Disciplina: Seminários de dissertação | Docente:Vinícius M. Netto
Discente: Fernanda Pacheco Dias Tema: Caminhar e afetos urbanos Resenha Artigo 3
Artigo: What we talk about when we talk about ‘walking in the city’ por Brian Morris. 2004.
O autor deste artigo é professor de antropologia da Goldsmiths College da
Universidade de Londres, seu texto foi publicado na revista Cultural Studies em setembro de 2004. O propósito deste artigo é complementar alguns entendimentos desdobrados a partir do capítulo “Walking in the City” presente no livro “Practice of Everyday Life” do francês Michel de Certeau. O livro citado foi publicado originalmente em 1980 e logo assumiu uma posição de relevância para o acadêmicos e estudantes de estudos culturais. Para Morris o capítulo abordado é frequentemente citado como modelo para se compreender conceitos culturais como “poder” e “resistência” e seu artigo intenta contribuir estendendo e repensando saberes, incluindo uma maior consideração dos agenciamentos e afetos na compreensão das práticas cotidianas do caminhar urbano. Partindo do pressuposto de que apesar de ser um capítulo que já foi amplamente estudado e criticado, o autor afirma que revisitá-lo se faz necessário a medida que uma perspectiva de estudos urbanos pode oferecer novos tipos de engajamento teóricos sobre como corpos, sujeitos e ambientes urbanos se conectam. Brian Morris coloca a seguinte questão para ser explorada: como o ‘cotidiano extraordinário’ passou de prática artística e crítica que contesta a cultura do consumo/espetáculo para um organizador do banal usado para descrever e dar sentido à culturas e experiências urbanas atuais? O autor utiliza-se do apoio de outros dois autores, Tony Bennet e Meaghan Morris, para fundamentar o argumento de que haja uma aceitação cega ao conceito de resistência, derivado de Certeau, e que isto fez com que a disciplina de estudos culturais tenha focado em “rastrear resistências e tomar o seu lado”. Ele pondera afirmando que existe um limite nessa noção de resistência e está relacionado com a rigidez do modelo de Certeau, pautado entre estratégias e táticas. Enquanto Certeau identifica que há um espaço urbano politicamente organizado por programas e o que as pessoas “fazem” com esse programa constitui uma relação de poder que estrutura o espaço; Brian Morris acredita na tese de que essa relação (corpus, poder, mobilidade e forma urbana) é muito mais complexa e multidimensional do que a binaridade entre estruturas disciplinares e liberdades cotidianas proposta por Certeau. Neste ponto, o autor se vale da “teoria da articulação”, explicada por Lawrence Grossberg, para reformular as características da caminhada “resistente” de Certeau. Segundo Morris, o fato de Certeau afirmar que a caminhada diária, como prática cotidiana, pode ser “resistente” não significa dizer que automaticamente todas as caminhadas são resistentes. É então que ele pondera que precisamos considerar várias mediações que permitem à caminhada articular complexos e até mesmo contraditórios efeitos. Nos parágrafos seguintes, Brian Morris desloca-se para o tema da psicanálise no discurso de Certeau, propondo uma crítica ao entendimento da relação universal entre corpo e a subjetividade e corpo e sociedade. O autor recorre ao trabalho de Marcel Mauss “Técnicas do Corpo” para sugerir que os atributos corporais habituais, como o caminhar, não são necessariamente performances corporais “inconscientes”. A seguir teoriza que uma certa “intensidade” descreve uma consciência cotidiana ou um sentimento de conexão entre corpo e mundo que poderá ser discutida através da noção teórica de afeto. Ao introduzir o conceito de afeto, o autor reforça seus argumentos através da crítica a Certeau e Roland Barthes que versam sobre uma semiologia das práticas urbanas; e se utiliza mais uma vez do trabalho de Grossberg e Brian Massumi para defender afeto como força ou intensidade capaz de receber imagens e associá-las a significados. Segundo Morris, o corpo torna-se barômetro para avaliar a multidimensionalidade dos eventos numa prática de caminhada. O artigo foi construído tendo como foco a discussão dos conceitos de Certeau e sua aplicabilidade nas práticas urbanas contemporâneas e tomou como repertório teórico trabalhos de outros autores sobre o mesmo tema, e sobre temas correlatos que puderam acrescentar ao debate. Foram percorridos os conceitos de resistência, inconsciente, semiótica, corpo e afeto. Estes subtemas citados relacionados com a prática do caminhar, estão no cerne da minha pesquisa de dissertação, portanto, fica assim reconhecida a relevância deste artigo para a fundamentação teórica do meu trabalho.