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Não creio haver, para quem me acompanha, muito
mistério quanto à serventia de lhes ministrar algumas
aulas de português:
Sejam muitíssimo bem-vindos,
É que a coisa está feia. Muito feia.
finalmente, ao nosso
Mais feia do que bater na mãe por causa de mistura.
Depois,
volte aqui.
Nós, todos nós (eu, tu, ele, nós, vós, eles) sofremos
duma séria incapacidade linguística.
A GRAMÁTICA NÃO É UM HOBBY. Não é Sem a ligação afetiva e o respeito à língua, o estudo
um simples meio para o fim almejado; da gramática haverá de ser sempre estéril e um puta
uma camisinha que se descarta depois PÉ NO SACO.
de alcançado o gozo supremo de um
cargo público ou vestibular gabaritado. Assim como seria um puta pé no saco estudar
Quando você abre uma gramática (já medicina sem dar a mínima para o ser humano.
lhes darei algumas recomendações) e
se depara com aquelas terminologias A Gramática do Português é, em certo sentido, o
esfíngicas e nomes bizarros que vão se próprio Português.
multiplicando feito coelhos no Carnaval
do Rio de Janeiro — o que está vendo? Existem, nessa frase, muitos poréns e problemas?
Sim.
É isso que
tentaremos
fazer hoje.
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Depois, hei de entrar no assunto que teria sido o Se for até o Youtube, o único lugar (por enquanto)
complemento da primeira aula, mas terá serventia onde há conteúdos mais sistemáticos, ainda assim
infinitamente maior se for exposto após as não se encontra um só vídeo que discuta a natureza
informações que virão a seguir. e importância da gramática, delimitando SEU fim
além de seus meios e mecanismos internos.
Segundo — ainda tendo o prof. Nougué como guia Quarto, o surgimento e vertiginoso crescimento
—, houve na década de 70 uma reforma educacional da linguística, que sem demora começou a invadir
empreendida pelos militares positivistas com um só o terreno da gramática e minar-lhe a autoridade
fim: transformar a educação numa força capaz de (quando não negava, sem rodeios, a própria validade
criar bons profissionais. da sua existência enquanto disciplina).
“Ferdinand Brunot queria que a escola ensinasse Consulte as gramáticas para tirar ESSAS dúvidas.
a língua e não a gramática. Todas as pessoas
sensatas devem querer o mesmo. O que importa é o 2 - Descubra qual é a hierarquia dos estudos. Isso
conhecimento da língua, e não de nomes ou teorias. faremos precisamente aqui, no CF. Não abordaremos
E conhecer a língua é saber usá-la com adequação todos e quaisquer pontos da gramática — só os que
e justeza, e não analisá-la ou decorar regras me parecem mais importantes para, a um só tempo,
fantasistas”. — Celso Pedro Luft, Gramática Resumida dar-lhes uma base razoavelmente sólida e melhorar,
já agora, sua escrita.
Se você apenas escolher uma gramática a esmo,
derramar a bunda sobre uma cadeira e resolver lê-la 3 - (E essa dica VALE OURO): prestar atenção às
de cabo a rabo, tenho más (ou boas) notícias: você nomenclaturas, em vez de por elas apenas passar
não vai conseguir. correndo ou só enfiá-las na cabeça à força de cega
decoreba.
Até hoje, eu mesmo não li uma só gramática inteira.
AULA 3
A primeira lição de hoje é: consultar gramáticas Fujam da gramática de Evanildo Bechara. Por
deve se tornar um hábito. que é ruim? Não. Por que Bechara não é confiável?
Não.
Você não deve se sentir um analfabeto se estiver
vasculhando as páginas de um volume qualquer É que sua gramática foi escrita para outros
para não deslizar na conjugação dum verbo ou saber estudiosos. Não é uma gramática para estudantes, e
quando usar um pronome reto ou oblíquo. sobretudo não se destina a leigos e simples falantes
do português, como nós, que estão querendo
Por definição e experiência própria, digo-lhes com dominar melhor sua própria língua.
toda a certeza que só não sente dúvidas sobre
o português QUEM NÃO SABE QUASE NADA DE É uma gramática cheia de questiúnculas periféricas,
PORTUGUÊS. escrita num português acadêmico e científico que não
é lá muito convidativo.
A Fonologia também define e classifica as vogais e Saber se uma consoante é “oclusiva”, “vibrante” ou
consoantes, além de estudar como funcionam os “lateral” é quase perfeitamente irrelevante para o
encontros fonêmicos — isto é, em vez de só estudar usuário normal da língua. Quanto à acentuação, o
os fonemas separadamente, vai lá e os observa em melhor jeito de acertá-la é ter muito contato com
ação, todos juntinhos numa palavra. quem escreve bem e fazer consultas a qualquer
dicionário, sempre que surgirem dúvidas.
Caem sob sua jurisdição as sílabas e o estudo da
Tonicidade (vale lembrar que as palavras só têm Eis o ponto: saber como funcionam os mecanismos
sentido quando existe uma sílaba tônica e ela está sonoros da língua não é tão importante e frutífero,
posta no lugar certo. O significado mesmo de uma NA PRÁTICA, quanto compreender as classes
palavra dita só existe se a ênfase da voz recair gramaticais ou dominar um tiquinho a análise
sobre este ou aquele grupo de letras. Um troço bem sintática.
importante e curioso).
Quando se trata do som, é mil vezes mais importante
Depois, vêm a Ortoépia (que se ocupa da correta treinar o ouvido esteticamente do que se entupir de
pronúncia dos fonemas: tanto de palavras soltas conceitos sobre o funcionamento fônico duma língua.
quanto da ligação sonora adequada que deve haver É mais importante você ler uma frase, reproduzi-
entre uma palavra e outra); la mentalmente e conseguir dizer: “isso SOA
HORRÍVEL”, do que ter na ponta da língua que uma
AULA 4
Classes Gramaticais e
Substantivos
CLASSES GRAMATICAIS
E SUBSTANTIVOS
Na última, pus de lado o estudo pormenorizado da Já Platão e Aristóteles tinham notado que havia
Fonética e Fonologia e lhes expliquei meus porquês. basicamente dois TIPOS de palavras. Isto é, que
palavras diferentes exerciam funções IGUAIS. Eram
Agora, pois, entremos no estudo da primeiríssima elas os SUBSTANTIVOS e os VERBOS.
área gramatical que exige nossa atenção. Estudá-la e
entender como funcionam seus mecanismos internos Com o passar do tempo, foi-se aprimorando o estudo
haverá de ter efeitos REAIS e IMEDIATOS sobre o e, no caso do português (pois há outras línguas com
uso diário da língua. mais ou menos classes), chegou-se a DEZ TIPOS de
palavras.
Não, não é a Ortografia (mais comentários sobre a
pobrezinha later). Sim. As classes gramaticais são DEZ. Algumas bem
curtinhas, outras um pouco mais longas.
Estou falando das CLASSES GRAMATICAIS.
Saber mais ou menos para que serve (o que, no
“Raul, meu Deus do céu, já começaram aqueles fundo, é o critério que se usa para classificá-las) cada
termos bizarros, sobre os quais não entendo uma delas já lhes será de ENORME AJUDA para saber
bulhufas e cuja compreensão está reservada a muito mais sobre a língua. É a primeira porta de
uma casta de gênios, aiputamerdatôpassandomal e entrada que lhes prometi.
xfaegegsgsngsoihgsuehaca”
São elas:
PALMA! Não priemos cânico.
SUBSTANTIVO
Como diria o Bane, do terceiro filme (lixo) da trilogia ADJETIVO
do Batman: VERBO
PRONOME
“Now is not the time for fear. That comes later”. NUMERAL
ARTIGO
CLASSES GRAMATICAIS quer dizer, pura e ADVÉRBIO
simplesmente, “grupos ou conjuntos organizados de PREPOSIÇÃO
palavras”. Quer dizer que as mais de 400 mil palavras CONJUNÇÃO
(!!!!) do português cairão, forçosamente, em uma INTERJEIÇÃO
Ou seja, não sabia DE VERDADE para que servia A mesma coisa dá-se infinitamente com todas
um pronome, uma conjunção ou até um adjetivo. as demais classes de palavras. Se você aprendê-
O resultado era eu ficar completamente perdido las direitinho, uma enormidade inacreditável de
quando lia a explicação de algum gramático, toda ela problemas NÃO SURGIRÃO. Assim como não
fazendo referência (óbvia e inescapável) às classes surgiriam para um pedreiro que sabe exatamente
de palavras. o que car**** fazem todas as suas ferramentas, e
conhece-lhes todas as potencialidades.
Se você não tem a mínima ideia do que é uma
preposição, por exemplo, certas explicações não lhe Portanto, o que eu farei nas próximas aulas é
explicarão nada. repassar com vocês, uma a uma, todas as dez
classes gramaticais.
Exemplo: a mania, contrabandeada da sintaxe do
inglês, de terminar as frases com “sobre”. Dias atrás, Já adianto: no que toca ao nosso aprendizado, elas
li no Instagram a seguinte frase: “…a importância do não têm todas a mesma importância. As duas mais
discernimento entre as coisas que temos controle importantes são o SUBSTANTIVO e o VERBO, porque
sobre e as que não temos controle sobre”. constituem a base das frases. Sem as duas, nada
feito.
Se você souber direitinho o que é uma preposição, a
falta de noção do que se lê acima fica-lhe evidente só Entre o substantivo e o verbo, a que mais nos tomará
Outras classes, como os numerais, os artigos Também seres imaginários, fabulosos. Seres como as
e as interjeições são tranquilíssimas, e descem sereias, os unicórnios ou o Zé do Caixão.
redondamente pela garganta do intelecto até o
estômago da compreensão (patrocínio, SKOL). E aí vem uma pergunta:
Comecemos com o tipo de palavras mais antigo de BELEZA, por exemplo, é substantivo ou
todos. adjetivo?
Tão antigo, a bem dizer, que foi nosso pai Adão o Como você viu, BELEZA é um substantivo. Mas que
primeiro a usá-lo. raios de SER é BELEZA? Não é um bicho imaginário
ou algum objeto material. Não é uma pessoa. Mas é
E disse Deus a Adão, em meio a sei lá quantos alguma coisa (e aqui entramos em uma das muitas
bilhões de bichos, que iam desde chiuauas até maravilhosas confluências que há entre o estudo
Tiranossauros Rex, no Jardim: “dê nomes a todos da linguagem e a filosofia; o estudo da realidade
eles.” mesma).
Vamos começar com o SUBSTANTIVO. Ora, dizer que “Henry Cavill é belo” (o desgraçado
fica mais bonito do que 99% da humanidade com a
“Raul, TODO MUNDO sabe o que é um substantivo”. desgraça dum BIGODE) não é a mesma coisa que
repetir a célebre frase, atualmente descolada entre a
Sabe mesmo? gente conservadora: “A Beleza salvará o mundo”.
Comuns: os que designam seres da mesma espécie. Uma clareza até ali insuspeita começará a surgir-lhes
Cavalo, menino, computador (há vários cavalos, na inteligência. Eu lhes garanto.
meninos e computadores)
OBSERVAÇÃO:
Próprios: os que se aplicam a um ser em particular.
Só existe um Ronaldinho Gaúcho no mundo; não existe, na língua portuguesa, uma coisa chamada
aguentaríamos dois homens de tamanha qualidade; SUBSTANTIVAÇÃO. Ocorre ela quando uma palavra
que originalmente NÃO ERA um substantivo age,
Simples: os que são formados de um só radical. vejam só, como um SUBSTANTIVO.
Chuva, pão, lobo
Exemplo: “O cantar dos pássaros alegra a manhã”.
Compostos: os que são formados por mais de um “Cantar”, originalmente um verbo, aí aparece
radical. Guarda-chuva, passatempo, beija-flor. substantivado. Funciona como “canto”. Também as
palavras substantivadas vocês têm que se treinar
Primitivos: os que não derivam de outra palavra da para perceber, a partir de agora.
língua portuguesa. Pedra, ferro, dente, trovão.
Uma dica importantíssima é: para que possam ser
ou dum pronome (“eu não aceito seu não como Substantivos podem funcionar às vezes como
resposta). adjetivos. Não lhes expliquei isso na aula e pus
a pergunta aqui para testá-los mesmo. Não se
NÃO SE PREOCUPEM com decorar todos os tipos de preocupe se você, amigo ou amiga, errou esta aqui.)
substantivos. O mais importante é, repito, vocês
treinarem sua percepção. Hoje paramos por aqui, meu povo. Espero que
tenham gostado da aula, e que o conteúdo lhes tenha
Treinem seus olhos para identificar os substantivos ficado claro. Caso contrário, enviem-me mensagens.
e, repito (de novo): uma clareza que chega a ser
estranha começará a surgir, e não só na leitura de Se a aula foi boa, peço-lhes o de sempre: pintem
vocês. Nas suas cabeças. Uma ordem maravilhosa. alguma tela de que gostaram bastante e a
compartilhem nos seus perfis!
E, para ajudá-los com isso, vamos a alguns
exercícios: Até amanhã!
É o eixo em torno do qual gira toda a análise Ninguém “faz” Beleza. Faz alguma coisa que é bonita.
sintática. Seu ponto de partida; Pintar um quadro, por exemplo.
São as palavras que, sozinhas, dizem QUEM fez o Mas não é só isso.
QUE (ou o QUE aconteceu a QUEM), e QUANDO.
[Enquete]
Senhooooooooooooras e Senhoooooooooooores:
“Ontem choveu”. Há um verbo na frase?
Subindo ao ringue do Intensivão, pesando sei lá
quantos incontáveis quilos (com suas milhares de Sim. “Choveu” é um verbo. Verbo sem agente.
palavras), a Classe Gramatical que já fez muita Designa ele um fenômeno da natureza.
gente beijar a lona e todos os dias nocauteia sem dó
usuários incautos da língua portuguesa: “Tenho estudado bastante português”. Tenho é um
verbo?
Os VEEEEEEEEEEEERBOS (plateia vai à loucura)
Sim. É um verbo auxiliar: tem a função de juntar-
Como no caso do substantivo, hei de dar ênfase às se às formas nominais de outros verbos para criar
partes e características do verbo que me pareçam coisas como a voz passiva (“foi ferido” em vez de
mais imediatamente úteis a vocês, assim como foram “feriu”), os tempos compostos (“tinha chegado”) e as
a mim. locuções verbais (“hei de + verbo”).
Vamos começar, portanto, pelo inescapável: “Faz dois anos que eu criei esta minha conta do
sua DEFINIÇÃO. Instagram.” Além de “criei” existe algum outro
verbo?
“Raul, verbos não são ações?”
Sim, o verbo impessoal “faz”, que aí está designando
Sim, são. Jogar bola, esmurrar alguém, piscar os tempo transcorrido.
Vamos, portanto, de Cegalla: “Verbo é uma palavra Comecemos com suas cinco possíveis flexões.
que exprime ação, estado, fato ou fenômeno.
PESSOA
Ou de Celso Cunha e Lindley Cintra: “Verbo é uma NÚMERO
palavra de forma variável que exprime o que se TEMPO
passa, isto é, um acontecimento representado no MODO
tempo”. VOZ
São três os tempos verbais: Por exemplo: “Quando era moleque, eu só jogava
videogame”.
O PRESENTE
Dá-se o nome de PERFEITO ao verbo que, como já
“Agora eu estudo” deixei dito, designa um acontecimento que começou
no passado e acabou. É possível apontar um fim
PRETÉRITO definitivo seu.
Que pode ser Imperfeito, Perfeito ou Mais-que- Por exemplo: “Ontem, eu joguei bola”. Jogou bola
Perfeito. Creio será útil dar algumas explicações mais ontem, e acabou.
aprofundadas sobre os três.
Dá-se o nome de MAIS-QUE-PERFEITO, coisa que
Que raios significa a palavra PRETÉRITO? Significa, soa medonhamente complicada, aos verbos que
pura e simplesmente, o que já se passou. O passado. designam ações que aconteceram no passado de
um passado (daí o MAIS que perfeito; é o português
“Nossa, Raul, e pra que três passados diferentes, antecipando o Inception de Nolan por alguns bons
meeeeow? Pra que ficar complicando tudo séculos).
meeeeow?”
“Quando cheguei ao campo para jogar, o time já fora
Porque é preciso. embora.”
A coisa é muitíssimo simples. “Chegar” é passado, sim; mas o time tinha ido
embora ANTES mesmo de ele chegar. Antes do
Dá-se o nome de “imperfeito” ao verbo que designa passado. Passado do Passado.
um acontecimento que, no passado, NÃO SE
DO PRETÉRITO: “Vocês estudariam o CF, se eu não É a diferença entre dizer “estão trabalhando”,
atrasasse as aulas”. “se trabalhassem, teriam dinheiro” e “trabalhem,
vagabundos!”.
Há três flexões de modo para o verbo, e revelam elas Na VOZ REFLEXIVA, o responsável pela ação é
como o falante se sente em relação ao fato por ele também quem a recebe. “O cozinheiro cortou-se”.
comunicado.
O falante pode ter CERTEZA, e usar o INDICATIVO; Há mais coisas para se dizer sobre as cinco flexões?
Pode ter alguma DÚVIDA (ou hipótese), e usar o Sim. São importantes? Sim.
SUBJUNTIVO;
Pode estar dando uma ORDEM (ou fazendo um Mas a ideia aqui é fazermos um INTENSIVÃO que
AINDA SOBRE
OS VERBOS
Na última aula, dei-lhes algumas definições básicas Decidi, portanto, pular longas exposições de regras
O que for facilmente consultável não será encontrado indica o modelo de conjugação a qual o verbo
aqui. pertence. Se à primeira, -a; se à segunda, -e; se à
terceira, -i.
Vamos à aula.
Ao radical acrescido da vogal temática chama-se
Primeiro, a ESTRUTURA DOS VERBOS. TEMA.
Um verbo é formado pelo seu radical + uma vogal As desinências são as terminações das palavras
temática + uma desinência. que indicam quais são suas flexões. Podem ser elas
modo-temporais ou número-pessoais. Ou seja:
“Ai Raul não entendi nada” podem indicar tanto o MODO quanto o TEMPO ou
tanto o NÚMERO quanto a PESSOA do verbo.
Mas é claro, ué! Ainda não expliquei nada. Mas é
facinho. As desinências são assim chamadas porque sempre
indicarão as duas coisas ao mesmo tempo. Ademais,
O Radical é o portador de sentido, a identidade um verbo pode muito bem ter as duas juntas.
do verbo. Segundo Cegalla, é “o elemento básico
e significativo das palavras”. É sua parte que se (Se você não estiver entendendo bulhufas, volte uma
mantém quase sempre constante e inalterada (já casa e assista à nossa aula passada, a quinta do CF).
explicaremos o “quase”).
Assim, por exemplo, temos:
“Raul, como saber qual é o radical?”
COMPR + A + R
Não há uma regra absoluta e infalível para sabê-lo.
NO GERAL, o que se pode fazer com o verbo (pois COMPR + A + RÍA + MOS
todas as palavras têm radicais) é tomar o infinitivo
Chama-se ela FORMA NOMINAL DO VERBO A terminação -r às vezes pode ser enganosa.
“cumé?”
GERÚNDIO (no geral, terminado com -ndo)
É bem simples: o verbo pode assumir outras funções
sintáticas nas orações. São chamados de “nominais” Ah, o infame gerúndio… serve ele para indicar algo
porque (tcharam!) passam a agir como NOMES — em acontecimento. Às vezes, porém, pode roubar o
substantivos, adjetivos e advérbios —, e não como protagonismo (olha o fascistinha aí) dos adjetivos.
verbos.
Em vez de dizer “Joguei água fervente no ralo”
São três suas formas nominais: podemos dizer “joguei água fervendo”.
Há dois tipos de pronomes pessoais: os de CASO Com os pronomes do caso OBLÍQUO dá-se o
RETO e os de CASO OBLÍQUO. contrário: vêm sempre antecedidos de uma
preposição. No geral, “a”, “para”, “de” e “com”.
ATENÇÃO: saber identificar os
Por quê? Porque os pronomes do caso oblíquo, não
pronomes de caso reto e oblíquo sendo sujeitos, ficam com a função de substituir ou
(além de conseguir bem usá-los) é determinar nomes que são objetos ou complementos
— e objetos e complementos exigem alguma
FUNDAMENTAL para o seu português preposição que lhes determine a natureza.
melhorar uns 1000%.
Mas péra, péra. Vamos com calma. Exemplo:
Vamos à listinha:
“Ele discutiu com ela sobre nós”.
PRONOMES (PESSOAIS) RETOS
“Ele” e “ela” são pronomes.
Eu, tu, ele/ela, nós, vós, eles/elas
“Ele” é do caso RETO. É o sujeito da oração.
PRONOMES (PESSOAIS) DO CASO OBLÍQUO “Ela”, por sua vez, é complemento. Ele discutiu COM
QUEM? Com “ela”.
Podem ser átonos (me - te - se - nos - vos - o/os, a/
as, lhe/lhes) Mais um exemplo:
Ou tônicos (mim, comigo - ti, contigo - ele,
ela, si, consigo - nós, conosco - vós, convosco - eles, “Para mim, estudar é um troço muito difícil”.
elas)
Aqui, talvez alguns ficassem tentados a colocar um
“Raul, qual é a diferença entre pronomes retos e pronome de caso reto (eu) em vez de “mim”: “para
oblíquos?” eu estudar é um troço muito difícil”.
Os pronomes do caso RETO funcionam, em regra, Isso acontece porque a ordem frasal natural em
como sujeitos da oração, e nunca vêm antecedidos português é SUJEITO - VERBO - COMPLEMENTOS.
Até lá!
“Ele discutiu com ela: estava nervoso porque o Se se ligam a formas verbais que terminam em “m”
Raul ainda não reabriu o CF”: “ele” é sujeito. “Ela”, ou em ditongos nasais, os pronomes transmutam-se
pronome oblíquo tônico. Reparem no “com” que o em no, na, nos e nas.
antecede. Eis a preposição. “Viram o jogo” para “viram-no”;
“Põe os pratos na mesa” para “põe-nos na mesa”.
(reparem, também, que nem sempre podemos
escolher entre os oblíquos átono e tônico. Não há
forma tônica correspondente a “com ela”, como Pronto. Só com isso vocês já conseguirão guiar-se
existem o “contigo”, “conosco”, “convosco”, etc.) melhor na selva dos pronomes pessoais.
Mas TENHO de escrever “conte-me o que aconteceu”. E ainda em frases exclamativas, interrogativas e
Isto porque não se começa uma oração com optativas:
pronomes.
“Que Deus te ajude!”
Também diz a regra que o certo seria “se vier, “Quem te contou a novidade?”
avise-nos” e não “se vier, nos avise”. Os sinais de “Como se trabalha duro neste CF!”
pontuação repelem os pronomes, jogando-os para
depois do verbo. ÊNCLISE
A próclise é obrigatória quando, antes do verbo, Há um porém: se o verbo estiver no futuro, mesmo
encontrarmos expressões negativas como: não, no início da oração a mesóclise haverá de prevalecer
nada, ninguém, jamais… sobre a ênclise.
É a famosa frase à la Michel Temer. O pronome que 3 - O que também se tornou bastante comum no
se aperta entre outras duas partes da palavra, feito português brasileiro moderno é, em se tratando de
o recheio dum sanduíche. É forma já um pouco tempos futuros, usar verbos compostos. “Você vai
embolorada, que não soa bem aos ouvidos modernos se arrepender” em vez de “Você se arrependerá”. É
e deve ser evitada por quem não tenha especial preferível, porém, quando o contexto exigir a escrita
sensibilidade literária. Porém, às vezes é obrigatória culta, evitar os verbos compostos para os tempos
e temos de saber como dar-lhe um baile sem cair em futuros.
erros.
4 - Além de acrescentar o sujeito à oração, de aplicar
É obrigatória quando o verbo estiver no futuro do a próclise ou usar um verbo composto, ainda existe
presente ou no futuro do pretérito, desde que não uma quarta forma de fugir à mesóclise e manter-se
haja palavra que obrigue a próclise: gramaticalmente irrepreensível: é usar a forma de
que eu mesmo sou fã: o “hei de”.
“Eu derrocarei o templo de Jeová e edificá-lo-ei em
três dias!” (Eça de Queirós) “Hei de me tornar (ou tornar-me) uma pessoa
“Sua atitude é serena, poder-se-ia dizer hierática, melhor”; “ela haveria de chamá-lo de louco”; “você
quase ritual.” (Raquel de Queirós) haverá de se arrepender”, etc.
Servem para ligar outras palavras umas às outras? A sintaxe não quer classificar as palavras em si; quer
Para particularizá-las ou, inversamente, indeterminá- analisar e saber a função que elas exercem dentro da
las? Servem para ligar orações? Para indicar oração. As funções não são fixas.
quantidades?
Banana, por exemplo, é um substantivo. Certo? Mas
As Classes Gramaticais são a base da língua. São o pode servir para várias coisas dentro do sistema que
inventário de suas possibilidades. é uma oração.
Com uma visão geral das classes na cabeça, aquilo Veja os quatro exemplos abaixo, que peguei
que antes parecia-lhes um emaranhado infernal emprestados do prof. Sérgio Nogueira:
de fios cruzados e embolados que saem de lugar
nenhum e chegar a coisa nenhuma logo haverá de se “A banana está madura”: sujeito da oração. É dela
ordenar. que se está falando.
Existem, basicamente, dez funções para uma “A cesta está cheia de banana”: “de banana”
palavra! completa o sentido do adjetivo “cheia” e é, portanto,
um complemento nominal.
Com dez funções já podemos trabalhar. Dez funções
não são as seiscentas páginas de uma gramática. “Mariazinha não suporta banana-nanica. Ela só gosta
de banana-prata”: a primeira “banana” é objeto
É como abrir uma caixa de ferramentas com centenas direto de “suportar”; a segunda, objeto indireto de
de peças, geringonças estranhas, monstrengos “gostar”.
mecânicos e enigmas em formas de aço, madeira e
ferro as mais várias, e respirar aliviado: ao menos o “O namorado da Mariazinha é um banana”:
martelo, os pregos, o alicate e a trena eu sei para “banana” aí é usada para caracterizar o sujeito da
que servem. oração. Portanto, é predicativo do sujeito.
A Sintaxe já é a parte da Gramática que estuda a Logo se vê que na Sintaxe a coisa se complica um
relação que as palavras estabelecem dentro pouco. Mas não apenas se complica; complica-se a
duma oração (ou que as orações estabelecem partir de conceitos morfológicos. É a segunda parte,
Vamos afirmar e reafirmar o básico, sem o qual nada Em vez de falar, portanto: “Raul, abra logo este CF”,
que preste poderá ser feito mais tarde. teríamos de falar “Raul, abre logo este CF”.
“Raul do céu, ai minha nossa a cabeça tá girando” “Esse bebê cabeçudo perto de você é o Álvaro”;
É normal, eu entendo. Como lhes disse, é um “Aquele bebê cabeçudo, longe de nós dois, eu nunca
troço confuso e eu mesmo demorei um tempo para vi na vida”.
entendê-lo certinho.
Em relação ao contexto linguístico, ou texto:
Basta dizer, em relação aos pronomes de tratamento
(Você, Vossa Alteza, Vossa Excelência, Vossa para retomar o que já foi dito, “esse” e derivados.
Santidade, etc.), que embora pertençam à segunda
pessoa gramatical, exigem verbo na terceira pessoa. “este” precede o que se vai dizer, antecipando-o.
São responsáveis por localizar o ser no tempo, no Ou seja: se, no texto, você já se referiu a alguma
espaço e no contexto linguístico (ou seja, no texto), coisa e quer RETOMÁ-LA, voltar a falar dela, use
tomando sempre como ponto de referência as três “esse” e derivados. Se está para apresentar uma
PRONOMES POSSESSIVOS
PRONOMES RELATIVOS
Os pronomes possessivos atribuem às pessoas do
Chamam-se relativos porque representam discurso a posse de alguma coisa. Aqui não há muito
substantivos que já foram expressados, e com os segredo: “meu, minha, teu, nosso, vossa, suas…”
quais estão relacionados.
Por exemplo: “Armanda comprou a casa que lhe Pronto. Aí estão os pronomes. Creio eu que já
Agora, passaremos rapidamente pelas duas classes A dizer a verdade, tão umbilical é a relação entre
variáveis que nos restam e, depois, entraremos ambos que um artigo anteposto a uma palavra de
em duas interessantíssimas classes invariáveis: os outra classe qualquer poderá transformá-la em
Advérbios e as Preposições. SUBSTANTIVO. Ponha um artigo à frente de “porém”
e veja a conjunção transmutar-se em substantivo
Vamos, pois, aos ARTIGOS e aos NUMERAIS. diante dos seus olhos:
Basicamente, os artigos definidos antepõem-se Se, porém, você diz “o menino deixou um envelope
a substantivos definidos, e os artigos indefinidos aqui”, o pedaço de papel já pode ser ou realmente
antepõem-se a substantivos indefinidos. inesperado e desconhecido, ou algo de que o falante
quer se distanciar. “Chegou um envelope aqui e eu
Boa, né? [gif do mind blowing] não sei de nada e não tenho nada a ver com ele”.
Reparem, portanto, na imensa sutileza que pode
Falando sério: um substantivo definido é carregar uma simples troca de duas letras.
determinado, conhecido. Substantivo com o qual o
leitor já está familiarizado e que não é qualquer zé- Portanto, reforcemos: adjetivos definidos ligam-se
da-esquina vago. a substantivos conhecidos, familiares e precisos. Os
indefinidos, a substantivos desconhecidos, alheios e
Se você diz “viajei com o médico hoje” a ideia é vagos.
que o tal médico já é conhecido. Se é conhecido, é
também determinado. É aquele médico específico, e Na prática diária, contudo, os artigos também
não um médico qualquer. podem ser usados como superlativos: ou seja, como
intensificadores de significado.
Inversamente, ”um médico” dissolve o indivíduo
no seu ofício e classe social. Podia ser o médico É como dizer “ele é o cara”. Não é um cara qualquer.
fulano bem como o médico sicrano. “Um” é artigo É o pica das galáxias em pessoa; the man in the
indefinido. flesh.
E a próxima já está aqui: são os NUMERAIS. São os numerais ORDINAIS — “ordinal” querendo
dizer, está óbvio, “ordem”.
Eis aí uma classe absolutamente indolor, tranquila
que só ela. Fração: autoexplicativo. Indicam… frações. Partes
definidas de um todo. Já quase não os usamos na
Se bem lide com quantidades, nem todos os escrita. “Meio, um terço, um quarto…”.
numerais variam. Os cardinais (já os estudaremos)
são, no geral, invariáveis. Exceções são “um” (uma) São os numerais FRACIONÁRIOS. Concordam
ou “dois” (duas), por exemplo. eles em gênero e número com os cardinais que os
antecedem. “Eu estudei só dois terços do CF até
Hei de lhe ensinar suas quatro principais funções e, agora”.
depois, alguns usos específicos que servem de cascas
de banana a muita gente — eu incluso. Multiplicação: de novo, autoexplicativo. “Dobro,
triplo, tríplice, quádruplo…”.
Vamos lá. Os NUMERAIS são palavras variáveis que
podem indicar: Sãos os numerais MULTIPLICATIVOS.
A mesma coisa com “Dois bilhões de toneladas”. O Sexto (e, talvez, o que lhes será mais útil): na hora
numeral concorda com o substantivo a que se liga de escrever, é consensual que se escreva por extenso
imediatamente, e não com “pessoas” ou “toneladas”.
Prova adicional é a preposição “de” — ela sozinha - Os numerais cardinais até ao dez (um, dois, três,
já desobrigaria a concordância por ter separado quatro e bláblá. Do dez para lá, escreva-se os
sintaticamente os elementos. números);
- Os numerais ordinais até ao décimo (primeiro,
Segundo: como já dito, os numerais cardinais segundo, terceiro e por aí vai, até o décimo.
“um”, “dois” e as centenas a partir de duzentos Passou daí, é 11, 12 e o que mais vier);
variam em gênero: - Números que iniciam uma frase (“Cento e
cinquenta pessoas mandaram mensagens para o
“um / uma”, “duzentos / duzentas”. Raul porque ainda não entraram no CF”, e não “150
pessoas mandaram mensagens…”)
Terceiro: não se escreve “um mil” ou “hum mil”. É - Os numerais cardinais cem e mil;
MIL mesmo, sozinho, livre, leve e solto. - Os numerais fracionários (“um terço” e não “1/3”).
[foto do evento]
Essa classe são os ADVÉRBIOS. “Raul, o que isso tem a ver com advérbios?”
Calma, calma. Tome um copo d’água, relaxe os Ora, os Advérbios mantêm com os Verbos uma
ombros, não fique desesperado porque está prestes a relação semelhante àquela que existe entre os
ouvir sei lá quantas regrinhas novas. Adjetivos e os Substantivos.
Antes de tudo, tentemos compreender certinho Advérbios existem sobretudo em função dos Verbos.
Mantendo sempre em mente, é claro, que existem Às vezes, porém, conjuntos de duas ou mais palavras
outros tipos ainda. também podem funcionar como adjetivos. São as
chamadas locuções adverbiais. Isto é, em vez de
Vamos a alguns casos especiais. dizer “cegamente”, podemos dizer “às cegas”. Em
vez de “ocasionalmente”, podemos fazer como eu fiz
Além dessa lista de advérbios, existem também os neste período e escrever “às vezes”.
chamados advérbios interrogativos. O nome, está
óbvio, é autoevidente: trata-se de advérbios que Guardem isto na cabeça: sempre que virem, nalguma
servem para fazer interrogações ou perguntas. São classe morfológica, a palavrinha “locução”, saibam
os famosos onde, aonde, quando, como e por que. que se trata do conjunto de duas ou mais palavras
Podem ser usados tanto em interrogações diretas que entram no texto ou fala como alguma das dez
quanto em interrogações indiretas. classes gramaticais.
Contudo, com a base que já lhes dei ao longo dessas Aliás, “receber informações” não: irei consultá-
aulas eu agarantio, à moda do Seu Creysson: o los. Meu novo projeto, muito mais ambicioso e
estudo do português deixará de ser um troço sem pé abrangente, partirá daqui. De suas dúvidas e
nem cabeça. sugestões.
Depois de compreender quais são as funções Contudo, tenhamos calma. Estou pondo o carro na
de certas palavras e os motivos perfeitamente frente dos bois. Isso é conversa para um pouco mais
justificáveis para algumas das regras que tem a tarde. Agora, ainda nos restam aulas e algumas
língua, tanto a disposição de espírito com que o aluno classes gramaticais.
aborda os estudos será outra — espírito aberto em
vez de acanhado; dócil em vez de hostil — quanto Voltemos, portanto, aos ADVÉRBIOS.
sua capacidade de guiar-se pelos meandros da
gramática terá sido consideravelmente aumentada. Por que advérbios de novo? Porque ainda faltam uma
Digamos, por exemplo, que nossa frase estivesse no Quanto ao grau, os advérbios podem ser ou
Tô de olho, hein!
São as rebimbocas das parafusetas linguísticas. A frase arrumada seria algo assim: “a importância
de discernir entre as coisas sobre as quais
Primeiro, portanto, vimos para que servem as portas, temos controle e as coisas sobre as quais não
janelas, pedras e pedaços de madeira. As coisas temos controle”.
substanciosas. Agora, havemos de aprender a usar
as partes secundárias, que às vezes em si e fora Eu aposto que, mesmo sem saber o porquê, o
daquelas nem podemos dizer que existem. segundo período soou-lhes melhor. Soou-lhes menos
O que são, pois, as PREPOSIÇÕES? truncado. Feito um relógio cujas engrenagens não
batem umas contra as outras.
Preposições são palavras que servem para ligar
outras palavras entre si, estabelecendo entre elas Ora, se as preposições servem para LIGAR as
certas relações. palavras umas às outras, daí decorre, antes de
tudo, que têm de estar entre duas palavras. São
Prestem muita atenção ao “ligar” e às “relações”. como pontes. Terminar uma oração ou período com
Prestaram? Então continuemos. “sobre”, por exemplo, é construir uma ponte que saia
de uma montanha e vá dar em lugar nenhum. Não
Lá na aula 4, dei-lhes um exemplo de uso porco está ligando um ponto a outro.
das preposições. No Instagram, um certo sujeito
escreveu a seguinte pérola: “…a importância do É o que se dá quando alguém diz “você pode falar
discernimento entre as coisas que temos controle sobre?”
sobre e as que não temos controle sobre”.
Falar sobre… o quê? Quem fala, fala sobre alguma
Ora, por que o uso é porco? Primeiro, porque o coisa. O “falar” é a montanha, o “sobre” é a ponte e…
Preposições ligam as outras palavras entre Em suma: existem termos regentes e termos
regidos. Existe um troço chamado REGÊNCIA.
si.
Lembrem-se disso. Gravem isso na testa. “Raul, que carai é regência?”
O mesmo princípio explica por que escrever “discernir Fora da Gramática, creio estar claro o sentido de
entre as coisas que temos controle sobre” não “regência”. O substantivo tem a ver com reis e
faz nenhum sentido. “Sobre” aí está ligando quais realeza, e o verbo que dele deriva (reger) mantém-
palavras? Usemos a lógica. se na mesma linha: administrar, dirigir, governar,
dominar, guiar.
Reformulemos a frase: ter controle sobre as coisas.
Que tem controle, tem controle sobre alguma coisa. “Regência” implica superioridade hierárquica por
Reparem na posição da preposição. Está ligando um lado e, portanto, necessariamente submissão e
os termos. Não é o que se dá em “as coisas que dependência pelo outro. Na Gramática, quer dizer
temos controle sobre”, frase que só entendermos o seguinte: alguns termos estão subordinados
por adivinhar as relações sintáticas e reorganizá-las a outros. Existem relações de dependência, de
mentalmente — ainda que não percebamos. complementação.
Lembram-se das locuções adverbiais? “Às vezes” “Perdemos, além de tempo, dinheiro”: poderia
em vez de “ocasionalmente”, “às cegas” em vez de também ter sido escrita “perdemos tempo e
“cegamente”. Já falamos sobre elas aqui. Caso não se dinheiro.”
lembrem, deixa eu lhes refrescar a memória com um
parágrafo meu da aula 11:
Até aqui, tudo sussa? Recapitulando:
“Guardem isto na cabeça: sempre que virem,
nalguma classe morfológica, a palavrinha “locução”, 1) as preposições servem para ligar outras palavras
saibam que se trata do conjunto de duas ou mais umas às outras e entre elas estabelecer relações
palavras que entram no texto ou fala como alguma de dependência e/ou complementariedade;
Na última aula, estudamos as preposições. Eu Pois chega de lengalenga. Hora de botar as mãos na
lhes disse, bem me lembro, que uma das classes massa.
gramaticais que ainda tínhamos de estudar era um
pouco chatinha. Sei que pedagogicamente não é lá CONJUNÇÕES, o que raios são elas?
muito sábio você dizer aos seus alunos, antes de
passar-lhes um conteúdo qualquer, que a coisa será Lembra-se ainda do que fazem as preposições?
chata e difícil. Depois de eu repetir a mesma coisa umas trezentas
e vinte e duas vezes, espero que já saiba de cor e
E difícil não é. As CONJUNÇÕES são palavrinhas com salteada a resposta, hein?
as quais temos todos nós enorme familiaridade.
O adjetivo “chatinho” reservo 1) às suas várias As preposições… LIGAM PALAVRAS, ENTRE
classificações e 2) à necessidade de estudarmos um ELAS ESTABELECENDO CERTAS RELAÇÕES DE
pouco de sintaxe para entendê-las. DEPENDÊNCIA E/OU COMPLEMENTARIEDADE.
Até aqui, fugimos à sintaxe como o Diabo foge da Ora, as conjunções fazem basicamente a mesma
cruz. E isto não porque a coisa seja incrivelmente coisa. Só que com ORAÇÕES.
difícil ou insuportável, e sim porque não vou apenas
amontoar os assuntos uns em cima dos outros. “Raul, oração é isto aqui?”
Vamos entender os que vêm antes e só depois passar
para os próximos. No caso das conjunções, porém, [gente rezando]
não teremos como fugir. Parte de sua classificação
depende de classificações sintáticas. Isto é: temos Não.
cinco tipos de orações coordenadas sindéticas
(calma que já chegamos aí; não se desespere) e, “Oração” é uma nomenclatura sintática. Isto é: um
não por coincidência, cinco tipos de conjunções conceito da Sintaxe.
coordenativas.
“Raul, o que carai é sintaxe?”
Portanto, não precisa ficar no cagaço quando eu
começar a falar uns nomes estranhos aqui, sim? Bora lá, sem SUAR FRIO, por favor. Eu sei que a
Lembre-se do nosso princípio: vamos aprender por espinha de muita gente fica igual um picolé à simples
Forçando a barra legal, é como se na Morfologia “Mas, Raul, para que tanta coisa? O português não
considerássemos um fulano de acordo com as poderia ser mais simples?”
características que lhe são próprias — seu nome,
sua cor, sua voz, seus gostos, etc. — e, na Sintaxe, Não. As línguas são sistemas absurdamente
olhássemos para o sujeito de acordo com a função complexos, para não dizer milagrosos. E a prova do
Na Sintaxe, porém, chamamos de FRASE, nas É uma frase, certo? Certo. Mas não é uma oração
palavras do prof. Sérgio Nogueira, “a unidade mínima só. São cinco: “O CF é bom demais / porque o Raul
de comunicação linguística que é responsável por ensina com clareza, / cria memes, / faz piadas a
transmitir uma mensagem”. rodo / e dá exemplos únicos.
“Unidade mínima” porque a frase, estranhamente, Pegou a ideia? Existem, é claro, mais detalhes e
pode ser uma palavra só. “Olá!” é, sintaticamente, nuanças na história, mas, por ora, é melhor ficarmos
uma frase. Por quê? Porque transmite uma só no estritamente necessário.
mensagem. Todos nós sabemos o que olá “quer
dizer”, não é? E o período? O período é simples: é a frase que
O período pode ser simples ou composto. O melhor, porém, em vez de eu ficar vomitando-lhes
descrições e definições é entrarmos nos exemplos.
No simples, existe uma só oração. Portanto, só tem
um verbo: Existem dois tipos principais de conjunções: as
“Todos, naquele CF, aprenderam português”. coordenativas e as subordinativas.
No composto, há duas ou mais orações: “O CF parece As conjunções coordenativas são as responsáveis por
difícil, mas só assusta quem não sentou o bumbum ligar, ou fazer a ponte, entre orações sintaticamente
na cadeira para estudar um pouco”. independentes. As subordinativas, por ligar orações
que têm uma relação de dependência sintática.
Beleza? Só para recapitular, então: a frase é qualquer
enunciado que tenha sentido completo. A oração é a “Cacetada, entendi foi nada”.
frase ou parte da frase que se organiza em torno de
um verbo. O período é a frase que tem uma ou mais Vamos por partes. Mais especificamente, pelos
orações. nomes. A conjunção coordenativa leva esse nome
porque… coordena.
Ufa! Pronto. Agora que vocês já sabem o básico sobre
as nomenclaturas sintáticas, podemos enfim entrar Arranja, organiza e dispõe de modo organizado
nas CONJUNÇÕES. orações que são sintaticamente empoderadas
(urgh) — ou, se se quiser um português mais
Repito, portanto, o que lhes disse faz pouco tempo: mercadológico, enfoderadas (urgh). Independentes.
se as preposições ligam palavras, as conjunções Não precisariam de mais ninguém para que sejam o
ligam orações. que são; têm sentido completo.
Assim como existe uma relação de dependência Por exemplo: “Abra o CF e comece a estudar”. Temos
e/ou complementariedade entre as palavras, aí duas orações sintaticamente completas. “Abra
existem certas relações de dependência e/ou o CF” tem um sujeito (um “você”, oculto como o
complementariedade entre as orações. Algumas cachorro da Dilma atrás do verbo), um verbo (“abra”)
completam outras e só existem em função delas, e seu objeto direto (“o CF”). A mesma coisa com
“Assinei as cartas e meti-as nos envelopes”. E o que liga a oração megera à oração pau-mandado?
Precisamente as conjunções subordinativas.
E uma oração longa, já menos óbvia, escrita pelo
nosso maior escritor de todos os tempos: Exemplo: “Eu espero que vocês aproveitem muito
este CF”.
“Não só findaram as queixas contra o alienista, mas
até nenhum ressentimento ficou dos atos que ele Temos quantas orações aí? Duas, não é? Dois verbos.
praticara”. (Machado de Assis) ”Espero” e “aproveitem”. Se, porém, as separarmos
uma da outra, que sentido teria “eu espero”?
Tudo beleza por aqui? Já estudaremos com mais
cuidado as conjunções coordenativas. Fiquem Nenhum, ué. “Eu espero”… o quê? O verbo está
tranquilos. Agora, passemos ao próximo tipo de incompleto. Para socorrê-lo, vem a conjunção “que”
conjunções: e traz consigo a oração que lhe é subordinada: “Eu
espero que vocês aproveitem muito este CF.”
As SUBORDINATIVAS.
Outros exemplos:
Já as conjunções subordinativas ligam orações em
que existe relação de dependência sintática. Ou, “Eu não esperava que ele concordasse.”
melhor dizendo, de SUBORDINAÇÃO. E o que quer “O tambor soa porque é oco.”
dizer a tal palavrinha? Quer dizer que existe entre “A cobra é um animal que se arrasta.”
as partes uma superioridade. Alguém submete-se,
sujeita-se ou torna-se dependente de outro alguém. Tranquilo, certo?
Conhecem o famoso banana, o pau-mandado pronto
Fazendo uma rápida conta de padaria, por cima digo- As primeiras ligam orações sintaticamente
lhes que no mínimo foram mais de 500 stories até empoderadas (urgh) e as segundas, orações em que
agora. No mínimo. Quinhentos. O PDF que vocês há uma relação de subordinação ou dependência:
receberão com todo o conteúdo daqui passará das uma oração só existe para completar o sentido da
100 páginas. outra.
Reparou? Nos dois exemplos, ALÉM de alguma coisa As conjunções conclusivas fazem o quê? Adivinhe aí:
(o trabalhar ou o não trabalhar) havia também outra
(o estudar ou não estudar). E a adição, fique claro, [Enquete: concluem / dançam / dormem]
pode ser de informações negativas, como no segundo
exemplo. Pois é: concluem. Concluem o quê? Ora, alguma ideia
presente na oração anterior. São elas: logo, então,
As conjunções adversativas estabelecem oposição, por isso, assim, dessa maneira, portanto…
contraste ou diferença. Para identificá-las, é bom
lembrar-se de “adversário”. “Terminei de ver todos os stories desta aula, portanto
já posso desligar o celular.”
São elas: mas, porém, todavia, contudo, entretanto,
senão, ao passo que, antes (= pelo contrário), no E, por fim, as conjunções explicativas são
entanto, não obstante, apesar disso, em todo caso… justificativas para algo dito anteriormente: porque,
pois, visto que, uma vez que, já que…
“Quer aprender português, mas não faz o CF do
Raul.” “Não deixe de assistir às aulas do CF, que (ou porque,
“O professor Raul não proíbe, antes estimula as ou pois…) você pode ficar péssimo no português.”
perguntas no seu CF.”
Pronto. Acabaram-se as conjunções coordenativas.
“Fulano é feio que dói”, expressão maravilhosa que (Adendo: não confundir “à medida que” com
no final diz o seguinte: o fulano tem a cara tão mal “na medida em que”. Esta última não indica
posta que a consequência é uma dor física cá no proporcionalidade, mas causa; é sinônimo de “uma
peito. vez que, visto que, etc.: “Na medida em que não
estudou, lascou-se na vida”. Ou seja: “porque / uma
Seguindo o bonde, vêm as conjunções vez que não estudou, lascou-se na vida”
subordinativas finais — e que nada têm a ver com
o tempo. Têm a ver com finalidade; com objetivo Também não existe “à medida em que”.)
final: para que (ou para), a fim de que (ou a fim
de)… Seguindo-as de perto, vêm as conjunções
subordinativas temporais — e que nada têm a
“Eu estudo feito um fdp, para que / a fim de que ver com temporal de chuva. São responsáveis por
possa ser alguém na vida e não precise dizer no introduzir orações que exprimem tempo: quando,
Facebook que amo o Pablo Vittar para conseguir um enquanto, logo que, mal (logo que), sempre que,
emprego.” desde que, ao mesmo tempo que…
Em seguida, temos as conjunções subordinativas “Não veja tevê enquanto estuda os stories do CF.”
proporcionais. Indicam elas dois fatos “Desde que o mundo é mundo, não houve aulas de
perfeitamente simultâneos, um acontecendo em português como as do Raul”. [barba]
função do outro: à medida/proporção que, conforme,
quanto mais/menos, ao passo que… E, na lanterninha do grupo (ufa!), estão as
conjunções subordinativas integrantes. Essas
“Escrevia melhor à medida que estudava o CF são as diferentonas do grupo. Resumem-se a duas
“Pedi-lhe desculpas” vira “Pedi-lhe que me E… ufa! Acabaram-se as conjunções. À primeira vista,
desculpasse”. a coisa talvez lhes pareça uma angústia infinita;
“Verifique a solidez do muro” vira “verifique se o um amontoado gigantesco de não sei o quê com
É que não há muito o que falar sobre elas. São [vários memes de pessoas desesperadas]
ridiculamente simples. As interjeições são aquelas
palavrinhas (ou locuções) que exprimem EMOÇÕES.
Prometi dar-lhes uma visão mais clara do que
Caramba! Cuidado! Socorro! Psiu! Vamos! Tá! Valha- é a gramática e para que ela serve, e cumpri o
me Deus! Cruzes! Obrigado! Oxalá! Oh! Viva! Oba! prometido.
Podem dar vida a todo tipo de sentimentos ou Prometi-lhes uma porta de entrada para o estudo do
emoções: dor, arrependimento, animação, alegria, português, e cumpri o prometido.
desapontamento, alívio, despedida, medo, pena…
Prometi fugir aos formatos comuns (e incomuns!) do
“Tá, beleza, mas e onde estão as regras então?” ensino de português, apresentando-lhes algo novo, e
cumpri o prometido.
Não existem regras. A única coisa que lhes é comum
a todas e, portanto, obrigatória, é um ponto de Prometi aumentar a capacidade expressiva de vocês
exclamação. Pronto. e potencializar-lhes as principais faculdades da língua
— e creio ter cumprido o prometido.
Fiquem tranquilos, que é só isso mesmo. Nenhuma
regra virá de noite puxar o pé de vocês ou saltar
de alguma moita com uma faca nos dentes. As