Projeto de Pesquisa
2019
RESUMO
O Multinic é um projeto de criação de um site com conteúdos educativos produzidos em múltiplas
linguagens, voltados para alunos do Ensino Médio de escolas públicas, em especial dos conteúdos
relacionados à disciplina de Matemática, tendo como base os descritores da Prova Brasil e da Prova
Paraná. Para cada descritor, produziremos três conteúdos multimidiáticos, que são: um podcast
sobre a história do conceito relacionado ao descritor, um audiovisual com aplicações no dia a dia
desse conceito, e um texto sobre os conceitos científicos trabalhados; tornando o processo de
aprendizagem mais contextualizado. Os conteúdos a serem produzidos diferem no projeto
diferenciam-se, pois são realizados em parceria com diferentes setores da Universidade Estadual de
Maringá, os professores da escola e os alunos desse nível de ensino.
Justificativa
Segundo o artigo 205 da Constituição Federal Brasileira de 1988: "A educação, direito de todos e dever
do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho". Porém os números atuais relativos à educação básica no Brasil nos mostram que ainda temos
um longo caminho para trilhar até chegarmos aos níveis de excelência esperados, preparando nossos
jovens para o futuro.
Desde a constituição de 1988, uma série de medidas foram realizadas pelo Ministério da Educação
(MEC) com a finalidade de melhorar a educação básica no país. A Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (1996), atualizada por meio da Lei 13.415 de 2017; o Plano Nacional de Educação (2014) e a
Base Nacional Comum Curricular (2017); são alguns exemplos. E, de fato, números comprovam que
alguns aspectos que congregam o ensino fundamental e médio melhoraram nas últimas três décadas.
O Censo Escolar, aplicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(INEP), aponta que em 2018 o Brasil registrou 48,5 milhões de matrículas nas 181,9 mil escolas de
educação básica brasileiras. Isso mostra que mais de 90% das crianças brasileiras entram na escola, na
idade correta, sem que, contudo, concluam esse percurso.
O Anuário Brasileiro da Educação Básica de 2018, promovido pela ONG Todos pela Educação, mostra
que de cada 100 estudantes que ingressam na escola, 86 concluem o ensino fundamental 1 aos 12 anos,
72 concluem o ensino fundamental 2 aos 16 anos e 59 terminam o ensino médio aos 19 anos. Além
disso, ao final do ensino médio, apenas 27,5% dos estudantes têm aprendizagem adequada em
português e 7,3% em matemática. Esses dados também refletem os números apurados pelo Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), que na última década vem apresentando um quadro de
crescimento de qualidade nos anos iniciais do ensino fundamental, porém mostra uma situação de
estagnação nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio.
O ensino médio, etapa obrigatória da educação básica, a partir da Emenda Constitucional nº 59 que
vigora desde 2009, abrigam um dos grupos mais atingidos, tanto pela exclusão quanto ao acesso, como
pela qualidade do ensino ofertada.
Pesquisa realizada pela UNICEF (2014, p.6) aponta que entre os obstáculos para a permanência desses
adolescentes estão ligados às questões como os conteúdos distantes da realidade dos alunos; a falta de
diálogo entre alunos, professores e a gestão da escola; a desmotivação e a infraestrutura precária dos
estabelecimentos.
Neri (2009, p. 5) em estudos sobre as causas da evasão escolar apontou que 40,3% referem-se a falta de
interesse, seja porque não quiseram (83,4%), concluíram a série ou o curso desejado (13,7%) ou ainda
porque os pais ou responsáveis não quiseram que frequentassem (2,9%).
As narrativas dos estudantes do Ensino Médio analisadas na pesquisa de Torres et alli (2013, p. 187)
apontam o descontentamento dos jovens em permanecer num ambiente classificado por eles como
“atrasado” ao se referirem ao uso de novas tecnologias. Esse mesmo estudo demonstram que “embora
a chamada “virtualização da escola” possa não estar presente – ou mesmo ser reprimida pela
organização escolar – a experiência virtual existe com muita força na vida dos jovens de baixa renda
que ingressaram no Ensino Médio” (p. 188). Para os autores:
Essa prática, de acordo com os autores, faz com que a escola concorra com essas mídias enquanto fonte
de informação e de conhecimento e partir delas, mudem significativamente a forma dos jovens
interagirem, se comunicarem e se apropriarem do conhecimento.
Se considerarmos o que nos aponta Marx (apud NISKIER, 2001; pg. 179) acerca do processo de
modificação da natureza, “o homem – ser social – modifica-se a si próprio, através das práxis, que é a
relação dialética entre o homem, o trabalho e a natureza”, isso nos leva a crer que por ser um sujeito de
relações, as mudanças ocorrem e se consolidam na relação que estabelece com os outros, mediatizados
pelo trabalho. Assim posto, compreendemos que a construção do conhecimento se faz de forma
coletiva e não individual.
Leontiev (2004) busca na atividade social, nas circunstâncias concretas de vida e nas relações humana o
processo da atividade humana: “o que eles [os homens] são coincide, portanto, com sua produção, tanto
com o que produzem, como com o modo como produzem. O que os indivíduos são, portanto, depende
das condições materiais de sua produção”.
Jovchelovitch (2008) ao investigar a relação entre saber e contexto através de uma nova análise dos
processos de representação aponta que o espaço potencial da possibilidade da representação simbólica, é
espaço de produção de sentido e de significação, ou ainda, é “a estrutura mediadora pertencendo ao
entre” na tríade sujeito – mundo e objeto de conhecimento. Considera ainda que o processo de
formação do conhecimento depende das condições sociais concretas e também dão forma a sua estrutura
interna, ou seja, “informam as coerções e obrigações cotidianas que organizam as práticas de um grupo”
(p. 276).
A ação humana, no contexto histórico da produção coletiva, é mediada por instrumentos que têm um
significado social porque são elaborados socialmente para suprir necessidades coletivas. Segundo
Oliveira (1993, p. 28, 30), esses instrumentos, providos de sentido para o indivíduo e para o grupo, são
responsáveis pelo desenvolvimento material e psicológico do homem e são classificados em
instrumentos externos, aqueles capazes de mediar a ação do homem na natureza no sentido de
transformá-la e de instrumentos psicológicos (signos) que auxiliam o desenvolvimento das funções
psíquicas superiores como memória e atenção voluntárias e, principalmente, do pensamento e da
linguagem.
O processo de apropriação da cultura está relacionado à aprendizagem e, por meio dela, o homem
desenvolve processos internos criando possibilidades para novos aprendizados.
De acordo com Vygotsky (1989) para que ocorra o desenvolvimento das estruturas mentais superiores,
se faz necessário que o indivíduo realize atividades com conteúdos significativos que serão mediadores
no desenvolvimento da aprendizagem.
A evolução das novas tecnologias da informação e da comunicação tem estado presente em diferentes
setores da sociedade e entre eles o da educação.
Assim, a cada cultura corresponde uma concepção de educação própria, de acordo com os seus valores e
ideossincrasias.
Atualmente, um novo modelo de sociedade tem se configurado e tem sido denominada de ‘Sociedade
do Conhecimento’, ‘Sociedade da Informação’, ‘Sociedade em Rede’ e ainda de ‘Sociedade da
Aprendizagem’.
Assim posto, este projeto considera que para esse modelo de sociedade na qual os processos de
transformações são contínuos, as tecnologias ou as TCIs exercem papel fundamental na busca pela
informação, na visão de mundo, na cultura, nos valores e nas formas virtuais e interativas de
relacionamento e é neste contexto que se processa a chamada cibercultura e do qual a escola
desempenha um importante papel.
Os textos virtuais misturam formas e processos da leitura e da escrita com características próprias, que
provocam modificações no processo de ler e escrever, novos gêneros de escrita e novas estratégias de
leitura são necessárias e tem o computador como mediador. Os hipertextos apresentam inúmeras
possibilidades de leituras, gama de links que fica a critério do leitor a construção do seu percurso como
leitor. Enquanto o texto tradicional propõe ao leitor um percurso fixo de leitura, o hipertexto dá a opção
de construir progressivamente um conjunto de elementos textuais, conforme o interesse pessoal do
leitor, numa imensidão de possibilidades.
Ler e escrever com competência utilizando as diversas linguagens da multimídia, na prática significa
ensinar a ler e escrever utilizando sons, imagens, estrutura, o que alguns autores chamam de
multimodalidade.
Contudo, a utilização da tecnologia em sala de aula é ainda precária, seja pela pouca familiaridade que
os professores têm com essas ferramentas, ou ainda, pelo pouco tempo que dispõem para a elaboração
desse conteúdo.
Assim, o projeto “Multinic” tem como objetivo criar um site com conteúdos educativos produzidos em
múltiplas linguagens, voltados para alunos do Ensino Médio de escolas públicas, em especial dos
conteúdos relacionados à disciplina de Matemática, tendo como base os descritores da Prova Brasil e da
Prova Paraná.
Metodologia
A metodologia a ser utilizada é a da pesquisa qualitativa. Será selecionada uma escola de Ensino Médio
da rede pública pertencente ao NRE – Núcleo Regional de Ensino de Maringá. Serão analisados os
dados referentes ao desempenho em Matemática dos alunos do 1º ano com vista a serem definidos os
descritores a serem trabalhados.
Serão entrevistados os professores que ministram aulas de Matemática para os alunos desses anos
de ensino, buscando identificar quais são as dificuldades e suas possíveis causas diante dos
resultados apresentados.
Será ainda aplicado um questionário com os alunos desses anos de ensino, a fim de identificar as
possíveis causas das eventuais dificuldades que apresentam com o conteúdo da disciplina de
Matemática, bem como sua familiaridade com o uso das ferramentas a serem desenvolvidas:
podcast; audiovisual e texto científico.
Os materiais serão produzidos com o auxílio de alunos voluntários o ensino médio e serão apresentados
aos professores para aplicação com os demais alunos, sob supervisão e acompanhamento dos alunos que
participaram da sua elaboração.
Caso seja necessário, os materiais serão revistos até a versão final que comporá o banco de
conteúdos do site.
Objetivos
Geral
Criar um site com conteúdos educativos produzidos em múltiplas linguagens, voltados para alunos
do Ensino Médio de escolas públicas, em especial dos conteúdos relacionados à disciplina de
Matemática, tendo como base os descritores da Prova Brasil e da Prova Paraná.
Específicos
Resultados esperados
Espera-se que haja um melhor processo de ensino, à medida em que auxiliará o professor no
desenvolvimento de sua aula, uma melhora na aprendizagem dos alunos e consequentemente uma
elevação nos índices de avaliação nesse componente curricular.
Cronograma
Ano/mês 2019 2020
9o 10o 11o 12o 1o 2o 3o 4o 5o 6o
Descrição
Das atividades
Análise dos descritores
x
Orçamento
Serão gastos os valores abaixo discriminados para o desenvolvimento do projeto, a serem custeados
pelo coordenador.
Referências bibliográficas
TORRES, Haroldo da Gama; TEIXEIRA, Jacqueline Moraes; FRAÇA, Danilo. O que os jovens de
baixa renda pensam sobre a escola. In: Estudos realizados em 2012. Estudos & Pesquisas
Educacionais – n. 4, novembro 2013 – Fundação Victor Civita – São Paulo.
JOVCHELOVITCH, S. Os contextos do saber: representações, comunidade e cultura. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2008.
LEONTIEV, A. N. O desenvolvimento do psiquismo. São Paulo: Moraes, 2004.
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. O futuro do pensamento na era da informática. Rio
de Janeiro: Editora 34, 1993
NERI, Marcelo Cortês. O tempo de permanência na escola e as motivações dos sem-escola. Rio de
Janeiro: FGV/IBRE, CPS, 2009.
NISKIER, Arnaldo. Marxismo e Educação. In: Filosofia da educação: uma visão crítica. São
Paulo: Loyola, 2001. (Cap. XI, p.175-186).
OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky - Aprendizado e desenvolvimento um processo sócio –
histórico. São Paulo: Scipione, 1993.
VOLPI, Mário; SILVA, Marida de Salete; RIBEIRO, Júlia (Coord.). 0s desafios do ensino médio no
Brasil: para garantir o direito de aprender de adolescentes de 15 a 17 anos. Brasília, DF: UNICEF, 2014