EDITORIAL

SUMÁRIO
DE TODAS AS MÃES, MAIO 2021/04

A DO SENHOR!

T
radicionalmente no mês de maio, toda a Igreja
dedica uma atenção especial a Nossa Senhora.
A tradição se consolida assim, tanto é que tam-
bém, no caso brasileiro, no segundo domingo
são celebradas as mães (Dia das Mães).
O calendário litúrgico leva em conta a narração
evangélica que coloca a Visitação no período dos três
meses entre a Anunciação e o nascimento do Batista Mais que honrar Nossa
Senhora, devemos imitá-la.
(Lc 1, 56). É assim que termina o mês de maio. Com
Foto: Divulgação
a festa do “Magnificat”. Maria, arca da nova aliança,
é “portadora de Deus” e saudada por Isabel como a
Mãe do Senhor. A Visitação prolonga e irradia a alegria
messiânica da Salvação.
A visitação é o encontro entre a jovem mãe, Maria,
 ATUALIDADE----------------------------------------------03
a serva do Senhor, e a anciã Isabel, símbolo de Israel Experiência da Misericórdia
que espera. A solicitude carinhosa de Maria com o Danmari Mojica Rodriguez
seu caminhar apressado (Lc 1, 39) exprime, também,  JUVENTUDE----------------------------------------------04
juntamente com o gesto de caridade, o anúncio de Original ou fotocópia?
Ambrose Omeyo Ekitoi
que os tempos se cumpriram. João que estremece no
 PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------05
seio materno inicia desde já sua missão de Precursor. Hora de descobrimento
No mês de maio, também celebramos Nossa Se- Adamo Fernando Valeque
nhora de Fátima. Uma festa de origem portuguesa  MISSÃO EM CONTEXTO-------------------------------06
Doutrina Social na prática
nos remete ao ano de 1917. Leva-nos a uma pequena Gianfranco Graziola
aldeia, em Portugal, onde ocorreram dez aparições  INTENÇÃO MISSIONÁRIA-----------------------------09
de Nossa Senhora a Lúcia, Jacinta e Francisco. Os três Fred Gori Ogega
pobres pastorzinhos testemunharam a Virgem Maria  ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10
recomendando oração, conversão e penitência à huma- Maria, Mãe de Deus
Maria Conceição da Costa
nidade, que à época sofria as convulsões de guerras (I
Guerra Mundial, 1914-1918) e transformações sociais  TESTEMUNHO-------------------------------------------12
Com o coração aberto
(a Revolução Russa que eclodiria naquele mesmo ano). Emilce Portilho
A confirmar pelos números, cada vez mais ascen-  FORMAÇÃO MISSIONÁRIA----------------------------14
dentes de casos da Covid-19, na mais otimista das Uma Assembleia na pandemia
Gianfranco Graziola
atitudes, tudo indica que teremos um dos meses mais
 FAMÍLIA CONSOLATA-----------------------------------17
difíceis. E nisto também que Missões quer se distinguir, O mês de maio
olhando para o nosso ser missionário. No mês de maio Redação
a edição repercute notícias importantes, algumas das  MISSÕES RESPONDE-----------------------------------21
Um ministro terrivelmente evangélico
quais de abril. Ao mesmo tempo em que a edição traz Edson Luiz Sampel
um vasto material para nossa formação e informação  ÁFRICA----------------------------------------------------22
como missionários e missionárias e discípulos e dis- Covid se espalha
Redação
cípulas de Jesus.
Que o “Magnificat” de Maria prolongue e irradie  DESTAQUE------------------------------------------------24
As dimensões do cuidado (segunda parte)
também em nós a alegria da Salvação. Como também a Alfredo J. Gonçalves
mensagem de reparação anunciada por Nossa Senhora  ENTREVISTA-----------------------------------------------28
em Fátima (que começou com notoriedade, durante, Oito anos caminhando com a Amazônia
Angelo Casadei
principalmente, os papados de São Paulo VI e São
João Paulo II) às três crianças, continue ganhando o  ESPECIAL----------------------------------------------------30
Missionários vítimas da Covid-19
mundo. Boa leitura!  Redação

2 MAIO 2021 MISSÕES


Experiência da Misericórdia
Ao reconhecermos
nossos erros,
entendemos como a
misericórdia de Deus é
grande para conosco.
de Danmari Mojica Rodríguez
R
ecentemente eu estava assistindo na TV a uma
entrevista (ao vivo) com um missionário que
estava compartilhando sobre sua vocação.
A certa altura foi-lhe perguntado: “Com que
frequência você se confessa?” Ao que ele
respondeu: “Não mantenho uma contagem exata,
a cada dois ou três meses”. O entrevistador fez uma
cara de espanto e quis confirmar dizendo: “O que
você está me dizendo é verdade?” O missionário
compartilhou seu rosto assombrado com o entre-
vistador e disse: “Sim, por que você está com este
rosto que me assusta?” O entrevistador: “Ele diz: fui
ensinado a fazer isso com mais frequência, e afirma
que vai se confessar todas as semanas”.
O olhar atônito no rosto do entrevistador me fez
refletir por que sempre esquecemos da misericór-
dia de Deus? Porque a vemos como algo distante e
inatingível. Deus está sempre atento à nossa busca
quando nos sentimos perdidos e arrependidos por
ATUALIDADE
nossas falhas, e a reconciliação é uma prática que
podemos viver em diferentes momentos e de dife-
rentes maneiras. A Igreja nos ensina que o essencial
é reconhecer que somos fracos e é de sua mão que
podemos nos levantar novamente. A misericórdia é
o mais belo presente que recebemos de Deus, que
enviou seu único Filho para nos libertar do pecado
da morte e para ressuscitar com ele. “Mas Deus,
que é rico em misericórdia, nos mostrou seu grande
amor”. (Ef 2, 4)
No capítulo 15 do Evangelho de Lucas encontramos
três parábolas que nos lembram o dom de Deus que
nos abraça com gentileza: a ovelha perdida, Deus se
alegra quando nos encontra e, ao fazê-lo, nos toma
em seus braços com ternura; a mulher que perde
uma moeda e que acende uma lâmpada para procu-
rar cuidadosamente por ela até encontrá-la; e o Pai
misericordioso do filho pródigo, que, emocionado,
corre para abraçar seu filho, cobrindo-o com beijos.
Nossa atitude pode ser como a do filho pródigo
que, ao reconhecer o erro, se põe a caminho e retorna
à casa do pai. A experiência da misericórdia compre-
endida nos faz retornar. Podemos supor que somos
instados a pedir misericórdia por causa de nossas
fraquezas e reclamações; mas também é Deus quem
nos procura até nos encontrar.
A experiência da misericórdia é o presente de
nos deixar encontrar e nos vestir. Momentos que
também nos enviam para compartilhar com outros
o quanto somos abençoados e o consolo recebido,
como o amor gratuito e merecido de Deus. 
Danmari Mojica Rodríguez é leiga venezuelana.
PETEWILL/GETTY IMAGES
MAIO 2021 MISSÕES 3
 JUVENTUDE
Original
ou fotocópia?
Todos nascem como originais, mas
muitos morrem como fotocópias.
(Bem-aventurado Carlo Acutis)
de Ambrose Omeyo Ekitoi
P
artindo da frase de Carlo Acutis, jovem que
foi beatificado pelo papa Francisco, há a ne-
cessidade de afirmar que, a fase de juventude
precisa de cuidado e proteção profunda para
não perder a identidade da pessoa. A origina-
lidade e a “fotocopialidade” do jovem se manifesta
com clareza nesta idade.
A imagem juvenil na sociedade manifesta-se em
muitas dinâmicas relacionadas com a vida na sua
totalidade. Em geral, é uma idade de produtividade,
seja na sua positividade ou na sua negatividade. Isto
justifica o porquê dessa idade, como a fase que está
sempre em busca do sentido do seu ser. Quando o
apoio, o abraço, a proximidade e orientações certas
são encontradas nesta fase, deve-se ter a certeza que
o jovem produzirá bons frutos na sociedade. Mas, ao
contrário, o jovem passará por momentos de crise na
vida, dando espaço para problemas como: depressão,
drogas, duplicidade de vida, violências, ou seja, o medo
que leva à morte (Gn 3, 10).
FRANCKREPORTER BY GETTY IMAGES
4 MAIO 2021
ABRIL 2021 MISSÕES
MISSÕES
Desabrochar da rosa
A juventude pode ser comparada com uma rosa que
está brotando. Dependendo do jeito com que é trata-
da, sua presença tem um significado. O discernimento
feito nesta fase de vida dá o sentido em tudo que será
realizado. Por isso, tanto a Igreja quanto a sociedade
na sua totalidade valorizam muito a juventude, porque
a esperança é vista sempre nos olhos juvenis. A Igreja
que caminha junto com seus filhos deve oferecer um
momento especial de escutar, acompanhar, ensinar e
aconselhar essas flores lindas da sociedade.
A juventude é parte integrante da Igreja e da
sociedade e devemos valorizar cada um dos jovens
e tudo que está sendo realizado através deles, prin-
cipalmente a coragem de tantos que renunciaram a
tudo para permanecer fiéis ao Evangelho; escutar os
seus testemunhos no meio das perseguições existentes
no seu redor e mesmo assim, saber que escolheram
permanecer sob o manto de Jesus. E por isso, com
os jovens dentro da sociedade, devemos falar sobre
todas as curas que precisamos após as feridas causa-
das pela falta de valorização do dom da vida recebido
gratuitamente. Por isso, o Bem-aventurado Acutis nos
ensina que devemos promover mais a originalidade
da vida do que as fotocópias. 
Ambrose Omeyo Ekitoi, imc, é professo em São Paulo, SP.

Hora de descobrimento
É na juventude que a pessoa forma
novos horizontes da sua existência.
de Adamo Fernando Valeque
E
m qualquer lugar e momento, a juventude
necessita de atenções especiais, não sim-
plesmente por parte da família, mas também
da sociedade. Partindo de uma filosofia exis-
tencial, no processo de crescimento, os seres
humanos passam por diversos estágios de vida e
cada etapa carrega consigo um conjunto de desafios
e questionamentos éticos existenciais que requerem
uma atenção especial dos respectivos integrantes,
pois os estágios relacionam-se entre si.
Dentro desta cadeia de crescimento, a juventude
enquadra-se no estágio de descobrimento pessoal das
diversas dimensões da vida humana. Sob o ponto de
vista psicológico, é na juventude que a pessoa forma
novos horizontes da sua existência. Então, é o tempo
oportuno de se formar, o jovem busca o que ele deve
ser, e por isso ele tende a formar relações interpes-
soais, confiando no grupo como sua própria família,
ele compreende o valor concreto da comunidade e
das pessoas, ainda nesta época o jovem começa a
desenvolver intimidade com vínculos interpessoais.
Por outro lado, esses jovens demandam, com
intensidades diferentes segundo sua particular ida-
de, escola, saúde, cultura, esportes, lazer, emprego,
enquanto progressivamente vão formando hábitos
e costumes. Vão também pouco a pouco tomando
decisões que em grande medida vão determinar sua
história.
Face a tudo isso, os dilemas da juventude na
atualidade se apresentam não somente de forma
inédita e desafiante, mas sim constituem-se como
um complexo e grave problema de crise social. Pela
situação difícil que o mundo está passando hoje,
Coronavírus e outros males visíveis trazem fortes
impactos negativos no processo de descobrimento,
pois muitas vezes, pelas medidas de contenção da
doença, não é possível desenvolver algumas carac-
terísticas, ou seja, a situação atual, de certa forma
afeta negativamente a socialização dos jovens.
É nesse processo de exposição e escolhas que se
consolidam valores, atitudes e preferências. Se de um
lado é nesse momento que o jovem é exposto a um
amplo conjunto de possibilidades positivas para sua
PRÓ-VOCAÇÕES
PEXELS POR PIXABAY
formação, de outro é o período em que é exposto a
um conjunto de riscos cujas consequências podem,
eventualmente, ser dramaticamente determinantes
de seu futuro.
Espaço para ser feliz?
Em vista deste cenário apresentado, o mundo
atual coroado de muitas possibilidades e modos de
vida, a pergunta que se pode colocar ao jovem cristão
católico hoje é esta: “será que há espaço para você
descobrir a sua vocação, construir uma vida e ser
feliz?” Responder esta pergunta não é tarefa fácil,
requer uma profunda reflexão.
Mas numa maneira simples e objetiva, a resposta
pode ser encontrada quando o jovem se coloca à
escuta da voz de Deus. O jovem deve procurar es-
paço para se encontrar com Deus e consigo mesmo,
dedicando-se a orar e a ler a Bíblia. Nesta experiência,
Deus, fonte de amor, vai falar com ele, jovem, e ao
mesmo tempo mostrará o caminho a seguir no meio
de tantas incertezas.
Descobrir a vocação significa encontrar caminhos
seguros para uma vida melhor e feliz. Esta caminhada
pode ser feita dentro da Igreja ou fora, mas o mais
importante é abrir o coração e deixar que Deus fale
conosco. Em outras palavras, o caminho do descobri-
mento do sentido da existência na juventude passa
necessariamente, pelo fortalecimento da nossa fé
em Deus, e abertura total a Ele. 
Adamo Fernando Valeque, imc, é professo em São Paulo, SP.
ABRIL
MAIO 2021 MISSÕES 5
 MISSÃO EM CONTEXTO
Doutrina Social
na prática
de Gianfranco Graziola
T
enho pensado bastante e
ultimamente até questio-
nado o que as pessoas en-
tendem quando falamos de
“Semana Social”. Não me
admiraria que pensassem que isso
é um evento ligado a algum partido
político, associação social, sindicato,
agremiação, e não passasse pela
cabeça delas a ideia de se tratar de
uma ação pastoral da Igreja Católica.
E isso ainda mais neste tempo de
polarizações e fundamentalismos,
sejam religiosos como sociais onde
tudo e todos são demonizados e
particularmente quando se usa o
termo “Social” que, para muitos
soa a socialismo, comunismo, es-
querdismo.
Mas, queiramos ou não, a Sema-
na Social, que este ano completa
três décadas, chegando à sua 6ª
edição, é uma ação pastoral da
Igreja Católica no Brasil que tem
como base a Doutrina Social da
Igreja cujos fundamentos e raízes
6 MAIO 2021 MISSÕES
profundas encontramos na Cons-
tituição Pastoral Gaudium et Spes
e no Compêndio da Doutrina So-
cial da Igreja, obras que tiveram a
contribuição de grandes figuras de
teólogos e pensadores como Giovan
Battista Montini, Albino Luciani,
Karol Wojtyła, Joseph Ratzinger, os
futuros papas Paulo VI, João Paulo
I, João Paulo II, Bento XVI.
Uma história recente
Para o contexto sociorreligioso, a
Doutrina Social da Igreja é um fator
bastante recente se pensarmos que
ela é presente nos primórdios do
cristianismo e tem suas origens em
dois grandes doutores da Igreja do
calibre de Santo Agostinho e São
Tomás de Aquino. No entanto, em
sentido estrito começamos a ouvir
falar de Doutrina Social da Igreja
em 1891 quando Leão XIII publica
a sua Rerum Novarum considerada
a primeira das vinte encíclicas, que
constituem com as últimas duas de
papa Francisco, Laudato Si e Fratelli
Tutti, o ensinamento doutrinal e
social da Igreja.
Afirmando que a nossa história
em âmbito de doutrina social é
recente e, particularmente em
relação às Semanas Sociais, refiro-
-me a outras experiências como
as das conferências episcopais da
Europa, entre elas a francesa e
italiana, onde particularmente a
primeira está perto de celebrar sua
centésima Semana Social.
No entanto, embora nossa ca-
minhada de Semanas Sociais seja
bastante recente e a primeira delas
tenha acontecido há três décadas,
todas elas tiveram, algumas mais
e outras menos, um impacto fun-
damental na sociedade, gerando
aquilo que se espera da ação evan-
gelizadora da Igreja: uma trans-
formação, uma mudança social
que tenha como base e alicerce
o Evangelho e suas exigências em
relação ao ser humano e sua inser-
ção no projeto do Reino de Deus.
As cinco brasileiras
A 1ª Semana Social Brasileira em
1991 tratou a questão do mundo
do trabalho, somando com o grito
dos pobres, a libertação do País da
ditadura e sua redemocratização,
e as graves, gritantes questões
sociais que levaram a debater em
1993 - 1994, na 2ª Semana Social
uma questão de fundo importante
e tocante à nação, o país: o Brasil
que queremos, tendo como tema
Brasil: alternativas, protagonistas.
Neste contexto a Semana teve
uma intervenção marcante no
cenário político com o primeiro
debate - confronto entre Fernando
Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz
Inácio Lula da Silva (PT), na ocasião
presidenciáveis, em julho de 1994.
Além disso, realizou a discussão
sobre liberdade, independência
e soberania do Brasil, de onde
surgiu o Grito dos Excluídos com
o lema: Vida em Primeiro Lugar,
que se consagrou como horizonte
de luta para todos os movimentos
sociais, mas a partir daqueles que
são mais excluídos.
Fatos marcantes foram, tam-
bém, a ocupação da Superinten-
dência de Desenvolvimento do
Nordeste (Sudene), em 1993, o
surgimento da Articulação do Se-
miárido (ASA), em 1994, envol-
vendo mais de 400 entidades que
atuam no semiárido brasileiro, que
desde então articula e promove a
campanha de convivência com o
bioma e não de combate à seca,
mediante a proposição de políticas
públicas que tiveram como resul-
tado a campanha pela construção
de um milhão de cisternas para a
coleta de água da chuva.
Os anos de 1997 a 1999, período
em que foi realizada a 3ª Sema-
na Social Brasileira, nos trazem a
questão do “Resgate das Dívidas
Sociais: justiça e solidariedade
na construção de uma sociedade
democrática”, e o nascimento da
Rede Jubileu Sul Brasil, entidade
que questiona o pagamento dos
títulos da dívida externa e uso
de dinheiro público destinado às
políticas públicas, quais sejam saú-
de, educação, moradia. A grande
questão do momento foi o pedido
de Auditoria da Dívida Pública.
Participação cidadã
Este mesmo período foi também
oportunidade de fortalecimento da
vida democrática, participativa do
país, com a organização popular no
monitoramento da dívida externa,
que permitiu a realização de um
plebiscito sobre a dívida externa
na Semana da Pátria e juntar seis
milhões e 30 mil votos, expressão
e fruto de um capilar e eficaz tra-
balho de base.
Isso levou naturalmente para a
4ª Semana Social nos anos 2003-
2005 com o “Mutirão por um novo
Brasil: Articulação das forças sociais
para a “construção conjunta do
Brasil que queremos”, tendo como
objetivo um projeto alternativo de
sociedade, economicamente justo,
politicamente democrático, cultu-
ralmente plural e que fosse também
solidário e sustentável. Tudo isso se
Grupo de preparação reunido para detalhar a metodologia e as estratégias do processo de organização e mobili-
zação da 6ª Semana Social Brasileira.
relaciona com a soberania em que
os bens e as riquezas ambientais
como a biodiversidade, a água, as
florestas, nossos recursos econô-
micos, nossas riquezas culturais e
os bens socialmente produzidos
possam beneficiar o conjunto da
população brasileira, em especial
os mais pobres, historicamente
excluídos desses bens.
Um fruto palpável dessa semana
foi o nascimento das Assembleias
Populares de norte a sul do país. E
não última entre as iniciativas em
2007 a campanha nacional “A Vale
é nossa”, com o propósito imediato
de consultar a população sobre o
processo de privatização de uma das
empresas estatais mais importantes
do país, a Companhia Vale do Rio
Doce, uma das maiores produtoras
de minério de ferro do mundo.
Um Novo Estado
A 5ª Semana Social realizada
entre 2011 e 2013 traz e apresenta à
sociedade os limites e o esgotamen-
to da democracia representativa,
apontando para a necessidade de
uma efetiva democracia participa-
tiva e direta, trabalhando o projeto
de “Um Novo Estado: Caminho
para uma Nova Sociedade do Bem
Viver”.
A 6ª Semana Social, após alguns
anos de reflexão e amadurecimen-
to dentro da Comissão Pastoral
pela Ação Sociotransformadora,
CARITAS.ORG.BR
foi programada para acontecer
entre os anos 2020 -2021, mas a
pandemia e os desafios que ela
traz fazem prever que se estenderá
até 2022. O desafio que ela propõe
a toda a sociedade brasileira, às
comunidades cristãs, movimentos
sociais, organizações da sociedade,
tem como base as provocações de
papa Francisco com os três “T” um
“Mutirão pela Vida – por Terra, Teto
e Trabalho”. Agora se trata de por
as mãos na massa e fazer que essa
Semana se transforme num grande
movimento de cidadania, fazen-
do síntese, dando continuidade e
aprofundando um processo que
há três décadas vem trabalhando
um outro mundo possível. 
Gianfranco Graziola, imc, é Assessor Teológico da Pastoral
Carcerária Nacional.
MAIO 2021 MISSÕES 7

Vaticano
Cultura do cuidado e solidariedade
Foi divulgada no dia 26 de maio, a men-
VOLTA AO MUNDO
sagem do Pontifício Conselho para o Diálogo
Inter-religioso aos Budistas por ocasião do
Vesakh 2021, festa em que se comemora os
eventos principais da vida de Buda. Neste
ano o tema da mensagem “Promovamos a
cultura do cuidado e da solidariedade” quer
evidenciar que a trágica situação mundial,
marcada pela pandemia da Covid-19, exorta
os seguidores de todas as religiões a cola-
borarem a serviço da humanidade comum.
Lê-se na mensagem que “o sofrimento
gerado pela pandemia da Covid-19 nos fez
tomar consciência da vulnerabilidade e da
interdependência que compartilhamos.
Somos chamados a descobrir e praticar a
solidariedade encarnada em nossas respec-
tivas tradições religiosas”.
“O ensinamento budista sobre o Brah-
mavihara (as quatro moradas ou virtudes
celestes) nos oferece uma mensagem sempre
válida de solidariedade e cuidado ativos.
Ao falar em Mettā (bondade amorosa),
exorta os seguidores a cultivar um amor
sem limites para com todos. ‘Como uma
mãe protege seu filho, mesmo às custas
de sua vida, assim, deixe-se cultivar uma
imensurável bondade de amor para com
todos os seres vivos’ (Mettā Sutta). Por fim
a mensagem conclui com a exortação para
“que a dramática situação da pandemia da
Covid-19 fortaleça nossos laços de amizade
e nos una ainda mais a serviço da família
humana, adotando "a cultura do diálogo
como caminho, a colaboração comum como
conduta, o conhecimento recíproco como
método e critério" (papa Francisco, Fratelli
Tutti, 285).
8 MAIO 2021 MISSÕES
Mianmar
Risco de guerra civil
Mergulhado há décadas em várias guer-
ras civis com guerrilhas formadas por mi-
norias étnicas, Mianmar vê aumentarem
as possibilidades de um conflito maior
ante a espiral de violência e anarquia ge-
rada após o golpe de Estado de fevereiro
de 2021. Com mais de 500 mortos pelos
ataques de policiais e militares contra
os manifestantes que pedem a volta da
democracia, e a fuga de milhares de bir-
maneses a países como Tailândia e Índia, o
país enfrenta um dilema impossível: ou se
opor ao Tatmadaw ―o Exército birmanês―
ou se render ante os golpistas. A segunda
opção tem sido descartada por algumas
das guerrilhas mais poderosas da antiga
Birmânia, que, em diálogos com o Governo
civil na clandestinidade, concordam em se
unir para formar um exército federal que
possa afastar do poder as forças armadas
do general golpista, Min Aung Hlaing.
“Se (a comunidade internacional) não
agir, certamente uma guerra civil em grande
escala e dias ou semanas de derramamento
de sangue são inevitáveis”, afirma o doutor
Sasa, porta-voz do Comitê para a Represen-
tação da União Parlamentar (CRPH, na sigla
em inglês), o autoproclamado Governo civil
birmanês, que opera na clandestinidade.
“Formar um exército federal tornou-se
um dever e a maneira de alcançar a de-
mocracia e a liberdade”. Sua mensagem é
clara: recuperar a velha ideia de criar um
exército federal que represente todas as
minorias para substituir o Tatmadaw, quase
exclusivamente bamar, a etnia majoritária
de Mianmar, onde cerca de 135 etnias são
reconhecidas. Para isso, ele precisa primeiro
do apoio das guerrilhas étnicas que lutam
por mais autonomia desde a independência
do país do Reino Unido, em 1948, entre elas
as formadas pelas minorias shan, kachin,
chin e karen.
Conhecedoras das estratégias de combate
do Tatmadaw, que enfrentam há décadas,
muitas guerrilhas têm levantado a voz con-
tra o golpe. Ao menos 12 grupos armados
condenaram a ilegitimidade da junta militar
e se declararam do lado dos manifestantes
pró-democracia. 
Fonte: El Pais e Vatican News
 Intenção Missionária
Rezemos a fim de que os
responsáveis pelas finanças
colaborem com os governos
para regulamentar a esfera
financeira e proteger os
cidadãos de seus perigos.
de Fred Gori Ogega
A
Igreja é sacramento da Salvação do mundo; essa
é afirmação da Lumen Gentium, Constituição
Dogmática do Vaticano II. Essa verdade sobre
a Igreja pressupõe que ela é encarregada por
Jesus da missão de continuar a construção
do Reino, que parte do grito dos pequenos, os mais
vulneráveis. Como sacramento da Salvação, a Igreja
DIVULGAÇÃO
tem como missão o cuidado do ser humano como um
todo, a sua parte espiritual e corporal, por esta razão,
ela nunca deixou de se preocupar com a parte social
de todos os povos do mundo, sem exceção.
É fato inegável que o progresso econômico é a
parte que traz mais preocupação para a Igreja. Por
isso, na encíclica Rerum Novarum de 1891, o papa
Leão XIII diante das mudanças que aconteceram de-
pois da Revolução Industrial sentiu a necessidade de
levantar a voz e falar pelos operários que se encon-
travam em situação de miséria por causa da alteração
das relações entre eles e os seus patrões, a riqueza
se tornava cada vez mais concentrada nas mãos de
poucos, enquanto a maioria se afundava na extrema
pobreza. Com a mesma tonalidade, o papa Paulo VI
em 1967 escreveu a encíclica Popularum Progressio,
mostrando a preocupação da Igreja perante a falsa
aspiração humana de querer possuir mais, o desejo
que acaba criando sistemas econômicos que ao in-
vés de existir para melhorar as condições humanas,
estabelecem classes sociais onde um pequeno grupo
possui a maior quantidade de riqueza e a maioria da
população continua na miséria.
Dom de Deus
O que está no coração da Igreja em relação à preo-
cupação com o progresso econômico é o fato de que
o mundo com todos os bens que nele se encontram,
é dom gratuito de Deus para toda humanidade, sem
exceção de classe social, cor, raça
nem nação, tudo é dado gratui-
tamente ao ser humano para
ajudá-lo a viver bem e ter vida
em abundância. O papa Francisco
chama o nosso mundo de Casa Co-
mum, com certeza dentro de uma
casa, o princípio é que a vida está
em primeiro plano, neste sentido,
o mundo como casa pressupõe
que todos trabalhem para o bem
de todos. Os responsáveis pelas
políticas públicas devem ser cons-
cientes de que todo planejamento
deve visar o estabelecimento de
condições melhores para todos e
devem planejar sistemas econô-
micos humanizantes. No nosso
país, o Brasil, tem-se observado
um espírito desumano entre os governantes que só
se preocupam com o crescimento econômico sem
nenhuma preocupação com a vida. Rezemos para que
todos os governantes sejam zeladores de vida, que o
mundo não seja dominado pela ganância e egoísmo,
mas sim pelo desejo de fazer com que todos tenham
vida, esse é o desejo de Deus. 
Fred Gori Ogega, imc, é professo em São Paulo, SP.
MAIO 2021 MISSÕES 9
 ESPIRITUALIDADE

Maria,
Mãe de Deus
de Maria Conceição da Costa

O
texto bíblico do mistério
da Anunciação encontra-
mos em Lc 1, 26-38, onde
contemplamos a manifes-
tação de Deus à humani-
dade pela Encarnação do Verbo.
A Anunciação é a revelação do
mistério da Encarnação no início
de sua realização sobre a terra.
Maria, por sua disponibilidade de
coração, acolhe em seu ventre o
Verbo de Deus, tornando-se assim,
a Mãe de Deus - Theotokos.
São Paulo fala do grande mis-
tério de Cristo que, no momento
culminante da história do mundo,
vem enviado pelo Pai à humani-
dade para fazer-se, também ele,
completamente humano. “Quando
veio a plenitude dos tempos, Deus
enviou seu Filho, que nasceu de
uma mulher e nasceu submetido
a uma lei, a fim de remir os que
estavam sob a lei, para que rece-
bêssemos a sua adoção” (Gl 4, 4-5).
“A visita do Senhor ao seu povo
já havia sido anunciada com insis-
tência pelos profetas. Quanto a isso
não havia dúvidas. Mas o modo
como o Senhor apareceria continu-
ava mistério. E aqui se manifestou
CANÇÃO NOVA / PAULA DIZARÓ

a novidade. Ele não passou pela

humanidade, mas aqui se deteve;
não se dirigiu às pessoas de fora,
mas se fez humanidade e assumiu
tudo de dentro. Mostrou-se Deus

10 MAIO 2021 MISSÕES

de homens, falando e agindo no
próprio coração da experiência
humana”, segundo Mori, E.G. no
Dicionário de Mariologia
Na Anunciação, Maria entrega-
-se completamente a Deus, ma-
nifestando a “obediência da fé”.
Respondeu com todo o seu “eu”
humano feminino, e nessa res-
posta de fé estavam contidas uma
perfeita cooperação com a graça
de Deus e uma perfeita disponibi-
lidade à ação do Espírito Santo, o
qual aperfeiçoa continuamente a
fé, mediante seus dons, como afir-
ma Alfonso Baccarani, em “Maria
Caminha Conosco”.
Através da narração de Lucas,
percebemos que Deus vem ao
encontro de Maria, fazendo-lhe
sentir que Ela é a Cheia de gra-
ça, a Amada de Deus. Ela crê na
palavra do anjo, e sente-se por
uma íntima experiência, repleta
de Deus. Maria experienciou no
mais íntimo de si o que nos diz
São João: “Não fomos nós que
amamos a Deus, mas foi Ele que
nos amou” (1Jo 4, 10).
Mensageiro de Deus
O Mensageiro de Deus diz:
Alegra-te! Convida-a à alegria pela
Na Anunciação,
Maria entrega-se
completamente
a Deus,
manifestando a
obediência da
fé.
presença misericordiosa e salvífica
de Deus entre o seu povo. Cabe
a ela alegrar-se porque o Senhor
está com ela para estar com o
seu povo. O mistério anunciado
é de alegria, pois é o mistério de
Cristo. Diz ainda: Kecharitoméne!,
palavra grega que significa: Cheia
de graça, favorita, privilegiada, su-
mamente amável, cheia de beleza
e encanto. Cheia de graça significa
repleta de Deus.
No relato da Anunciação pode-
mos identificar dois movimentos:
Deus que dialoga mediante seu
Anjo com Maria, para significar que
a presença do Espírito se realiza
em um encontro respeitoso feito
de chamado e resposta, e Maria
que com seu Fiat se converte
em expressão do Espírito. Pela
resposta obediente e cheia de fé,
dada sob o impulso e a força do
Espírito Santo, Maria se torna Mãe
de Deus e Mãe da Igreja porque
acolhe o Verbo do Pai.
A Anunciação envolve também
o silencioso futuro marido, José
(Mt 1, 18-25). José, diante da re-
velação em sonho, da gravidez de
Maria, passa por um momento de
crise, mas age sempre buscando
o bem, inspirado por Deus. José
é chamado de “homem justo”.
Sua justiça não se baseia na lei,
mas na misericórdia. Ele acolhe
humildemente o mistério, que
está além de sua compreensão,
conforme nos ensina Afonso Mu-
rad, em “Maria, toda de Deus e
tão humana”. 
Para refletir:
1. Tenho coragem de perseverar
na fé mesmo quando ela se faz
difícil e dura?
2. Já me dei conta de que na fé
ninguém permanece parado,
ou avança ou regride?
Maria Conceição da Costa, iascj, é diretora
pedagógica do Colégio Sagrado Coração de Jesus,
a Sagrado – Rede de Educação.

Oração
Senhor, na tua presença me alegro como uma criança diante do brinquedo
desejado. E tu brincas comigo, e eu contigo. Em ti me alegro, pois tu és a
grande Boa Notícia. Obrigada por receber tantos dons. Sinto muitos sinais
do teu amor e da tua misericórdia na minha vida. Assim, venho agradecida,
me alegrar na tua presença. E, como Maria, digo que podes contar comigo.
Quero ajudar a realizar teu sonho sobre a humanidade. Eis-me aqui, como
tua serva. Eu quero que faça em mim segundo a tua vontade. Tu estás
comigo. Teu Espírito repousa sobre mim. Tu estás em mim. Ouço a tua voz:
Alegra-te, agraciada, o Senhor está contigo! Eis-me aqui!

MAIO 2021 MISSÕES 11

 TESTEMUNHO
Com o coração
aberto
de Emilce Portilho
V
ivo nesta zona de fronteira
entre a Colômbia, o Peru e
o Equador, onde se situa o
pluriétnico e multicultural
Departamento (Estado) de
Putumayo, mais precisamente no
município de Puerto Leguizamo.
Aqui estamos neste processo de
acompanhamento das comuni-
dades indígenas do Vicariato de
Puerto Leguizamo que tem à sua
frente, o bispo dom Humberto
Joaquim Pinzón.
A partir deste lugar urbano e
central, a equipe missionária, nós
12 MAIO 2021 MISSÕES
Venho da terra do
espírito, a yagusa
da selva tropical,
venho de onde o
sol que nasce tem
missionários e missionárias com
um sorriso ardente
alegria e entrega, fazemos horas e se refresca no
de viagem em barcos a motor
manancial; da terra
deslocando-nos de um lugar a
outro pela selva, rios, cachoeiras do petróleo e onde
grandes de águas caudalosas que,
com redemoinhos e a fluidez de
tem tanta riqueza,
sua força nos empurra ou nos sobretudo a sua
retém, depende se subimos ou
descemos.
beleza natural onde
Em tudo isso há também o pássaros cantores
ensinamento de saber estar com
a água da selva amazónica que,
brilham nas penas
certamente é tão maravilhosa, uma dos índios (...),
obra criadora espetacular com o onde eu vivo e
seu entardecer, o amanhecer, ao
meio dia, tudo é vida navegável de amo...
água, de vida, de missão, visitando (Canto Kichwa Amazônico)
cada comunidade, doando-nos preparamos como equipe e fomos estão permeadas de raízes profun-
a elas com as nossas presenças até o lugar onde residem que é das como a sua ancestralidade,
cheias de consolação, de diálogo, nas nascentes do Rio Putumayo e em muitas delas percebemos
de intercâmbio de conhecimentos em Porto Alegria e outro nas nas- a marca desta plenitude de vida
e de sabedoria ancestral. centes do Rio Caquetá num lugar selvática e amada por eles.
Em todo este grande território chamado Pizarro e o terceiro foi Foi muito bonito para nós per-
atravessado pelos afluentes dos realizado já na região urbana de ceber como estas duas partes se
rios Putumayo e Caquetá, estão Puerto Leguizamo para onde vie- conjugam, embora ainda nos reste
assentadas as comunidades que, ram os grupos do Peru e Equador. um longo caminho a percorrer
em anos anteriores receberam a As experiências vividas que para alcançar o fortalecimento
evangelização através dos mis- mais nos tocaram nestas ocasi- da vida, vida narrada, contada,
sionários Capuchinos e as Irmãs ões foram a acolhida que tanto vivida e expressada em um dos
Lauritas, os quais com sacrifícios os caracteriza nesta zona, como seus principais modos que é a arte,
e muitas andanças conseguiram também o calor humano e o ofe- como aquela do canasto (cesto)
que os moradores destas comuni- recimento de tudo o que podiam e muitos outros artesanatos que
dades alcançassem proximidade realizar para partilhar espaços de evocam os seus ancestrais.
com os católicos. Estas populações encontros enriquecidos por tanta Em tudo isso pode-se perce-
são muito sensíveis à proposta do sabedoria e aqueles que ajudariam ber a riqueza espiritual que os
Evangelho e, de fato, nos recebem a fortalecer o caminho, o enten- sustentam, harmonizam, cuidam,
com grande alegria e apreciam dimento e a proximidade da fé e os protegem e partilham até onde
muitíssimo as visitas que realiza- também o caminho referente ao podem falar e expressar.
mos, sentem-se acompanhados e plano de vida ou plano mestre Entrar nestes mundos total-
apoiados pela Igreja que é muito no qual, a partir do sociocultural, mente diferentes daqueles que
próxima de seu caminhar na fé. Ao abrace uma nova maneira de atuar estamos acostumados, normal-
mesmo tempo são muito abertas a vida ancestral. mente expressa um desafio, mas ao
para partilhar sua cultura ancestral, mesmo tempo uma oportunidade
com seus ritos, costumes, pensa- Sintonia de conhecimento e de busca a
mentos, sabedorias e outras tantas Partindo de um diálogo res- fim de que possamos entrar com
coisas da vida que se entrelaçam peitoso e próximo, conseguimos atitude aberta e pés descalços
para que possam prosseguir e estabelecer sintonia com estes em nossa pastoral indigena: “Tira
estar conectadas com a natureza, grupos humanos que revelam as sandálias, porque o solo que
a selva, o canto, o baile. sede de Deus, ao qual anunciamos estás pisando é uma terra santa”
No território do Vicariato e nas e o experimentam sempre mais (Ex 3, 5).
fronteiras, estão presentes os po- profundo e de modo particular Concluo com as palavras que
vos originários indígenas que são: em querer a “Palavra de Deus” e o papa Francisco pronunciou em
Huiotos, Murui, Kichwa, Koreguaje, perceber a sua importância. Por Puerto Maldonado, Peru: “a rela-
Inganos e Sionas. A partir de uma outro lado sentimos que suas vidas ção harmoniosa entre a Natureza e
pastoral diferenciada, que deseja o Criador é a verdadeira construção
FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

e busca ter um rosto próprio estes do Reino de Deus. Exige conciliar

grupos estão em um caminho de o direito ao desenvolvimento e
formação a partir de um projeto os direitos territoriais, sociais e
que se intitula: “Formação de ani- culturais dos povos amazônicos.
madores, animadoras, catequistas Sua cosmovisão, sua sabedoria,
missionários(as) com pensamento tem muito a ensinar-nos, àqueles
e coração amazônico em diálogo que não pertencem à sua cultura”.
intercultural”. Os que participam Para nós os ameríndios, indígenas
desta formação foram divididos em da Amazônia, o Bem Viver é estar
grupos chamados de “canastos”, em comunhão com todos os seres
ou seja, recipientes porque este que nos rodeiam. Deus criou e nos
é o simbolo que recolhe tudo o deu a terra e a água, as árvores,
que esta escola de formação lhes os animais, o dia e a noite, para
proporciona desde o sociocultural que seja a nossa Casa Comum. 
ao teológico espiritual. Para a
formação do último grupo que Emilce Portilho, MC, é missionária
se chamou “sexto recipiente” nos em Putumayo, Colômbia.

MAIO 2021 MISSÕES 13

 FORMAÇÃO
Uma Assembleia
na pandemia
de Gianfranco Graziola
P
ela primeira vez na sua
história, a Conferência Na-
cional dos Bispos do Brasil
(CNBB) realizou entre os
dias 12 e 16 de abril de
2021 a sua 58ª Assembleia Nacional
de forma virtual, um ano depois
da de 2020 ter sido cancelada por
causa da pandemia da Covid-19.
A esperança era de poder realizar
este evento importante para a
Igreja no Brasil de forma presencial
em Aparecida, SP, como tinha sido
costume nos últimos anos, mas o
prolongar-se da pandemia obrigou
a presidência a optar pela forma
virtual, reduzindo pela metade o
tempo dos trabalhos.
Diferente caminhar
A situação criada pela pandemia
obrigou todas as instituições, e com
a CNBB não foi diferente, a rever
sua programação e cronograma de
compromissos e trabalhos, apesar
de termos em andamento a con-
cretização das Diretrizes da Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil
pelos anos 2019-2023, a 6ª Semana
Social, à qual devemos juntar as
iniciativas do papa Francisco com
o Ano de São José e da Amoris La-
etitia, e o Ano Vocacional previsto
para 2023. Não faltaram também
outros temas como a análise da
conjuntura que o país está vivendo,
além de tarefas ligadas a comissões
14 MAIO 2021 MISSÕES
58ª Assembleia da
e organismos da própria entidade,
como a revisão do Missal Romano, CNBB: “Casas da
a criação de um novo Regional, Palavra – Animação
o Leste 3 abrangendo o estado
do Espírito Santo, para chegar a bíblica da vida e
questão do Fundo de Solidariedade da pastoral nas
Nacional ligado à Campanha da comunidades
Fraternidade.
eclesiais
Centro da ação missionárias”.
Tema central da Assembleia
foi o Pilar da Palavra, um dos
quatro temas das Diretrizes da Constituições Dogmáticas, a “Dei
Ação Evangelizadora da Igreja no Verbum”. No Brasil tivemos uma
Brasil (DGAE 2019-2023), para o grande movimentação a respeito da
qual foi elaborado um texto a ser Palavra com o movimento bíblico e
debatido e estudado: “Casas da o nascimento dos grupos bíblicos, e
Palavra – Animação bíblica da vida com a ação do Centro Ecumênico de
Estudos Bíblicos
(CEBI) que levou
a uma grande
experiência de
trabalho bíblico
na linha mística
de estudo, pre-
gação, oração
e missionarie-
dade. Os bis-
pos brasileiros,
particularmen-
te nesta última
década deram
bastante aten-
e da pastoral nas comunidades ção à Palavra, que na sua acepção
eclesiais missionárias”. O tema bíblica é pessoa, é comunicação,
não é novo no âmbito da Igreja, é ternura de Deus que se torna
particularmente após o Concílio letra, como uma carta de amor do
Vaticano II que dedicou ao tema namorado para sua amada, que é
da Palavra e sua importância na lida e relida, criando relação entre
revelação divina, uma das quatro quem escreve e quem lê.

Um novo documento
O novo documento apresenta-
do para o estudo não é novidade
quanto ao tema, ele vem a partir
da parábola de Mt 13,1-9 apro-
fundar a relação entre três reali-
dades: o semeador, a semente, e
a qualidade da mesma. Isso é um
convite a partir dessa iluminação
da ação bíblico catequética da
pastoral, que não se limita só a
fazer atividades [ex. semana bí-
blica, estudo bíblico etc.], mas se
torna a essência de vida própria
da pastoral e das comunidades
eclesiais missionárias. Isso faz
com que toda a vida seja animada
pela força da Palavra, assim como
a iniciação à vida cristã e os desa-
fios a serem enfrentados. Entre os
desafios apontados temos hoje um
esfriamento do trabalho bíblico
no Brasil, a questão das traduções
nas línguas dos Povos Indígenas,
a língua dos sinais, a ausência
do querigma, o fundamentalis-
mo, a separação entre Bíblia e
tradição eclesial e a teologia da
prosperidade. Falta a Bíblia ser
associada às dimensões pessoal,
social e ecológica e unido a isso
um crescente desconhecimento
da Palavra de Deus, considerada
como um livro estranho e difícil.
E enfim ela enfrenta hoje três
contextos complexíssimos com
situações de extrema pobreza,
violência institucionalizada e glo-
balização da indiferença. Por isso,
continuam os bispos, quem não
está vinculado com a Palavra de
Deus está com os olhos e ouvidos
tapados e fechados para a rea-
lidade. A Palavra deve provocar
ações que promovam mudanças
estruturais para que o mundo seja
mais parecido com o que Deus
Palavra deseja de nós.
Palavra semeada
Seguindo a parábola do semea-
dor, o documento aponta diversos
terrenos onde a Palavra é semeada.
O primeiro é o da liturgia, onde
acompanha os sacramentos e sua
escuta renova em nós amor e ar-
dor. O Vaticano II quis devolver à
Igreja o apoio da Palavra depois
que por muitos séculos ficou sem
receber destaque e atenção, o que
favorece o clima em que estamos.
Aparecida volta a afirmar e fun-
damentar nossa ação catequética
pastoral. Uma atenção especial
é dada também às homilias dos
ministros ordenados, sua prepa-
ração, sua linguagem e tempo. O
segundo é a relação entre Palavra
e ação missionária, onde se com-
preende cada vez mais que só
evangelizadores apaixonados pelo
Evangelho poderão transformar o
ministério que os vai mover em
ministério missionário. O terceiro
é a ligação entre a Palavra, a inicia-
ção cristã e a catequese em geral.
A iniciação cristã é a articuladora
da Igreja Católica destes últimos
anos. O quarto toca a relação da
Palavra com a piedade popular,
onde encontramos os limites da
evangelização. O quinto relaciona a
Palavra de Deus e a família sujeito
fundante da ação evangelizadora
da Igreja, lugar por excelência onde
a Palavra de Deus deve ser escu-
tada, acolhida, vivida, transmitida
como alimento e esperança. O
sexto são as Juventudes, terreno
prioritário. Os jovens vivem cada
vez mais conectados, vivem expe-
riências fortes e fazem escolhas
do momento, mas são capazes
de amar a partir de Jesus Cristo.
O sétimo terreno é o Ecumenis-
mo e o diálogo inter-religioso. O
oitavo é a Palavra de Deus e os
meios de comunicação social como
espaço de anúncio da Palavra.
Neste contexto, a necessidade de
investir na formação para quem
usa estes meios cuidando não
apenas das técnicas e tecnologias,
mas também do conteúdo. E um
último terreno é o da formação
dos ministros ordenados partindo
dos seminários, onde os semina-
ristas sejam formados à escola da
Palavra de Jesus Cristo.
Além do tema central, a As-
sembleia focou bastante sobre
a situação atual brasileira aju-
dada pela análise de conjuntura
que auxiliou os bispos a tomar
consciência das dificuldades que
a população e, particularmente
a mais pobre e vulnerável está
sofrendo e como a pandemia veio
desmascarar uma realidade que
já faz tempo está acontecendo,
como é o caso da saúde e do des-
monte do Sistema Único (SUS),
expressão do maior descaso dos
poderes Executivo, Legislativo e
do próprio Judiciário com a nação
brasileira. Nesta onda se inseriu
a 6ª Semana Social Brasileira e
o grande mutirão pela Vida, por
Terra, Teto e Trabalho, assim como
a situação dos Povos Indígenas e
o aumento da fome.
E como conclusão eles relançam
com todas as forças vivas da socieda-
de o Pacto pela Vida e pelo Brasil. 
Gianfranco Graziola, imc, é assessor teológico-pastoral
da Pastoral Carcerária Nacional.
MAIO 2021 MISSÕES 15
 FÉ EM AÇÃO
A escola no
pós-pandemia
Como voltaremos às
nossas escolas físicas?
de Nei Alberto Pies
Q
ual vem sendo a relação de afetividade e
aprendizagem na pandemia? Percebe-se
pouca preocupação com esta questão, embora
sempre tenha sido relevante, para muitos
estudiosos da educação. “Abordar a inteli-
gência emocional como a principal estratégia,
associada a um bom conteúdo, pode evitar o aban-
dono das crianças, adolescentes e jovens da escola.
Precisamos de um olhar mais atento às necessidades
afetivas do ser humano, que em muito se perdeu sem
o contato presencial. Como trabalhar de forma mais
ampla e eficaz esses aspectos num convívio semipre-
sencial? Mais do que nunca, escola e família devem
estar juntas para minimizar as perdas e prejuízos
das crianças e adolescentes, que são os mais frágeis
deste processo.
Como será a escola do futuro?
Deveríamos aproveitar o advento da pandemia e
os questionamentos sobre a escola neste momento
histórico para ressignificar o sentido e o papel da
escola na perspectiva humanizante, onde a centra-
lidade da mesma seja a construção permanente de
conhecimentos, envolvendo os sujeitos aprenden-
tes: professores e estudantes. Uma escola onde a
socialização seja uma dimensão que se incorpora às
práticas educativas, de forma permanente, de maneira
intencionada e valorizada pedagogicamente.
16 MAIO 2021 MISSÕES
O que podemos conjugar nas mudanças
que operam na escola?
Como já escrevemos em outra publicação: “O fato
de vivermos na era da tecnologia e da informação não
quer dizer que podemos suprimir a importância da
oralidade, da escrita e outras formas de comunica-
ção como a arte, a linguagem corporal, a linguagem
simbólica e religiosa, o audiovisual, dentre tantas
outras. Afinal, o ser humano é um ser integral e as
suas diferentes dimensões (características) devem
ser desenvolvidas e articuladas no seu processo de
ensino-aprendizagem”.
A construção do conhecimento e a convivência
social são os dois maiores pilares a partir dos quais se
assenta a educação contemporânea. Fazer educação,
nos dias atuais, significa compreender o sentido da
escola, do mundo e do ser humano, contemplando a
diversidade e a complexidade social que construímos
até aqui como humanidade.
A sociedade, sobretudo os pais e as mães, está
descobrindo o potencial e a riqueza que é a convivên-
cia e a integração social a partir do distanciamento
físico e social dos estudantes. A cobrança pela volta
das aulas presenciais revela justamente esta necessi-
dade das crianças, adolescentes e jovens conviverem
coletivamente no ambiente escolar, tutelados pela
presença e pelo olhar dos adultos.
Mas a volta às escolas, na forma presencial, pre-
cisa ser feita com a maior segurança sanitária e em
períodos em que a disseminação do vírus estiver bem
controlada. Fora deste contexto, pode significar um
grande risco às vidas de estudantes e professores e
professoras, bem como de membros das famílias. 
Nei Alberto Pies é professor da rede pública no RS, e ativista ambiental.
O mês
de maio
Allamano nos exorta
a viver bem o mês
de maio, honrando a
Nossa Senhora.
da Redação
S
omos filhos de Maria San-
tíssima e devemos viver
fervorosamente o mês de
maio. São Filipe repetia
sem cessar: “meus filhi-
nhos, sede devotos de Maria!”. Era
o seu estribilho obrigatório, seu
lema preferido. Se todos devem
ser devotos de Maria, muito mais
devem sê-lo os missionários. Pro-
curemos, portanto, santificar este
mês, honrando Nossa Senhora e
crescendo cada vez mais na sua
devoção.
A prática do mês de maio não
é muito antiga, apesar de origem
incerta. Santo Afonso, grande de-
voto de Maria, não a menciona; é
sinal que surgiu depois. Começou
na Itália, donde se difundiu aos
poucos, por todo o mundo. Era
conveniente, de fato, que se con-
sagrasse a Nossa Senhora um mês
inteiro, o mais belo dos meses, o
mês da flores (no hemisfério norte
– observação nossa).
Orações – acrescente-se algo,
especialmente em particular; una-
-se Nossa Senhora a Jesus o dia intei-
ro. Pode-se saudar Nossa Senhora
também durante os intervalos,
dizendo: Ave, ó Consolata! Sem
que ninguém perceba; e mesmo
que alguém percebesse, nada de
mal; antes, daríamos bom exem-
plo. Sobretudo, rezar com fervor;
rezar todas as orações da melhor
maneira possível. Afastar as distra-
ções durante a oração; elas virão,
sem dúvida, porque somos muito
imperfeitos, mas que ao menos
não sejam voluntárias em si ou
em causa. Afinal, não e tão difícil
diminuir o número das distrações.
Muitas vezes o indivíduo se distrai
porque não se preparou à oração,
ou pior ainda, acumulou um mundo
de coisas na cabeça, que depois
acabam por distrair. Portanto, rezar
fervorosamente e multiplicar as
jaculatórias. Com estas, procure-
mos salvar as almas do purgatório
mais devotas de Nossa Senhora;
mandemo-las em grande número
para o céu, durante este mês, de
sorte que, no fim de maio, não
haja mais nenhuma alma devota
Família
consolata
de Maria no purgatório!
Obséquios – cada qual seja fiel e
cuidadoso em praticar sua florzinha
para, no fim do mês, apresentar a
Nossa Senhora um bonito rama-
lhete de flores. Ninguém diga: a
florzinha que me coube não me diz
respeito! Diz respeito, sim! Depois,
durante o mês, examinar-se, de
quando em quando, para ver se
foi praticada ou esquecida.
Atos de virtude – fazer sacrifícios
em honra de Nossa Senhora é bom;
porém, o que mais importa é imitar
as suas virtudes. Peçamos a Maria
Santíssima, portanto, que neste
mês nos dê a graça de conhecer
os nossos defeitos, especialmente
o defeito predominante para nos
emendarmos.
Orações, obséquios, atos de
virtude: eis o que devemos fazer
durante o mês de maio para honrar
a Santíssima Virgem. 
Extraído do livro A Vida Espiritual, páginas 532 a 534
MAIO 2021 MISSÕES 17
 Consolando
Promoção
humana
em Jandira

o povo
une LMC e
Missionárias
da Consolata.

de Ana Maria Francisco

E
m 1984, quando as pri-
meiras irmãs da Consolata
chegaram à cidade de Jan-
dira, na grande São Paulo,
irmã Pia Clara dos Santos se
destacou em animar missionaria-
mente a comunidade, ensinando
a devoção a Nossa Senhora Con-
solata e ao Bem-aventurado José
Allamano.
O primeiro convite para apro-
fundar o carisma, não mais como
apenas devotos de Nossa Senhora,
mas para ser Leigo Missionário da
Consolata (LMC), veio em 1989.
Desde então outros se sentiram confecção de máscaras para serem através das irmãs e dos LMC foram
chamados, o grupo se alargou e hoje doadas em hospitais e instituições. fundamentais para que ela pudesse
conta com 13 integrantes que se A devoção e a fé já foram objeto superar, além da dor do luto, as
dedicam a levar a consolação em de graças alcançadas na comuni- dificuldades e responsabilidades
visitas às famílias e à promoção dade LMC de Jandira na pessoa de de quem se vê sozinha para pro-
humana, através da pastoral do luto, uma jovem com graves problemas videnciar o sustento da casa e a
sendo presença junto às famílias, durante a gestação e no parto com educação dos filhos.
o tradicional café na praça, com riscos à vida da mãe e do bebê e Exercer o carisma do Bem-aven-
moradores em situação de rua, que buscou o auxílio na intercessão turado José Allamano na vida laical
dependentes químicos e alcoóla- de irmã Irene Stefani e de José é sentido como a vocação que afasta
tras, como forma de resgatar do Allamano. Em outra situação, o o medo e nos dá a força e a certeza
vício e dar oportunidade de uma testemunho de uma jovem mãe de que o bem deve continuar a
vida mais digna. de dois filhos que recebe a re- ser feito para curar feridas e levar
Outubro sempre é tempo forte pentina notícia do falecimento de a alegria da Consolação de Jesus
de animar missionariamente com a seu esposo apenas uma semana através de sua Mãe. 
oração do terço das rosas na praça. antes do nascimento da terceira
Com o advento da pandemia, filha. Segundo seu depoimento, Ana Maria Francisco é LMC e articuladora da Comunidade
a comunidade se empenhou na a acolhida da família Consolata de Jandira, São Paulo, SP.

QUER
QUERSER MISSIONÁRIO?
SER MISSIONÁRIO? QUER
QUERSER MISSIONÁRIA?
SER MISSIONÁRIA?
TEL.: (11) 2232.2383 TEL.: (11) 2231.0500
E-mail: amv@consolata.org.br E-mail: mc@consolata.org.br

18 MAIO 2021 MISSÕES

Terço anima
Jovens
de Josky Menga e Ericka Rodrigues
O
mês de maio é inteira-
mente dedicado à Nossa
Senhora, mãe de Jesus.
Essa devoção começou
no Brasil segundo padre
Edinisio Pereira com a
evangelização trazida pelos jesuí-
tas. E com o passar do tempo, ela
foi ganhando mais força até chegar
ao que conhecemos hoje. Muitos
Missionários
da Consolata
cristãos católicos aproveitam esse
mês para fazer várias homenagens
a Nossa Senhora como penitência
e ofertar flores e rezar com mais
afinco o terço, entre outras coisas.
O mês mariano e a juventude
Quem tem Maria como mãe
tem sempre o amor de Jesus. Em
busca de viver esse amor materno,
esse momento tão oportuno e es-
pecial dedicado a Nossa Senhora,
MAIO 2021 MISSÕES 19
 o mês de maio, o grupo de Jovens
Missionários da Consolata (JMC)
das cidades de Feira de Santana,
Jaguarari e Monte Santo, na BA,
fizeram uma proposta de realizar
alguns encontros via Google Meet
para a oração do terço.
O primeiro encontro aconteceu
no ultimo dia 9, no qual jovens
que fazem parte do grupo de cada
cidade representante rezaram o
Terço Mariano. Foi muito dinâmi-
co, com a participação de vários
jovens. Dois deles de cada cidade
ficaram responsáveis por rezar
um mistério e liam as intenções
colocadas no chat, e entre cada
mistério as músicas marianas
acompanhavam esse momento
para meditação e louvor à nossa
Mãe, uma entrega total.
Mãe que cuida dos filhos
O momento preparado foi mui-
Em a Mãe Maria, aquela que é a Mãe
da Juventude e que tem um olhar
tempos de de amor para com todos os jo-
vens, mãe que cuida e intercede
pandemia, pelos seus filhos, foi um encontro
oportuno, momento de graça para
todos, para colocar suas intenções,
terço rezando pelas famílias, sobretudo,
pelo fim da pandemia.
virtual une Fazer reflexões sobre cada mis-
tério do terço, meditando os mis-
missionários térios da Salvação, mostra que os
jovens nunca devem se esquecer
e jovens em que sempre poderão recorrer a essa
arma tão poderosa que é o Santo
Terço e encontrar refúgio no colo
Jaguarari, aconchegante da Virgem Maria. Ó
Mãe Maria protege a nossa juven-
Monte Santo tude, as famílias, neste tempo tão
difícil de desespero e de tristeza no
e Feira de mundo inteiro. Queremos recorrer
a vós, que cuida de nós. 
Santana, na Josky Menga, imc, é animador missionário e Ericka

BA.
to especial para que os jovens Rodrigues é Jovem Missionária da Consolata, ambos
pudessem voltar o seu olhar para em Jaguarari, BA.

Ajude-nos e venha
fazer parte desta obra
Missões é o veículo de comunicação do Instituto Missões Consolata e retrata o trabalho missionário
de levar a consolação aos que sofrem, aos que andam tristes, aos que estão sem esperança.
Torne-se um missionário membro da família Consolata, mantendo o nosso trabalho,
contribuindo financeiramente.

Veja como é fácil:

DEPÓSITO BANCÁRIO

AG.: 545-2 AG.: 0355 AG.: 0386-7

C/C: 38163-2 C/C: 17759-3 C/C: 945-8

CHAVE: Revista Missões

Envie o Comprovante, junto com seu Nome,
Data de Nascimento, CPF, Endereço, Telefone e E-mail para:

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20 MAIO 2021 MISSÕES

 MISSÕES RESPONDE

Um ministro
terrivelmente evangélico
para o STF Cristão ou não, um ministro
do Supremo, como qualquer
juiz, deveria ser iluminado por
de Edson Luiz Sampel
valores do Evangelho.

SÉRGIO LIMA/PODER360
Q
uando o presidente Bolsonaro prometeu
nomear para o STF um ministro "terrivel-
mente evangélico", tinha em mente, sem
dúvida, procurar, entre os protestantes, al-
guém qualificado para o importante cargo.
Todavia, se procedermos à interpretação um
pouco mais ampla da frase "terrivelmente evangélico",
verificaremos que, ainda assim, não fugimos do que
cogitou o supremo mandatário. No fundo, na cabeça
do presidente da república, a já famosa locução sig-
nifica o seguinte: "estado de espírito de uma pessoa
tenazmente atrelada aos valores morais cristãos".
Para Bolsonaro, os irmãos separados grosso modo
satisfazem tal requisito.

Terrivelmente católico que, desde 1998, a moralidade passou a integrar um

O Supremo Tribunal Federal outrora contou com
um ministro "terrivelmente" católico! Escrevo o ad-
vérbio entre aspas porque, o falecido magistrado,
em que pese a sua ligação com entidade eclesial
conservadora, antes da posse, deu uma entrevista,
asseverando que a religião não interferiria em seus
votos. Como assim? E o cânon 225, §2.º, que man-
da os leigos animarem e aperfeiçoarem a realidade
temporal com o espírito do Evangelho? Ora, São João
Paulo II condena a nefasta ideia de que o agente
político tem de separar o âmbito privado do público
(Evangelium Vitae, 69). Ensina o grande pontífice: "(...)
Essa ideia errônea chega ao extremo de afirmar que,
no desempenho das funções públicas e profissionais,
deve-se prescindir das próprias convicções, para se
pôr a serviço de qualquer petição dos cidadãos (...),
aceitando como único critério moral no desempenho
das funções públicas somente o que está estabelecido
na legislação" (Evangelium Vitae, 69b). Nem mesmo
a Constituição Federal circunscreve a atividade do
agente público aos parâmetros estritos da lei, uma vez
dos princípios da administração pública (artigo 37).
Posto isto, um ministro "terrivelmente evangélico"
– que pode ser um julgador católico também, porque
nós outros igualmente nos pautamos pelo Evangelho
– respeita a laicidade do Estado e a autonomia da
ordem temporal, consoante prescreve o cânon 227,
porém, está cônscio de que os valores cristãos, os quais
clarividentemente permeiam a carta magna, devem
iluminar o mister jurisdicional e qualquer outro que
fizer público.
Por fim, enquanto Bolsonaro exprime visão "reli-
giosa", ou melhor, ética ou moralmente cristã, acerca
do papel dos membros da corte excelsa, gente da
hierarquia eclesiástica, quiçá sob influxo positivista,
apregoa que o critério de escolha do novel ministro
precisa observar apenas a reputação ilibada e o notório
saber jurídico do candidato... 
Edson Luiz Sampel é professor da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo,
da Arquidiocese de São Paulo. Autor de "Resumo de Direito Canônico". Clique aqui:
https://www.editorasantuario.com.br/resumo-de-direito-canonico

MAIO 2021 MISSÕES 21

 ÁFRICA
Covid se espalha
Igreja pede socorro.
Missionários e
missionárias estão sem
proteção.
de Redação
N
os primeiros três meses da pandemia, em
2020, parecia que a África tinha sido atingida
de leve. No entanto, neste ano, a Covid se
espalha pelo continente. A segunda onda do
vírus está afetando sobretudo a região sul; e
de forma muito mais severa, pois a variante mutante
está se espalhando rapidamente na África do Sul.
Dentre os países afetados está a Zâmbia. O vírus tem
se espalhado rapidamente no local desde dezembro
de 2020 e o país não está suficientemente preparado
para lidar com isto.
Os hospitais não estão devidamente equipados e
muito pouco é feito no sentido de proteger as pessoas,
a capacidade de testagem e as facilidades de trata-
mento. Na maioria das vezes, somente os pacientes
que têm sintomas graves são testados. Outras pessoas
infectadas pelo vírus não são identificadas e, dessa
forma, continuam a espalhar a infecção. Até agora
não há quase vacinas disponíveis.
Preocupação do clero
A Conferência dos Bispos de Zâmbia está agora dando
o alarme, pois também tem havido casos de doença
grave e mesmo morte entre os padres e religiosas.
Em janeiro deste ano, o bispo Moses Hamumgole, da
diocese de Monze morreu de Covid-19 com apenas
53 anos.
De fato, padres e religiosas têm um alto risco de
infecção, pois eles não podem simplesmente se isolar.
Ao contrário devem, muitas vezes, estar em contato
próximo com os fieis para o ministério pastoral. Além
disso, muitas irmãs em geral trabalham diretamente
nos hospitais, cuidando dos enfermos.
Um aspecto particularmente alarmante é o fato de
que, não somente entre os padres dos centros urbanos
densamente povoados, mas também nas áreas rurais
22 MAIO 2021 MISSÕES
ROGAN WARD/REUTERS
Subúrbios de Durban, África do Sul - 04/04/2020.
remotas, estão ocorrendo casos de infecção. Ninguém
esperava por isto. Algumas paróquias tiveram mesmo
que ser fechadas temporariamente porque todos os
padres contraíram o vírus. Por isso, há a necessidade
de prover equipamento de proteção adequado para
os padres e religiosas, tais como, máscaras, visores,
desinfetantes e vestimentas próprias. Isto é urgente-
mente necessário, mas muito caro.
Situação econômica preocupante
Não é necessário dizer que os problemas econômi-
cos resultantes da pandemia também atingiram forte-
mente a Igreja. A suspensão das missas dominicais e o
fechamento de escolas levaram a uma grande queda
de renda; renda esta que é vital para a sobrevivência
das paróquias.
Por isso, a Igreja na África apelou por ajuda inter-
nacional, solicitando equipamento de proteção pes-
soal, pelo menos para aqueles padres e religiosas que
trabalham nas dioceses mais severamente afetadas
pela pandemia.
Se você tiver possibilidade e desejo de ajudar à
Igreja na África, procure por seu pároco e peça infor-
mações. Congregações missionárias como a Consolata,
os combonianos, xaverianos e outras trabalham em
muitos países do continente. Na Paróquia da Consolata
em São Paulo, por exemplo, padre Moisés Facchini faz
campanha para ajudar a Tanzânia. Mais informações
podem ser obtidas pelo telefone (11) 2256.5600 ou
www.consolatasp.com.br 
Com informações de Ajuda à Igreja que Sofre.

Coreia do Sul
reúne pobreza
e missão (2ª parte)
No segundo artigo de padre
Giovanni Paolo, vamos analisar
as periferias da fé, cultural e
espiritual, presentes na Coreia
do Sul.
de Giovanni Paolo Lamberto
A
outra área que chamou a atenção dos missio-
nários da Consolata foi a chamada periferia
da fé. A Igreja coreana estava crescendo em
um bom ritmo, mas os fiéis de outras religiões
eram vistos com alguma hostilidade, talvez
rejeitados. Assim, vimos a necessidade de um diálogo
inter-religioso. Esta foi a última de nossas escolhas
a se materializar, em 1999, com a abertura de um
centro especial. Começamos a nos preparar, a estu-
dar, a conhecer, a visitar outras realidades religiosas
coreanas, além do Budismo oficial, Xamanismo,
Confucionismo, Chong Do Kyo, Budismo Won e, como
os dois últimos, outras religiões indígenas nascidas
na Coreia entre o final de 1800 e o início de 1900.
Como anunciar o Evangelho a quem não só não
o conhece, mas também não pretende ouvi-lo?
Mostrando que Deus é Pai. E, portanto, tornando-se
irmãos. Procuramos levar adiante o diálogo (tam-
bém ecumênico) da vida mais do que o da teologia.
Com alguns monges, as monjas de Budismo Won e
freiras católicas, nos encontramos periodicamente
para nos conhecermos melhor entre nós e nossas
religiões mútuas.
Conhecendo a Igreja local, imediatamente per-
cebemos que era uma comunidade vibrante com
energia, mas muito focada em si mesma. Tinha
pouca atenção ao resto do mundo, talvez devido aos
problemas históricos específicos. Agora, a periferia
a ser enfrentada era para nós uma periferia cultural.
Tinha como objetivo ajudar a Igreja local a se abrir
à universalidade e ao espírito missionário. Assim
começou a revista missionária "Consolata" para dar
a conhecer uma realidade quase nova para este
ÁSIA
mundo. É verdade que já havia muitos padres core-
anos no exterior, mas quase todos deixaram o país
para ajudar os fiéis emigrados coreanos e não para
evangelizar. No entanto, nosso compromisso não se
limita à impressão. Queríamos imediatamente que os
coreanos fossem protagonistas da missão universal.
Recebemos e formamos vários jovens e agora são
sete missionários locais da Consolata, dois deles aqui
na Coreia e os outros em missões no Quênia, Taiwan,
Argentina, Colômbia e Estados Unidos.
Existe ainda uma outra periferia: a periferia espi-
ritual! Nossos católicos são excepcionais quando se
trata de voluntariado. É uma Igreja que nasceu dos
leigos, e todos se sentem responsáveis por contribuir
de alguma forma com uma ajuda concreta à comuni-
dade. Muitos confessam que não se ofereceram. Mas
a espiritualidade é superficial. Não é de admirar: há
70 anos havia 150.000 católicos, há 40 anos menos
de um milhão e agora eles são mais de cinco milhões.
Portanto, muito poucos são cristãos há mais de uma
geração. Em seguida, nos lançamos em pequenos
cursos de aprofundamento da fé, retiros, assistência
e direção espiritual para leigos e religiosos.
Uma coisa é ir para a periferia, outra é ser periferia!
E aqui, como estrangeiros, somos a periferia! Apesar
do extraordinário acolhimento que os nossos fiéis
nos dão, temos sempre a sensação de estar “fora”.
Os obstáculos quase intransponíveis da língua e da
cultura, ainda que superados, não seriam suficientes
para nos fazer sentir: “agora é nosso”. Estamos todos
na periferia da vida e da felicidade. 
Giovanni Paolo Lamberto, imc, é missionário na Coreia.
MAIO 2021 MISSÕES 23
460273 POR PIXABAY
DESTAQUE

Na edição anterior de
Missões, padre Alfredinho
apresentou as duas
primeiras dimensões do
“cuidado”. Concluindo sua
reflexão, publicamos a
terceira e a quarta.

co e pluricultural. Exige atenção e

escuta aprimoradas. As sociedades
modernas e pós-modernas, além de
predominantemente urbanizadas,
rumorosas e apressadas, não pos-
suem ouvidos. Daí a importância
da escuta. Não qualquer tipo de
estuda, mas aquela que ademais
de procurar ouvir o estranho e o
diferente, tenta colocar-se no lugar
do outro. Ver o mundo através de
seu olhar.
Evidente que isso remete aos
direitos e à dignidade de cada pessoa
humana, como relembra a Doutrina

As dimensões
Social da Igreja (DSI). Segundo esta,
no coração de cada ser humano e
no coração de cada cultura, existem
sementes do Verbo de Deus. Partin-
do desse pressuposto, o migrante

do cuidado
ao colocar-se em marcha, carrega
consigo tais sementes. Torna-se
profeta e protagonista de um ama-
nhã recriado. Da mesma forma que
o voo das aves fecunda as plantas
para que produzam folhas, flores

(2ª parte)
de Alfredo J. Gonçalves Sociedades, culturas e
direitos humanos
O terceiro círculo envolve a rua,
e frutos, o voo dos migrantes fe-
cunda a cultura de outros povos,
enriquecendo-a e enriquecendo a
si mesmo com novos valores. Pôr-se
a caminho, com a cara e a coragem,
é fazer marchar a própria história
da humanidade.
Na linha do que nos tem trans-

N
o artigo da edição de abril,
padre Alfredo abordou a
primeira dimensão do cui-
dado: O “eu”: altruísmo
contra egoísmo, e a segun-
da: O outro: família ou comunidade.
A seguir, apresenta a terceira e
quarta dimensões.
o bairro, a cidade, o país e o mundo
em que vivemos. Envolve também
as diferenças entre os povos, as
culturas, línguas, credos, costumes,
expressões religiosas e valores. O
contexto em que hoje nos movemos,
seja em nível local ou internacional,
torna-se cada vez mais multiétni-
mitido com insistência o papa Fran-
cisco, o desafio está em passar da
globalização da indiferença para a
cultura do encontro, da acolhida,
da abertura, do diálogo e da soli-
dariedade. Um passo da multicul-
turalidade à interculturalidade. Ou
seja, não basta uma convivência

24 MAIO 2021 MISSÕES

pacífica com o “outro, o estrangeiro
ou diferente”. É preciso superar
esse estágio e ir além. Trata-se de
estimular o intercâmbio de saberes,
o confronto de ideias, o crescimento
e enriquecimento recíprocos. So-
mente um encontro dessa natureza,
embora permeado de tensões e
conflitos, será capaz de depurar e
purificar continuamente a cultura e
os valores de toda e qualquer visão
de mundo. Aqui também entram
os direitos civis básicos, tais como
educação, saúde, moradia, segu-
rança alimentar, transporte, lazer,
entre tantas outras coisas.
A terra: nossa casa comum
A expressão do quarto e último
círculo, como bem sabemos, remete
à Carta Encíclica Laudato Si’, publi-
cada pelo papa em maio de 2015.
O título, aliás, é inspirado no canto
de São Francisco de Assis “Louva-
do sejas, Senhor”! Hoje em dia, o
tema do cuidado e da preservação
do meio ambiente ganhou maior
divulgação e familiaridade. Isso se
deve, por um lado, aos esforços
perseverantes dos movimentos
ecológicos em todo mundo e, de
outro, aos frequentes e insisten-
tes alertas dos cientistas sobre os
riscos da devastação e destruição
dos ecossistemas. Ademais, muitos
estudos e pesquisas, livros e livros,
têm popularizado a temática. Na
verdade, a população vai se dando
conta de que ela afeta a todos e a
cada um em particular.
Cada espécie da fauna ou da
flora que se extingue no planeta
empobrece a qualidade da própria
vida humana. Percebemos sempre
mais que todas as coisas, pessoas,
relações e sistemas estão de tal
forma interligados e entrelaçados
que qualquer dano à natureza e ao
meio ambiente mexe com todas
as formas de vida, ou seja, com a
biodiversidade. A consciência de um
uso correto dos bens que o Criador
colocou à disposição de todos cresce
de forma positiva. Evidente que,
neste caso, as responsabilidades
são distintas e diferenciadas. No
cuidado com o meio ambiente,
faz-se relevante a contribuição de
cada um, certo, mas é bem modesta
a incidência das pessoas, famílias
e organizações em geral, diante da
gigantesca responsabilidade dos
governos, empresas e dos represen-
tativos organismos internacionais.
Desde um ponto de vista reli-
gioso, e mais particularmente da
tradição judaico-cristã, convém
olhar com mais atenção a aliança
que Deus estabelece com o Povo
de Israel, através do patriarca Noé.
“Deus disse: este é o sinal da aliança
que coloco entre mim e vocês e
todos os seres vivos que estão com
vocês, para todas as gerações futu-
ras” (Gn 9,8-17). Simbolizada pelo
arco-íris, a aliança sublinha duas
dimensões indissociáveis: primeiro,
a preocupação “com tudo o que vive
sobre a face da terra”, segundo o
cuidado com “as gerações futuras”.
No projeto da criação, se por uma
parte toda forma de vida deve ser
preservada, por outra, essa rica e
variada profusão da vida em suas
manifestações deve ter continuida-
de pelos séculos futuros. Em vista
desse plano, atenta contra a vida
quem polui, contamina e devasta
as águas (mar, rios, lagos e gelei-
ras), o ar, as florestas e os diversos
ecossistemas.
Para finalizar, digamos que no
mundo antigo e medieval, prevalecia
o teocentrismo. Deus era a referên-
cia última da verdade e do sentido
da vida. O poder político não dispen-
sava a benção dos representantes
do sagrado. No mundo moderno,
após a Revolução Industrial e as re-
voluções de ordem política (Estados
Unidos e França), a ciência e a razão
humana substituíram o lugar do
divino. Daí o antropocentrismo. Na
administração das sociedades, em
especial nos países do Ocidente, irá
prevalecer o regime democrático,
onde o poder emana “do povo,
pelo povo e para o povo”. Para o
futuro de médio ou longo prazo,
quem sabe a terra, o planeta azul,
enquanto fonte de água e berço
da biodiversidade passe a merecer
um cuidado maior e a ocupar um
lugar mais central, numa espécie
de geocentrismo?!...
Como é fácil compreender, os
quatro círculos do cuidado repre-
sentam não gavetas fechadas e
incomunicáveis entre si, mas dimen-
sões interligadas, complementares
e indissociáveis. Isto é, a expansão
em espiral de qualquer um deles
implica a ampliação simultânea
dos demais. Trata-se da mesma
dinâmica do que o papa Francisco
vem chamando de “Igreja em saí-
da”, ou seja, do processo da nova
evangelização. De fato, como vimos
anteriormente, na exata medida
em que o “eu” cresce e amadurece,
deixa o comodismo do berço, para ir
ao encontro primeiro, do outro como
grupo familiar e nuclear; segundo,
da sociedade com seus direitos e
deveres; terceiro, de uma maior
consciência frente às exigências de
preservação do planeta como fonte
de vida. A superação de cada círculo
se dá paralelamente aos demais.
De forma mais concreta e obje-
tiva, a fronteira que aparentemente
divide os círculos não passa de uma
linha imaginária. A pessoa humana é
um todo formado por suas diversas
dimensões, expressões e manifes-
tações. O autocuidado, que poderia
nos induzir ao equívoco de egoísmo,
egocentrismo ou hedonismo, na ver-
dade desencadeia uma dinâmica de
abertura que não terá mais limites.
Desdobra-se contemporaneamente
para o cuidado da relação com os
outros, com os grupos sociais mais
variados e distintos e com o planeta
“mãe e fonte da vida”. O “eu” em
crescimento e amadurecimento é,
no fundo, um “eu” em saída. Um
“eu” saudável, maduro e disposto
à solidariedade para como o bem-
-estar de tudo e todos. 
Alfredo J. Gonçalves, cs, é vice-presidente do SPM.
MAIO 2021 MISSÕES 25
 CIDADANIA

Testemunhos
No mês de maio,
depoimentos de
mulheres que

de maternidade
buscaram testemunhar
o significado da
maternidade e do
feminino em suas

ARQUIVO LMC
de Fátima Bazeggio vidas.

A
colhemos a história de alguém que por anos
desejou ser mãe e depois chegou a se decidir
pela adoção. Desde o início foi entregue a
Mãe de Jesus que conduzisse os passos e os
caminhos que deveriam ser trilhados dali em
diante. Não demorou muito e lhes foi anunciado que
uma filha acabara de nascer e esperava pelo casal.
Viajaram às pressas e encontraram a criança de um
dia de vida que sorriu para os pais assim que os viu.
Não havia dúvidas, era a filha nascida do ventre
de outra mulher que estava ali para ser a filha do
coração para ser cuidada e amada.
O sentimento de gratidão foi predominante nesse
momento do encontro. Gratidão a Deus e a Maria
Santíssima que fora a mediadora, mas também um
forte sentimento de gratidão pela mãe biológica,
imaginando o que teria se passado para que ela
chegasse ao ponto de abrir mão de uma filha.
Sentimento de gratidão foi o que perpassou toda
a vida e crescimento da criança até que no dia de
seu casamento. Quando os pais a conduziam para o
altar, a figura da mãe biológica também foi lembrada
com uma prece.

Lições perpetuadas
Quem já viveu no campo e ainda se lembra da
casa no sítio, uma família numerosa, com os pais
trabalhando na roça durante o tempo de plantio e de
colheita? Quem se lembra aos 15 anos, do caminho
que percorria a cavalo para chegar à escola e na volta,
da parada na casa da costureira local que lhe ensinava
a costurar, ofício que aprendeu e nunca mais parou?
Quem se lembra de chegar à cidade grande com
filhos pequenos e cuidar do sustento da educação e
formação do caráter?
Quem teve o privilégio de conhecer Nina através
de sua filha, uma Leiga Missionária da Consolata
(LMC) da comunidade São Paulo, logo de início pode
ver na filha os traços do caráter, responsabilidade e
meiguice que herdou da mãe.
Deixando de lado os chavões que foram criados
ao longo do tempo sobre a maternidade ou os apelos
do consumismo dos tempos modernos, ainda vemos
muitas histórias inspiradoras que se tornam farol para
as futuras gerações. De uma vida vivida e doada na
simplicidade com humildade, revelando o sagrado
feminino que é feito de força e fé, assim como a Mãe
de Jesus que não se dobrou perante os poderosos
de seu tempo e foi fiel a si mesma e através de seu
Filho Jesus continua até hoje fiel a cada um de nós.
Bem-aventurada aquela que acreditou. 
Fátima Bazeggio é Leiga Missionária da Consolata,
comunidade São Bento, São Paulo, SP.

26 MAIO 2021 MISSÕES

 BÍBLIA

Bem-aventurados
os que promovem a paz
firme e ter decisão no caminho do bem e da vida. A
Bem-aventurados os que violência que se propõe hoje é a agressão, ainda que
promovem a paz, porque em forma de defesa, embora isso não esteja claro.
serão chamados filhos de Não é fácil
Deus (Mateus 5,9). Não é fácil seguir as bem-aventuranças. Dialogar
é difícil, partilhar as ideias para o bem comum é um
desafio enorme, complexo, cansativo. É mais fácil
de Mauro Negro
ameaçar, agredir com palavras, desqualificar o in-
terlocutor. Negar a situação, desviar a atenção para
outro foco e situação. E assim, mascarar a verdade.

N
o Evangelho segundo Mateus encontram-se Por outro lado, é fácil perder-se nos discursos de
as famosas bem-aventuranças. No capítulo poder religioso, de autoridade política, de força judi-
cinco encontram-se aquelas célebres frases: ciária. Os tempos são complicados, mas, desafiadores
“Bem-aventurados os po-
bres… Bem-aventurados

LAPRESSE
os mansos…” E encontra-se tam-
bém uma dupla afirmação que
hoje está meio esquecida: “Bem-
-aventurados os que promovem
a paz, porque serão chamados
filhos de Deus”.
Promover a paz é uma ação
corajosa, às vezes até “violenta”,
pois alguns veem que a paz é algo
que agride o modo de pensar e,
por isso, parece ser uma afron-
ta. A impressão é que não se vê
no Brasil, desde que terminou a
ditadura militar, tantas revoltas e
agressões vindas de autoridades
constituídas. Isso é muito trági-
co. Também em outros países,
marcados como democratas e Alguns representantes da Comunidade Islâmica durante missa em Roma.
defensores da liberdade, viu-se por alguns anos uma e exigem respostas e posicionamentos. Para os que
crescente onda de violência proposta pelos próprios têm fé, exigem a vivência das bem-aventuranças. É
líderes. mais fácil fechar-se no refúgio do “nós temos razão”,
As religiões foram, algumas vezes, acusadas de “nós devemos nos proteger”, e algo assim… Mas as
propagar violências, o que não é plenamente ver- bem-aventuranças nos chamam à atenção: “Bem-
dade, pois nivela as expressões de fé em uma única -aventurados os que promovem a paz, porque serão
expressão. Mas, quando se vê um padre carregando chamados filhos de Deus”.
uma arma e falando em nome de Deus, isso choca O dom de ser filho de Deus não é, neste caso, au-
e questiona. tomático, mas precisa de observação, discernimento
Não se trata de uma violência feita para a difu- e decisão. 
são da Palavra de Deus. Uma “violência” assim é no
sentido de insistir, de propor, de argumentar, de ser Mauro Negro, OSJ. Biblista PUC São Paulo SP mauronegro@uol.com.br

MAIO 2021 MISSÕES 27

 ENTREVISTA

Dom Joaquín Pinzón:

oito anos caminhando com a Amazônia
Em entrevista,
primeiro bispo do
Vicariato Apostólico
de Puerto Leguízamo–
Solano, na Amazônia
colombiana, avalia a
caminhada da Igreja
comprometida com os
povos e comunidades
naquele território.
Texto e fotos de Angelo Casadei

N
atural de Berbeo, Santan-
der, Colômbia, o missio-
nário da Consolata, dom
Joaquín Humberto Pinzón,
foi ordenado em 7 de agos-
to de 1999 e nomeado bispo pelo
papa Bento XVI no dia 20 de abril
de 2013.
Dom Joaquín, qual é o signifi-
cado do Vicariato de Puerto Le-
guízamo?
O papa Francisco disse que a
Igreja está presente na Amazônia
não de passagem, mas para perma-
necer e, portanto, a existência deste
Vicariato (quase diocese) deveria
ser um sinal claro de esperança e
de proximidade para aqueles que
vivem nesta região de difícil acesso.
É um sinal do compromisso da Igreja
para com os povos e comunidades
que vivem neste território.
Quais têm sido as bênçãos deste
serviço missionário?
Há muitos sinais de bênção
nesta caminhada de oito anos.
A primeira grande bênção é a de
poder contar com um grupo de
missionários e missionárias com
um coração que ama a Amazônia
e que estão dispostos a proclamar
a Boa Nova de Jesus a estas pes-
soas oferecendo-lhes o melhor
de si mesmos. Outra bênção é a
de poder contar com animadores
e animadoras nas comunidades,
leigos empenhados que são um
ponto de apoio, uma presença
viva da Igreja em todo o terri-
tório, mesmo nas comunidades
mais distantes. Sem a sua presença
torna-se difícil pensar numa ação
evangelizadora que chegue a todas
as comunidades.
Alguns projetos também foram
uma bênção nestes oito anos: por
exemplo, o projeto “Agrovida” em
Solano, uma série de atividades com
o objetivo de um acompanhamento
econômico e ecológico das nossas
famílias no ambiente amazôni-
co. Muitas pessoas aprenderam
a respeitar e a cuidar da floresta,
a desmatar o menos possível e a
organizar pastagens mais peque-
nas, bem cuidadas e eficientes.
Com isto sentimo-nos muito em
sintonia com a Encíclica Laudato
sì e tentamos convidar as pessoas
para uma profunda mudança de
mentalidade, em vez de prejudi-
car e pilhar, a sentirem-se parte
viva deste território a ser amado,
respeitado e protegido.
Uma luz muito importante foi a
“minga” da fronteira amazônica (A
“minga” é o trabalho comunitário
que as comunidades indígenas re-

28 MAIO 2021 MISSÕES

alizam com o objetivo de alcançar
também um benefício comum).
Em 2017, todos nos sentamos à
volta de uma mesa para refletir
juntos sobre como ser cidadãos
desta terra que nos acolhe e que
devemos proteger e não destruir
porque é a nossa Casa Comum.
Estavam presentes autoridades
tradicionais indígenas, bem como
autoridades da sociedade civil,
políticos e até mesmo autoridades
militares.
Qual o lugar dos leigos nesse
trabalho?
São os leigos e as pessoas que
vivem diariamente nesta terra e
que muitas vezes nasceram aqui,
que ajudam a descobrir caminhos e
espaços para o nosso compromisso
missionário. São eles que indicam
as necessidades e os requisitos
concretos aos quais, como Igreja,
devemos dar uma resposta. Des-
ta forma, a Igreja torna-se uma
construção que todos fazemos
juntos, porque não faria sentido
evangelizar longe das realidades
concretas desta região.
Como são aplicados os sonhos
de Exortação Apostólica “Querida
Amazônia” no Vicariato?
O papa Francisco nos colocou
num caminho e este não é um
caminho curto ou fácil. Em Puerto
Maldonado (encontro do papa com
as comunidades indígenas, janeiro
de 2018) começou a preparação do
Sínodo para a Amazônia e, desde
o início fizemos parte dele e não
só evangelizadores, mas também
crianças, jovens, líderes comuni-
tários, catequistas.
Quando Francisco fala dos qua-
tro sonhos (social, cultural, ecológi-
co e eclesial) que devem fazer parte
da presença da Igreja na Amazônia,
estes sonhos não estão longe de
nós porque também ajudamos a
criá-los. A questão agora é pensar
em como torná-los realidade pouco
a pouco.
No campo ecológico temos vá-
rios projetos entre os quais o da
Pastoral Juvenil chamado “Jovens
guardiães da Casa Comum”. No
campo cultural, estamos trabalhan-
do na escola para animadores das
fronteiras em que eles são convida-
dos a aprofundar a sua identidade
e a destacar os valores que serão
necessários para construir, entre
outras coisas, uma Igreja com a
seu próprio rosto.
O sonho social coloca-nos pe-
rante a responsabilidade de pensar
com novos olhos sobre este terri-
tório como nosso, como uma casa
a ser gerida, defendida, preserva-
da… e não destruída e saqueada.
E finalmente, o sonho eclesial é
quase uma consequência de todos
os anteriores porque nos leva a
imaginar uma nova Igreja, com o
seu próprio rosto amazônico, fruto
de comunidades cristãs maduras
e ministeriais. Só nestes dias está-
vamos pensando nas necessidades
ministeriais destas comunidades
cristãs, onde todos podem par-
ticipar e comprometer-se com a
realização deste sonho comum.
O Vicariato de Puerto Legui-
zamo-Solano tem uma área de
64.000 quilômetros quadrados,
uma população de 46.000 habi-
tantes, sendo 36.000 católicos. 
Angelo Casadei, imc, é missionário italiano na Colômbia.
MAIO 2021 MISSÕES 29
 ESPECIAL
Vítimas da Covid-19
Missionários da Consolata no Brasil
CLEBER PIRES
Padre Sabino Mariga e Padre Adriano em celebração de comemoração da fundação do IMC.
da Redação
P
adre Adriano nasceu em Macatuba (SP) em
26 de julho de 1931. Filho de agricultores,
trabalhou na roça até os 23 anos. Tentou entrar
em duas congregações, mas não conseguiu.
O seu destino estava muito ligado aos mis-
sionários da Consolata, onde teve como exemplo o
padre Dante Possamai, que o animou na sua vocação.
Emitiu a sua primeira Profissão religiosa no dia
2 de fevereiro de 1961 em Aparecidinha, próximo à
São Manuel (SP). Seguiu para Itália, onde estudou
teologia em Turim e fez a sua Profissão Perpétua no
dia 2 de fevereiro de 1964. Foi ordenado diácono em
29 de junho de 1966 e sacerdote em 17 de dezembro
do mesmo ano, sempre na cidade de Turim, berço
do Instituto Missões Consolata.
Com um coração grande e generoso reservado
aos evangelizadores mais ousados, partiu para a
missão Ad Gentes em Moçambique, na África, tendo
trabalhado com os colegas brasileiros, os padres
Vidal Moratelli e Geraldo Deretti e outros religiosos
e missionárias.
Ao celebrar os 60 anos de Vida Religiosa, em ja-
neiro deste ano, Padre Adriano afirmou que a força
do Evangelho está na vida dos simples que se abrem
para receber a sua mensagem. “Hoje, pregamos a
30 MAIO 2021 MISSÕES
pobreza e vivemos a riqueza. Os padres exageram
no luxo. Deveriam manifestar mais simplicidade”,
disse em entrevista à Missões.
Ao regressar ao Brasil em 2004, Padre Adriano
parecia ter deixado o seu coração em Moçam-
bique. As forças físicas já não eram as mesmas,
mas o seu zelo missionário o levou a servir como
capelão em Lençóis Paulista (SP) e na pastoral em
Salvador e Jaguarari na Bahia.
Desde 2011, vivia na Casa Regional dos Mis-
sionários da Consolata, no Jardim São Bento, na
cidade de São Paulo, onde se dedicava à oração
e atendia confissões. Internado para se tratar da
Covid-19 não resistiu às complicações impostas
pelo vírus, vindo a falecer em 19 de maio de 2021.
Padre Sabino Mariga
Padre Sabino nasceu em 28 de fevereiro de 1941,
também filho de agricultores, em Erechim (RS).
Entrou no Seminário em 1954. Estudou em Rio
do Oeste (SC) de 1958 a 1963 e foi para São Manuel
(SP), onde fez o noviciado. Ordenou-se em 12 de de-
zembro de 1971 e trabalhou um ano em Jesuítas (PR).
Depois foi para Manaus (AM), Paróquia Santa Luzia.
Em 1980 trabalhou em Maturuca (RR), nas missões,
onde permaneceu por sete anos trabalhando com
os indígenas Macuxi, a 300 km de Boa Vista, capital
do estado.
Morou por oito anos em Alto Alegre (RR), de onde
tinha as melhores lembranças. Foi ainda pároco em
São Manuel, trabalhou em Jaguarari (BA) por quatro
anos, uma paróquia com 90 comunidades. Padre Sabino
estava na Casa Regional em São Paulo desde 2013,
onde continuava sua Missão, e nesse ano celebrava
50 anos de ordenação sacerdotal.
Sentia-se animado com a possível canonização
do Fundador, afirmando que estava "esperando por
esse momento como uma Graça. É mais um santo no
céu. Que ele nos proteja, nos ampare, e nos ajude
a continuar na caminhada. Temos missionários e
missionárias que podem ser santos, mas precisamos
que o Fundador seja também. Seremos muito mais
alegres e quem sabe a nossa Congregação caminhará
melhor”. Padre Sabino fez sua Páscoa no dia 28 de
maio de 2021.
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