DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO
Recife
2021
1. INTRODUÇÃO
Nesse contexto, serão discutidos neste trabalho alguns dos conceitos fundamentais para
a compreensão da dinâmica da atividade jornalística na contemporaneidade, bem como
seus principais valores e paradigmas colocados em debate a partir da visão de autores
como Nelson Traquina, John Soloski e David Manning White.
Para tanto elucidar esses debates necessários, recorremos aqui a conceitos elementares
como a questão da objetividade, o ethos jornalístico, o papel do Gatekeeper a partir da
apresentação de um estudo de caso e a questão do profissionalismo na atividade
jornalística. Esses conceitos, que estão longe de esgotar o conhecimento básico em
teoria do jornalismo, trazem algumas questões fundamentais para o tema.
Outra concepção importante acerca dos valores e normas do trabalho jornalístico é sua
relação com o conceito de liberdade no contexto democrático. Essa relação se dá
inclusive na luta contra as formas de censura, uma vez que, segundo a concepção
apresentada, a censura não pode conviver com a democracia. Para a efetivação dessa
luta e a consolidação dessa relação, é necessário que o jornalista tenha independência e
autonomia em relação aos demais agentes sociais.
O valor mais discutido na análise de Traquina (2005) é o da objetividade, que não pode
ser simplificado pela mera dicotomia entre objetividade e subjetividade. Tal conceito
não surge como negação da subjetividade, mas com o reconhecimento de sua
inevitabilidade. As contribuições da psicologia e da sociologia nas primeiras décadas do
séculos XX, bem como as mudanças na esfera pública e na interpretação dos fatos pela
sociedade, proporcionaram um avanço na consolidação da ideia de objetividade.
São mencionados quatro procedimentos apontados por Gaye Tuchman que podem ser
aplicados ao trabalho jornalístico em prol da objetividade. O primeiro é a apresentação
de possibilidades conflituosas, na qual o jornalista apresenta diferentes versões do caso
em tela, podendo reivindicar a objetividade por ter apresentado os dois mais lados da
questão. O segundo é a apresentação de provas auxiliares, que são fatos suplementares
obtidos para corroborar uma afirmação. O terceiro é o uso judicioso das aspas, seja para
apresentar uma citação que suplementa os fatos, seja para colocar em causa a
legitimidade de algo que é citado. O quarto procedimento é a estruturação da
informação numa sequência apropriada, que envolve a escolha do lead.
Por fim, o autor destaca a noção de equidistância entre o profissional do jornalismo e os
diversos agentes sociais, prezando pela sua independência e apresentando diferentes
perspectivas sobre os fatos. Ressalta-se ainda que a postura do profissional do
jornalismo não é exclusiva responsabilidade desses especialistas, mas também da
própria sociedade e sua relação com a democracia, que também influencia essa postura.
O autor David Manning White trata em seu artigo no livro organizado por Nelson
Traquina (2016) sobre a ideia de Gatekeeper que, conforme ele aponta, foi cunhada
inicialmente pelo cientista social Kurt Lewin, que afirma que determinados setores dos
gates são regidos ou por regras imparciais ou por um grupo “no poder” tomar a decisão
de “deixar entrar” ou de “rejeitar”. Assim, White busca examinar em seu estudo a forma
como um dos gatekeepers de um grande canal de comunicação opera o seu gate.
Para tanto, ressalta-se que há um ator fundamental a ser analisado neste estudo de caso,
que é o operador chave para a seleção das notícias que de fato irão a público. No caso
em tela, trata-se do redator telegráfico de um jornal não metropolitano, que possui 25
anos de experiência jornalística e 40 de idade, e é responsável pelo conteúdo que será
distribuído em 30.000 exemplares na região. A partir da figura deste profissional,
interessa compreender por que é que o editor telegráfico selecionava e rejeitava os
artigos fornecidos pelas agencias de notícias.
A partir dessas inferências, o autor chega ao que ele chama de “conclusão óbvia” de que
os critérios para a seleção das notícias, bem como as preferências do gatekeeper em
relação a esses critérios pode ter mais relação com a dinâmica de concorrência das
organizações jornalísticas e com as expectativas em relação à satisfação do público. A
ser alcançado pelo veículo.
Por fim, por meio da análise dos dados apresentados sobre a seleção e rejeição das
matérias das agências noticiosas, é possível concluir que a comunicação dessas notícias
possui um forte viés subjetivo, que parte em grande medida do conjunto de
experiências, atitudes e expectativas do próprio gatekeeper. Ressalta-se também a
grande importância da figura do gatekeeper que, assim como centenas de outros
existentes, desempenha um papel fundamental dentro do complexo processo da
comunicação jornalística.
4. O JORNALISTA E O PROFISSIONALISMO
O autor John Soloski, em seu artigo presente no livro de Traquina (2016), busca
compreender como o profissionalismo jornalístico afeta a busca e o relato das notícias.
De partida, o autor afirma que busca sustentar que o profissionalismo seria um método
eficiente e econômico por meio do qual as organizações jornalísticas controlam o
comportamento dos repórteres e dos editores. São apresentados ainda os resultados de
um estudo de observação-participante que examinou como uma organização jornalística
implementou as suas políticas editoriais.
Mais a frente surge novamente, conforme já discutido por Traquina (2005), a questão da
objetividade e sua relação com as normas profissionais do campo jornalístico. As
vantagens trazidas pelo uso da objetividade pelas organizações jornalísticas trazem a
estas duas formas de proteção: (1) o uso rigoroso de fontes para apresentar a exatidão
dos fatos isolam os jornalistas da posição de parciais; (2) ajuda a assegurar a posição
das organizações no monopólio de mercado. Segundo o autor, ao relatar a notícia
objetivamente, a lealdade do leitor para com um jornal não se dá em função de uma
ideologia, mas sim em função mais na eficácia da cobertura jornalística. Ressalta-se
ainda que, embora a apresentação das notícias e suas fontes sejam de competência do
jornalista, a organização terá muito influência sobre esse processo, sendo que o produto
final resultará da interação do profissionalismo jornalístico com os interesses da
organização.
Por fim, Soloski conclui que a natureza organizacional das notícias é determinada por
uma interação entre o mecanismo de controle transorganizacional representado pelo
profissionalismo jornalístico e os mecanismos de controle representados pela política
editorial. Tais mecanismos atuando em conjunto colaboram para determinar as
fronteiras do comportamento profissional do jornalista, apesar de ser possível afirmar
que essas fronteiras são suficientemente estreitas para se poder confiar que os jornalistas
agem de acordo com o interesse da organização jornalística.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS