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Desse modo, para encontrar as causas possíveis desse fenômeno, seria preferível
remontar às tradições hieráticas ocidentais remotas e relativas à Queda (Gn.3), considerando a
objetividade da essência do relato ou mensagem mitológica. Assim sendo, desta causa última
ou penúltima e primeva, i. é, da realidade decaída e amorfa, teria resultado uma animosidade
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interpessoal física que extrapolou para o nível intelectual, fazendo surgir então uma guerra
ideológica a qual, na busca pelo poder ou pela imposição da narrativa, relativizou a realidade.
Esta relativização, por sua vez, consolidou-se numa determinada percepção da realidade que se
expressa no discurso teratológico pós-moderno. Ato contínuo, oportunisticamente, o
neoliberalismo econômico, apropriando-se deste discurso, conforma-o aos modos de produção
que, representados pelas grandes corporações industriais auxiliadas pela mídia, por sua vez,
conforma o homem contemporâneo adoecido e, por conseguinte, organiza a sociedade e o
mundo.
Assim, o homem adoecido, que via de regra este estado de coisas fabrica, se
caracterizaria pela incerteza a respeito da possibilidade do advento de um mundo melhor ou
mais justo e humano mediante o empreendimento coletivo de uma práxis política, visto que o
discurso pós-moderno ou neoliberal que preconiza o consumismo, a aparência e a tecnologia o
enganaria conceitualmente, entregando-o às pulsões mais básicas ou bestiais da psiquê.
Especificamente, este homem sem esperança seria marcado pela fragmentação, individualismo
ou sectarismo e pela ausência de valores solidamente lastreados em princípios éticos e,
consequentemente, pelo egoísmo, pela alienação e pelo narcisismo, em razão da sua separação
artificialmente provocada em relação a si mesmo, ao outro e ao seu contexto e meio ambiente.
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sujeito. Para tanto, de acordo com as autoras (idem) a arte, intencionalmente, imprime um
caráter ambíguo às obras que produz mediante a transgressão do código vigente, como a
linguagem formal em um drama literário por exemplo, a fim de desarticular a percepção
habitual ou comum sobre algo já conhecido, causando a estranheza. Desse modo, a fruição da
obra lança a pessoa ao caos conceitual mediante a experimentação de sensações e sentimentos
não cotidianos, demandando dela uma nova organização das ideias, ou um novo entendimento,
ou ainda uma nova visão a partir de uma perspectiva inusitada ou de uma esfera de vivências
inabitual a qual, finalmente, pode gerar um novo homem; sensível ao mundo interno, externo e
relacional mencionado ao princípio.
O tópico seguinte, que pretende explicitar conceitos, rememora o óbvio, a saber, o fato
de que a realidade se constitui de elementos ou signos sensíveis cuja transmissão intelectual
mais precisa das informações que comportam, portanto, nunca prescindirá das experiências
pessoais de cada indivíduo. Sendo assim, a arte, com o seu duplo código simbólico, a um só
tempo sensível e intelectual ou racional, permitiria uma apreensão muito mais profunda da
cultura (resultante do contato com esta realidade), habilitando o sujeito para uma participação
mais ativa e efetiva na sua elaboração.
As autoras (ibdem) se referem ainda à penetração aos interstícios da cultura, por meio
da fruição de obras de arte, cujos os elementos constitutivos são revolucionários, como um fator
indispensável para incrementar a capacidade de provocar mudanças radicais no pensamento e
no comportamento no seio de uma cultura ou sociedade. Contudo, neste ponto, é mister apontar
para o fato de que tais elementos não são, exclusivamente, de cunho revolucionário, mas
também conservador. Destarte, ao expor os alunos a novas experiências a fim de enriquecer o
seu repertório, é necessário informa-los a respeito de sensibilidades estéticas plurais. Caso
contrário, suas sensibilidades peculiares serão tolhidas e suas experiências, limitadas
ideologicamente, produzindo frustração e compulsão.
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Havendo sublinhado a natureza da estética como dimensão da existência e atuação
humanas, do mundo da consciência e da vida como um todo, capaz de provocar atitudes
relacionais sensíveis, belas e harmônicas consigo mesmo, com o outro e com o cosmos,
Amorim e Castanho (2008) também evidenciam o potencial educativo da arte como
provocadora dos sentidos cujas sensações e sentimentos correspondentes estimulam a criação
de novos significados para os signos do contexto com o qual nos relacionamos ou que se nos
apresentam cotidianamente. Em outras palavras, o processo de uma educação estética permite
que o indivíduo alcance outras esferas de vivências, o âmbito dos sentidos e sentimentos que,
então, serão despertados e educados. Em suas próprias palavras:
Assim sendo, o artigo, com justiça, acrescenta a dimensão estética para uma possível e
viável proposta de educação com base num argumento correto relativo ao pertencimento desta
dimensão à própria vida como um todo e às suas partes, propondo, juntamente com isto o
oportuno alargamento do conceito de razão, contudo, parece desprezar o elemento racional e
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testemunhal do processo pedagógico. Uma educação estética não deve tratar, meramente, da
exclusão de determinados conhecimentos, mas, sobretudo, de incluir os que são necessários e
equilibrar ou redimensionar adequadamente os existentes.
Além disso, embora a Ed. Estética, em tese, não possua o mesmo conteúdo formal da
Ed. Religiosa, ao que parece, seus objetivos são análogos, i. é, a gestação de pessoas que lancem
olhares diferentes e sensíveis sobre a realidade, partindo do pressuposto ou da crença de que
ela pode ser diferente. Desse modo, assim como a estética preocupa-se em como fomentar este
“olhar”, a religião ou a ética cristã (não necessariamente organizada formalmente) preocupa-se
em como dar à luz genuínos rebentos ao Númen conforme o seu Paradigma. Sendo assim,
conceber o método ou descobrir os fatores que contribuem para essa metanóia é igualmente
relevante para os profissionais do Ensino Religioso.