Ela realizou uma volta fechada para atacar a última, com Faylin disparando cegamente na bruma.
Elas saíram da fumaça e viram o quarto prato adiante. Uma explosão de fogo se chocou contra a lateral da
nave, acionando os alarmes e balançando-as a estibordo.
– Posições defensivas – disse Isval, faltando dez segundos. – Evadindo. Mire no prato, Faylin.
Da esquerda e da direita, linhas verdes dividiram o céu. Outra rajada antiaérea as atingiu, mas os modestos
escudos e o casco da escoltadora suportaram o ataque.
– Não consigo acertar nada com a nave oscilando desse jeito! – exclamou Faylin. – Estabilize!
Isval pilotava o mais devagar possível, de modo a não ultrapassar o alvo, mas a falta de velocidade lhes custava
caro. Guinava à esquerda e à direita, para cima e para baixo, mas a escoltadora não era um caça e não conseguia
se esquivar muito bem da defesa antiaérea.
A fumaça começou a encher a cabine. Alarmes soavam, anunciando falhas nos sistemas.
– Pegue o manche – ordenou Isval.
– Vamos ser atingidas! – exclamou Faylin. – Não chego nem perto de pilotar tão bem quanto você!
– Faça o seu melhor – disse Isval calmamente. Ela precisava eliminar o prato. – Pegue o manche. Eu pego os
canhões... agora.
Faylin deixou escapar um uxo de palavrões e assumiu o controle. É bom que se diga: ela as manteve em
movimento, sacolejando a nave meio ao acaso, não era algo que um piloto experiente faria, mas e caz o
su ciente para impedi-las de serem vaporizadas.
O comunicador tocou na frequência do movimento Ryloth Livre. Sem dúvida, Nordon trazendo uma
atualização. Isval não tinha tempo para responder. Muito menos Faylin, com as mãos lacradas no manche. Após
destruírem o último prato, só seriam capazes de responder se estivessem na linha de visão.
A fumaça bloqueava o computador de pontaria, então Isval colocou no manual e alçou mira no último prato.
Faylin gingava a nave à esquerda e à direita. Fogo antiaéreo da base cruzou bem à frente da proa.
– Dispare, Isval! – gritou Faylin.
A nave se aproximou do alvo. Isval manteve a calma e, em seguida, pressionou o botão de disparo. Plasma se
chocou contra o prato, estilhaçando-o numa chuva de fragmentos metálicos e uma esfera de chamas em
expansão.
– Tire-nos daqui – suspirou Isval e, com um puxão, Faylin acelerou ao máximo.
Quase de imediato, saíram do alcance dos raios antiaéreos. O céu preencheu a vigia enquanto elas subiam
rumo à atmosfera exterior.
– Ninguém em nosso encalço – disse Isval, veri cando o escâner.
Faylin soltou uma praga, baixinho, balançando a cabeça.
Isval veri cou o comunicador, esperando que Kallon tivesse terminado a hackeagem. Tentou o comunicador
privado só para se certi car.
– Cham, está me ouvindo?
Nada. Tentou abrir o canal na frequência de Nordon.
– Nordon, está na escuta?
Outra vez, nada, apenas ar morto e rajadas de estática.
Faylin disse:
– Parece que funcionou. Estão inutilizáveis. Comunicações limitadas no planeta. Kallon é o cara.
– É, mas não vamos baixar a guarda – disse Isval. – Ainda resta a parte mais difícil.
Em seguida, inseriu no computador da nave as coordenadas do local onde deveriam encontrar Cham. Do
ponto de encontro, juntos partiriam rumo às coordenadas que ela recebera de Nordon. Em breve começaria a
caçada a Vader.
 
As fragatas completaram um sobrevoo lento, então deram meia-volta e se dirigiram ao local do acampamento.
Na manobra, aceleraram e desceram num ângulo plano.
– Acho que talvez já viram o que gostariam de ver – observou o imperador.
Com os narizes para baixo, as fragatas começaram a disparar os canhões de raios montados na parte superior e
inferior das naves. Longas linhas vermelhas saíram da nave em pulsos superaquecidos. Árvores a cem metros de
Vader e do imperador explodiram em lascas sob o ataque, e os feixes de plasma cortaram a clareira numa rápida
trilha até eles, desenhando no terreno uma colcha de retalhos de buracos fumegantes, cada vez mais perto de
Darth Vader.
Imerso na Força, Vader se rmou e se preparou para o impacto. Em seguida, numa explosão de movimento, o
sabre de luz cantarolou enquanto ele o rodopiava rápido à esquerda e à direita, desviando os poderosos disparos
de arma de raios no coração da oresta, estilhaçando ainda mais árvores, destruindo as barracas, mas poupando
a matriz de comunicações. A energia cinética dos disparos o arremessou para trás, e os coturnos dele abriram
sulcos no solo macio.
Os guardas reais, momentaneamente apanhados de surpresa, recuperaram-se o su ciente para apoiar os fuzis
de raios nos ombros. Dispararam contra as fragatas quando as grandes naves deram novo rasante sobre eles, mas
as armas pessoais não causaram danos às naves blindadas com escudos de etores.
– É melhor nos abrigarmos nas árvores, meus senhores! – exclamou o capitão.
– Acho que não – ponderou o imperador suavemente, observando as naves contornarem.
– Dessa vez, elas vão passar mais perto – a rmou Vader.
– Acho que você tem razão – concordou o imperador.
Ele retirou o manto, empunhou o cabo delicadamente trabalhado de seu sabre de luz e in amou a lâmina.
Vader o tou com surpresa. Raras vezes ele via o mestre demonstrar seu poder tão publicamente. E entendeu o
signi cado daquilo, é claro. Não deveria haver nenhum sobrevivente capaz de testemunhar. Só os guardas reais
teriam permissão de viver – só eles seriam con áveis para nunca revelar o que haviam visto, ou para falar do
assunto entre si.
As fragatas completaram a meia-volta e aceleraram rumo à clareira, os propulsores zunindo no ar outrora
silencioso. Os guardas reais se posicionaram diante do imperador, parcialmente o protegendo com os próprios
corpos, e dispararam com o máximo de repetição contra as naves que se aproximavam. Atingiram-nas várias
vezes, mas os minúsculos raios não causavam dano algum.
Vader mergulhou na Força com mais profundidade. Ao lado dele, sentiu o poder de seu mestre aumentar.
Deliciou-se com o momento, na fonte combinada de poder coletivo e imaculado.
As fragatas abriram fogo, traçando espessas linhas de plasma no ar. Os raios lavraram o solo, destruíram árvores
e aqueceram o ar da clareira.
Absorto na Força, Vader antecipou os disparos, viu os ângulos adequados de impacto e de exão e usou o giro
rápido do sabre de luz para ricochetear um primeiro, em seguida, um segundo e então um terceiro raio não
rumo à linha das árvores, mas de volta às naves, o calor e a energia dos raios arremessando-o para trás,
esquentando a empunhadura do sabre, calor que ele sentiu mesmo através da luva. O mestre fez o mesmo com o
próprio sabre de luz, os graciosos arcos de sua lâmina vermelha tecendo um escudo protetor a seu redor e
ricocheteando os disparos da segunda nave contra ela. As duas naves tentaram desviar da trajetória dos disparos
redirecionados, uma guinando à esquerda, a outra à direita, mas só expuseram a fuselagem inferior e os
propulsores aos raios de etidos.
Os propulsores explodiram em chamas e cuspiram fumaça. O mestre ergueu as mãos, transformando uma
delas numa garra que emitia raios pontudos de Força que, por um átimo, o conectaram à nave. Vader imaginou
o interior dela iluminado com os raios do poder de seu mestre, os pilotos gritando e contorcendo-se de dor
enquanto o lado sombrio tostava-lhes as carnes. O imperador apertou a outra mão e, com a Força, assumiu o
controle mental da nave. O Sith também levantou a mão e a estendeu com a Força na direção da outra nave.
Vader se enredou na Força, em sua fervilhante e onipresente ira, e a usou para controlar a fragata, dirigindo a
nave inteira rumo ao chão. Soltou um gemido de esforço, e o respirador aumentou a taxa de respiração para dar
conta do empenho.
A nave, com os motores dani cados e incapazes de vencer a poderosa tração de Vader, que a puxava para
baixo, inclinou o nariz e se estatelou no chão. Ele imaginou os gritos dos pilotos ao assistirem à oresta correr
em direção a eles. A nave sumiu atrás da linha das árvores e explodiu numa bola de fogo, que se ergueu acima do
dossel da oresta e fez o chão tremer. Uma nuvem de fumaça preta sombreou o céu. Um segundo estrondo soou
atrás dele, após o seu mestre conduzir a segunda nave ao solo da mesma forma. A oresta mergulhou no silêncio
por um momento na esteira das explosões. Apenas a respiração de Vader perturbou a quietude até que os uivos,
os gorjeios e os berros da fauna de Ryloth retornassem. Vader, o mestre e os dois guardas reais permaneciam
ilesos em meio ao terreno esburacado com as crateras fumegantes das rajadas de raios. Os guardas reais tavam
Vader e seu mestre, e Vader imaginou os olhares de admiração que eles deviam ostentar sob os capacetes. Sabiam
que o imperador possuía poder, embora Darth Vader duvidasse que já o tivessem presenciado de modo tão
explícito.
– Você – disse Vader ao mais próximo.
– Sargento Deez, meu senhor – respondeu o guarda com uma reverência.
– Veri que os destroços das naves, sargento Deez. Se houver sobreviventes, traga-os para mim.
– Sim, Lorde Vader – anuiu Deez. Pendurou o fuzil de raios e penetrou na oresta correndo.
Para o capitão, Vader disse:
– Ligue a matriz de comunicações. Entre em contato com nosso exército.
O mestre repousou a mão no ombro da armadura de Vader, o toque transmitindo um poder palpável.
– Parece que os traidores nos encontraram – constatou o imperador. – Você tinha razão, Lorde Vader. Estamos
sendo caçados.
– Repito, acho que deveríamos sair deste lugar – opinou Vader.
– Concordo, meu amigo.
O capitão dos guardas reais, tentando ativar a matriz de comunicações, chamou:
– Meus senhores, eu não consigo sinal. Não faz sentido. A rede planetária teria que se encontrar desligada
para o ar estar morto desse jeito.
Vader caminhou em direção à matriz, escutou os estalos intermitentes de estática e logo compreendeu as
implicações.
– A rede foi sabotada – prenunciou ele. Virou-se para o mestre. – Mais deles estão vindo.
O mestre deu uma risadinha.
– Parece, então, que a caçada está apenas começando.
Pouco depois, o sargento Deez voltou relatando não haver sobreviventes. Vader já esperava isso. Mas também
esperava novas oportunidades de, em breve, pegar um dos rebeldes vivos.
 
O bipe de um alarme monótono e repetitivo en ou pregos nas têmporas de Mors. Ela abriu os olhos e piscou
na iluminação antisséptica da cabine de passageiros da lançadeira. Fumaça e o fedor acre ionizado de curtos-
circuitos preenchiam o ar da cabine. Deitada de costas no deque metálico, ela mirava uma luz recôndita, que
entrava e saía de foco. Seus pensamentos confusos começaram a se concatenar, a se organizar de modo a
compreender os seus arredores.
A nave dela havia sido alvejada – ou melhor, atingida – e perdido o suporte à vida. A cabine fora tomada pela
fumaça e...
Que alarme maldito era aquele? Como ela não estava morta? E onde estava Breehld?
– Breehld? – indagou ela, e chamar o nome em voz alta fez sua cabeça latejar.
Avaliou que a sensação era o efeito colateral da hipóxia parcial; avaliou, também, que a sua capacidade de
entender o que acontecera signi cava que ela estava se recuperando. Apalpou o próprio corpo, pensou que não
havia fraturas, então usou o braço para se erguer no deque. Sua idosa e obesa silhueta doía, mas ela conseguiu se
sentar com o torso ereto. Pestanejou para espantar uma onda de vertigem.
O crepúsculo penetrava por uma das vigias. Mors se levantou, estremecendo com a dor causada pelo esforço,
aproximou-se da vigia e relanceou o terreno rochoso e ocre de Ryloth. Rochedos de vários tamanhos levantavam-
se do chão rachado, e o vento onipresente fustigava nuvens de solo seco no ar.
Em que parte do planeta ela se encontrava? Não conhecia o terreno o su ciente nem para dar um palpite.
A moff ativou seu comlink.
– Breehld?
Sem resposta.
Quem os atacara, derrubando-os? Breehld disse que era uma escoltadora imperial. Mas por que escolhera
como alvo a lançadeira de Mors? Ela começou a mudar sua frequência de comunicação para avisar Belkor, mas
hesitou.
Belkor solicitara ao piloto dela que contornasse o planeta para ajudar a resgatar alguém.
Não alguém. VIPs. Darth Vader e o imperador.
Ela soltou um xingamento, uma onda de ansiedade espantando um pouco da turbidez mental.
O que havia acontecido com eles? Será que teriam sobrevivido à destruição da Perigo? Ela nem imaginava o
que estava acontecendo. O piloto automático deveria ter sido ativado de alguma forma durante a queda da
lançadeira, mas ela sequer sabia por quanto tempo estivera inconsciente.
Mais uma vez, fez menção de ativar o comlink para entrar em contato com Belkor – um hábito. Sempre
chamava Belkor quando tinha um problema, qualquer problema. Porém, de novo, hesitou.
De onde vinha aquele maldito sinal sonoro?
Correu o olhar em volta e, por m, rastreou a origem do som: um terminal de computador com o reset
emperrado. Ela o desligou, e o bipe, felizmente, cessou. Ficou ali por um instante, tando o seu re exo na tela
escura do computador; sangue escorria por um ferimento na testa e havia um hematoma no olho esquerdo.
Receava ter deslocado um ombro, mas, após testá-lo, percebeu que só devia ter sofrido uma contusão na descida.
Provavelmente se chocara contra alguma coisa durante a queda. Outra vez, tentou concatenar os eventos.
Assim que alcançara o campo de detritos da Perigo, a nave dela havia sido atacada. De todas as naves que
circulavam, justo a dela fora alvejada – e por nada mais nada menos que uma escoltadora imperial. Claro que a
escoltadora tinha sido sequestrada por traidores, mas...
Será que Belkor estaria envolvido?
Ela considerou improvável, mas, pensando bem... era mesmo?
O movimento Ryloth Livre conseguira, durante anos, car à frente de Belkor. Ou não?
No momento em que Darth Vader e o imperador apareceram no sistema de Ryloth, visita que não era do
conhecimento público, eles foram atacados por grupos paramilitares associados ao movimento, grupos que
estavam a postos, considerando a so sticação e a escala do ataque.
E, em seguida, a própria Mors fora desviada para operações de salvamento – com o objetivo de impedi-la de
assumir o comando planetário de Belkor? –, quando foi atacada.
Relembrou fatos ocorridos há meses, até mesmo anos, recordando os sucessos do movimento Ryloth Livre.
Belkor sempre vinha com uma explicação aceitável. Mas agora Mors pensava no tipo de operação elaborada
necessária para derrubar o destróier estelar imperial, e começou a ter certeza. Só havia uma explicação plausível.
O movimento teve ajuda imperial – ajuda imperial do alto escalão.
Belkor. Tudo indicava Belkor.
Mors deixou escapar um xingamento e cambaleou pelo habitáculo dos passageiros até a cabine. Abriu a porta e
deparou com Breehld emborcado no assento, a cabeça pendida num ângulo estranho, a língua de fora, o pescoço
obviamente quebrado. Provavelmente morrera após a nave sofrer o ataque.
O piloto a servia há décadas.
– Sinto muito, Breehld – disse Mors.
Acessou o computador principal, veri cou os registros e a situação da nave. De fato, o piloto automático tinha
sido ativado em algum ponto quando a energia da nave voltara. Claro, a essa altura, Breehld já deveria estar
inconsciente ou morto. A nave havia conseguido pousar perto da linha equatorial de Ryloth. A lançadeira sofrera
alguns danos durante o combate, mas permanecia essencialmente intacta e, sem dúvida, capaz de voar.
Fazia um bom tempo que Mors não pilotava, mas achou que conseguiria controlar uma lançadeira.
Desa velou Breehld, segurou-o sob as axilas e o arrastou ao habitáculo de passageiros. Até mesmo esse simples
esforço a deixou ofegante, coberta por um brilho de suor. Percebeu que não cuidara de si mesma. Não cuidara de
nada. E agora pagava caro por isso.
Maldizendo sua indolência, largou Breehld no deque com toda a dignidade possível e retornou à cabine.
Sentou-se no lugar do piloto, acionou os propulsores e de repente se deu conta de que não sabia para onde ir.
Com certeza, não poderia retornar à central de comunicações, pelo menos não imediatamente, levando em
conta suas suspeitas em relação a Belkor.
Veri cou no computador da nave informações sobre bases imperiais nas proximidades. Ela deveria saber quais
existiam nas proximidades sem necessitar do computador, mas nos últimos anos se afastara tanto de seus deveres
que tinha apenas uma leve familiaridade com os recursos planetários imperiais.
O mais próximo era o núcleo de retransmissões equatorial, comandado por Steen Borkas.
– Excelente – murmurou Mors.
Sabia que podia con ar em Steen. Tinham servido juntos como tenentes. Ele possuía o sangue da cor cinza
imperial. Se Belkor estava conspirando, Steen não fazia parte daquilo. Ativou o comunicador da nave e
estabeleceu contato com o centro.
Sem resposta, apenas rajadas de estática e ar morto. Pensando em detectar a causa do problema nas
comunicações, Mors efetuou uma veri cação do sistema. Não mostrou nada de errado. Ela franziu a testa. Só
conseguia pensar em dois motivos para que o sistema de comunicações oferecesse apenas ar morto, e nenhum
deles representava coisa boa. A ansiedade causou-lhe um vazio no estômago. Por um momento fugaz – quiçá,
pura tolice –, ela se perguntou se Belkor tinha maquinado um golpe de Estado e assumido o controle do planeta
inteiro após matar Vader e o imperador.
Mas aquilo era um absurdo.
Não era?
Ela disse a si mesma que era, mas precisava descobrir o que realmente estava acontecendo. Acelerou os
propulsores e observou a superfície do planeta se afastar abaixo dela. Sentiu uma estranha sensação de estar com
o corpo desmembrado enquanto a nave ganhava altitude e percebeu que há muito tempo não voava na cabine.
Entretanto, logo se orientou. O computador da nave se encarregou das coordenadas e ela conseguiu pilotar com
razoável competência.
A cerca de cinquenta quilômetros do núcleo de retransmissões, Mors avistou a fumaça subindo, colunas de
nuvens escuras que se levantavam da superfície e se espalhavam no céu sombrio. Receou que a base tivesse sido
destruída, mas, ao chegar mais perto, notou que os pratos de comunicações haviam sofrido a maior parte dos
danos. De repente, o ar morto no comunicador fez sentido.
– O que cargas d’...
De repente, o computador da nave disparou um alarme, indicando que as armas do centro tinham alçado
mira contra ela. Num estalo, a linha de comunicações da moff ganhou vida e surgiu uma voz, o áudio meio
entorpecido e oco devido à comunicação de linha de visão:
– Identi que-se, lançadeira. E não se aproxime mais.
Mors se atrapalhou com os controles, tentando reduzir a velocidade ao ativar a comunicação.
– Eu não sou... Eu sou... Aqui é a moff Delian Mors.
Uma pausa e, em seguida, uma voz familiar a interpelou.
– Vou precisar de conexão visual, senão vou pulverizá-la no céu – avisou Steen Borkas.
– Repita? – solicitou Mors.
– Conexão visual, senhora. Agora. Ou vou ser obrigado a disparar.
– O quê?
– Agora, por favor – enfatizou Borkas com rmeza.
Mors mirou o painel de comunicações, procurando o botão da conexão visual. Sua falta de familiaridade com
os controles a fez demorar, o alarme de nave em alça de mira soando o tempo todo.
– Peraí – disse ela. – Pronto, consegui.
Uma imagem apareceu na holotela, e o rosto de Steen Borkas, no e esburacado por cicatrizes de acne,
preencheu a maior parte dela. Atrás de Steen, havia uma atividade frenética, o ciais subalternos e técnicos
deslocando-se rapidamente entre as estações de computador. Os olhos de Borkas – mais juntos que o normal –
se arregalaram ao reconhecer Mors.
– Perdoe-me, moff. – Ele prestou continência vivamente, o rosto no ruborizando. – Nós... tínhamos motivos
para descon ar. Onde está o seu piloto, minha senhora?
– Só sobrei eu – disse Mors. – Quando eu pousar, você me explica. Indique uma plataforma de pouso.
– Sim, senhora.
Mors realizou o pouso, desa velou o cinto de segurança e se apressou à prancha. Borkas, dois tenentes e um
pelotão de soldados imperiais a aguardavam na saída. Borkas continuava o sujeito magricela, careca e bem-
barbeado de sempre. Enquanto Mors desembarcava, a comitiva prestou continência, e Mors retribuiu com o
máximo de rigidez que seu ombro ferido permitia.
– Preciso de um médico para a moff – ordenou Borkas a um tenente.
– Mais tarde – dispensou Mors. – Primeiro precisamos conversar.
As plataformas de pouso se erguiam a dez metros acima do restante da base, por isso ela enxergou a
devastação com clareza. Vários focos de incêndio. Ar empestado com os cheiros da fumaça e do plástico
queimado. Naves de manutenção e droides bombeiros sobrevoavam a base, enquanto as equipes de técnicos e
droides de manutenção rolavam ou corriam daqui para lá. Gritos e ordens cruzavam o ar estagnado. Os vestígios
dos pratos de comunicações – no geral, as maiores estruturas da base – jaziam tombados, as bases transformadas
em montanhas fumegantes de metal recortado, coroadas com as ruínas das enormes tigelas concêntricas.
– Estamos trabalhando para reativar a rede – informou Borkas. – O prato três é o menos dani cado. Estamos
todos dedicados a deixá-lo parcialmente operacional.
– Ótimo – elogiou Mors, incapaz de desviar o olhar da destruição.
Uns vinte técnicos e uma dúzia de droides de manutenção trabalhavam no que devia ter sido o prato três.
Várias naves de manutenção pairavam ao redor, soltando cabos que os técnicos se preparavam para xar ao anel
de apoio externo do prato.
– Quanto tempo vai demorar?
– Doze horas, senhora. No mínimo. Fomos avisados sobre a chegada de uma escoltadora que traria VIPs
imperiais feridos.
Mors cou tensa e se virou para encarar o velho amigo.
– Avisados por quem?
A sobrancelha de Borkas se ergueu.
– Pela central de comunicações. Pelo menos foi o que pensamos. Mas talvez não tenha sido. Os rebeldes devem
ter hackeado o sistema de comunicações. As credenciais pareciam boas, mas... obviamente não eram. Assim que
baixamos nossos escudos, a nave abriu fogo. Levou menos de um minuto para fazer todo esse estrago.
– Menos de um minuto – ecoou Mors estupidamente, pensando em Belkor, em traição.
Borkas se empertigou.
– Vai me desculpar, minha senhora. Quando isso acabar, é claro que vou pedir demissão.
Mors balançou a cabeça.
– De jeito nenhum.
– Minha senhora...
– Não quero mais ouvir falar nisso, Steen – resumiu Mors. – Isso não é culpa sua.
Mors sabia muito bem de quem era a culpa, embora não tivesse dito: dela. De Belkor. Ela continuou:
– Vou precisar de todos os colaboradores con áveis à disposição para colocar a situação sob controle.
Borkas inclinou a cabeça em sinal de gratidão.
– Qual é a situação, minha senhora? Por aqui, estamos num vácuo informacional.
– Podemos ter uma conversa em particular? – indagou Mors.
– Claro. Siga-me.
– Antes disso, há um corpo a bordo de minha nave – avisou Mors. – Ótimo combatente. Providencie honras
militares.
Steen ordenou aos dois tenentes que administrassem Breehld e, em seguida, os dois saíram dali. Enquanto
caminhavam, Mors falou:
– É bom revê-lo, Steen.
– A recíproca é verdadeira, senhora – emendou Borkas. – Gostaria que as circunstâncias fossem melhores.
Anos antes, Mors decidiu delegar a autoridade sobre as operações imperiais a Belkor, em vez de a Steen.
Belkor parecia mais gerenciável, menos desa ador à autoridade de Mors. Desde então, ela se arrependera dessa
decisão algumas vezes, mas nunca tanto quanto nesse dia.
A bordo de um transporte, voaram ao prédio principal, um hexágono de três andares com paredes de vidro,
situado no centro da base. Durante o voo, Mors ensaiou o que diria. Assim que pousaram, Borkas a conduziu por
elevadores e corredores que fervilhavam de agitação, até en m chegarem a uma sala de conferência privada.
Mors perdeu a conta de quantas continências havia recebido. Steen controlava os comandados com mão de
ferro.
– Traga-nos um caf e algo para a moff e eu comermos – solicitou Borkas a alguém no corredor.
– E um analgésico, também – acrescentou Mors, encolhendo-se com as dores no ombro e na cabeça.
Afundou-se numa das poltronas almofadadas que rodeavam a grande mesa de conferência, subitamente
exausta. Soltou um suspiro e tamborilou com os dedos na mesa.
– Então – disse Borkas, virando-se e também se sentando à mesa. – Temos um traidor imperial.
Mors ergueu o olhar, categórica, com as sobrancelhas levantadas e sentindo calor no rosto.
– O quê? Como você...
Uma batida na porta anunciou a chegada dos remédios, do caf e da comida. Borkas serviu uma xícara de caf
para cada um deles, mas Mors nem sequer imaginava colocar algo no estômago instável que não fossem os
medicamentos, engolidos imediatamente.
No momento em que o o cial júnior saiu, Borkas continuou:
– Como sei disso? Não é difícil de conectar os pontos, senhora. A Perigo sofre uma emboscada, o núcleo de
retransmissões é atacado por uma nave imperial após uma ordem suspeita da central de comunicações. Foi da
central, não foi, minha senhora? E não um hack?
– Não foi hack – disse Mors.
– Tudo isso exigiu uma boa dose de coordenação – ponderou Borkas. – Muitas autoridades imperiais fazendo
vista grossa, ou até mesmo colaborando deliberadamente. É um golpe de Estado?
Mors balançou a cabeça e tou a xícara.
– Não posso dizer com certeza – ela admitiu, sem conseguir encarar Borkas olho no olho. – Estive... ausente,
Steen.
– Sim – concordou Borkas. – As coisas mudaram depois que a senhora perdeu Murra. Quando foi isso? Há uns
quatro anos, não é?
Mors assentiu com a cabeça. Fazia um bom tempo que ela não escutava ninguém falar o nome da sua esposa.
Ela falecera num acidente em Coruscant. Uma avaria no sistema arremessou a nave com ela e outros dez civis
contra a lateral de um edifício. Meses a o, Mors cou imaginando o que Murra devia ter sentido enquanto o
veículo acelerava. Terror? Resignação? A perda a corroeu por dentro e lhe partiu o coração.
– As coisas não mudaram – disse ela. – Eu mudei.
Após a morte de Murra, ela perdera as ambições e se acomodara com a falta delas, cando à deriva. Tornara-se
hedonista, e a preguiça a dominara. Pior ainda: perdera a capacidade ou o desejo de distinguir um bom
comandante de um bajulador. Por isso, promovera Belkor e gente parecida com ele, ignorando o ciais como
Steen Borkas. E agora ela perdera um destróier estelar, o imperador, Lorde Vader e talvez um planeta.
– Desdenhei você, Steen. Me desculpe.
Os lábios nos de Steen formaram um sorriso ainda mais no.
– Não me sinto injustiçado, minha senhora.
Mors sabia que era mentira, mas acolheu as palavras no espírito em que foram oferecidas.
– Posso con ar em você agora, Steen? Apesar de tudo?
– Como sempre, minha senhora.
Mors assentiu com a cabeça e abriu o jogo:
– Belkor Dray é o traidor. Tenho quase certeza.
Borkas enrijeceu o corpo ao bebericar o caf. O desprezo nos olhos dele foi mais eloquente e cortante do que
qualquer insulto que pudesse ter destinado a Belkor.
– E – continuou Mors, mas hesitou por um momento antes de sua boca seca conseguir proferir as palavras –
Darth Vader e o imperador estavam a bordo da Perigo.
Borkas a mirou perplexo. A mão dele começou a tremer, fazendo o caf transbordar da xícara. Ele a pôs na
mesa.
– Eles... estavam a bordo na hora da explosão?
Mors balançou a cabeça.
– Não sei. Minha nave foi desviada para ajudar no resgate de VIPs. Poderia ser uma referência a eles, mas o
desvio presumivelmente veio de Belkor e pode ter sido só uma maneira de fazer os rebeldes me matarem
enquanto eu estivesse envolvida nas operações de resgate. Fomos atacados logo que entramos na área.
– Eles tinham a identidade de sua nave – constatou Borkas.
– Sim – concordou Mors. – Ou seja, se Vader e o imperador escaparam da Perigo, eles também tinham a
identidade deles.
Borkas ergueu o olhar de modo abrupto.
– Espere. É isso!
– O quê?
– A interceptação.
– Não estou entendendo – confessou Mors.
Borkas falou rapidamente.
– Durante o ataque no núcleo, interceptamos uma comunicação com a nave auxiliar num canal aberto.
Demoramos um tempo para decifrá-la, e conseguimos fazê-la apenas parcialmente. Mas mencionava Vader.
Avaliei que fosse código, bobagem ou...
Mors soergueu-se no assento.
– Como assim, mencionou Vader?
Borkas se levantou e começou a andar, o olhar xo no chão.
– Coordenadas, senhora. Vader e o imperador fugiram numa nave e ela pousou ou foi derrubada. Assim, os
rebeldes sabem onde eles pousaram ou colidiram.
Agora Mors também estava de pé.
– Mas nós também! O que você tem aqui, Borkas? Equipes de combate? Naves? Eu vi os stormtroopers. Mais
alguém? Preciso chegar a essas coordenadas.
Borkas assentiu com a cabeça, incubando a ideia ainda não verbalizada de Mors.
– Temos naves de manutenção e de transporte, nada armado. Quanto ao pessoal, disponho principalmente de
técnicos e de um punhado de o ciais aspirantes. Ao todo, tenho vinte stormtroopers e talvez mais uns dez
homens familiarizados o su ciente com uma arma de raios para um combate. Onze, contando comigo.
– Já serve – disse Mors, colocando a ponta dos dedos na mesa. – Mas você não vai junto, Steen.
– Senhora...
– Major, você vai recuperar a rede de comunicações e, quando o zer, entrará em contato com os o ciais em
que podemos con ar. Só aqueles que temos certeza serem incapazes de traição. E vai orientá-los a reunir todos os
stormtroopers de Ryloth e trazê-los até mim. Não podemos contar com mais ninguém. Seja lá o que estiver
acontecendo aqui, golpe de Estado, assassinato de líderes políticos, ou as duas coisas, envolve exterminar a mim,
a Vader e ao imperador. Vou me assegurar de que nada disso aconteça. E depois vou acabar com Belkor e o
movimento Ryloth Livre. Hoje, eles acham que estão no auge. Mas é o início da derrocada.
Steen balançou a cabeça, o rubor nas faces.
– Minha senhora, eu tenho um subordinado de con ança que posso deixar no comando aqui. Pre ro
acompanhá-la. Não preciso car dizendo a ele o que fazer. Ele é capaz de supervisionar os reparos tão bem
quanto eu.
Mors tou Steen olho no olho, vislumbrou ali a ânsia de fazer algo, qualquer coisa, e entendeu muito bem.
– Certo, Steen. Venha comigo. Vamos levar as tropas em uma de suas naves de transporte e na minha
lançadeira. Vamos equipá-las com armamentos e zarpar o mais rápido possível.
– Sim, senhora – disse Borkas, prestando continência.
Isval pensou em faltar ao encontro combinado com Cham e ir diretamente às coordenadas que recebera de
Nordon. Porém, com as comunicações fora do ar, Cham não saberia como encontrá-la. Ele ainda não tinha
aquelas novas coordenadas.
Faylin percebeu a tensão da Twi’lek e indagou:
– Você está bem?
– Sim. – Isval se remexeu no assento. – Só ansiosa para ir atrás de Vader.
– Daqui a pouco, vamos chegar ao ponto de encontro – tranquilizou Faylin, veri cando as coordenadas.
Abaixo e diante delas, uma das luxuriantes orestas equatoriais de Ryloth escurecia a paisagem. A maior parte
do planeta era seca e desprovida de vegetação densa, mas os padrões eólicos e outros fenômenos meteorológicos
que Isval não entendia atraíam a umidade ao cinturão equatorial, conferindo a Ryloth uma faixa de verdor.
Raramente ela admirava isso de perto, e agora não conseguia afastar o olhar do dossel orestal, que se estendia
até o horizonte. As últimas luzes solares do dia cobriam a paisagem com uma aura escarlate.
– Mantenha a varredura ativa – recomendou ela a Faylin. – Cham nunca se atrasa.
Na hora exata, o escâner captou um contato. Isval veri cou os detalhes e detectou que era o transporte de
Cham. Precisariam chegar mais perto para que conseguisse saudá-lo. O sinal de interferência de Kallon
funcionava com e cácia. Ela se agrou inclinada à frente no assento, tentando vislumbrar a nave de Cham. Um
movimento ao longe chamou a sua atenção: a nave! Na linha de visada, os seus transmissores driblariam o
congestionamento de Kallon.
– Cham, está na escuta?
– Isval – respondeu Cham, e ela percebeu o alívio na voz dele. – Pouse naquela clareira. Está vendo?
– Não vamos perder tempo, Cham. Nordon entrou em contato comigo quando estávamos atacando o núcleo
de retransmissões. Ele avistou uma nave imperial caída. Tenho as coordenadas.
Ela as transmitiu à nave de Cham, que elogiou:
– Excelente. Mas ainda quero que você pouse. Tenho trinta pessoas a bordo... Goll e as tropas dele. Quero
metade deles na sua nave.
Goll e seus combatentes faziam parte dos grupos táticos usados pelo movimento para atacar algo, e atacar com
contundência. O grupo de Pok também era assim, até Vader cruzar o caminho dele.
– Bem pensado – concordou Isval. Não havia motivo para transportar todos os recursos numa só nave.
Comentou com Faylin: – Que tal pousarmos?
Faylin abriu um sorriso e acenou com a cabeça.
– Já voei bastante por hoje.
Isval baixou a escoltadora numa ampla clareira, e Cham pousou seu transporte convertido. A Twi’lek abriu a
porta do habitáculo dos passageiros da escoltadora e desembarcou. A mesma porta também se abriu na nave do
Cham. Goll e metade de suas tropas saíram correndo rumo à nave de Isval, todos armados até os dentes com
armas de raios e granadas. Os homens e as mulheres acenaram com a cabeça ao passar por Isval – todos à exceção
de Goll, que parou diante dela. Ela nunca havia conhecido um Twi’lek mais alto. Músculos saltavam-lhe sob a
pele verde-escura.
– Bom te ver, Isval. Fez um bom trabalho hoje.
– Bom te ver também, Goll. E o dia ainda não acabou. Subam a bordo. Vamos partir em cinco minutos.
– Pode deixar – respondeu ao passar por ela. – Apertem os cintos, combatentes – avisou ao grupo. – Logo
vamos subir de novo.
– Goll – chamou Isval, e o corpulento Twi’lek se virou. – Crost, Drim e Eshgo estão a bordo. Precisam... ser
retirados.
O semblante de Goll anuviou-se, e ele assentiu com a cabeça, correndo o olhar ao redor da clareira.
– Este solo é bom. Vamos dar um jeito, Isval.
Enquanto Goll destinava alguns dos soldados para as obrigações funerárias, Cham emergiu da nave dele,
ainda usando seu fone de ouvido, e Isval cou paralisada ao vê-lo. Ele a avistou e também parou, mas só por um
momento. Em seguida, transpôs com rapidez a distância que os separava. Por um momento, Isval pensou que
Cham fosse tentar abraçá-la, e não soube explicar a emoção cálida que o pensamento provocou.
Mas ele apenas a segurou pelos ombros e a tou nos olhos, os dois sem falar nada – foi, entretanto, um silêncio
eloquente. Como sempre, eles chegavam até o limite, mas nenhum dos dois o ultrapassava. Não conseguiriam
fazer o que precisava ser feito pela guerrilha, se o relacionamento deles evoluísse.
Apenas mais uma vítima do con ito, supunha Isval.
– É bom rever você – disse ele, e sua pele escureceu.
Ela sentiu a própria pele escurecer em resposta.
– Bom rever você também, Cham.
– Por um tempo, não tive certeza se voltaria a vê-la – confessou ele. – E o pensamento não me agradou.
– Sou osso duro de roer – disse ela, meio sem jeito.
Cham abriu um sorriso, mas logo disfarçou as emoções, fechando o semblante. Ela aproveitou o momento e o
imitou, deixando o dito pelo não dito.
– Um destróier estelar e uma base imperial em poucas horas? – comentou ele. – Isso cheira a recorde. E a um
magní co trabalho.
Os elogios dele sempre a agradavam.
– Mas ainda não terminamos. Agora vamos atrás de Vader e do imperador.
– Agora vamos pegá-los – concordou Cham. – Os propulsores ainda estão quentes. Vamos logo. – Direcionou o
olhar para Goll e as tropas dele, escavando sepulturas com celeridade. A dor animou os olhos dele. – Tenham um
sono tranquilo, meus amigos.
Após o enterro, embarcaram em suas respectivas naves e zarparam, voando baixo, pouco acima do dossel das
árvores. O transporte de Cham tomou a frente, com a escoltadora de Isval logo atrás, ligeiramente a estibordo.
Voavam com as luzes desligadas.
– Faça todas as varreduras de que essa nave dispõe – ordenou Isval a Faylin. – E que de olhos bem atentos.
– Está muito escuro para ver algo – retorquiu Faylin.
– Mesmo assim, olhos atentos – rosnou Isval.
– A folhagem é densa – comentou Cham pelo comlink. – Interfere nas varreduras.
– A vida pulsa lá embaixo – constatou Faylin, checando o infravermelho.
Clareiras salpicaram em meio à vegetação fechada quando se aproximaram das coordenadas.
– Consegui algo. Metálico, grande – avisou Faylin a Isval. – Destroços.
– Ouviu isso, Cham? – quis saber Isval.
– Ouvi. Não confere com as coordenadas que recebemos, mas é no caminho. E nem sinal de Nordon.
– Não – Isval respondeu, intuindo o que Cham quis dizer. Nordon tinha enfrentado Vader.
– Precisamos veri car – constatou Cham.
– De acordo – disse ela. – A oresta é muito fechada para ver algo daqui de cima. Temos que pousar e ir a pé.
Vou achar um local de pouso.
Faylin localizou uma clareira no escâner, e Isval pousou a nave, deixando os propulsores acesos. Saudou Cham
quando ele pousou o transporte perto da escoltadora.
– Devíamos enviar as naves adiante, até as coordenadas fornecidas por Nordon – sugeriu ela. – Só para
garantir.
– Pensei a mesma coisa – respondeu Cham. – Podemos escalonar as naves para retransmitir. E manter a
comunicação aberta entre nós.
– Certo – concordou Isval.
Faylin voaria até o meio do caminho em direção às coordenadas que Nordon fornecera e caria pairando por
ali. Kallon conduziria o transporte de Cham até as coordenadas. Ele estaria perto o su ciente para estabelecer
contato com Faylin, e ela estaria perto o su ciente para retransmitir as informações a Cham e Isval.
– Se conseguir qualquer sinal de Nordon, nos avise imediatamente – recomendou Isval a Faylin. – E não se
preocupe quanto à pilotagem. O simulador a treinou bem. Vai dar conta do recado.
– Com certeza – titubeou Faylin.
Isval desembarcou com Goll e os membros do grupo tático que os acompanhavam na escoltadora. Reuniram-se
com Cham na clareira e rumaram aos destroços, quatro quilômetros adentrando a oresta. O vento tinha
voltado e agora uivava entre as árvores, provocando um contínuo farfalhar. No ar úmido, prevalecia o frescor das
coníferas e o cheiro de húmus. Pontuando a escuridão, urros, guinchos e rosnados se erguiam acima do vento
soprando. Cham e Isval faziam a vanguarda, e Goll distribuiu seu grupo no padrão habitual de reconhecimento:
à esquerda, à direita e na retaguarda. As naves decolaram e aceleraram no meio da noite.
– Já ouvi todo tipo de história sobre as orestas equatoriais – contou Cham.
– Eu também – falou Isval.
– Hordas de lyleks, enormes primatas carnívoros, plantas assassinas, o diabo a quatro. Mas Vader é a pior coisa
que vamos encontrar aqui – ponderou ele.
Ela assentiu com a cabeça.
Pouco depois, a voz de Faylin surgiu no comlink.
– Estou a postos.
– Continuando até as coordenadas de Nordon – avisou Kallon. – Em breve, vou car fora do alcance de todos,
menos de Faylin.
– Informe-nos o que descobrir – frisou Cham.
Embrenhados na mata, Cham, Isval e Goll e seus soldados tinham de galgar as raízes tabulares das imponentes
árvores. A quantidade de movimento no dossel bem acima deles provocava uma chuva constante de ramos,
folhas e outros detritos.
Isval sentiu-se exposta, vigiada. A oresta foi se aquietando nas proximidades da nave caída. Goll reagrupou
seus homens espalhados. O grupo emudeceu ao se aproximar do local.
– Você e mais dois, comigo e com Isval – Cham orientou Goll, que escolheu dois do grupo e instruiu os outros
a car para trás, no apoio.
Cham e Isval calmamente percorreram os últimos duzentos metros rumo ao local do acidente, com armas em
punho. Sentiram o cheiro de plástico queimado ao se aproximar e viram que cerca de doze árvores tinham sido
cortadas ao meio por uma nave em queda, e suas copas estavam caídas no solo da oresta. Cham e Isval pararam
na borda da linha das árvores.
Os destroços de uma nave jaziam espalhados na clareira e na oresta ao redor, misturados com toneladas de
solo e árvores deslocadas pelo impacto. A maior parte ainda fumegava, e a fuselagem central continuava
praticamente intacta.
Isval soltou um impropério. A nave não era imperial. Justamente o que ela e Cham temiam: uma das fragatas
modi cadas da guerrilha. A julgar pela dispersão dos destroços da nave, sobreviventes pareciam improváveis.
Procurou marcações e identi cou um número parcial na traseira da fuselagem. Foi o su ciente.
– A fragata de Nordon – previu ela. – Cham?
Cham tava os destroços, com um olhar abatido no rosto. Ela o pegou pelo braço.
– Cham, o que há de errado com você?
Ele se virou para encará-la, contraiu os lekkus uma, duas vezes, e a máscara se recompôs.
– Nada. Estou bem. É a nave de Nordon.
– Como foi derrubada? – perguntou ela, mas soube a resposta assim que fez a pergunta.
– Vader – concluiu Cham.
Isval assentiu com a cabeça. De algum modo, Vader zera aquilo. Sozinho, havia capturado a nave de Pok e
matado todos a bordo; atravessara a tempestade de raios disparados por ela; da cabine de outra nave, a as xiara
até fazê-la desmaiar; e agora, tinha abatido uma fragata armada.
– Podemos dar conta disso? – indagou ela com a voz suave, as palavras escapando antes que conseguisse
controlá-las.
Se Cham a escutou, não deu sinal algum.
– Recupere os corpos – disse ele. – Goll.
– Entendido – respondeu o enorme Twi’lek, gesticulando para dois de seus homens fazerem buscas nos
destroços.
A voz de Faylin surgiu no comlink.
– Kallon chegou ao local das coordenadas. As varreduras mostram uma nave caída, dani cada, mas intacta.
Uma nave auxiliar imperial.
– Não investigue – ordenou Cham. – Voltem para cá, vocês dois.
– Entendido – disse Faylin.
Os homens de Goll não tinham dado nem dez passos clareira adentro quando um vulto furtivo se esgueirou
detrás da fuselagem fumegante, com o braço de um Twi’lek em suas mandíbulas. A criatura seria mais alta do
que humanos e Twi’leks se não fosse a postura curvada. Suas pernas de aparência insetoide moviam-se rápidas,
espasmódicas, e os braços nos terminavam em garras curvas, tão grandes quanto os ganchos de um frigorí co. A
carapaça tinha cravos e uma corcunda no dorso abaulado; na cabeça disforme, sobressaíam-se a boca cheia de
dentes e os olhos desproporcionalmente grandes.
Os dois homens paralisaram. Em uníssono, Isval e Cham soltaram um xingamento e ergueram as armas para
mirar.
– Um gutkurr – sussurrou Cham, e Isval concordou.
– Voltem devagar – disse ela aos dois homens de Goll, e, bem lentamente, eles começaram a recuar.
Em Ryloth, apenas os lyleks eram mais perigosos do que os predatórios gutkurrs. Mais de uma vez, Isval já
tinha visto disparos de armas de raios ricochetearem na carapaça de um gutkurr.
– Devagar – Cham avisou aos homens. – Devagar e em silêncio.
Outro gutkurr se precipitou para fora dos destroços, pegou a outra ponta do braço em suas mandíbulas e
tentou roubar o prêmio do companheiro, os dois silvando e rugindo. Um por um, mais três gutkurrs foram
emergindo dos destroços, e mais rosnados e sibilos lá de dentro sugeriram a presença de mais, muito mais
gutkurrs.
– Vamos embora – disse Cham suavemente. – Silêncio, agora.
Isval odiava ter de deixar o corpo de Nordon para os gutkurrs, mas não havia nada a fazer. Desejou-lhe um
sono tranquilo.
O vento retornou, fustigando-lhes as costas, banhando-os com acículas e ramos. Isval soltou outro
xingamento, reconhecendo o signi cado daquilo.
Numa ação coordenada, os gutkurrs giraram na direção deles, levantando-se sobre as patas traseiras, as bocas
com presas a adas abrindo-se como se degustassem o vento.
– Se nos farejarem – falou Cham –, vamos usar fogo de supressão e recuar rumo à clareira. Uma retirada, não
um tumulto.
Os gutkurrs se abaixaram, acocorados, e vários deles emitiram ásperos ganidos. Um deles começou a andar em
círculos, animado. Outros quatro saíram da nave caída, inclusive a maior da matilha, uma fêmea. Ela cutucou o
menor gutkurr perto dela, a rmando dominância, e rosnou bem alto. O bando a rodeou, sibilando
animadamente. A fêmea se empinou até car com altura máxima e escancarou a boca.
– Ela sentiu nosso cheiro – sussurrou Isval.
– Talvez não – falou Cham, sem muita convicção.
O grupo de Goll alcançou a linha das árvores.
A líder da matilha voltou a se apoiar nas patas dianteiras, rugiu e se precipitou na direção deles. A matilha
inteira a seguiu com as garras arremessando terra para trás.
Cham e Isval abriram fogo com as armas de raios, e o grupo de Goll fez o mesmo. Raios vermelhos se
chocaram contra a primeira leva de gutkurrs, que despencou, cambaleante. Seus companheiros pularam por cima
deles ou os pisotearam, mas os que tinham sido atingidos se reergueram e continuaram a correr.
– De volta à clareira! – ordenou Cham. – Corram, mas não se separem!
Deram meia-volta e recuaram correndo pela oresta, virando-se de vez em quando para disparar contra a
matilha. Os gutkurrs sibilavam e rugiam, chocando-se contra os troncos mortos e os arbustos, na ânsia de obter
alimento. Logo, Isval, Cham e os demais alcançaram o grupo de apoio que tinha permanecido na retaguarda.
Aos gritos, Goll avisou-os.
– Gutkurrs! Fogo de supressão e retirada à clareira!
Uma explosão de granada à direita lascou uma árvore e mandou pelos ares fragmentos de um gutkurr.
Isval chamou Faylin pelo comlink.
– Faylin, precisamos que você volte à clareira agora mesmo e pouse com as portas abertas!
– O quê? O que está acontecendo aí embaixo? Estão sob ataque?
– Sim – con rmou Isval. – Depressa!
– Já estou indo!
Isval pulava por cima das raízes e se agachava sob os galhos. Ela, Cham e três soldados de Goll se viraram,
entrincheirados na base de uma grande árvore, e dispararam contra a matilha alucinada. Os disparos
ricocheteavam na carapaça das criaturas, mas o impacto, ao menos, fazia os gutkurrs retrocederem um pouco.
– Estão se espalhando! – gritou Goll, disparando à esquerda. – Tentando nos cercar. Granadas!
Mais explosões à direita e à esquerda, sibilos zangados dos gutkurrs.
– Continuem andando! – exclamou Isval, erguendo-se e correndo de volta rumo à clareira. – Continuem!
De repente, à direita, um gutkurr deu um enorme salto sobre uma árvore caída e aterrissou nas costas de uma
das combatentes de Goll. Ela rolou, com um grito, tentando, tarde demais, recuperar seu fuzil de raios. As garras
curvas do gutkurr atravessaram suas roupas, abrindo o abdômen dela, que cuspiu as entranhas. Isval soltou um
resmungo e disparou na cabeça do monstro uma, duas vezes, até ele desabar morto sobre o corpo da vítima.
– Temos que deixá-la – disse Cham, puxando o braço de Isval.
Ela recuou, atirando em tudo que se movia no meio das árvores, então se virou e correu.
– Tempo estimado de chegada, Faylin? – pediu Isval pelo comlink.
– Trinta segundos!
– Estão nos cercando! – berrou um soldado de Goll.
À direita dela, Isval ouviu um grito lancinante de dor. Tiros de armas de raios soaram, junto com
xingamentos, rosnados e sibilos.
– Continuem atirando e andando! – esbravejou Cham, seu fuzil de raios pintando o ar com linhas de energia.
Lá do alto, Isval ouviu o zunido da escoltadora dando um rasante sobre as árvores.
– Consegue nos ver no escâner? – Isval indagou a Faylin. Ela avistou um gutkurr nos arbustos e disparou uma
série de tiros nele, mas não podia ter certeza se o atingira.
– Sim! O que são essas coisas? São dezenas deles!
– Gutkurrs, uma matilha inteira – explicou Isval, atirando contra as árvores. Um gutkurr foi atingido no
anco e se estatelou. A matilha se espalhara e retardara a perseguição, formando um arco. Ela não tinha dúvida
de que alguns deles circulavam ao largo para se posicionar de modo a impedir a retirada. – Consegue abrir fogo?
– Fogo? Mas não sou...
– Você consegue, Faylin! Precisamos disso! Nossas armas de raios não estão resolvendo!
– Tudo bem, entendi.
– Mantenham a linha aqui! – gritou Cham para a equipe. – Fogo de artilharia. Cerrar leiras! Cerrar leiras!
Cham, Isval, Goll e os sobreviventes do grupo dele se aglomeraram no topo de uma pequena colina, atrás de
uma árvore, todos ofegantes. Miravam contra qualquer coisa que se movesse e preenchiam a oresta com
disparos. Gutkurrs sibilavam e rosnavam em meio à escuridão.
A artilharia da escoltadora cruzou o céu com espessos raios de plasma que atravessaram as árvores e atingiram
o chão. Árvores foram lascadas, rachadas e podadas. Nuvens de solo explodiram ao redor deles. Os gutkurrs
berravam e uivavam. Fumaça acre preencheu o ar.
– Cessar fogo, Faylin! – ordenou Cham. – Estamos indo... agora.
O grupo se ergueu, virou-se e correu até a clareira, saltando por cima das raízes e de troncos mortos. Os
gutkurrs provavelmente os viram, pois rugiram, guincharam e se precipitaram em meio às árvores. Um dos
soldados de Goll tropeçou e caiu na frente de Isval. Ela o ergueu pelas axilas e efetuou disparos de armas de raios
cegamente de volta por cima do ombro, recomeçando a fuga juntos. Faylin avisou pelo comlink:
– As armas de raios da nave dispersaram a matilha, mas ela continua atrás de vocês. Está fechando um círculo.
Apressem-se!
– Vá até a clareira, Faylin – ordenou Isval. Para o resto do grupo, ela gritou: – Corram!
Eles nem se preocupavam mais em atirar com as armas de raios. Apenas corriam o mais rápido possível, o som
dos gutkurrs famintos no encalço deles. A nave zuniu lá em cima, audível através do dossel da oresta, e pousou
não muito longe dali. Isval captava o movimento com sua visão periférica de vez em quando e pensou que as
árvores nunca iam acabar.
Mas de repente chegaram à clareira. Faylin já abrira as portas do compartimento de passageiros.
– Rápido! Corram! – exclamou Cham, acenando a todos que passavam. Isval se encontrou com ele e Goll, e os
três taparam a linha das árvores com raios de armas.
Ela não conseguia a rmar se tinham acertado algo.
– Vamos logo! – gritou Cham, e o trio se virou e correu.
No momento em que zeram isso, do lado esquerdo, uma leva de gutkurrs irrompeu das árvores, avançando
pela clareira rumo ao restante do grupo, que ainda não alcançara a nave. Isval mirou com as duas armas de raios
enquanto fugia. Ela disparou uma, duas vezes, atingindo nas têmporas as duas criaturas da frente, fazendo-as
cair no chão, mortas. Cham e Goll pulverizaram os dois últimos utilizando armas de raios, com um fogo tão
cerrado que as criaturas foram arremessadas cinco metros para trás, sem vida, com as carapaças enegrecidas.
Mais gutkurrs surgiram da linha das árvores, atrás e à direita. Os demais soldados de Goll se posicionaram no
exterior da nave aberta e dispararam em equipe contra as criaturas, mas isso não as impediu. Elas cruzaram a
clareira a toda velocidade, uma dúzia ou mais, aproximando-se da nave. Isval, Goll e Cham correram. Cham
gritou:
– Subam a bordo! Subam!
O grupo de Goll cessou fogo e correu rampa acima, entrando no habitáculo com Isval, Cham e Goll logo atrás.
Assim que todos entraram, Isval apertou o botão para fechar a porta. Ela começou a subir, mas, antes disso, dois
gutkurrs agarraram a porta e tentaram se precipitar no interior da nave. Cham e Goll se entreolharam, ergueram
as armas como se fosse uma só, e dispararam. Os tiros de armas de raios derrubaram as duas criaturas da rampa,
e a porta se fechou totalmente. Goll realizou uma contagem rápida e um balanço dos ferimentos. Relatou para
Cham, em voz suave:
– Quatro perdidos. Os demais estão bem.
O semblante de Cham esmoreceu por um momento, mas só Isval poderia ter notado. Ele assentiu com a
cabeça e pôs a mão no ombro de Goll. Após Goll se afastar para conversar com seus soldados sobreviventes, Cham
disse a Faylin pelo comlink:
– Leve-nos até o local das coordenadas de Nordon.
– A caminho – disse Faylin. – Tudo certo aí atrás?
Cham respondeu, balançando a cabeça:
– Na medida do possível.
Isval veio sentar-se ao lado de Cham. Quase tocou nele, mas se conteve.
– O que houve? E não se atreva a dizer que não há nada de errado.
Sem olhar para a Twi’lek, ele respondeu em tom monótono.
– Foi um longo dia, é tudo.
– Mentira – ela disse. – Conte para mim.
– Quer saber mesmo?
Isval não tinha certeza, mas ainda assim assentiu com a cabeça.
– Apostamos todas as nossas chas nisso – explicou ele. – Num dia, gastei quase todos os recursos que
acumulei durante anos.
Ela baixou a voz num sussurro irritado:
– Tivemos menos de trinta baixas. E derrubamos um destróier estelar. Não é uma troca ruim.
Ele a tou com olhos a itos.
– Trinta é muita gente, Isval.
Ela se arrependeu da implicação de suas próprias palavras.
– Sei. Claro que é. Sei disso.
– Sei que você sabe – disse ele. – Mas não é só isso. Quase todas as naves que tínhamos se foram. E, quando o
Império realizar uma análise das ações de hoje, vai fazer de tudo para se vingar. Precisa fazer. Vai rastrear as
nossas bases e nos rastrear. Vamos ter que dispersar depois de hoje, pelo menos a maioria de nós. Isso, na melhor
das hipóteses.
Ela balançava a cabeça.
– Por que não falou isso antes? Poderíamos ter...
– Poderíamos ter o quê? Não feito nada? Perdido a oportunidade?
Isval sentiu um vazio no estômago.
– Não, mas não me dei conta...
– Não se deu conta de que não sobraria nada depois? Entendo. Eu também não sei se me dei conta, mas venho
pensando nisso desde que derrubamos a Perigo, e agora tudo se tornou claro para mim. É a verdade nua e crua,
mas é melhor aceitá-la. Depois de hoje, nos moldes de antes, o movimento deixa de existir.
Ela ainda se recusava a acreditar.
– Não, espere. Ouça, o Império não é bom o su ciente para nos rastrear nem as nossas bases. Por muito tempo,
conseguimos nos esquivar deles.
– Nos esquivamos deles com Belkor sendo nosso títere. Depois do que aconteceu, ele está acabado. Nós dois
sabemos disso.
Isval não se atreveu a negar. Belkor talvez tivesse se convencido de que conseguiria sobreviver aos
acontecimentos do dia, mas Isval sabia que não. Não importa a história que Belkor inventasse, não conseguiria
se livrar dos investigadores da segurança imperial.
– Podemos reconstruir o movimento – arriscou ela. – Do mesmo jeito que o construímos na primeira vez.
Ele abriu um sorriso meio forçado.
– Não sinto isso em mim, Isval.
O vazio no estômago dela cresceu mais ainda.
– Não existe movimento sem você – sussurrou ela.
Ele balançou a cabeça.
– É maior do que eu. E, se iniciarmos uma rebelião galáctica, Ryloth terá uma chance de liberdade. O
movimento é uma ideia, não uma pessoa.
Ela sabia que não era. Sabia que Ryloth precisava dele. Sabia que ela precisava dele.
– Está enganado.
– Estou certo, e a luta continua, mas outra pessoa vai ter que liderá-la. – Cham fez uma careta. – Vou fazer o
que posso mesmo após hoje, mas não sobraram ferramentas su cientes para realizar muito além do que já
realizamos. Vamos atear fogo matando Vader e o imperador. Mas outra pessoa vai precisar alastrar as chamas
para queimar o Império inteiro.
– Em aproximação – avisou Faylin pelo comlink.
 
Vader, o imperador e os dois guardas reais sobreviventes colocavam quilômetros para trás enquanto a noite
consumia o resto do dia. A escuridão se aprofundava, e eles abriam caminho pelo terreno acidentado, pelo
emaranhado de raízes, pelas colunas de troncos das árvores. O breu parecia ampli car o som, isolá-lo, ecoá-lo até
a respiração de Vader preencher a oresta. As luas não tinham aparecido no céu, e levaria horas para isso
acontecer. O dossel da oresta escondia a tênue luz estelar, mergulhando-os num oceano de breu. A armadura de
Vader lhe permitia ver em infravermelho e em vários outros espectros, e as armaduras dos guardas reais também
compensavam a pouca luz, mas o imperador...
Vader mirou de relance à sua esquerda, para o mestre, que caminhava com con ança pela escuridão.
O imperador enxergava claramente, enxergava tudo, como sempre.
Criaturas grandes e pequenas se mexiam entre a folhagem na borda da visão de Vader, espreitando,
rastejando, trotando. Lá em cima, animais vagueavam pelo dossel da oresta, predadores caçando presas. De vez
em quando, o guincho frustrado de algo morrendo pontuava o silêncio.
– Instrutivo este lugar, não é? – indagou o mestre.
– É implacável com a fraqueza – falou Vader.
– É – disse o mestre. – Os fortes descobrem e matam os fracos.
– Como deve ser – comentou Vader.
– Verdade. Como deve ser – ecoou o mestre.
– Mas, às vezes, os fortes confundem seu poder – ousou acrescentar Vader. – E, nisso, demonstram fraqueza.
– É mesmo? – indagou o mestre, e Vader não disse mais nada.
Por várias horas da noite, Vader caminhou ao lado de seu mestre, emitindo apenas o som do respirador. Ele só
ia parar, ou não, conforme as ordens que recebesse. Logo a respiração dos guardas se assemelhou à de Vader.
Estavam exauridos, mas ainda assim o mestre dele continuava. Por m, o imperador parou e ergueu a mão.
– Descanse aqui por um tempo, capitão. Mas não muito. Vamos retomar em breve.
– Obrigado, meu imperador – disse o capitão, e ele e Deez rapidamente improvisaram um acampamento.
Momentos depois, eles rodeavam uma fogueira. Vader cou perto dela, olhando para as chamas. O mestre
sentou-se de pernas cruzadas numa pose de meditação. A tensão pulsava entre o mestre e Vader, mas ele não
conseguia de nir a proveniência dela.
– Mestre?
– Acha que a traição começa nas ações, meu amigo?
– Não. Começa no pensamento.
O mestre mostrou os dentes: talvez um sorriso, talvez um rosnado.
– Mas mesmo assim não sabemos os pensamentos do outro, em especial aqueles de um traidor, que guarda os
seus pensamentos com tanto cuidado para não revelar sua traição. Por isso, devemos desvelar os pensamentos
para que eles se manifestem em ações e, assim, revelem a verdade. Concorda?
Vader tou as chamas.
– Não discordo de nada que ouvi.
De novo, o mestre sorriu ou rosnou.
– Você foi um traidor, não foi, Lorde Vader?
A respiração de Vader revelou uma raiva súbita.
– O que o senhor disse?
– Dos Jedi. De Padmé. De Obi-Wan. De todos que o amavam.
O mestre se virou para ele, as chamas re etidas no olhar.
Vader não sabia a resposta que o mestre queria ouvir, então simplesmente falou a verdade.
– Sim.
O mestre desviou o olhar para o fogo.
O capitão da Guarda Real descansava no outro lado da fogueira.
– É melhor tirar o capacete, capitão – aconselhou o imperador. – Deve ser difícil a obrigação de usá-lo o
tempo todo.
– Obrigado, meu imperador – disse o capitão.
Ele tirou o capacete para revelar um semblante familiar a Vader: o rosto marcado de um clone, feições que
ecoavam tantos rostos do passado de Vader. Rex. Cody. Fives. Echo. A lista de nomes percorreu a mente de
Vader, cada um deles acionando um gatilho da memória, cada um deles um fantasma do seu passado.
– Há uma instalação imperial nas proximidades, meus senhores? – perguntou o capitão.
O sargento Deez também tirou o capacete, mostrando um rosto não clônico: humano bem barbeado, com
mandíbulas de machado e cabelos loiros bem aparado, as faces tatuadas com padrões abstratos.
Se Deez fosse um clone, imaginou Vader, seria chamado de Tinta.
– O que estamos procurando, meus senhores? – indagou Deez.
O mestre de Vader tou o brilho da fogueira.
– Ah, eu acho que vamos saber ao encontrarmos, sargento.
– Claro, meu senhor – concordou o capitão.
Ele abriu refeições pré-prontas para si e para seu companheiro. Nem o imperador tampouco Vader comeram.
Em vez disso, os dois meditaram, em comunhão com a Força, Vader em pé, seu mestre sentado.
Vader, ainda re etindo sobre as palavras do mestre, enveredou na Força, permitindo às suas inóspitas
correntezas que o arrastassem para onde bem quisessem. Como de costume, visualizou momentos do seu
passado, uma série de imagens e sons rudimentares, violentos, repletos de dor.
Viu-se decapitando Darth Tyranus, a primeira morte que seu mestre lhe encomendara.
Os gritos de Padmé.
Ele matando os aprendizes no Templo Jedi, e, nos olhares arregalados das vítimas, um medo que só
alimentava sua justa ira.
Os gritos lancinantes de Padmé.
Traição.
Os urros de raiva de Mace Windu ao perceber a verdade.
Os gritos de Padmé.
Traidor.
Os incêndios de Mustafar, seu ódio por Obi-Wan, a quem ele temera, tentando afastá-lo de seu destino, a
pessoa que tentara tirar Padmé dele, a pessoa que o colocara na armadura.
Os gritos desesperados de Padmé.
“Não, Anakin! Não!”
Vader abriu os olhos, os punhos cerrados, a raiva transbordando, e deparou com o seu mestre de pé diante da
fogueira, o olhar xo nele. A expressão do mestre estava inescrutável, suas feições parcialmente escondidas nas
profundezas do capuz.
Vader pressentiu a raiva no âmago do mestre, assim como a ameaça que pulsava naquela raiva. Vader não a
temia, não por enquanto.
– Cadê os guardas? – indagou ele. Nem sinal dos guardas reais. – Por quanto tempo eu estive...
– Eu os mandei sair. Vão retornar daqui a pouco. – E, após um longo silêncio, perguntou: – O que você viu
enquanto meditava?
– Vi... mortes, e rostos de meu passado, os fatos que me trouxeram até aqui. Sempre os vejo ao pensar no
destino que a Força me reservou.
A raiva do mestre aumentou, mas o rosto dele permaneceu impassível. E, então, falou no suave murmúrio de
um predador:
– Seu destino, sim. Tive vislumbres dele, também.
Por um momento, envolvido nos efeitos colaterais de sua visão, Vader se perguntou como seria enfrentar o
mestre numa batalha, pegar aquele corpo pequeno e frágil nas mãos, levantá-lo do chão e...
Cortou os pensamentos, mas seu mestre os pressentira, pois o rosto dele se dividiu num sorriso sombrio.
– Estou vendo você, aprendiz.
– Também o estou vendo, mestre. O senhor acha que sinto nostalgia quando vejo o passado nas visões, mas
está enganado. Não sinto. Penso nele e no homem que eu era na época e avalio tudo com desprezo. E a única
coisa que torna a meditação tolerável é que tudo culmina comigo aqui, nessa armadura, com o senhor. Não sinto
nostalgia alguma. Não sinto arrependimento algum. Minhas memórias alimentam minha raiva e minha raiva
alimenta o meu poder e, por isso, consigo servir melhor ao senhor e à Força. A sua dúvida...
– Continue – incentivou o mestre.
Vader prosseguiu indiferente ao que pudesse vir depois.
– A sua dúvida é injusti cada e... me deixa com raiva.
Transcorreram vários momentos, cada lorde Sith tando o outro através das chamas. Por m, Vader deu um
passo em torno da fogueira e, diante do mestre, ajoelhou-se sobre uma das pernas. Sentiu o olhar do mestre
cravado nele, o olhar que enxergava fundo em tudo. Imaginou que o mestre analisava as opções.
– Os guardas estão voltando – avisou o mestre. – E não estão sozinhos. Erga-se, Lorde Vader.
Sentado no assento do copiloto da pequena e manobrável nave de busca e salvamento, Belkor esquadrinhava a
superfície equatorial de Ryloth, o local de busca de acordo com os dados fornecidos por Cham sobre a trajetória
da queda de Mors.
– É difícil fazer uma busca no escuro, com as comunicações restritas à linha de visão – reclamou Ophim, o
piloto que voava com ele.
– É – concordou Belkor.
Belkor montara uma equipe de gente que lhe devia favores, gente que usava uniforme, mas não tinha
qualquer lealdade especial ao Império, gente que faria o que pedisse sem muitas perguntas. Ele inventara uma
história, é claro: os rebeldes que tinham derrubado a Perigo estavam disfarçados de tropas imperiais, com a ajuda
aparente da moff Delian Mors. Além disso, tinha a localização geral da nave da moff, quase abatida pelas tropas
imperiais leais. Belkor disse a seu pessoal que eles faziam parte de um grupo seleto, em quem con ava, porque
não sabia a profundidade que a conspiração poderia alcançar.
Se alguém suspeitou da história, não comentou nada. Deviam a Belkor os seus cargos e as regalias do poder; a
Mors, não deviam nada.
– Repitam a varredura na zona de busca – transmitiu aos quatro V-wings que escoltavam a nave de busca e
salvamento. – Adotar escalonamento de comunicação. Preciso saber o que vocês enxergam.
Reconheceram a ordem e desviaram para vasculhar de novo. Escalonaram a formação para que uma nave
sempre estivesse em contato com a seguinte, e assim por diante, até alcançar a nave de Belkor. Manter a
formação exigia atenção constante e limitava a capacidade de busca.
– Notícias dos V-wings da ala sul? – indagou a Ophim.
– Nada, senhor.
Belkor espiou o olhar para fora da bolha de vidro da cabine. A maior parte dela era iluminada com a tela
suspensa do elaborado conjunto de sensores da nave. A própria bolha fornecia a ampli cação de luz, permitindo
a ele que perscrutasse o terreno lá embaixo como se fosse m de tarde. As orestas de Ryloth se espraiavam lá
embaixo, orladas ao sul por uma faixa desértica pontilhada de penedos.
Cerrou as mandíbulas, frustrado.
– Senhor, eu retiro o que disse – falou Ophim, rmando o fone de ouvido com o dedo. – Um dos V-wings
avistou fumaça.
– Onde?
Ophim apontou a localização na tela – perto do núcleo de retransmissões equatorial. A fumaça provavelmente
resultava do ataque ao núcleo que Belkor havia facilitado.
Mesmo assim, ele não tinha nada. Mors poderia ter caído perto do núcleo; a fumaça podia ser da nave dela.
– Vá – ordenou a Ophim. – Envie as coordenadas aos V-wings. Devem continuar a conferir a zona. Depois nos
encontramos no núcleo de retransmissões.
Ophim assentiu com a cabeça, acelerando, e a ágil nave de busca e salvamento atravessou os ventos cortantes.
– Mais informações do V-wing que avistou a fumaça? – quis saber Belkor.
Ophim balançou a cabeça.
– Ar morto, senhor. Des zeram o escalonamento de comunicação quando o senhor ordenou o ponto de
encontro no núcleo.
Belkor soltou um impropério. Ficaria sem saber de mais nada até se aproximar o su ciente para ver por si
mesmo. Em poucos minutos, ele se convencera de que a lançadeira de Mors perdera-se perto do núcleo e que a
moff morrera no impacto, mas as ondas da fantasia dele se quebraram nas rochas da realidade ao avistar as luzes
do núcleo ao longe.
– Novas informações do V-wing – resumiu Ophim. – A fumaça é do núcleo de retransmissões equatorial.
Mas...
– Mas?
– O núcleo sofreu um ataque, o que explica o sucesso do sinal de interferência, e acho que o senhor deve
entrar em contato com o comandante da estação.
– Como? Por quê?
– Senhor, o piloto do V-wing relata que a moff Mors esteve lá.
Belkor não sabia se tinha ouvido bem.
– O que foi que você disse?
Ophim repetiu meio cético.
– Conforme um dos nossos homens, a moff esteve lá.
– Quando? Como? Ela ainda está lá?
– Não sei, mas, pelo que entendi, agora ela já não está mais.
A mente de Belkor começou a avaliar as possibilidades. A moff sobrevivera à colisão da lançadeira e chegara ao
núcleo de retransmissões.
– Antes ou depois do ataque? – murmurou ele.
– Como é, senhor?
Belkor sentiu o suor escorrendo de novo sob a camisa.
– Nada, Ophim, só estou falando sozinho. Chame o major Borkas.
Pela bolha da nave, correu o olhar ao longe, avistando as ruínas fumegantes do núcleo equatorial. A equipe de
Cham zera um trabalho completo nos pratos, que jaziam inclinados em pilhas irregulares. Dezenas de droides,
homens e naves trabalhavam com o brilho de luzes portáteis, zunindo em torno de um dos pratos caídos, no
esforço para consertá-lo.
Belkor percebeu que não estava pensando claramente. Não aventara a possibilidade de que Mors tivesse
escapado da nave, muito menos de que tivesse parado nas mãos de um o cial como Steen Borkas. Mors já
poderia ter deduzido o envolvimento de Belkor nos fatos do dia. A nal de contas, ela nem tentou falar com ele
após o acidente. A moff poderia ter compartilhado suas suspeitas com Borkas, poderia estar a caminho da central
de comunicações. Belkor poderia voltar e topar com uma equipe de segurança à espera dele.
De repente se sentiu fraco, como se fosse um uido prestes a escorrer.
Ophim assentiu com a cabeça quando as comunicações foram restabelecidas. Belkor limpou a garganta e se
recompôs.
– Aqui é o coronel Belkor Dray. Estou falando com o major Borkas?
– Coronel Dray? – a voz não soava como a de Borkas. – O major Borkas não está aqui. Sou o capitão Narrin. O
major zarpou com a moff Mors há uma hora.
Belkor tou Ophim e cortou a conexão por um momento.
– Vocês comentaram algo sobre a... traição da moff?
– Não, senhor – disse Ophim. – O senhor falou que é preciso se certi car.
– Ótimo. – Belkor reativou a comunicação. – Zarparam para onde, Narrin?
– Ela, Borkas e um pelotão de stormtroopers acompanharam duas naves numa missão de resgate. VIPs que
escaparam da Perigo, pelo que entendi. Está aqui para ajudar? Senhor, esses VIPs devem ser mesmo muito
importantes para trazer todo o alto escalão para a faixa equatorial.
Você está por fora, pensou Belkor sem verbalizar. Tentou processar o que ouvira. A moff continuava à procura de
Vader e do imperador, ou seja, ela sabia ou ao menos acreditava que tinham sobrevivido à explosão da Perigo e ao
rescaldo que a seguira. Isso fazia sentido. A moff talvez pudesse salvar o cargo, ou pelo menos sua vida, se fosse a
heroína a liderar a equipe que encontrou Vader e o imperador. Mas ela nem tentara entrar em contato com
Belkor.
– A moff chegou antes ou depois do ataque à estação?
– Depois, senhor.
Isso podia explicar a situação.
– Ela despachou alguém para avisar a central de comunicações de que estava viva? Ou que ela estava
procurando Va... os VIPs?
– Deixe-me veri car, senhor – disse Narrin. Após um longo silêncio, o capitão voltou. – Não, senhor, ela não
enviou ninguém. Mas ela e o major estavam com pressa.
– Sem dúvida – disse Belkor, convicto de que a moff deduzira a traição dele.
– Senhor, eu não tenho as coordenadas que a moff e o major estão procurando, e, com as comunicações
reduzidas à linha de visão, não é possível alertá-los de que vocês estão a caminho.
– Tudo bem, capitão. Eu sei as coordenadas de busca.
– Senhor, me desculpe, mas o que diabos está acontecendo aí fora?
– Não tenho tempo para informá-lo plenamente, Narrin. Terroristas atacaram o Império. É tudo o que você
precisa saber agora. Quanto tempo até normalizar as comunicações?
– Estamos concentrando nossos esforços no prato três. Nove horas, senhor. Talvez um pouco menos.
Nove horas. Belkor tinha esse tempo para encontrar a moff e dar um jeito nela.
– O que podemos fazer pelo senhor? – quis saber Narrin. – Se pudéssemos ajudar a pegar esses terroristas...
– Nada – respondeu Belkor. – Já me ajudou bastante. Vamos atrás deles agora mesmo.
– Boa sorte, senhor.
No momento em que cortaram a conexão, Belkor disse a Ophim:
– Então, sabemos que Borkas está conspirando com a moff.
– Resgatar VIPs da Perigo, uma ova – disse Ophim.
– Concordo – disse Belkor, acompanhando o pensamento. – Devem ter ido se encontrar com outros
colaboradores ou com os terroristas.
– Vamos pegá-los, senhor – frisou Ophim.
– Vamos, sim – disse Belkor.
A moff tinha duas naves e alguns stormtroopers. Belkor tinha a nave de busca e salvamento e meia dúzia de V-
wings. Se conseguisse pegar a moff no ar, o assunto estaria encerrado num piscar de olhos.
– Aqui estão as coordenadas – mostrou ele, informando a Ophim o local onde Cham pensava que Vader e o
imperador tinham caído. – Alerte os V-wings e vamos continuar em nossa rota.
– Sim, senhor.
 
Vader pressentiu uma onda hostil e faminta percorrendo a selva fechada na direção deles. Os guardas reais
irromperam a linha das árvores correndo a toda velocidade, os fuzis de raios em punho. O sargento tinha
perdido o capacete e, no rosto mascarado de tatuagens, trazia o olhar arregalado de pavor. O chão tremia
ligeiramente, e a folhagem atrás dos dois sacudia com a aproximação de seja lá o que estivesse no encalço deles.
O capitão tropeçou na corrida, mas conseguiu se reequilibrar. Acenou para que Vader e o imperador recuassem e
gritou com a voz abafada pelo capacete:
– Fujam, meus senhores! Precisamos de um local mais defensável!
– Defensável contra o quê? – perguntou Vader, ativando o sabre de luz.
– Lyleks, meu senhor! Muitos...
Vader logo escutou, trazidos pelo vento, o estalido e o sibilar dos predadores do ápice da cadeia alimentar de
Ryloth. Pelo som, calculou uma dúzia das enormes feras estraçalhando a oresta e aproximando-se com rapidez.
– Lyleks – comentou o imperador. – Interessante.
– Meus senhores! – exclamou o capitão ao alcançá-los, ofegante. – Vão chegar daqui a pouco! É melhor nos
apressarmos!
Deez apontou o fuzil de raios contra as árvores.
– Poucos segundos, capitão – disse ele tenso.
Com o sabre ativado, Vader se posicionou ao lado do imperador. Vendo isso, o sargento e o capitão também
caram perto do imperador, com os fuzis prontos. Não precisaram esperar muito.
Os lyleks irromperam pelas árvores, enormes criaturas insetoides que saltavam sobre os troncos, contorcendo o
par de tentáculos perto das mandíbulas. Ao avistarem Vader, o imperador e os guardas, eles sibilaram e
avançaram adiante.
Os guardas dispararam os fuzis, desenhando listras vermelhas no ar. Os raios atingiram os lyleks, mas
ricocheteavam em suas carapaças, desviando para as árvores.
Vader levantou a mão, segurou um dos primeiros lyleks com a Força e o arremessou para o lado, no meio da
selva. A criatura atingiu um espesso tronco de árvore. Sua carapaça estriada, repleta de cravos, rachou ao meio, e
a criatura cou se contorcendo, impotente, na base da árvore.
Ao lado de Vader, o mestre fez um gesto com as duas mãos, desferindo com a Força dois relâmpagos,
atingindo dois lyleks mais avantajados, levantando as criaturas do solo e jogando-as para trás, rolando, sibilando,
gritando em agonia, morrendo.
Ao ndar o relâmpago, o mestre sacou o sabre de luz e deu um passo à frente, junto com Vader, um
protegendo o outro enquanto giravam e rodopiavam para escapar dos tentáculos e das raivosas mandíbulas dos
lyleks, decepando e atorando pernas, tentáculos, cabeças. Minutos depois, a calmaria recaiu na oresta; Vader e
o seu mestre continuavam de costas um para o outro no meio da carni cina. Os dois desativaram as armas. O
sargento e o capitão apenas os taram, empunhando inutilmente os fuzis de raios com as mãos enluvadas.
O imperador enviesou a cabeça, como se ouvisse algo bem longe.
– Uma nova horda.
Alertado, Vader sintonizou-se com a Força. Sentiu a aproximação deles.
– Bem mais numerosa – avisou o mestre.
– Este terreno é precário para nos protegermos de um ataque em massa, mestre – ponderou Vader, sentindo a
horda lylek aproximando-se. Um farfalhar veio da oresta, como uma onda de maré. – São centenas –
acrescentou, ouvindo o estalar dos membros, os sibilos dos lyleks, a barulheira insetoide. – No mínimo.
– Deveras – disse o imperador com a voz distraída, tão calma quanto água parada. – Vamos procurar um local
mais adequado para enfrentar essas criaturas, capitão.
O capitão suspirou de alívio.
– Sim, meu senhor. Siga-me. – Para Deez, ele disse: – Cuide da retaguarda, sargento.
Nisso, o capitão se virou e se embrenhou na oresta, saltando sobre as toras caídas e contornando os troncos
das árvores. Vader desativou o sabre de luz e acompanhou o ritmo do mestre. Notou que a oresta se aquietara
ao redor deles. Escutavam-se apenas a respiração dele e, ao longe, o estalar e o sussurro da horda de
perseguidores, a madeira quebrando, o ruidoso avanço coletivo dos lyleks. Eles estavam sendo alcançados.
– Não vejo nenhum deles ainda – falou Deez.
– Continuam em nosso encalço – disse Vader.
O Lorde presumiu que os lyleks poderiam farejá-los de alguma forma, pois ou tinham um forte senso de
audição ou usavam outro sentido para caçar.
O quarteto irrompeu numa clareira coberta de relva e arbustos e começou a atravessá-la a toda velocidade. A
respiração exausta dos guardas reais agora soava tão alta para Vader quanto o seu próprio respirador. Ele ainda
sentia os lyleks no encalço deles, cada vez mais numerosos, à medida que a sede de sangue atraía outros de sua
espécie. Imaginou que uma horda poderia eliminar a fauna de quilômetros quadrados de oresta.
– Depressa, meus senhores! – exclamou o capitão.
Faltava pouco para a travessia da clareira quando, atrás deles, os lyleks irromperam pelas árvores.
– Lá estão eles! – avisou Deez.
Vader olhou de relance para trás e avistou uns vinte lyleks saltando das árvores, uma verdadeira muralha
estalante de exoesqueletos repletos de cravos, tentáculos e imensas mandíbulas. Outros apareceram, e mais
outros, a horda brotando das árvores. Em sua avidez, eles se encarapitavam uns sobre os outros num emaranhado
de membros, garras e estalos.
As criaturas logo os viram, e proferiram um silvo coletivo e um estalar ansioso. Desengonçadas, atravessaram a
clareira, os membros grossos e o grande peso arremessavam solo e detritos. O quarteto alcançou a linha das
árvores no outro lado da clareira e mergulhou outra vez no emaranhado de troncos e raízes.
– Procurem um penhasco ou um túnel – disse Vader calmamente. – Um lugar onde possamos canalizar o
ataque deles.
– Estão se aproximando! – berrou Deez, olhando para trás e disparando com o ri e de raios. – Os raios
ricocheteiam nas carapaças!
O imperador fez um gesto com a mão livre, usando a Força para cortar as árvores. Elas caíram em cima da
horda, esmagando lyleks, que derrubaram outras árvores, esmigalhando outras criaturas. Os sobreviventes
galgavam sobre os mortos sem parar, em sua busca frenética.
O capitão sacou uma das granadas que carregava, ativou-a e jogou-a para trás, no meio da horda. O artefato
explodiu logo depois, o estrondo reverberando na oresta, derrubando outra árvore, e provocando guinchos de
agonia entre os lyleks.
– À direita, capitão – orientou o imperador. – Daqui a cem metros tem um túnel.
O capitão não questionou, mas Vader cou se perguntando como seu mestre sabia isso. O capitão descambou
para a direita enquanto os lyleks diminuíam a distância, com seus corpos enormes estalando nas árvores durante
a aproximação. A distância entre o quarteto e a horda diminuiu. Na corrida, os dois guardas disparavam seus
fuzis com uma das mãos, os disparos detonando fragmentos de troncos de árvore e atingindo os lyleks, sem,
entretanto, retardar o avanço geral da horda.
Alcançaram um barranco íngreme e os guardas se precipitaram colina abaixo, cambaleando e agarrando-se às
raízes para se manterem em pé na descida. Vader e o imperador saltaram lá de cima. Um riacho dividia o
barranco; no outro lado, havia uma íngreme muralha de rocha, raízes de árvores e solo que se estendia até onde
alcançava a visão, tanto à esquerda quanto à direita. Os lyleks continuavam a se aproximar.
– Para que lado, meu imperador? – indagou o capitão. – Não estou vendo nenhum túnel.
Os lyleks da vanguarda se espalharam na encosta do barranco, os membros compridos enterrando-se no solo,
os tentáculos agarrando-se em ramos e raízes enquanto se precipitavam ladeira abaixo.
Vader ativou o sabre de luz e permaneceu ao lado do imperador, veri cando a encosta para ver se localizava o
túnel. Nesse meio-tempo, o capitão e Deez atiravam em tudo que se movesse, os raios iluminando a escuridão.
Lyleks ciciavam e sibilavam.
– Mirem na cabeça! – exclamou Deez enquanto disparava. – Um raio na cabeça os derruba!
Mais e mais lyleks desceram o barranco, até parecerem uma avalanche fervilhante desmoronando colina
abaixo.
– Lá está! – apontou Vader en m ao avistar a abertura, um oval escuro no vale do paredão, com talvez dois
metros de altura, parcialmente bloqueado por raízes de árvores expostas tão grossas quanto um braço.
– Vá, sargento – disse o capitão a Deez enquanto todos se apressavam à boca do túnel. – E o imperador, e
Lorde Vader. Cuido da retaguarda. Vá!
Os lyleks despencavam na direção deles, escalando uns sobre os outros no embalo, os pedipalpos nos dois lados
de suas bocarras com tremores espasmódicos, como se já tivessem carne nas mandíbulas. Meia dúzia de carcaças
de lyleks se dependurava nas raízes ao longo do barranco, mas o resto continuava a perseguição.
O fuzil de raios do capitão abateu um lylek com um tiro na cabeça, depois outro, mas as criaturas só
continuavam a avançar. Dez ou mais alcançaram o fundo da ravina e galgaram descontroladamente em direção
aos homens, com tentáculos contorcendo-se e as mandíbulas trabalhando.
Vader levantou a mão, mergulhou na Força e soltou uma rajada de energia que arremessou os lyleks ao solo do
barranco, fazendo-os recuar parcialmente na encosta, e também as criaturas que vinham logo atrás,
transformando o avanço delas numa caótica cornucópia de membros e estalos agitados. Estilhaçavam-se uns aos
outros em seu frenesi frustrado.
Deez enveredou no túnel, seguido pelo imperador, por Vader – que desativou o sabre de luz – e en m pelo
capitão, que entrou de costas, continuando a disparar em plena retirada. O túnel, escuro como breu, abria-se um
metro adiante numa ampla caverna com passagens à esquerda, à direita e ao centro.
– A encosta deve estar crivada de túneis! – avisou Deez.
– Não parem! – gritou o capitão por cima do ombro, ainda disparando na boca do túnel. – Mexam-se, mexam-
se!
– Não – disse Vader, reacendendo o sabre. – Vamos car aqui.
O movimento cresceu na boca do túnel e, de repente, rompendo as raízes, um lylek se embrenhou nele, cheio
de dentes e sibilos, parando a meio metro do capitão. Vader empurrou o capitão para o lado, saltou à frente e
en ou o sabre de luz na boca da criatura até a lâmina sair pelo topo da cabeça. A monstruosa carcaça
estrebuchou. Atrás dela, outras dezenas de lyleks se precipitavam, tentando passar por cima dos companheiros
caídos. Vader curvou a cabeça, levantou a mão e liberou uma explosão de energia, provocando guinchos de dor e
fazendo os lyleks voarem para trás.
– Afastem-se – ordenou o imperador; Vader e o capitão recuaram.
O imperador fez um gesto casual, e o teto do túnel desabou numa chuva de pedras e terra. A frustração de
sibilos e rugidos se escutou em meio aos escombros. O quarteto se guiava pela luz do sabre de Vader. Ele o
desativou, lançando-os no breu. O capitão acendeu as luzes do capacete.
– Ouçam – frisou Deez, inclinando a cabeça. – Acho que tem algo lá embaixo. – Fez um aceno para o túnel da
esquerda.
Vader estendeu a mão com a Força, pressentiu uma horda de lyleks descendo no encalço deles pelo túnel
lateral.
– Tem razão, sargento – disse ele.
– Não devemos manter esta posição, meus senhores – opinou o capitão. – Eles vão nos atacar pelos dois lados.
Estalidos e sibilos dos lyleks se aproximavam cada vez mais ruidosos. Deez sacou uma granada. Num puxão,
Vader o deteve.
– Os túneis podem desabar – ponderou.
Deez pareceu envergonhado.
– Claro, Lorde Vader.
– Por favor, meu imperador – disse o capitão, gesticulando em direção ao túnel central.
– Ele tem razão, mestre – endossou Vader. – Devemos continuar.
– De acordo – disse o imperador, e eles se viraram e correram para o sinuoso túnel central, que serpenteava
em declive e se alargava.
Tinham percorrido talvez duzentos metros, penetrando cada vez mais nos subterrâneos, quando ouviram os
primeiros ruídos da perseguição dos lyleks atrás deles. Formações rochosas pontilhavam o solo e espessos
aglomerados de cristal pendiam do teto do túnel, mas não havia nada para construir um nicho defensável. Os
sibilos e estalidos ricocheteavam nas pedras, parecendo correr à frente deles.
– Nesse tipo de terreno, eles são mais rápidos do que nós – constatou Deez. – Vamos ter que dar meia-volta e
lutar.
Enquanto os lyleks se aproximavam, o túnel parecia fervilhar sob o ímpeto do avanço deles. Logo Vader pôde
ouvir o barulho estridente dos seus exoesqueletos raspando nas rochas.
– Estão quase em nossos calcanhares – avisou. O capitão cou para trás e se posicionou com Deez na
retaguarda, entre o imperador e a horda. Vader acendeu o sabre de luz para ao menos fornecer uma luz extra.
– Aí vêm eles! – exclamou o capitão e começou a disparar a esmo com uma das mãos por cima do ombro.
– Consigo enxergá-los! – avisou Deez, começando a atirar, também.
Os lyleks soltavam guinchos e sibilos.
– Usem as granadas – autorizou Vader. A caverna era ampla o su ciente para suportar a explosão sem
desmoronar.
Os dois guardas imediatamente ativaram e arremessaram as granadas; cinco segundos depois, o túnel atrás
deles reverberou com o som das explosões, gritos de lyleks e o estrondo de pedras caindo. A onda da explosão
rugiu desde os con ns do túnel. Vader e o imperador usaram a Força para desviar o grosso da onda, mas o
impacto dela arremessou os dois guardas reais de cara no chão, fazendo as armaduras rasparem nas rochas.
Vader se virou e usou a Força para colocar os dois guardas em pé. Deez sangrava pelo nariz, o olhar atordoado.
– Não vamos nos atrasar de novo por causa de vocês – avisou Vader. – A horda continua vindo.
Para con rmar o comentário, a barulheira dos lyleks em perseguição se ergueu lá atrás, numa onda de
estalidos, assobios e guinchos.
Vader se postou ao lado do mestre, e o quarteto prosseguiu túnel abaixo. Ele procurava um lugar onde
pudessem parar e manter a posição, mas o túnel não se estreitava em seu declive, mergulhando cada vez mais
nas profundezas do planeta.
Absorto na Força enquanto corria, fez um gesto para o teto e se apoderou de vários grandes pedaços de
estalactites de cristal. Vader os afrouxou com seu poder e, em seguida, deixou-os lá, pendurados, prestes a cair,
esperando que a vibração da horda provocasse a queda.
O túnel descia serpenteando à esquerda e à direita, mas Vader não avistou túneis laterais. Só o tubo único
escavando a crosta de Ryloth.
Lá atrás, veio o estrondo das colunas caindo – os cristais pendentes que Vader afrouxara – e os guinchos dos
lyleks esmagados. Mesmo assim, a horda prosseguia aparentemente inabalável. E cada vez mais perto deles.
No m de um longo trecho que descia em linha reta, Vader deixou que o restante do grupo o ultrapassasse e
olhou para trás. O capacete dele re etiu a escassa luz projetada pelo sabre de luz, e ele avistou a horda surgir na
volta do túnel, um oceano de pernas, tentáculos e mandíbulas galgando e contornando as estalagmites que
salpicavam o solo. O golpe das pernas encouraçadas e cravejadas delineava marcas em baixo-relevo na rocha.
Algumas das criaturas subiam pelas paredes como aracnídeos gigantescos, revestindo a superfície do túnel atrás
deles. Seus tentáculos oscilavam no ritmo da corrida, as mandíbulas trabalhando como se já mastigassem carne.
Vader não pôde evitar a sensação de ser conduzido a uma rota sem saída, talvez pelos lyleks ou talvez por seu
mestre.
Imergiu profundamente na Força e soltou da mão estendida uma onda de energia que preencheu a
circunferência do túnel. A explosão atingiu a horda, rachando exoesqueletos, estilhaçando estalagmites e
arremessando para trás uns vinte ou mais lyleks que vinham à frente, numa chuva de corpos fraturados e
fragmentos de pedras. Debatendo-se em meio a guinchos e estalidos, os lyleks que vinham atrás se embaralharam
por cima dos mortos e feridos, com olhos xos em Vader.
Pronto para recebê-los e trucidá-los um por um ali mesmo, Vader escutou uma voz no túnel.
– Venha, Lorde Vader!
Desativou o sabre de luz, virou-se e correu adiante, usando a Força para aumentar sua velocidade e alcançar
os outros três.
– O que aconteceu? – indagou Deez, mas Vader o ignorou.
Ao chegar ao lado do mestre, expressou seus pensamentos.
– Sim – concordou o imperador. – Os animais estão nos encurralando... sem querer, eu acho.
– Estão nos encurralando para onde? – indagou Vader.
– Vamos saber em breve – respondeu o imperador. – Acho que devemos nos preparar.
Eles se apressaram pelo túnel, que en m começara a se estreitar.
– Tem luz adiante – avisou o capitão. – Olhem!
Vader viu um tênue brilho verde saindo de uma abertura circular com cerca de um metro e meio de diâmetro.
Em breve, o túnel se transformou numa espaçosa caverna com trinta metros de diâmetro, um cisto hemisférico
no planeta. Pararam na abertura, a cinco metros de altura, na parede do cisto. Aglomerados de cristal brilhante
brotavam das paredes e do chão – a fonte da luz ambiente.
Centenas de lyleks se amontoavam no solo do cisto, todos cuidando daquela que Vader supôs se tratar a
rainha da colônia, uma lylek de abdômen inchado e com o triplo do tamanho dos demais. Sacos grandes e
cinzentos de aparência coriácea grudavam-se às paredes em montes de dez ou vinte aqui e acolá – sacos de ovos.
Doze ou mais aberturas de túnel pontilhavam as paredes e o teto, todas do mesmo tamanho daquela em que os
quatro homens estavam. Por um instante, ninguém falou, e no túnel se escutou apenas a respiração ofegante dos
guardas e o respirador de Vader.
De repente, a rainha lylek percebeu a presença estranha. Ela balançou a cabeçorra na direção deles e, com os
olhos xos no grupo, ciciou um alarme, um som que ricocheteou nas paredes da caverna, ecoante. O restante
dos lyleks na caverna também se virou na direção deles, a movimentação provocando um estalido coletivo. Os
insetoides sibilaram em uníssono e os tentáculos contorciam-se de agitação. Lá atrás, no túnel, os lyleks
continuavam a persegui-los.
– Agora sabemos para onde estávamos sendo encurralados – constatou o imperador.
Vader se virou para Deez e o capitão.
– Vocês dois sustentem a posição aqui o quanto puderem.
O capitão enrijeceu o corpo.
– Vamos car com o nosso imperador.
– Obedeça à ordem de Lorde Vader – disse o imperador.
– O que o senhor vai fazer, então? – interpelou Deez, enquanto ele e o capitão empunhavam as granadas de
mão, ativando-as e esperando os lyleks em seu encalço aparecerem.
– Vamos matar todos eles – disse Vader, in amando o sabre de luz.
O imperador deu uma gargalhada, sacou o próprio sabre de luz e ativou a lâmina vermelha.
Lá da cabine, Faylin respondeu ao chamado.
– Kallon está quase ao alcance. Pronto... sintonizado.
A voz de Kallon soou no comunicador de Cham e Isval:
– Cham, descobri a nave auxiliar do imperador.
– Cadê você? – indagou Cham, instintivamente espiando pela vigia da escoltadora, embora não enxergasse
nada além da noite.
Uma pausa e, em seguida:
– Estou em terra rme, perto da nave. Escute, sei que...
Cham deixou escapar um palavrão.
– Ordenei que só zesse vigilância, Kallon!
– As varreduras não mostraram sinal de vida. Por isso...
– Nem sinal de vida? Cadáveres? – Após uma pausa demorada, Cham acrescentou: – Não consigo enxergá-lo,
Kallon. Por isso, não adianta fazer que sim ou que não com a cabeça...
– Certo, certo. Sim, há três corpos, e um deles é um guarda real. Ou seja, estiveram aqui, Cham. Também há
vestígios de um acampamento.
– Acampamento? Kallon, eles podem voltar. Quero que você volte para sua nave e...
– Vestígios de um acampamento, eu falei. E, se eles estivessem por perto, já teriam ouvido minha nave e
voltado. Foram embora, Cham, e acho que você precisa mandar Goll para cá.
Cham sentiu a pele esquentar e seus lekkus se empertigarem.
– Acha que eles estão a pé na oresta?
– Goll terá que con rmar, mas acho que sim – opinou Kallon. – Se uma nave os tivesse resgatado, eles teriam
levado os corpos dos guardas, não? Seja como for, não há sinais de que uma nave de bom porte tenha pousado
nas imediações. Claro que não sou especialista em rastrear, mas...
– Mas acha que estão a pé. Lembre-se, não enxergo você assentir.
– Sim, acho que estão a pé.
Cham mal conteve um sorriso. Isval, não. Ela abriu um sorriso intenso e assentiu com a cabeça.
– Estamos descendo, Kallon – tranquilizou Cham. – Espere aí. Estou falando sério.
Isval estendeu a mão e apertou o ombro dele.
– Estão a pé, Cham. Vamos pegá-los. – Os estreitos limites da nave não davam espaço para o habitual vaivém
de Isval, então ela se limitou a se remexer, impaciente. – Não podem ter ido longe. Não conhecem o terreno.
Talvez estejam feridos pelo acidente. E se locomovendo devagar.
– Ou não – resumiu Cham, tentando refrear a ansiedade dela, embora ele também a sentisse. – Pouse-nos
perto de Kallon, Faylin.
Isval parou de se inquietar e encarou Cham com um olhar de preocupação. Ela repousou a mão no ombro
dele.
– Tudo bem com você? Tudo bem mesmo?
Para tranquilizá-la, ele assentiu com a cabeça.
– Estou bem. Vamos fazer o que viemos fazer.
Ela parecia cética, mas concordou e foi se sentar ao lado de Goll.
Cham a observou se afastar, lamentando as palavras que lhe dissera. Ele a modi cara com elas. Ao contrário
dele, Isval nunca tinha teve uma vida fora do Ryloth Livre. Cham não avaliara o quanto ela precisava do
movimento, o quanto precisava dele. Ventilara suas próprias preocupações, mas, ao fazê-lo, havia minado os
alicerces dela.
Perdera uma ótima oportunidade de car calado.
 
Isval sentou-se ao lado de Goll, minúscula em comparação àquele corpo maciço. Ele cheirava a suor e a metal
lubri cado.
– O quanto você escutou da conversa? – cochichou ela.
– Escutei que eles estão a pé.
– Não foi isso que eu quis dizer.
– Fiz questão de não ouvir – frisou ele, olhando reto para frente.
Ela o tocou no antebraço; veias saltavam nos músculos dele.
– Quanto?
Ele encolheu as montanhas de seus ombros.
– O su ciente.
Ela assentiu e cou sentada em silêncio até falar:
– Ele está errado. O movimento não é só uma ideia. Também é ele.
– Eu sei – assentiu Goll.
Ela mostrou o punho cerrado.
– Então, nada acontece com ele. Concorda? A partir de hoje, vamos ter que reconstruir o movimento, e, para
isso, vamos precisar dele.
Goll fungou e, em seguida, bateu no delicado punho de Isval com o calejado penedo do seu próprio.
– Concordo. E que tal nada acontecer conosco também?
– Acha que consegue rastreá-los? – indagou ela. – Quer dizer, Vader.
– Consigo – garantiu Goll.
– Até mesmo no escuro?
Ele se virou e a tou como se rogasse a ela que deixasse de fazer perguntas idiotas.
– Ótimo – disse Isval. – Ótimo.
A voz de Faylin surgiu pelo comunicador da nave:
– Chegamos. Vou descer.
Faylin baixou a escoltadora pelo dossel da oresta, os galhos das árvores raspando o casco, e pousou no solo.
– Não saia daqui – Cham instruiu Faylin. – Mantenha a varredura ligada. Informe se captar qualquer coisa.
Goll mandou a equipe dele permanecer a bordo para minimizar as pegadas nos arredores do acampamento e
não prejudicar o rastreamento inicial. Em seguida, ele, Cham e Isval desembarcaram na úmida oresta
equatorial. Insetos zumbiam e estalavam. Nas árvores, animais guinchavam, rugiam e urravam.
Kallon esperava por eles na clareira, as mãos entrelaçadas sobre a vasta barriga e um sorrisinho no rosto. Os
destroços de uma nave auxiliar imperial, ainda intactos, jaziam na clareira.
– O acampamento ca ali. – Apontou a Goll, agitando o polegar por cima do ombro, mostrando alguns
detritos, restos de uma fogueira e o material esfarrapado de uma barraca multiclimática.
– Não caminhei lá perto.
– Perfeito – disse Goll. – Corpos?
– Dentro da nave. Não toquei neles, também. Só dei uma espiada.
– Perfeito – repetiu Goll, com o semblante sério.
Acompanhada de Cham, Goll e Kallon, Isval se aproximou da nave caída. Goll averiguava o solo, a nave, as
árvores, e Isval só podia imaginar que ele tirava conclusões que escapavam da percepção dela.
A nave auxiliar jazia de anco, enterrada meio metro no barro remexido da oresta. Um galho lascado
trespassara o vidro da cabine. Escurecido por artilharia de raios, o casco possuía bolhas de calor. Isval supôs se
tratar do efeito de uma reentrada mal controlada. Pedaços de equipamentos destruídos jaziam espalhados no
terreno ao redor da nave. Goll ia catando fragmentos enquanto caminhava.
– Um gerador, um comunicador portátil. – E largou uma peça metálica.
– Destruídos no acidente? – indagou Cham.
Goll ergueu o olhar para o céu noturno, depois o baixou ao chão da clareira. Devagar, rumou à borda da
oresta, parando de vez em quando para examinar um dos buracos no relvado. Por m, virou-se para responder à
pergunta de Cham:
– Acho que não. Esses buracos são das armas de raios de uma nave. De Nordon, quem sabe?
– É possível – avaliou Cham. – Nordon surpreendeu Vader e o imperador na clareira e disparou contra eles.
Faz sentido.
– Exceto a parte sobre como Vader e o imperador os derrubaram – disse Isval, e Cham não respondeu.
– Deixe-me dar uma olhada nos corpos – pediu Goll.
– Temos de ser rápidos – frisou Cham. – Eles têm uma vantagem considerável.
– Certo.
Cham, Kallon e Isval observaram Goll escalar o anco da nave e desaparecer num buraco que parecia ter sido
cortado através da antepara. Enquanto esperavam, Isval tou a sombria muralha da oresta, sabendo que Vader
estava lá em algum lugar. Ansiava por capturá-lo antes que as tropas imperiais o salvassem. En m, Goll se ergueu
e saiu da nave caída.
– Os corpos pertencem a dois pilotos e um guarda real. Os pilotos morreram de ferimentos causados pela
colisão. O guarda morreu com um raio de arma na cabeça. Vou ver se consigo encontrar pegadas.
 
– Captei duas naves na varredura – falou Belkor, checando os sensores de reconhecimento. – Ou melhor, três,
mas todas estão no solo.
A nave de reconhecimento tinha uma matriz de sensores bem mais e caz do que as outras naves. Por isso,
Belkor sabia que as outras naves captadas por ele não conseguiam detectá-lo em suas próprias varreduras.
– Mors pode ter embarcado em outra nave – falou Ophim empolgado. – Senhor, eu consigo apoio imediato de
dois V-wings. Se pegarmos Mors agora, talvez possamos dar um m rápido a isso tudo.
– Espere – disse Belkor, observando a leitura na tela suspensa.
Ergueu as sobrancelhas.
Ophim também observava os dados.
– Escoltadora imperial e transporte nativo. A terceira é uma nave auxiliar imperial, bem dani cada. – Franziu
a testa. – Não faz sentido.
Para Belkor, fazia. Era Cham ou o pessoal de Cham; só podia ser.
Ophim o tou de olhos bem abertos.
– Senhor, pode ser Mors e os traidores do Ryloth Livre com quem ela conspirou. Vou acionar os V-wings.
Estendeu a mão para apertar o botão do comunicador, mas Belkor susteve o movimento.
– Primeiro, vamos dar uma olhada mais de perto.
– Mas, senhor, se eles nos captarem nas varreduras...
– Uma olhada mais de perto, Ophim – frisou Belkor, com rmeza. – Precisamos... ter certeza.
– Certo, senhor.
Ophim baixou a altitude da nave de reconhecimento, praticamente raspando o dossel da oresta. Enquanto se
aproximavam, Belkor sentiu a pele esquentar. O suor escorria-lhe pelos ancos do corpo, úmido e pegajoso.
Sentia o próprio fedor. Seu coração martelava. Ele sabia o que precisava fazer, mas colocar em prática seria difícil.
– Voando baixo, senhor. Isso deve nos manter fora das varreduras inimigas por um tempo.
Belkor assentiu com a cabeça, mas não conseguia falar. Esperou até que sua nave estivesse perto o su ciente
para que o grupo no solo superasse o sinal de interferência que poluía as ondas de rádio.
– Acho que ainda não nos enxergam, senhor – sussurrou Ophim, sem necessidade, mas, sem dúvida, por
instinto. – Estão no solo. Talvez nem tenham uma varredura em funcionamento.
Belkor pegou o comlink criptografado do bolso e saudou Cham, torcendo um pouco para que ele não
respondesse.
 
Goll circulava pelo acampamento, lançando um tênue feixe vermelho que não atrapalhava sua visão noturna,
enquanto veri cava o terreno em busca de sinais. Com cautela, circundou as imediações do acampamento, às
vezes olhando de relance para as árvores. Por m, parou, acenou positivamente com a cabeça e encarou Cham.
– Peguei o rastro deles – a rmou apontando com o queixo. – Por ali. Um grupo de quatro.
– Tem certeza? – indagou Isval, recebendo, em seguida, um olhar fulminante.
– Ele tem certeza – respondeu Cham. Sentiu um sobressalto ao zumbido do comlink criptografado que
portava no bolso. Ele o pegou na mão e olhou para o objeto como se fosse uma coisa alienígena.
– O que houve? – quis saber Isval. – Isto não é...
– Belkor.
– Como?
Ele deu de ombros e, em seguida, chamou Faylin em seu comunicador normal.
– Alguma coisa na varredura?
– Tudo calmo, Cham.
Nem tanto, pensou Cham e respondeu ao contato de Belkor.
 
A voz de Cham uiu pelo comlink criptografado.
– Belkor? Cadê você? Não aparece no escâner.
Belkor ignorou o Twi’lek e se exibiu para Ophim, que só escutava metade da conversa – a dele.
– Aqui é o coronel Belkor Dray. Desativem as naves imediatamente e se rendam todos.
– Do que você está falando? Se isso for...
– Sábia decisão – disse Belkor e cortou a conexão. Guardou o comlink no bolso. Avisou a Ophim: – Deixa que
eu piloto.
– Senhor? Claro, senhor.
Ophim transferiu o controle da nave a Belkor.
– O que é aquilo? – perguntou Belkor, gesticulando para algo imaginário fora da bolha da cabine.
– O que é o quê, senhor? – indagou Ophim, virando-se para tar a noite de Ryloth. – Não vejo nada. Não tem
nada na varredura.
Belkor sacou a arma de raios e com dedos suados disparou um raio na nuca de Ophim. Sangue respingou no
vidro da bolha. Por um momento, Belkor sentiu-se tonto, prestes a vomitar, mas se conteve.
Desviou o olhar do sangue, xingando, racionalizando, pedindo desculpas. O comlink criptografado zumbiu
em seu bolso. Ele se recompôs antes de responder ao chamado.
– Estou no ar, Syndulla. A dez quilômetros ao sul da sua posição.
– Como nos achou? Por que não consigo visualizá-lo na varredura?
– É uma longa história. Não pode me ver porque estou numa bolha de reconhecimento. É a nave auxiliar do
imperador? Há corpos a bordo?
– Sim, mas não o de Vader nem do imperador. Eles dispersaram a pé.
– Como sabe disso?
– Sabemos.
Belkor silenciou a conexão e proferiu xingamentos em alto e bom som enquanto corria o olhar pela
interminável expansão da oresta equatorial, estendendo-se em todas as direções. Se Vader e o imperador
estivessem a pé, seria quase impossível encontrá-los.
– Estamos no encalço deles – acrescentou Cham.
Belkor apertou o botão no comlink com tal ímpeto que o dedo doeu.
– Como?
– Tenho pessoas capazes de fazê-lo. Nascemos nesse planeta, Belkor. A gente o conhece. E a propósito, o que
você tem aí para nós?
– Nada que você possa usar. Está por sua conta e risco. Mors encontra-se por aí em algum lugar, e acho que ela
sabe de tudo. Preciso encontrá-la o quanto antes. – Belkor olhou para Ophim, e sentiu a raiva fervilhar nas veias.
– Ela deveria ter sido morta no espaço, Syndulla! Todos deveriam ter sido! Forneci as malditas identidades! Isso
já poderia estar acabado!
Cham cou em silêncio por um tempo e disse:
– Mas ainda não acabou. Ela está a pé? Por que acha que ela sabe?
Belkor rangeu os dentes e pestanejou, espantando a visão embaçada. Deu-se conta de que perdia o
autocontrole, da mesma forma que perdia o controle dos fatos.
– Mors está numa nave com vinte stormtroopers do núcleo equatorial. E acho que ela sabe, porque veio para
cá em vez de ir à central de comunicações. Também está à procura de Vader e do imperador.
– Certo – falou Cham. – Deixe-me pensar. Fique na escuta.
Em vez disso, Belkor, preso pelo cinto de segurança e incapaz de caminhar para lá e para cá, mexeu
nervosamente no uniforme, no quepe, no cabelo. Imaginou Cham trocando ideias com seu pessoal, pensando na
melhor maneira de acuar Belkor. Por m, Cham reapareceu no comlink.
– Escute-me, Belkor. Você vai nos ajudar a pegar Vader. Daí eu vou te ajudar a pegar Mors. Daí isso vai acabar.
Ofegante, Belkor tentava não olhar para o cadáver de Ophim.
– Está na escuta, Belkor? Agora, diga: o que você tem aí para nós?
– Estou... sozinho na nave de reconhecimento, mas tenho seis V-wings veri cando a zona do mapa, em busca
de Mors. Estabelecemos uma formação escalonada para nos comunicarmos.
– Pode con ar na tripulação dos V-wings?
Belkor deu uma risada entredentes e percebeu a histeria nela.
– Para matar Mors? Sim. Eu a transformei na traidora que derrubou a Perigo. Mas para matar Vader e o
imperador? Não. Para ajudar os terroristas Twi’leks? Não, não pode con ar neles para isso, Syndulla. Não.
– Certo, então anote o que vamos fazer – instruiu Cham. – Mantenha seus V-wings no ar à procura de Mors.
Se você ou seus homens avistarem a nave dela, derrubem-na. Mas os mantenha em formação escalonada caso
precisemos deles. O tempo inteiro, permaneça em alcance de comunicação comigo enquanto rastreamos Vader e
o imperador. Mantenha intacto o escalonamento de comunicação, pois, quando eu solicitar apoio, quero os V-
wings prontos para entrar em ação.
– Eles não vão te ajudar! Não me ouviu? E jamais vão disparar contra o imperador!
En m a voz de Cham perdeu a calma:
– Eles nem vão saber, Belkor! Não no escuro! Não no meio desta folhagem. – O Twi’lek baixou a voz. – Vou
transmitir as coordenadas, você as repassa e eles fazem o ataque. E isso apenas se eu precisar deles. Só em último
caso.
Belkor não conseguiu evitar o sarcasmo no tom de voz:
– Sempre pronto para qualquer contingência. Um dia ainda vai colocar os pés pelas mãos, Syndulla.
– Talvez, mas não hoje, Belkor. Nenhum de nós vai. Hoje não.
– Não vou colocar minhas naves à sua disposição, Twi’lek – retrucou Belkor. – Mors pode deixar a área e voltar
à central de comunicações. Eu posso voltar para lá e deparar com uma equipe de segurança à minha espera.
– Você não está raciocinando direito – concluiu Cham. – Ela desconhece a profundidade da conspiração, por
isso veio atrás das únicas pessoas que sabe que não estão envolvidas: Vader e o imperador. Ela não vai a lugar
algum antes de alcançá-los. Con e em mim, Belkor. Se me ajudar a pegar o imperador, eu garanto que você vai
pegar Mors.
Belkor ouviu as palavras, absorveu o signi cado delas, mas não foi capaz de analisá-las. Sabia que estava
exausto. Estressado demais para pensar com clareza. Ele não estava raciocinando direito. Queria voltar atrás,
recomeçar o dia, tomar decisões diferentes. Não queria ter sido o responsável pela morte de centenas ou
milhares de imperiais a bordo da Perigo. Ele não queria um cadáver sentado ao lado dele. Deveria dar um tiro de
raios na boca. Sabia que deveria, mas também sabia que não tinha coragem de fazê-lo. Em vez disso, olhou para
fora da bolha da cabine, respirou fundo e soltou um grito até acabar o fôlego e a voz car rouca.
– Vamos dar um m nisso, Syndulla.
 
Cham en ou no bolso o comlink criptografado, a testa franzida. Sentiu um pouco de pena de Belkor. Cham o
forçara a um beco sem saída. Não havia escapatória a Belkor além da morte. A única questão era se ele primeiro
enfrentaria um inquisidor imperial. Balançou a cabeça e os lekkus.
– Faylin, você e Kallon se posicionem a intervalos de meia hora logo atrás de nós. Vou fornecer direção e
distância. Não nos percam. Podemos precisar de vocês para uma retirada.
– Entendido – con rmou a dupla.
– Belkor? – indagou Isval.
– Instável – avaliou Cham.
– Sim – disse Isval, conferindo as baterias de energia das armas de raios.
– Vai nos rastrear na nave de reconhecimento, e, se precisarmos de V-wings para um bombardeio, podemos
chamá-los.
– Vader abateu duas de nossas fragatas armadas sem apoio aéreo. Não sei se...
Cham a interrompeu, a voz um pouco mais categórica do que desejava:
– Tem ideia melhor, Isval? Só estou fazendo o que posso, usando os recursos de que disponho. Melhor ter V-
wings do que não ter, não acha?
No começo, Isval não gostou do tom dele, mas então escureceu a pele e pronunciou o queixo.
– Sim, é melhor.
Ela deu meia-volta, e Cham a observou se afastando. Parecia que ele sempre a observava se afastar.
– Pronto, Goll? – indagou Isval, guardando as armas de raios nos coldres.
– Pronto – con rmou o corpulento Twi’lek.
– Cham e eu vamos com você na vanguarda. Posicione o resto de sua equipe em formação padrão, vinte
metros atrás. Vamos lá, pessoal.
– Vocês a ouviram – berrou Goll ao grupo dele, e eles assentiram com as cabeças.
– Mantenham silêncio, pessoal – recomendou Cham. Para terem mais chances, eles precisavam apanhar Vader
e o imperador desprevenidos.
Isval, Goll e Cham se embrenharam na oresta, Goll guiando-os tão rápido quanto possível para acompanhar o
rastro de Vader e do imperador. Só depois que estavam no meio da mata, Cham se perguntou se realmente seria
possível apanhar Vader desprevenido.
 
Mors pilotava com um dos o ciais de Steen como copiloto. Metade dos stormtroopers e mais quatro homens
de Steen do núcleo de retransmissões viajavam no habitáculo de passageiros da lançadeira. Mors voltou o olhar
para a noite de Ryloth. Duas luas do planeta tinham se erguido, fantasmagóricas, em fase crescente, lançando o
pálido luar sobre o tapete das copas arbóreas que se estendia lá embaixo. A imensidão escura da oresta
equatorial se abria por todos os lados, até onde alcançava a visão de Mors, muitas vezes fragmentada por
clareiras e barrancos profundos.
O terreno intimidava Mors. Ela dirigia um gabinete; não tinha experiência em operações de busca. Muito
menos Steen. E nenhum dos outros. Com o auxílio do computador da nave, um jovem o cial de Steen
improvisou uma zona de busca, mas ela era muito ampla, e Mors nem tinha certeza do que estava procurando:
uma nave abatida, mas na maior parte intacta? Um campo de destroços? Sobreviventes a pé? Cadáveres? Por isso,
realizavam a busca com lentidão, com cuidado extra, debruçando-se sobre os resultados da varredura e torcendo
para ter sorte.
– Isto signi ca algo? – perguntou o copiloto, apontando os sinais de vida na varredura.
O barrigudo o cial de meia-idade tinha orelhas tão grandes que pareciam velas de um barco sob a aba do
quepe.
– Fauna – explicou Mors, veri cando a varredura. – Grande. Um lylek, suponho. Estão por toda a parte nas
orestas, já ouvi falar.
O copiloto suspirou com impaciência.
– Mil e poucas naves e cápsulas desceram da Perigo. Não avistamos nenhuma. E também não avistamos outra
nave de busca e salvamento. Eu achava que não seríamos capazes de voar nem dez quilômetros sem esbarrar
numa coisa ou noutra, mesmo que só por acaso.
– Pensou errado – disse Mors. – É um planeta grande, e a onda de choque da explosão deve ter dispersado
bastante as cápsulas. Elas estão espalhadas por todo o hemisfério ocidental. Com as comunicações restritas à
linha de visada, é como estar num bote e tentar encontrar mil boias espalhadas no oceano. Você pode passar dias
sem encontrar uma boia ou avistar outro barco, e talvez passaria. Francamente, é uma sorte termos ao menos um
ponto de partida.
– Imagino que sim – ponderou o copiloto. Acenou com a cabeça para fora da cabine. – Ponto de partida ou
não, é muito espaço lá embaixo, minha senhora.
Mors se limitou a assentir – sabia que veri cava milhares de quilômetros quadrados de terreno inóspito, o que
tornava as varreduras lentas e duvidosas.
Pela décima vez desde que saiu do núcleo de retransmissões, ela cou se perguntando se cometera um erro ao
ir atrás de Vader e do imperador. Ponderava se não deveria ter pegado Steen e os stormtroopers e voado à central
de comunicações, feito a prisão de Belkor, retomado o controle das operações e depois ido atrás de Vader e do
imperador.
Entretanto, se a conspiração de Belkor tivesse tentáculos mais profundos entre o pessoal do comando, Mors
seria morta sob algum pretexto muito antes de chegar à central de comunicações. Ou talvez retomasse o
comando, mas, até conseguir fazê-lo, Vader e o imperador seriam mortos pelos rebeldes, que também
procuravam por eles. Não, a única alternativa era, antes de tudo, encontrar Lorde Vader e o imperador, depois
reunir exércitos leais e, então, tentar depor Belkor.
Mas, para encontrá-los, precisaria ter mais sorte do que habilidade.
Esfregou os olhos cansados, tou a lua na imensidão e voltou ao trabalho de estudar os resultados da
varredura.
 
Cham e Isval mantinham-se a vários passos atrás de Goll, deixando o enorme Twi’lek realizar o trabalho sem
cortes ou distrações. Goll trabalhava célere e mudo, exceto por alguns resmungos esporádicos ao examinar o
chão, uma árvore, folhas, arbustos. Mantinha-se carrancudo o tempo todo; na testa, um vinco profundo como
um dos barrancos da oresta. Parou com as mãos nos quadris, como se estivesse analisando a direção do vento e,
em seguida, prosseguiu. Repetidas vezes, Cham chamava Faylin, Kallon e Belkor, para que eles mantivessem o
ritmo em suas naves. Sempre tinha um ou outro comunicador na mão.
– Daqui a pouco, você vai começar a fazer malabares com estes trecos – disse Isval.
Cham abriu um sorriso ao chamar de novo Faylin e Kallon para lhes fornecer sua posição. Ele mandou que
não cassem no ar mais tempo que o necessário, porque isso facilitaria uma possível localização nas varreduras
por eventuais naves imperiais que estivessem na área. Só precisava que eles se mantivessem ao alcance da
comunicação.
De repente, Goll aprumou o corpo, a cabeçorra enviesada. Passou a mão no lekku direito. Olhou à esquerda, à
direita.
– O que... – começou Isval, mas Goll a fez calar erguendo a mão.
Sinalizando que esperassem, ele caminhou adiante, mantendo a tênue lanterna vermelha junto ao solo
enquanto atravessava as árvores e os arbustos. Isval não tinha ideia do que ele observava, mas sua tensão era
óbvia, com base na curvatura dos ombros. Isval também curvou os próprios ombros, tensa, segurando as armas de
raios com rmeza. Respirou fundo.
Um suave assobio de Goll os autorizou a prosseguir. Cham e Isval o encontraram no limite duma clareira, com
as mãos na cintura e o olhar altivo.
– Estão enxergando? – perguntou quando o alcançaram.
A clareira se estendia além dos limites da visão noturna de Isval.
– Só vejo uma clareira – confessou ela. – O que eu deveria ver?
– Não era uma clareira há pouco tempo. Não percebem todos estes galhos quebrados? O solo revirado? As
árvores atoradas?
Depois que Goll os revelou, os detalhes se tornaram óbvios.
– Uma horda – concluiu Cham.
– Sim – falou Goll suavemente. – E aposto que estavam atrás do grupo do imperador. A diferença de tempo
está certa.
– Lyleks? – indagou Isval, impressionada com o número de animais necessário para aniquilar uma faixa tão
grande da oresta. Eles tinham levado tudo de roldão pelo caminho. – Como podemos seguir Vader agora?
– A horda apagou as pegadas humanas – disse Goll –, mas, quando uma horda está no encalço de alguém,
quase sempre o captura. Basta a seguirmos.
– E... e se nós a encontrarmos? – quis saber Isval. Ela nunca tinha visto um lylek de perto e não queria mudar
isso.
– A melhor pergunta é: e se não a encontrarmos? – disse Cham, deixando a insinuação no ar.
Isval captou o signi cado: se Vader e o imperador fossem capazes de lidar com uma horda de lyleks, seria
difícil imaginar que um grupo de combatentes em prol da liberdade dos Twi’leks representasse muitos
problemas.
– Já fomos longe demais para desistir agora – disse ela.
– Sim, e é o que eu sempre digo a Belkor – recordou Cham a ela, e isso a fez parar. – Se toparmos com uma
horda, estamos todos mortos.
Goll concordou com um resmungo.
– Mesmo assim – disse Isval, pensando em Pok, Eshgo e Drim e em todos os outros mortos nas mãos de Vader
e do Império. – Mesmo assim.
Ela tou Cham, tentando convencê-lo a tomar a decisão certa.
Um longo momento se passou até Goll falar novamente:
– Então, o que vamos fazer, Cham?
– Seguir a horda – a rmou Cham, com um gesto para a trilha que os lyleks tinham aberto no solo da oresta. –
Já fomos longe demais para desistir agora.
Vader deixou-se enredar pela Força, embebeu-se nela e, utilizando-a, ampli cou e canalizou sua raiva e seu
ódio onipresentes. Ao seu lado, o imperador também desenfreou o próprio poder e imergiu na Força. Ao mesmo
tempo, saltaram da boca do túnel.
Quando os dois pisaram no solo, um enxame de lyleks avançou, centenas, uma onda de membros pontudos e
mandíbulas estalando. No ataque, erguiam-se sobre as patas traseiras e usavam os cravos das pernas dianteiras
como lanças. Trepavam uns sobre os outros na ânsia de matar e se alimentar.
Estendendo a mão enluvada, Vader descarregou uma explosão de energia que estourou dois lyleks que se
precipitavam contra ele, jogando uma chuva de entranhas e pedaços de carapaça nos que vinham atrás. Ao
mesmo tempo, o mestre desencadeou uma onda destrutiva de poder que lançou três das criaturas enormes
contra a parede, rachando os exoesqueletos e deixando-as quebradas, trêmulas, moribundas.
Vader avançou com a lâmina erguida. Passou sob um tentáculo, esquivou-se da estocada de um cravo e, num
corte transversal, decapitou um lylek que investia contra ele. Esmagando o crânio sob o coturno, usou a Força
para impulsionar a carcaça sem cabeça contra um trio de criaturas atrás dela, num emaranhado de pernas,
tentáculos e estalidos.
Pressentindo o perigo na retaguarda, deu meia-volta e partiu as duas pernas dianteiras de outro lylek pronto
para atacá-lo pelas costas. Subiu na criatura que se debatia e mancava, cavalgando-a por um tempo enquanto sua
lâmina retalhava e trespassava outros insetoides. Finalizou os guinchos de dor ao cravar a lâmina no abdômen da
criatura ferida.
Com um pulo, saiu do dorso dela e se precipitou contra a efervescente massa de lyleks, agora indiferente aos
seus membros lancinantes e dentes cortantes. O sabre de luz decepava pernas, cabeças, tentáculos, mandíbulas,
tapando o chão com partes corporais banhadas em hemolinfa. Os impactos de tentáculos, pernas e corpos
maciços mal o atingiam. Nenhum penetrou sua armadura, e a pouca dor que conseguiam in igir não superava a
dor que sempre carregava dentro de si.
Uma perna espinhosa acertou-lhe em cheio o anco, jogando-o lateralmente contra os tentáculos de outro
lylek, que logo abraçou as pernas dele e o ergueu do chão, de ponta-cabeça.
Enquanto Vader estava pendurado, outro lylek atirou-se à frente, com as mandíbulas escancaradas prontas
para abocanhar sua cabeça. Ele en ou o sabre de luz na bocarra do animal até a ponta sair pela nuca, o que fez o
lylek estrebuchar no chão. A criatura que o segurava o aproximou de sua própria boca, mas Vader apenas dobrou
o corpo na região da cintura e amputou o tentáculo que o segurava. Rodopiou no ar na queda, aterrissou de pé,
deu meia-volta e cortou as pernas dianteiras de um lylek à sua frente. O bicho desabou, sibilando e esguichando
hemolinfa dos cotos, o corpo enorme debatendo-se contra Vader em espasmos de dor. O impacto daquela massa
o arremessou para trás, mas ele transformou o movimento num corte transversal giratório que bifurcou a cabeça
de outro lylek. Vader havia massacrado doze, vinte, mas eles continuavam chegando, pressionando-o,
restringindo seus movimentos, cercando-o de pernas cravejantes que o jogavam ao chão.
No estrondo, em meio a esquivas, saltos e rodopios, a lâmina dele navalhava e perfurava, até que o golpe de
um tentáculo o acertou em cheio no peito e o arremessou para trás, cambaleante. A criatura que o atingira
avançou, os tentáculos convulsivos, as mandíbulas ruidosas, as lanças das patas dianteiras erguidas bem alto.
Nesse meio-tempo, o cravo da perna de outro lylek atingiu-o nas costas. Sua armadura impediu que o membro
cravasse nele, mas o impacto o arremessou contra o lylek que atacava.
Embora trôpego, Vader estendeu a mão, canalizou a Força e soltou uma explosão de energia que lançou a
criatura que o atacava cinco metros para trás, contra a parede. Querendo um momento para se recompor e
veri car o seu mestre, ele saltou sobre a massa fervilhante de lyleks até um parapeito de cinco metros na parede,
usando a Força para aumentar o seu pulo. As criaturas das quais acabara de escapar rangeram as mandíbulas,
agitaram os tentáculos e tentaram subir umas sobre as outras com frustração enquanto arranhavam o lado da
parede.
Lá de cima, perto da boca do túnel, Vader ouviu os gritos dos guardas e os rápidos estrondos de repetidos
disparos de armas de raios. Uma explosão – de granada – troou e fez as paredes vibrarem.
Vader evocou a Força, pulou e se impulsionou até a boca do túnel. Deez e o capitão, posicionados com um
joelho no chão e os ri es de raios apoiados nos ombros, disparavam contra os lyleks que tentavam avançar pelo
túnel em direção a eles. Vader casualmente emitiu uma explosão de energia rumo à boca do túnel, destruindo os
lyleks da vanguarda e obrigando o recuo de mais meia dúzia.
Ao enxergar Vader, o capitão gritou:
– Onde está o imperador?
Deez só continuou a atirar.
Vader se virou e olhou para o chão lá embaixo, onde o mestre dele, cercado por uma dúzia ou mais de lyleks,
girava, rodopiava, saltava, o sabre de luz movendo-se tão veloz que se assemelhava mais a um borrão. Parecia
minúsculo em meio ao enxame das criaturas, mas se mexia com rapidez sobrenatural, a lâmina estocando,
retalhando e decepando. Ele ria bem alto, a familiar gargalhada de alguma forma audível acima dos sons da
horda.
Mas de repente vinte ou mais lyleks o cercaram por todos os lados, galgando e escalando uns sobre os outros,
numa rede de tentáculos que se retorciam, de garras que picotavam, de imensos corpos quitinosos que
impediam a visão de Vader.
Um pensamento lampejou na mente de Vader, um pensamento errante e fugaz: o mestre morto, Vader
governando o Império, a galáxia sem o cabresto de um idoso...
Matou o pensamento, saltou da boca do túnel, rodopiou no ar e aterrissou bem em cima de um dos lyleks. O
insetoide resistiu, contorcendo os próprios tentáculos. Vader cravou a lâmina no dorso até ela sair pelo
abdômen, matando a fera.
Tentáculos o atacaram pela esquerda e pela direita, e um terceiro lylek empinou sobre o companheiro morto
para alcançá-lo, mas Vader pulou da carcaça em que estava para o dorso de outro lylek a um metro de distância.
De novo, atravessou o monstro com um golpe de cima para baixo.
– Mestre! – gritou ele, ainda incapaz de vislumbrar o imperador no meio das criaturas.
Uma explosão de energia de algum lugar sob a multidão de criaturas arremessou quatro lyleks a uns dez
metros do solo, e os corpos, estraçalhados com a intensidade do impacto, criaram uma chuva macabra de
membros e tentáculos. No centro do círculo de lyleks sobreviventes, com cabelo desgrenhado, manto rasgado,
sabre de luz em punho, mas, afora isso, aparentemente ileso, surgiu o mestre.
Vader saltou e caiu ao lado dele. Posicionaram-se de costas um para o outro.
– Mestre – disse Vader.
– Lorde Vader – respondeu o mestre com uma risadinha. – Adorável, não? Chegou a pensar em me deixar
morrer para realizar suas próprias ambições?
Vader nem tentou mentir.
– Pensei, mas só por um momento.
– Bom – elogiou o mestre. – Muito bom.
Os lyleks irromperam em direção a eles de todos os lados, como se obedecessem a um comando. Como se
fossem uma só pessoa, Vader e o mestre canalizaram a Força e desprenderam rajadas de poder que se chocaram
contra as criaturas que atacavam, estraçalhando várias e lançando seis ou sete contra as paredes. Ainda assim, os
lyleks prosseguiram, em meio a estalidos e tentativas de agarrar e navalhar.
Com as costas grudadas um ao outro, no olho do furacão insetoide, Vader e o mestre brandiam as assassinas
lâminas vermelhas dos sabres de luz que impediam a passagem de membros, tentáculos e corpos dos persistentes
lyleks. As carcaças se empilhavam em torno deles, uma montanha de mortos. Logo os dois estavam cobertos de
hemolinfa e imersos na Força, em sua capacidade desenfreada de matar.
Vader pressentiu um novo perigo um átimo antes de ele se materializar: na retaguarda, em meio à massa
sobrevivente, um dos lyleks investiu num salto contra ele e seu mestre, emitindo estalos e com os cravos das
pernas apontados para a frente, como se quisesse perfurá-los. Vader respondeu ao salto da criatura com um pulo
impulsionado pela Força, empunhando o sabre de luz com as duas mãos, interceptando a criatura no ar e
secionando-a em dois pedaços com a lâmina vermelha.
Aterrissou em cima de um lylek morto e logo saltou de volta ao lado de seu mestre. Caiu no solo e se agachou,
esperando ser cercado pelos lyleks remanescentes, mas, em vez disso, deparou com o recuo deles. De repente
percebeu o motivo: abriam caminho para a chegada da rainha.
– Notou o perigo menor, mas não o maior – al netou o mestre. – Agora está aqui.
 
O silêncio da oresta inquietava Isval. Parecia que a horda de lyleks despojara a vida da selva, ou que todas as
criaturas silvestres aguardavam, em silêncio pensativo, alguma coisa terrível surgir. A faixa aberta pelos lyleks no
terreno lhe pareceria impossível caso não tivesse visto com os próprios olhos. Árvores derrubadas, troncos
estilhaçados, arbustos triturados e misturados ao solo. Apesar disso, ela sabia que, dali a um mês, a vegetação
estaria recuperada, como se nada tivesse acontecido.
Havia lições nisso, meditou ela.
Ela e Cham se esforçavam para acompanhar Goll, que engolia rápido a distância, seguindo o rastro com
facilidade. O grupo de Goll vinha logo atrás, o som nítido dos apetrechos em meio ao silêncio da oresta.
Mastigar os quilômetros dava tempo a Isval para analisar a situação.
– O que esperamos encontrar aqui? – Isval indagou a Cham. – Cadáveres?
Cham deu de ombros e encarou Goll.
– Se os lyleks os pegaram, não vai sobrar muito cadáver para contar a história – retorquiu Goll. – Mas haverá
sinais de um frenesi de alimentação. Isso vai nos dizer tudo o que precisamos saber.
De certo modo, pensar em Vader e no imperador sendo rasgados por uma horda faminta dos principais
animais predatórios de Ryloth parecia apropriado. Ainda assim, Isval sabia do que Vader era capaz – de coisas
que ninguém mais parecia capaz de fazer.
– E se não houver nenhum frenesi de alimentação? – perguntou ela. – E se eles escaparam?
– Ninguém escapa a pé – a rmou Goll.
Isval não tinha tanta certeza disso.
Meia hora depois, encontraram a primeira das carcaças de lyleks. O enorme corpo jazia em meio ao relvado,
sem a cabeça. Isval tou o cadáver, que parecia todo cheio de pontas, cravos e arestas, coberto por um
exoesqueleto quitinoso e seco que se assemelhava a uma rocha intemperizada, provavelmente mais resistente do
que uma armadura. Tentáculos compridos e elásticos tinham espessura superior à do braço dela.
– Disparo de arma de raios – constatou Goll, examinando o coto do pescoço do lylek. – Observa o
chamuscado? Praticamente a única forma de uma arma de raios derrubar um bicho desses.
– Se eles matarem a horda inteira, consegue recuperar os rastros deles? – indagou Cham.
Goll o tou incrédulo.
– Cham, uma coisa é matar um lylek. Talvez só um tiro de sorte. Mas devastar a pé uma horda com uma arma
de raios? É como tentar derrotar uma tempestade de areia. É um poder da natureza. Ela o leva de roldão e você
nem percebe.
– Consegue recuperar os rastros, Goll?
– Eu... acho que sim. Muitas variáveis, é claro, mas...
– Excelente – ponderou Cham.
Logo encontraram mais carcaças, todas atingidas na cabeça.
– Chegando perto – murmurou Goll suavemente. – Fiquem atentos.
Alcançaram a beira de um barranco e os três pararam, paralisados. Fitaram o des ladeiro por um longo tempo,
num silêncio pasmado. Goll quebrou o silêncio com um leve impropério.
Dezenas de carcaças de lyleks jaziam dispersas no fundo e pelas encostas do barranco. Várias delas atingidas
na cabeça, mas outro poder tinha destruído as restantes. Pernas fraturadas e retorcidas, exoesqueletos
estraçalhados e rachados. Uma carcaça jazia meio enterrada na encosta, no lado oposto do des ladeiro. Goll
veri cou a cena, o costumeiro sulco na testa.
– A horda não saiu da canhada – concluiu ele. – Os lyleks têm ninhos subterrâneos. Esse deve ser um ponto de
entrada. – Ele não convenceu Isval. – Talvez um monte de buracos que levam até o ninho, ao longo dessa ponta
do des ladeiro. Mas eu não...
– Aqui aconteceu um frenesi de alimentação? – indagou Cham.
Isval já sabia a resposta de Goll.
– Eu... não, acho que não – opinou ele. – Vamos em frente.
Por um instante, Isval titubeou, enquanto uma imagem se formava em seu cérebro: uma horda de lyleks
brotando das tocas no chão e encurralando-os no fundo do barranco.
– Fiquem aqui em cima e nos deem cobertura – disse ela ao grupo de Goll, que se alinhou na borda do
des ladeiro, olhando para baixo, estupefato.
– Fiquem atentos – ordenou Goll e começou a descer ladeira abaixo, usando a vegetação remanescente para
manter o equilíbrio durante a descida. Cham e Isval foram atrás dele.
O riacho que outrora corria no leito do des ladeiro fora transformado pela horda de lyleks numa gosma de
lama e hemolinfa. Olhando as carcaças dos mortos, Isval não conseguia imaginar o que Vader e o imperador
tinham feito para arrasar os lyleks de modo tão absoluto.
– Granadas? – sugeriu Goll, mas Isval não enxergou sinal de chamuscados ou queimaduras.
– Deve ser algo que ainda não vimos – arriscou Cham.
– Esses são predadores no topo da cadeia alimentar – comentou Goll, incrédulo. – Nós forti camos nossas
cidades com medo de enfrentar essa bicharada. E esse quarteto enfrenta uma horda a pé? São predadores no
topo da cadeia – repetiu ele.
Vader é o predador no topo, pensou Isval, sem ousar verbalizar.
Goll examinou a terra revirada ao redor do que aparentava ser uma entrada de túnel desabada. Um colossal
emaranhado de raízes e a traseira de um lylek se projetavam para fora, o restante estava enterrado sob os
destroços.
– Muita atividade em torno desse túnel – avaliou Goll, estudando o terreno. – Como se tentassem alcançar
algo lá dentro. Provavelmente Vader e seu grupo se refugiaram no túnel e, em seguida, desabaram-no atrás deles
para interromper a perseguição. – Recuou, olhando para cima, à esquerda e à direita. – Nas redondezas, deve
existir um monte de túneis para o ninho. É provável que a colina inteira esteja crivada deles, descendo um
longo percurso. Bloquear este túnel não foi su ciente para eles escaparem. Os lyleks devem tê-los alcançado por
outro túnel.
– Está insinuando que Vader está no subterrâneo? – indagou Cham.
– Estou dizendo que ele entrou no subterrâneo – esclareceu Goll. – E provavelmente o resto da horda
também.
– O que restou dela – comentou Isval, olhando para as carcaças.
– Na hipótese de saírem – Cham indagou –, vão sair por aqui?
– É uma hipótese e tanto, Cham.
– Mas e se eles saírem mesmo? – persistiu Isval.
Goll balançou a cabeça.
– Já vi miniaturas computadorizadas de ninhos de lyleks. São labirínticos. Existem dezenas de pontos de
entrada e saída. Se o imperador e Vader de alguma forma conseguirem sobreviver lá embaixo, eles podem sair em
qualquer lugar num raio de, digamos, dez quilômetros daqui. Desculpe, Cham. Acho que nós os perdemos.
A pele de Cham escureceu, um sinal de frustração. Isval cerrava os punhos.
Cham ativou seu comlink.
– Kallon, Faylin, achamos que Vader e o imperador estão nos subterrâneos. Podem surgir em qualquer lugar
num raio de quinze quilômetros de nossa posição atual. Decolem e iniciem uma varredura. Se encontrarem
qualquer coisa que for, avisem imediatamente.
– Se existirem quaisquer naves por aqui, elas podem nos detectar – ponderou Kallon.
– Eu sei – falou Cham. – Mas obedeça.
Após Kallon e Faylin con rmarem o recebimento da ordem, Cham pegou o comlink criptografado que usava
com Belkor e repetiu a dose. Da conversa, Isval só conseguiu ouvir a metade que Cham falava.
– Talvez, Belkor, mas duvido. – Cham observou os inúmeros lyleks abatidos, o túnel desabado. – Não está
vendo o que estou vendo aqui. Só decole e faça uma varredura. Eu sei. Apenas faça. – Cortou a ligação.
– Talvez já tenham conseguido fugir, Cham – salientou Goll. – Esse raio de dez quilômetros é apenas uma
estimativa.
– Sei disso – pigarreou Cham. – Opções? O que mais temos?
Goll encolheu os ombros.
– Podemos descer atrás deles – sugeriu Isval.
– Essa não é uma opção – objetou Goll.
– Não temos apetrechos para isso. É muito perigoso – frisou Cham.
– Nenhum de nós sairia vivo – a rmou Goll. – Posso garantir.
A raiva de Isval com a situação transbordou contra Goll.
– Também garante que Vader não vai sair, então? Que eles estão mortos lá embaixo?
Com as mãos na cintura, Goll correu o olhar ao redor pelos lyleks mortos e balançou a cabeça.
– Depois de ver o que estou vendo, não. Não sei o que poderia tê-los matado, muito menos fazer isto.
A admissão dele murchou a bolha de raiva de Isval.
Goll olhou para o céu entre as brechas no denso dossel da oresta.
– O vento vai trazer chuva. Sente o cheiro?
Como se fosse combinado, trovejou.
– A nal, estamos atrás de que tipo de gente, Cham? – quis saber Goll. – Nunca vi nem ouvi falar de algo
parecido com isso.
Cham limitou-se a menear a cabeça, balançando os lekkus. Uma resposta lampejou no cérebro de Isval, mas ela
não a verbalizaria.
Predadores no topo da cadeia. Era esse o tipo de gente que estavam atrás.
 
Em pé, Vader e o imperador foram sombreados pelo imponente vulto da rainha. A respiração dela, audível na
súbita calmaria, soava arfante e úmida. Cada uma de suas seis pernas tinha um metro e meio de circunferência,
e os cravos nas pontas pareciam lâminas de espada. Em retorcer constante, os tentáculos – quatro em vez de dois
– mediam dez metros de comprimento e uma cintura humana de espessura, culminando em pontos brilhantes
de quitina que exsudavam um tipo de hemolinfa, quiçá veneno. A boca facilmente cortaria uma pessoa ao meio.
Ela avançou devagar, os tentáculos contorcendo-se, as pontas das pernas atingindo o chão num ritmo breve
de staccato. Baixou a cabeça e ciciou ao se aproximar. As mandíbulas trabalhavam no ar vazio.
O mestre de Vader estampava o mesmo meio sorriso de sempre.
– Vamos começar, Lorde Vader?
Vader respondeu apenas com o som de sua respiração.
A rainha explodiu em movimento, e o mesmo, também, zeram Vader e o imperador. Um tentáculo chicoteou
Vader, que saltou sobre ele – evitando um segundo tentáculo – e desferiu sua lâmina. Ele errou o golpe, pois a
rainha retraiu o tentáculo, e a lâmina desenhou um sulco carbonizado no chão de pedra. Num salto, passou
sobre ela, girando no ápice de sua trajetória, e ao descer empunhou a lâmina com as duas mãos e a apontou para
baixo para empalar a rainha.
Ela se esquivou lateralmente e arremeteu com um tentáculo, que o atingiu em cheio e o jogou ao chão. A
criatura se virou, como se fosse avançar contra Vader, mas o seu mestre atirou-se diante dela, pulando,
rodopiando e abaixando-se para desviar das rápidas chicotadas dos tentáculos e dos espetos das pernas. Seu sabre
de luz retalhava com rapidez em qualquer abertura, golpeando os tentáculos, mas apenas os chamuscando, sem
amputá-los.
A rainha se lançou em direção ao mestre, que saltou para trás, aterrissando a poucos passos de distância.
Vader se ergueu num pulo, e, com um giro, escapou da tentativa dela de perfurá-lo com o cravo quitinoso na
ponta dos tentáculos. Ele deparou cara a cara com cinco lyleks, todos ciciando, com os tentáculos retorcendo-se.
Trespassou um na cabeça, deu um salto mortal para trás por cima de outro e, após cair no chão, decepou as
pernas traseiras do bicho.
À direita, o mestre fez um gesto e, com a Força, suspendeu um par de lyleks do chão. Vader e o mestre não
trocavam palavras, mas cada um sabia precisamente a intenção do outro. Com um movimento de arremesso
casual, o imperador jogou os dois lyleks na direção do aprendiz; as pernas e os tentáculos, contorcendo-se; as
barrigas, expostas. Retalhando e girando numa rotação rápida, Vader cortou os dois ao meio; os quatro pedaços
caíram num monte sanguinolento.
De cima, disparos atingiram o lylek diante dele, com vários raios ricocheteando na carapaça, até que en m
um lhe acertou a cabeça, fazendo-o desabar. Vader olhou de relance para cima e avistou Deez ajoelhado na boca
do túnel, o fuzil de raios inclinado, atirando para baixo no confronto.
Vader golpeou instintivamente com seu sabre de luz quando outro lylek marchava na direção dele. A lâmina
cortou-lhe as pernas e deixou a criatura entre grunhidos e espasmos. Ele viu seu mestre se esquivar dos rápidos e
contínuos ataques dos tentáculos da rainha. O imperador volvia e redemoinhava e saltava, fatiando com seu
sabre de luz onde podia, e, nos pontos em que a lâmina feria os grossos tentáculos, abriam-se talhos negros que
exsudavam uma grossa hemolinfa. A dor só parecia irritá-la ainda mais.
Vader deu um pulo alto e pousou ao lado do mestre. A rainha rugiu e liberou uma enxurrada de golpes.
Trabalhando em conjunto, eles se defenderam das bordoadas e contra-atacaram, abrindo dúzias de furos nos
tentáculos dela, as lâminas mais parecendo borrões giratórios à frente deles. Devagar, o próprio corpanzil da
rainha os acuou e, de vez em quando, eles tinham de desviar a atenção para um lylek que se precipitava contra
eles ou pulava sobre os ancos de ambos. Movimentando-se quase como um, os dois lordes Sith volviam e
giravam em torno de um ponto central virtual, defendendo, esquartejando, matando. Frustrada, a rainha
arremeteu contra eles com velocidade surpreendente. Seu corpanzil colossal se chocou contra os dois,
nocauteando-os para trás. Rápida como um relâmpago, ela atacou com mandíbulas sedentas...
O imperador se apertou contra o chão para evitar a mordida, e ela tentou atingi-lo com os cravos das pernas,
cada golpe lascando o piso de pedra. Ele rolou e rodopiou sob a montanha do corpo dela enquanto Vader
picotava os tentáculos, golfadas de hemolinfa das múltiplas feridas jorravam em todas as direções. A rainha
simplesmente tentava esmagar o mestre com o corpo volumoso, mas Vader percebeu a intenção da criatura,
levantou a mão e a segurou, num esforço, grunhindo pela fração de segundo que possibilitou ao seu mestre sair
debaixo dela. De pronto, a dupla a combatia de novo, as lâminas zuniam e sulcavam. A fera ciciou – os
tentáculos feridos fraquejando, as pernas pisoteando – e recuou, agachada.
– Imperador! – alertou Deez lá de cima e disparou contra a rainha tão rápido quanto conseguia apertar o
gatilho.
Os raios ricocheteavam na carapaça e se dispersavam a esmo na câmara subterrânea. Com o sabre de luz,
Vader desviou um raio na cara do lylek mais próximo, matando-o. A seu lado, o mestre trucidou a cabeça de um
lylek que se precipitou contra ele. Vader decidiu ir aos nalmentes.
– Mestre – limitou-se a dizer.
– Vá – assentiu o imperador.
Vader correu adiante e deu um pulo bem alto. No momento em que alcançou o auge do salto, o mestre o
dominou com a Força e o impulsionou o resto do caminho para que ele pousasse no dorso da rainha.
Imediatamente ela se contraiu, estremecendo os tentáculos, e Vader desferiu, com o sabre de luz, um golpe
para baixo no dorso da criatura. Para a surpresa dele, a lâmina penetrou apenas parcialmente e depois escorregou
para o lado. Ela gritou e sibilou de agonia. Ele empunhou a lâmina com as duas mãos novamente, preparando
outro golpe, mas a rainha recuou de supetão, empinando e jogando-o ao chão. Vader caiu perto do mestre, que o
agarrou pelo braço e o ajudou a se erguer com poderes misteriosos.
Ela os rodeou e chicoteou os tentáculos contra os dois, culminando com um bote traiçoeiro na feroz tentativa
de abocanhar Vader. Eles se esquivaram dos ataques dela, de novo retornando ao seu ritmo habitual, e rasgaram-
lhe a cabeça com cortes transversais. As duas lâminas acertaram o alvo. O imperador estraçalhou o exoesqueleto
blindado da cabeça, e Vader vazou um olho. Ela soltou um guincho e recuou, uma gosma escorria pelo globo
ocular, os tentáculos chicoteavam insanamente. Deez continuava a despejar raios em cima dela, mas os disparos
aparentavam causar pouco ou nenhum ferimento. Mesmo assim, a angústia da rainha incitou os lyleks
remanescentes a entrar em frenesi, e eles atacaram de todos os lados.
Vader saltou para trás e, no alto da parede, pendurou-se com uma das mãos numa saliência estreita, os
coturnos ncados na rocha. Supusera que o mestre faria o mesmo, mas ele não o fez. Em vez disso, permaneceu
no meio da multidão de criaturas, rotando e remoinhando num turbilhão de matança e carni cina. Deez
desviou a mira da rainha ferida para os lyleks que cercavam o imperador, mas o movimento frenético do
combate o impediu de apontar com precisão, e seus tiros ricochetearam nas carapaças para todas as direções.
A rainha se recuperou o su ciente para examinar a área, e o olhar dela recaiu em Vader, empoleirado lá em
cima, parecendo vulnerável. Cambaleante, investiu contra ele, aos guinchos. Abriu caminho pelos lyleks em
volta, com os tentáculos em frenesi descontrolado na ânsia de pegá-lo. O olho bom se xou nele e a boca se abriu
num silvo prolongado.
Lá embaixo, uma explosão de relâmpagos da Força estilhaçou um punhado de lyleks e deixou o mestre no
meio de um círculo de seres mortos carbonizados. Ele fez contato visual com Vader, acenando, e esse sabia que
devia manter sua posição à medida que a rainha se aproximava.
O mestre ergueu as duas mãos e, com a Força, enviou um temporal de relâmpagos contra a rainha,
perfurando-a com feixes azuis escaldantes. Ela gritou em agonia espasmódica, e as mandíbulas escancaradas
revelavam as leiras de dentes enquanto os relâmpagos rasgavam-lhe a carapaça e os órgãos internos,
queimando-a por dentro e por fora.
Vader agiu rápido. Imerso na Força, saltou da parede direto na cabeça dela. Apesar da dor, a rainha conseguiu
arrebatá-lo em pleno ar com um tentáculo, segurando-o num aperto em torno da cintura. A armadura de Vader
rangeu sob a pressão e ele gritou de dor, mas, como sempre, deixou a dor conduzi-lo ainda mais fundo na Força.
Ela o ergueu bem alto e o empurrou rumo à face arruinada de um olho só, a boca sibilante abriu-se,
exatamente como ele tinha previsto.
– Acabe com ela! – gritou o mestre.
Ele jogou o sabre de luz na boca escancarada, guiando-o com a Força, fazendo-o girar tão rápido quanto um
rotor enquanto mergulhava goela adentro. Ela se engasgou e recuou, o olho sadio arregalou-se de dor e confusão
enquanto Vader mantinha o domínio mental sobre a lâmina rodopiante, estraçalhando as entranhas da rainha.
Em desespero instintivo, ela impulsionou a ponta envenenada do outro tentáculo contra o peito dele.
Enredado na Força, ele segurou o cravo com sua manopla, impedindo que atingisse a sua armadura. Grunhiu
de dor, de esforço, o apêndice grosso e musculoso da criatura gigante desa ava o seu vigor turbinado pela Força.
Vader era mais forte e tou a cara dela enquanto seu sabre de luz a esfrangalhava por dentro e os relâmpagos do
mestre carbonizavam-lhe a carne.
Ela urrou de novo numa explosão nal de agonia, e os restos desajeitados de seu corpo desabaram ao chão,
levando Vader, agora envolto por um tentáculo mole, junto com ela. Ele caiu no chão agachado perto da
volumosa carcaça da rainha, sacudiu o tentáculo e fez o sabre de luz retornar à própria mão. A lâmina atravessou
a carcaça e voltou à sua empunhadura, lambuzada de uidos.
Numa insana convulsão de guinchos e estalidos, os lyleks restantes agitavam tentáculos e pernas. Deez,
incansável, disparava a arma de raios.
Vader e o mestre se entreolharam, a cinco metros de distância, e os dois zeram acenos com as cabeças.
Imersos na Força, concentraram-se em massacrar os lyleks restantes. Os feixes dos sabres de luz se erguiam e
baixavam, se erguiam e baixavam, e as bestas confusas e atordoadas mal se defendiam. Em breve, um tapete de
carcaças cobria o chão, e Vader e o mestre dele eram os únicos seres vivos em pé no meio da carni cina.
A gargalhada do mestre preencheu o silêncio. A dupla desativou suas lâminas.
– Muito bem, meu amigo – elogiou o imperador.
Lá em cima no túnel, Deez usou o cabo de alta elasticidade integrado no seu cinturão para descer a parede
em rapel. Caminhou pela chacina, obviamente tentando, sem sucesso, controlar a expressão de espanto no rosto,
até chegar diante de Vader e do imperador.
Ele se apoiou num dos joelhos e levou a mão ao peito.
– Meu imperador.
– O capitão? – quis saber Vader.
– Trucidado por uma das criaturas, Lorde Vader – informou Deez ao se levantar. – O corpo dele está...
irrecuperável.
Para Vader, a mente do imperador parecia estar em outro lugar. Talvez tivesse ouvido Deez ou não; Vader não
poderia garantir.
– Acho que devemos sair antes que isto comece a feder – en m disse o imperador. – Com certeza, este é o
caminho para a superfície.
Juntos, Vader, o imperador e Deez enveredaram rápido nos túneis, sempre para cima, rumo à superfície.
Ficaram alerta contra os lyleks, mas os túneis estavam vazios. O ninho inteiro devia ter sido aniquilado.
– As criaturas se sacri caram quando a rainha morreu. Se a cabeça é removida, o corpo deve morrer em
seguida – comentou o imperador.
Vader não falou nada, apenas tou o mestre.
– Não percebe? É por isso que estamos sendo caçados, Lorde Vader. Os rebeldes almejam cortar a cabeça do
Império.
– É claro – concordou Vader. Não combinava com o mestre a rmar algo tão óbvio sem algum propósito. – E?
O habitual meio sorriso adornou o rosto de seu mestre.
– Muitas coisas são assim, até mesmo alguns relacionamentos. Se a cabeça é removida, o corpo não pode
existir sozinho. A relação é complementar, quase simbiótica.
De repente, Vader compreendeu o raciocínio.
– Sim, mestre.
O estrondo de um trovão reverberando pelas rochas lhes avisou que se aproximavam da superfície. O túnel
que percorriam gradativamente se estreitou até serem obrigados a andar em la indiana. Deez assumiu a
dianteira, e Vader a retaguarda.
Adiante, Vader percebeu que o túnel estava bloqueado. Ele pôde ouvir os pingos da chuva que caíam por trás
do bloqueio. Deez galgou os escombros, tentando espreitar através deles.
– Estamos bem na saída – disse ele. – Consigo ver o exterior por uma fenda neste monte de rochas. Talvez um
deslizamento causado pela chuva. Precisamos liberar o caminho, meus senhores.
Vader e o imperador pisaram ao lado de Deez, encararam as toneladas de rocha e terra, e a dupla imergiu
profundamente na Força. Como uma só pessoa, ergueram as mãos, convocaram seu poder coletivo e liberaram
uma explosão repentina, mais poderosa do que uma granada. A detonação lançou as rochas e a terra ao alto no
céu noturno.
Diante deles, avistaram os troncos das árvores e a chuva caindo.
– Liberado, sargento – sorriu o imperador.
 
Preocupado que as carcaças de lyleks acabassem atraindo carniceiros, talvez gutkurrs de novo, Goll guiou Isval
e Cham a alguns quilômetros de distância do des ladeiro, oresta adentro. Relâmpagos cruzaram o céu; trovões
ecoaram. A chuva, por m, atravessou o dossel vegetal e encharcou o solo da oresta. O ar cheirava a argila
molhada.
– Nessas condições climáticas, Vader vai ter mais di culdades para detectar as naves – concluiu Isval.
Cham apenas acenou com a cabeça, preocupado com rotas de fuga e escapatórias. Ele não vislumbrava uma e
queria muito conseguir isso.
– Em que você está pensando? – quis saber Isval.
Cham abriu um sorriso amarelo.
– No amanhã.
Agora foi a vez de Isval assentir e não falar nada.
Cham ordenou uma parada, imaginando que fazia pouco sentido vaguear sem rumo pela oresta. Tinham
perdido os rastros do imperador. Teriam de encontrá-los pelo ar – se conseguissem. Nesse meio-tempo,
esperariam. Isval, é claro, tentava diluir a impaciência caminhando para lá e para cá. O grupo de Goll sentou-se
em troncos e veri cou os apetrechos.
– Temos que continuar – declarou Isval, parando diante de Cham.
– Para onde? – Cham indagou.
Ela resmungou e continuou zanzando.
Cham avaliou a possibilidade de Vader e o imperador estarem mortos, devorados por lyleks lá no fundo da
terra. Duvidava disso, mas a incerteza o atormentava. O tempo se esgotava, e ele precisava pôr um ponto nal
naquela história. Em breve, o núcleo de retransmissões restabeleceria um prato e superaria o bloqueio do sinal de
Kallon. A essa altura, uma operação coordenada de busca e salvamento começaria para valer. Nesse caso, ele não
teria margem de manobra. Também imaginava que as novidades sobre a destruição da Perigo tinham chegado a
Coruscant, e que, naquele exato instante, naves e exércitos imperiais eram preparados para vir a Ryloth, se já
não estivessem a caminho. Ao chegarem, tentariam bloquear todo o sistema e então...
E então eles vasculhariam a área em busca do pessoal de Cham.
Rotas de fuga. Escapatórias.
Na melhor das hipóteses, restavam algumas horas se ele quisesse que seu pessoal tivesse chance de escapar. Ele
sentiu o dia e os fatos escorregando além de seu alcance. E sentia-se exausto, exaurido.
Tocou o comlink de Kallon e Faylin.
– Falem – disse ele.
Isval parou de zanzar e o tou, tão tensa quanto a corda de um arco prestes a ser disparado.
– Cham – a voz de Kallon avisou no comunicador –, acabo de veri car uma explosão de movimento na
varredura.
Os batimentos cardíacos de Cham se aceleraram. Seus lekkus balançaram de emoção.
– Tem certeza? A que distância?
– A cinco quilômetros da posição de vocês. Enviando as coordenadas precisas.
– O que houve? – interpelou Isval, após ouvir a conversa de Cham pela metade. – O que houve?
Cham levantou um dedo e pediu paciência a ela.
– Kallon, apenas registre o local. Não se aproxime sozinho. Diga que entendeu.
– Nem uma espiadinha?
– Kallon, se for Vader, ele derrubou duas naves enquanto estava no chão e sobreviveu ao ataque de uma horda
de lyleks. Não se aproxime. Temos que coordenar isso direito. Diga que entendeu.
– Entendi. Quer uma carona?
– Percorremos cinco quilômetros a pé mais rápido do que se você nos pegar aqui. Só faça o pouso e permaneça
conectado. Faylin, que nas proximidades, mas não muito perto.
– Entendi – disse Faylin.
Cham cortou o contato e explicou a Isval o que ouvira de Kallon.
– Talvez não haja relação – advertiu ao vê-la corar de empolgação.
Ela assentiu, a inquietude aplacada pela chance de entrar em ação.
– Mas talvez sejam eles. É bem provável. E não temos alternativa. Goll, apronte o seu pessoal. Vamos partir.
Goll e seu grupo prepararam os apetrechos e adotaram a formação.
– Belkor? – Isval indagou a Cham.
– Certo – respondeu ele, e acionou Belkor no comunicador criptografado. – Desça. Detectamos um
movimento e estamos veri cando. Fique de prontidão.
– Espere, Syndulla, eu...
Cham cortou a conexão e imaginou Belkor xingando-o na cabine. Mas Belkor estava instável, e Cham
descon ava de que ele fosse capaz de colocar tudo a perder. O imperial talvez zesse um ataque contra Vader e o
imperador antes que Cham estivesse pronto, ou poderia denunciar a posição deles antes da hora. Cham só
precisava de Belkor na espera com seus V-wings, prontos para serem chamados.
A essa altura, Cham considerava Belkor um martelo. Decidiu que não envolveria o imperial até que o prego
estivesse pronto.
– Vamos lá – disse incitando Goll e Isval. – Depressa, agora.
 
Vader, o imperador e Deez saíram do túnel e se embrenharam na oresta. Trovões soaram, e uma chuvarada
desabou, intensi cando o farfalhar das folhas.
– Em qual direção, meus senhores? – indagou Deez.
Antes que um deles pudesse responder, uma moça Twi’lek de pele verde, talvez no nal da adolescência,
emergiu dos arbustos. Usava uma capa de chuva resistente e portava na cintura uma arma de raios de cano
longo, da época das Guerras Clônicas. Apetrechos de campo se sobressaíam detrás de sua mochila. A ponta de
um tubo de madeira esculpida, algo parecido com um instrumento musical, também saltava para fora do
volume. Ao avistar Vader, o imperador e Deez, seus olhos grandes se arregalaram e os lekkus dela se
contorceram, mas, ainda assim, ela não saiu correndo.
Deez começou a nivelar seu fuzil, mas Vader pegou o guarda pelo braço, sustando o movimento. Isso pareceu
deixar a moça um pouco menos assustada, mas ela parecia pronta para escapulir se fosse preciso. Vader sentiu
mais curiosidade na moça do que medo.
– Quem é você? – indagou Deez.
– Quem são vocês? – respondeu a moça, o sotaque tão arrastado que Vader achou difícil de entendê-la. – O que
fazem aqui? Se perderam?
A moça aparentemente não reconheceu o imperador nem seus companheiros. Ela devia pertencer a um dos
povoados remotos que salpicavam as áreas rurais de Ryloth.
– Venha aqui, moça – chamou o imperador, colocando o poder da Força a seu comando.
Incapaz de resistir, a garota saiu detrás da borda das árvores até se posicionar, pequenina e vulnerável, diante
dele.
Com rapidez sobrenatural, o imperador sacou, acendeu e atacou a moça com o sabre de luz, mas Vader
percebera a intenção do mestre e se movera com rapidez ainda maior, acendendo a própria lâmina e
interceptando o golpe do mestre antes que a atingisse.
A moça, sob a in uência do imperador, sequer aparentou notar o perigo que corria. Apenas permaneceu ali de
pé, o olhar indiferente, o rosto iluminado pelo brilho vermelho das lâminas cruzadas.
A boca do imperador se retorceu num rosnado, e Vader sentiu o poder dele se ampli cando.
Atrás de Vader, Deez levantou o fuzil e o apontou contra as costas de Vader, mas ele estendeu a mão livre para
trás e liberou uma explosão de poder que suspendeu o guarda no ar e o arremessou contra as árvores. Ramos
estalaram, ruidosos, sob o impacto do corpo de Deez.
Vader e seu mestre se entreolharam através do brilho escaldante das lâminas cruzadas.
– Chegou a este ponto? – indagou o mestre. Soou calmo, quase resignado, mas nem um pouco surpreso.
O tom surpreendeu Vader.
– Perdoe-me, mestre – pediu ele, desativando a lâmina. – Acho que a garota pode ser útil para nós.
– Acha mesmo? – murmurou o imperador com a voz suave.
– Deve haver uma aldeia nas imediações – ponderou Vader. – Se eles tiverem uma nave...
Deez se levantou gemendo, trôpego, do meio dos arbustos. Nivelou o fuzil de raios na direção de Vader,
esperando a ordem do imperador.
A carranca do mestre vacilou antes de se retorcer num meio sorriso quase imperceptível. Fez um gesto para
Deez baixar a arma, o olhar sempre xo na viseira do capacete de Vader.
– Concordo. Ela pode ser útil para nós.
O imperador olhou para sua lâmina, para Vader, franziu os lábios e desativou a arma. Dirigiu-se à garota:
– A sua aldeia ca perto daqui?
Com o olhar xo e distante, a Twi’lek, ainda sob a in uência do poder do imperador, assentiu com a cabeça.
– Não é longe. Eu estava conferindo as armadilhas de caça e ouvi um estrondo. Pensei que era uma avalanche
e quis veri car. Avistei vocês detrás das árvores.
– E o que pensou quando nos viu? – quis saber o imperador.
A garota franziu a testa, como se não tivesse entendido a pergunta.
– O que pensei? Presumi que estavam perdidos, que talvez a nave de vocês tivesse caído. Forasteiros são raros
aqui. Mas vão ser bem-vindos na aldeia. São os nossos costumes.
O mestre sorriu.
– É bom ouvir isso. Quantos habitantes há na aldeia?
– São 37 – informou a moça. – Mas Naria está barriguda, por isso, em breve, vamos ser 38.
– Certo – disse o imperador, tando Vader com curiosidade.
– Mestre? – indagou Vader, mas o imperador o ignorou.
– Talvez tenham alguma notícia do que está acontecendo nas cidades? – interpelou a moça.
– Talvez – disse o imperador. – A aldeia tem uma nave?
A garota balançou a cabeça.
– Não, uma nave, não. Nem mesmo um comunicador funcionando. O nosso estragou no ano passado e ainda
não conseguimos outro no comércio. Mas temos comida, cordialidade e canções.
O imperador abriu um sorriso.
– Excelente. Leve-nos até a sua aldeia.
Sem mais, a moça deu meia-volta e os guiou oresta adentro.
Vader imaginou que a aldeia da moça deveria ter sido fundada por escravos foragidos de uma das minas de
Ryloth ou por antigos refugiados das Guerras Clônicas. Em Ryloth, existiam muitas dessas aldeias, e boa parte
delas tinha pouco ou nenhum contato com o mundo exterior. O Império sabia dos vilarejos, é claro, às vezes os
dispersando e “realocando” as pessoas para campos de trabalho, caso a mão de obra escrava fosse necessária em
algum lugar, mas, no geral, o Império os deixava em paz. A aldeia da moça não tinha nave nem comunicador,
por isso seria de pouca utilidade para Vader e seu mestre, exceto como ponto de parada. Ainda assim, lá poderia
haver algo que pudessem usar.
– Qual é seu nome, menina? – indagou o imperador durante a caminhada no meio da selva.
– Drua – respondeu a moça. Ela tou Deez. – Como é o seu nome? E por que usa este... uniforme?
Surpreso com a pergunta, Deez respondeu um pouco depois:
– Sargento. Esse é o meu nome. E é uma honra usar esta armadura.
O imperador desviou a conversa:
– Então se aventurou sozinha na oresta, Drua?
– Claro! Conheço a selva como a palma da mão. – Apontou uma brecha no dossel orestal. – A chuva vai parar
daqui a uma hora.
– Onde estão seus pais? – perguntou o imperador, e Vader considerou a pergunta, vinda do mestre, no
mínimo estranha.
A moça nem se virou para encará-los, e sua voz baixou um pouco:
– Minha mãe morreu dois invernos atrás. Não conheci meu pai.
– Não muito diferente de você, aprendiz – falou suave o imperador.
As palavras despertaram as memórias de Vader. Por um átimo, vislumbrou a imagem da mãe, uma escrava;
vislumbrou, também, os nômades Tusken, membros do povo da areia, que a tinham matado, os momentos de
satisfação quando ele os matou, um por um, todos eles.
– Então mora sozinha? – quis saber o imperador.
– Claro que não! Moro com o meu avô – explicou Drua.
– Bem – disse o imperador –, esperamos não ser um estorvo.
 
Cham veri cou a localização deles e a comparou com as coordenadas no seu computador.
– Chegando perto – informou, caminhando entre Goll e Isval.
Goll fez um sinal para sua equipe – que se posicionara na habitual formação de escaramuça – recuar um pouco
e se movimentar em silêncio.
– Primeiro me deixe vasculhar a área – solicitou Goll, e Cham assentiu com a cabeça.
Goll desapareceu no meio das árvores e da chuva. Cham se maravilhou com a habilidade de Goll enquanto ele
e Isval esperaram ali debaixo das árvores de Ryloth, ensopados da chuva, sem falar nada.
En m, Cham decidiu reparar os danos que causara mais cedo.
– Peço desculpas pelo que disse antes.
– Sobre o quê? – ela perguntou, sem olhar para ele.
– Você sabe. Sobre o movimento. Sobre estar cansado. Sobre a luta continuar sem mim.
Ela o tou, a pele molhada e corada.
– Então...
– Então vamos seguir em frente depois de hoje. Não importa o que acontecer. Podemos reconstruir o
movimento.
Os olhos dela se estreitaram e ela estudou o rosto dele.
– Não sabe mentir, Syndulla. Você falou aquilo com sinceridade.
Ele ergueu as mãos em protesto.
– Não – continuou ela. – Preste atenção. Pensei no que você disse. Se matarmos Vader e o...
– Quando – ele a corrigiu. – Quando matarmos Vader.
Ela pestanejou.
– Certo. Quando matarmos Vader e o imperador, o Império não vai cair da noite para o dia. Mas vamos ter
começado algo, talvez uma rebelião, mas a rebelião vai precisar de líderes. Você.
Não tinha certeza do que ela queria ouvir, por isso não disse nada.
– Deixa eu explicar – ela prosseguiu. – Você tinha razão, pelo menos em parte. Percebo isso. O movimento está
acabado a partir de hoje, mas não é porque vai morrer. É porque vai mudar e se alastrar. O que zemos hoje, o
que estamos fazendo hoje, vai repercutir em todo o Império. E essa repercussão, seja lá qual for, exigirá líderes.
Você, Cham.
– E você – falou Cham.
Ela meneou a cabeça, balançando os lekkus.
– Sou uma combatente, não uma líder, não uma planejadora. Esse é o seu per l e, por isso, não quero mais
ouvir esse papo sobre deixar outra pessoa comandar a luta. Depois de hoje, lutamos num terreno diferente e
talvez não sejamos o movimento Ryloth Livre, mas a luta continua.
Cham sempre lutou por Ryloth, e só por Ryloth, mas foi contagiado pelas ideias de Isval. Talvez ele precisasse
considerar um panorama mais amplo. Antes, ele pensava que havia perdido o seu propósito, mas, ao perdê-lo,
talvez tivesse encontrado outro maior. Talvez.
– Eu escuto suas palavras, Isval.
– Preste atenção nelas – disse a Twi’lek.
De repente, Goll voltou da oresta. Isval nem o esperou falar:
– O que encontrou?
– Um antigo túnel lylek que leva ao subsolo. Parece que foi bloqueado por um deslizamento e depois liberado
por explosivos.
– Uma granada – sugeriu Cham.
– Sim – disse Goll. – Liberado para alguém escapar do subterrâneo.
– Certamente são eles – concluiu Isval, com um sorriso feroz.
Goll também sorriu.
– Concordo, a menos que muitas pessoas estejam vagando por aí em ninhos de lyleks. Achei um rastro nas
imediações do túnel. Mais de uma pessoa, mas a chuva di culta a de nição exata. A cada minuto, vai se tornar
mais difícil permanecer no rastro deles, por isso é melhor irmos andando.
Subitamente, ocorreu a Cham que estavam tão perto de seu objetivo quanto estiveram ao longo do dia inteiro
– meia hora, talvez uma hora até en m terem outra chance com o imperador e seu braço-direito. Fitou Isval,
Goll e o seu grupo.
– Sei no que você está pensando – disse Isval.
– Que bom, porque eu não sei – retorquiu Goll, correndo o olhar de Isval a Cham e de volta a ela. – Parece
que você engoliu uma pedra, Cham.
– A gente pode fazer isso – a rmou Isval, segurando o antebraço dele. – Tudo o que temos a fazer é pensar
numa rota de fuga, certo?
– Certo – concordou Cham, e então disse a frase que sempre repetia a Belkor, a frase que parecia uma
desconfortável racionalização. – Chegamos muito longe para desistir agora. Vamos até o m.
 
O vento trouxe um zunido contínuo e suave de um ponto adiante. Para Vader, soou vagamente insetoide. O
zunido aumentava e diminuía conforme a velocidade do vento.
O som pareceu colocar Deez em alerta. Ele empunhou seu fuzil, veri cando as árvores ao redor deles,
antecipando um ataque.
Drua cou intrigada, depois se divertiu com a reação dele.
– Não há nada a temer. São tubos lyleks. O som os afasta. Irrita o cérebro deles. Meu avô diz que o som os
deixa com dor de cabeça e eles não aparecem por aqui.
– Um som que mantém os lyleks longe? – indagou o imperador. – Muito interessante.
– Ah, o som não manteria afastado um lylek convicto – explicou Drua. – Vovô diz que apenas os desvia para
outra direção. Por que se aproximar de uma dor de cabeça, certo?
Drua os conduziu por um aclive no terreno da selva. Grandes pedregulhos e rochas pontilhavam a paisagem
aqui e ali, cada vez mais frequentes no percurso. O zunido foi aumentando e logo avistaram a fonte. Tubos
curvos, feitos de madeira e do comprimento de um braço humano, pendiam das árvores, balançando ao vento.
Apresentavam furos de vários tamanhos e em vários lugares. Quando o vento soprava através dos furos, os tubos
emitiam o irritante zunido. Observando todos aqueles tubos suspensos ali, Vader se lembrou de um patíbulo.
– Dá nos nervos da gente – disse o imperador. – E se o vento para, Drua? Os lyleks não começam a vir?
Drua o tou como se ele fosse patético.
– O vento nunca para. E, se for preciso, podemos fugir. Temos um esconderijo forti cado.
– Entendi – falou o imperador.
Logo a oresta deu lugar a colinas irregulares de amontoados de terra e rocha. Foram esgueirando-se por
entre as pedras até enveredarem numa trilha e o chão desaparecer, descortinando lá embaixo uma imensa
pedreira com paredões íngremes. Dois grandes túneis se abriam junto à base da pedreira, em lados opostos:
buracos escuros, como se o planeta abrisse a boca num grito. Vader supôs que fossem antigos poços de mina, e
provavelmente um deles era o local forti cado que Drua mencionara.
A aldeia de Drua se aglomerava perto de um dos túneis: trinta a quarenta estruturas de um só piso,
construídas com pedras empilhadas e galhos de árvores, com telhados de casca de árvore e pele esticada. Jardins
suspensos cobriam uma área considerável da parte inferior da pedreira nas proximidades da aldeia. Vader não
viu gado de espécie alguma.
Tochas ardiam em dois pontos nas paredes da pedreira, as labaredas tremulavam na chuva, marcando um
serpeante caminho ao longo das paredes íngremes. Outras tochas brilhavam no fundo da pedreira, nos limites da
aldeia. Vader pôde avistar Twi’leks movendo-se entre as edi cações. De longe, aparentavam ser sombras ou
espectros.
Enquanto ele observava, uma fogueira ganhou vida numa área comum, e meia dúzia de Twi’leks a rodeou,
gente comum fazendo coisas comuns. Música reverberou na pedreira, os sons de um instrumento de sopro e, em
seguida, uma voz feminina alegre e hipnótica.
– É Mala cantando o lamento de Valaunt – explicou Drua.
– Um lamento? – quis saber o imperador. – Quão pitoresco. Drua, a aldeia tem computadores? Algum veículo,
quem sabe?
Drua sorriu e balançou a cabeça.
– Não, nada desse tipo. Apenas vivemos. – Acariciou a arma de raios no quadril. – Abrimos exceções, é claro,
mas os anciãos dizem que muita tecnologia volta a nos escravizar. Temos nossos costumes e isso nos basta.
Ela os conduziu ao longo da borda da pedreira até alcançarem o caminho iluminado por tochas que
serpenteava até o fundo.
– Cuidado onde pisam – avisou ela. – O caminho é traiçoeiro.
O imperador não conteve uma suave risadinha.
Costearam a lateral da pedreira, Vader e o imperador com passos tão seguros como os de Drua, Deez quase
escorregando de vez em quando.
Lá no fundo, um Twi’lek musculoso de pele verde, equipado com uma arma de raios, veio recebê-los. Trazia no
pescoço um apito esculpido em madeira. Com leve suspeita, mirou Vader, o imperador e Deez.
– Tudo tranquilo, Narmn – disse Drua. – Encontrei essas almas perdidas na oresta. Sargento e...
A voz dela foi sumindo, talvez percebendo pela primeira vez que não sabia o nome dos outros dois.
O imperador informou:
– Meu nome é Krataa, e este – mostrou Vader com um aceno – é Irluuk.
Os olhos de Narmn se estreitaram, mas ele fez uma reverência, os lekkus mexeram-se um pouco, e disse:
– Sargento, Krataa e Irluuk, vocês estão aqui, e, por estarem aqui, são bem-vindos.
– É muita delicadeza sua – agradeceu o imperador.
Narmn e Drua os guiaram pelo chão frio da pedreira rumo ao calor e à luz da aldeia. Narmn levou o apito à
boca enquanto caminhavam e soprou uma série de notas que Vader supôs ser um aviso sobre a chegada de
estranhos. O lamento de Valaunt se interrompeu.
– Vou na frente chamar meu avô – avisou Drua e, depois de um aceno de Narmn, ela saiu correndo.
– Chame todos – pediu-lhe o imperador. – Estou ansioso para conhecê-los.
Nesse meio-tempo, mais e mais Twi’leks emergiam das moradias e se reuniam na borda da aldeia, mais
sombras, mais espectros, todos aparentemente querendo saudar os forasteiros. Sargento, Krataa e Irluuk.
Afora o imperador, apenas Vader sabia que os nomes falsos eram palavras do Sith arcaico que signi cavam
“morte” e “desgraça”.
Goll andava dez metros à frente de Cham e Isval, que seguiam dez metros à frente do grupo de Goll. Nenhum
deles escondia a tensão, e Goll ordenou que cassem de armas prontas e empunhadas. Isval se lembrou de que
Goll era bom demais para permitir que eles simplesmente topassem com Vader e o imperador; lembrou-se,
também, de que Vader e o imperador não sabiam que estavam sendo caçados.
Na vanguarda, Goll escolhia o caminho através da oresta, estudando folhas e ramos, mas principalmente o
chão, grunhindo e assentindo com a cabeça, guiando-os com con ança pela oresta.
– Estão em quatro pessoas, mas não as mesmas quatro – murmurou baixinho, virando-se para eles com uma
breve atualização. – Perderam um dos guardas reais, e agora têm a companhia de um adolescente ou uma
mulher franzina. Talvez Twi’lek, mas não há como ter certeza.
– Estão muito longe? – quis saber Isval.
– Não muito – garantiu Goll. – Se preferirem, posso fazer o reconhecimento sozi...
Cham o interrompeu e disse:
– Não. Vamos car juntos. Apenas quemos em posição escalonada. Quando você os avistar, paramos para
avaliar a situação e planejar o ataque. Vamos ter só uma chance, e temos que fazer tudo certinho. Todos sabemos
do que Vader é capaz. Precisamos surpreendê-los, se for possível.
Isval e Goll assentiram, e o grupo partiu, com Goll na dianteira.
– Tem gente que caça lyleks – Cham sussurrou para Isval. – Sabia?
– Já ouvi falar nisso, sim. O que está insinuando?
– Por que acha que arriscam suas vidas assim? – indagou Cham.
– A emoção, talvez – arriscou ela. – Para provar que são capazes.
– Talvez achem que tenha alguma importância – avaliou Cham, e Isval percebeu que nem ele nem ela falavam
sobre lyleks.
– Porque eles precisam – disse Isval. – Caso contrário, seria tolice.
Sorrisos e olhares de espanto saudaram Vader, o imperador e Deez enquanto Narmn os conduzia à aldeia
propriamente dita. Os lares modestos remeteram Vader ao tipo de moradia que tivera em Tatooine, há muito
tempo.
O imperador sorria e acenava com a cabeça, retribuindo as saudações e agradecendo aos Twi’leks pela
hospitalidade. Vader não dizia nada, embora estivesse ciente de que sua armadura e o traje de Deez eram alvos
de muitas perguntas sussurradas e dedos apontados.
Curiosos, os Twi’leks rodearam os visitantes. Deez interpôs-se da melhor maneira possível entre o imperador e
os aldeões.
– Mantenham distância – disse aos Twi’leks, um pouco áspero.
– Sargento, está tudo bem – amenizou o imperador. – Deixa para lá. Não é mesmo, Irluuk?
Vader respondeu com uma pergunta de sua autoria, falando em Sith arcaico, de modo que apenas o
imperador pudesse entendê-lo:
– Planeja matá-los, mestre?
– Não planejo nada disso, aprendiz – respondeu o imperador no mesmo idioma, sempre estampando o
sorrisinho. – Mas eles vão morrer de qualquer jeito. Você os matou no momento em que poupou aquela moça.
– Não entendo – disse Vader.
– Vai entender. Paciência, meu amigo.
Drua emergiu da pequena multidão e parou diante deles, o sorriso iluminado pela luz das tochas. Um Twi’lek
frágil, enrugado, de pele castanha, a acompanhava, a mão no ombro da moça. Os olhos leitosos denunciavam sua
cegueira.
– Meu avô – anunciou Drua.
O avô dela curvou a cabeça da mesma forma que Narmn curvara. Talvez seus lekkus assinalassem uma
saudação que Vader não sabia discernir.
– Temos o costume de dar as boas-vindas a todos os estranhos – falou o avô numa voz abatida. – Mas minha
neta já me contou seus nomes e então já deixaram de ser estranhos. Sargento, Krataa e Irluuk, sejam bem-
vindos. A aldeia está aqui para conhecê-los.
Acenos de cabeça ao redor, lekkus balançando, sorrisos. O avô ergueu as mãos pedindo silêncio e continuou:
– A chuva parou e temos novos amigos. É tarde, mas nem tanto. Vamos comemorar com música.
Aplausos e gritos responderam a suas palavras. A música começou de um ponto adiante, os instrumentos de
sopro que tinham ouvido antes, acompanhados por um tambor. Muitos aldeões começaram a cantar ou a
cantarolar em Ryl, sua língua nativa, os altos e baixos da melodia lembrando o cair da chuva e o estrondo do
trovão.
Drua pegou o imperador pela mão e o guiou rumo ao pequeno centro da vila. No trajeto, os aldeões davam
tapinhas nos ombros de Vader e Deez, murmurando palavras de boas-vindas. Vader permitiu ser conduzido,
tando os sorridentes rostos coloridos, sabendo que olhava espectros.
Uma grande fogueira já crepitava no centro da aldeia. Ao lado do fogo, em pé, dois Twi’leks tocavam um tipo
de auta esculpida, dançando na melodia. Sentado entre eles, um percussionista marcava o ritmo.
Em volta da fogueira, havia um círculo de banquetas entalhadas. Vader, Deez e o imperador sentaram-se
nelas. Os demais aldeões confraternizavam, falando e sorrindo; um casal inclusive dançava. Outros proseavam
sentados nas banquetas. O avô de Drua sentou-se perto de Vader e do imperador. Antes que Drua se sentasse, o
imperador disse a ela:
– Drua, talvez você pudesse trazer a Irluuk a unidade de comunicações estragada da qual você falou. Ele é um
perito no assunto.
Vader lançou ao mestre um olhar indagador.
– Satisfaça esse meu capricho – solicitou o imperador. – Drua, pode trazê-la?
– Claro – disse Drua e saiu dali.
Voltou logo depois, trazendo a Vader um pequeno comunicador, com décadas de idade, e uma caixa de
ferramentas, o tipo de equipamento que Vader usava quando menino, na época em que fazia coisas metálicas,
em vez de estar envolto nelas. Abriu a caixa e pegou uma ferramenta, sentindo que a dominava tão bem quanto a
empunhadura do sabre de luz. Com agilidade, desmontou o comunicador e começou a consertá-lo. Percebeu o
problema imediatamente. Em pouco tempo, deixaria o aparelho operante. De olhar arregalado, Drua observava
com assombro e fascinação.
O mestre se inclinou e disse:
– Percebo que você manteve a perícia de sua juventude.
– Foi só isso que sobrou daquela época – ponderou Vader.
– Veremos – respondeu o imperador.
 
O vento trazia um zunido fraco, mas irritante, de um lugar à frente.
– Que barulho é esse? – indagou Isval a Cham.
Cham encolheu os ombros, a sobrancelha arqueada.
– Vamos ver o que Goll acha disso.
Fez um sinal a m de que a equipe de Goll, que vinha logo atrás, parasse. Não foi preciso esperar muito até
Goll retornar de sua posição de reconhecimento na vanguarda.
– Que barulho é aquele? – indagou Cham.
– Acho que um ruído de sinalização, arte ou coisa parecida – avaliou Goll. – Ou talvez para espantar os
animais. Parece inofensivo. Mas não importa, pois encontramos Vader e o imperador. Nós os encontramos.
O coração de Isval bateu contra as costelas. Sentiu-se corar, sentiu a calma da ação iminente a dominar.
Cham agarrou Goll pelos ombros.
– Onde?
– Num des ladeiro, a meio quilômetro daqui. – Indicou a direção com a cabeça. – Parece uma antiga pedreira.
Eu os avistei lá.
– Avistou! – exclamou Isval, incapaz de se conter. – O que estamos esperando? Vamos lá. Cham, convoque os
V-wings de Belkor, podemos...
– Não – discordou Goll, balançando a cabeçorra, e seu semblante sério desanimou Isval. – Não chame
ninguém ainda, muito menos Belkor.
– O que houve? – indagou Cham com cautela.
– Há um vilarejo lá, Cham. Uma aldeia isolada. Camponeses. Twi’leks. Não vi nada parecido com um
conjunto de comunicação. Eles...
– O que Vader fez com eles? – interpelou Isval.
– Nada – explicou Goll. – Eles...
– Nada? – repetiu Isval. – Como assim, “nada”?
– Isval, me deixe concluir a frase! – exclamou Goll, e Isval cou quieta. – Todos estão reunidos no centro da
aldeia. Uma espécie de... comemoração ou coisa parecida.
Isval compreendeu. Goll dissera que se tratava de camponeses.
– Os aldeões não sabem a identidade deles. Para eles, são apenas visitantes.
A aspereza da vida em Ryloth estabelecera certas normas em vilarejos twi’leks – entre elas, a hospitalidade
com estranhos. Isso não se estendia aos exércitos imperiais, é claro, mas algumas aldeias estavam isoladas há
tanto tempo que não sabiam quase nada sobre o Império. Tudo indicava que Vader e o imperador tinham topado
com uma dessas aldeias e os Twi’leks que moravam lá os acolheram.
– Mostre para nós – pediu Cham.
 
Syndulla lhe dissera para pousar porque havia encontrado algo, mas Belkor não respondeu a ele. Precisava
continuar a busca, não só a Vader e ao imperador, mas a Mors. Não voaria além do alcance de comunicação de
Cham, mas sem dúvida continuaria a busca.
– Sobe, desce, sobe, desce – resmungou ao cadáver de Ophim, que já começava a feder. – Ele acha que sou
uma isca de pesca. Não sou, Ophim. Não sou!
Ele se deu conta de que, além de conversar com um cadáver, transpirava, talvez com febre. O som da chuva
tamborilando na bolha na última meia hora lhe causara enxaqueca, e seus pensamentos uíam como lama.
– Basta suportar as próximas horas, certo? Certo, Ophim?
Belkor pilotava a bolha de reconhecimento pouco acima do dossel orestal, devagarinho, os so sticados
escâneres instalados na nave examinando a paisagem abaixo e o céu ao redor.
Nada, nada e mais nada.
Conferiu o relógio, analisou quanto tempo tinha antes que o núcleo de retransmissões consertasse um dos
pratos e cancelasse o sinal de interferência. O tempo se esgotava. A cabeça não parava de doer. E eles não tinham
encontrado nada! Bem, nada era modo de dizer. Cham encontrara algo, mas não havia lhe informado do que se
tratava.
– Ele não con a em mim – Belkor comentou com Ophim.
Tentou falar com Cham pelo comlink criptografado, mas não obteve resposta.
Belkor bateu o comunicador contra a palma da mão e gritou:
– Atende! Atende! Atende!
Frustrado, jogou o comunicador contra o interior da bolha da cabine. O aparelho ricocheteou no plástico
transparente e se chocou no deque. De imediato, Belkor arrependeu-se do rompante, receando ter quebrado sua
única ligação com Cham.
Soltou um palavrão, deu uma risadinha e xingou de novo.
Percebeu que estava sofrendo um tipo de surto, um ataque de ansiedade ou estresse ou coisa que o valha.
Sentia o coração bater e parecia que alguém martelava pregos em seu crânio. Respirou fundo algumas vezes,
tentou recompor-se, ao menos se controlar um pouco.
Nisso, decidiu que já ouvira ordens su cientes de Cham. O Twi’lek era vagaroso demais para agir, metódico
demais, e não estava mantendo Belkor informado. Falou que tinha uma pista sobre Vader e o imperador? Já era o
su ciente. Belkor veri caria que pista era essa.
Já acionara o modo camu agem da bolha de reconhecimento. Do lado de fora, em meio à chuva noturna,
seria invisível a olho nu.
Ainda roçando nas copas das árvores, Belkor enviou sua localização, velocidade e direção para que seus V-
wings acompanhassem o ritmo dele e mantivessem contato. Então partiu para onde sabia que Cham estava.
– Vamos descobrir o que ele encontrou, Ophim.
 
Na lançadeira, Mors executava a varredura. O piloto se aproximava do topo das árvores, mas não muito perto.
A nave não era tão ágil assim. Se batessem em um galho mais grosso...
Uma nave apareceu no limite externo do escâner de Mors, atraindo sua atenção plena. Ativou o comunicador
e saudou Steen.
– Está vendo aquilo, Steen?
Mors olhou na direção do transporte de Steen, embora a escuridão e a chuva a impedissem de avistá-lo, a não
ser pelo escâner.
A voz de Steen surgiu no comunicador:
– É um V-wing, senhora. Sem dúvida de Belkor. E vem aí.
– E bem rápido – disse o o cial que pilotava a lançadeira.
De fato, Mors deveria ter tentado memorizar o nome dele.
– Entre em contato com ele – ordenou Mors, tentando manter a calma na voz.
Nem a lançadeira de Mors tampouco o transporte de Steen eram capazes de vencer em combate um único
caça modelo V-wing. Precisavam evitar o confronto pela conversa, ou sua tentativa de resgatar Lorde Vader e o
imperador estava prestes a se extinguir em chamas.
– Faça isso, Steen. Talvez os homens de Belkor não me respondam. – Ao piloto, Mors instruiu: – Não realize
manobra de evasão.
– Hã, tem certeza, minha senhora?
– Sim – a rmou Mors, mas cerrou o punho quando o V-wing se aproximou.
O caça pôs a nave de Mors na mira. Os alarmes começaram a soar.
– Ele nos colocou na mira – avisou o piloto, desnecessariamente.
– Aqui é o major Steen Borkas, do núcleo de retransmissões equatorial – interpôs Steen, com a voz calma de
um comandante. – Desative essas armas e identi que-se imediatamente, V-wing.
As luzes atmosféricas do V-wing apareceram, em rápida abordagem. O ágil caça vinha direto rumo às duas
naves.
– Repito, diminua a potência e se identi que, V-wing.
As armas continuavam alçando mira, por isso Mors lançou mão de sua carta na manga. Não podia imaginar
que Belkor dissera toda a verdade aos pilotos dos V-wings.
– V-wing – disse Mors –, você está auxiliando nas operações de busca ao Lorde Vader e ao imperador?
Também estamos aqui para isso. Con rme que entendeu.
O V-wing sobrevoou a lançadeira e o transporte, o denunciador zumbido de seus propulsores audível mesmo
através da antepara da nave. Mors soltou um suspiro.
– Repita, lançadeira? – solicitou o piloto do V-wing.
Mors decidiu abrir o jogo.
– Meu lho, aqui é a moff Delian Mors e perguntei se você estava auxiliando nas buscas ao Lorde Vader e ao
imperador, que estão perdidos em algum lugar na oresta aqui perto. E eles estão na oresta, porque, primeiro, o
destróier estelar, e depois, a nave auxiliar em que escaparam foram destruídos como resultado direto da ação de
traidores do Império, mais especi camente o coronel Belkor Dray. Está me ouvindo?
Silêncio no comunicador.
– Meu lho, eu espero que esteja me entendendo, e torço para que perceba que tudo isso vai vir à tona, mais
cedo ou mais tarde. Belkor não o avisou sobre Vader e o imperador?
Um longo silêncio e de repente:
– Não, senhora.
– Meu lho, vai haver uma investigação como nunca antes vista, o Gabinete de Segurança Imperial, pelotões
de stormtroopers, tudo que você puder imaginar. Preste atenção, eu não sei o que Belkor lhe disse, mas não deve
acreditar em nada. A menos que você também seja um traidor, desative as armas agora e não fale com ninguém
além de nós. Con rme.
Os próximos instantes deixaram os cabelos de Mors um pouco mais grisalhos, mas, no m das contas, o V-
wing desativou a mira contra eles.
– Con rmado. Senhora, aqui é o líder de esquadrilha Arim Meensa. Belkor nos contou que a senhora era a
traidora. E acho que eu estava disposto a acreditar nisso. Talvez um pouco disposto demais, pois devo lealdade a
Belkor. Mas conheço a reputação do major Borkas, e de jeito nenhum ele estaria envolvido numa traição contra
o imperador. O que está acontecendo aqui, minha senhora?
– Uma tentativa de assassinato em câmera lenta – explicou Mors. – Mas vamos interrompê-la. Diga-me o que
você sabe, quem está aqui, onde está Belkor... tudo.
O V-wing se posicionou em formação ao lado do transporte e da lançadeira.
– Sim, senhora – disse o piloto.
Em breve, Mors e Steen souberam que Belkor voava numa bolha de reconhecimento e tinha ao dispor um
total de seis V-wings em formação escalonada para manter a comunicação, enquanto procuravam Mors e os
destroços da nave auxiliar de Vader e Palpatine. Também tiveram conhecimento de que Belkor dissera aos
pilotos que eles provavelmente precisariam atacar um alvo no solo com base apenas nas coordenadas, e que, ao
receberem a ordem de ataque, deveriam ser rápidos e não fazer perguntas. Por m, soube que Belkor
abruptamente mudara a área de busca pouco tempo antes. A partir disso, Mors inferiu a conclusão óbvia:
– Belkor tem pessoas no solo – comentou com Steen via comunicador. – Mais traidores, ou talvez um grupo
de rebeldes. Seja como for, eles têm uma pista sobre o imperador e Lorde Vader.
– É possível – disse Steen, embora ele parecesse cético.
– Precisamos achar Belkor – avaliou Mors, mas sabia que os escâneres da bolha de reconhecimento captariam
a aproximação dela bem antes que eles captassem Belkor em seus próprios escâneres. Com facilidade, ele poderia
evitá-los. Além disso, não sabiam sua posição exata. Só tinham as suas últimas coordenadas conhecidas, e sabiam
que ele continuava ao alcance de comunicação com o V-wing de Meensa.
– Envie o V-wing – disse Steen abruptamente. – Derrube-o.
– Talvez – ponderou Mors, pensativa. – Mas acho melhor não. Precisamos chegar ao imperador. Se Belkor tiver
um grupo no solo no encalço do imperador e de Vader, e nós derrubarmos Belkor, talvez o grupo do solo ainda
consiga capturar o imperador. Ele é apenas um senhor de idade, Steen. Não podem estar se movendo muito
rápido.
– Certo – disse Steen. – Entendo o seu ponto de vista.
Mors chamou o líder da esquadrilha, testando outra ideia.
– Meensa, seus homens vão cumprir suas ordens mesmo se elas forem contrárias às de Belkor?
– Senhora, todos nós devemos favores ao coronel de uma forma ou de outra, mas... sim, eles vão obedecer a
tudo o que eu lhes disser.
– Ótimo. Então me ouça. Continue fazendo como ele mandou, mas vamos acompanhá-lo enquanto você nos
mantém informados, em tempo real, sobre o que está acontecendo. E, então, quando ele ordenar o ataque, você
me repassa as coordenadas e atrasa a sua chegada.
– Atrasar, senhora?
– Preciso chegar lá primeiro, colocar o pelotão de stormtroopers no teatro de operações. Depois você se
aproxima. Diga aos seus homens o que for preciso, diga-lhes que realizem um sobrevoo de reconhecimento
primeiro. Eles vão avistar os stormtroopers, avistar Lorde Vader e então você lhes dirá que o traidor é Belkor.
Consegue fazer tudo isso?
– Sem problemas, senhora.
 
Uma névoa começou a subir do solo quente e úmido. De cócoras, Cham estudou a aldeia encravada na base
da pedreira. O cenário lhe pareceu surreal. No meio de um círculo de Twi’leks, abancados ao redor de uma
fogueira, Vader, o imperador e um guarda real degustavam frutas e bebiam em cabaças. Vader trabalhava em algo
que segurava nas mãos. A música subia lá da pedreira, uma cadência melódica tocada por instrumentos de sopro
e percussão.
– Não vai acreditar nisso – ele disse, e entregou o macrobinóculo a Isval, que estampou a mesma expressão
perplexa que Cham sabia ter demonstrado. Goll pegou o macrobinóculo de Isval, veri cou a cena, soltou um
grunhido e devolveu o equipamento a Cham.
– Mesmo com ri es de precisão, esse seria um tiro difícil – avaliou Goll. – E nem temos ri es de precisão.
– O que vamos fazer? – Isval indagou a Cham.
Cham tou Goll e, em seguida, acenou com a cabeça para a trilha iluminada por tochas que conduzia a um
dos ancos da pedreira.
– Suas tropas conseguem contornar o anco sem alertar ninguém?
– Estas trilhas são meio esculpidas na encosta da pedreira – a rmou Goll, observando a vereda. – Por esse
detalhe e com essa neblina, sim, acho que podemos avançar despercebidos pela trilha, desde que nenhum aldeão
se aventure a fazer um passeio noturno. Ainda assim, a menos que a névoa engrosse, no momento em que meus
homens alcançarem a base da pedreira e se aproximarem da vila, todos vão enxergá-los.
– Certo – concordou Cham. – Mas uma coisa de cada vez. Uma coisa de cada vez.
– No que você está pensando? – quis saber Isval.
Cham notou o nervosismo na voz dela, sua ânsia de fazer alguma coisa, agora que eles tinham Vader e o
imperador em mira.
– Estou pensando em colocar a equipe de Goll a postos e daí aguardar – explicou ele.
Ela apertou as mandíbulas, como se tentasse conter as palavras que sabia que não deveria dizer. Por m,
explodiu:
– Aguardar o quê? Eles estão bem ali!
– E também muita gente inocente – esbravejou Cham. – Gente da nossa espécie, diga-se de passagem. Se eu
mandar a equipe de Goll, o que acha que vai acontecer? Se eu mandar os V-wings de Belkor atacar essas
coordenadas, o que vai acontecer?
Isval o mirou, cerrando e abrindo os punhos.
– Está tarde – acalmou Cham. – Logo os moradores vão se recolher em suas casas. Observaremos onde Vader e
o imperador carão. Todo mundo precisa dormir, inclusive eles. Então agimos. Com rapidez. Com precisão.
Ninguém se machuca além deles. E caso encerrado.
O olhar de Goll oscilou de Cham a Isval e a Cham outra vez.
Por m, Isval assentiu com a cabeça.
– Se esse nevoeiro car muito denso, daqui a pouco a gente não vai conseguir enxergar o fundo da pedreira.
– Uma coisa de cada vez – repetiu Cham.
– Mando as minhas tropas começarem a descer – avisou Goll.
A frase foi meio pergunta, meio a rmação, e Cham assentiu.
Depois de ele se retirar, Isval estendeu a mão para pegar o macrobinóculo.
– Vou car vigiando.
– Já imaginava – falou Cham. – Seja como for, preciso falar com Kallon.
– Sobre o quê? – quis saber ela.
– Sobre rotas de fuga – esclareceu Cham.
Ele observou por um momento enquanto os combatentes de Goll se agachavam e começavam a andar
acocorados, em la indiana, pela trilha que conduzia ao fundo da pedreira. Então se afastou para as árvores e
chamou Kallon no comunicador.
– Cham – reconheceu Kallon.
– Não discuta com o que estou prestes a dizer. Está entendendo?
– Hã... Sim, tudo bem.
Cham suspirou e, em seguida, falou:
– Preciso que você saia agora, retorne e comece uma retirada organizada de nossas leiras rumo às montanhas.
Certi que-se de dispersar o pessoal e os equipamentos que sobraram.
– Eu não...
– Não me interrompa.
– Certo. Prossiga.
– O Império já deve ter enviado tropas a caminho de Ryloth. Essas tropas vão bloquear o sistema e vasculhar
cada milímetro quadrado da superfície do planeta. Uma coisa jamais vista, Kallon. E você sabe que eles vão
encontrar cada base secreta que tivermos. E entregarão centenas de Twi’leks às mãos do Gabinete de Segurança
Imperial. Agora, temos de fragmentar nosso pessoal, separá-los em suas células constituintes. Eles conhecem o
processo. Você também conhece. Inicie-o.
Após uma longa pausa, Kallon disse:
– Tudo bem. Vou iniciar. A gente se vê do outro lado, Cham. O que está acontecendo lá?
– Nós os encontramos. Agora só falta matá-los.
Cham cortou a conexão e contatou Faylin.
– Pode falar, Cham – ela disse.
– Fique onde está e permaneça nessa frequência. Você é nossa alternativa se algo der errado. Vamos ter que
dobrar a lotação da nave. Enviei Kallon noutra missão.
– Entendido.
Cham voltou para o lado de Isval. Em pé, ao lado de Goll, ela observava através do macrobinóculo os
movimentos na aldeia, as suas presas. A equipe de Goll se embrenhava pela trilha.
– Não há ninguém da aldeia na parte inferior da trilha – ponderou Isval. – Estão todos no centro da aldeia.
– Excelente – ponderou Cham.
– Percebeu o que Vader fazia?
– Não – respondeu. – Pode dizer?
– Mexia num comunicador – ela revelou. – Um dos antigos, mas não há dúvida.
– Um velho comunicador não vai superar o sinal de interferência de Kallon.
– Concordo – disse Isval.
– Mas é incongruente pensar nele mexendo num comunicador – comentou Cham. – Faz a gente pensar em
quem ele era antes de colocar aquela roupa.
Isval apontou as lentes.
– Vamos descascar o cadáver dele e descobrir.
 
Belkor percebeu que cantarolava sozinho enquanto pilotava a bolha de reconhecimento, uma canção ou outra
da época em que era tenente.
Ao longo do dia, ele chegara à conclusão de que iria morrer e não podia fazer nada para interromper esse
processo. Aceitou isso. Mas também concluiu que primeiro queria eliminar Vader, o imperador, Syndulla e seu
maldito grupo de seguidores. Todos se lembrariam de seu nome nas gerações vindouras.
– E por que não, Ophim? – disse ao cadáver ainda a velado no assento ao lado dele.
Ficou se perguntando se perdera completamente a sanidade mental, mas de repente se deu conta: gente que
enlouquece nunca se pergunta se enlouqueceu.
Ainda cantarolando, debruçou-se sobre as varreduras, já sabendo qual a área geral em que Syndulla devia estar.
Em pouco tempo, ele os encontrou, um grande número de formas vitais agrupadas em volta de uma espécie de
pequeno cânion.
– Aí estão vocês – falou, acelerando em direção ao local.
 
Vader praticamente não ouvia a música dos Twi’leks e nem provou a comida. Estava no seio deles, mas com a
cabeça longe. Sua armadura, seu poder e sua percepção colocavam-no mais longe dessa gente do que uma estrela
distante. Essas criaturas efêmeras e fugazes eram incapazes de interessá-lo. Concentrou-se no comunicador, no
manuseio das ferramentas, na limpeza dos circuitos, na conexão dos os; a coisa toda, uma meditação.
– Isso é incrível – elogiou Drua, vendo-o trabalhar.
Vader montou o equipamento e o devolveu à jovem Twi’lek.
– Pronto.
– Você o consertou? – quis saber Drua. – Simples assim?
– Não foi isso que eu disse – respondeu Vader, embora Drua não tenha compreendido o que ele quis dizer.
Ele não consertara o equipamento para que ele funcionasse. Ele o consertara para garantir que não sentisse
nada ao fazê-lo. Ele o consertara para exorcizar seus próprios espectros. Sem dúvida, o mestre pedira à Twi’lek
que trouxesse o comunicador só por esse motivo, também.
A jovem Twi’lek ligou o comunicador, sem saber, como Vader sabia, que o sinal de interferência impediria o
dispositivo de captar quaisquer comunicações. Ela girou o dial por várias frequências.
De repente, o aparelho deu sinal de vida, emitindo chiados, e a moça abriu um sorriso.
– Ei, escutem isso!
Ela sintonizou o comunicador numa frequência imperial não sigilosa, usada para orientar o transporte
comercial, e Vader ouviu uma voz monótona dando instruções a um cargueiro que se aproximava. Ele se
aprumou, surpreso, percebendo imediatamente o signi cado daquilo.
– Parece que a comunicação foi restabelecida – comentou o imperador. Em seguida, dirigiu-se a Deez: –
Sargento, se não se importa, por favor, transmita uma saudação na frequência con dencial da moff.
– E se a moff for a traidora? – quis saber Vader.
O imperador deu uma risadinha.
– Delian Mors pode ser muita coisa, Lorde Vader. Preguiçosa, hedonista, niilista, mas ela não é, nem nunca
será, uma traidora do Império. E após os acontecimentos de hoje, suspeito que ela começará a corrigir as
próprias fraquezas. Sargento, prossiga.
O imperador informou a Deez o código para a frequência; Deez girou o dial do velho comunicador para o
canal seguro disponível apenas aos moffs e transmitiu uma saudação.
O imperador disse a Vader:
– Logo isso vai terminar.
Vader correu o olhar ao redor dos Twi’leks, todos sorrindo, comendo, cantando.
Espectros. Meros espectros, todos eles.
 
O crepitar repentino da estática do comunicador quase fez Mors pular do assento.
– A comunicação foi restabelecida, senhora! – exclamou o piloto.
– Sim, ouvi isso! – exclamou Mors, entrando em contato com Steen. – Steen, transmita meus agradecimentos
à sua equipe no núcleo de retransmissões. Conseguiram antecipar o conserto em várias horas.
– Pode deixar, minha senhora.
– Mensagem chegando, senhora – informou o piloto. – O canal está... bloqueado, minha senhora. Não consigo
responder.
Mors veri cou e notou que a transmissão acontecia no canal con dencial para os moffs.
– Vou aceitá-la – ela disse, inserindo o código que permitia acesso. – Aqui é a moff Delian Mors. Com quem
estou falando?
– Aqui é o sargento Erstin Deez, da Guarda Real, e envio saudações em nome do imperador Palpatine. – Mors
não reconheceu a voz. – O imperador e Lorde Vader estão nas seguintes coordenadas e solicitam extração
imediata.
Mors mal podia acreditar no que ouvia.
– Anotou as coordenadas? – ela perguntou ao piloto.
– Sim, senhora – con rmou o piloto.
– Sargento Deez – respondeu Mors –, acreditamos que o imperador e Lorde Vader correm perigo. Se possível,
remova-os da sua localização atual e me atualize de novo neste canal com as novas coordenadas.
– Entendido, moff Mors.
– Estamos a caminho – disse Mors.
 
Lá do alto, Belkor sobrevoou o que agora percebia se tratar de uma antiga pedreira de mineração. Algumas
fogueirinhas esparsas e uma de bom tamanho ardiam no chão da pedreira. Muitas formas de vida, humanoides,
reuniam-se ao redor da fogueira maior. Ele selecionou o local no escâner, ampliou, ampliou, ampliou, até
conseguir avistar...
Vader e o imperador, sentados em meio a uma multidão de Twi’leks.
Tentou conter uma risadinha, mas ela irrompeu. A cena lhe pareceu ridícula. O dia lhe parecia ridículo.
Outro grupo de Twi’leks se aglomerava no anco da pedreira, enquanto outros permaneciam na borda
superior, com vista para a aldeia.
– Olá, Syndulla – chamou Belkor.
Ele os tinha agora, todos eles num só lugar, e ia matá-los.
– Eles merecem – comentou com Ophim, ou talvez consigo mesmo, já não sabia mais e achava que nem fazia
diferença.
Foi pegar o comunicador – seria divertido provocar Syndulla –, mas o aparelho soltou uma explosão de
estática que o fez gritar. Primeiro, pensou se não estaria imaginando coisas. O núcleo de retransmissões não
podia consertar tão rápido o prato três, ou podia?
Ofegante, tou o ruidoso comunicador, o peito in ando e desin ando, o suor brilhando na testa. Se a
comunicação tivesse sido restabelecida, o que fariam?
– O que isso signi ca, Ophim? – perguntou.
Devagar, levou a mão ao comunicador, encarou o aparelho por um instante, ativou-o e então fez uma
saudação ao núcleo.
– Na escuta?
Estática e, em seguida:
– Aqui é o núcleo de retransmissões equatorial. Na escuta. Identi que-se...
Belkor largou o comunicador como se estivesse em chamas, então depressa o agarrou outra vez. Transmitiu as
coordenadas da aldeia twi’lek ao líder dos V-wings.
– Os traidores estão lá no solo. Há uma aldeia de Twi’leks na parte inferior de uma pedreira antiga, e há
vários Twi’leks no anco e na borda da pedreira. Mate todo mundo. Ninguém deve escapar. Con rme.
Um longo momento se passou até o comandante falar:
– Con rmado, senhor.
Belkor queria ver tudo por si mesmo, então diminuiu a altitude e esperou que o V-wing começasse a chacina.
Teria se juntado aos caças se a nave de reconhecimento dispusesse de alguma arma. Desarmado como estava,
tudo o que podia fazer era degustar o show. E ainda provocar Syndulla.
 
O comunicador criptografado de Cham soou. Ele o ativou.
– Fala – atendeu.
– Adivinha, Syndulla? – provocou Belkor, num tom vagamente frenético. – A comunicação foi restabelecida!
Cham sentiu um rubor na pele.
– O quê? Como sabe disso?
– Teste! – exclamou Belkor. – Vá em frente. Agora tudo está desabando, Syndulla. Mas não só para mim.
Prepare-se.
Cham ativou seu comunicador e entrou em contato com Kallon, que a essa altura estaria muito longe caso o
sinal de interferência ainda funcionasse.
– Kallon, está me ouvindo? Kallon?
– Estou – foi a resposta perplexa de Kallon. – Cham...
Cham soltou um impropério, cortou a conexão e encarou Isval, ao lado dele. Ela pareceu impressionada. Goll
permaneceu ao lado da Twi’lek, com os musculosos braços cruzados.
– A comunicação foi reativada – avisou-lhes Cham.
– Temos que ir, então – disse ela, acenando com a cabeça em direção à vila.
– Meu pessoal está a postos – informou Goll.
Cham concordou com a cabeça. Os combatentes de Goll se en leiravam na trilha que conduzia até a parte
inferior da pedreira, prontos para invadir a aldeia. Goll permaneceu com Cham e Isval para fornecer apoio de
fogo e coordenação lá de cima. Isval avisou:
– Ele tem um comunicador, Cham. Flagramos Vader com um. Vão enviar uma equipe de resgate. Nosso tempo
se esgotou.
Cham balançou a cabeça, tentando avaliar as coisas com clareza, embora seus pensamentos estivessem
confusos.
– Ainda temos um pouco de tempo. Ninguém está por perto.
– Não há como saber – contestou Isval. – E se alguém estiver? Essa é nossa única chance. Esse é o motivo de
tudo.
Cham olhou a aldeia lá embaixo, os Twi’leks, as mulheres e as crianças.
Ele balançou a cabeça.
– Ainda não – ordenou.
– Você tem que fazê-lo – insistiu Isval, mas sentiu a falta de convicção na própria voz. – É agora ou nunca.
Cham voltou o olhar à aldeia por vários segundos, o olhar a ito.
– Cham? – perguntou Goll, delicadamente. – Vamos ou não?
Cham não tirava o olhar dos aldeões.
– Vamos. Mas disparem tiros de advertência.
– O quê? – interpelou Goll.
– Cham... – começou Isval.
– Não vou disparar nos Twi’leks – disse Cham. – Eles vão fugir para a mina ao escutarem os tiros de
advertência. É por isso que ela está ali. É um esconderijo de segurança. Talvez conduza a um ponto na selva.
– Vamos perder o efeito surpresa – disse Goll, insinuando algo.
Mas Isval não deixou o dito pelo não dito:
– E colocar o nosso pessoal em risco. Sabe do que Vader é capaz.
Ela se odiava por falar isso, mas sabia que precisava ser dito.
O rosto de Cham se contorceu numa expressão que ela nunca vira antes: dor, raiva, desespero, tudo isso
pulsou no olhar dele. Ela percebeu que ele estava exausto.
– Acha que não sei disso, Isval? Mas nosso pessoal se alistou para lutar e talvez morra. Os aldeões, não. Somos
combatentes em prol da liberdade, e não...
Ele se calou, balançando a cabeça.
– Não o quê? – quis saber Isval.
– Analise em que estamos pensando aqui – disse Cham. – Mandar V-wings arrasar uma aldeia de Twi’leks.
Pilotos imperiais massacrando Twi’leks ao nosso pedido. É disso que estamos falando. Pense nisso.
Isval nem precisou pensar muito. As palavras de Cham a atingiram em cheio. Pensou em Ryiin, nas outras
moças que ela salvara ao longo dos anos. Imaginou moças como elas na aldeia, inocentemente envolvidas numa
situação crítica, no lugar errado e na hora errada.
Ela estava convencida de que arrasar a aldeia era a coisa certa a fazer. Que, para se vingar de Vader, valia a
pena matar Twi’leks.
Sua pele queimou de vergonha e ela fez uma reverência.
– Está tudo bem – apaziguou Cham.
Ela ergueu o olhar para ele.
– Não está, não.
– Às vezes, a gente se perde, Isval – comentou Cham. – Só precisamos encontrar o caminho de volta.
E de repente ela lembrou por que Cham era tão importante para o movimento e para seja lá o que viesse
depois. Por muito tempo, ele combatera o Império, sempre odiando o que o Império representava com a mesma
intensidade que ela, mas o ódio e os métodos dele sempre se norteavam conforme os seus princípios.
Ela o amava. Admitiu para si mesma. Ele era um combatente em prol da liberdade. Nada mais, talvez, mas com
certeza nada menos.
– Ainda está em tempo de irmos embora – ela disse, ainda que as palavras lhe doessem.
Ele balançou a cabeça imediatamente.
– Pok – lembrou-se ele. – Crost, Drim, Veraul, Eshgo, Div, Mirsil, Nordon, Krev...
Enumerou cada membro do movimento que perecera naquele dia, e de novo Isval compreendeu o peso que
ele suportava. Ele continuou:
– Por eles, não podemos ir embora. Por si só, isso não vale a pena. Um destróier estelar vale a pena. É o
sacrifício deles que faz isso valer a pena. E isso signi ca Darth Vader e o imperador. Nisso você tinha razão o
tempo todo, Isval.
Ela procurou palavras, mas não as encontrou. Em vez disso, segurou a mão dele.
Goll limpou a garganta.
– Podemos abrir fogo sem colocar os aldeões em risco e lhes dar tempo para entrar no túnel. Mas e se Vader e
o imperador também fugirem? Como é que camos? Podem pegar a aldeia inteira como reféns, ou só fugir pelo
túnel. E se eles fugirem, Cham? Assistimos à fuga ou nos arriscamos a atingir alguns aldeões?
– Não será preciso arriscar – assegurou Cham, e ele e Isval falaram em uníssono. – Vader não vai fugir.
Goll os encarou, assentiu e levou a pulseira comlink à boca para transmitir as ordens a seus homens.
– Às vezes, é possível que uma decisão esteja certa e errada ao mesmo tempo – explicou Cham.
– Sim – Isval limitou-se a dizer, e foi tudo que conseguiu falar.
Goll acenou para Cham que seus homens estavam prontos, então Cham ativou o comlink criptografado e
falou com Belkor.
– Belkor, mande os V-wings atacarem estas coordenadas quando eu der o sinal.
– Vou mandar – respondeu Belkor, soando quase patético. – Mas acho que vou fazer isso agora.
– Não. Ao meu sinal, Belkor. Não antes.
– Posso vê-lo, Syndulla! – exclamou Belkor, dando risada. – Posso vê-lo, e você vai queimar junto com eles! Não
lhe respondo mais!
Cham ouviu o som denunciador dos V-wings cruzando a atmosfera. Cada vez mais próximos. Soltou um
xingamento.
– Tiros de advertência! – gritou para Goll. – Agora! Agora mesmo!
 
Belkor observou o escâner enquanto os seus caças voavam rumo à aldeia. Ele os viu entrar no alcance do
escâner, voando baixo e rápido sobre as árvores. Em poucos segundos, chamuscariam o terreno. Não conseguia
tirar o sorriso dos lábios. Teve ímpeto de dar cambalhotas, mas a cabine não era grande o su ciente. Então
dançou um pouco sentado.
E de repente percebeu algo estranho no escâner: duas naves extras, um transporte e uma lançadeira.
– Que naves são estas? – indagou. – Não deveriam estar lá, Ophim.
Chamou o líder da esquadrilha:
– Meensa, estou vendo duas naves acompanhando seu caça. Identi que-as.
Nenhuma resposta.
– Meensa, identi que aquelas naves.
Belkor sentiu um vazio no estômago, um espaço oco que começou a se expandir e a se preencher com
dúvidas.
– O que está acontecendo aqui?
Saudou o transporte e não recebeu resposta alguma, então experimentou a lançadeira. Essa nave respondeu,
mas, quando ele ouviu a voz do outro lado, sentiu di culdade para respirar por um instante.
– Olá, Belkor – disse Mors.
 
Cham olhou a pedreira lá embaixo, torcendo para que estivesse fazendo a coisa certa, quando Goll ergueu a
pulseira comlink à boca e se conectou com sua equipe.
– Disparos de advertência para espalhar os aldeões a oeste. Em seguida, invadam para pegar Vader e o
imperador. Não quem muito perto. Vai chegar apoio aéreo.
Agachados, os combatentes de Goll se en leiraram na trilha e se precipitaram no chão da pedreira, usando
velhos montes de rocha como cobertura, disparando as armas de raios no caminho. Eles disparavam contra as
moradias ou miravam para cima, as linhas vermelhas de suas armas de raios riscando desenhos na névoa.
Os gritos surpresos dos aldeões subiram do chão da pedreira e chegaram aos ouvidos de Cham. Várias das
estruturas rústicas se incendiaram com os raios de armas, as chamas alastrando-se com rapidez. Um dos soldados
de Goll deve ter arremessado uma granada em direção à aldeia – não perto o su ciente para machucar alguém,
Cham supôs, mas perto o bastante para fazer tremer os paredões da pedreira e colocar os moradores em
polvorosa.
Primeiro, os Twi’leks se aglomeraram no centro da aldeia. Em meio à gritaria, alguns aldeões corajosos
subiram nos telhados das construções mais próximas para enxergar a pedreira. Alguns dispararam a esmo contra
os soldados que se aproximavam, mas nenhum raio chegou perto de atingir alguém.
Com o auxílio do macrobinóculo, Cham assistia ao desenrolar dos acontecimentos, na esperança de que os
aldeões não resistissem com luta, na esperança de que não precisasse solicitar um rasante bélico dos V-wings.
Observou, animado, que vários Twi’leks começaram a correr rumo ao túnel da mina. Os adultos arrebanhavam as
crianças e ajudavam os anciões.
– Continuem – sussurrou.
Em breve, os outros aldeões começaram a incitar a fuga de amigos e familiares. Cham pôde avistá-los
gesticulando na boca do túnel. Uns se aproximaram de Vader e do imperador, e Cham sentiu um calafrio na
espinha, temendo que os dois também pudessem fugir para dentro do túnel.
Prendeu a respiração.
 
Drua puxou a capa de Vader. Ao redor deles, os aldeões Twi’leks gritavam, berravam, fugiam. Alguns
disparavam contra os atacantes invisíveis no breu. Duas casas queimavam espalhando chamas aos céus.
– En m nossos caçadores nos alcançaram – disse o imperador, erguendo-se e alisando a roupa.
Deez deu um passo à frente dele, protegendo-o, o fuzil em punho.
– Vamos! – exclamou Drua. – Vocês dois. Temos um lugar seguro.
– É melhor nos refugiarmos no túnel, meus senhores – aconselhou Deez. – Os reforços estão a caminho.
– Ah, eu acho que não – disse o imperador.
Vader afastou Drua.
– Fuja – o imperador ordenou a ela.
Drua pareceu surpresa, depois com raiva.
– Fuja, menina – repetiu o imperador, e ela escapuliu junto com o resto dos aldeões.
– Vai ter que fazer isso sozinho, meu amigo – avisou o imperador a Vader. – Não posso ser visto usando a
Força com tantas testemunhas.
– Vou car ao seu lado, meu imperador – a rmou Deez.
Vader acendeu o sabre de luz.
 
– Perfeito! – exclamou Isval, acompanhando pelo macrobinóculo.
A fogueira transformou os vultos de Darth Vader, do imperador e do solitário guarda real, sozinhos no centro
da aldeia, em fantasmas escuros. Uma na listra rubra se ergueu do punho de Vader: o sabre de luz.
Isval pôde ouvir a aproximação dos V-wings.
– Cham, os aldeões se safaram. Diga a Belkor para os V-wings arrasarem o local! Só restam Vader e o
imperador. Estão em nossas mãos.
 
Belkor abriu a boca, fechou, abriu de novo, mas as palavras pareciam indispostas a ultrapassar os seus dentes.
Ele transpirava, o rosto corado. Por m, gaguejou:
– Moff?
– Você tentou me matar, Belkor. E matou centenas de seus companheiros.
– Não, não – defendeu-se Belkor. – Isso não passa de um mal-entendido. Eu estava...
– Por favor, não continue a me insultar, coronel – disse Mors. – E não se desonre ainda mais alegando
inocência. Sei tudo o que você fez. Você tem que pagar.
Um misto de emoções – raiva, desespero, ódio – fervilhava em Belkor... Ele nem sabia como descrever aquela
onda de sentimentos. Em vez disso, gritou no comunicador, pulverizando-o com saliva:
– Pagar? E quanto a você? Também deve pagar, sua fraude! Deve pagar por sua negligência, sua preguiça, seu
consumo de drogas, seus escravos, sua própria traição contra o Império! Hoje, fui traidor! Hoje! Você tem sido
traidora em toda a carreira! Também deve pagar, Mors!
– Eu vou pagar – garantiu Mors. – Já estou pagando. Mas não estou coberta de sangue, Belkor. Você está.
Belkor tou o cadáver púrpura de Ophim, o rombo na cabeça feito por ele. Assentiu, resignado. Estava coberto
de sangue. Ao dar-se conta disso, ao reconhecer o fato, sentiu-se etéreo, sem esqueleto, constituído apenas de
líquido. Vergou-se no assento, sentindo o peso do dia.
– E por isso – emendou Mors – você tem que pagar mais do que eu.
Para sua enorme surpresa, Belkor se sentiu mais aliviado do que qualquer coisa.
Ele realmente precisava pagar. Precisava. Indagou, num sussurro:
– O que vai fazer, então, moff? Vai me entregar ao Gabinete de Segurança Imperial? A Vader?
– Não, Belkor. Não vou entregá-lo à Segurança Imperial nem a Vader.
Um dos V-wings se desgarrou do resto do grupo e partiu em vetor de ataque rumo à nave de reconhecimento.
Belkor assentiu com a cabeça e suspirou. Não pensou em fugir. Seria inútil de qualquer forma. Uma nave de
reconhecimento não tinha nem chance de escapar de um V-wing.
– Claro, não pode me entregar a eles, não é mesmo? – ironizou. – Posso contar coisas que você não quer que
eles saibam.
– Acabou, coronel – disse Mors.
Ainda bem, pensou Belkor.
– Adeus – completou a moff.
O V-wing se aproximou. O computador de Belkor fez soar um alarme quando o V-wing xou o alvo na mira.
Belkor largou o manche e se recostou no assento. Fitou o cadáver de Ophim.
– Sinto muito, Ophim.
Seu computador emitiu um aviso de que as armas do V-wing estavam ativas. Belkor fechou os olhos. O seu
mundo explodiu em fogo.
 
Isval, Cham e Goll se abaixaram instintivamente quando uma nave explodiu acima deles numa bola de fogo
alaranjada. Cham ativou o comunicador criptografado com Belkor em seu pulso.
– O que foi isso, Belkor? Belkor?
Nenhuma resposta.
Um V-wing perfurou o céu acima, cortando a nuvem deixada pela explosão. Vários outros zeram voos
rasantes atrás dele.
– Faça-os arrasar a aldeia, Belkor. Diga-lhes apenas...
– Foi uma bolha de reconhecimento – informou Goll, interrompendo a fala de Cham.
– O quê? – indagou Cham.
– A nave que explodiu era uma bolha de reconhecimento.
– Não pode ser – disse Isval, com desespero na voz. – Verdade?
Cham segurou o comunicador com um ímpeto que fez doer os nós dos dedos.
– Belkor, está na escuta? Belkor?
Nada.
E Cham sabia que tudo ia por água abaixo.
 
Mors estava em alcance visual quando a nave de Belkor explodiu sobre a pedreira, lançando no céu labaredas
vermelho-alaranjadas. Ela teve sentimentos ambivalentes ao assistir o V-wing atravessar o fogo e a fumaça. De
certo modo, Mors construíra Belkor. Fazia sentido que ela fosse a pessoa a destruí-lo. Suspirou e transferiu seus
pensamentos, passando do coronel e da traição dele à ação em tempo real.
– Pouse nos ancos dos soldados Twi’leks na pedreira – ordenou a Steen. – Não deixe ninguém escapar. Envie
um contingente de stormtroopers para proteger o imperador.
– Pode deixar, senhora.
– Caças – disse Mors aos V-wings. – Façam um sobrevoo para visualizar a borda da pedreira e a oresta
circundante. Fogo à vontade para qualquer coisa que enxergarem fora desse perímetro. Só não disparem na
pedreira, por enquanto.
Ela calculou que quaisquer elementos fora da pedreira seriam traidores imperiais, Twi’leks do movimento
Ryloth Livre ou aldeões Twi’leks. Não fazia distinção entre esses grupos para ns de alvejamento.
– Pousando – disse o piloto, adernando a lançadeira para interceptar a frente dos Twi’leks que tinham descido
pela lateral da pedreira e avançavam rumo à aldeia dos nativos.
Atrás deles, impedindo a retirada dos Twi’leks, pousou o transporte de Steen. Antes mesmo de a nave tocar no
chão, as portas dos passageiros se escancaram, e os stormtroopers começaram a pular para fora, com fuzis de
raios cuspindo plasma. Metade deles correu em direção à vila para encontrar o imperador.
Os Twi’leks se viraram para enfrentá-los. De repente, as portas da lançadeira de Mors se abriram, e os
stormtroopers desembarcaram disparando os fuzis. Os Twi’leks foram pegos em fogo cruzado. Feixes de energia
iluminavam o fundo da pedreira. Uma série de disparos vinha de um lugar acima e à direita de Mors,
presumivelmente na borda da pedreira.
 
Num estrondo, os V-wings deram um rasante na aldeia sem fazer um único disparo.
– De onde vieram essas naves? – indagou Isval, alvejando o transporte e a lançadeira que pousaram vomitando
stormtroopers e cercando o grupo de Goll.
O chão da pedreira lampejou com raios de arma. Gritos ecoaram no ar noturno. A equipe de Goll cou
encurralada, sem saída.
Isval avistou Vader em fuga, saltando para fora da aldeia com o sabre de luz na mão.
– Estão vendo ele? – perguntou ela.
– Estamos – disseram Goll e Cham.
Disparavam em turnos contra Vader e os stormtroopers. Alguém na base da pedreira respondia ao fogo, e os
disparos zuniam na rocha, obrigando Isval e Goll a se abaixarem por um momento. Cham continuou disparando,
com a mandíbula tensa e os olhos xos.
– Estão cercados! – esbravejou Goll, voltando à borda para atirar. – Temos que descer ou extraí-los. Mande
Faylin pousar a nave auxiliar.
– Ela jamais vai conseguir passar pelos V-wings – constatou Isval, e Cham sabia que ela estava certa.
Os homens no chão da pedreira estavam mortos, ou em breve estariam.
Cham resolveu ferir o Império da melhor maneira possível antes de morrer.
– Todo fogo contra Vader – avisou ele. – Concentrem-se nele.
O trio despejou fogo lá embaixo alvejando a sombra escura e a amejante linha vermelha que ele brandia.
 
Mors assistia a tudo pela vigia da cabine – à prova de armas de raios –, enquanto soldados de ambos os lados
gritavam ordens, disparavam as armas e morriam. Os Twi’leks se jogaram ao chão de barriga ou de joelhos e se
dividiram em dois grupos, cada qual disparando numa direção diferente, enquanto os stormtroopers corriam
rumo a eles agachados, disparando à medida que avançavam. Twi’leks gritavam e morriam. Stormtroopers
atingidos por raios voavam para trás ou rodopiavam ao chão, as armaduras enegrecidas pelo fogo. Mors se
acomodou no assento e assistiu aos desdobramentos. Só poderia acabar – e acabaria – de uma maneira. Os
Twi’leks estavam cercados.
Ela ergueu o olhar, avistou os V-wings fazendo uma curva fechada para entrar em vetor de ataque. Deviam ter
encontrado alvos ao longo do topo da pedreira.
Movimentos no exterior da nave lhe chamaram a atenção e, ao perceber o motivo, prendeu a respiração.
Lorde Vader caminhava imprudente no meio do fogo cruzado, a capa esvoaçava atrás dele, o sabre de luz
cortava o ar à frente, desviando dezenas de raios de armas e fazendo-os voltar contra os Twi’leks, matando um, e
mais outro, e mais outro. Ele fazia isso tudo quase casualmente, como se estivesse com a cabeça em outro lugar.
As lentes pretas do capacete tavam o alto, na borda da pedreira.
Perante os olhos de Mors, Vader explodiu em movimento, a uma velocidade sobrenatural que a deixou
boquiaberta, abobada. Vader corria direto ao anco da pedreira, íngreme demais para qualquer homem escalar.
Mas Mors sabia que não estava olhando um homem qualquer.
– Quem é aquele? – indagou o piloto suavemente, e a dupla se inclinou nos assentos para acompanhar o
avanço de Vader. – Não será...
Mors assentiu com a cabeça.
– Darth Vader – completou ela, e sentiu pena da pessoa ou das pessoas em quem Vader xara o olhar.
 
– Aqueles V-wings estão voltando – avisou Goll, disparando contra Vader lá embaixo, que corria a toda
velocidade pelo chão da pedreira, aproximando-se tão rápido que Cham não acreditaria se não tivesse visto.
Com uma arma em cada mão, Isval mirou e disparou feixes rubros contra Vader. Cham também disparava tão
rápido quanto conseguia, mas a lâmina do inimigo era mais veloz, desviando cada raio, enviando metade deles
contra Isval, Cham e Goll, obrigando-os a se abaixar e se proteger.
Ao alcançar o paredão íngreme da pedreira, Vader deu um salto, apoiou os pés numa saliência e pegou novo
impulso.
– Isto é impossível – murmurou Goll, mas continuou atirando.
Isval não se surpreendeu. Já sabia do que Vader era capaz. Nada do que ele fez a assombrou.
E agora ele vinha pegá-los.
Continuaram atirando, inclinando-se sobre a borda da pedreira e tentando alvejar o paredão íngreme, mas o
sabre de luz de Vader avermelhava o ar diante de si, e nenhum dos raios conseguia atingi-lo. Ele foi pulando de
uma protuberância à outra, galgando, parando só um instante após aterrissar, a m de ganhar impulso e saltar de
novo.
– Como ele consegue fazer isso? – berrou Goll.
Vader se aproximou com sua capa oscilante e encarou Isval feito um ser mitológico, um espírito das trevas que
vinha buscar um dízimo de vidas. Ela não podia deixar que ele colocasse as mãos em Cham. O movimento
precisava dele. E ele tinha uma lha. Ela não deixaria.
– Saiam daqui – disse a Goll e Cham.
Correu o olhar desde Vader até o chão da pedreira. Os disparos já diminuíam. Os soldados de Goll estavam
mortos ou moribundos. Ela ouviu os V-wings passando como um raio na direção deles.
– Saiam daqui! – implorou ela. – Agora!
Cham pareceu não dar ouvidos a ela. Disparava sem parar contra Vader, os dentes cerrados, a pele ruborizada.
– Goll, tire-o daqui!
Ela se virou para ver o rasante dos V-wings. Goll seguiu o olhar dela, virou-se e avistou a descida dos caças.
– Vamos, Cham! – gritou Goll, puxando-o pelo ombro.
– Não vou embora! Fuja você!
Vader pulou mais uma vez, e mais outra. Tinha o olhar cravado no alto, em Isval, em Cham.
– Fujam logo! – gritou Isval. – Você tem uma lha, Cham! Pense em Hera! Leve-o, Goll! Lembre-se do nosso
acordo! Fujam!
Ela se levantou para atrair a atenção de Vader.
– O que está fazendo? – perguntou Cham. – Abaixe-se, Isval!
Ela se virou e sorriu para ele. Não um meio sorriso, mas um sorriso pleno.
– Estou pensando numa rota de fuga. Eu te amo, Cham. Agora saia daqui!
E com isso, antes que Cham pudesse balbuciar algo, ela correu pela beirada do paredão, afastando-se deles,
atirando contra Vader com as duas armas de raios.
– Isval! – gritou Cham, mas ela o ignorou. Ele a amava também. Ele a amara por muitos anos.
– Você se lembra de mim? – Isval gritou para Vader, continuando a disparar contra ele. – Não lembra? Você me
viu na Perigo antes de eu mandá-la pelos ares!
O som do rasante dos V-wings soou estridente.
 
– Vamos, Cham! – incitou Goll, puxando-o pelo colarinho. – Agora! Agora mesmo!
– Eu... não vou abandoná-la! – disse Cham, olhando Isval e tentando se desvencilhar de Goll.
Lá no alto, os V-wings rugiam sobre eles.
En m, Goll o ergueu, atirou-lhe às costas como se ele fosse uma mochila e se precipitou rumo à beira da
oresta. Cham o xingou, tentando se livrar dele, mas Goll era ainda mais forte do que aparentava e dominou
Cham como se ele fosse uma criança.
– Isval! – gritou ele.
Raios soaram acima deles, os V-wings abrindo fogo. Árvores lascaram e racharam, enormes blocos de terra e
rocha explodiram, e o violento impacto do ataque dos V-wings fez Goll tropeçar. Um bombardeio de pedras
atingiu Cham, a maioria delas pequenas, até que uma grande o acertou na têmpora. Ele viu fagulhas e cou
tonto. Goll parecia estar se movendo em câmera lenta. Sons distintos sumiram e foram substituídos por um
estrondo abafado. Tudo cou escuro.
 
Vader saltou para cima do planalto da pedreira, cando em pé no rescaldo fumacento da metralha dos V-
wings. O vento ondeava a sua capa, e Isval pôde ouvir o trabalho rítmico de seu respirador. Ela estava a oito
metros daquele ser humano ou divindade, seja lá o que fosse – alguém que zera repetidas vezes o que ninguém
mais seria capaz de fazer.
– Você deveria estar morto – disse ela com a voz rouca, e guardou as armas de raios nos coldres.
– E você também – respondeu ele, a voz tão profunda quanto a pedreira, e desativou o sabre de luz.
Ela pensou em Pok, Eshgo, Nordon e toda a sua raiva contida transbordou de uma só vez. Com um grito, ela
correu na direção dele, sacando uma faca no caminho, sabendo que nunca chegaria perto o su ciente para usá-
la, mas na esperança de talvez pegá-lo de surpresa.
Claro que não conseguiu.
Ninguém pegava Vader de surpresa. Como poderiam?
Ele ergueu a mão e, de algum modo, paralisou-a por completo. O corpo dela não respondia à sua mente. Era
como se ele a segurasse com um punho gigante. Isval sentiu seu corpo subir, içado do chão, sentiu a faca cair de
sua empunhadura. Vader virou a cabeça de leve para o lado, olhando para ela, e uniu o polegar e o indicador.
A traqueia de Isval trancou, e ela não conseguia respirar, nem sequer engasgar. A Twi’lek o tou enquanto seu
corpo gritava por oxigênio, na esperança de perfurá-lo com o olhar, com a raiva, com o ódio.
Sua visão se turvou, estreitando-se num túnel, no nal do qual havia um vulto escuro numa armadura sombria
com a mão levantada. Em poucos segundos, ela não enxergou mais nada. Só escutou o ritmo lento e constante
da respiração de Vader, mas sem conseguir levar oxigênio aos próprios pulmões. O mundo cou às escuras.
 
Cham abriu os olhos. Viu-se numa nave, a nave de Faylin. Teve a sensação de se volatilizar no ar por ter
deixado Isval para trás, por ter deixado tudo para trás.
– Não – murmurou ele, mas estava feito.
Ela se fora. Tudo se fora.
Ele tou a antepara, sem enxergá-la, sem enxergar nada.
– O que aconteceu? – perguntou Faylin da cabine. – Cadê todo mundo? O que aconteceu, Goll?
– Vê se pilota a maldita nave, Faylin – disse Goll. – Cham? Você está bem? Foi atingido?
– Estão mortos? – quis saber Faylin. – Estão todos mortos?
– Pilote a nave, humana! – rosnou Goll.
– Mortos – frisou Cham com a voz cansada e indiferente. – Todos mortos. O movimento está morto.
Isval estava morta.
– Não diga isso – disse Faylin, balançando a cabeça. – Não. Isso não está certo. Ainda estamos aqui. Ainda
estamos aqui.
– Paire sobre as árvores, Faylin – orientou Goll. – Com a comunicação reativada, logo essa área vai fervilhar
com naves imperiais.
Ela não falou nada e cumpriu a recomendação de Goll.
– O que somos nós? – indagou Cham. – O que somos nós, Faylin? Um enxame de insetos tentando atiçar um
rancor.
– Não está pensando com clareza – alertou Goll. – Está deixando a mágoa falar. Já vi isso antes.
– Já viu? – esbravejou Cham. – Viu mesmo?
– Ela também era minha amiga, Cham – disse Goll.
Mas para Cham ela fora mais do que uma amiga, e tudo isso permanecera subentendido até o nal.
– Você não deveria ter dado ouvidos a ela – disse a Goll.
– Claro que devia. E você sabe que sim. Tem que tocar isso adiante, Cham. É o único em condições. Isval
sabia disso. Por isso que ela atrasou Vader. Sabe disso.
Cham realmente sabia. Em certo nível, de alguma forma, ele sabia que ela estava certa.
– O que fazemos agora, Goll? – quis saber Faylin. – Para onde é que vou, a nal?
Goll encarou Cham.
– Cham? O que vamos fazer agora?
Cham pensou em todos que ele perdera naquele dia – não só Isval, mas muitos outros. Pensou nos homens e
nas mulheres que perderia nos próximos dias, quando o Império colocasse Ryloth sob seu calcanhar e
interrogasse cada rebelde suspeito encontrado. Sabia que aquilo nunca mais acabaria. Ryloth constituía apenas
mais um obstáculo para o imperador e seus planos. Amanhã, outro mundo seria triturado até virar pó. Depois
outro. O Império era uma máquina cujas engrenagens apenas continuariam girando, moendo, até não sobrar
nem um suspiro de liberdade na galáxia.
Alguém precisava continuar lutando contra isso. Alguém precisava fazê-los pagar por isso, por Isval, por todas
as vidas que tiraram em sua obsessão por ordem e controle.
Cham não podia desistir. Jamais poderia. Ele apenas pagara o preço mais caro que conseguia imaginar. O
Império já não podia fazer nada mais contra ele. Ele lutaria, lutaria contra eles para sempre, sem remorso, sem
piedade e sem desistir. Jamais.
– Vamos tirar do sistema o maior número possível de adeptos de nosso movimento – projetou Cham. – Depois
damos o fora. Kallon já deve ter começado a retirada. Então...
Fez uma pausa, e o rosto de Isval surgiu em sua mente, o olhar feroz, o sorriso, não um meio sorriso, mas um
sorriso pleno, o sorriso que ele guardaria para sempre. Seus olhos se encheram de lágrimas, mas sua convicção
não vacilou.
– Então o quê? – perguntou Faylin.
– Então vamos lutar, Faylin. Pode apostar que a luta continua.
Deixou os planos para depois. Por enquanto, a vontade de continuar a luta já era o su ciente.
Goll sorriu e lhe deu um cutucão no ombro, vigoroso o su ciente para machucar.
– Você ouviu o homem! Vamos lutar!
 
Isval voltou à consciência ajoelhada, os pulsos nas costas, atados com algum tipo de contenção. Stormtroopers
transmitiam ordens uns aos outros; andavam pela pedreira disparando contra qualquer soldado do Ryloth Livre
ainda vivo. Ao que parecia, ela era a única que levavam como prisioneira. Imaginou-se submetida a um
interrogatório por Vader e tentou não pensar demais nisso. O fato de não ter visto Cham em qualquer lugar lhe
insu ou esperanças. Ela se convenceu de ele fugira. Ela havia pensado numa rota de fuga: a dele.
O imperador assomou diante dela, um ancião com robe escuro, o queixo inclemente, os olhos aguçados como
punhais. Ao lado dele, Darth Vader, ameaçador e sombrio. Atrás dele, um anel de stormtroopers, o brancor
fantasmagórico das armaduras no escuro. Um guarda real protegia a retaguarda do imperador, sem o capacete, o
rosto coberto de tatuagens, o corpo inteiro coberto de fuligem.
– Ela receia ser entregue ao Gabinete de Segurança Imperial – disse o imperador a Vader, a voz
surpreendentemente doce. – Há coisas piores do que isso, minha querida.
– Não tenho medo nenhum de você – disse ela.
– Acho que isso é verdade – retorquiu ele. – Eu não esperava outra coisa. Mas você também entende muito
pouco.
Isval pronunciou o queixo para frente.
– Entendo que hoje o Império perdeu um destróier estelar e centenas de soldados. Você os perdeu. Para nós.
– Verdade – concordou o imperador, uma frustrante insinuação de sorriso espreitando suas palavras. – Pura
verdade. Sabe o que eu perdi, mas sabe o que eu ganhei? Já avaliou isso?
– Não ganhou nada! – ela desdenhou. – Mal escapou com vida.
– Ah, minha vida nunca esteve em perigo, mocinha. Mas, já que você parece incapaz de entender o que
realmente aconteceu aqui, vou contar. Tudo o que aconteceu hoje ocorreu apenas porque eu permiti. É verdade,
seu deplorável movimentozinho desferiu seu golpe, mas se precipitou, agiu antes de amadurecer o su ciente
para constituir uma ameaça grave. E agora vai se exaurir e dar em nada. Aliás, o que você acha que sobrou dele
após hoje?
Ouvir o eco das palavras de Cham na fala do imperador foi demais.
– Cale-se – esbravejou ela, desviando o olhar e odiando-se pelas lágrimas que corriam em seu rosto. – Você não
sabe do que está falando.
Sobrou Cham, ela disse a si mesma. Ele, pelo menos, sobrou.
– Ah, agora ela começa a perceber – ponderou o imperador. – Talvez tenha imaginado que os eventos de hoje
provocariam uma rebelião? Ah, você imaginou. – Gargalhou com desprezo, o som escavando o cérebro de Isval. –
Isso nunca iria acontecer, minha querida. Seu movimentozinho era uma vela que eu deixei se acender, e agora...
se apagou, sem incendiar nada. – Ele se ajoelhou e a tou nos olhos. O olhar dele era tão vazio quanto o de um
cadáver. – Nada. – Ele se ergueu, olhando-a de cima para baixo. – Lorde Vader.
Atrás dele, enorme e sombrio, Vader in amou o sabre de luz. Isval escutou sua morte no zunido da lâmina. As
lágrimas em seus olhos secaram, substituídas por rebeldia, por raiva, pela esperança acesa ao saber que Cham, ao
menos, tinha escapado, que a chama da rebelião não se apagara, porque ele a conduzia.
Ela tou Vader, destemida.
– Odeio você e tudo o que você representa – ela desa ou. – Mas quando eu matei, matei por amor.
Vader levantou sua lâmina, a respiração alta e constante. Sua voz soou tão profunda e oca quanto um gongo
fúnebre:
– Sei exatamente o que você quer dizer – e desferiu o golpe.
 
O corpo dela, decapitado, caiu aos pés de Vader. Ele desativou a lâmina.
– Ainda temos trabalho a fazer, meu amigo – disse o imperador, acenando ao punho da lâmina de Vader.
– Mestre?
– Os aldeões, Lorde Vader. Drua e seu povo. Não podemos permitir que tantas testemunhas sobrevivam. Vou
esperá-lo aqui.
O olhar de Vader correu de seu mestre à boca escura da mina para onde Drua e os demais aldeões tinham
fugido. Sentiu os olhos do imperador nele, um olhar intenso, e o peso de suas expectativas, e Vader soube que os
eventos do dia apenas parcialmente tinham relação com abafar um movimento rebelde antes que ele pudesse
crescer. Também se relacionavam, conforme Vader suspeitara, a testá-lo, forçá-lo a enfrentar os fantasmas de seu
passado e exorcizá-los eterna e plenamente. Agora enxergava isso com mais clareza; enxergava, também, que seu
mestre tinha razão em aplicar o teste. Também explicava por que o mestre mostrara tão pouco de seu verdadeiro
poder ao longo do dia. Talvez desejasse que Vader con asse em si mesmo para superar os desa os que tinham
enfrentado. Ou talvez quisesse parecer mais fraco do que era para evocar quaisquer ambições traiçoeiras que
Vader pudesse esconder.
– Ouço e obedeço, mestre – disse Vader.
Acendeu o sabre de luz rumo à caverna, a mente retornando a outra época, em que ele entrou no Templo Jedi
cheio de jovens aprendizes. Na ocasião, ele os massacrou, e agora massacraria os Twi’leks.
A risada do mestre o seguiu pela caverna e ressoou em sua mente, mais alto até que os gritos dos Twi’leks
quando eles começaram a morrer pela sua lâmina.
Ao terminar, retornou para o lado do mestre.
– Muito bem, velho amigo – falou Darth Sidious. Esfregou as mãos, como se quisesse limpar a sujeira delas. –
E agora vamos nos dedicar a coisas mais importantes.
STAR WARS / LORDES DOS SITH

TÍTULO ORIGINAL: Star Wars / Lords of the Sith


ILUSTRAÇÃO: Aaron McBride
CAPA: Desenho Editorial
COPIDESQUE: Tássia Carvalho
REVISÃO: Balão Editorial | Cássio Yamamura | Ana Claudia de Mauro
PROJETO E DIAGRAMAÇÃO ORIGINAL: Desenho Editorial
VERSÃO ELETRÔNICA: S2 books
EDITORIAL: Daniel Lameira | Mateus Duque Erthal | Katharina Cotrim |
Bárbara Prince | Júlia Mendonça | Andréa Bergamaschi
DIREÇÃO EDITORIAL: Adriano Fromer Piazzi

COPYRIGHT © & TM 2015 LUCASFILM LTD.


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Vagner Rodolfo CRB-8/9410

K32l Kemp, Paul S.



Lordes dos Sith [recurso eletrônico] / Paul S. Kemp ; traduzido por Henrique Guerra. - São
Paulo : Aleph, 2016.
269 p. : 2,36 MB.

Tradução de: Lords of the Sith
ISBN: 978-85-7657-357-9 (Ebook)

1. Literatura norte-americana. 2. Ficção. I. Guerra, Henrique. II. Título.

2016-392 CDD 813.0876
CDU 821.111(73)-3

Índice para catálogo sistemá co:


1. Literatura : Ficção Norte-Americana 813.0876
2. Literatura norte-americana : Ficção 821.111(73)-3

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