Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
paula.ribeiro@fau.ufrj.br
Resumo
A cidade de Caeté, localizada a 60 quilômetros de Belo Horizonte, se formou em 1707 motivada pela
exploração aurífera, por consequência possui um núcleo histórico reconhecido, com exemplares de
arquitetura colonial como a Igreja Matriz Nossa Senhora do Bom Sucesso. Com o esgotamento do
ouro, em 1715, o até então povoado entrou em decadência, vindo a se reestabelecer por meio da
industrialização, tendo como precursora a fábrica Cerâmica João Pinheiro, criada em 1844. Além do
importante passado colonial, a morfologia urbana atual foi motivada especialmente pela
industrialização da segunda metade do século XX. Teve como protagonista a siderúrgica Companhia
Ferro Brasileiro, indústria especializada em tubos de ferro fundido fixada na região no ano de 1925.
Essa enfrentou crises econômicas em suas últimas décadas de atuação que ocasionaram seu
fechamento em 1995. Dessa forma, a cidade dispõe de importantes elementos da era fabril,
presentes desde estações ferroviárias, bairros operários e estruturas de antigas fábricas. Devido às
recessões, os equipamentos encontram-se subutilizados, o que ameaça a preservação de tal
memória tão viva na identidade Caeteense. O presente artigo busca identificar tais bens, seus
mecanismos de preservação e estado de conservação, bem como discutir suas inserções na
dinâmica atual da cidade.
Breve Histórico
A região hoje conhecida por Caeté tem seu nome ligado a seus povos originários, em
tupi possui o significado de “mato verdadeiro”, “mata virgem”. O bandeirante Leonardo
Nardez é considerado o pioneiro na exploração do território e identificação do seu potencial,
no ano de 1701. Como consequência, outros indivíduos foram atraídos para a região,
fazendo com que o núcleo tivesse um número considerável de pessoas já em 1704. Na
história de Caeté destaca-se a guerra dos Emboabas, conflito que teve como gênese as
divergências culturais e disputas de território entre paulistas e os recém-chegados
portugueses. O conflito iniciado em 1707 foi somente solucionado após intervenção do
governador das províncias reunidas do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, na data,
Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho. A região foi elevada à categoria de Vila em 1714
devido a seu desenvolvimento. Porém, já em 1715, a recente Vila Nova da Rainha do Caeté
apresentava retração em sua economia, intensificada pela supressão econômica sofrida
devido à participação na Inconfidência Mineira, que ocasionou rebeliões acerca da cobrança
do quinto do ouro (VITORIANO, 1985), como já indicava a Enciclopédia dos Municípios:
Por último, outro destaque da primeira leva industrial foi José da Silva Brandão. O
engenheiro, por meio de doações de seu amigo Dr. Israel Pinheiro da Silva, neto de João
Pinheiro, obteve terreno para sua empreitada em área suburbana. Ainda com capital
limitado, fundou em 1925 a siderúrgica J. S. Brandão e Cia com outros dois diretores,
Euvaldo Lodi e Adelmo Lodi. Essa prosperou principalmente com a venda das ações da
Companhia para grupos internacionais em 1936, passando a renomeada Companhia Ferro
Brasileiro a possuir diretoria majoritariamente internacional. Sua consolidação promoveu
uma significativa expansão urbana (VITORIANO, 1985). As duas últimas fábricas citadas se
tornaram peças chave na economia da cidade:
Figura 1 - Vista para o Centro Histórico de Caeté, 1967, em destaque Estação Ferroviária. Fonte:
IBGE.
A área escolhida para sua fixação já possuía estrutura fabril de uma indústria
anterior. João Pinheiro, visando o melhoramento das instalações já pré-estabelecidas,
encomendou estudos para o aperfeiçoamento do maquinário, que se mostraram primordiais
para a diferenciação positiva de seus produtos. O documento final deste estudo trazia como
sugestões “a utilização de um forno projetado pela Escola de Minas, bem como a
construção de outros dois ou três; o emprego de esmaltes mais apropriados, e o uso de
moldes de madeira” (PREFEITURA MUNICIPAL DE CAETÉ, 2009, p.38). Em 1905 a fábrica
já contava com “os fornos redondos, os cinco quadrados e a chaminé de Pito Aceso”
(VITORIANO, 1985, p.51).
É importante pontuar, no entanto, que não somente a porção delimitada como área
de tombamento possui características industriais. Os terrenos adjacentes a esse também
possuem galpões industriais e até mesmo uma chaminé cuja verticalidade destaca-se na
paisagem. Neste conjunto, o terreno central, hoje pertencente a CPRM, já foi endereço da
Companhia Mineira de Metalurgia, posterior Barbará, inaugurada em 1928 (JORDÃO, 1995).
Imagens do Google Street View apontaram para a existência de um pequeno conjunto de
residências unifamiliares típicas das construções da segunda metade do século XX em sua
parte frontal. Hoje o local contém um bloco monolítico de dois andares, que abriga o
laboratório LAMIN – Caeté inaugurado em 2017 (CPRM, 2017), mantendo galpão industrial
aos fundos. Em complementação, fontes orais afirmam que a Cerâmica João Pinheiro já
englobou todo o complexo, e não apenas o terreno de esquina.
Esta afirmação pode ser considerada incoerente, principalmente pelo fato da estação
ferroviária de Caeté estar presente no entorno em questão (apêndice A). Também se
encontram presentes, do outro lado da via, exemplares testemunhos da arquitetura
residencial do início do século XX. Apesar do exposto, os registros presentes no Dossiê são
de extrema importância principalmente por se tratarem de uma estrutura ameaçada. Seus
responsáveis alertam para a avançada deterioração das estruturas de modo geral, estando,
segundo o documento, setenta por cento em estado ruim de conservação. Os maquinários
são parte importante do complexo e estão sujeitos a ação do tempo e furtos. Se enxerga
potencial turístico para o lote, motivado principalmente pela proximidade do centro histórico.
A relação de vizinhança estabelecida com o Solar do Tinoco, que abriga o Museu Casa de
João Pinheiro e Israel Pinheiro, é um reforço para tal. (PREFEITURA MUNICIPAL DE
CAETÉ, 2009)
Tambasco (2008) aponta que a decisão de se construir a Cerâmica João Pinheiro foi
impulsionada pela presença da linha férrea nas proximidades. O mesmo ocorreu com a
Companhia Ferro Brasileiro que foi instalada nas adjacências de uma segunda estação,
conhecida como Gorceix, inaugurada em 1922. O seu fundador, José Brandão, esteve
associado à colocação do ramal da EFCB ainda em 1922, vislumbrando assim o potencial
mineralógico do subúrbio do município (VITORIANO, 1985). A sede da sua indústria
encontrava-se inicialmente em Belo Horizonte, de forma que a usina caeteense em
específico se chamava Gorceix em homenagem ao fundador da Escola de Minas, Henri
Gorceix. A companhia fabricava apenas ferro-gusa até 1937, quando adquire tecnologia
para a produção de tubos centrífugos por meio de associação a um grupo francês. O
aprimoramento teve bom retorno do mercado, o que ocasionou a mudança da sua sede
para Caeté e sucessivas expansões. (JORDÃO, 1995)
E ainda:
Figura 3 - Bairro Operário de José Brandão, s.d.. Fonte: Grupo do Facebook “Caeté já teve”.
É válido ressaltar que o perímetro de entorno não engloba a totalidade do que foi a
Companhia Ferro Brasileiro, porém inclui as ruínas de seu núcleo principal ao qual faz
divisa. Quanto à região, o documento pontua:
Arthur Limar Junior, em seu livro “O que há para se ver em Caeté”, demostra o
espírito otimista e desenvolvimentista que vivia a cidade conforme a Companhia Ferro
Brasileiro progredia:
Contudo, existem outras edificações relevantes que não fazem parte do patrimônio
protegido de Caeté, dentre elas destacam-se as Ruínas das instalações principais da
Companhia Ferro Brasileiro inclusa no entorno do Anexo Administrativo, o edifício de sua
Antiga Fundição, a estação Gorceix, e o Hospital Adelmo Lodi. Além dos galpões fabris
adjacentes a Cerâmica João Pinheiro contemplados pelo entorno da Cerâmica João
Pinheiro e em partes pelo entorno da Estação Ferroviária.
Conclusão
Referências Bibliográficas
TAMBASCO J.C.V., Caeté: Uma história sem retoques. Encarte Especial no Jornal Opinião,
Caeté, 14 fev. 2008. P 2-20.