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MBA – Gestão Estratégica de Negócios - UNISAL

Riller R. Rigonato de Almeida

NOÇÕES DE DIREITO

Prof. Dr. Sérgio Paulo Gerim

Campinas – SP

2012
MBA – Gestão Estratégica de Negócios - UNISAL

Riller R. Rigonato de Almeida

NOÇÕES DE DIREITO

Estudo de Caso:
Paciente morre no atendimento realizado por hospital público e a família pede na
justiça, uma indenização do Estado com base no Código de Defesa do Consumidor.

A família da vítima está amparada pelo CDC? Justifique sua resposta.

Campinas – SP

2012

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A relação entre paciente e hospital, sendo este público ou privado, é regida pela
Lei nº 8.078/90 (código de defesa do consumidor) que em minha opinião é bastante
favorável ao paciente, ou seja, ao consumidor.
Então, estamos falando de uma relação entre Prestador de Serviços versus
Consumidor.
O paciente é um consumidor dos serviços de saúde e, por isto, a ele é devido
respeito e qualidade de serviços, mesmo quando se trate de hospitais públicos,
admitindo-se a incidência das normas para o consumidor, o que é justificado pelo art. 3º
do CDC, que incluiu no conceito de fornecedor também as pessoas jurídicas de direito
público e pelo art. 22 do mesmo diploma legal.

Código de Defesa do Consumidor - Lei nº 8.078 de 11 de Setembro de 1990


Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
§ 1º Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§ 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e
securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias


ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços
adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações
referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a
reparar os danos causados, na forma prevista neste Código.

A prática permitiu classificar o contrato hospitalar em duas modalidades: a


responsabilidade subjetiva e a responsabilidade objetiva. Na primeira, exige-se a culpa,
na segunda pouco importa o elemento culpa, basta a prova do dano e do nexo causal.

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Com a evolução das relações negociais e interpessoais, a responsabilidade
subjetiva vem perdendo espaço para a responsabilidade objetiva. Portanto, todos são
responsáveis por suas condutas e seus atos, quaisquer que sejam estes, ainda que sem a
intenção de prejudicar ou de provocar danos.
Com a vigência da responsabilidade objetiva ampliou-se a segurança nos mais
diversos setores, principalmente, no âmbito da relação de consumo.
A responsabilidade objetiva do hospital está vinculada ao do tipo de obrigação
que se compromete a prestar/cumprir ao paciente, no momento da contratação.
Nesse ponto, vale ressalvar que o contrato firmado dispensa qualquer
formalidade ou pressuposto especial, podendo, portanto, se dar de forma verbal ou
escrita, onerosa ou gratuita.
Esta responsabilidade significa que o hospital se responsabiliza por todas as
etapas da prestação de serviço, podendo ser acionado judicial ou extrajudicialmente
caso alguma fase da obrigação, não esteja de acordo com os padrões normais esperados.
O que de fato se obriga é a prestar atendimento adequado, de qualidade, sempre
utilizando e se servindo de profissionais competentes e de técnicas adequadas.
Embora a responsabilidade do hospital não vá a ponto de garantir a vida ou
assegurar a cura, tem ele o dever de resguardar o paciente de quaisquer conseqüências
que um serviço adequado poderia evitar.
Por se tratar de uma responsabilidade contratual, que decorre de uma relação de
consumo há incidência do CDC, também do seu art. 14.

Código de Defesa do Consumidor - Lei nº 8.078 de 11 de Setembro de 1990


Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa,
pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação
dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição
e riscos.
§ 1º O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor
dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes,
entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.

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§ 3º O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4º A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante
a verificação de culpa.

Diante o exposto acima, chego à conclusão, que todo paciente é um consumidor


dos serviços prestados por hospital, publico ou não, e está plenamente amparado pelo
Código de Defesa do Consumidor.
Assim, é claro que o hospital tem a responsabilidade pelos fatos que
eventualmente possam a vir ocorrer durante o exercício da função médica e assumi
todos os riscos desta ação.
Neste caso, a União ou o Estado também não ficam excluídos desta
responsabilidade, pois mesmo com a implantação do SUS e os hospitais credenciados
por este órgão, estes atuam de acordo com as regras estabelecidas pela União ou Estado,
mesmo ao que diz respeito às práticas e procedimentos médicos. Assim, o Estado
também assume paralelamente o risco e a responsabilidade objetiva.
Desta forma, os pacientes/consumidores, detentores de direitos, podem e devem
se informar e usarem de todas as suas prerrogativas, a fim de buscar seus direitos nos
Tribunais brasileiros.
Porém, nem todos os pedidos de indenização serão enquadrados e atendidos pelo
Poder Judiciário.
Cito o exemplo dos casos fortuitos e de força maior. Embora o poder Judiciário
não tenha clara definição a respeito, é importante mencionar que nos casos fortuitos e de
Força Maior existe a excludente da responsabilidade civil, entendendo que o hospital,
União ou Estado não tinham poder de ação em relação ao fato, desde que tivessem feito
todo o possível para evitá-lo.
A indenização á família da vítima é devida, quando há claramente um defeito na
Prestação do Serviço prestado pelo hospital ao paciente/consumidor, como reza o art. 14
e parágrafos do Código de Defesa do Consumidor.
Portanto, o autor da Ação Judicial, que busca uma indenização do Estado por
morte em hospital público, está sim respaldado pelo Código de Defesa do Consumidor,
mas o recebimento da indenização está diretamente ligado a algum defeito apresentado
durante a prestação do serviço, como já explicado acima.

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Caso a morte do paciente tenha ocorrido, sem que tenha havido erro ou defeito
na prestação de serviço, por exemplo, morte natural ou doença grave e que não tenha
nexo causal com os serviços do hospital, mesmo amparado pelo CDC, não há o que se
falar em indenização à família da vítima.
Abaixo, exemplos de Jurisprudências que mostram as duas vertentes em relação
ao pedido de indenização ao Estado, em caso de morte de paciente em hospital público:

Julgado Procedente
Dados Gerais
Processo: APL 185686220068260161 SP 0018568-62.2006.8.26.0161
Relator (a): Venicio Salles
Julgamento: 16/03/2011
Órgão Julgador: 12ª Câmara de Direito Público / SP
Publicação: 24/03/2011

Ementa:

AÇÃO INDENIZATÓRIA – DANO MORAL E MATERIAL – MORTE EM


HOSPITAL ESTADUAL – EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE DA FAZENDA
DO ESTADO – INFECÇÕES QUE APARECERAM COMO COMPLICAÇÕES DA
DOENÇA DO PACIENTE – NÃO COMPROVADO O NEXO CAUSAI –
SENTENÇA CONFIRMADA RECURSO IMPROVIDO.

Julgado Improcedente
Dados Gerais
Processo: Nº 696.284- RJ (2004/0144963-1)
Relator (a): Ministro Sidnei Beneti
Julgamento: 21/06/2007
Órgão Julgador: Superior Tribunal de Justiça - STJ
Publicação: 21/07/2007

Ementa:

RECURSO ESPECIAL: 1) RESPONSABILIDADE CIVIL - HOSPITAL - DANOS


MATERIAIS E MORAIS - ERRO DE DIAGNÓSTICO DE SEU PLANTONISTA -
OMISSÃO DE DILIGÊNCIA DO ATENDENTE - APLICABILIDADE DO CÓDIGO

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DE DEFESA DO CONSUMIDOR; 2) HOSPITAL - RESPONSABILIDADE - CULPA
DE PLANTONISTA ATENDENTE, INTEGRANTE DO CORPO CLÍNICO -
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO HOSPITAL ANTE A CULPA DE SEU
PROFISSIONAL; 3) MÉDICO - ERRO DE DIAGNÓSTICO EM PLANTÃO -
CULPA SUBJETIVA - INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA APLICÁVEL - 4)
ACÓRDÃO QUE RECONHECE CULPA DIANTE DA ANÁLISE DA PROVA -
IMPOSSIBILIDADE DE REAPRECIAÇÃO POR ESTE TRIBUNAL - SÚMULA
7/STJ.

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