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Margaret A. McLaren Foucault, Feminismo e Subjetividade | (BZ ders ltemedon us Vl Nemo 75~ Sumario (CHP01257 080" Sto Pio SP Bea Fone 28384861 ~sritemeieel come Foca Frsanino# Ssrivioan ‘few oxen: Pasa outa unnoneD mCTIVETY ‘Ponicane sos cepa a SUNY (© 2012 Sara Unwvaaeiy on New Yous (SUNY) (© 2016 Taxnupta suasunien Envious lnrenanis Loa “Teaoupda: Newrox Muses (© Maacaasr A. McLane Bavpla:Acorro oe 2016 Blt iri, prope reninios— Casa ot Anz x Livtot Rovias Aurion Crna Maroc ‘a be Aer a Livsot CONSELHO EDITORIAL Vinceer M.Covarierao (Pas Soave Uren) agate Feaasn (ITEM/CNRS). ‘woud D-Atsso Fasnasa (FUCSP) Teno ass Fenainn (PUCSD) “Amo Piven (PUCSP) Joeerre Monza (UFSCAn) Roasais Araatlan Seariuio (UFSCAX) Tava Wathen (USP) ‘Wauren Faconort Monatss(UESC/NEPAB) Tauass Rawor or Anan Kine “Tecusaine Rano (UES) (Cus Cau (LFS) acon ‘Aussuinons Paota Cananon(UFBA) ‘Ctasora Dornatec (USP) Jost Caazou Vaesacn (Unrest) Dados Intrnacionai de Catalogegio ma Publica ~ CIP Mie) Mowe, Magara. Tatil, minke jetidade ! Maret A. McLaren. Sto Pala: Teter, 2016 (Cae Engen) 280 p 163230, Tink original ominio, Poco and embodied mbit / Ns Yorks ISBN 9765-499 061-0 1. Fowoi. 2. Sociologia. 3. Picoogl Soa, 4 Relies de Genero 5. Femina & Subj 7- Foucault, Michel (1926 - 1980). 8. Cop 5, Senda 1 Tita TL Série TIL O femunmo «o dae sobs Focal unc pongbs 1, Focal eminem ¢nnmaa Vasc eo eo (Diced VE Foie o cap ms renrdae fm. VI Pac ‘ride eager snadade VIL Prt dea ranma de traoiagt oa IX Tnermcoe~ Ces de Arcs eTaae cpu ep 100 ‘Catlin clabrads po Rath Sinko Peli Sumario Acaapecimenros Carfruzo 1. O Feminismo x 0 penate somre FOUCAULT: APostAs, QuesTOxs, Posi¢éEs Carfruto 2. Foucautt, Feminismo x Normas Pés-mopeRNismo # PoLfrica Criticas Feannistas Geneatocta como Crfrica Prosiemas com 0 Poper O Cericismo pe Foucauur Concusio: Foucautt & a ResisréNciA FEMININA Carfruzo 3, Foucautr & © Suje1to po Feminismo_ Crfricas Feministas © Desario ne Foucauur A Susyerivipape, A Recusa pe Foucauur A Gzneatocia vo Suyerto pe Foucauir A Esrérica pa Exisrincia: A Vipa como Osra vz Arte © Suyerro Feamvista REtACIONAL Conciusio 1 33 34 38 47 55 61 68 7s 7 79 88 93 101 106 Carfruto 4, Foucauur 0 Corro: Ua Reavauiagao Feminists 109 O Corro em Foucautr 112 ‘Arnopriagées Femusistas be Foucauur: Préricas DisciPinares & 0 Conro Feminino 122 Uma Critica Feminista Foucaurtiana Ao Corpo em Foucautr 132 ‘A Resisrincia Feminista Ao DesponraMENTo DA SEXUALIDADE 146 Coneiusio 150 Carfruto 5. Poviricas pe Inentipane: Sexo, GENERO E SEXUALIDADE 155 Pouiticas pz Ipenripape. 157 Foucauir eA IDentipape. 162 Critica Pos-mopeRNa De Pottricas pe IDentiDApE 163 Hercutine Barsin & 0 Cor?o Sexvapo 167 Bissexuatwane: Ipenripape e Pouiica 17 Conciusio 186 Cariruno 6. Préricas pe Si: Da Transrormagao DE st A Transrormagho Social. 189 ‘As Técnicas pe St pz Foucauur 190 Escrrra pe $1 193 Parrésia (FALAR A VERDADE) 198 Conscrentiza¢Ao 200 Conciusio 210 Coxciusto 213 Noras 225 Brauocraria 259 Agradecimentos Este projeto recebeu informacio, auxilio ¢ apoio de varias pessoas, instituigdes © comunidades, ¢ fico feliz por ter a oportunidade de agradecer a alguns deles aqui. Amy Allen, Allison Leigh Brown e Kathryn Norsworthy leram os rascunhos de todo o original. Agradego o tempo e energia que gastaram lendo o meu trabalho ¢ suas criticas e comentérios que indubitavelmente aprimoraram o produto final. Sandra Le Bartky, Ladelle McWhorter, Jana Sawicki e Ed Royce leram esbosos de alguns dos capitulos ¢ forneceram feedback, critica ¢ apoio extremamente necessirios. Também quero agradecer a Jane Bunker, da Editora da Universidade do Estado de Nova Iorque por seu antecipado interesse € apoio a este projeto, e Judith Block por seu papel na finalizagio do proceso. Obrigada também a Dennis Schmidt por incluir Foucault, Feminismo e Subjetividade em suas séries em Filosofia Continental Contemporinea (Contemporary Continental Philosophy). Grande parte da pesquisa para este livro foi feita nos arquivos de Foucault em Paris, durante os verdes de 1997, 1998 e 2000. Esta pesquisa ‘specifica foi patrocinada pela bolsa Jack B. Critchfield de pesquisa do corpo docente concedida pela Faculdade Rollins. A pesquisa para o capitulo seis, também por meio de uma bolsa Critchfield, foi desenvolvida na colegio especial sobre a mulher, ‘Femina’, da Universidade do Noroeste. Reconheco ¢ agradego ao curador das Colesdes Especiais da Biblioteca da Universidade do Noroeste, R. Russell Maylone, por me permitir acess colesio Femina. Minha pesquisa em Paris dependeu do conhecimento e da generosidade de muitas pessoas. Sou muito grata 4 Madame Isabelle Seruzier, Bibliothécairc, ¢ a0 Padre Michel Albaric, 10 :MINISMO E SUNJETIVIDADE Finalmente, sou imensamente grata a meu parceiro, Chuck Weise, por sua f incontestivel na minha capacidade de completar este projeto e por sua compreensio, paciéncia e apoio enquanto eu o realizava. Dedico este livro a Julie Rolston (1960 ~ 1996) pela dadiva de sua amizade e inspiragao de sua vida. Capitulo 1. O feminismo e 0 debate sobre Foucault: apostas, questdes, Pposi¢des ‘As feministas tendem a discordar quanto a utilidade do trabalho de Foucault para a teoria e pritica feminista. Algumas advogam um feminismo foucaultiano, enquanto outras propéem que as presungées subjacentes do feminismo sao antiéticas 4 sua estrutura tedrica.' A discussio sobre a utilidade ou nio do trabalho dele para o feminismo esté situada no grande debate sobre a compatibilidade de uma abordagem pés-moderna com uma politica emancipatéria, progressiva.” Proponentes do pés-modemismo o ‘veem como essencial 4 uma politica progressista, alegando que as nogées tradicionais de unidade, direitos e liberdade politica carregam implicagdes, normativas que desconsideram certas questdes sobre quem est incluido no processo politico e que tal desconsideragio pode resultar em exclusio sistemitica. Proponentes de politicas progressistas, por outro lado, consideram 0 pés-modernismo como empecilho a possibilidade de uma politica progressista, emancipatéria, principalmente por sua rejcigao de ‘conceitos normativos.’ Em um artigo intitulado Por gue o pés-estruturalismo umm Beco sem satda para o pensamento progresssta, Barbara Epstein alega que “as hipéteses fundamentais do p6s-estruturalismo so conflitantes com as suposigdes necessirias as politicas radicais.” Particularmente preocupada com 0 pés-estruturalismo feminista, que ela declara como sendo amoral e “uma campanha contra as estruturas basicas de pensamento e linguagem.” clanao esta sé em sua condenagio do pés-estruturalismo, Muitas feministas, compartilham da preocupasio de que as abordagens pés-modernista © pés-estruturalista estio em desacordo com politicas progressivas cm getal e com as politicas feministas em particular. Somer Brodribb diz: “O 2 FOUCAULT, PRMENISMO & SURJET pés-modernismo exulta 0 esquecimento ¢ a desconexio femininas; ele no tem um modelo para a aquisigéo de conhecimento, para estabelecer conexées, para comunicagSes ou para tornar-se global, o que o feminismo tem feito © vai continuar fazendo.”* A maioria dos ataques feministas ao pés-modernismo incluem o trabalho de Michel Foucault ¢ alguns 0 estabelecem como representante principal do pensarnento pés-modemo. ‘As feministas advertem contra o uso de Foucault em termos inequfvocos. Toril Moi, por exemplo, diz: “o prego a se pagar por acatar seu (de Foucault) poderoso discurso é nada menos do que a despolitizagao do feminismo.”” Da mesma forma, Nancy Hartsock dia: “teorias de pos~ estruturalismo, tais como as estimuladas por Miche! Foucault, falham em fornecer uma teoria de poder para as mulheres.”* E Linda Alcoff alerta que “uma apropriagio indiscriminada de Foucault por teéricos feministas é imprudente.”® Mas o que ha assim de tio perigoso para as feministas na apropriagio das tcorias de Foucault?, alguém poderia questionar. Em geral, criticos feministas receiam que sua rejeigdo 4s normas enfraqueca a possibilidade do feminismo como um movimento politico emancipatério. Essa rejeigao, combinada a sua visio de que a verdade ¢ o conhecimento sio sempre produzidos dentro de uma rede de relagbes de poder, leva muitos 2.0 acusarem de relativismo € niilismo. Para cles também é inquictante que a consideragio do filésofo sobre subjetividade nao permita agio ¢ resisténcia, Criticos acreditam que sua rejeigdo a um sujeito unificado ¢ sua visio de que a subjetividade ¢ produzida dentro de relagdes de poder resultam em um conceito do sujeito totalmente determinado por forcas sociais. Um sujeito incapaz. de agio moral e politica s6 pode resulear em quietismo, dizem os criticos. E, finalmente, algumas feministas criticam ‘especificamente a concepso de poder de Foucault." Elas proclamam que sua concepgio de que “o poder esti em todo lugar” nao permite distinguir a diferenca entre os dominadores e os dominados. Uma concepsio de poder {que possa contribuir para a assimetria de relagdes de poder entre géneros é cessencial para o feminismo, Dadas as reservas a0 trabalho do autor, por que deveriam as feministas se interessarem por sua teoria, afinal?"" Tronicamente, os que discutem que as ideias de Foucault podem ser interessantcs para feminismo se focam em muitas das mesmas questdes que as feministas que criticam o pensador, como sua rejei¢ao de metanarrativas ¢ uma estrutura normativa, sua nogio de poder e sua critica dos modelos filoséficos tradicionais de subjetividade. Na introdugio da antologia MARGARET A. MCLAREN 13 Feminismo e Foucault, Irene Diamond e Lee Quinby identificam quatro convergéncias entre 0s projetos tedricos de feminismo e Foucault; ambas identifica 0 corpo como um ponto de poder, veem 0 poder como local, enfatizam o discurso e criticam o privilégio do masculino e sua proclamacao dos universais no humanismo ocidental. Algumas feministas partidarias de Foucault veem seu anti-humanismo, sua rejeigio a metanarrativas normas universais ¢ seu desafio 4 nocao de uma subjetividade unificada ‘como passos necessérios em diregio a politicas de diversidade ¢ inclusio. E _-muitas feministas acham a concepgio de poder de Foucault ~ como uma rede © que opera por meio de discursos, instituig6es e priticas ~ benéficas para a compreensio das formas como o poder opera localmente, no corpo e através de priticas particulares."* Devo argumentar que as ideias de Foucault sobre corpo, poder € subjetividade podem fornecer importantes _f Gere Be aca a consid nog da pabjetvided iocorpcra dc storicamenteconstiufdac trao das efdcas erninitasia icine de fc sobre normas, subjetividade, o corpo, identidade e poder, demonstrando que ideias titeis a respeito de criticas sociais, pritica politica e subjetividade podem ser extraidas de sua obra. As criticas feministas ao pensador tém se focado em seu trabalho genealégico. Uma leitura de Foucault que remete a essas criticas feministas de seu trabalho genealégico e as relagdes entre seu trabalho genealégico e seu trabalho posterior serio temas explorados. ‘As feministas prestaram relativamente muito pouca atengio a sua obra posterior. Para remediar isso, dou especial atengo a seus iltimos livros, © Uso do Pracer: A Histéria da Sexualidade Volume Dois ¢ O Cuidado de Si: A Historia da Sexualidade Volume Trés, bem como alguns ensaios ¢ entrevistas. Entretanto, contrariando outras interpretagSes feministas de Foucault, veio esta obra posterior no como um abandono da anterior ou lum retorno aos valores do iluminismo, mas como uma continuagio de seu rojeto anterior de pensar através de uma nova concepsio de subjetividade ‘que ¢ incorporada e se manifesta por meio de praticas. Essas praticas tanto permitem quanto restringem, além de a liberdade ser tida como situada dentro de matrizes materiais, institucionais ¢ disciplinares. Concluo mostrando que sua ideia de praticas de si pode ser aplicada as priticas feministas contemporineas, ‘A essa altura, uma visio geral da obra de Foucault pode vir a ser titi. Seu trabalho geralmente é dividido em trés fases: arqueoldgico, geneal6gico 4 FOUCAULT, FRMINISMO H SURJETIVIDADE € ético, Essas trés abordagens correspondem, de modo grosseiro, a urna cordem cronolégica de anterior (arqueolégico), meio (genealégico) ¢ posterior (ético). Suas arqueologias incluem O Nascimento da Clinica, A Ordem das Coisas ¢.A Arqueologia do Saber. Arqueologia se refere 20 meétodo utilizado por Foucault nesses trabalhos anteriores. O método arqueolégico tenta revelar os limites inconscientes de pensamento ¢ saber, cle investiga as estruturas que sublinham pensamento € tornam possiveis, tipos pariculares de saberes em momentos histéricos especificos. Essas estruturas sio formagées discursivas, chamadas por Foucault de “epistemes”, que governam 0 que pode ser dito. A arqueologia examina como novas disciplinas emergem e como ocorrem as mudangas no entendimento, Em O Nascimento da Clinica, por exemplo, Foucault investiga a mudanga no entendimento médico de doencas da nosologia, que se fiava em categorias € esséncias, & anatomia patol6gica, baseando-se, por sua vez, em sinais specifics ¢ locaise efeitos visiveis da doenga no corpo.A arqueologia como método ¢ estitica porque busca simplesmente desvendar as estruturas do racionalismo que tornam tais mudangas compreensiveis ou 0 surgimento de novas disciplinas possivel. O primeiro objeto de andlise nas arqueologias € 0 saber, Suas obras geneal6gicas sto Vigiar e Punir e A Histéria da Sexualidade Volume Um. O método genealégico diferc do arqueolégico de varias maneiras; ele é dinamico, nao estitico; é orientado para priticas € discursos; e apresenta uma dimensio de poder. Genealogias sio histérias locais e especificas. Mas, a0 contririo de hist6rias tradicionais, genealogias stio focadas em descontinuidades ¢ rupturas, em vez de continuidades. Por causa desse foco na descontinuidade, as genealogias de Foucault desafiam a nocdo de progresso. Elas revelam a contingéncia envolvida no desenvolvimento de praticas e instituigées. Em Vigiar e Punir, por cxemplo, ele foca nas mudangas na punigo de criminosos, tragando a mudanga de execugio para encarceramento. © método genealdgico levanta questOes sobre como as priticas, instituigdes e categorias atuais vieram a tornar-se 0 que sio. E essencialmente em seu trabalho genealégico que cle desenvolve sua concepsao de poder, algo que discuto em detalhes no capitulo dois. Para Foucault, o poder ndo € unilateral; nao é negativo; e nio é possuido por um individuo ou um grupo de individuos. O poder pode ser positivo © produtivo; € uma relago, no uma coisa. Embora suas gencalogias tracem a hist6ria de priticas e instituigdes especificas, muitos de seus discipulos consideram o poder como o tema central nas genealogias. Como podemos MARGARET A. MCLAREN 1s ‘Ver, sua nova concep¢io de poder atraiu a critica de algumas ferinistas, ‘ainda que tenha sido Gtil para outras anilises feministas. A maioria dos ‘embates feministas com o pensador é focada em sua obra genealégica. Antes de sua morte precoce, a atencio de Foucault voltou-se para tes éticas. Assim, cle geralmente se refere A terceira fase de sua como sendo ética, ou posterior. A obra ética inclui 0 segundo ro volumes da série A Histéria da Sexualidade, respectivamente, O Uso dos Prazeres © O Cuidado de Si, bem como alguns ensaios ¢ entrevistas Nignificativas, notadamente “Sobre a Genealogia da Etica: Uma Visto Geral de ur Trabalho em Andamento”,“O Sujeito eo Poder”, “A Eitica do Cuidado de Sicomo Pratica da Liberdade” ¢ “Teenologias do Eu’ € amplamente sabido que a obra ética de Foucault lida com a subjetividade; especificamente, ¢ nessa obra posterior que ele explora a constituigdo ativa do sujeito, ou ‘0 que cle chama de o trabalho do eu sobre o eu. Os volumes dois e trés de A Historia da Sexualidade examinam as éticas sexuais ¢ as praticas sociais das antigas Grécia e Roma. Foucault observa que o principio do cuidado de si tinha um papel significativo na cultura grega. O cuidado de si tinha como objetivo a produgio de autocontrole ¢ era alcansado por meio de virias priticas sociais, incluindo meditagio, redacio, atividades fisicas, expressio de verdades e autoavaliagao. Foucault argumenta que & através dessas priticas, ou técnicas do cu, que a subjetividade ética era constituida na Antiguidade, Em seu trabalho posterior cle também clabora a sua nogio de poder, fazendo algumas distingées bastante convenientes entre poder ¢ dominagio. Alguns de seus leitores acreditam que as trés fases da obra do autor, que esquematizei acima, revelam inconsisténcias fem suas ideias. De fato, as trés fases nao sAo apenas cronologicamente distintas, cada uma € marcada por um método diferente: arqueolégico, gencalégico € ético, ¢ ostensivamente um assunto diferente: saber, poder € 0 sujeito. Embora o préprio Foucault tivesse pouco compromisso com a consisténcia, acreditando que uma pessoa pudesse ser transformada através da escrita, ele oferece, em entrevistas mais recentes, algumas pistas de como interpretar sua obra. Ele sugere que suas obras lidam com questdes, sobre saber, poder e o sujeito, no sequencialmente, mas simultaneamente. Ele esti, na verdade, interessado na relacio entre elas. Além disso, apesar dos diferentes métodos usados e das mudangas de énfase do saber para 0 poder, para o sujeito, a subjetividade é o tema sublinhado em sua obra. Suas obras arqueolégicas desafiam o sujeito do humanismo, Ele mostra que 0 16 FOUCAULT; FRMINIEMO. wErIVIDADE. sujeito racional unificado nao pode ser pressuposto, mas que, 20 contririo, essa ideia de subjetividade é resultado de priticas linguisticas e formacées discursivas particulares, Suas obras genealégicas desenvolvem sua nogio de poder em relagio & subjetividade, Ele articula 0 modo como 0 poder opera sobre individuos através de regras sociais, praticas ¢ instituigdes, e em suas obras éticas sua preocupagio com a subjetividade é bastante explicita: nelas ele est4 preocupado com a ativa autoconstitui¢i0 do eu. O proprio Foucault declara que o tema da subjetividade esta presente ao longo de todo o seu trabalho € que, portanto, suas obras nao devem ser vistas como descontinuadas ou inconsistentes. “Meu objetivo, em vez. disso, tem sido criar uma hist6ria de diferentes modos pelos quais, em nossa cultura, sexes humanos sio transformados em sujeitos. Meu trabalho lida com trés modos de objetificasio que transformam seres humanos em sujcitos... Assim, nio 60 poder, mas o sujeito, o tema geral da minha pesquisa.” "Neste livro, sigo as sugestées de Foucault e ofereco uma leitura de sua obra focando nas contribuigdes dadas por ele no repensamento da subjetividade. ‘Até agora tenho usado os termos feminismo ¢ feminista de maneira bastante genérica, divididos apenas entre as criticas feministas de Foucault as feministas que advogam a favor dele. Mas, como qualquer um que esteja familiarizado com o feminismo sabe, o feminismo é uma orientagio te6rica que inclui uma ampla gama de posigdes ¢ visdes. Além disso, ‘hé uma variedade de manciras de categorizar diferentes abordagens femninistas, Nao obstante, todas as teorias feministas sio politicas. Um autor coloca desta forma: “a teoria feminista nao é uma, mas varias teorias ‘ou perspectivas ¢ cada teoria feminista ou tentativas de perspectiva para descrever a opressio da mulher, explicar suas causas e consequénciase tragar cestratégias para aliberago da mulher.””” Todas as teorias feministas, entio, comesam com a opressio ou subordinasio da mulher ¢ todas tém como meta liberar a mulher de sua subordinasio. Considerando que a maioria das feministas que criticam Foucault o fazem com base no que veem como implicagoes politicas de sua teoria, meu foco aqui é explicitamente nas teorias feministas politicas. Outro motivo para tal foco € meu interesse na recepgio de Foucault pelas feministas norte-americanas. Parte do que est em jogo em debates sobre a utilidade das ideias do pensador ou do pés-modemismo, mais genericamente para a teoria feminista, é 0 direcionamento da propria teoria feminista. Algumas feministas reclamam que as abordagens pés-modernas so meramente exercicios académicos WMOARET A. MCLAREN "7 sistas em lingua elitista que separam a teoria da pritica e tém pouco ‘com as lutas das mulheres no mundo real. Parte do que espero neste livro é demonstrar algumas coincidéncias nas referéncias € de feministas e Foucault e mostrar que ha aplicagées priticas suas ideias na promogio de objetivos feministas. Para ajudar a separar quest6es e posicdes no debate Foucault/feninismo, comego expondo importantes posigdes femninistas. Explico brevemente as hipoteses ntos principais do feminismo liberal, feminismo radical, feminismo ista, feminismo socialista, feminismo multicultural ¢ feminismo shal." Também discuto resumidamente a abordagem da teoria feminista ica social e a abordagem do feminismo pés-moderno, © feminismo liberal € caracterizado por seu foco na igualdade, jdera-se que homens ¢ mulheres possuam as mesmas capacidades is, Com base nisso, as feministas liberais argumentam que homens eres devem ser tratados com igualdade. Se forem dadas is mulheres ‘mesmas oportunidades educacionais, ocupacionais ¢ politicas, continua argumento, elas atingiriam seu verdadeiro potencial e nfo mais seriam ‘mubordinadas aos homens. Associado a Mary Wollstonecraft no século ito € a John Stuart Mill e Harriet Taylor Mill no século dezenove, 0 feminismo liberal tcm uma longa historia. O feminismo liberal dé grande incia & racionalidade, autonomia e escolha. Feministas liberais a razlo ¢ a racionalidade como a caracteristica quintessencial, findamental para a autonomia moral ¢ politica. A exclusio da mulher ‘da esfera publica, entretanto, pode inibir sua capacidade de desenvolver ‘¢ exercitar plenamente sua racionalidade. Portanto, defendem a total participagio politica e igualdade legal para as mulheres e acreditam que 4 inclusio total da mulher na vida piblica resultard na igualdade entre ‘homens e mulheres. Como a teoria politica tradicional, o feminismo liberal se fia na nogio de direitos. Feministas liberais advogam trabalhando ‘em instituigdes legais, politicas e econdmicas existentes. Com 0 intuito de alcancarem paridade as mulheres, elas apelam para nogdes como utonomia, direitos, liberdade e igualdade. Martha Nussbaum contrasta explicitamente a posigdo feminista liberal com uma visio que atribui a Foucault,” criticando os intelectuais franceses por sua politica anémica ¢ iilpando-os pela ideia de que o discurso insidioso iguala-se 4 resisténcia politica. Ela contrasta 2 tal visio com a visto de que mudangas politicas ¢ sociais em larga escala serdo alcangadas através da lei e de movimentos 18 politicos de massa. Ela alega que interpretagbes das ideias de Foucault levaram a “ideia fatalista de que somos prisioneiros de uma estrutura de poder totalmente envolvente © que movimentos de reforma da vida real geralmente acabam servindo 20 poder de modos novos ¢ insidiosos.”” Nussbaum ataca o ferninismo foucaultiano de Judith Butler, alegando que as feministas jovens norte-americanas, influenciadas por Butler, abdicam da politica e aderem ao quictismo. Ela receia que as ideias de intelectuais, franceses debilitem o que ela chama de ‘politicas feministas no velho estilo” e sua preocupagio com a realidade material, alegando que a visio. de resisténcia mantida pelos intelectuais franceses é pessoal e particular € no promove mudangas legais, institucionais ou materiais. Finalmente, culpa Butler—e por extensio, Foucault ~ por manterem uma “visio estreita, das possibilidades de mudanga’. * Cré que essa visio estreita resulta em pessimismo ¢ passividade. Como outras criticas feministas, cla se foca na visio de poder de Foucault, sua nogio de sujeito e sua rejeigio a normas. Nao € surpreendente, dada a critica de Foucault aos valores hhumanistas, que o liberalismo personifique a ideia de que as feministas liberais achem sua obra antiética a seu projeto. Sua rejeigio as normas universais, sua suspeita relativa a concepgées teleolégicas da histéria que implicam no progresso, sua rejeigo a uma nogio de subjetividade como cconsciéncia unificada e sua rejeigio & concepgao liberal tradicional de poder contradizem os prinefpios fundamentais do liberalismo. Apesar de sua acusagio ao humanismo e liberalismo, Foucault reconhece a necessidade de uma variedade de praticas e estratégias politicas, incluindo apelos aos direitos humanos ¢ A liberdade. Como pretendo demonstrar, o pensador defende o engajamento politico voltado a diminuigéo da dominagio e aumento da liberdade e endossa varias estratégias politicas. feminismo radical € focado nas diferensas da mulher para ohomem. Feministas radicais admitem que ha diferengas biolégicas significativas centre homens € mulheres.”* A primeira e mais importante é a diferenca na capacidade reprodutiva; mulheres podem gerar filhos, homens nio. Enquanto antigas feministas radicais viam a capucidade de a mulher gerar fillos como um possivel impedimento a sua liberasio completa, as radicais feministas posteriores celebram a capacidade reprodutiva da mulher Para as feministas radicais, a associacio das diferengas das mulheres para ‘0s homens vai além da capacidade de gerar filhos; elas focam no corpo € nas questoes de sexualidade, violéncia contra a mulher e satide da mulher, (OARET A. MCLAREN 19 ‘como a reproducio. Defendem o desenvolvimento de instituigdes que dam as necessidades da mulher. Foi especialmente devido a influéncia feminismo radical nos Estados Unidos no final dos anos 1960 ¢ inicio 1970 que instituigdes como centros de atendimento a estuptos, para mulheres violentadas e centros de saide da mulher foram 8. Além disso, clas iniciaram campanhas educativas ¢ movimentos Protestos, por exemplo, contra a pornografia.* Ao contrario das liberais, feministas radicais acreditam que as instituigdes existentes devem ser smente alteradas e que novas instituigoes precisam ser desenvolvidas que as mulheres possam superar sua subordinagio, ‘Além do seu foco no corpo, as feministas radicais enfatizam a jportincia da linguagem. Obviamente, a linguagem nio sexista vai, alguma forma, na diregio da promosio da paridade entre mulheres homens, como até mesmo as feministas liberais concordariam. Mas ais vo mais longe; elas examinam os limites de linguagem para iculagio da experiéncia feminina. Algumas alegam que a linguagem é si falocéntrica, um sistema construido pelo homem representando a sncia masculina. Assim, para representar a experiéncia da mulher, palavras, e talvez toda uma nova lingua, sio necessérias. Por meio de novas palavras e uma nova lingua as mulheres podem nomear Mia experiéncia. Nomear identifica ¢ torna concretas experiéneias que filo cram representadas na cultura dominante. As feministas radicais feconhecem o poder da Kngua e insistem em que as feministas revejam f¢ reconsiderern palavras com conotagGes depreciativas que desvalorizam 4 mulher, como solteirona, bruxa e “jaburu”* Elas acreditam que a linguagem nao apenas descreve a realidade, mas a cria. Palavras ¢ imagens filo potenciais transmissores de valores sociais e culturais. Acreditam que todas as instituigdes existentes, politicas, legais, econémicas, sociais, ‘clturais e médicas precisam ser radicalmente transformadas. Lutar pela Jqualdade entre homens ¢ mulheres fandamentada na uniformidade eontinuari colocando, sistematicamente, a mulher em desvantagem porque hé diferencas fundamentais entre homens mulheres.” Pensam também que o poder patriarcal nfo esté localizado apenas nas instituigoes politicas ¢ legais. Algumas escreveram sua propria histéria mostrando ¢omo os homens usurparam o poder da mulher, por exemplo, através da medicalizacao do parto.* O poder masculino sobre as mulheres nao esta restrito 4 esfera de politica, leis e economia, mas permeia cada aspecto 20 ‘YOUCAULT, FEMINISMO E SURJETIVIDADE. da vida, incluindo a construgio do conhecimento. Para o feminismo radical 0 patriarcado, a dominasio sistemética da mulher pelo homem, € a caracteristica fundamental da organizacéo social. As feministas radicais acreditam, como as feministas liberais, que as mulheres devem ter igual acesso a meios ¢ oportunidades para que consigam superar sua subordinasao. Entretanto, igualdade de acesso nao é suficiente; as proprias instituigées devem passar por mudancas para cumprir com as perspectivas experiéncias das mulheres. E as instituigdes que servem especificamente as necessidades da mulher devem ser desenvolvidas e mantidas. Para elas 0 sistema de sexo/género é a causa fundamental da opressio 3 mulher. ‘As feministas radicais também veem seus interesses ¢ objetivos em oposigio a uma abordagem pés-modera, pés-estruturalista ou desconstrutivista, Mais uma ver, as razes para isso siio varias: tentativas, 1p6s-modernas de desconstruir categorias conflitam com a dependéncia do tadicalismo feminista do sexo e do género como categorias fundamentais, de opressio, E os desafios pés-modernos de identificasio ¢ unidade ameasam minar o conceito de mulher sobre o qual se fia 0 feminismo radical. Essa abordagem desconstrutiva falha no fornecimento de qualquer diregéo para as mudangas positivas buscadas pelas feministas, radicais, Finalmente, as feministas radicais consideram as abordagens pés- modernas como abstragées teéricas distantes da vida real, da luta diéria das mulheres. De acordo com Somer Brodribb, que oferece uma extensa critica do pés-modernismo a partir de uma posigao feminista radical, “as teorias de discurso de Foucault, e suas teorias de poder, se originam, ambas, de uma nogio de estruturas autoconstrutoras ¢ uma concepeio do social sem qualquer nogao do individual.” Apesar das criticas do feminismo radical a0 pés-modernismo, mostro que hé alguma coincidéncia entre os interesses do mesmo e Foucault. Mais especificamente, ambos rejeitam concepsies de poder liberais tradicionais, ambos endossam uma defini¢o ampla do politico, ambos focam nas instituigdes e praticas materiais e ambos reconhecem o poder da linguagem e da representaco na configuragio da realidade, Feministas marxistas vem o capitalismo, mais do que o sistema patriarcal, como a causa fundamental da opressio da mulher. Adotando a visio marxista tradicional de que a sociedade € estruturada em sistema de classes, algumas feministas marxistas veem as mulheres como uma “classe sexual”, No entanto, hi um desacordo neste tradicional entendimento da IARET A. MCLAREN a fio da mulher, Pelo fato de a mulher estar distribufda em todas as ss econdmicas e sociais (Frequentemente em virtude de sua liga¢ao.com sm), algumas mulheres tém defendido que ¢ inexato caracterizd-la uma classe € que o melhor é pensi-las como um sexo oprimido.” também criticam o sistema patriarcal de casamento que considera xt propriedade do homem. Marxistas tradicionais associam a fio da mulher com o sistema capitalista, o crescimento industrial e ito da propriedade privada. Esto de acordo com as feministas que diz respeito a subordinago das mulheres aos homens, mas elas uem isso ao sistema capitalista de propriedade privada, antes que a0 rio sistema de sexo/género. Para as feministas marxistas a opressio de 4 primeira forma de opressio, “sexismo, como o racismo, tem suas no sistema da propriedade privada.”” ‘A teoria de ponto de vista feminista emergiu do feminismo marxista. Hartsock desenvolveu esta visio em seu clissico artigo A Teoria Ponto de Vista Feminista,® que se bascia na nogo de Marx de que se oprimida atua tanto dentro das regras do opressor quanto dentro pparimetros da classe oprimida e, por isso, desenvolve uma consciéncia ja. Por entender sua situacao de oprimida e compreender o sistema m0 a classe oprimida esté em uma posicio privilegiada no que respeito a0 conhecimento da realidade da situago. O que proporciona privilégio cpistémico 4 classe oprimida ou grupo marginalizado . Nancy Hartsock adapta essa ideia de privilégio Wideia de um ponto de vista. Ela diz: ticordo com a teoria marxista, a vida das mulheres tornam vilido um [ponto de vantagem particular e privilegiado sobre a supremacia masculina, {im ponto de vantagem que pode fundamentar uma critica poderosa 3s | instituigdes e ideologias falocréticas que constituem as formas capitalistas de patriarcado.”" Usando 2 categoria de trabalho de Marx e baseando A opressio da mulher na divisio sexual do trabalho, Hartsock fomece lum argumento convincente para a teoria de ponto de vista feminista. Entretanto, é exatamente essa nosio de um ponto de vista unificado ¢ da mulher como um grupo unificado que o feminismo pés-moderno desafia. © feminismo marxista predominou nos Estados Unidos no final dos anos 1960. Como as feministas radicais, as feministas marsistas ucreditavam que as instituigdes tradicionais precisavam ser radicalmente 2 ‘YOUCAULN, rN reestruturadas. A instituigio com mais necessidade de mudangas era, obviamente, a economia, Além da questio de transformar a economia ‘em geral, clas lideraram a campanha “Saldrio para Trabalbos Domésticos", ressaltando 0 fato de que a economia depende do trabalho doméstico nio pago da mulher. O femninismo marxista subordina questées sobre a mulher € a opressio sexual a uma critica do capitalismo e da opressio econdmica. Foucault critica explicitamente o marxismo por seu foco particular em economia. Além disso, ele rejeita a noo de progresso histérico, que permeia a teoria de Marx. As feministas marxistas veem a convergéncia de Foucault no local, especifico e concreto como inadequada para explicar 4 opressio de classe ¢ a subordinasio da mulher. Hartsock considera a nogio de poder de filésofo como incapaz de consideragao para assimetrias, universais e sistematicas de poder, mas hé alguns pontos de concordancia centre as consideragdes das feministas marxistas ¢ as do filésofo, Apesar de suas criticas a0 marxismo, ele integra questdes de classe ¢ consideragées econdmicas em suas anilises histéricas, Defendo que essa nogio de poder pode contar para uma assimetria sistemitica e, consequentemente, opressio estrutural. O compromisso de Foucault com a antidominasa0, © com mudangas sociais é aparente em seu trabalho genealégico; este compromisso é compartilhado com as feministas marxistas. Feministas socialistas integram 0 foco do feminismo marxista na economia com o foco radical feminista em sexo. Elas nio subordinam opressio sexual a0 capitalismo, como fazem as feministas marxistas, nem privilegiam sexo e género em detrimento das questées econdmicas. Acreditam que tanto a andlise marxista quanto a feminista sio necessarias na superagiio da opressio da mulher. No clissico artigo de Heidi Hartmann, O Infeliz: Casamento do Marxismo e do Feminismo: Em Diregao a uma Uniao ‘mais Progressiva, cla diz: “... as categorias do marxismo sio cegas com relagZo ao sexo. Somente uma anilise especificamente feminista revela 0 ccariter sistémico de relagées entre homens € mulheres. Ainda que a anélise feminista por si s6 seja inadequada porque tem sido cega para a histéria ¢ insuficientemente materialista.”"* As feministas socialistas tém foco na base material das relagdes sociais e nas formas que elas criam e mantém 0 patriarcado. Como as feministas radicais, clas se preocupam com questées de sexualidade © © corpo, como de reprodutividade e questées relativas violéncia contra a mulher. Mas elas veem essas questées, ¢ 0 préprio patriarcado, entrelacadas as questdes econdmicas. Ademais, as ferninistas ET A. MCLAREN 23 ngaode Be aero ct dca defo defarala trabalhos femininos, doméstico e reprodutivo, sem salérios. Elas que a economia tradicional e as instituigdes sociais precisam ser mada, .g., familia co sistema econémico capitalista, vendo essas ituigdes cconémicas ¢ sociais como a base para um sistema patriarcal. vverdade, clas veem a divisio sexual de trabalho como auxiliar na ‘¢ manutengio de géneros, por meio da perpetuagao de uma divisio baseada em géneros. Como Hartamann diz, ‘a estrita divisio trabalho por sexo, uma invencio social comum a todas as sociedades 5, cria dois géneros muito separados ¢ uma necessidade de unido se mulheres por razdes econdmicas.”* A divisio sexual de acontece tanto no lar quanto no setor piblico. Na esfera doméstica io sexual de trabalho inclui o trabalho reprodutivo, tais como dar 2 ‘eriar filhos e outras tarefas domésticas, como ir 4s compras, cozinhar par. Na esfera publica, a divisio sexual de trabalho inclui divisées a0 das linhas de género tradicionais, como mais homens em trabalhos is que exigem lidar com pesos ¢ mais mulheres no setor de servigos trabalho de secretariado em escritérios, os chamados emprcgos de inho rosa. A divisio sexual de trabalho cria e reforga as diferengas igénero. Isso é perpetuado através de uma infinidade de relagdes sociais (cisamento heterossexual; arranjos de familia tradicional, incluindo as res como primeiras cuidadoras dos filhos; dependéncia ccondmica mulher ¢ 0 estado, O feminismo socialista demanda uma mudanca nas inbes sexuais de trabalho e nas relagSes sociais mantidas por tais divisoes. conclamam as feministas a se engajarem na luta contra o capitalismo #0 patriarcado.” Sua abordagem integrativa aprimora os focos singulares lo ferninismo radical ¢ do marxista. Entretanto, nio dao atengao suficiente ultras opressées sistematicas, como as baseadas em etnia, cultura, raga e itago sexual.°¥ Mais além, as feministas socialistas ccoam as preocupaydes das ‘feministas marxistas com relagio as ideias de Foucault, argumentando que yeu foco em instituigdes locais inibe uma andlise estrutural em larga escala. Se preocupam com 0 fato de a nogio de poder de Foucault no levar em ‘vont as desigualdades sisteméticas, tais como desigualdades de classe ou ‘de género, afirmando que sua concepsio de sujeito no permite agio ou 24 POUCAULY, FRMINISMO # SUBJETIVIDADE resisténcia. Fago referéncia a conexao entre mudanga estrutural e mudanga individual que esté implicita na obra do pensador,demonstrando que, longe de estar em oposigio, a mudanga social em larga escala e a transformagio individual dependem uma da outra. Assim, ao invés de minar o femninismo socialista, as ideias de Foucault podem complementar ¢ realgar sua posigao. A abordagem de teoria critica feminista tem algumas similaridades com a feminista socialista; ambas se fiam numa estrutura histérica materialista marxista. A teoria critica social amplia e adapta a teoria marxista para explicar as inovagées culturais e tecnolégicas. O proponente contemporiineo da teoria dacritica social mais conhecidoéJurgen Habernas. Como Habernas, os tedricos da critica social feminista examinam uma vasta gama de instituigdes sociais, incluindo instituigdes econémicas, sem se limitarem a elas. Os te6ricos feministas da critica social adicionam uma anilise de generos & teoria da critica social, levantando questdes sobre 0 lugar da mulher nessas instituigdes sociais. Questdes de status da mulher, bem como a divisio sexual de trabalho e questdes de estrutura familiar € responsabilidades no cuidado dos filhos sio ressaltadas pelos teéricos criticos feministas. Eles focam na mudanga e reforma institucional, apelando para nogdes de justiga, liberdade ¢ direitos. Da mesma forma que outras posigdes feministas discutidas até aqui, os te6ricos da critica social feminista veem a posi¢io pés-moderna como uma ameaga 20 feminismo. Seyla Benhabib, uma critica feminista social contemporinea, alerta, “A posisio pés-modernista pensada por meio de suas conclusdes pode eliminar nao apenas a especificidade da teoria feminista, mas colocar em cheque os préprios ideais emancipatérios dos movimentos feministas como um todo”.” Benhabib di crédito ao pés-modernismo por focar-se nos excluidos ¢ marginais, observando que as genealogias de Foucault sio histérias dos desprivilegiados. Ela também observa que as nocdes de vigilincia e disciplina de Foucault elucidam alguns aspectos desagradiveis, da vida politica contemporinea. Entretanto, Benhabib compartilha da visio de outras criticas feministas de Foucault de que seu trabalho deixa pouco espaco para acio ¢ resisténcia. Ela diz: ‘para Michel Foucault no hé historia das vitimas, mas apenas uma hist6ria da construgao da vitimizacio... para Foucault todo ato de resisténcia nio passa de uma outra manifestagdo de um complexo de discurso-poder onipresente...”. Embora 0s tesricos criticos sociais feministas reconhecam que os conceitos de poder, disciplina e vigiléncia ¢ Foucault descrevem apropriadamente aspectos da sociedade contemporanea, eles hesitum em endossar 0 smodernismo ou abracar mais amplamente suas ideias. feminismo multicultural tenta se referir 4 negligéncia de raga, fe cultura evidente em abordagens feministas anteriores. Embora dessas outras abordagens possam acomodar essas_questies, ‘ilo seu foco principal. Como o feminismo socialista, o feminismo Itural é uma abordagem integrativa que analisa os meios nos quais € interativa e especifica, a0 invés de aditiva. A identidade de € formada dentro do contexto de identidades raciais, culturais ¢ especificas. As feministas multiculturais apontam as formas que, ‘ou minimizar as questdes de raga, outras abordagens feministas uma perspectiva branca. Elas incitam as feministas brancas a sm o vigs na teorizagio feminista dominante, ¢ a priorizarem de raga, etnia e cultura, Com o argumento de que as opressBes sio las ¢ interativas, ao invés de separadas e discretas, as feministas is articulam as formas em que género, orientagio sexual ¢ sio mediados por raga, etnia e cultura. Sua abordagem leva em conta formas de opressio ¢ a especificidade da experiéncia feminina. O multicultural examina 0 aspecto estrutural das opressies ¢ a laridade de identidade; ele desafia as normas implicitas ¢ modelos fticos de identidade implicitos nas teorias feministas anteriores. ‘Algumas feministas multiculturais acham a teoria pés-moderna itil safio das normas universais ¢ a aplaudem por seu foco na diferenga, Jnvés da mesmice. Elas pensam que a énfase em priticas locais ¢ subjugados dio voz aos marginalizados menos poderosos. Isso ‘a 4 atengao as experiéncias e vidas de mulheres negras que tém sido inalizadas, no apenas na sociedade em geral, mas também dentro do ferninismo, Mas algumas feministas, preocupadas com questdes figa, questionam a relevincia da teoria p6s-moderna e sua capacidade lidar com realidades concretas e materiais de raga e opressio sexual. feu artigo clissico, Raga para Teoria, Barbara Christian expressa reservas quanto a critica literdria p6s-moderna, “Meu receio é de que \do a teoria nao tem raizes na pritica, ela se torna prescritiva,clitista”.* losas com a teoria que universaliza e negligencia a particularidade, as, ministas multiculturais acreditam que teorias devem ser fundamentadas priticas e devem considerar as diversas experiéncias de mulheres de tes raca, etnia, cultura e classe, 26 POUCAULT, PRMINISMO & SURJETIVIDADE O ferninismo global estende a analise feminist para além de sua visio frequentemente limitada a paises industrializados no mundo ocidental. Ele tem como meta incluir questées de mulheres de todo o mundo. A perspectiva feminista global inclui uma andlise das opressdes estruturais bascada cm classe, género, orientagio sexual, raga ¢ etnia mencionada anteriormente, mas reconhece as realidades historicas ¢ sociais do colonialismo edoimperialismo. A perspectiva pés-colonial,ou imperialista, examina o impacto da capital transnacional e seu efeito na economia ¢ na cultura, especialmente nos chamados “paises em desenvolvimento’. ‘A perspectiva mais ampla do feminismo global leva em conta ambas as interconexdes e a diversidade de subordinagio feminina. Dentro dessa perspectiva ha abordagens divergentes na andlise da subordinagao feminina. Algumas feministas globais que exploram questdes de capital transnacional, imperialismo cultural, representacéo ¢ identidade tém achado a teoria pés-moderna itil. Outras, que adotam uma abordagem empirica ou que se preocupam com os direitos universais, discordam da posicao relativista associada ao pés-modemismo, Cada abordagem feminista discutida até aqui tem uma orientagio politica explicita. O coneeito primordial ésuperara subordinagio da mulher. Apesar das varias, 4s vezes conflitantes, suposigdes das posicdes feministas discutidas, hé coisas em comum entre elas. Primeiro, por ser o feminismo ‘um movimento social e politico devotado a superagio da subordinagao feminina, a teoria feminista pode fornecer recursos para mudancas sociais ¢ politicas. Esses recursos podem incluir ferramentas para anilise critica ¢ programas positivos para mudancas. Implicitos neste compromisso estio outros dois compromissos feministas importantes; o de que tem de haver ‘um relacionamento entre teoria ¢ pritica ¢ 0 de que a teoria deve ser relevante para a experiéncia, Esses dois critérios so necessérios para que a teoria feminista tenha efeito sobre as mudangas sociais e politicas; devem ser relevantes para as vidas presentes e concretas de mulheres reais. Devem ser capazes de informar e refletir nossa experiéncia. Correlativamente, a teoria ferninista deve surgir da pritica, a0 invés de imposigies. Quando cesta falha na consideracio das priticas materiais c da vida conereta das mulheres, ela se arrisca a se tornar um exercicio vazio em linguagem clitista. Finalmente, o feminismo esti compromissado com a inclusio, igualdade ¢ democracia. Assim, a teoria feminista deve ser acessivel a tantas mulheres quanto possivel. Embora haja importantes diferencas ‘A. MCLAREN 7 posigbes liberal, radical, maraista, socialista, teérica critica social, ce global, todas reconhecem o aspecto estrutural da opressio lagem sucessiva integra eixos adicionais de opressio, resultando abordagem complexa ¢ variada para o entendimento do impacto na vida das mulheres em toda sua diversidade ¢ complexidade. duas abordagens, feminismo multicultural ¢ global, desafiam hip6teses normativas implicitas a respeito de quem esté incluido da teoria ferninista. feminismo pés-moderno levanta questécs similares sobre a fungio de um conceito de identidade singular, unificado € quem esté Jo no escopo da teorizasio feminista." Embora sempre criticadas apoliticas, algumas feministas pés-modernas dizem que uma que desafia as normas tradicionais ¢ modelos unificados de € essencial para uma politica progressiva. A dissidéncia entre ‘pés-modernas, muitas das quais se apoiam extensivamente na yMichel Foucault e asabordagens feministas explicitamente politicas, facima, é a questio que sublinha o resto deste livro, Feministas de Foucault negam categoricamente que a obra dele possa ser ttil fticas emancipat6rias, incluindo politicas feministas. Apesar dessa algumas feministas que usam ou aplicam Foucault para propésitos ‘acham que sua obra pode ser politicamente util. Meu objetivo ‘essas tensdes entre as proprias femninistas e entre as feministas € , demonstrando que sua obra fornece recursos para articular uma de subjetividade que ¢ incorporada ¢ constitufda historicamente ¢ de relagdes sociais; e que esse eu social, incorporado, é capaz de politica e moral. Dou atengo especial as suas obras genealégicas trubalho posterior sobre ética e o eu. O restante deste capitulo fornece visio geral do debate feminista sobre Foucault. ‘Niio hd acordo entre as femninistas sobre a utilidade da obra de Foucault 4 tcoria e pritica feminista. Dividirei o envolvimento feminista com 0 yidor em quatro grupos: criticas acirradas; criticas moderadas; aquelas Aum, ampliam ou aplicam aspectos de seu projeto, mas com sérias, 15 quanto a0 mesmo como um todo; e feministas foucaultianas que Imem aspectos centrais da obra de Foucault ou aplicam uma estrutura sultiana com minimas reservas ou criticas. Criticas acirradas wendem sua obra em pelo menos um aspecto, como sua concep¢io poder, sua noco de subjetividade ou sua falta de estrutura normativa. 28 YOUCAULIT, FEMINISMO SUBJETIVIDADE Els afirmam que o pensador e 0 feminismo sio antiéticos e alertam as feministas contra ele. Criticas moderadas acham que um ou mais aspectos de sua obra podem ser titeis ao feminismo, mas que outros aspectos esto em desacordo com as metas do feminismo. As que usam ¢ ampliam aplicam a obra de Foucault a experiencia feminina. Isso tem sido especialmente titil para iluminar aspectos fisicos da opressio da mulher usando os conceitos foucaultianos de disciplina, biopoder, poder e normas sociais. Finalmente, as feministas foucaultianas adotam a maioria das ideias do filésofo para propésitos ferninistas ou as aplicam as questdes feministas. As criticas feministas de Foucault, tanto as convictas quanto as moderadas, tendem a focar em sua concepgio do sujeito, sua rejeicao as normas ¢ sua nogdo de poder, Discuto as objecdes feministas a falta de uma estrutura normativa de Foucault no capitulo 2 e explico sua nogio de poder para tentar remediar uma mé interpretagao generalizada da mesma. No capitulo 3, falo sobre as inquietagées feministas com a nogio de sujeito do filésofo. Algumas feministas o acusam de abolir 0 sujeito, enquanto outras tentam acusé-lo de oferecer apenas um sujeito passivo, sobredeterminado, incapaz de ago moral ou politica. Demonstro que o pensador rejeita uma nogiio especifica do sujeito, aquela da filosofia moderna, e que ele oferece, em vez disso, um entendimento do sujeito como social historicamente constituido ¢ incorporado. Contraponho as sugestdes criticas de que 0 sujeito nas obras posteriores de Foucault é individualista ¢ meramente estético, mostrando que o sujeito social, elacional e incorporado embutido em priticas culturais e institucionais especificas encontradas em suas obras sdo compativeis com os objetivos feministas. ‘No capitulo 4, explico a nogio de corpo em Foucault. As ferninistas tém acusado Foucault de androcentrismo porque ele no da aten¢io 4s priticas disciplinares de géneros espectficos ou ao impacto que a diferenca sexual pode ter na formulagao de uma teoria do corpo. Apesar do androcentrismo de Foucault, as ferninistas tém usado com sucesso sua obra para esclarecer especificamente as priticas disciplinares fernininas. ‘Também discuto 2 critica de que Foucault se fia implicitamente em um corpo natural, provando que sua nogao de corpo € multifacetada. Ele nao nega a materialidade do corpo, mas também que a materialidade do corpo no existe fora de uma estrutura disciplinar — em termos de conhecimento priticas. As concepgoes de corpo disponiveis a nés sio moldadas por essas grades disciplinares ¢ estruturas interpretativas. Além disso, como A: MCLAREN 29 estamos situados no mundo em rela¢o a uma variedade sociais que moldam nao apenas nosso entendimento de nossos is a materialidade de nossos corpos. lo 5, demonstro como as categorias normativas podem operar 1 limitar € excluir, Primeiro, discuto isso com respeito a identidade 8 politicos no feminismo. Depois demonstro como as categorias operam no nivel do corpo examinando o tratamento histérico ¢ 1¢0 de pessoas intersexuais. Finalmente, examino a questio da Rie para sriostmar como as categorias notmativas fo mantidas sistema de normas sociais que regulam o sexo ¢ a orientagao sexual. 6, discuto as obras éticas de Foucault focando nas técnicas do ‘técnicas objetivam a manutengao ¢ transformagio da identidade. 145 priticas do eu sio caracterizadas por uma articulagio, seja ‘escrita, discurso ou priticas corporais. Priticas do cu sio sempre teferéncia a um objetivo particular. Sugiro que a tomada de ia pode ser vista como uma pritica feminista do eu, discutindo tomada de consciéncia como uma pritica do eu promove a Jo individual, bem como a coletiva. Considero também que de normas sociais de Foucault articula uma importante mediadora entre a identidade individual e as instituigdes sociais, cclegais. Esta ligacdo entre a identidade individual e as instituigoes jignifica que a transformagio de si nao é simplesmente um objetivo mas deve envolver mudangas na estrutura social ¢ politica. Essa 10 do ético e do politico e a concepgo do eu como incorporado lente constituido so, creio eu, recursos te6ricos importantes para ismo contemporinco. a redagio deste livro, ha trés antologias que lidam com a entre feminismo e Foucault.“ Nenhum filésofo do sexo masculino, Marx, chamou tanta atengio das feministas. Nao haviam questécs ti utilidade politica de Marx, embora as feministas se preocupassem questo da subordinagio da mulher com relagao a classe. Os limites ‘ engajamento feminista com Foucault sio ainda maiores. A questio para as feministas é se o pensador enfraquece a possibilidade de politica cmancipatéria de modo geral. As paixdes feministas sio ypicazes quanto as promessas e perigos da obra de Foucault. As {que exploram o relacionamento entre os dois fornecem um yento do terreno desse debate. Embora as trés antologias explorem 30 FOUCAULT, FEMINIAMO # SURJETIVIDADE 1 relago entre o feminismo e Foucault, os subtitulos so reveladores. A primeira publicagao, Feminismo e Foucault: Reflexos da Resisténcia é a mais positiva quanto & contribuigao que a obra de Foucault pode dar a teoria feminista. Levante contra Foucault: Exploragées de Algumas Tensbes Entre Foucault ¢ 0 Feminismo enfatiza as tenses entre eles. A terceira publicagio, Interpretasdes Feministas de Michel Foucault, é dividida entre avaliagées positivas ¢ negativas. Comeca com duas resenhas criticas influentes de Foucault, de Nancy Hartsock ¢ Nancy Fraser, Enquanto essas criticas configuram 0 tom da recepgao de Foucault pelas feministas, o resto dos ‘ensaios exploram algumas das contribuigoes positivas que ele pode dar a teoria feminista, bem como as limitagdes na aplicagio de suas ideias a0 femninismo, Cada volume,como um todo,fornece uma perspectiva diferente A questio do relacionamento entre a obra de Foucault ¢ o feminismo. Classificar 0 relacionamento entre o feminismo ¢ Foucault nao é ‘uma tarefa ficil. As feministas revolucionaram as concepgées filoséficas tradicionais de conhecimento e do eu. Além disso, elas desafiaram diferengas de longa data entre mente/corpo, cultura/natureza ¢ publico/ privado. Foucault também desafia muitas ideias filos6ficas tradicionais, especialmente sua ideia de poder-saber, sua concepgio do eu e seu desafio as normas universais, Apesar do desafio em comum a muitas das ideias centrais da filosofia tradicional, Foucault e o feminismo vivem em tensio ¢ inquietude, na melhor das hipéteses. Enquanto alguns aspectos do feminismo desafiam as ideias filoséficas tradicionais, outros aspectos do feminismo ou diferentes abordagens feministas adotam ideias filoséficas tradicionais. Assim, o pensador serve de desafio a essas posigdes feministas.” Caroline Ramazanoglu percebe essa relacio complexa entre © feminismo ¢ Foucault: “As ideias de Foucault sobre poder, saber, o eu € sexualidade, por exemplo, nao sio compativeis com as ideias feministas, sejam as mais simples, e sugerem problemas consideriveis no uso feminista desses termos.” Nao obstante, ela continua, “O feminismo nio pode considerar ignorar Foucault, porque os problemas que ele levanta, as criticas que faz de teorias existentes € suas consequéncias politicas identifica problemas dentro ¢ para o feminismo.”® Sem diivida, a obra do fil6sofo tem implicagdes para uma gama de t6picos importantes para as ferninistas, incluindo questoes de metodologia, métodos de investigacao histérica e concepgdes de corpo, saber, poder, identidade, sexualidade, subjetividade, ética e politica, fazendo ecoar a afirmaséo de Ramazanoglu ‘AL MCLAREN, 31 que as ferninistas nado podem considerar ignoré-lo, Susan Hekman diz: seus detratores, ou seus defensores, questionam que a perspectiva de ault fornece um desafio ao feminismo”.” ‘Nio é apenas Foucault que apresenta um desafio ao feminismo em 0s de redefinigfo de ideias filoséficas centrais; o feminismo também ita um desafio a Foucault. Sua quase total negligéncia ao género, 's femininas, feminismo ¢ especificidade sexual leva algumas ‘a questionarem a relevincia de sua obra para o feminismo. As jstas o acusam de cegueira quanto ao género ¢ androcentrismo, lentemente, por todo o seu discurso sobre sexualidade, Foucault sncia a questo da diferenga sexual. Acusam-no porque mesmo em Aiscussio de corpos ele ndo faz distingbes entre os corpos masculino ¢ ino ou entre priticas disciplinares femininas e masculinas.Tambémn é lo de androcentrismo porque quando disserta sobre diferenga sexual ‘exemplo, em sua discussio da formacao do sujeito ético — ele foca no ito masculino. Apesar de seu inegével androcentrismo, demonstro que de Foucault fornece importantes recursos teéricos para o feminismo, Uma mancira de julgar se uma tcoria ou um teérico é bom ou nfo ‘0 feminismo é acessi-lo em termos dos compromissos centrais do lismo discutidos anteriormente: (1) recursos para mudangas politicas is para por fim a subordinagéo da mulher, (2) relagio entre teoria tica, (3) relevancia da experiéncia e (4) acessibilidade. Nas paginas s, espero fornecer uma descrigao acessivel da obra de Foucault jonstrar sua relevincia pritica. Acredito que ele fornece uma nogao de ito que pode vir a ser vtil para as feministas, e que sua ideia de normas iis providencia uma ligacao importante entre a experiéncia individual mudanga social.

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