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Senso Comum
O senso comum constitui o conhecimento adquirido por meio das experiências e
observações da vida cotidiana e que é transmitido de geração em geração, tornando-se, muitas
vezes, como que uma doutrina inquestionável.
As mudanças científicas
A primeira grande mudança na ciência refere-se à passagem do racionalismo e
empirismo ao construtivismo, isto é, de um ideal de cientificidade baseado na idéia de que a
ciência é uma representação da realidade tal como ela é em si mesma, a um ideal de
cientificidade baseado na idéia de que o objeto científico é um modelo construído e não uma
representação do real, uma aproximação sobre o modo de funcionamento da realidade, mas
não o conhecimento absoluto dela. A segunda mudança refere-se à passagem da ciência antiga
– teorética, qualitativa – à ciência moderna – tecnológica, quantitativa.
A evolução e o progresso pressupõem continuidade temporal, acumulação causal dos
acontecimentos, superioridade do futuro e do presente com relação ao passado, existência de
uma finalidade a ser alcançada. Supunha-se, pois, que as mudanças científicas indicavam
evolução ou progresso dos conhecimentos humanos.
A Filosofia das Ciências, estudando as mudanças científicas, impôs um desmentido às
ideias de evolução e progresso.
Revolução científica
Uma revolução científica ocorre quando o cientista descobre que o paradigma não
consegue explicar um fenômeno ou um fato novo, sendo necessário produzir outro paradigma
até então inexistente. Numa revolução científica, o cientista passa por uma profunda mudança
na forma de ver o mundo, como se passasse a trabalhar num mundo completamente diferente.
A ciência, portanto, não caminha numa via linear, contínua e progressiva, mas por
saltos ou revoluções. A ciência contemporânea, por exemplo, é construtivista: julga que fatos
e fenômenos novos podem exigir a elaboração de novos métodos, novas tecnologias e novas
teorias.
Falsificação x revolução
Alguns filósofos da ciência, entre eles Karl Popper, afirmaram que a reelaboração
científica decorre do fato de ter havido uma mudança no conceito filosófico-científico da
verdade. Esta já foi considerada durante muitos séculos como a correspondência exata entre
uma idéia ou um conceito e a realidade. No século passado, foi proposta uma teoria da
verdade como coerência interna entre conceitos. Na concepção anterior, o falso acontecia
quando uma idéia não correspondia à coisa que deveria representar. Na nova concepção, o
falso é a perda da coerência de uma teoria, a existência de contradições entre seus princípios
ou entre estes e alguns de seus conceitos.
Uma teoria científica é boa, diz Popper, quanto mais estiver aberta a fatos novos que
possam tornar falsos os princípios e os conceitos em que se baseava. Assim, o valor de uma
teoria não se mede por sua verdade, mas pela possibilidade de ser falsa. A falseabilidade seria
o critério de avaliação das teorias científicas e garantiria a idéia de progresso científico, pois é
a mesma teoria que vai sendo corrigida por fatos novos que a falsificam.
A maioria dos filósofos da ciência, entre os quais Khun, demonstrou o absurdo da
posição de Popper, dizendo que jamais houve um único caso em que uma teoria pudesse ser
falsificada por fatos científicos e que jamais houve um único caso em que um fato novo
garantisse a coerência de uma teoria, bastando impor a ela mudanças totais.
Cada vez que fatos provocaram verdadeiras e grandes mudanças teóricas, essas
mudanças não foram feitas no sentido de “melhorar” ou “aprimorar” uma teoria existente,
mas no sentido de abandoná-la por uma outra. O papel do fato científico não é o de falsear ou
falsificar uma teoria, mas o de provocar o surgimento de uma nova teoria verdadeira. É o
verdadeiro e não o falso que guia o cientista, seja a verdade entendida como correspondência
entre idéia e coisa, seja entendida como coerência interna das ideias.
Classificação das ciências
Ciência, no singular, refere-se a um modo e a um ideal de conhecimento. No plural,
refere-se às diferentes maneiras de realização do ideal de cientificidade, segundo os diferentes
fatos investigados e os diferentes métodos e tecnologias empregados.
A primeira classificação sistemática das ciências de que temos notícia foi a de
Aristóteles. O filósofo grego empregou três critérios para classificar os saberes:
- Critério da ausência ou presença da ação humana nos seres investigados, levando à
distinção entre as ciências teoréticas (conhecimento dos seres que existem e agem
independentemente da ação humana) e ciências práticas (conhecimento de tudo quanto existe
como efeito das ações humanas);
- Critério da imutabilidade ou permanência e da mutabilidade ou movimento dos seres
investigados, levando à distinção entre metafísica, física ou ciências da natureza e
matemática;
- Critério da modalidade prática, levando à distinção entre ciências que estudam
a práxis (a ação ética, política e econômica, que tem o próprio agente como fim) e as técnicas
(a fabricação de objetos artificiais ou a ação que tem como fim a produção de um objeto
diferente do agente).
Com pequenas variações, essa classificação foi mantida até o século XVII, quando,
então, os conhecimentos se separaram em filosóficos, científicos e técnicos. A partir daí, a
Filosofia tende a desaparecer nas classificações científicas, assim como delas desaparecem as
técnicas. Das inúmeras classificações propostas, as mais conhecidas e utilizadas foram feitas
por filósofos franceses e alemães do século XIX, baseando-se em três critérios: tipo de objeto
estudado, tipo de método empregado, tipo de resultado obtido. Desses critérios e da
simplificação feita sobre as várias classificações anteriores, resultou aquela que se costuma
usar até hoje:
- Ciências matemáticas ou lógico-matemáticas (aritmética, geometria, álgebra,
trigonometria, lógica, física pura, astronomia pura, etc.);
- Ciências naturais (física, química, biologia, geologia, astronomia, geografia física,
paleontologia, etc.);
- Ciências humanas ou sociais (psicologia, sociologia, antropologia, geografia
humana, economia, linguística, psicanálise, arqueologia, história, etc.);
- Ciências aplicadas (todas as ciências que conduzem à invenção de tecnologias para
intervir na natureza, na vida humana e nas sociedades, como por exemplo, direito, engenharia,
medicina, arquitetura, informática, etc.).
Cada uma das ciências subdivide-se em ramos específicos, com nova delimitação do
objeto e do método de investigação. Assim, por exemplo, a física subdivide-se em mecânica,
acústica, óptica, etc.; a biologia em botânica, zoologia, fisiologia, genética, etc.; a psicologia
em psicologia do comportamento, do desenvolvimento, clínica, social, etc. e, assim,
sucessivamente, para cada uma das ciências. Por sua vez, os próprios ramos de cada ciência
subdividem-se em disciplinas cada vez mais específicas, à medida que seus objetos conduzem
a pesquisas cada vez mais detalhadas e especializadas.
A contribuição do estruturalismo
O estruturalismo permitiu que as ciências humanas criassem métodos específicos para
o estudo de seus objetos, livrando-as das explicações mecânicas de causa e efeito, sem que
por isso tivessem que abandonar a ideia de lei científica.
A concepção estruturalista veio mostrar que os fatos humanos assumem a forma de
estruturas, isto é, de sistemas que criam seus próprios elementos, dando a este sentido pela
posição e pela função que ocupam no todo. As estruturas são totalidades organizadas segundo
princípios internos que lhes são próprios e que comandam seus elementos ou partes, seu modo
de funcionamento e suas possibilidades de transformação temporal ou histórica. Uma
estrutura é uma totalidade dotada de sentido.
O antropólogo Claude Lévi-Strauss mostrou que as estruturas dessas sociedades são
baseadas no princípio do valor ou da equivalência, que permite a troca e a circulação de certos
seres, de maneira a constituir o todo da sociedade, organizando todas as relações sociais: a
troca ou circulação das mulheres (estrutura do parentesco como sistema social de alianças), a
troca ou circulação de objetos especiais (estrutura do dom como sistema social da guerra e da
paz) e troca e circulação da palavra (estrutura da linguagem como sistema do poder religioso e
político). O modo como cada um desses sistemas ou estruturas parciais se organiza e se
relaciona com os outros define a estrutura geral e específica de uma sociedade “primitiva”,
que pode, assim, ser compreendida e explicada cientificamente.
A contribuição do Marxismo
O marxismo permitiu compreender que os fatos humanos são instituições sociais e his-
tóricas produzidas não pelo espírito e pela vontade livre dos indivíduos, mas pelas condições
objetivas nas quais a ação e o pensamento humanos devem realizar-se. Levou a compreender
que os fatos humanos mais originários ou primários são as relações dos homens com a
natureza na luta pela sobrevivência e que tais relações são as de trabalho, dando origem às
primeiras instituições sociais: família (divisão sexual do trabalho), pastoreio e agricultura
(divisão social do trabalho), troca e comércio (distribuição social dos produtos do trabalho).
Trouxe como grande contribuição à sociologia, à ciência política e à história a interpretação
dos fenômenos humanos como expressão e resultado de contradições sociais, de lutas e
conflitos sociopolíticos determinados pelas relações econômicas baseadas na exploração do
trabalho da maioria pela minoria de uma sociedade.
Em resumo, a fenomenologia permitiu a definição e a delimitação dos objetos das
ciências humanas; o estruturalismo permitiu uma metodologia que chega às leis dos fatos
humanos sem que seja necessário imitar ou copiar os procedimentos das ciências naturais; o
marxismo permitiu compreender que os fatos humanos são historicamente determinados e que
a historicidade, longe de impedir que sejam conhecidos, garante a interpretação racional deles
e o conhecimento de suas leis.
O ideal científico
Embora continuidades e rupturas marquem os conhecimentos científicos, a ciência é a
confiança que a cultura ocidental deposita na razão como capacidade para conhecer a
realidade, mesmo que esta, afinal, tenha de ser inteiramente construída pela própria atividade
racional.
A lógica que rege o pensamento científico contemporâneo está centrada na ideia de
demonstração e prova. A ciência contemporânea funda-se:
- Na distinção entre sujeito e objeto do conhecimento, que permite estabelecer a ideia
de objetividade;
- Na ideia de método como um conjunto de regras, normas e procedimentos gerais,
que servem para definir ou construir o objeto e para o autocontrole do pensamento durante a
investigação e, após esta, a confirmação ou falsificação dos resultados obtidos;
- Nas operações de análise e síntese, isto é, de passagem de todo complexo às suas
partes constituintes ou de passagem das partes ao todo que as explica e determina;
- Na ideia de lei de fenômeno, isto é, de regularidades e constâncias universais e
necessárias, que definem o modo de ser e de comportar-se do objeto, seja este tomado como
um campo separado dos demais, seja em suas relações com outros objetos ou campos de
realidade.
- No uso de instrumentos tecnológicos e não simplesmente técnicos;
- Na criação de uma linguagem específica e própria, distante da linguagem cotidiana e
da linguagem literária.
Em suma, o ideal de cientificidade impõe às ideias critérios e finalidades que, quando
impedidos de se concretizarem, forçam rupturas e mudanças teóricas profundas, fazendo
desaparecer campos e disciplinas científicos ou levando ao surgimento de objetos, métodos,
disciplinas e campos de investigação novos.