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Emoção, Cognição

e Aprendizagem
Aprendizagem Significativa

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª M.ª Ana Claudia Baratieri Zampieri

Revisão Textual:
Prof.ª M.ª Sandra Regina Fonseca Moreira
Aprendizagem Significativa

• Teoria da Aprendizagem Significativa;


• A Importância do Afeto na Aprendizagem.


OBJETIVO

DE APRENDIZADO
• Conhecer a teoria da aprendizagem significativa e sua relação com os aspectos afetivos
da aprendizagem.
UNIDADE Aprendizagem Significativa

Teoria da Aprendizagem Significativa


Agora que já percorremos um importante percurso sobre as principais teorias clás-
sicas da aprendizagem, vamos conhecer uma abordagem que busca compreender o
processo de aprender por um outro ponto de vista. Vamos conhecer a Teoria da Apren-
dizagem Significativa e qual o papel do afeto na aprendizagem.

Você sabe o que é aprendizagem significativa? O que vem a sua mente quando pensa
nesse conceito?

A teoria da aprendizagem significativa foi concebida por David Paul Ausubel, um


psiquiatra nova iorquino, que dedicou a sua carreira à psicologia da educação. Ausubel
era um cognitivista e, portanto, buscou compreender em seus estudos e pesquisas, o ato
da formação de significados no ato da cognição e da consciência, sem desconsiderar a
importância do afeto nesse processo (NOGUEIRA; LEAL, 2015).

David Paul Ausubel (1918-2008)


Após sua formação acadêmica, em território canadense, Ausubel resolve dedicar-se à edu-
cação no intuito de buscar as melhorias necessárias ao verdadeiro aprendizado. Totalmente
contra a aprendizagem puramente mecânica, torna-se um representante do cognitivismo,
e propõe uma aprendizagem que tenha uma “estrutura cognitivista”, de modo a intensificar
a aprendizagem como um processo de armazenamento de informações que, ao agrupar-
-se no âmbito mental do indivíduo, seja manipulada e utilizada adequadamente no futuro,
através da organização e integração dos conteúdos aprendidos significativamente. Leia
mais no link a seguir, disponível em: https://bit.ly/2VRMhib

Esta teoria está voltada a explicar de que maneira ocorre a aprendizagem de novos
conceitos, considerando que ela se dá por meio da assimilação de significados. De acor-
do com Moreira (1999), como cognitivista, Ausubel compreende que a aprendizagem
significa a organização e interação do material em uma estrutura cognitiva preexistente,
ou seja, os indivíduos teriam um conjunto estruturado de ideias, conceitos e conheci-
mentos, a cognição, e é nessa estrutura que novos conceitos serão ancorados. Sendo
assim, segundo o autor, um dos fatores principais que influenciam na aprendizagem é
aquilo que o sujeito já sabe.

Segundo Moreira (2012), a aprendizagem significativa ocorre quando ideias expressas


simbolicamente interagem de maneira substantiva e não arbitrária com aquilo que o apren-
dente já sabe. Considere-se que substantiva significa não literal, e que não arbitrária indi-
ca um conhecimento relevante já existente na estrutura cognitiva do sujeito que aprende,
denominado por Ausubel, como subsunçor ou ideia-âncora.

Em termos simples, subsunçor é o nome que se dá a um conhecimento


específico, existente na estrutura de conhecimentos do indivíduo, que
permite dar significado a um novo conhecimento que lhe é apresentado
ou por ele descoberto. Tanto por recepção como por descobrimento, a
atribuição de significados a novos conhecimentos depende da existência
de conhecimentos prévios especificamente relevantes e da interação com
eles. (MOREIRA, 2012, p. 2)

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O vídeo a seguir traz alguns exemplos da aprendizagem significativa na prática.
Disponível em: https://youtu.be/2-r9bJYegZk

Lakomi (2014, p. 48), ao citar Ausubel (1985), explica o conceito de integração das
informações da estrutura cognitiva. Para isso, enfatiza a diferença entre o que o autor
chama de aprendizagem mecânica e o que ele considera aprendizagem significativa.

Na aprendizagem mecânica, somos capazes de absorver novas informações, sem


necessariamente associá-las a conceitos já existentes em nossa estrutura cognitiva. Por
exemplo: ao decorar uma poesia, sem entender o seu conteúdo, uma criança não é
capaz de associar o conteúdo da poesia a nenhum conhecimento pré-existente, não
caracterizando uma nova aprendizagem.

Na aprendizagem significativa, relaciona-se um novo conteúdo, ideia ou informação


a conceitos existentes na nossa estrutura cognitiva. Por exemplo: ao aprender e inter-
pretar uma nova poesia, a criança poderia encontrar pontos de ancoragem em sua
estrutura cognitiva, significando e assimilando o novo conhecimento.

Sendo assim, ao considerarmos uma relação de ensino e aprendizagem no ambiente


escolar, cabe ao professor certificar-se daquilo que o aluno já sabe, orientando a apren-
dizagem a partir desse conhecimento prévio.

Novas ideias e informações podem ser aprendidas e retidas, na medida


em que conceitos relevantes e inclusivos estejam adequadamente claros
e disponíveis na estrutura cognitiva do indivíduo e funcionem, dessa for-
ma, como ponto de ancoragem às novas ideias e conceitos. (MOREIRA,
1999, p. 152)

O autor complementa explicando que a experiência cognitiva não fica restrita à in-
fluência direta dos conceitos que já foram aprendidos sobre a nova aprendizagem, e
sim, abrange as modificações relevantes na estrutura cognitiva pela influência do novo
material. Ou seja, trata-se de um processo de interação no qual os novos elementos
são ancorados na estrutura cognitiva existente, mas também modificam essa estrutura.
(MOREIRA, 1999)

Figura 1
Fonte: Getty Images

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Pontes Neto (2006, p. 118), citando Ausubel, et. al (1980), apresenta alguns pressupos-
tos para que a aprendizagem possa acontecer. Segundo o autor, a ocorrência da apren-
dizagem significativa pressupõe: disposição da parte do aluno em relacionar o material a
ser aprendido de modo substantivo e não arbitrário a sua estrutura cognitiva; presença de
ideias relevantes na estrutura cognitiva do aluno e material potencialmente significativo.

O quadro abaixo apresenta esses pressupostos da aprendizagem significativa:

Quadro 1

Mesmo que o material da aprendizagem possa se relacionar a


ideias da estrutura cogniva do aluno (subsunçores), substantiva
Pressuposto 1 e não arbitrariamente, não haverá aprendizagem significativa se
houver o propósito de memorizar.

Requer que o aluno possua, de fato, essas ideias subsunçoras na sua


Pressuposto 2 estrutura cognitiva, a fim de que possa relacionar, de forma subs-
tantiva e não arbitrária o novo conteúdo àquilo que já conhece.

O material de aprendizagem é potencialmente significativo, e


Pressuposto 3 pode ser relacionado à estrutura cognitiva do aluno em bases
substantivas e não arbitrárias.

Sendo assim, a aprendizagem significativa depende da estrutura cognitiva do aluno,


de uma disposição por parte do aluno de efetivá-la, do material que se quer aprender e
do relacionamento entre a estrutura cognitiva e o material da aprendizagem (PONTES
NETO, 2006).
Há de se considerar que não é uma tarefa simples, para um professor, identificar os
conhecimentos prévios de seus alunos, de modo a planejar as atividades de estudo de
modo a atender às particularidades de cada estudante. Essa tarefa constitui-se em um
grande desafio para a maioria dos docentes. Sendo assim, o que é possível fazer para
que se estimule a aprendizagem significativa?
Nogueira e Leal (2015) sugerem que os professores comecem identificando, em suas
disciplinas, os conceitos maias abrangentes, para depois chegar aos menos abrangentes.
Por exemplo: ao iniciar por um conceito de classes de animais (cachorros, gatos, pás-
saros, entre outros), os alunos conseguirão aprender de forma mais significativa sobre
classificações mais específicas, como: espécies, habitat etc. A figura a seguir, apresenta-
da pelas autoras, ilustra essa qualificação do material a ser apresentado:

Animais

Terrestres Aquáticos Aéreos

Mamíferos, Aves, Répteis, Peixes e Anfíbios

Seres Vivos

Figura 2
Fonte: Adaptado de NOGUEIRA; LEAL, 2015, p. 214

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Como um professor pode identificar os conhecimentos prévios de seus alunos? E como reco-
nhecer suas estruturas cognitivas? Para o seu aprendizado, pense em uma ação que profes-
sores podem adotar para que a aprendizagem significativa realmente ocorra. Faça uso de
uma experiência própria, como professor ou como aluno.
Dica: utilize mapas conceituais para identificar conhecimentos amplos e genéricos e depois
vá detalhando esses conhecimentos, até chegar a conceitos mais específicos).

A Importância do Afeto na Aprendizagem


“Às vezes, mal se imagina o que pode passar a representar, na vida de um aluno, um
simples gesto de um professor” (Paulo Freire).

Agora que já compreendemos os conceitos da aprendizagem significativa, vamos


estudar sobre como o afeto interfere na aprendizagem. Pensando na sua experiência
enquanto estudante ou enquanto professor, como você considera o papel do afeto na
aprendizagem? Será que o afeto é importante na aprendizagem, indiferente do estágio
de desenvolvimento em que se encontra o aprendiz? Ou será que é mais importante,
quando falamos da educação infantil?

Uma das principais teorias que considera o afeto como parte central nos processos
de aprendizagem é a teoria psicogenética de Henri Wallon.

Wallon foi um estudioso da área da psicologia do desenvolvimento que desenvolveu


a sua teoria nas décadas de 50 e 60. Essa teoria auxilia a compreensão tanto do de-
senvolvimento cognitivo quanto pessoal dos indivíduos. Para o autor, a afetividade e a
inteligência desenvolvem-se juntas (LAKOMI, 2014).

Ainda sobre a teoria psicogenética, Leite (2011) afirma que o desenvolvimento huma-
no está centrado na ideia de quatro núcleos funcionais: a afetividade, o conhecimento,
o ato motor e a pessoa. Todo o desenvolvimento é analisado pela interação contínua
dessas dimensões.

Conheça mais sobre a Teoria Psicogenética de Wallon.


Disponível em: https://youtu.be/-6vuFpW9dFs

Embora a teoria de Wallon seja uma teoria do desenvolvimento, e não da aprendiza-


gem, seus pressupostos têm uma contribuição importante na área da educação.

Henri Wallon foi um crítico do ensino tradicional (de caráter abstrato,


autoritário, sem criatividade, com a concepção de aluno como ser passivo
e sem espaço para desenvolver a sua personalidade) por não enfatizar o
caráter afetivo, social e político da educação. A criança, segundo o autor,
precisa interagir com o meio para desenvolver seus aspectos afetivos,
sociais e intelectuais. (LAKOMI, 2014, p. 52)

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UNIDADE Aprendizagem Significativa

Assim, de acordo com Leite (2011), a afetividade constitui-se como um fator muito
importante na determinação da natureza das relações que se estabelecem. Na escola, essa
relação é marcada pelos sujeitos (alunos) e os demais objetos de conhecimento (conteúdos
e áreas escolares), bem como na disposição dos alunos diante das atividades. A afetividade
está presente em todos as etapas do trabalho pedagógico desenvolvidas pelo professor, e
não só na sua relação direta com o aluno.

Assim, é possível afirmar que todas as ações pedagógicas planejadas pelo professor
interferem nessa relação afetiva que o aluno estabelece com a aprendizagem. Compre-
ende-se por afeto, o fato de o aluno ser afetado, marcado por elas. Esse afeto, tanto
pode ser positivo, marcando relações e experiências positivas, quanto negativas, produ-
zindo sentimentos aversivos relacionados à tarefa ou ao conteúdo.

Fica clara, dessa forma, a responsabilidade do professor em seu fazer pedagógico.

Conheça o papel do professor na aprendizagem do aluno pela perspectiva do prof. Julio


Furtado. Disponível em: https://bit.ly/2VPKaLQ

Figura 3
Fonte: Getty Images

No entanto, será o professor o único responsável pelas relações afetivas na escola?

Leite (2011) afirma que o papel do professor é muito importante na forma como
os alunos se relacionam com o processo de aprendizagem, no entanto, outros fatores
também são relevantes nessa relação. O autor apresenta cinco dimensões que podem
e devem ser exploradas ao se aprofundar os estudos em relação à afetividade. Essas
dimensões serão apresentadas a seguir:

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Quadro 2

Analisar a questão da afetividade em sala de aula, seja pela in-


teração professor-aluno e/ou das práticas pedagógicas, significa
analisar as condições oferecidas para que se estabeleçam os
Dimensão afetiva vínculos entre sujeito e objeto, ou seja, analisar o efeito afetivo
das experiências vivenciadas pelo aluno em relação aos diversos
objetos do conhecimento.

A natureza da experiência afetiva, se prazerosa ou aversiva, de-


Natureza da pende da qualidade da mediação vivenciada pelo sujeito na re-
lação com o objeto. Em sala de aula, essa mediação diz respeito a
experiência: condições concretas, planejadas e desenvolvidas principalmente
pelo professor.

Entender que a aprendizagem é um processo dinâmico, que ocor-


re a partir de uma ação sobre o objeto, porém sempre mediada
por elementos culturais, no caso escolares, responsáveis pelo
Processo Dinâmico processo de construção do conhecimento por parte do aluno. A
qualidade da mediação determina, em grande parte, a relação
sujeito/objeto.

As condições da mediação também são de natureza afetiva. En-


tende-se o homem como um ser único, numa concepção em que
a cognição e a afetividade fundem-se em uma mesma unidade,
Condições da mediação como dois lados de um mesmo objeto. O ser humano pensa e sen-
te simultaneamente e isso tem inúmeras implicações nas práticas
educacionais.

As condições de ensino, incluindo a relação professor-aluno, de-


Planejamento vem ser pensadas e desenvolvidas levando-se em conta a diversi-
educacional dade dos aspectos envolvidos no processo. A afetividade é parte
integrante do processo, e não apenas a dimensão cognitiva.

Fonte: Adaptado de LEITE, 2011, p. 32-34

Em Síntese
Nesta unidade conhecemos os conceitos de aprendizagem significativa e da afetividade em
relação à aprendizagem. Foi possível conhecer o pensamento de dois grandes teóricos da
educação e aprender sobre seus pressupostos.
Na próxima unidade, vamos conhecer as bases biológicas da cognição e da emoção e
compreender de que forma elas interferem na aprendizagem.
Até lá!

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Vídeos
A aprendizagem significativa de David Paul Ausubel
Vídeo aula sobre Aprendizagem Significativa.
https://youtu.be/wZzwpF2S1uY

 Filmes
Escritores da Liberdade
Em Escritores da Liberdade, uma jovem e idealista professora chega a uma escola
de um bairro pobre, que está corrompida pela agressividade e violência. Os alunos
se mostram rebeldes e sem vontade de aprender, e há entre eles uma constante
tensão racial. Assim, para fazer com que os alunos aprendam e também falem
mais de suas complicadas vidas, a professora Gruwell (Hilary Swank) lança mão de
métodos diferentes de ensino. Aos poucos, os alunos vão retomando a confiança
em si mesmos, aceitando mais o conhecimento, e reconhecendo valores como a
tolerância e o respeito ao próximo.
https://youtu.be/pfwzLDj0yzM

 Leitura
Aprendizagem significativa – breve discussão acerca do conceito
https://bit.ly/3qM6aWj
O papel do professor na promoção da aprendizagem significativa
DOS SANTOS, J. C. F. O papel do professor na promoção da aprendizagem
significativa. Revista ABEU, v. 1, n. 1, p. 9-14, 2013.
https://bit.ly/2Iyms3K
A Teoria da Aprendizagem Significativa e o ensino de História
COELHO, L. M.; MARQUES, A. J.; SOUZA, D. G. de. A Teoria da Aprendizagem
Signficativa e o ensino de História. Educação Pública, v. 19, n. 31, 26 de
novembro de 2019.
https://bit.ly/2L8sb0T

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Referências
DA SILVA LEITE, S. A. Afetividade e práticas pedagógicas. 2 ed. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 2011.

LAKOMI, A. M. Teorias Cognitivas da Aprendizagem. Curitiba: Intersaberes, 2014.

MOREIRA, M. A. O que é afinal aprendizagem significativa? Revista cultural La Laguna


Espanha, 2012. Disponível em: <http://moreira.if.ufrgs.br/oqueeafinal.pdf>. Acesso
em: 10/08/2020.

________. Teorias de aprendizagem. São Paulo: Editora pedagógica e universitária, 1999.

NETO, J. A. da S. P. Teoria da aprendizagem significativa de David Ausubel: per-


guntas e respostas. Série Estudos Periódicos do Programa de Pós-Graduação em Edu-
cação da UCDB, 2006. Disponível em: <https://www.serie-estudos.ucdb.br/serie-estu-
dos/article/view/296>. Acesso: 20/08/2020.

NOGUEIRA, M. O. G.; LEAL, D. Teorias da aprendizagem: um encontro entre os


pensamentos filosófico, pedagógico e psicológico. Curitiba: Intersaberes, 2015.

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