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L Ae q ar (ee Artes Plasticas ARTES SUMARIO 1° PERIODO Aula 1 Quando a arte acontecé ? — rae mannnenen- Aula 2 Arte renascentista e arte ‘barroca-—————- Aula 3 As artes plasticas e seus elementos — 2°PERIODO Aula 4 O Modernismo———_. Aula 5 A forma: - 3° PERIODO Aula 6 Ciéncia ¢ tecnologia Aula 7 A questio dos valores——— 4° PERIODO. Aula 8 Arte do século XIX a 8 Aula 9 A core a textura na arte———________ Aula 10 Arte medieval--—— te Quando a arte ray exe 2e Iniciamos o estudo de Artes Plisticas, conhecendo: © oconceito de arte; | © as diferentes linguagens artisticas; + asartes plasticas. Quando estranhamos os lugares por onde passamos todos os dias eles se tormam novamente vivos. © que parecia banal, to comum aos olhos que nem percebiamos ‘mals, torna-se novamente extraor- dinério, novo como no momento fem que o vimos pela primeira vez. Observar e perceber o mundo ‘Agora, propomos a voc® um exercicio de “estranhamento”. ’Pegue uma folha de papel ezecorte em seu centro uma janela retangular de aproximadamente 10 cm x 15 cm, fazendo assim umuvisor com 0 qual poderé “enquadrar 0 mundo” = Dé uma volta no sew entorng’procurando revitalizar seu olhar e sua relago com o mundo, Leve uma superficie igida que slrva de apoio, como uma prancheta; papéis em branco e um lépis grafite. Durante o percurso, quando observar algo que the chame a atencko, que seja significativo para voce, pare diante dessa situacao, objeto, detalhe, etc., enquadze-o com seu + visor e desenhe o que deseja capturar a partir da imagem observada. ames pusnieas | 13 Retina os desenhos realizados, reconstituinclo 0 percurso. Aprecie o resultado, refletindo sobre 0s diferentes olhares que compoem esse novo “entomo”, que acaba de nascer da sua expresso artistica, Se estiver estudando. ‘sim grupo, Fealize esse trabalho. Juntamente con! O8 seus colezas expondo os sleserthos de todos os participantes da atividade, a fim de expressar 0 “entorno coletivo". Quando a arte acontece? Passamos boa parte da nossa vida tentando compreendet 0 mundo: a natureza, os objetos eria- dos pelo homem, a feligiao.£ por meio dessa busca que.n0s situamos eos conhecemos methor. Além de precisarmos compreender 9 mundo, necessitamos também de que © mundo e as pes- soas nos compreendam, Precisamos expressar nossa diferencas, nossos pensamentos, emogdes, convicybes ¢angtistias. ‘A arte revela essas pectliaridades porque cada individuo tem a sua maneira de ser, de se expressat. © homem, desde as civilizactes pré-histérias, vem se expressando mediante da tinguagem plas. tic, seja manifestagbes na parede de uma cavema, de um templo, de uma igteja, ou, como acon tece nos clas dle hoje, em grates espathados pelos muros das cidades Mas por que serd que diversas pessoas e grupos preferem manifestar-se no espaco piiblico, a fazé-lo em espagos fechados, escolhendo muros, viadutos, passarelas, e até mesmo calcadas, como base para 0s seus desenhos, simbolos e pinturas? Significando “marcas ou inscrigbesfetas em um muro” e nomeadlos grafites, do italiano graffit, 88 tipo de produgdo artstica sempre exists, nas virias civilzactes. No Impétio Romano, por ‘ecemplo, os desenhos geralmente manifestavam opinides sobre 05 fatos socials e histbricos vivi- dos pelas pessoas, que € uma caracteristica retomada pelos “grafiteiros” contemporaneos.. Se considerarmos que no Império Romano esse tipo de inscricao jéexista no ambiente utbano, talvez possamos também encontra-lo num passado ainda mais remoto: na época do paleoli- tico, durante a qual homens € mulheres cacadores e coletores transformavam em desenho tudo aqullo que viviam e desejavam. Ou sea grafite [a se manifestava nas paredes de cavernas eem rochas, no melo da naturera. Ao longo da historia da humanidade, ocorreram mutas formas de inscrigao de desenhos e de dizeres em muros. Hoje, o grafije € um movimento de “arte urbana” importante em varios sen- tidos. £ uma forma de manifestagdo artista que evidencia a telacdo de proximidade que pode existicentre a arte ea vida. Vamos ver agora uma seqiiéncia de imagens que ilustra um pouco a necessidade de manifes- tacio plistica do ser humano ao longo da Historia. Comecando pelos desenhos rupestres e ter- minando no grafite contemporaneo, 14 | aus Figure 1a: Anterupestre, Monte Alere, PA Fgura 14:0 Srabe Desirio ‘oferecendo a rmaquete do aares uasicas | 15 Fgura if © banguete de Cleopatra (1750), ‘de Glovanni Battista Tiepolo Figura 1g: A conquista. Diego Rivera, Detahe do mural ne Paldcio Nacional, na Cidade do Mésico (1910) A ctlatividade esta presente ‘em todos nés. Somos um canal para a manifestagdo das for- ‘cas criadoras, para a constante transformacao e invencSo do mundo, O artista é alguém ‘que mergulha profundamente nas suas proprias urgéncias e nas urgéncias de seu tempo, transformando-as em simbo- Jos que representam a condi- (do de todos. Urgéncia ~ Aquilo que esté diante de nés ~ como sensa- (GOes ou fatos cotidianos ~ e Fgura 2: montanha. Grupo TupiNaodé que nos indigna, nos move para transformar. Por exemplo, na busca da melhor expresso do efeito da luz sobre a cor — investigagSo que inau- gurou uma nova possibilidade de olhar, importante até os dias de hoje -, Van Gogh (pintor holand@s do século XIX) dedicou-se a observar cuidadosamente uma plantagéo de trigo. E assim Produziu o seu quadro Campo de trigo com cipestre, no qual expressou a sua percepsao, a relacao entre a sua maneira de ver 0 mundo e aquela paisagem. Fgura 3: Carnpo de igo com cipestre (1889), Vincent Van Gogh ‘Apesar de existir um sistema da arte, nao é necessirio ser artista para se comunicar atistics- te, ato depende de cada um. Existem conhecimentos especificos que pertencem 20 mundo da arte — alguns dos quals estudaremos ao longo deste Telecurso -, que compoem suas diversas Iinguagens e tecnicas, ferramentas usadas por aquele que deseja materializar suas idélas artist: ‘camente. Mas podemos entender a arte fora dos espagos fixos a ela destinados, como os museus e galerias. A vida participa organicamente da arte ¢a arte da vida. Sistema da arte—Trama de relagdes que envolve museus, galerias, artistas consagrados, coleclonado- res, historiadores, criticos de arte, entre outras personagens que compoem a hist6ria oficial da arte, Fm 1910, 0 atista Marcel Duchamp desafiou o sistema da arte colocando um urinol de porcelana ‘num museu e intitulando-o como “A fonte". No momento, em que esse objeto banal passou a ser considerado uma obra de arte, Duchamp fez uma operacao de “deslocamento seméntico", alte rando 0 significado do objeto simplesmente tirando-o de seu Tugar habitual. Com isso, ele questio- rou o que é arte, o que toma alguém artista, e sugeriu que a possibilidade de criagio est no mundo eno homem comum. Outra contribuicao importante de ‘Duchamp para a hist6ria da arte fol inaugurar um novo ‘olhar paraa arte em que o conceito, a idéia que a origina, ‘éseu aspecto fundamental. Essa abertura deu origem mais, tarde a chamada arte conceitual. Assim, podemos conside- rar que a arte conceitual iniciou-se em meacos da década de 1960, tendo como precursor Duchamp. Na arte conceitual, a idéia ou conceito € 0 aspecto mais importante da obra, Isso significa que o planeja~ ‘mento, a concepsao da obra, € 0 que ela tem de mals fundamental, sendo a execugdo um assunto secundé- rio, Em alguns casos, a’obra acaba por reduzit-se a um conjumto de instrugdes escritas que a descrevem, ser {que se realize de fato. Figura 4: A fonte (1917), de Moreel Ouchame seres uasticas | 17, A obra de arte tem vida propria? Depois de conclufda pelo artista, tomna-se imprescindie vel para a obra de arte o apreciador. Se ficar guardada no armétio, se ndo for vista, seré apenas um mero objeto. E'Sabe por qué? Quando apreciada, ela emo- ciona, pertuba, faz pensar provocando ages e reages, Hi mais de quinhentos anos, a pintura de Leonardo da Vinel Mona Lisa (Figura 5) provoca curiosidade, impressiona pelo mistério da sua expressio, Para isso, © artista precisou dominar uma técnica delicada de tratamento dos tons claros e escuros, 0 que define bem 0 volume e a profundidade, © mistério da expressio pode ser observado no leve sorriso da personagem, que ja recebeu multas interpretagdes. ‘igura 5:8 Gloconda (Mona List, cde Leonardo do Vine! A pintura Mona Lisa valoriza.a figura humana, que aparece logo frente, com a nature a0 fund. A obra de Da Vinci reflete um momento na histéra da Europa, no século XV, etm que a ate Buse resgataraimportancia do homem e da natureza, em que o sex humano est interessado em erlar melos de conhecer melhor o mundo em que vive. £ quando as ciéncas ~ especialmente fsiea, ' matemética a astronomia ~ dio um salt, Esse desenvolvimento, que serviu de bate para og avangos tecnol6gicos do nosso tempo, recebeu multas contribulgdes da ate, Contudo, a pergunta feita antes permanece: se nao fosse ‘Vista, a Mona Lisa teria influenciado: Pintores tera nspirado outras obras? Quem podera chamé-la de arte? Quando vemos e desfuta, ‘mos de uma obra de arte, estamos criando Interpretacoes,fazendo novas leltuts, einventando, Quando produzimes atsticamente, estamos expressando os nossos valores ico estétices, nossa sensibllidade e 0 nosso cqnhecimento, assim como na atividade inclal, em que voce reinventou um de seus percursos cotidianos se expressando artisticamente De volta ao seu “entorno”, procure: ~ observara sua producto (i estiver junto ao seu grupo, observem untos); ~ pensar no que poderia ser acrescentado, retirado ou moalficado, a fim de transformar 0 “entorno" em um “entoono imagindrio”. Para dar cor ao trabalho, utlize materials pata Pintura, como tinta, léplside cor, giz de cera, recortes pata fazer colagem, ee 18 | suas Voce observou, refletiu e descobriu novas solugdes para a producto de seu trabalho. f assim mesmo 0 processo de criaglo, vamos elaborando e reelaborando, até encontrar um resultado que nos satisfica, A ctlagio, a fruicao ea critica sto etapas que se alternam no processo artistico. O criador é 0 primeiro espectador. © espectador faz leiturase interpretagGes diversas que recrlam a obra ¢ pro- porclonam reflexoes e opinides (criticas) sobre ela. Essas reflexes e opinioes dependem da expe- riéncia de vida, do conhecimento de mundo de cada pessoa. Eruigao— Em principio seria o ato de desirutar, de tirar proveito, de usufruir, de gozar, Porém, a0 apreciarmos uma obra, passamos por um processo que vai da contemplagiio a fruigo. Refletimos ¢ elaboramos significados, e, dependendo da relaco que estabelecemos com essa obra, podemos pas- sar a fruir, ou seja, o apreciador se tora ativo, desinutando, tirando proveito desse momento. © mundo da experiéncia e 0 mundo da representasao © mundo da experiéncia envotve todasas formas de experimentagao e rlagdo com a vida: pensa- mento, a sensagdo, a percepgo, a emorSo. Por exemplo, pela percepeao identificamos as coisa com 4s quais temos contato fisico: 0 calor € o fro; 0 Som alto eo som baixo; o movimento ea imobilidade. Sao 0s nossos sentidos (audio, tao, visio...) que nos ajudam a perceber sons, imagens e formas, ‘Jo mundo da tepresentacio reduz a experiéncia a uma forma simbélica, na tentativa de comu- nicé-la, compartilhé-la, Foonece-nos elementos que permnitem identifcar o significado das pala- ‘vras, das formas, das cores e dos sons nos grupos socials onde vivernos, na nossa cultura ‘Simbélico— Vem de simbolo, algo que representa ou substitui outra colsa pelo principio da ana- logia, ou seja, mantém alguma relacao com aquilo que representa, Significado— Vem de signo, representa algo distinto de si mesmo, como 0 alfabeto e conseqtien- ‘temente as palavras ea escrita como um todo, que, embora represente tudo que existe, 6um signo arbitrério, uma vez que nao estabelece relacao analdgica com aquilo que representa. lisses elementos podem ou nao ser reconhecidos pelos membros de uma comunidade. Quando sio cédigos muito novos, chocam e rompem com os padrdes de olhar, criando outros (lembra-se do ‘caso de Van Gogh? O artista nao obteve reconhecimento de sua obra enquanto vivo, porque seus contemporaneos nio conseguiam decodilica-Ia). Mas, ao longo do tempo, os novos padrées vaio sendo absorvidos pela sociedade (ndo é & toa que os quadros de Van Gogh atualmente nio nos chocam mais) ¢ dao passagem a novos cédigos que voltam a chocar ¢ assim sucessivamente. ser humano cria conceitos que podem ser organizados (associados) e comunicadas de dife- rentes maneiras ~ linguagens ~ coletivamente. Em outras palavras, € a cultura que nos permite interpretar 0 que percebemos por meio dos sentidos. Essa € a diferenca entre o ser humano € uttos seres. A associacao entre cultura e percepcio no individuo possibilita diferentes formas de expressao em diferentes linguagens artisticas, Linguagem Artistica ~ Forma de organizacto e comunicacio do pensamento, das percepedes € sensagdes por meio das manifestagbes artistas. Sio algumas delas:o teatro, a danca, a mtisica, 2 pintura, a escultura, a fotografia, 0 video, o cinema, entre outras. aares ruses | 19 © universo da arte € imenso. S40 muitos os tipos de arte e de linguagens artisticas com os quais, ‘temos contato. Alguns nos so familiares, por exemplo: cantando no chuvelro, batucando sobre a mesa ou ouvindo uma mésica, estamos em contato com a linguagem musical. Alids, a propria nnatoreza, com seus sons e tons, brinda-nos.com sta expressao. INO calfpa das artes visuals so cmuliGelos mieice dé produgao ¢ ha-uima grande variedade de suportes. Nos moldes tradicionais, a pintura, por exempio, é feita sobre uma superficie bidimen- sional, isto é, com duas dimensées (altura e largura) - uma parede, uma tela, um papel, ou uma placa ce madeira, Ja as esculturas sio tridimensionais, ocupam lugar no espaco - de modo que se possa dar uma volta em tomo delas - do mesmo modo que a instalagaoea arquitetura. Suporte - Como 0 préprio nome sugere, & uma estruturafisica que dé suporte para a realizagio antistica; 6a base onde a arte se manifesta. Por exemplo: para a pintura, tradicionalmente a tela € osuporte; para o grafite, o™muro ¢ 0 suporte, Instalagao ~ Obra em que a ‘dia (ou conceito) se desen- volve pela articulagao de varios suportes: objetus, animais, pes- s0as, sons, tecnologia de ima- gem, interferindo ou cons- ‘truindo um ambiente. A arte ambiental e a inter- vengao urbana dio outro asso na relagao com 0 espaso, estabelecendo outras possibili- dades artisticas: a primeira usa como suporte a paisagem natu- ral; ea segunda, os espagos da vida urbana, cotidiana, Figura 6: Intolagac Arroz® feo, de Anna Maria Maino Arte ambiental ~ Esa vertent a rte, mais conhecid por sex nome original em ingles, and Art, também conhecida como Earth Art ou Earthwork, surgiu nos Estados Unidos da América, no: final da década de 1960. £um tipo dearte em que o terreno natural, em vez de prover o ambiente para uma obra de arte, é ele proprio tabalhado de modo a integrar-se a obra. 20 | amas Por suas caracteristicas, as obras da Land Art nao podem ser expostas emt museus ou galerias, a no ser por melo de fotografias. figura 7: Spiral ety, Great Soft Lake, LUthe, EUA (2970), de Robert Smithson Robert Smithson (191%-1973) ~ iscultor€ artista experimental nortc-americano, € um dds ames Folovantes na histévia de arte da segurida metade do século XX. Os seus projetos sairam dos ‘muiseus ¢ das galerias de arte, ¢ propdem um outro mado de rélacionar arte com o-espago tisico no ‘contexto da arte ambiental ‘Figur 8: Monument & catrocainvisivel ~ Programa para descatracalzegSo da prépra vida (2004), do Grupo Contr Fs, rstalade ne centro se Sto Paulo, SP Intervenco urbana ~Linguagem artistica que sur- glu na década de 1980, quando as manifestacoes artisticas safram dos espagos oficiais da arte e pas- saram a usar as ruas como suparte, ‘Contra File grupo deinvestigagao e predugio de arte que trabala a partir de sua experiéncia coti- diana. Formiado em 2000, em Sao Paulo, seu tra- hiaiho consiste em crlar estratégias que tragem 3 toma, por meio de sinteses simbSlicas, os olhares ‘© experiénclas humanas velados pelos "diseur- sos oficiais". Para iss, ctaintervensbes publics ‘que mistaram técnleas de performance, instala- ‘Go, escultara e nartativas poéticas, promovendo ‘encontios esiativas com diferentes pessoas, f+ pose comunidades. Para situar o universo do nosso estudo, chamare- mos de artes plasticas aquelas que expressam idélas, sensagdes, percepgdes, principalmente por meios téteis e visuais, relacionando cores, formas, linhas, volumes e espacos. aerespusticas | 27 Sobre as fronteiras entre as linguagens, 6 importante, ainda, considerar que, em cada uma, pode ‘existir um pouco das outras, ou melhor, quanto mais préximo da arte contemporanea menos se pode ver Jimites entre as diferentes linguagens artisticas. Arte contemporiinea - Conjunto de intimeros movimentos e manifestacdes artisticas que teve Inicio por volta de 1945 (pés-Segunda Guerra Mundial) e que dura até os dias de hoje. Sao miil- tiplas as possibilidades de linguagem e os caminhos trilhados pelos artistas contemporaneos. _As expectativas que vém de um alhar cléssico, como hharmonia, perfeicao, beleza, nio correspon- dem a arte contemporanea, Somos convocados a nos relacionar com aarte de modo a entender a atitude, o posicionamento politico, as idéias e conceitos que ela apresenta para nds ¢ para o mundo. ‘A propria idéia de plenitude, de obras-primas e tinicas, realizadas por sujeitos geniais, como exam considerados os artistas, parece absurda em nossos dias. © museu ou a tela ja nfio io espasos suficientes para o artista, que quer extrapolé-los ¢ intervir diretamente no mundo, buscando transformacbes dizetas. Por Isso, diz-se que 0 mundo, natutal ¢ social, vira o proprio suporte da arte. ‘O cinema 6 um exemplo clissico da sintese de varlas linguagenss, uma vez que associa som, ima- ‘gem, cor, luz e expressao corporal e oral. Mas a combinagdo entre diferentes linguagens acontece também no campo das artes plasticas; por exemplo, nas performances ¢ nas obras aucliovisuals Performance E uma modalidade das artes plésticas, que surgiu na década de 1960, e que apre- senta, muitas vezes, ligagbes com as artes enicas (teatro), com a musica ¢ 0 video. O artista da performance elabora sua obra a partir da atuacao do corpo - do préprio artista ou nao — em dleterminado espaco. Por serem cfémeras, as performances costumam ser registradas por melo de fotografia, video e/ou de memoriais descritvos. Audiovisual — No campo das artes plisticas, audiovisuais sao obras que acontecem pela utiliza- ‘cdo conjunta cle imagens e elementos sonoros, ou seja, sas mensagens sao geradas por estimu- Jos simulténeos & nossa visao e audica0. Os audiovisuals normalmente acontecem por meio de recursos eletrénicos, como é 0 aso dos trabalhos de video. Vamos fazer artes ‘A partir do que vimos ao longo desta aula, de que a alteragio dos cédigos de thar estabelecidos ¢ uma possibilidade de transformacéo social por meio da arte, faremos um pequeno exercicio de intervengio urbana nos arredores. Por ‘exemplo: em toga cidade existem placas de sinalizacdo que informam desde 08, rnomes das ruas até o modo como devemos cizcular, sempre com um caréter fun- clonal e objetivo. ‘Voce ja imaginou que criar uma nova placa, com um tipo de informacao inu- sitada pode ser um modo de fazer arte? Dessa manera, estarfamos criando nos- sos proprios cédigos para 0 mundo em que vivemos. Agora: — pegue um papel rigido, uma tesoura, pincel e tinta. Pode também usar ‘outros materiais: pincel at6mico, lapis de cera ou caneta hidrogratica; 22 = imagine 0 formato que sua placa terd e 0 que ela deverd comunicar as pessoas; = confeccione sua placa, mostre-a para outras pessoas e peca para que clas digam o que ela esta comunicando. Se stiver estudando em grupo, troquem_ as placas uns com 0s outros e apreciem e decodifiquem a do colega.. Hora da reviso Nesta aula, estudamos que: + aarte é um ato de criacZo humana e, por isso, 6 acessivel a todos; + ha diferentes linguagens artisticas: a pintura, a escultura, a arquitetura, a literatura, a fotografla, a Instalagao, Interven¢ao urbana, ete + artes plasticas s4o predominantemente tatels e visuals, constituidas por cores, linhas, formas, volumes e espacos; + Van Gogh e Da Vinci foram dois artistas de diferentes periods da historia da arte; + arte produzida no nosso tempo € chamada de arte contemporainea, Daqul por diante, daremos inicio a nossa viagem no tempo, procurando enten- der quais foram as diferentes compreensoes da arte ao longo da historia, tanto do ponto de vista das necessidades de transformagao social, quanto do ponto de vista das inovagdes de linguagem e emprego das técnicas. Comecaremos indo até os séculos XV e XVI, para conhecer a produgao artis- ‘ica dessa fase da historia, nos periodos conhecidos como Renascimento ¢ Bar- roco. Estudaremos também a grande influéncia da arte barroca na cultura ena arte brasileira. aCe Yai kya] e arte barroca Nesta aula, vamos estudar: = ocontexto social; * as caracteristicas dos dois estilos; * as suas contribuigdes para a historia da arte e 0 barroco no Brasil. Voce sabe o que ¢ um auto-retrato? Que tal tentar realizar um? Antes, procure rever algumas fotos suas com Idades diferentes. Observe as mudancas na sua fisionomia, no seu jeito de se pentear e se vestir. Os retratos revelam as diferentes épocas que vocé viveu, s renascentistas também gostavam de retra- tos. Naquela época, 0 retrato ndo era produzido por uma méquina fotografica, ‘mas por um artista, um pintor Auto-retrato Para realizar o auto-retrato, voc® vai precisar de um espelho de qualquer tamaniho, papel e lapis. + Agora, vamos ao passo a passo: 1. No primeiro momento da atividade vocé deve fechar us olhos e tocar o seu rosto, sentindo as formas, linhas, textura, detalhes e caracteristicas. Por exemplo: Qual o comprimento do seu. cabelo? Qual a distancia entre sua sobrancelha e seu queixo?, etc. 24 | mura 2. Faca agora uma auto-observagao com o espelho, concentrando-se em todas esses detalhes, 3. Ainda olhando-se no espelho, faca o seu auto-retrato, Lemibre-se de que importante voce se concerftrar no pedago do'seu corpo que vai do topo da cabega até 0 ombro ¢ de aproveitar toda a extensdo do papel Nao se preocupe com 0 resultado, o importante é a experiéncia de se olhar ¢ tentar esbo- ‘sar os tragos mais marcantes, cada um fara dentro das suas possibilidades. Um auto-retrato, como os do Renascimento, necessita de muito estudo e dominio técnico. Besse nao é 0 obje- tivo desta aula, Se voce estiver estudando em grupo, facam uma apreciagdo coletiva dos retratos produzidos por todos os alunes. ‘Vimos que auto-retrato € um desenho ou pintura realizado pela propria pessoa retratada. No auto- retrato 0 artista busca se retratar fisicamente e revelar o seu Interior emocional. Alguns pesquisadotes afirmam que essa prética pode ser encontrada em diferentes civiliza- ‘cdes antigas, mas fol no Renascimento que os artistas passaram a realizé-la com mais frequén- cia, transformando-a numa técnica, A partir do Renascimento, o homem torna-s¢ 0 foco do imaginério dos artistas, O retrato passa 4 ser, como as paisagens, um género da pintura, (Os pintores renascentistas fizeram descober- tas extraordinérias sobre a técnica de pintar pes- soas, paisagens e objetos. Mas, nesse perfodo, nao apenas a pintura fol extraordindria. Vamos saber um pouco mais? Fgura 1: Auto-otrato (1500), de Albrecht Darer 24 | mura 2. Faca agora uma auto-observagao com o espelho, concentrando-se em todas esses detalhes, 3. Ainda olhando-se no espelho, faca o seu auto-retrato, Lemibre-se de que importante voce se concerftrar no pedago do'seu corpo que vai do topo da cabega até 0 ombro ¢ de aproveitar toda a extensdo do papel Nao se preocupe com 0 resultado, o importante é a experiéncia de se olhar ¢ tentar esbo- ‘sar os tragos mais marcantes, cada um fara dentro das suas possibilidades. Um auto-retrato, como os do Renascimento, necessita de muito estudo e dominio técnico. Besse nao é 0 obje- tivo desta aula, Se voce estiver estudando em grupo, facam uma apreciagdo coletiva dos retratos produzidos por todos os alunes. ‘Vimos que auto-retrato € um desenho ou pintura realizado pela propria pessoa retratada. No auto- retrato 0 artista busca se retratar fisicamente e revelar o seu Interior emocional. Alguns pesquisadotes afirmam que essa prética pode ser encontrada em diferentes civiliza- ‘cdes antigas, mas fol no Renascimento que os artistas passaram a realizé-la com mais frequén- cia, transformando-a numa técnica, A partir do Renascimento, o homem torna-s¢ 0 foco do imaginério dos artistas, O retrato passa 4 ser, como as paisagens, um género da pintura, (Os pintores renascentistas fizeram descober- tas extraordinérias sobre a técnica de pintar pes- soas, paisagens e objetos. Mas, nesse perfodo, nao apenas a pintura fol extraordindria. Vamos saber um pouco mais? Fgura 1: Auto-otrato (1500), de Albrecht Darer anresruisneas | 25. © homem do Renascimento © conceitode Renascimento significa um prOcesso social, estencendo-se da esfera sociale eco- nomica até o dominio da cultura e das artes. As maneiras de pensar as praticas culturis, os 1de- ais éticos, as formas de consciéncia religiosa, a arte e a ciéncia sofreram. alteragGes. $6 podemos entender o Renascimento quando todos estes aspectos surgem interigados A Idade Moderna se localiza entre os séeulos XIV ¢ XVIII e nela foram feltaszmultas des- cobertas importantes para a humanidade. Os europeus fizeram grandes navegacoes, con quistaram a Africa e a América; eriaram um meio mecanico de copiar textos (a imprensa) esenvolveram a atividade comercial; desenvolveram as cidade, além de retomarem 2 pes. uisa da natureza em diversas drcas ~ algo interrompldo pela Idade Média ~ dando origem 4 Ciéncia moderna, © Renascimento trouxe uma mudanga em relagao a visio de Deus, quando a Filosofia ea Cléncia se separaram da teologia, Todo esse desenvolvimento relete uma mudanga na forma de pensar o mundo. Foi no Renascimento que surgiu 0 conceito de homem dindmico, ea relagto entre o indi Viduo e 9 mundo em que ole vivia tomou-se fuida; 0 individualismo € 0 humanisano sto dduas importantes caracteristicas desse perfodo. Passou-se a valorizar mats a homem, colo. cando seus interesses, suas necessidades c, principalmente, suas potencialidades era uma osicéo de evidéncia. Essa visio do mundo e das coisas & chamada de antropocentrismno (0 hhomem como centro de tudo). ‘Humanismo ~ Significiva uma crenga na importancia daquilo que chamamos “humanidades” ou “ciénclas humanas’: a busca do aprendizado nas linguas, literatura, historia e filosofia como ‘um fim em si mesmo, nao mais apenas em um contexto religioso. Os humanistas do Renascimento desenvolveram novos valores que se opunham aos credos ‘medievals que enfatizavam a natureza pecadora do homem. O fato de o homém estar bem com sua propria existéncia, ¢ da vida na Terra ndo ser apenas a preparagio para a vida no céu, pos- sibilitou uma postura totalmente diferente em relaclo ao mundo fisico. Os homens passaram @ investigar a natureza por meio dos prOptios sentidos, da observacao, dos experimentos ¢ de suas experléncias de vida, Os médicos admiravam os manuals de anatomia dos antigos, mas descobriram falhas quando compararam esses manuais com as experiencias diretas que passaram a fazer na mesa de dissecagdo, Assim, os renascentistas passaram a confiar nas evidencias proporcionadas por seus préprios olhos. A arte fol um dos melos de expressat a reorientagao do mundo em torno desses novos valores. O enriquecimento decorrénte da atividade comercial e da conquista de novos terti- torios criow a burguesia, uma classe social eapaz de financiar o artista encomendando obras, ue podiam ser retratos, igrejas ou benfeitorias pablicas. Contratar os servicos de um artista era uma demonstracio de riqueza e poder Burguesia ~ Originalmente era 0 nome dado aos habitantes dos burgos - construgdes, proprie- tlades ¢ seu entorno ou pequenas cidades fortificadas medievais. Os burgueses geralmente dedi- cavam-se as atividades comercials. Com o crescimento das cidades, esses individuos foram enti- quecendo e passaram a constituir uma classe social privilegiada, 26 | sar A arquitétura renascentista s arquitetos renascentistas conti- nuaram construindo igrejas, mas ppassaram a usar um repert6rlo arqui- tetonico baseado no estudo das estruturas classicas greco-romanas. ‘A arquitetura renascentista teve varlos perfodos distintos, porém vamos nos ater a um de seus momentos mais expressivos. Na Itf- lia do século XV, as construgdes sd0 pouco decoradas em suas fachadas, mas tecnicamente bem resolvidas. Hlas utilizam cfipulas monumen- tals sem colunas de sustentacao. Figuia 2 Pllodos Vila Retonda, (1518-80). Veneto, tsi (Os modelos greco-romanos de construc so aprimorados. Os arcos semicirculares dos roma- nose as colunas e as fachadas triangulares dos gregos sao utilizados em grande intensidade, sem- re procurando 0 equilibrio e a harmonia geométrica da construgio. ‘truco (ou a pr6prla construcio) em for- mato semi-esférico, xquema de fachode simérea As construgées sio, em geral, simétricas, como mostra o esquema acima. Além disso, a arquitetura renascentista teve preocupagbes urbanisticas no planejamento das cidades e das dreas paiblicas. Simetria ~ Disposicao de elementos que tenham a mesma forma ¢ estejam colocados em lados opostos em relaczo a um mesmo ponto, linha ou forma, A palavra Renascenca significa‘nascer de novo ou ressurgit, € esse sentimento de esperanga ‘ra muito forte em Florenca, Fol nessa prospera cidade mercantil italiana, no inicio do século XV, que um grupo de artistas se dispés a criar uma nova arte e a romper com as idéias do | assado. Um importante integrante desse grupo de jovens artistas lorentinos era o arquiteto Filippo Brunelleschi (1377-1446). Encarregado da conclusio da catedral de Florenga, projetou e cons- ‘ruiu a cdipula octogonal que se tornou simbolo da arquitetura renascentista. 0 objetivo de Brunelleschi era racionalizar 0 desenho arquiteténico e, para isso, ele precisava do vocabulirio padronizado e regular dos antigos, baseado no circulo e no quadzado. Para ele, 0 nares putsmicas | 27. segredo dos edificios estava na harmonta das proporg6es. Em seus projetos de trabalho, Brunel- iu 0 uso da perspectiva. A pintura renascentista Os pintores renascentistas, assim como os arquitetos, estavam fascinados pela idéia de que a arte poderia ser usada nao s6 para con- tara hist6ria sagrada de uma forma ¢omovente, ‘mas também para refletir as experiéncias do ‘mundo real. : Muitos pintores renascentistas acreditavam ra perspectiva como sendo a base da pintura, aplicando-a aos corpos, palsagens'e formas arquitetOnicas, Os artistas renascentistas util- zavam a matemitica ¢ a anatomia artistica, e a perspectiva para aumentar a ilusdo de reall- dade em suas obras. A paixo pela perspective proporcionou, por exemplo, imagens memoréveis criadas por Piero Della Francesca. visio matemética também permeia toda a sua obra —uma cabera ou um brago eram vistos como variagdes de esferas, cilindros, cones, cubos ¢ piramides. Figura 3: Cater ce Feenga (1408-1420), ‘pula de Filippo Branlesci Figura 4a: Cervo esquemstico Figura 4b: Putt (1660), (1643), Yon de Passe De we Perspectiva ~ Técnica que proporciona a ilusio de espessura e profundidade das figuras. Permite a representacéo de situa- ‘goes tridimensionais (altura, largura e pro- fandidade) em superficies bidimensionais (altura ¢ largura), como o papel, a partir de determinadas regras geométricas. Anatomia artistica ~ io estudo de formas exteriores do corpo humano, em repouso ou em movimento, baseado no conheci- mento dos Orgios internos, do esqueleto ¢ dos masculos. 2B 1 maa Fgura 6: Vista de cidade ideal (sEculo XV), atnbude a Piero Dela Francesca Piero Della Francesca (1415/20-1492) foi pintor excultor © matemitico. Desenvolven sia aba na Tila e dedicou-s.a0 estudo da Matemética aplcanslo a pintura concéitos da Geometria grega. Em ‘ss obras, 05 estuidos de sombra.e de perspectiva tém fundamentos te6ticos precios, Oauge do Renascimento flo sculo XVI, epoca de Leonardo da Vinci (ver obra do artista na Aula D, Michelangelo, Rafael, Ticiano ¢ outros mestres italianos da pintura. Um grande incentive Para estes pintores foi a competicdo entre as cidades italiana, que rvallzavam entre si para ass. gurar os servigos dos grandes artistas que embetezavam seus eifcis e clavam grandes obras Os artistas do Renascimento tomnaram-se meses autonomos, pregcupadios em explorar os Iistrios da natureza ea leis scteta do universo, naresruisnicas | 29 Figura 7:A ciagdo de Adso, Capel Sista, Roma, lida (1508-1512), de Michelangelo ‘Miguel Angelo di Lodovico Buonarroti ‘Simoni (1475-1564), mais conheeido por Nocbdineie, ctallge Bee ‘poeta italiano, foi um artista renascentist, Aprenden uma sélida técnica de pintura de = = €0 dominio da arte de desenbat. ‘Tentou penetra nos segrecos os esculotes antigos que sabiam como representaro corpo Jnuiano em movimento, com todos os ten “Upese mrisenlos. 4 Figura tmmana, com sas atirudes eAngulos, fol um dos psincipais obj tas de estudo deste artista. Fo} convidado a ‘infara capela Sistina, no Vaticano, tarefa que ‘odeixou teaneaeln sozinho na capela por qua tro anos. Realizou essa obra com um enorme ‘sfoigo fisico, de preparare esbosar cenas em Atalhes e transfers para 0 teto, Detava-se RSS pelea ahs pea cio, Figura 8: Estos anatomicos de embvides 3 : (1510-1513), de Leonardo da Vine Afresco ~ Técnica de pintura em paredes e tetos sobre uma camada de revestimento fresco. ; Rafaello Santi ou Ralaello Sanzio (1483-1520), assim como se considerou que ‘Michelammelo obteve seu grande éxtase no” dominio do corpo human, fol o artista que realizou @ que 4 yeracio anterior hayla se esforcario por conseguir: 2 pertella e harmo- nlosa composicao de figuras, extremamente belas) movimentando-se livremente, Rafael Alo segula medlelos, buseava inspiracao em fdélas criadas por ele, Assim ele abandonow 4 reprodugao fel da natureza e passou a usar tipos imaginactos, : ‘Figura 8: A ninfagalatia (1514), de Refoe! Santi Ticlano Vecellio (1490-1576) foi uin pin- ‘tor cija maestria na manipulacdo da tinta se ‘igualova & de Michelangelo no desenho, Ele suubverteu todas as regras consagradas de com siglo e contiow nz Inz, a: € cores para har- monizar suas pinturas. Seu reconhecimento deve-se abs retratos que pintava sem mintu= iosa modelagem, mas alcancando intensa profuunda expressio. Muitos personagens odetosos desse perfoclo buscaram ter sexi retrato pintado por Tieiano Fgura 10: Retrato do Cardeal Cistoforo Madruzz0 (1552), deTciano Veco itura renascent No Renascimento, a escultura, vista como obra de arte que tem por objeto o individuo e sua cele- bragio, é um dos géneros determinantes, +_Osescultores da época —tambéin utilizando a anatomia, como os pintores —fizeram descobertas a respeito de como ficam os misculos de nosso corpo quando estamos em determinadas posicBes: abui- Xados, contorcidos. Fes acreditavam que, em movimento, o corpo adquitia diversas expressoes. ances puasricas | 37 Figura 110: Piet (1500), de Michelangelo Buonorot Fgura 116; David (1502-1504), de Michelangelo Buona) Michelangelo, além de pintor, fez importantes esculturas em marmore ~ sempre presas ao bloco de peda e nunca soltas no espago. Essas pesas eram tdo bem polidas, que a luz, quando Incl- dia, transformava-se em brilho, Suas pesquisas desvendaram detalhes de repraducao do mundo real, como © panejamento — técnica grega muito antiga, que estava esquecica ~ que consiste em reptesentar em detalhes as dobras do tecido, Para Michelangelo, a obra vinha de uma dimensao de luta interna do artista, muito ligada a espiritualidade. A arte barroca Foi no século XVII que inicioi o estilo que se suceceu ao Renascimento. As técnicas artisticas ¢ as descobertas renascentistas foram aproveitadas, porém de forma mais solta, mais livre, tanto na expresso e nos movimentos da pintura ¢ escultura, quanto na parte decorativa da arquite- ‘ura, Esse movimento Iniciou-se na Ttélia ese desenvolveu também em outros pafses da Europa ‘© América Latina. ~ Aarquiteturabarroca “Arquitetos barooas desprezavantias chamadas regras da arquitetura cléssica, em nome de malor variedade ¢ efeitos mais imponentes. Cada artista tinha de produzir decoracdes mais complexas, ¢ idéias notdveis, para seguir impressionando. Durante a primeira metade do século XVII, esse processo de actirpulo de idéias cada vez mais rebuscadas e cheias de pompa, para edificios e suas decoracbes, fol muito presente na Itélia e afitmou o estilo barroco. A lgreja de Santa Inés, ém Roma, é um exemplo tipico da arquitetura barroca italian vasta cGipula, torres laterais e fachada com ricos detalhes: o primeiro andar das torres € qua- amtesruasrias | 33 Rerabrandt van Rij (1606-1669) Pntorholands ja mar paste dasoras€ de wm tom caste aho-scuro ie sobressal no coniraste com: cores vias ebrlhantes, A luz em mults de seus qua- tos forte que parecéofuseat Rembrandt usava muito os efeitos do cao e escuro, sempre para aumenta odramatimo da cena. As idéias que adquiriram cada vez mals Importdncia na atte do século XVII foram: a énfase sobre a huze accor, o desprezo pelo equilibrio simples e a preferéncia por composicbes mais complicadas. (Outro importante pintor dessa época fot Caravaggio, que buscava a verdade tal como podia vé-la, Nao Ihe agradavam os modelos classicos, nem tinha o menor respeito pela “beleza ideal” ‘Michelangelo da Caravaggio (1573-1610) foi lum artista Hlallano atuante em Roma, Malte & Sirlia, Queria desvencithar-se de todas as co ‘yengnes e repensar a arteldesde 0 comeyo. Multas - pessoas achavam que ele apenas queria chocar o ‘piblico, que nao tinba o menor sespelto pela tric digto ou iia de beleza.1Na €pocaestavam todos hhabituados a ver apéstolos como figuras dignas, ‘envoltas em belos mantes; na pintura de Carava- 5 ‘ggi0 0s apdstolos eram retzatados como trabatha- ores comuns, seus rostos curtidos pelo tempo © ag testas enrugadas, Para ele era importante retra- tara manareva fielmente, fosse bonita ou fela, Até ‘asus maneira de tratar a luz e a sombsa reforcava x essa idéia. Ase nao faz 0 corpo parecer gracioso e-maeio; € Aspera e quase ofuscante no contraste - com as sombras profndas, Foi um dos grandes sepeeseatantes do estilo bartoco. Uma das mais importantes caracteristicas de sua pintura era settatar 0 aspecto mundane dos eventos biblicos Fgura 14: Crucicagao de So Pedro, Cravaggio aati eipors eAlerts eae (1600-1601), Capela Cera da grea de Santa Maria ‘Del Papo, oma, Ia A escultura barroca (Os escultores barrocos colocavang as figuras em lugares que conduzissem a um ponto de vista, 0 que mostra uma dimensdo cenografica na obra ¢ uma busca de efeitos; as impres- ses no olhar do observador gram pensadas pelos escultores previamente. Uma das prin- cipais caracteristicas da escultura barroca € sua fusdo com a arquitetura ¢ a pintura, assim como 0 movimento e a expresso exagerados, como exemplificam as obras de Bernini. * A influéncia portuguesa no Barroco do Bras 34 | wuaz Bernini e 0s escultores barrocos, muito ligados as obras de arte religiosas, criavam pecas para suscitar sentimentos de exaltacio. Eles rejeita- am todas as limitagdes para tentar mostrat em suas imagens a maior quantidade de expressoies faciais possiveis. Figo 15: Aviso de Santa Teres,aftor de Santa Moria. della Vittoria, Roma, lia (1644-1647), de Bern © Barroco na América Latina [A primetra grande influéncia da arte européia sobre a América Latina fol o estilo barroco. Com ‘a conquista da América pelos espanh6ls e portugueses, muitos religiosos (jesuitas e de outras ‘ordens) vieram evangelizar os pavos nativos das Américas. Nos paises colonizados pela Espana, a arte barroca se misturou com as priticas culturais locais, o que pode ser observado nas cons- trugdes do perfodo. No México, por exemplo, a influéncia do povo asteca ¢ evidente nas igre- jas. O mesmo ocorre na Rolivia, em telagio aos incas. Jesuita - Membro da ordem religiosa catGlica Companhia de Jesus, fundada em 1540. Asteca e inca — Civilizacbes que existiam na América antes da chegada dos europeus. Os aste- ‘cas, na América do Norte e Central; 0s incas, na América do Sul. ‘No Brasil, porém, no ocorreu o mesmo. Aqui, o Bartoco portugues predominou. £ preciso desta- car, porém, que 0s indigenas brasileiros, antes da chegada dos portugueses, tinham uma expresso plastica propria (veja a Aula 4) ¢ jétrabalhavam com as cores e suas vatiagdes, exceto 0 verde. “Muitas dessas cores eram pouco Conhecidas pelos artistas europeus que aqui chegaram, devido a uificuldade de obté-as pela misura de pigmentos, Podemos dizer que os amerindlos infiuen- claram a arte européia (© Barroco desenvolveu-se no Brasil a partir do século XVIII ¢ expressa algumas caracteristicas proprias dos artistas que o produziram. Tais caracteristicas podem ser observadas nos modelos de anresruasneas | 35) rostos € cabegas das imagens | zeligiosas criadas no Brasil, que refletem os tipos mestigos bra- sileiros, resultados da mistura centre negros, indios e brancos. Outro fator fundamental nas. transformacoes € adaptagdes sofridas pelo Barroco no Brasil foi a especificidade dos mate- rials encontrados aqui, como a pedra-sablo ¢ os diferentes tipos de madeiras. Algumas igrejas barrocas u ‘iveram suas construgdes enco- sa mendadas por negros e mesti- gua 16: Terrage doe potetes, Alejo. Congonhas, Minas Gera 0s, que nelas introduziram. elementos da cultura africana, Hé exemplos de muitas construgdes barrocas em Pemambuco, nna Bahia, em Séo Paulo e no Rio de Janeiro. Em Minas Gerais, no entanto, 0 Barroco alcangou ‘grande desenvolvitnento por causa da imensa riqueza local, conseqtiéneia da intensa atividade mineradora na regido. Vivia-se entao 0 chamado “ciclo do ouro"’ Em Minas Gerais viveu o artista brasileiro mais talentoso do género: Anténio Francisco Lis boa, o Aleijadinho. Aleijadinho recebeu ensinamentos de seu pai, o também artista Manuel Francisco Lisboa, de origem portuguesa, ¢ de outros grandes mestres de arte. Apesar dessa for- ‘magdo, criou um estilo proprio, revelado em suas obras de arquitetura e escultura, Mestre dle arte— Titulo dado a pessoa com grande conhecimento em artes; assim eram chama- dos os artistas harrocos no Brasil. Figura 17: loreja ce Sao Francisco, Bahia Outros artistas também desenvolveram trabalhos significativos nesse periado, como o pintor Mestre Ataide, parceiro de Aleijadinho em algumas obras, ¢ 0 escultor Mestre Valentin, no Rio de Janetzo, 36 | muss Nao se pode esquecer, porém, de que, mesmo antes da grande influéncia barroca nas constru- (96es, a arquitetura portuguesa j4 se manifestava no Brasil em fortes militares, pequenas igrejas © edificagoes civis. Vamos fazer artes - Voc® conheceu um pouco da expressdo artistica no Renascimento eno Barroco we ‘e viu que as diferentes posicses do corpo humano eram objeto de estudo. Entio, mios & obral - ‘Voc® vai precisar ile jornal, tinta preta, pincel grosso e fita crepe. ‘Vamos ao passo a passo: 1, Em dupla (caso nao faca parte de um grupo, pega ajuda a um amigo ou pparente), grude folhas de jornal uma na outra com fita crepe, até formar ‘um reténgulo no qual caiba um corpo deitado. Cada dupla faré um retingulo desses. 2. Um dos dois sera o modelo ¢ o outro o desenhista, Depois, vocés inverterio acordem, 3. Omodelo deve pensar em uma posicao para fazer com 0 corpo deitado sobre o jornal. Lembre-se de que as esculturas barrocas exploram movimentos exagerados, dramaticos. Escolha ima posicao bem dramatic. 4, O desenhista usaré pincel e tinta preta para desenhar o contomo desse coipa, sintetizando essa posicao. Se estiverem estudando em grupo, procurem uma parede em que possam expor 05 trabalhos de todas as duplas, um ao lado do outro. Hora da revisdo [Nesta aula, voce aprenden que: ‘© alguns fatores possibilitaram o desenvolvimento artistico no Renascimento, ‘como a expansio econdmica, 0 avango cientifico e o resgate da cultura Classica greco-romana; ‘ surgiu no Renascimento © conceito de homem dinamico; apareceram importantes earacteristicas, como o individualismo eo humanismo; =o Barroco fol o estilo que sucedeu ao Renasclmento; ‘© na pintura bayroca as principals caracteristicas sio: contraste entre claro ‘e escuro, expressao e movimento; 4 * conceitos que foram desenvolvidios naquela época sao até hoje utilizados, como a repfesentacio em perspectiva; * 0 Bartoco brasileiro se desenvolveu em dlivessos estados ¢ se firmou com caracteristicas diferentes daquelas presentes no barroco europe. Agora, vamos fazer uma pequena pausa na viagem no tempo e investi- ‘gar elementos grificos importantes para a realizagao de uma obra plastica: © ponto, a linha e o plano. As artes plasticas e seus elementos Nesta aula, vamos conhecer: & © otexto visual; + a expresso plistica do ponto, da linha a € do plano; + oconceito de superticie. Criando texto visual ‘Para iniciar o estudo desta aula, leia atentamente a co poema Iffinca, de Carlos Drummond de Andrade. ~~ a] Infancia a ‘Meu pai montava a cavalo, ia para o campo. ‘Minha mae ficava sentada cosendo. ‘Meu iemdo pequeno dormia. Hu sozinho menino entre as mangueizas lia as historias de Robinson Crusoe, a ‘comprida historia que nfo acaba mals. a "No melo-dia branco de luz uma vor.que aprendca ‘a ninar nos longos da senzala ~ e munca se esqueceu ‘@hamava para o cafe. Café preto que nem preta velha ‘ealé gostoxo 1 café bom. a ‘Minha mae fieava sentada cosendo land para mim: . “Psi. No acorde 0 menino. , Para 0 bergo onde pousou um mosquito. F dav um spit. que funda! 1A longe meu pil campeava 4 ‘io mato sem fifn da fazenda. 5 Be nto sabia que minha historia - cera mais bonita que a de Robinson Crusoé. "Agora, vocé vai prectsar de papel e lapis. Faca um desenho a partir do que voc® imaginou durante ‘aleitura, Com isso, voc’ tera transformado um texto escrito em um texto visual, 3B | awa © que é um texto visual? ‘Ao ler este texto em voz alta, voce parou para respiar? (entdo, fec uso da virgula) Fez uma pausa Jonga? (entao, fez uso do ponto) Quando o texto é bem escrito, isso significa que o autor soube usar 0s elementos basicos da escrita (ponto, virgula, interrogacto, vocabulétio, etc,). No texto visual, a coisa acontece de forma parecida. Para desenhar um objeto ou uma cena, ‘Que tal associar isso 20 mundo real? Vocé consegue se lembrar de exemplos préticos para tlus- trar as diferentes formas da linha? Se possivel, tente identificé-las no ambiente ao seu redor. * Quando sair novamente a rua, abra bem os olhos e repare nas formas do mundo, da sua cidade. Ao retornar, escolha uma das paisagens observadas e faca um desenho dela explorando bastante as linhas € os pontos. ‘Agora que conhecemos a intimidade entre linha, a direco e.0 movimento, vamos pensar nas possibilidades expressivas dessa associagao: a linha reta horizontal, por exemplo, pode ser asso- 44 1 amas - iada ao repouso, ao des- ‘canso, A posigdo vertical, a0 contratio, epresenta agio. Realizamos a maior parte das nossas agbes de é, Vamos observar camo dois artistas exploraram a linha em suas esculturas. Figura 7:0 dentro e o fora (1963), de Ly gia Clark ‘Lygin Clark (1920-1988) passou pela pintura, escultura, mas a0 Jongo de sen processo foi rompendo com esses suportes, ocupando o espayo e também convidando 6 espectador a participar de sua Gea Se auto-tntitulava "nuo-artsta”, Amilear Augusto Perela de Castro (1920-2002) fol eseultor, artista plas. tico © designer. Participou do movi mento neoconcteto, junto com artie- tas como Lygia Clark e Hélio Oiticica, Em suas esculturas geralmente tabalha ‘com pegas grandes de ferzo, utlizando procedimentos tals como: Cortes, dabras ‘ torsbes. Varias dle sas esculturas esto ‘em espagos publicose abertos, pata que -mnuitas pessoas possim wéslas e também ara que o melo ambiente interfira na obta, transiormando-a our 8: Escultara em fra de Amica de Castro 0 plano e a profundid ‘Tanto a linha quanto 0 ponto necessitam de uma superficie onde se apoiar, um suporte. Esse suporte € 0 plano. d As palavras plano e profundidade parecem contradit6rias, no acha? © que € plano nao é profundo. Sera? Quando pensamos na profundidade de um poco, estamos falando da distan- Cia entre o fundo e a superficie. Quando falamos de sentimentos profundos, referimo-nos a tuma viagem (deslocamento) interior, como um mergulho para dentro, Quando falamos em profundidade de conhecimento que uma pessoa possul, queremos dizer que alguém avancou (caminhou) em determinada érea de conhecimento. Nos trés exemplos, profundidade signi- amesmuasneas | 45, fica distancia percorrida (ou a percorrer). Mas 0 que isso tem a ver com 0 plano, ja que esse € uma superficie? Superficie~ A superficie, que pode ser plana ou espacial, ¢ 0 resultado do movimento de uma linha, Quando uma linha reta se movimenta (desliza) sobre outta linha reta, a disténcia percor- rida por ela ¢ chamada de superficie plana ou simplesmente de plano. Existe uma grande diferenca entre uma forma plana € uma forma espacial: a plana pode ser vista completamente, j4 a espacial pode ser vista apenas por partes. Quer ver? Pense numa geladeira, Fla tem seis faces, ndo tem? Quantas faces voce consegue ver ao mesmo tempo? Uma boa maneira de ver ou mostrar uma forma espacial Vamos repetir a experiéncia da geladeira, utilizando um dado, O dado pode ser visto de trés maneiras: Figura 9a: Dado com uma face sve) Fgura 9b: Dado cam doas faces visie's Fgura : Dado cont faces vise E possivel dizer que as figuras mostram claramente que o objeto representado € tridimensional, Mostram a sua profuindidade por meio de um recurso criado pelos pintores renascentistas, que estudamos no capitulo anterior: a perspectiva, Veja se entendeu: se a profundidade esta relacionada a distancia eo plano também esté, pode- mos relacioné-los, certo? Para isso: Vamos fazer artes 1. Escolha uma paréde na sala ¢ encoste-se nela. Ole para a pargde em frente 3. Agora, pense: a’parede que voce esté vendo é um plano, certo? Aparede em que voc® esté encostado(a) € oiutro plano, concorda? 4, Exlste uma profundidade (listancia) entre elas, no entanto € 0 elemento plano (das paredies laterals e do piso) que ajucam a expressar essa profundidade. 46 | suas Fgura 10: Grande nicleo (1960), de Helio Oticca No plano de cada parede, pode- mos desenhar, pintar, Nesse caso, 0 plano da parede fun- ciona como suporte de linha € de ponto, elementos que j4 vimos, Mas, no nosso desenho, podemos ir além disso. Pode- ‘mos representar diferentes pla- nos nesse mesmo plano, assim como acontece na fotografia. Na figura a esquerda, foto da insta- Iago de Hélio Oiticica, € pos- sivel identificar os diferentes planos que constituem a obra, apesar de estarem todos repre- sentados juntos em um tinico plano, o papel fotogréfico. A aparente contradico, na verdade, iio existe; a expressio plastica da superficie plana possibilita a nogo de profundidade. ‘Agora, veja as referencias a seguir e observe nas imagens concretas € neoconcretas como so usa- das as cores, linhas, formas e planos. Concretismo Fol um movimento attistico surgido em 1950; no Brasil, inicialmente na poesia e depois nas artes plésticas. Defendia a racionalidade e rejeitava o expressionismo, 0 acaso, a abstragao lirica e ale- at6ria, Nao buscava representar a realidade, mas apresentar uma realidade. Nas obras surgidas no ‘movimento, no ha intimismo nem preacupacio com o tema, seu intuito € acabar com a distingao entre forma e contetido e criar uma nova lingua- gem baseada nas formas ¢ cores. Neoconcretismo * Movimento artistico surgido no Rip de Janeiro no final da década de 1950 como réacdo ao con- cretismo. Os artistas neaconcretos recuperaram algumas nogdes relativas a producdo de arte que 60 concretistas haviam abandonado sensibil ‘Figura 11: Movimento (1951), de Weidemar Cordeiro antes puasrieas | 47 dade, expressividade, subjetividade -, descondicionando a criacio artistica ao geomettismo puro, ‘Uma caractcristica importante da produgdo neoconcreta fol a retomada da iberdade de experi- ‘mentagao glo artista, vinculada a incorpora¢ao efetiva do observador nos trabalhos: tocando ¢ ‘manipulando as obras; 0 observador passa a tornar-se parte delas. Waldemar Cordetro (1925-1973), pintor, escultor, gavador, desenhista eshtstrador italiano, Inicio sia 1drmagio em Roma e velo para o Brasil em 1946, instalando-se em Sio Paulo. Em 1952, 0 lado de outros artistas, fundow o Grupo Ruptura, que langou um manifesto © orgapizou uma exposigdo ‘no Museu de Arte Moderna de Sao Paulo, com o objetivo de romper com a arte Figurativa, Waldemar foi o porta-vor do grupo e principal teérico do movimento concreto panlista, A part da década de 1960, afastow-se do rigor coneretisia © comegoui a etlar com base em obfetos do cotidiano e sucata. ‘ considerado um dos ploneizos internacionais no uso de computaclor nés artes Figura 12: Tis liinas aniculadss. Franz Weissmann, década de 1980 Figura 13: Conctetion 5722 (1979), de tz Sacto ranz Wetssmann (1911-2005) A partic de 1955, 0 artista se afastou um pouco dos ies concre- ‘0s, explotando nitmos descontinugs ¢lidicos,e formas mais orgnicas. rn ume cfc &excessiva ‘aelonalidade da arte concreta, © que 6 ligou 30 Grupo Neoconeretn, do qual ol tm dos fundado- "es, em 1959. Seustrabalhos em ferro se dobram no espago tomando formas que surpreendentes. Suns estrturas apesar do material pesado transite levees Inilz Sacllotto (1924-2003), pintor,escultor ¢ desenlista paulista, Fol Integrante do grupo de artis. tas que fundou 0 Grupo Ruptura, nico bésieo do concretismo paulsa, em 1952, Considerado umm + dos:mais importantes artistas da arte concreta no Brasil, sua pintura explora fendmenos 6pticos Hora da revistio Nesta aula, voc? viu que: + alguns textos visuals comunicam objetivamente uma idéia ~0 deseriho téenico, por exemplo —e outros s40 mals subjetivos ~ como € 0 caso da pintura; + oponto e a linha ajudam a expressar idéias distintas: imobilidade e movimento; + as superficies podem ser planas ou espactals; «uma possibilidade expressiva da superficie plana é a sugestio de profundidade. ‘Além disso, conheceu 0 coneretismo, 0 neoconcretismo ¢ alguns de seus res- ‘pectivos artistas. Houve um perfodo na hist6ria em que os artistas pesquisaram de forma Inova- dora ¢ diversificada as possibilidades plasticas desses elementos. Esse periodo € conhecido como Modernismo ¢ serd o proximo destino em nossa viagem pela historia da arte. O Modernismo ‘Nesta aula, vocé vai estudar: * o-contexto social das artes; ( © as principais tendéncias eestilos; * as contribuigdes para a histéria da atte; * 0 Modernismo no Brasil; * outras manifestagdes de nossas raizes culturai ‘No tdnel do tempo Mas antes de aprofundar o estudo desta aula, lela aten- tamente os versos da cangao ‘Trés apitos, de Noel Rosa, ¢ depots tente imaginar como era a época em que ele vivia, Tres apitos Quando o apito Da fabrica de tecidos ‘Vem ferir os meus ouvidos, Ea me lembro de voe®. fm Bngie que nto me ve rs) Nias vost é mesmo Aigo que no se iit Quando a tbsica apts, ‘az eclame de voce bod Para responder, saiba que 0s versos de Noel Rosa fazem referéncia a uma operiria de uma antiga fabrica de tecidos no Rio de Janeiro. Em torno dessa indistria, construiu-se a Vila Isabel ~ um conhecido bairro da cidade. Isso exemplifica o quanto as indstrias estavam associadas a arte € SO | suas vida da populacao em geral. A cancao foi escrita na década de 1930, mas a Vila Isabel com sta fabrica de tecidos é do final século XIX. ‘Naquele perfodo de mudangas, o Brasil experimentava um acelerado processo de industrialt- zacao e a humanidade tina contato com ui grande mimero de invengdes e inovacbes tecno- logicas. Era o contexto propicio a uma verdadeira revolugdo na arte: 0 Modernismo. Introdugéo aos tempos modernos ‘A modernidade localiza-se entre a dltima década do século XIX ea primeira do século XX. Expan- dy e aprofundou as nocdes de “individuo" e “sujelto”. 18.0 significa que o homem racional dos séculos XVI e XIX foi cada vez niais se desfazendo das referéncias ¢ entidades superlores,seja Deus ou a natureza, ou o monarca que, em tiltima instancia, determinava 0 seu destino. ‘Appattir de entio —e pelo actimula hist6rica de descabertas dos séculos anteriores—o homem ental passou a perceber-se cada vez mais como um "ser autOnomo", racional, autoconsciente ‘esenhor do seu destino, podendo e querendo interferir no mundo ena natureza a partir de suas, descobertas clentificas, intelectuats,actistcas, tecnolégicas, industrials, eondmicas, et. Foi uma época em que se viveu a ilusio do “progresso”, ou seja, e que a ruptura com 0 pas- sado ¢ a criagio do *novo" trarlam sempre algo melhor do que o existente. Uma nova percepsao espaso-temporal Em 1830, o-trem fol inaugurado na Inglaterra, Dois pequenes depolmentos de viajantes dessa 6poca nos dio uma idéia do que essa invengo produziu no corpo daqueles que a testemunhavam: ‘Nao hi palavras gue possam dar uma idéia adequada da grandiosidade (nao posso usar palavza menor) de nosso progresso. A principio [o trem) cra relativamente lento; mas logo sentimos que verdadeiramenite estava- ‘nos em match, e ent#o todos aqueles para quem 0 velculo era novo devem hraver-e dado conta de que a aplicagao da forga locomotora estava estabe- Iccendo uma nova era no estado da Sociedade, cujos resultados defintivos Eimpossive calocarse ‘As amplas Iinhas initerruptas de espectadores pareciam desizar-se na dis- tinela, como figuras pintatas arastadas velozmente atraves dos tubos das lanternas magiess. ‘Tro ftntusmna ~ A modernidade na selva ancisco Foot Hardman Estamos to acostumados hoje com essa sensagao de accleraco, que mal podemos imaginar 0 {que viajar tdo veloamente causava na percepcio espaco-temporal daqueles que o viviam pela primelra vez, Mas podemos saber pelos depoimentos que esse deslocamento alterava completa ‘mente a visao da paisagem e dog passantes. Mais tarde, em 1900, as transformagbes se ampliaramm com a invengao do automével, do tele- fone, da fotografia, do cinema, do radio. c © Modernismo Modernismo é um termo genérico que engloba um conjunto de manifestagdes artisticas que ocorreram do fim do século XIX a meados do XX. sures eusneas | 51 s artistas modernistas, movidos pelas sensagdes que os “novo tempos" traziam, perseguizam o desejo de fazer uma arte “nova”, conectadla com as questdes do seu tempo e coerente com 0 sur gimento do sujeito moderno. ‘Q novo paradigma da concepgto de arte, que propunha maior liberdade de ctiagao, deu ori- gem.a uma variedade de movimentos artisticos, que refletiam as diversas visdes de mundo dos. artistas. Esses representavam suas idéias ¢ sensagbes de varias e diferentes formas. s impulsos de transformacao da arte - e do mundo - foram chamados de “vafiguardistas” € 0s movimentos artisticos desse perfodo de “vanguardas artisticas do século XX’. Pintura e escultura modernista ‘Vamos partir do pressuposto de que os objetos podem ser vistos sob dois aspectos: pela sua fun- 640 € pelo seu significado em determinado grupo social. Assim, ao pintar uma panela, o artista pode estar se referindo a um objeto que serve para cozinhar alimentos, a um objeto que cozinha alimentos rapidamente - quando pinta uma panela de presso — ou até mesmo a fome, quando representa uma panela vazia. Nos trés exemplos, a pintura da panela ndo precisa ser perfeita, em detalhes, para que a idéia seja transmitida. As mais variadas e Inusitadas formas de pintar e de produzir esculturas se manifestaram nos movi= mentos artisticos de vanguarda. Vamos conhecer um pouco sobre alguns desses movimenttos, 0 Expressionismo Fol um movimento da pintura que se baseou na idéia de que a arte deve expressar aquilo que senti- mos sobre o que vemos. Por exemplo, ao pintar um, retrato, 0 artista pode ter liberdade de distorcer a fisionomta do retratado, buscando reforcar aspec- tos que expressam a sua realidade, Figuia 1; Passo 20 creptscul (1889-1890) de Vincent an Gogh j Um dos artistas que inspirou o movimento fol Van Gogh. O expressionista exprime sua sensago interior reagindo & realidade da nova sociedade industrial, que “define as pessoas eas coisas pela fungao que elas tm. Um, grande nome do expressionismo foi Edvard Munch. Figura 2:0 ito (1893), de Edvord Murch 52 | nviws Edvard Munch (1863-1944), pintor nomegués, desenvolyeu boa parte de sua obr@ na Slemanha e ‘na Franga, Sune pinsuras expressam emocGes através de cores forte © pinoeladas decorzentes de ils fncias, entre oysras, de Van Gogh. © Cubismo ‘© movimento cubista teve como ‘grande Inspirador o pintor fran- ces Paul Cézanne (1839-1906), cuja contribuigao fundamen- ‘tal para a historia da pintura foi recuperar a importancia das for- ‘mas sélidas, concretas, definidas, dos volumes. A partir de intensos estudos sobre a obra de Cézanne, 05 artis- tas cubistas marcaram a hist6ria abrindo 0 caminho da pintura em diregdo a uma alteragao radi- cal na representagdo da forma. © quadro j4 nao era mais a superficie onde 0 artista proje- tava uma representagdo da reali- dade, mas onde ele organizava, a ‘seu modo, a realidacle que queria representar (usando geralmente uma matriz de cor por quadro). Para isso, na primeira fase, chamada de analitica, um cubista pintava, no mesmo quadro, um. ‘mesmo objeto ou pessoa, sob diversos angulos, pretendendo analisar a forma do objeto ou da pessoa que retratava Figura 3: Mont Saint. Vitore (1904), Paul Cézanne ‘Numa outa fase, os cubistas aerescentavam cor sua pes- quisa da forma. Nessa fase, chamada de sintética, 08 obje- tos representados eram simples, comuns € de uso dro (fru- tas, livos ¢ até letras). Nela, ndo havia o compromisso de se estruir totalmente a forma, o que peztnite 0 seu reconheci- ‘mento, apesar de fragmentada. Dols dos principais artistas cubistas foram Georges Braque ¢ Pablo Picasso. ‘Georges Braque (1882-1963), pintor francés, fol wim dos pro- tagonistas do Cubismo. Fol quem dev inte ag Cubism anal too, Representa, no movimento, a postura experinremtal, base ‘ada na pesquisa continu Fol Braque quem trouxe descabertas pparaarte contemporanea, entre outras, a concepsio do qua- ‘Figura 4: Natureza-morta com és de -dro-objeto € a inclusdo de letias e mimeros na pinta, aus (1977), de Georges rogue aaa O Futurismo ‘0 faturismo demonstra encantamento com a civi- lizagao industrial: a mecanizagao, a velocidade © a repetigao Incessante de acontecimentos 40 lexpressos nas imagens de pessoas, objetos e outros. seres em movimento, tanto na escultura quanto na pintura, Nesta filtima, as cenas repetem-se no quadro ou sucedem-se como numa hist6ria em quadrinhos. Giacomo Balla foi um importante artista desse movimento. Figura 6: Dinamismo de um cao na colera (1911), ‘le Giacomo Bao sates otisriens, | 53. sgravadore escultor: Desenvalvan uma part sig- rllcattva de sua obra ns Espana e Franca. Sua producgo se estendeu por quase todo ‘que propde uma unidade, win absoluto formal esconhecido pela arte ocldental. infinencia 4 ate aficana om sua obra pode ser observa Cor es Dene SEE a Figura 5: Les Demoiselles Avignon (1907), de Pablo Pensa ‘Giacomo Balla (1871-1958), pintor, escultore cendgatn italiano, Desenvolveu sua obra na itélia foi ‘obcecado pela aplicacio da ciéncia em stas obras pela busca de formas de revolucionar 0 proprio cot, ‘diana, Sua obra € marcada pela tentativa de transmissio de movimento por meta de linhas curves. 0 Abstracionismo © Abstracionismo répresenta, nas Artes Pst cas, o abandono da fepresentacao do mundo real fsico, como o vemos. As preocupagées desse estilo esto. no modo como uma cor interfere na outra ou na emocao que pode causar no observador uma linha reta ou curva, Ha momentos em que o artista desse estilo usa multas formas geométricas (abstra- ‘Figura 7:Pontas no arco (1927), de Voss Kandinsky Figura 8: Rua principal e rus lateral (1929), ce Poul Kee O Surrealismo Q Surtealismo propoe a arte do somho, a arte do inconsciente. A pintura pode ser figurativa ‘ou abstrata, mas ela nao repre- senta um fato real. Por isso, as imagens, ainda que figura- tivas, ndo seguem uma narra- tiva logica, formando obrigato- riamente uma mensagem que faga sentido enquanto reali- dade, O artista surrealista usa imagens como simbolos de suas preocupacdes, angistias © medos. Dois representantes esse movimento sio Salvador Dali c Max Ernest. é cionismo geométrico) e outros em que as linhas e for- ‘mas usadas so mais livres (abstracionismo informal). Dols dos artistas que representam abstracionismo 50. Vassili Kandinsky ¢ Paul Klee. Vassit Kandinsky (1866-1943), pintor nso, tent se pinturaovientada para recuss do racionaismo, Cre na fora simbvica do espeito, que se manifesta em termos de lissmo Interix, expresso da sensi Yidade imediat, Paul Klee (1879-1940), pintor suigo, desenvolven sua ‘obra na Alemanha, once também se dedicou a0 estudo a teoria da arte, preceupsado-se,entee oulzos asserts, com a reflex sobre a fungao do atista «a relagdo entre ‘arteeomuncio natural. Apresentou teoras sabre cor forma que serviram dle base para a arte abstata. “Fgura 9: Apargdo de roto futcira numa pra (1938), de Salvador Dall Salvador Dalt (1904-1989), pintor, escultor ¢ ourives espanhol, deserivolveu a maior parte da sa bra na Espana. Patticipou de diversas tendéncias estilisticas, Sua obra é marcada pela sensual ade e pela grandiosidade, z amesrusticas | 55 ‘Max Ernest (1891-1976), pintor alemto, fol um dos protagonistas das aseiraciona- eae ee aterm s¢ quacks ligados a uma figura reallsa e obras de composic5o abs: ‘rate Toa sua produto € pean. ada peo sabolismo. pela busca de ‘ua teatidade “outa”, anormal Pigara 10: Vx Angelica (1943), Max Est Arquitetura moderna Na Modernidade, as construgdes coletivas ¢ em sétle ganharam enorme desenvolvimento para cor: responder & nova realidace do espaco urbano, ocu- pado por um grande némero de pessoas. A arquitetura, que nesse periodo crlou princi palmente projetos urbanisticos, fez avancos que ‘marcaram profundamente a forma de percepcao do espaco. Essa trajet6ria lesafiou a engenharia, ao dialogar ‘com o mundo exterior e ampliar o espaco intemo da construgio com 0 uso inovador do vido (que, pela transparéncia, deixa atravessar a luz solar © confunde onde comega o espaco de fora e termina ‘0 espaco de dentro) e das colunas, que fazem com ‘que as paredes percam a sua fung&o de sustentagao tenham o seu niimero reduzido, criando enormes ‘espacos de citculacdo de pessoas enibaixo € no inte- Fgura 11: Exterior da Capea de NétreDome-du-Nout thot das construcdes. (1950-3), Le Corbusier ‘Um dos principais artistas desse periodo fal arquiteto suigo Le Corbusier, que muito influen- ciou a arquitetura moderna brasileira. so re te: se7 shackled hae ater mentee cn {to do urbanismo em um dos grandes desatos do sculo XX. Desenvolveu giant parte da sos Obs ‘a Franca, mas espalhou SS SDR EEE Nene Ie Reece eee) {incuindo a far uidarenaienie ot tunic aaa me 56 1 russ © desénho,industrial - um novo tipo.de arte Associada & Industria e & arquitetura, surgiu uma nova linguagem artistica: 0 desenhho industrial. Ble esta ligado A crlagdo de objetos e A comunicagio visual. Objetos como mévels, janelas € por tas de ferro, antes feitos 4 mdo por artesdos, agora eram projetados (desenhados) e produzidos ‘em série pefa tecnologia industrial. 0 uso de desenho e da pintura para fazer publicidade também ¢ considerado desenho industrial. O desenho indus- trial é, portanto, uma atividade artistica aplicada as necessidades impostas pela nova sociedad. A Escola de Arte Bauhaus, idealizada por Walter Gropius, na Alemanha, em 1919, éuma importante referéncia dessa época. Seus principals objetivos eram a integracao de todas as linguagens plast ara 12: Cadera Barcelona (1925), de udp Mie van der Rohe cas (em torno da arquitetura) em busca de equacionar o problema entre a forma © a fungio dos objetos, e a’produgdo de uma arte que poderia ser consumida por todos, 0 que somente era possivel com a tecnologia e o desenho industrial. ‘A sua contribuigdo foi enorme para a arte porque muitos de seus professores eram grandes artistas ¢ investigavam intensamente as possibilidades expressivas da comunicacao visual. Mul- tos objetos projetados pela Bauhaus ainda hoje sao reproduzidos pela indiistria de movels. ‘Tantas mudangas em tao pouco tempo... E como a arte brasileira respondeu a tudo isso? Arte Moderna no Brasil No caso latino-americano e, sobretudo, brasileiro, a modemidade se constitui a partir da convi- ‘vencia entre 0 novo ¢ o antigo, entre diferentes culturas e mados de vida. Até a modernidade, essa diversidade da cultura brasileira, foi menosprezada, vista como “inferior”, como algo @ ser “gubstitufdo". Essa visdo vinha do desejo de ser igual aos europeus, decorrente de uma l6gica colonial, a partir da qual o Brasil sempre setia dependente cultural e economicamente. ‘Os modernistas brasileiros procuravam a nossa autenticidade, nao negando 0s modelos pro- venientes da Europa, mas propondo uma renovagao do olhar, percebendo que faz parte do "ser brasileiro”, de nossa Identidade, das nossas diferentes culturas e modos de ser. ‘Os artistas comecaram a produzir obras que mostravam de forma critica essa tensdo entre a cultura popular, tradicional (que vem de nossas raizes negras, Indias, caipiras), a cultura que ‘vinha da Europa. Em 1928, um dos mais importantes modemnistas brasileiros, 0 poeta, romancista, teatrologo € ensafsta Oswald de Andrade, escreveu o Manifesto Antropéfago, que deu orlgem ao Movimento Antropofégico. antes puasticas | 57 ‘Tanto o manifesto quanto 0 movi- mento davam nome a0 processo que j4vinha acontecendo no Modernismo. (u seja, a valoriti¢ao critica da ideit- dade nacional brasileira, que se formou ainda se forma no ato de devorar (dai co caréter metaférico da palavra “antro- pofigico") a cultura do outro externo, como a européia ea norte-americana, e ado outro interno, ou melhor, acultura dos indios, negros, imigrantes. Um dos marcos iniciais da Arte Moderna no Brasil foi a exposi¢ao de Lasar Segall em 1913, mostrando a forte influéncia expressionista no artista, Figurat 3: Greve (1956), de Lasar Sega “Lasar Segall (1891-1957), pimtor c escultorlituano, desenvolvet: grade paite da sua obra no Brasil ‘razendo influencias do méyimento expresslonista alemio, Realizou obras com temas e tipas caiac- ‘eristicos brasilelros. (Qutra artista brasileira que causou impacto na arte naquele periodo foi Anita Mal- fatti, em sua exposigdo de 1917. A artista estudou artes na Alemanha ¢ Estados Unidas, envolvendo-se com o Expressio- nismo. © grande marco do Modernismo no Brasil, porém, foi a Semana de Arte ‘Moderna de 1922, ocorrida na cidade de ‘Sao Paulo, Figura 14: Tropical (1917), de Anita Matt! ‘Anita Malfatti (1889-1964), pintota brasileira. Desenvolvou a mator parte da sua obra no Busi, mas, devido ao contato freqiiente que tia com a arte européia € americana, trouxe grandes influ- @nelas para a arte brasileira. } 0 pablico, acostumado com nogoes mais tradicionais de arte, vaiou echegou a causar tumultos. Mas, se, por um lado, o evento causou reagdes negativas, por outro, alcangou seus objetivos: tra- zet para o Brasil as nowas quest6es artisticas dos europeus e chamar a atencao para a cultura pr6- ppria do Brasil. Os temas das obras refletiam a realidade e os tipos brasileiros. 58 | suas Participaram da Semana de Arte Moderna, entre outros, 08 seguintes artistas: os pintores Anita Malfatti e Di Caval- anti; o escultor Victor Brecheret; 0 arquiteto Antonio Gar- cia Moya; o esctitor Mario de Andrade; ¢ 0 compositor Villa-Lobos. “apés dSemana de 22, surgiram outros artistas, adotando as diferentes tendénclas modemistas, Desses, podemos citar Candido Portinari, Bruno Giorgi e Tarstla do Amaral, entre outros, Esses trés artistas produziram mutas obras bastante conhectdas. Fgura: Mulher na varanda (1944), de Di Cavalcanti _cuje obra retrata de fo | | oe Recs | pedo axtst. Bxecutos dversos murals pains ex | diferentes constructes nacionais, como, por exer | Plo, em Belo Hotlzente, ao conjunto arautstOni dal ha, de Oscar Niemeyer, além de tormar i ee Figura 16: Retrantes (1944), de Condido Portinart ‘de 1930. 4 Segun 2 Mundial er socal e trégico de seu tzabalo, levando-o “ape Retirantes (1944). ‘Tarsila do Amaral (1886-1973), plntora paulsti, fobum: lo movimento modernist, €o2- “tudo mio patelpov da Semana de arte Moca, [por estar estudando na Pranga. Sua pintura Aa por € sioibolo einspiraco do movimerito antto- pofign. Seu quadro Operdrios (1933) dew infcio 4 pintura social no Brasil. Outras obras: Operas, ‘Gamaval em Meadutera e Artropofesta. igara 17; Abagoru (1928), de Tait do Amaral anresrtasmicas | 59 Arquitetura moderna brasileira A partir da década de'1940, a arqui- tetura moderna brasileira alcangou expressio mundial, ampliando as Inovagbes dessa arte no século XX. No Rio de Janeiro encontra- ‘mos 0 primeito grande exemplo dessa arquitetura, a sede do Minis- tério da Educacto e Cultura. Essa Figura 18: Holl do Palicio Gustavo Capanemo, Alo de Janeiro cobra foi reatizada por um grupo de arqui- tetos, dentre os quais Lucio Costa e Oscar ‘Niemeyer. f teve ainda a conttibutigto da visita do arquiteto Le Corbusier. Fgura 19: Museu Novo, Cuba, de Oscar Niemeyer E na etapa final da desta viagem pelas Artes Plasticas. Ehora de buscar as raizes brasilelras, como fez.o pessoal da Semana de 22. Que tal conhecer um pouco da nossa cultura indigena e africana ~ nossas raizes -, suas criagSes, seus habitos e suas contribuigdes 4 nossa arte? « Para isso, importante sabermos que, como dizia Glauber Rocha, importante cineasta brasi- Ieiro atuante nas décadas de 1960/70, “a gultura popular nao é o que se chama tecnicamente de folclore. A cultura popular é um conjunto de linguagens em permanente rebeliso historica™ Esse entendimento é importante porque, asim como os modernistas, devermos buscar na cul- tura popular (que é a cultura produizida pelas pessoas, pelas comunidades, todos os dias, com ‘suas historias, manifestagdes, expressdes) o que ha de mais precioso em nosso patriménio cul- tural imaterial 60 | suas Patsiménio cultural imaterial~ & aquele que nto esté materializado em uma construgdo, um lugacespecifico, mas nas pessoas, cm suas memériss, seus conselhos, suas receitas, suas dangas e fests eseupsaberese fazer, Devemos, portanto, saber que a cultura da tradi¢ao, das raizes, nao est parada no tempo e no espaso, mas esté se transformando, “contemporaneizando' e reinventando a cada momento, & ‘um constante didlogo entre raiz e atualidade, no qual os mais velhos transmitem conhecimen- tos aos mais novos, que adaptam a essa nossa atualidade, também ensinando aos mais velhos sobre o mundo de hoje. Um pouco da arte indigena brasileira ‘A primeiza questao que se coloca quando comecamos a estudar a “arte indigena” ¢ desvendar ‘real sentido desse termo. Seré que @ no¢io de arte do homem indigena é a mesma que a do hhomem ocidental? Pols bem, arte é uma categoria criada pelo homem ocidental ¢, mesmo no Ocidente, nao & possivel definirmos precisamente o seu significado. Sio muitas as definigdes possiveis para 0 termo “arte”, de acordo com as diferentes culturas, nas diferentes épocas. Ospovos indigenas nao s6 tem sentidos diferentes daqueles que atribuimos is suas produgses plisticas, como sequer possuem palavra correspondente a “aro” em suas respectivaslinguas. Por tanto, quando dizemos gue um objeto incligena tem qualidade artsticas, estamos idando com nogdes que sio propria da nossa civlizasio, mas estranhas ao indigena. Para o indigena, a perfeigdo dos objetos, tia “qualidade pléstica”, esté muito mais Tigada & sua finalidade ~ seja ela 0 uso cotiiano ou cerimonial — do que &s suas caracteristicasestéticas isoladas. ‘Aare indigena é representativa das tradigbes da comunidade em que estéinserida, Sua plas ticidade resulta da contluéncia de concepcdes e inquietasdes colctivas, Mas expressoes plsticas indigenas transcendem a produgio de objetos ~ como eutas,cestos, cabagas, redes, remos,flechas, bancos, mascaras, esculturas, mantos, cocates etc. Tals expres. ses manifestam-se tam- bém em outros suportes: 0 corpo humano é pintado, escarificado e perfurado; assim como 0 so as cons- tragdes rochosas, as érvores outas formagoes naturals sem contara presenca cru- cial da danga e da misica. Em todas as formas de expressii, a estética esta vinculada aos dominio do pensamento ¢ 0s modos de conceber, compreender ¢ refletir a ordem social e cosmolégica. Etalvez soja Figure 20 Phar corr! Yowaopth Kinga, rest ames ruasneas | 61 Foura 21 ‘Ante plumitia — cocar Figura 22: Cerdmica Weurd, Xing, Basi Figura 23; Coto Kop «ssa a malor contribuigto que esses povos da floresta deixam para a humanidade: a compreen- sao de que o homem uno com a narureza; de que tudo se desdobra de uma fonte tinica numa trama sagrada de relacdes, de modo que tudo se conecta a tudo, O pulsar de uma estrela no céu 0 mesmo que o do coragio ou que o toque do tambor £ importante ressaltar que cada comunidade possul particularidades em suas maneiras de se expressare produze sentidos is suas produgdes, E isso nos leva a concluir que nfo estamos tra- tando aqui de uma “arte indigena’, mas de “artes indigenas", Assim, um estudo aprofundado sobre as artes indigenas nos levara a pesquisar as caracteristcas das produgdes plisticas de cada uum dos povos, mas aqul trataremos apenas das que sto comuns. ‘As pinturas conporais so produzidas com muitas intengOes ¢ sentidos: pintam o compo para enfeitd-lo, para defendé-lo contra o sol, contra os insetos € os espiritos maus; para revelar de quem se trata, como esta se sentindo e o que pretende. As cores ¢ os desenhos ‘fala’, dao recados. ‘Abboa qualidade da tinta, da pintura, do desenho, garante boa sorte na caca, ma guerra, ma pesca, ra viagem, Cada tibo e cada familia desenvolvem padroes de pintura fis a0 sea modo de sex. ‘Apintura corporal ¢ fungio feminina: a mulher pinta os corpos dos filhos e do marido, A arte plumiria possui caracteristica diferenciada nfo esta assoctada a nenhum fim wtlitéro. Sua prinetpal funglo é buscar a beleza, Serve para enfeite de mantos, méscaras, cocares e passam. 20s seus portadores elegdncia ¢ majestade. ‘Nos cocares, a disposigo e as cores Was penas no sfo aleatGrias, jé que eles indicam a post- «io de chefe dentro do grupo e simbolizam a prépria oxdenacio da vida. Otrancado é utilizado pelos povos ifndigenas brasileiros para muitas finalidades: ¢ trangando que constroem as ocas ¢ uma grande variedade de utensilios, como cestos, peneiras, armadilhas para «aga e pesca, abanos para aliviar o calor e avivar 0 fogo, cocares, tangas, pulslras,redes para pescar ¢ dormir, instumentos musicais,etc:‘Nossas flowestas dispoem de uma enorme variedade de plan- tas ue S20 apropriadas ao trangado e sto, portanto, uma fonte inesgotavel de matérla-prima, 62 | suas ‘As pecas de cerdmica sio geralmente produzidas pelas mulheres, que trabalham moldando o barro ~ farta matéria-prima encontrada na natureza. Algumas pecas sto produzidas para fins utilits- los, como cuias, pratos e panelas; outras, como 0s cachimbos, s40 utilizadas nos ritos. As cerdmicasstio decoradas com pinturas que variam de padrio conforme a comunidade que as produz. As tintas sao extraidas de vegetais tais como o jenipapo. Um pouce da cultura africana no Brasil No inicto no século XVI, chegaram os primelros escravos trazidos da Africa. Portanto, a Influéncia da cultura aft cana sobre a brasileira esta na base da sua historia, tanto quanto a indigena e a européia. Sua presenca contribuiu. decistvamente para que a arte brasileira assumisse carac- teristicas proprias. Ji no Barroco brasileiro se percebe sua influéncia nos anjos mulatos e madonas negras pintados nas paredes das igrejas dos brancos. Outro exemplo pode ser as imagens de Cosme e Daigo, tidos na Europa como dois médicos, Eles que nao foram representados juntos seno no Brasil, onde em geral sio afixados sobre 0 mesmo pedestal, tomando a forma de gémeos, tal qual os ibejt (gemeos) do culto afti- cano. Como na Africa, a arte negra no Brasil esti intima- ‘mente ligada as raizes de sua cultura, de seu cotidiano e de ‘seu Culto religioso, Figura 24: Esétua de relicrio. Na arte afto-brasileira predominam as esculturas em dduas dimensbes, que trazem mulias caracteristicas de sua origem, como, por exemplo, a posicio tradicional de joc- hos numa figura perfeitamente equilibrada em tomo de um eixo, ou os olhos salentes, Mas também incorporam caracteristicas da estética européia, nos tracos fisionémi- «0s, na forma dos seos e no formato da cabesa, mais pro porcional em relago ao corpo. Apesar disso, €evidente o quanto a cultura negra esta piesente em nosso cotidiano, em nossas manifestagoes cul- turais, como a misica, adanea, a culinérla ea préprtaIin- ua portuguesa, ‘Nos iltimos anos tém sido criados museus com 0 propésito ‘dereunir documentos eobjetos da cultura negra e de promo- ‘er eventos —curs0s, exposigbes e seminrios ,a fim de resgatar a sua mem, desl as diferentes cultitas do continenteaficano (Angola, Mogambiqu, Guiné, Benin, etc), até a produgdo de artistas contemporaneos, caja obra tem forte influéncia negra, como de Rubern Valentim e Carybé. Fgura 25: Eséwwa reo! Chibi tinge ameseuusticas | 63 Figura 26: CompesicSo, de Suber Veer Figure 27: Malata grande Ide Corybé Como vimos, a cultura brasileisa é formada por contribuigdes de diferentes povos, basicamente © europeu, 0 afticano ¢ 0 indigena. Mas vocé tem nogio de que outros povos contribuiram com ‘a nossa cultura? Entdo, pesquise 0 assunto! Investigue os museus de sua cidade que possuam acervos artistico-culturais. Vamos fazer artes Inspirados na prética investgativa dos modemnistas brasileizos, vamos agora pes- uisar um pouguinho o nosso patsiménio cultural material e imaterlal: 1, Lembre de algumas pessoas, familiares e/ou conhecidos, que possam nos contar ‘boas histérias da sua comunidade~as pessoas mais idosas costumam ter multas coisas para contar - entge em contato e combine algumas “entrevistas” 2, Para a conversa, leve um lapis ou caneta, um papel e uma prancheta e labore algumas perguhtas para fazer ao seu entrevistado; perguntas que ‘nos tragam informagées sobre as caracteristicas da cultura popular de sua regio: suas formas de producto artistica, como e onde encontré-las. 3, Seguindo as dicas das pessoas que entrevistou, imagine que voc® I reallzar tuma exposigio que abresentaria a produgo artstica de sua comunidade. Para compor sua exposic8o imagindla, voce terd de tomar algumas Gecisdes: quals serlam as produgdes mals representativas? Como organizé- 64 | wus = Jas em uma sala? Qual seria o titulo da exposigao e como voc® resummitia em um texto as "idéias que estao por tras da exposic&0? (Lembre-se das entrevistas.) Tente realizar um desenho de como ficarla sua exposigo. Nesta atividade, vocé assumiti o papel de um curador de arte, figura fuidamental no mundo das artes plésticas hoje em dia, Curador de arte ~ A expressio “curadotia” & recente no dominto das artes plésticas e ganhou contorno conéeitual ¢ prético no inicio dos anos de 1980. O cutador de arte é quem concebe uma exposiciio: quem decide os artistas e as obras que irdo participar de umia mostzae, também, 9 modo como integraréo um contexto artistico, um tema, um sistema de pensamento. Hora da reviséo Nesta aula, voe8 viu que: * nos tempos modemos, o sujetto passou a existir como individualidade, em um contexto de avangos ¢ transformagoes; * © modernismo foi o conjuunto de manifestagoes artisticas desse periodo; a liberdad de experimentacao € 0 que mave os artistas, além do desejo de = transformar o olhar, a arte e 0 mundo; * cesses impulsos de transformacio surgiram as “vanguardas artisticas - do século XX", como cubismo, dadaismo, futurismo, expressionismo, surrealismo, que apresentaram mudangas radicais na arte; * @arquitetura, que nesse periodo criou principalmente projetos urbanisticos, fez avangos que marcaram profundamente a forma de percepcio do espaso, * surgiu, nesse periodo, o desenho industrial, linguagem artista ligada as, necessidades da indtistria, do comércio e da propaganda; * 0 movimento antropofégico nasceu no Brasil como valorlzagdo critica da identidade nacional brasileira, que se forma no ato de misturar a cultura européia e norte-americana e a dos indios, negros e imigrantes; * aSemana de Arte Modema de 1922 fol um marco na arte brasileira desse periodo. Partictparam artistas como: Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Victor Brecheret, Antonio Garcia Moya, Mario de Andrade e 0 compositor Villa- Lobos. Apés a semana de 22 surgiram outros artistas, como Cindido Portinati e Tarsila do Amaral; * a produgio dos povos indigenas constitui um conjunto de significades, de uma simbologia que expressa o que eles tém como senfido de vida ea partir dos quais se coffunicam; * a cultura negra esté fortemente presente em nossas manifestacoes cultuais, como na misica, na‘danga, na culinaria e na propria lingua portuguesa. Nesta ctapa da nossa viagem, voce pode perceber que os artistas cram suas formas, estabelecendo relacoes entre os elementos gréficos ~ 0 ponto, a linha eo plano, ns : ‘Vamos agora dedicar nossa atengao a este tema,

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