ATIVIDADE DE SOCIOLOGIA
1° BIMESTRE
PROF. ANDREA TRUS
Meritocracia
Uma das ideologias políticas mais disseminadas, a meritocracia exalta o esforço e o mérito individual em uma
sociedade capitalista.
Meritocracia
A meritocracia é um conceito sociológico. Trata-se de um conjunto de valores que atestam que o poder pode ser
conquistado por mérito individual. O poder, nesse sentido, pode ser uma profissão de prestígio, um cargo político
ou mesmo a ascensão social e econômica.
Nessa ideologia é realizada uma exaltação do indivíduo. Por isso, o poder conquistado socialmente é descrito em
termos de “conquistas”, “realização pessoal” ou mesmo de “vitórias”. A seguir, essa temática será melhor
explanada.
Conforme o Dicionário Michaelis, meritocracia é uma “forma de administração cujos cargos são conquistados
segundo o merecimento, em que há o predomínio do conhecimento e da competência.”
Essa definição está próxima do que Max Weber pensou a respeito da burocracia capitalista, que leva em conta os
cálculos em termos de produtividade e não considera a pessoa em seu contexto social. Portanto, a meritocracia
está alinhada com o sistema capitalista.
A meritocracia surge como uma alternativa ideológica à aristocracia e a monarquia. E qual a ideologia da
meritocracia? Ao invés de uma sociedade baseada em privilégios de herança ou de tradições, esse sistema de
valores impõe que as possibilidades de mobilidade social e de status sejam baseadas em méritos individuais.
Por isso, a meritocracia comunga com as ideologias do liberalismo clássico e do individualismo. Para a burguesia
europeia em ascensão do século XVIII, próximos da Revolução Francesa, era necessário retirar os aristocratas e os
monarcas do poder para dar lugar a uma “livre competição” entre os indivíduos.
Desse modo, o indivíduo é pensado fora de seu contexto social. Então, qual é o oposto da meritocracia? Os
privilégios aristocráticos e monárquicos são certamente contrários à ideologia meritocrática.
Entretanto, também é oposto da meritocracia pensar as origens sociais dos indivíduos. Diversas pesquisas mostram
que fatores como classe, raça e gênero influenciam na ascensão social das pessoas. Assim, como todos os
indivíduos poderiam competir igualmente?
Para a ideologia meritocrática, todas as pessoas podem ascender socialmente por meio do esforço e da
competência de maneira individualista. Os indivíduos estão em uma competição – ou seja, há aqueles que vencem
e os que perdem. E essa vitória ou perda é sempre justificada em termos de méritos individuais
Exemplos de meritocracia
Atualmente, a ideologia meritocrática está impregnada nas mais diversas relações sociais. É possível visualizar uma
meritocracia religiosa quando Max Weber escreve a respeito da ética protestante e o espírito do capitalismo, por
exemplo.
Para o sociólogo, a disseminação de uma ética protestante favoreceu o estabelecimento do sistema capitalista.
Para o calvinismo, a salvação seria dada para indivíduos predestinados, e a execução de um trabalho árduo e
contínuo seria uma maneira de demonstrar a graça recebida.
Entretanto, é no trabalho e na educação que é possível vislumbrar mais fortemente a ideologia da meritocracia.
Meritocracia no trabalho
O trabalho é central na ideologia da meritocracia. Por exemplo, quando é dito que todos os funcionários podem
conquistar a vaga de chefia algum dia e que tudo depende de seus esforços. Entretanto, mesmo que todos se
esforcem, há um número limitado para o cargo.
O ideal meritocrático fica evidente em Frederick Taylor, engenheiro norte-americano que racionalizou as relações
de trabalho e formulou maneiras novas de conseguir maior produtividade. No método taylorista, é realizada uma
observação constante dos indivíduos para garantir que cada um seja produtivo.
Apesar de ser uma forma de organizar socialmente as pessoas, o método taylorista conta com a legitimidade do
ideal meritocrático. Ocorre o mesmo para a maioria dos trabalhos na atualidade, que reproduzem o discurso de
que, quanto mais se trabalhar, maiores as chances de ascensão social.
Meritocracia na educação
A educação é uma das primeiras instituições que reproduzem a ideologia meritocrática na sociedade. Conforme o
sociólogo Pierre Bourdieu, a escola utiliza critérios universalistas que não cabem a cada indivíduo, que advém de
origens sociais diferentes, mas estabelece uma “livre competição” entre todos os alunos.
A forma de avaliação por meio das notas escolares é um método que reproduz a meritocracia porque retira o
indivíduo de seu contexto social, fazendo valer apenas o conteúdo escrito e quantificado.
Apesar de existirem diversos meios de avaliar se o estudante aprendeu algo, são os números que traduzem isso. É
por meio das notas numéricas que se classificam todos os alunos e se estabelece quem foi melhor ou pior, tendo
como base o mérito individual.
A realidade das desigualdades sociais vai contra a ideologia da meritocracia em nossa sociedade. Se admitirmos
que vivemos em uma sociedade com oportunidades desiguais, não é possível sustentar a ideia meritocrática de que
apenas o esforço individual determina a ascensão ou as condições de alguém.
A perspectiva das desigualdades sociais não elimina os esforços que cada pessoa exerce. Na verdade, indivíduos de
camadas mais pobres precisam trabalhar muito apenas para sobreviver. Já as pessoas de classes economicamente
abastadas possuem oportunidades de estudar e aplicar seus esforços de maneira rentável.
Além disso, existem grupos sociais que não conseguem adentrar no mercado de trabalho. Um dos exemplos é a
pessoa com deficiência, como a população surda, que precisa se adaptar em um mundo que não fala o seu idioma.
Outra ilustração é a população transgênero, que frequentemente é alvo de discriminação e é rejeitada nos
empregos formais.
Uma pessoa que se esforça e que tem competência não necessariamente consegue ascender socialmente ou obter
sucesso. Até mesmo pensadores liberais como Friedrich Hayek admitem esse fato. As desigualdades sociais
existem, mantendo algumas pessoas desfavorecidas socialmente e outras não.
O antropólogo Marshall Sahlins é um dos autores que teorizou sobre a realidade do sistema capitalista. Ele
demonstra como as sociedades capitalistas não são de abundância de bens, como se pensa recorrentemente. Ao
contrário, sociedades tribais, consideradas “primitivas”, eram as verdadeiras sociedades de afluência, no qual os
indivíduos não precisavam sobreviver no limite da miséria ou da fome.
Isso mostra como a desigualdade social é um aspecto da sociedade capitalista, e ela convive, por sua vez, com a
ideologia meritocrática. Na verdade, o discurso da meritocracia acaba servindo para mascarar ou mesmo
reproduzir as desigualdades existentes.
Meritocracia no Brasil
A desigualdade social é uma realidade nas sociedades capitalistas, inclusive no Brasil. Existem, no país,
desigualdades de diversas ordens, como no aspecto econômico.
Bens, investimentos e terras são heranças que se acumulam entre gerações. Pessoas de origem de classe abastada
possuem, portanto, condições econômicas favorecidas que se arrastam há séculos. No caso das pessoas mais
pobres acontece o mesmo, considerando que no Brasil há muitos descendentes de pessoas anteriormente
escravizadas.
Considerando que mais da metade da população brasileira é negra, essa maioria é também aquela com menor
renda e com menos acesso à educação. Essa desigualdade é persistente desde a Abolição da Escravatura, em 1888.
O passado escravista no Brasil é ainda muito recente, uma vez que a Abolição ocorreu há pouco mais de 130 anos.
Desde então, as relações sociais brasileiras ainda mantêm um racismo mascarado no mito da democracia racial.
A atualidade dessa discussão pode se revelar nos debates recentes sobre a defesa das cotas raciais pelos
movimentos negros brasileiros. Argumentos meritocráticos são geralmente levantados por pessoas que são contra
a implementação das cotas universidades. Uma ilustração desses discursos é, por exemplo, de que “somos todos
iguais”.
O Brasil é conhecido por ser uma das nações com maior concentração de renda entre os mais ricos. O país já
chegou a ter quase metade da renda nacional nas mãos de 10% das pessoas. A desigualdade social pode ser
teorizada e trabalhada de diversas maneiras mas, de fato, ela é uma realidade na sociedade atual.
Dessa forma, compreender o que é o discurso meritocrático significa entender uma das ideologias que
fundamentam a sociedade na qual vivemos. Como esse é um ideal que ainda está em circulação nas relações
sociais, ela está sujeita a mudanças e transformações.
Referências
Meritocracia e desigualdade – Atahualpa Fernandez; Athus Fernandez;
Classe média, meritocracia e corrupção – Sávio Cavalcante;
A meritocracia aplicada à realidade do setor público brasileiro – um estudo sobre a implantação da gestão de carreira por competências – Ney Nakazato
Miyahira;
A desigualdade vista do topo: a concentração de renda entre os ricos no Brasil, 1926-2013;
A desigualdade racial de renda no Brasil: 1976-2006.
RESPONDAM:
a) Por que podemos afirmar que a Meritocracia é uma das ideologias políticas mais disseminadas em uma
sociedade capitalista?
Pois na sociedade capitalista se você não ocupa cargos importantes sem um ensino completo, porem a maioria
das pessoas não tem a chance de ter esse ensino. E na meritocracia temos a ideia de que apenas o esforço
individual determina a ascensão ou as condições de alguém.
2) Por que podemos afirmar que a desigualdade social expõe a meritocracia como uma alternativa
ideológica para a elite?
Pois com a desigualdade social muitas pessoas não têm oportunidades, sendo assim é impossível sustentar a ideia
meritocrática de que apenas o esforço individual determina a ascensão ou as condições de alguém. A perspectiva
das desigualdades sociais não elimina os esforços que cada pessoa exerce. Na verdade, indivíduos de camadas mais
pobres precisam trabalhar muito apenas para sobreviver
3) A partir do texto acima, façam uma dissertação de no mínimo 10 linhas, analisando o papel ideológico da
meritocracia, desigualdade social e relações sociais.
Uma ideologia meritocrática é de que as pessoas têm que se esforçar para conseguir se ascender em uma
sociedade, mas no mundo de hoje isso não é bem assim. Nós vivemos em uma sociedade muito desigual, onde
muitas vezes o mais pobre pode se esforçar o quanto quiser, mas só consegue ter dinheiro para sobreviver e tem o
caso das pessoas que não conseguem nem ter uma oportunidade para se sustentar. Os transgêneros são um
exemplo claro dessa situação, como vivemos em um país extremamente preconceituoso muitos trans não
conseguem arranjar um emprego por conta do preconceito. Com isso vemos como a desigualdade social é um
aspecto da sociedade capitalista e ela, por sua vez, convive com a ideologia meritocrática. O conceito de
meritocracia acaba servindo para mascarar ou mesmo reproduzir as desigualdades existentes.