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uu Geleiras são sistemas de gelo em movimento derretimento, nas regiões terminais da geleira, a
formados onde a taxa de acumulação de neve é altitudes ou latitudes mais baixas.
maior que a taxa de derretimento a cada ano.
uu À medida que a geleira movimenta-se, ela ero-
uu Os principais tipos de geleiras são: continentais de seu substrato, arrancando blocos de diversos
e alpinas. As geleiras continentais são calotas tamanhos e promovendo abrasão pela raspagem
de gelo com espessuras de até 3500 m que re- de blocos contra o fundo. Esses fragmentos são
cobrem grandes áreas em regiões polares. As transportados com o gelo até a área de ablação,
geleiras alpinas ocorrem em vales elevados em onde depositam-se.
montanhas.
uu Depósitos formados diretamente pela ablação
uu As geleiras movem-se lentamente por deforma- do gelo são chamados tills. Retrabalhamento dos
ção plástica ou, no caso de geleiras a temperatu- sedimentos glaciais por águas de degelo ou por
ras próximas do ponto de fusão, por deslizamento ondas e correntes costeiras são comuns em regi-
basal sobre um nível rico em água. ões próximas a geleiras.
uu Apesar do movimento constante, a posição da uu Ciclos de avanço e recuo das geleiras continentais
frente da geleira pode variar pouco, pois a acumu- são causados por mudanças climáticas decorren-
lação nas regiões de maior precipitação é compen- tes de ciclos astronômicos. Diversos desses ciclos
sada pelos processos de ablação, principalmente o marcam o registro geológico do Pleistoceno.
Fernanda Maciel Canile
I18_4469_F002_ABERT_CAP17
aprovada
pp Geleira do tipo continental na Ilha Rei George – Shetlands do Sul, Península Antártica.
Janete
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Introdução
A Terra vista do espaço exibe grandes áreas cober- formação de geleiras. Quanto mais baixa for a lati-
tas por neve e gelo, concentradas nas regiões polares tude, maior será a altitude mínima para a formação
e nas áreas elevadas de cadeias de montanhas. Essas de geleiras. A altitude mínima para a formação de
áreas ocupam quase 10% da superfície do planeta, geleiras é denominada linha de neve, e varia desde o
sendo que as principais, nas regiões polares, podem nível do mar em áreas polares até mais de 5.000 m
alcançar mais de 3.000 m de espessura de gelo, resul- próximo ao Equador (Figura 17.1).
tante da acumulação progressiva
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Janete
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Tipos de geleiras
As geleiras formadas em altitude diferem das metros por ano, em função da elevada declivida-
formadas sobre massas continentais de altas la- de das encostas onde se formam. Nas cabeceiras
titudes com relação ao tamanho, morfologia e dos vales glaciais ocorrem geleiras menores, com
dinâmica. Assim, pode-se distinguir dois tipos até 1 km de diâmetro e de forma semicircular,
principais de geleiras: denominadas geleiras em circo (Figura 17.3).
Geleiras tipo alpino, também denominadas Em regiões de baixas e médias latitudes, as
geleiras de vale, caracterizam-se por ocupar va- geleiras do tipo alpino são restritas às porções
les nas encostas de montanhas, constituindo flu- superiores dos vales, porém, em latitudes mais
xos estreitos e alongados, com profundidade de elevadas, tais geleiras podem alcançar o sopé
até algumas centenas de metros. Geleiras do tipo das cadeias de montanhas, onde se espalham
alpino (Figura 17.2) apresentam fluxo mais rápi- formando as chamadas geleiras de piemonte
do que as continentais, da ordem de dezenas de (Figura 17.4).
Rômulo Machado
google.com.br/maps
I18_4469_F003_FIGURA2 I18_4469_F005_FIGURA4
aprovada aprovada
pp Figura 17.2 – Geleira do tipo Alpino. Perito pp Figura 17.4 – Exemplo de geleira de piemonte
Moreno, Argentina. (Geleira Malispina, Alasca).
credito
I18_4469_F004_FIGURA3
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Equipe Conexão Editorial
I18_4469_F006_FIGURA7 aprovada
pp Figura 17.7 – Plataforma de gelo sobre o mar, ilha Rei George, Shetlands do Sul, Península Antártica.
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Rômulo Machado
I18_4469_F007_FIGURA8 aprovada
Dentren/Wikimedia Commons
são formadas por gelo flutuante com até cen- I18_4469_F008_FIGURA9 aprovada
tenas de metros de espessura (Figura 17.7)
que, de forma diversa à dos icebergs (Fi-
gura 17.8) que delas se desprendem, estão liga-
das a geleiras continentais.
Outra forma de acumulação de gelo em
altas latitudes ocorre pelo congelamento per-
manente da água presente no solo, formando o
permafrost. Esse tipo de solo congelado é iden-
tificado e descrito em regiões com temperaturas
extremamente baixas e ocupa grandes áreas da
Sibéria e do Canadá. A profundidade do per-
mafrost pode alcançar centenas de metros, limi-
tada pelo calor interno da Terra. O permafrost
representa um problema para obras de enge-
nharia, pois o gelo tende a derreter quando es-
cavado, tornando o solo encharcado e instável pp Figura 17.9 – Erosão por derretimento de
permafrost (Alasca).
(Figura 17.9).
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Assim, geleiras movem-se de áreas em que pre- média de precipitação e ablação em todas as es-
domina a acumulação para áreas em que predomi- tações do ano (Figura 17.10). A frente da geleira,
na a ablação. A linha que separa essas duas áreas onde a ablação é completa, é denominada de
é chamada linha de equilíbrio, definida a partir da terminus ou frente de geleira (Figura 17.11).
I18_4469_I004_FIGURA10 aprovada
Renan Leema/Conexão Editorial
GLACIAL BUGDGET
ACCUMULATION DOM
INANT
Accumulation < ablation
ABLATION DOMI
NANT Accumulation = ablation
Snowfall, snow turning to ice Accumulation < ablation
Terminus Moraines
Zone of
accumulation Crevasses
Melting and
evaporation Outwash plain
Snowine
Sublimation
Meltiing and
iceberg calving
I18_4469_F009_FIGURA11 aprovada
Fernanda Maciel Canile
pp Figura 17.11 – Frente de geleira com depósitos de morenas frontais (entorno da praia). Ilha Rei George,
Shetlands do Sul, Península Antártica.
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Tipos de movimento de geleiras
A movimentação de uma geleira inicia-se relativo de planos paralelos. A porção superior da
quando a acumulação progressiva de neve atinge geleira não se deforma plasticamente, apresentan-
uma espessura mínima de 30 m, e assim o gelo do fraturamento devido à movimentação dos ní-
formado a partir da neve soterrada passa a sofrer veis inferiores. Essas fraturas dão origem a fendas
deformação plástica. O fluxo da geleira resulta da na superfície da geleira, denominadas crevassas
deformação de cristais individuais de gelo, cada ou clistoclases (Figura 17.12), que se formam em
um contribuindo com uma porção microscópica grande quantidade nas áreas em que as geleiras so-
do movimento. Esse processo resulta em um flu- frem mudanças de velocidade, como em curvas ou
xo do tipo laminar, em que ocorre deslocamento locais com aumento de declive.
Rômulo Machado
I18_4469_F010_FIGURA12 aprovada
pp Figura 17.12 – Crevassas na frente e superfície da geleira. Glaciar Perito Moreno, Argentina.
Em uma seção transversal ao movimento, as fusão do gelo e conter quantidades variadas de água
velocidades de deslocamento de uma geleira são de degelo em sua porção inferior. Essas geleiras são
maiores no centro e diminuem rumo às áreas de chamadas de geleiras temperadas ou de base quen-
atrito no fundo e às bordas de vales escavados. te, em contraste com as chamadas geleiras polares
O movimento por deformação plástica predomi- ou de base fria (sempre congelada). Além da defor-
na quando a base da geleira encontra-se a tempera- mação plástica, geleiras temperadas sofrem um tipo
tura muito abaixo da temperatura de fusão, quando de movimentação muito mais rápido, caracterizado
toda a coluna de gelo, assim como o substrato se- pelo deslizamento de toda a geleira sobre a camada
dimentar da geleira, encontram-se congelados. Por com temperatura próxima ao ponto de fusão. Esse
outro lado, as geleiras de regiões não muito frias, processo é conhecido como deslizamento basal e é
como as de altitude em climas temperados, podem causado pela presença de água de degelo que atua
ter suas bases a temperaturas próximas ao ponto de como um lubrificante na base da geleira.
Erosão glacial
Processos de erosão glacial
O movimento das geleiras, apesar de lento em re- grandes blocos de dezenas de metros de diâmetro.
lação ao de rios ou correntes oceânicas, causa intensa Em geleiras temperadas, o processo de desagregação
erosão nos substratos e nas paredes de vales glaciais de blocos é intensificado pelo intemperismo físico
por onde passam. A passagem de uma massa de (ver Capítulo 9), causado pela repetição de ciclos
gelo pode facilmente arrancar fragmentos de rocha de fusão e recongelamento. A água de degelo pene-
já segmentados por fraturas preexistentes, incluindo tra em fraturas das rochas do substrato, podendo
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Rômulo Machado
I18_4469_F011_FIGURA13 aprovada I18_4469_F012_FIGURA14 aprovada
a b Horns
TRADUZIR COTAS
Lateral moraines
Truncated spur
pp Figura 17.15 – Modelo de geração de vale glacial suspenso. Em (a) com passagem da geleira. Em (b) após
derretimento da geleira.
I18_4469_I005a_b_FIGURA15a_b aprovada
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I18_4469_F013_FIGURA16
OS2Warp/Wikimedia Commons
Outra feição característica de erosão por gelei-
ras do tipo alpino são os vales circulares deixados
por geleiras em circo nas cabeceiras de vales gla-
ciais. Esses vales circulares, denominados anfitea-
tros ou circos glaciais, frequentemente apresentam
lagos de degelo em seu interior.
Geleiras continentais também dão origem a
formas de relevo características. A erosão irregu-
lar do fundo gera as chamadas rochas moutonnées
(Figura 17.16), que são elevações assimétricas e
alongadas do substrato da geleira e apresentam pp Figura 17.16 – Rocha moutonnée.
um flanco menos íngreme e estriado apontando
Transporte de sedimentos
credito
A erosão glacial dá origem a partículas de I18_4469_F014_FIGURA18 aprovada
diversos tamanhos, e o movimento da geleira
transporta essas partículas sem nenhuma seleção.
Assim, o transporte pelo gelo leva desde fragmen-
tos na fração silte (ver Capítulo 10), gerados pela
abrasão de rochas do substrato e dos próprios clas-
tos transportados, até grandes blocos arrancados
do substrato. Os fragmentos transportados no fun-
do da geleira são denominados detritos subglaciais
e as acumulações desses detritos formam as mo-
renas basais. Os detritos contidos no corpo da
geleira são chamados englaciais e o material adi-
cionado à superfície da geleira por deslizamento,
queda ou fluxo de detritos das encostas adjacentes
de um vale glacial compõem os detritos supragla-
ciais que formam as morenas laterais e centrais.
As morenas laterais são formadas no contato
entre a geleira e a encosta do vale, e as morenas
centrais pela junção de morenas laterais quando
uma geleira tributária aporta em uma principal
(Figura 17.18). Como geleiras continentais não re- pp Figura 17.18 – Confluência de geleiras tipo al-
cebem fragmentos de encostas adjacentes, detritos pino formando morena central pela junção de
morenas laterais
supraglaciais são raros nesse tipo de geleira.
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a I18_4469_F018_FIGURA20a b aprovada
Delta
aprovada Crevasses
TRADUZIR COTAS
Ice blocks
pp Figura 17.20 – (a) Geleira com formação de lagos e dois pequenos rios nas laterais da geleira. Ilha Rei George,
Shetlands do Sul, Península Antártica. (b) Modelo de formação de sitemas fluviais e lacustres proglaciais a partir de
correntes subglaciais, englaciais e supraglaciais, exemplificado na Figura 17.20a.
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Sistemas deposicionais glaciais
O volume de sedimento transportado por uma um flanco suave e estriado apontando para o sen-
geleira pode ser muito grande. Geleiras de vales tido de onde provém a geleira, e o outro flanco ín-
podem apresentar coloração escura e estratifi- greme e fraturado apontando para o lado oposto.
cação devido à grande quantidade de sedimento Tills de ablação formam-se na região terminal
que carregam. O destino final desse sedimento é a da geleira, compondo acumulações denominadas
deposição, porém a grande complexidade de pro- morenas frontais. Podem formar-se pelo derreti-
cessos atuantes em sistemas glaciais dá origem a mento do gelo e acumulação direta do sedimento
diferentes tipos de depósitos, descritos a seguir. nele contido, ou pelo lento processo de sublimação
do gelo, com a passagem direta de gelo a vapor de
Depósitos glaciogênicos água, que ocorre em ambientes muito frios e secos,
primários (tills) como na Antártica. O processo de derretimento
Os sedimentos depositados diretamente a partir ou sublimação do gelo resulta na deposição do
do gelo são denominados depósitos glaciogênicos sedimento com muitas das características que ele
primários e são caracterizados por má seleção gra- possuía quando se encontrava na geleira. Assim,
nulométrica, pois todos os fragmentos carregados estratificações, orientações de clastos e feições de
pela geleira são depositados em conjunto. O termo fluxo podem preservar-se no sedimento deposita-
descritivo para sedimentos mal selecionados, con- do. A preservação desses depósitos, porém, é rara,
tendo fragmentos da fração silte ou argila até sei- pois a saturação em água do sedimento e a acumu-
xos ou clastos ainda maiores, é diamicton, e a rocha lação de grandes pilhas, muitas vezes depositadas
formada pela litificação do diamicton é denominada em vertentes inclinadas, facilitam o deslizamento
diamictito. Quando um diamicton ou diamictito foi e o retrabalhamento por fluxos gravitacionais.
comprovadamente formado por deposição direta a O processo de sublimação também implica em
partir do gelo, recebe o nome de till (o sedimento) difícil preservação do depósito, pois a retirada se-
ou tilito (a rocha). Outros processos sedimentares letiva do gelo deixa um volume muito grande de
podem dar origem a diamictons, como fluxos gravi- poros entre os fragmentos sedimentares, resultan-
tacionais (ver Capítulo 10), e esses processos podem do em um depósito friável e instável.
retrabalhar depósitos glaciogênicos primários (tills), Assim, retrabalhamento por fluxos gravita-
que deixam assim de constituir tills. cionais ocorre com muita frequência em tills de
Tills podem formar-se por três processos: ablação, resultando em depósitos maciços com
1. Por alojamento de sedimento no substrato má seleção granulométrica (diamictons). Boa parte
durante a movimentação da geleira (till de dos depósitos de morenas frontais passa por esse
alojamento) tipo de retrabalhamento.
2. Por derretimento ou sublimação do gelo na Tills de deformação são formados pela mis-
frente da geleira (till de ablação) tura intensa e homogeneização por deformação
3. Por deformação do substrato da geleira por de sedimentos no substrato da geleira, resultando
cisalhamento causado pela passagem do em depósitos sem estruturas primárias, maciços,
gelo (till de deformação e glaciotectonito). com má seleção granulométrica. A deformação
Tills de alojamento (Figura 17.21) ocorrem ocorre pela força de cisalhamento da geleira em
preenchendo depressões do substrato da geleira movimento, não sendo propriamente um proces-
e são formados pela deposição de sedimento sob so de deposição sedimentar. Entretanto, mesmo o
pressão, durante a movimentação da geleira. Devi- material original não sendo um depósito glacial,
do a esse mecanismo, tills de alojamento são origi- convencionou-se chamar o produto final de till.
nalmente compactados e podem apresentar estrias Aplica-se o termo glaciotectonito quando a defor-
no topo do depósito e fraturas sub-horizontais de mação do substrato, que pode ser sedimento pre-
cisalhamento. Outra feição característica de tills viamente depositado ou rocha do embasamento,
de alojamento é a presença de seixos assimétricos não resulta em homogeneização, mas em desenvol-
semelhantes a pequenas rochas moutonnées, com vimento de texturas de cisalhamento.
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sedimentos da planície de lavagem. Lagos maiores do presente, causando enchentes nas planícies abai-
podem formar-se por barragens naturais, como xo com vazões de pico cerca de cem vezes maiores
outros lobos da geleira, morenas deixadas ante- que a do rio Amazonas. Esses eventos escavaram
riormente pela geleira ou relevo do embasamento. canais em rochas e depositaram dunas subaquáti-
Os depósitos de lagos proglaciais refletem o apor- cas de cascalho com até 5 m de altura.
te sedimentar, em corpos de água parada, da geleira
A. C. Rocha Campos
e dos sistemas fluviais de degelo. Assim, no contato I18_4469_F017_FIGURA23
aprovada
direto da geleira com um lago podem depositar-se ti-
litos de ablação que escorregam para dentro do lago,
retrabalhados como fluxos de gravidade. Correntes
aquosas sub e englaciais saem da geleira por portais,
que podem desaguar diretamente em um lago na
frente da geleira, formando pequenos deltas. Sistemas
fluviais proglaciais também podem desaguar em la-
gos, formando deltas. Esses deltas são compostos por
depósitos areno-conglomeráticos de desaceleração
na porção proximal, que passam para depósitos mais
finos em direção ao centro do lago, incluindo turbidi-
tos distais e depósitos de decantação. pp Figura 17.23 – Clasto caído em depósito lacustre
proglacial. Formação Itararé – Paleozoico, Itu, SP.
A variação anual de temperatura pode resultar
em congelamento da superfície de lagos glaciais
durante o inverno, interrompendo a deposição. Depósitos glaciomarinhos
Depósitos de águas calmas em lagos anualmente Em altas latitudes, geleiras podem alcançar a
congelados podem apresentar níveis milimétricos a costa marinha. Nesses casos, a frente da geleira é o
centimétricos de silte, depositados no verão, quan- ponto em que a geleira deixa de estar aterrada, pas-
do grande volume de sedimentos trazidos por rios sando a uma plataforma flutuante de gelo. Esse pon-
de degelo chegam ao lago, intercalados com níveis to geralmente encontra-se abaixo do nível do mar e
de argila decantada no inverno, quando a superfície o derretimento do gelo dá origem a sedimentos ma-
congelada do lago impede o aporte de sedimentos. rinhos mal selecionados, muitas vezes retrabalhados
Cada um desses pares de camadas é denominado por fluxos gravitacionais subaquáticos.
varve, e representa um ano de registro sedimentar. As plataformas de gelo flutuante na frente de ge-
O depósito resultante do acúmulo de vários varves leiras podem estender-se por centenas de quilôme-
recebe o nome de varvito. No interior desse depósito tros, terminando em frentes de ruptura de icebergs.
de varve, seixos podem ser encontrados e devem-se O derretimento do gelo sob a plataforma causa a
ao derretimento de blocos de gelo que boiavam no queda das partículas, formando extensos depósitos
lago no período de verão. Esses blocos de gelo por- de diamictitos, geralmente maciços. Caso haja cor-
tam diversos fragmentos extraídos do substrato por rentes marinhas sob o gelo, as frações mais finas são
onde a geleira passou e, com sua fusão, esses frag- carregadas com a corrente, e o depósito pode ser
mentos caem para o fundo do lago. Tais fragmentos desprovido de argila ou até mesmo de silte.
recebem o nome de clastos caídos. (Figura 17.23). Os icebergs que saem da fente das plataformas
Lagos glaciais de grande porte podem originar de gelo percorrem longas trajetórias até seu derre-
um tipo de fenômeno catastrófico que deixa registro timento completo, largando sedimentos pelo cami-
geológico em grandes áreas: são as grandes inunda- nho. Esses clastos transportados por icebergs são
ções causadas pelo rompimento de barragens natu- encontrados em meio a sedimentos finos, por vezes
rais. Nos estados de Montana e Washington, nos laminados, das plataformas continentais próximas a
Estados Unidos da América, um grande lago gla- geleiras, e são chamados de clastos caídos. Os clas-
cial da última glaciação pleistocênica, denominado tos caídos têm tamanhos incompatíveis com o depó-
Missoula, sofreu repetidos rompimentos de sua sito em que se encontram (ver figura 17.23) e podem
barragem natural entre 12.000 e 16.000 anos antes causar deformação do substrato pela sua queda.
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Glaciações
Produtos geológicos da passagem de geleiras, A composição isotópica de carapaças de fora-
principalmente relevo escavado pelo gelo e depósi- miníferos é outro indicador importante, pois
tos glaciais, são hoje encontrados em vastas áreas depende da temperatura da água em que o or-
de clima temperado do hemisfério norte. Essas ganismo vive. Vários ciclos de avanço e recuo de
evidências revelam que as geleiras continen- geleiras podem ser reconhecidos no registro iso-
tais atuais ocupam uma área de apenas um ter- tópico do Pleistoceno. Os eventos de avanço das
ço de sua extensão máxima, no Pleistoceno. Na geleiras são conhecidos como glaciações e pro-
realidade, os depósitos glaciais do hemisfério norte movem a modificação do clima em todo o plane-
revelam várias fases de avanço e recuo das geleiras, ta, com rebaixamento das temperaturas médias
pois os tilitos e depósitos proglaciais encontram-se em vários graus centígrados e deslocamento das
em níveis separados por horizontes de solo com zonas climáticas para latitudes mais baixas.
restos de vegetação de clima temperado.
O registro obtido de isótopos de oxigênio Glaciações no registro geológico
em sedimentos e conchas de animais oceânicos As glaciações do Pleistoceno são as mais es-
também evidencia variações cíclicas no volume tudadas por terem influenciado muitos aspectos
das geleiras. Os isótopos de oxigênio O18 e O16 dos padrões atuais de clima, relevo e distribuição
têm comportamento diferente durante a evapo- de animais e plantas. A última dessas glaciações
ração da água do mar, pois o isótopo mais leve teve como principal elemento o desenvolvimento
(O16) evapora mais facilmente. Como as geleiras de grandes geleiras continentais sobre a América
são formadas principalmente por água evapo- do Norte e a Eurásia.
rada dos oceanos e precipitada como neve, o Outros eventos de glaciação são reconhecidos
aumento do volume de geleiras promove uma em períodos geológicos mais antigos. Parte da
retirada seletiva do isótopo leve O16 da água dos África e o sudeste da América do Sul (incluindo
oceanos. Assim, variações cíclicas nos isótopos o Sul, Sudeste e parte do Centro-Oeste do Brasil)
de oxigênio da água dos oceanos correspon- estiveram cobertos por geleiras entre os períodos
dem a variações no volume de água aprisionado Carbonífero e Permiano, quando o superconti-
em geleiras, e essa composição isotópica nente Gondwana (ver Capítulo 5) passou por la-
da água fica registrada nas rochas sedimentares. titudes polares.
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Acredita-se que eventos de glaciação extrema A obliquidade, ângulo entre o eixo de rota-
afetaram o planeta durante o Neoproterozoico, ção e o plano de translação da Terra, que hoje
com o avanço de geleiras e plataformas flutuan- é de 23,5o, varia de 21,5o a 24,5o em ciclos de
tes de gelo até próximo ao Equador. As princi- cerca de 41.000 anos. A excentricidade, que é a
pais evidências para essa hipótese são dados de diferença entre os eixos maior e menor da elip-
paleomagnetismo em sucessões glaciais, que indi- se da trajetória de translação, varia em ciclos de
cam que esses depósitos formaram-se em baixas 100.000 anos. A relação entre a inclinação do
latitudes. eixo e a posição da Terra no ciclo de translação é
chamada presceção do Equinócio, que varia em
Mecanismos causadores das ciclos de 23.000 anos.
glaciações A interação entre esses três processos gera um
A ciclicidade de avanço e recuo das geleiras padrão de oscilação da energia média recebida
do Pleistoceno pode ser explicada por ciclos as- pela Terra e causa a ciclicidade das glaciações, com
tronômicos que fazem com que a energia do Sol um ciclo longo a cada 100.000 anos e ciclos curtos
recebida pela Terra varie em períodos de dezenas de 20.000 e 40.000 anos.
de milhares de anos. Esses ciclos astronômicos são Testemunhos retirados de poços que per-
conhecidos como ciclos de Milankovitch, e repre- furaram as espessas geleiras da Antártica e da
sentam o complexo movimento da Terra em torno Groenlândia contêm bolhas de ar aprisionadas
do Sol em períodos maiores do que a rotação diá- no gelo que registram a evolução da atmosfera
ria e a translação anual. nos últimos 160.000 anos, em um intervalo de
São três os principais ciclos de Milankovitch tempo que abrange o fim da penúltima glacia-
(Figura 17.24): I18_4469_I009_FIGURA24
ção, um período interglacial, a última glaciação
aprovada e o interglacial atual. A datação das camadas de
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dos mais importantes no registro geológico de recuo da maioria das geleiras nas últimas dé-
eventos glaciais, pois influencia os padrões de cadas, apesar de modificações no clima global
sedimentação em todas as bacias marinhas do terem efeitos complexos sobre as geleiras, pois
planeta, mesmo aquelas distantes das áreas o aumento da precipitação de neve pode levar a
glaciadas. um crescimento das geleiras mesmo durante um
O efeito local do degelo pode, por outro ciclo de aquecimento.
lado, compensar a elevação do nível do mar A rápida subida do nível dos oceanos causa-
no fim de uma glaciação. O peso exercido pela da pelo derretimento de 2/3 do volume de gelo
geleira, particularmente no caso das espessas da última glaciação causa preocupações com re-
geleiras continentais, causa o afundamento do lação às atuais modificações climáticas. Se todo
continente em que elas se encontram, denomi- o volume de gelo das geleiras polares derretesse,
nado subsidência. Quando a geleira recua, as causaria uma elevação dos oceanos de cerca de
áreas antes recobertas pelo gelo voltam a subir, 50 metros, mesmo considerando-se o aprofun-
ou soerguer, para a posição original. Esses mo- damento das bacias oceânicas pelo peso da água
vimentos da crosta em função da sobrecarga e adicionada. Essa elevação causaria a inundação
do alívio do peso da geleira são denominados da maior parte das grandes cidades do planeta,
glácio-isostasia. Assim, apesar de o nível dos além de cobrir todas as terras baixas, onde vive
oceanos subir durante o degelo, as áreas em que a maior parte da população e onde estão as prin-
havia espessas geleiras podem soerguer mais rá- cipais áreas férteis. Felizmente, a resposta das ge-
pido que a subida do mar, mantendo-se emersas. leiras continentais ao aquecimento é lenta, e não
se espera um derretimento completo das calotas
Mudanças globais e os sistemas polares nos próximos milhares de anos.
glaciais Uma subida mais modesta, entretanto, pode-
Um volume crescente de evidências aponta ria causar grandes problemas para as populações
para o aquecimento global, causado pela emis- costeiras de todo o mundo. Muitos pesquisadores
são de gases de efeito estufa, principalmente acreditam que o nível médio dos oceanos possa su-
CO2. Esse aquecimento está relacionado ao bir cerca de 1 m ainda neste século.
304 CAPÍTULO 17
Janete
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glaciações envolvem variações na eneriga
Revisão de conceitos solar recebida pela Terra em decorrência
de ciclos astronômicos.
1. O que são geleiras e sob quais condições ocor-
( ) Esker, varvitos, tilitos e Loess são sedi-
re sua formação?
mentos de origem glacial, fluvioglacial e
2. Defina de modo sucinto:
glaciolacustre.
a) Linha de neve perene:
12. Quais são as principais diferenças entre vales
b) Morenas centrais
escavados por geleiras e vales fluviais?
c) Planície de lavagem
13. Como se pode reconhecer a ação de icebergs
d) Ablação
em rochas sedimentares glaciomarinhas?
e) Clistoclases ou crevassas.
14. Como a ação de geleiras, rios de degelo e ven-
3. Os sedimentos formados pela ação do gelo
tos se conjugam para a formação de depósitos
apresentam características marcantes. Quais
de Loess?
são elas?
15. Em que condições o volume de gelo em uma
4. De que forma o gelo pode provocar a erosão de ro-
geleira pode aumentar mesmo com o aumento
chas e que feição morfológica marcante ele produz?
da temperatura média anual?
5. Quais as principais diferenças entre geleiras
16. Qual a relação entre glaciações e variações no
continentais e alpinas?
nível do mar?
6. Os depósitos de morenas são formados de di-
17. Qual a relação entre o CO² da atmosfera e as
ferentes formas. Quais são seus tipos e como
glaciações e qual a principal evidência para
se formam?
isso?
7. Faça um esquema de uma geleira do tipo alpi-
no e indique as regiões de acúmulo, ablação,
erosão, sedimentação. Leitura recomendada
8. Compare as características e os processos BENN, D., EVANS, D. J. A. Glaciers and glaciation. 2. ed.
formadores de diamictitos e varvitos. Hodder Arnold Publication, 2010. 816 p.
9. Quais são os principais depósitos formados
nas regiões proglaciais?
10. Quantas e quais são as glaciações conhecidas
no Brasil?
11. Das frases abaixo definir quais são F (Falsas) e
quais são V (Verdadeiras) e indicar uma corre-
ta para tecer um breve comentário.
( ) A ação geológica do gelo se faz presente
em áreas tropicais devido à presença de
sedimentos glaciais como tilitos, ritmitos
e clistoclases.
( ) As glaciações conhecidas no Brasil são
em número de 3, sendo a primeira no Pré-
-Cambriano superior (600 a 1000 M.A) a
segunda no Permo-Carbonífero (220-350
M.A) e a terceira no Pleistoceno (1 M.A).
( ) A ação erosiva do gelo é acompanhada
de uma correspondente ação construtiva,
em interação com atividade fluvioglacial e
glaciolacustre.
( ) O Loess é um sedimento de origem glacial
(planície de lavagem) que foi posterior-
mente trabalhado pela ação eólica.
( ) As principais teorias sobre a origem das
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