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RENATO BRASILEIRO – AULA 03 (06-03-09)

DIREITO PENAL ESPECIAL

Alguns doutrinadores o denominam de abortamento, uma vez que o


aborto seria o resultado, e o abortamento seria a conduta.

Existem três delitos de aborto: provocado pela gestante, ou com seu


consentimento (art. 124), aborto provocado por terceiro sem o consentimento da
gestante (art. 125), aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante (art.
126).

Questão. Três pessoas juntas matam alguém. Quantos crimes existem?


Um somente, pois o CP adota a teoria monista no concurso de pessoas.

Teorias sobre o concurso de pessoas.

1- Teoria pluralística. Existem tantos crimes quantos forem os co-autores e


partícipes. Cada agente responde pelo seu delito.
2- Teoria dualística ou dualista. Há dois crimes: um crime para os co-autores e
outro para partícipes.
3- Teoria monística ou monista. Independentemente do número de co-autores ou
partícipes, o delito permanece único e indivisível. Teoria adotada pelo CP, em
seu art. 29 CP. Contudo, a pena de cada varia de acordo com a sua
culpabilidade. A palavra culpabilidade, neste contexto, deve ser entendida como
juízo de reprovação.

Questão. Há exceção a teoria monísta no concurso de pessoas? Alguns


doutrinadores tratam da teoria monista temperada, em razão das seguintes exceções:

A) Art. 124 e 126 CP. A mulher que vai até uma clinica clandestina para realizar o
aborto responde pelo 124, e o médico que pratica o aborto responde pelo 126.
B) Art. 317 e 333. Corrupção passiva e ativa.
C) Art. 343 (corrupção ativa de testemunha) e art. 342, §1º (crime de falso
testemunho).
D) Art. 235, caput, (Bigamia) e art. 235, §1º CP.
E) Art. 33 e 36 (financiar) da lei de drogas. Financiamento da lei de drogas e
tráfico de drogas.
F) Art. 33 e 37 (colaboração como informante) da lei de drogas.

Art. 124 CP. Provocar aborto em si mesma, ou consentir que outro o


faça. Detenção de 1 a 3 anos

Diferenças entre:
1- Crime comum. Não exige qualidade especial do agente. Admite tanto a co-
autoria, quando a participação.
2- Crime próprio. Exige uma qualidade especial do agente. Ex: peculato. Admite
co-autoria e participação, desde que o co-autor conhece a qualidade especial do
seu comparsa.
3- Crime de mão-própria. Também exige qualidade especial do agente, com um
detalhe: é um crime (na execução) que não aceita delegação, isto é, é aquele
delito cuja execução não pode ser delegada, pois só pode ser praticado
pessoalmente. Ex: falso testemunho. Em razão disso, não admite a co-autoria,
mas nada impede a participação, como no caso de advogado que instrui a
testemunha a mentir (STF).

Depois dessas diferenças, podemos dizer que o art. 124 é do tipo mão-
própria, enquanto que os artigos 125 e 126 são crimes comuns.
Questão. O art. 124 admite concurso de pessoas? Observe que existe um
crime para o outro que concorre, razão pela qual não é possível o concurso de pessoas,
salvo na modalidade de participação. Ex: namorado que auxilia a companheira a
abortar.

Conceito de aborto. É a interrupção voluntária da gravidez com a morte


do produto da concepção dentro ou fora do útero.

Aborto de gêmeos. Imagine que uma gestante, sabendo que esta grávida
de gêmeos, decide cometer o aborto. Quantos crimes ela responde? Dois crimes de
aborto em concurso formal impróprio (desígnios autônomos).

Questão. Prática de esportes radicais ocasiona a morte do feto? A três


modalidades de aborto somente são punidas a título doloso.

Figuras majoradas de aborto. Causa de aumento do art. 127 CP.


Resultado lesão grave ou morte da gestante, e só se aplica aos artigos 125 e ao 126 CP.
Esses dois resultados só podem ser atribuídos a título de culpa, já que são exemplos de
crimes preterdolosos. Ex: clínicas de aborto.

Questão. Dois tiros na barriga de uma gestante de seis meses com


resultado morte do feto e da gestante. Concurso formal impróprio do art. 121, e art. 125
(art. 70, caput, parte final).

Questão. O médico responsável pela prática do aborto não consegue


interromper a gravidez, mas a mulher acaba falecendo. Qual o delito do médico?
Observe que o dolo do agente era provocar o aborto, que ficou na modalidade tentada, e
o resultado morte da gestante, que lhe é atribuído a título culposo acaba ocorrendo.
Neste caso, temos duas correntes:
1c) Fernando Capez: responde pelo art. 126, com o consentimento
consumado.
2c) Para LFG, responde pelo art. 126, com o resultado morte, que é o art.
127, ultima parte, na modalidade tentada.

Sendo assim, Seria possível a tentativa em crime preterdoloso? Neste


exemplo sim. Não se admite tentativa em crime preterdoloso quando o que ficar
frustrado for o resultado, atribuído ao agente a título de culpa. Porém, quando o que
ficar frustrado for a conduta do agente, praticada a título doloso, será possível tentativa
em crime preterdoloso.

Excludentes da ilicitude no crime de aborto.


1- Aborto necessário ou aborto terapêutico. Art. 128, I, CP. (Espécie de estado de
necessidade).

Art. 128 - Não se pune o Aborto praticado por médico:


I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante.

Requisitos:

A) Risco de morte da gestante.


B) Inexistência de outro meio para salva-la.
C) Deve ser praticado por médico.

Questão. E se for praticado por enfermeira, ou parteira? Teoricamente,


usa-se a regra geral do estado de necessidade do art. 24 do CP.

Questão. Criança que precisa de transfusão de sangue morre porque os


pais não autorizaram, nem o médico realizou a transfusão. Tanto o médico quantos os
pais estão na posição de garantidores, as testemunhas de Jeová não respondem por
inexigibilidade de conduta diversa, mas o médico responde por homicídio culposo. Para
o Renato, todos responderiam pelo homicídio culposo.

Questão. Preciso de autorização judicial e da gestante? Não é necessária


a autorização judicial, nem da gestante.

Aborto no Caso de Gravidez Resultante de Estupro (aborto


sentimental, humanitário ou ético)
II - se a gravidez resulta de estupro e o Aborto é precedido de
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Requisitos:

A) Depende do consentimento da gestante ou de seu representante legal.


B) A gravidez deve ser resultante de estupro (Também, ato libidinoso diverso da
conjunção carnal).
C) Não depende de autorização judicial. Para a doutrina, deve o médico, dentro do
possível, certificar-se da ocorrência do crime sexual.

Aborto eugênico ou eugenésico.

Feto anencefálico. ADPF 54 STF – Ainda não há decisão definitiva.


Feto sem atividade cerebral. Não faz parte do rol dos abortos permitidos no art. 128
CP, mas há projeto de lei criando essa espécie de excludente da ilicitude. Independente
dessa análise, para a doutrina, o fato seria típico e ilícito, mas não culpável, em
virtude da presença de uma causa excludente da culpabilidade: inexigibilidade de
conduta diversa.

Aborto miserável ou econômico-social. Ocorre nos casos de


incapacidade financeira. Crime configurado, portanto, não há falar em excludente da
ilicitude ou da culpabilidade.
Tópico: art. 129 CP. Lesão corporal.

Bem jurídico tutelado. Integridade corporal ou saúde de outrem.

Questão. A sua integridade corporal é um bem disponível? Sim, desde


que a lesão corporal seja de natureza leve.

Consentimento do ofendido. A natureza jurídica do consentimento do


ofendido é causa supra legal de exclusão da ilicitude, em regra, salvo na hipótese de
consentimento de conjunção carnal, que é caso de exclusão da tipicidade, pois neste
caso o dissentimento esta inserido no tipo penal (constranger). Outra hipótese é do caso
da invasão de domicílio: “ou ...”

Para que esse consentimento seja valido, deve ser:

a) Prévio ou concomitante à ação de forma expressa, para não ensejar em possível


erro de tipo.
b) Dado por pessoa capaz.
c) Deve recair sobre bem disponível.

Auto-lesão. Em regra, é conduta atípica. Há um caso em que a auto-lesão


ocorre para receber indenização de seguro, configurando o estelionato, em seu art. 171,
§2º, V, CP.

Art. 184 do CPM. Delito em que o agente produz uma auto-lesão com o
intuito de ensejar na sua inabilitação ao serviço militar.

Cirurgia transexual. O médico responde pelo delito de lesão corporal?


Alguns doutrinadores afirma que o médico não age com dolo; outros dizem que o
médico age no estrito cumprimento do dever legal; para a corrente que predomina, por
meio da teoria da imputação objetiva, como esse médico cria um risco permitido ou
tolerado pela sociedade, essa conduta seria atípica, e o nexo causal seria afastado. O
mesmo raciocínio se aplica as lesões desportivas, caracterizado o exercício regular de
um direito, desde que a lesão ocorra dentro do contexto da prática desportiva.

Análise do tipo objetivo. Tudo depende da análise do elemento subjetivo.

Questão. Tapa no rosto, corte de cabelo configura qual delito, jogar um


copo d’água do rosto da pessoa? Injúria real, se a intenção do agente é ofender sua
dignidade ou decoro.

Questão. Precisa haver dor ou efusão de sangue? Não, pois não são
elementos do delito.

Questão. É possível tentativa no crime de lesão corporal? Cuidado,


temos sempre que visualizar se o crime é plurissubsistente, que é o caso do art. 129 CP.
Tentativa de vitriolagem (expressão usada por Nelson Hungria), em que uma prostituta
joga ácido no rosto de uma pessoa, neste caso é uma tentativa de lesão corporal grave,
se não se consumar.
Lesão corporal leve e o art. 88 da lei 9.099\95. Crime de ação penal
pública condicionada à representação. Se for violência doméstica: de acordo com o art.
41 da lei Maria da penha, 11.340\06, não se aplica a lei dos juizados, sendo ação penal
pública incondicionada.

Lesão corporal grave. Art. 129, §1º, CP.

Inciso I. Pode ser atribuído a título de dolo ou de culpa, fato que denota
uma incongruência.(dolo ou culpa)

Crime qualificado pelo resultado. É diferente do crime preterdoloso,


pois neste há dolo na conduta e culpa no resultado, como no caso da lesão corporal
seguida de morte. O crime qualificado pelo resultado é o gênero, pois esse resultado
pode ter sido produzido tanto a título doloso ou culposo.
Atividades ilícitas não estão abrangidas.
Atividades imorais estão abrangidas. Crianças também.
Prazo penal
Obs. Caso não for feito o exame complementar pode ser suprda pro prova
testemunhal.

Inciso II. Perigo de vida pode ter sido desejado pelo agente, ou seja,
pode ser atribuído a título de dolo ou de culpa? Somente a título de culpa. Se for a título
de dolo será o crime de tentativa homicídio.
Obs. Transmissão dolosa do vírus HIV configura o crime de tentativa de
homicídio.

Inciso III. Dolo ou culpa.


Inciso IV. Somente a título culposo, pois se houver dolo, será o crime de
aborto e não lesão corporal.

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