Você está na página 1de 6

1

RECRUTAMENTO E SELEÇÃO

Você assumiu a gerência de uma empresa terrivelmente desorganizada.

A sua admissão objetiva exatamente corrigir as irregularidades existentes.

Para isso, você tem plena autoridade. A sua primeira missão será a de reduzir o seu quadro
de pessoal em 50%. Portanto, dos dez funcionários abaixo, escolha cinco que deverão
permanecer com você para ajudá-lo a cumprir uma importante e inadiável tarefa.

 Sr. A: Tem 50 anos de idade, sendo 20 no emprego. É rabugento, mal-humorado e


lento.
 Srta. B: Secretária, muito bonita, mas de baixíssimo QI. Tem 23 anos, é assídua e
pontual. É péssima digitadora.
 Sr. C: Jovem de 19 anos, de bom potencial, mas bastante indisciplinado e impontual.
Já sofreu várias punições, mas comenta-se que é apadrinhado por um Diretor.
 Sr. D: Sujeito muito competente, apesar de muito nervoso e violento. Tem o mau
hábito de gritar com as pessoas.
 Sra. E: Excelente digitadora, mas muito fofoqueira. Ocupa o telefone o dia inteiro,
batendo papo e fazendo fofocas. Além disso, tem a saúde fraca, o que a faz
ausentar-se com frequência.
 Sr. F: Economista, excelente na área econômica / financeira. Contudo, tem o vício
da embriagues, o que o faz ausentar-se e ser grosseiro com as pessoas.
 Sr. G: Ex-toxicomaníaco, recém saído do tratamento. Admitido a menos de um mês,
ainda não mostrou suas qualidades.
 Srta. H: escrituraria bilíngue. Não leva o trabalho muito a sério, pois seu sonho é ser
atriz de cinema. Nos últimos doze meses, mudou de emprego quatro vezes.
 Sra. I: Viúva de 59 anos. Excelente arquivista, a mais antiga da firma. Tem sérios
problemas cardíacos, em razão dos quais não pode ser contrariada.
 Sr. J: Passa o dia contanto piadas ou fazendo brincadeiras de mau gosto. Sua única
vantagem é a força física descomunal que possui, muito útil para trabalhos pesados.
É muito preguiçoso.
2

DEBATE - A ARTE DE DEMITIR PESSOAS

Tomar decisões com pessoas é algo que pode está acima do estudo de números
ou estatísticas.
A maioria das decisões envolvem respeito, cordialidade, dignidade e muita calma,
sempre considerando que grande parte dos relatórios não destacam “os valores” que
formam o caráter dos profissionais de nossas empresas.
Grande parte das ações trabalhistas se dão devido ao mal direcionamento do
processo demissional.
Sou testemunha de muitos ex-colaboradores que amam a empresa, mas continuam
magoados com algumas pessoas que conduziram de forma errônea, os últimos momentos
na relação empregado/patrão.
Quando tomamos decisões, devemos pensar nos seguintes aspectos:
1. Essa é a decisão correta?
2. Se for a decisão correta, é o tempo certo de tomar essa decisão?
3. Se for a decisão correta e estiver no tempo ideal, qual é a forma adequada de conduzir
essa decisão?
Quando tomamos esses cuidados, reduzimos:
1. A possibilidade de causas trabalhistas motivadas por rancor;
2. A margem de recusa para esclarecimentos diante de dúvidas nas atividades exercidas
pelo Colaborador desligado;
3. O risco de denúncias incabíveis e anônimas para Sindicatos e Órgãos interligados;
4. O risco de propagação negativa da imagem da empresa no Mercado de Trabalho;
5. O risco de ter o Colaborador desligado dando suporte testemunhal em causas de
terceiros contra a empresa.
Por isso é importante que o RH esteja preparado para administrar de forma sábia
e humana, os processos rescisórios. Sempre visando o zelo pelo ser humano por trás do
cargo. Tenhamos a certeza que o compromisso com as empresas deve está de mãos dadas
com o respeito e a dignidade do profissional.
Por fim, deve ficar claro que o RH não pode assumir a condição de oferecer o “risco
zero” as organizações, mas deve garantir que, seguindo os passos anteriores, reduzirá
consideravelmente tais riscos. O importante pensador Alemão Karl Marx alerta que “A
desvalorização do mundo humano aumenta em proporção direta com a valorização do
mundo das coisas”.
Por isso, é importante ter o cuidado de sempre enxergar a pessoa por trás do cargo,
mesmo que seja no desenrolar de um processo rescisório.
3

DEBATE - ARTE DE DEMITIR


Áurea Grigoletti – Psicóloga com especialização em RH e Negócios

Há alguns anos, trabalhava numa empresa quando em meio a uma reunião, uma das
gerentes solicitou um “treinamento para aprender a demitir pessoas” e acrescentou: “Você precisa
nos ensinar a mandar embora porque não sabemos fazer isso. Chego a ficar dias sem dormir quando
tenho que demitir alguém. Não é nada fácil para mim e penso que não seja fácil para nenhum de
nós. Você precisa treinar a gente.”
Não me contive e, quase que emocionada dei-lhe parabéns e acrescentei: Fico feliz por
saber que você sofre quando tem que demitir alguém. Você deve ser uma ótima gestora, porque
bons gestores não gostam de demitir; gostam, sim, de desenvolver pessoas, recuperar as que não
estão se saindo bem e, quando todas as tentativas já foram feitas e não houve solução, demitem,
mas com dor no coração, porque sempre resta alguma dúvida sobre o que pode ter feito de errado
para não conseguir ajudar aquela pessoa a se ajustar ao que era preciso.”
Lembro-me bem de um episódio ocorrido nos anos 1980, quando trabalhei como Chefe de
Treinamento numa grande empresa do ramo de máquinas pesadas – passava a maior parte do meu
tempo em sala de aula; nossos treinamentos eram dirigidos aos funcionários e também aos clientes
e para isso, contava com uma grande equipe que, conforme cresciam as vendas, também tinha que
crescer e, com certa frequência recebia alguém que não estava dando certo em outra área. E
treinava, e orientava, e dava feedback constantemente, e todos, sem exceção, durante o período
em que estive por lá, se saíram bem.
Certo dia, conversando com o Diretor Comercial a respeito de um Programa de
Desenvolvimento Gerencial que iria realizar para o time, comentei sobre a programação e
cronograma, ajustamos alguns pontos e antes de sair, não resisti e pedi-lhe um feedback sobre o
meu trabalho, e tive o prazer de ouvir que “se a principal função do gestor, como você diz em seu
programa, é desenvolver pessoas: você é a melhor gestora que temos aqui”. Ganhei na loteria
naquele dia! Fiquei muito feliz, especialmente porque tive a certeza que ele prestava atenção
naquilo que eu falava em nossas reuniões e treinamentos.
Demitir não é mérito e não pode dar prazer. Sei que há situações onde não se tem o que
fazer – fases ruins das empresas, momentos de ajustes e reestruturação, e, inclusive, aquelas em
que nos deparamos com pessoas até superiores ao que precisamos, ou pessoas que não se ajustam
aos padrões e valores da empresa e temos que fazer as mudanças cabíveis. Mesmo assim, ainda
que haja motivo mais do que suficiente para a demissão, há que se pensar: “O que fiz ou o que não
fiz que me levou a isso? O que poderia ter feito de diferente, que talvez mudasse o rumo das coisas?
Como fiz o processo seletivo desta pessoa? Se ela já teve bons momentos, bom desempenho, bons
resultados, o que pode ter provocado a mudança? O que farei da próxima vez para não ter que
passar por isso novamente?”
A maioria das pessoas que conheci não sabe e não gosta de demitir pessoas – que bom!
Algumas, porém, sabem muito bem como fazê-lo e, pior, comemoram como se fossem ótimas
gestoras de gente. Pessoas assim, quero crer que nem gente sejam.
Recentemente ouvi uma história deprimente. A secretária de um alto executivo de uma
empresa estava de saída do trabalho quando ouviu um estrondo, voltou assustada e se deparou
com 4 ou 5 pessoas, ao redor do tal executivo, que comemorava com champagne o desligamento
de um Diretor com quem tinha trabalhado por mais de 5 anos, na mesma empresa; aliás, o executivo
ao qual me refiro, em cargo superior ao do Diretor desligado, tinha autonomia para fazê-lo muito
tempo antes.
A última informação me levou a pensar se, na verdade, demitido, não deveria ser, em
primeiro lugar, o tal alto executivo, incompetente que foi para contratar, manter e só depois de
muito tempo, convencido que o rapaz nunca serviu para o que foi contratado, substituí-lo.
4

Se o tal Diretor era tão ruim para que houvesse uma comemoração na sua saída, pior era
o executivo que não o fez muito tempo antes.
Aliás, comemorar a saída de um alto executivo, chega a ser uma grande falta de
comprometimento para com os negócios da empresa, tendo em vista os altos custos de uma
demissão.
Demitir faz parte do negócio, mas “arte” não o é. Artistas produzem arte, arte pressupõe
algo belo e bom; alguns executivos são artistas na função de liderar, produzem bons resultados,
produzem arte.
Demitir alguém não pode ser considerado arte, na medida em que produz dor, sofrimento,
tristeza e nada disso é belo ou bom.
Se demitir fosse uma “arte”, cartas de demissão estariam expostas no Museu de Arte
Moderna.
5

DEBATE - A DIFÍCIL ARTE DE DEMITIR


Jerônimo Mendes, 24 de novembro de 2014

Demitir é um processo delicado que exige equilíbrio e maturidade, tanto para quem demite
quanto para quem é demitido. Em geral, essas virtudes nunca estão presentes quando mais se
precisa delas, razão pela qual as demissões são verdadeiros desastres que destroem a autoestima
das pessoas em vez de projetá-las para um futuro melhor.
Há quinze anos eu vivi o período mais difícil da minha vida profissional quando, por
determinação da matriz, recebi a triste notícia de que a área que eu coordenava seria transferida
para outro Estado, portanto, eu teria que desmobilizar a equipe, exceto aqueles que aceitassem a
transferência para lá sem qualquer benefício adicional.
Em menos de três meses, fui obrigado a demitir quase toda a equipe que eu havia dado um
duro danado pra consolidar. Éramos praticamente uma “família” que se desmantelou da noite para
o dia.
Na prática, eu, o “paizão”, pouco pude fazer pelos “filhos”, porém, graças ao talento natural
e à incrível capacidade de adaptação do ser humano, todos sobreviveram e hoje são excelentes
profissionais em diferentes empresas e áreas de atuação.
Confesso, eu chorei um jarro de lágrimas e voltei pra casa o mais rápido possível quando
fui demitido pela primeira e última vez. Graças a Deus, fui bem recebido e ainda ganhei os melhores
presentes alguém pode desejar nesta condição: carinho e abraços.
Demitir é quase uma arte, afinal, não conheço ninguém que tenha sido treinado para isso,
mas o fato é que, em cargos de liderança, não há como escapar dessa difícil tarefa cuja
responsabilidade não pode ser transferida.
Como foi dito no início, demitir é algo que exige equilíbrio, bom-senso e maturidade, coisas
que apenas o tempo é capaz de proporcionar, depois de muitos erros e acertos em termos de
demissão.
Portanto, compartilho aqui algumas lições que me foram extremamente úteis nesse
sentido e espero que sejam úteis quando precisar delas. Vejamos:
1. Pare de enrolar: a decisão está tomada, não tem essa de ficar esperando mais um tempo para
ver se a pessoa melhora; se você já prestou um feedback realista, já deu uma, duas ou três
oportunidades e já discutiu internamente, esperar mais do que necessário significa prorrogar o
sofrimento de ambos os lados.

2. Assuma a responsabilidade: você participou da seleção e da contratação, treinou o profissional,


prestou feedback, deu a ele várias oportunidades de melhoria e, mesmo assim, ele não conseguiu
se desenvolver, portanto, nada de empurrar a bomba para o RH; você, o líder, é o único responsável
pela demissão; se necessário, solicite a participação do RH, mas não transfira a responsabilidade.

3. Ajuste os preparativos: reúna os dados, alinhe com o RH, defina detalhes, ajuste o que for
necessário – horas extras pendentes, extensão de benefícios, carta de demissão, bloqueio de
sistemas etc. – e mantenha sigilo até o dia da demissão.

4. Tudo tem a sua hora e o seu local: quando tiver que fazê-lo, faça-o em local reservado,
preferencialmente, longe da equipe para evitar constrangimentos desnecessários; quanto ao
horário, depende do gestor, mas eu preferia ao fim do expediente, longe dos olhares do grupo e, na
6

maioria dos casos, antes das férias para evitar que a pessoa torre a grana nas férias, volte zerado e
ainda receba a infeliz notícia da demissão.

5. Trate bem as pessoas: seja gentil e transparente, mas não tripudie, é um momento difícil para
ambos, a menos que você seja desprovido de hormônios; qualquer reação diferente disso pode
acirrar os ânimos e terminar em acusações ou insultos.

6. Pare de inventar: não tente justificar o injustificável, portanto, se você não quer ou acha que não
pode dizer o motivo, seja simples e direto: a partir de hoje, você não faz mais parte do quadro de
colaboradores da empresa, portanto, quero agradecer pelo trabalho realizado até agora e lhe
desejar boa sorte na sua próxima caminhada.

7. Prepare-se para o inesperado: se ouvir algo que não lhe agrada, mantenha-se frio feito gelo e
flexível feito bambu, ou seja, administre suas emoções e esteja disposto a ouvir, mas não revide,
afinal, se a decisão está tomada, o que você disser e ouvir não deve alterar o resultado.

8. Evite desculpas e promessas: não há o que desculpar nem o que prometer, afinal, se você errou,
vai aprender com o erro e fazer diferente da próxima vez; prometer alguma coisa só é possível
quando você tem poder decisão ou quando a política da empresa permite, portanto, não tente
corrigir o problema prometendo algo que não pode cumprir.

9. Paciência, paciência, paciência: nesta hora, dois ouvidos são mais importantes do que uma boca,
portanto, mantenha a calma para que a dor e raiva sejam diluídas com um pouco mais de tempo;
na medida em que a pessoa vai falando, ela tende a refletir e absorver melhor a situação.

10. Alinhe a equipe: não deixe que a equipe conspire no corredor, seja o primeiro a comunicar o
fato sem tripudiar sobre o demitido e aproveite para realinhar suas expectativas em relação ao que
se espera deles a partir do ocorrido.

Há pouco tempo eu fui ministrar um treinamento para líderes de uma grande empresa
paranaense e, para minha surpresa, uma profissional demitida por mim naquela difícil missão de
quinze anos atrás fazia parte do grupo participante.
Não havia como renegar o fato, mas ao relembramos o assunto, ela simplesmente
declarou: você foi tão gentil e elegante que eu fui para casa com uma sensação de alívio.
Você pode ser chefe, supervisor, gerente ou diretor, metido a durão ou o todo-poderoso
da empresa, mas isso não lhe dá o direito de ser cruel. Profissionais são, acima de tudo, seres
humanos.
Pense nisso e empreenda mais e melhor!

Você também pode gostar