Você está na página 1de 13

A importância do ambiente na abordagem Reggio Emilia

Guardar

A importância do ambiente na abordagem Reggio Emilia

Beelieve Preeschool of Life / 3Arquitectura. Image © Leonardo Finotti

CompartilharCompartilhar
+ 48

A pedagogia Reggio Emilia foi criada no período pós-segunda-guerra, por iniciativa de mães viúvas
e sob a coordenação do pedagogo e jornalista Loris Malaguzzi. Em uma época de reconstrução
das cidades, a preocupação primordial do grupo era em relação às novas escolas, onde desejavam
criar um ambiente tranquilo, acolhedor e alegre (com uma atmosfera de lar) onde as crianças
pudessem ficar enquanto as mães trabalhavam. Entender os interesses da criança e proporcionar
um ambiente adequado para permitir experimentos e exploração é um dos pontos focais dessa
pedagogia. A preparação de um ambiente seguro e estimulante é tão fundamental que, em muitas
literaturas, ele aparece como um terceiro professor.

Creche Leimond-Shonaka / Archivision Hirotani Studio. Image © Kurumata Tamotsu

A criança é entendida como um ser potente e capaz; sua curiosidade inata é o combustível que
guia seu aprendizado, pois é através dela que a criança experimenta, absorve e constrói seu
aprendizado sobre o mundo. E seu desenvolvimento deve ocorrer em todas as suas linguagens:
expressivas, comunicativas, cognitivas, éticas, lógicas, imaginativas e racionais.

Princípios básicos da pedagogia Reggio Emilia

1. A criança é protagonista de seu desenvolvimento.


2. Adulto como colaborador, observador e guia do processo de aprendizagem das crianças.
3. Ambiente como ferramenta importante para relações, comunicações e encontros.
4. 'Pedagogia da escuta'. Ouvir a criança como gostariam de serem ouvidos eleva sua
autoestima.
5. Vivência coletiva. A experiência em sociedade, o aprendizado em comunidade e a
cooperação são fundamentais para o desenvolvimento das crianças como indivíduos.
6. Importância da criatividade para conectar: ética e estética; razão e imaginação. A arte (em
todas suas expressões) é entendida como uma maneira de pensar.
7. A documentação do trabalho como entendimento e valorização do seu processo (não
apenas de seu resultado).

Beelieve Preeschool of Life / 3Arquitectura. Image © Leonardo Finotti

O terceiro professor

O ambiente reggiano é visto como um terceiro professor. Sua importância se equipara à dos outros
dois professores que conformam a equipe em cada uma das salas de aula. Isso porque ele é visto
como 'algo' que educa a criança, por convidá-la que o explore com liberdade e segurança, guiando
seu aprendizado.

"Valorizamos o espaço devido a seu poder de organizar, de promover relacionamentos


agradáveis entre pessoas de diferentes idades, de criar um ambiente atraente, de oferecer
mudanças, de promover escolhas e atividades e a seu potencial para iniciar toda a espécie
de aprendizado social, afetiva e cognitiva. Tudo isso contribui para uma sensação de bem-
estar e segurança nas crianças. Também pensamos que o espaço deve ser uma espécie de
aquário que espelhe as ideias, os valores, as atitudes e a cultura das pessoas que vivem
nele". (Loris Malaguzzi, em 1984 in (EDWARDS; FORMAN; GANDINI, 2016, p. 148)
Beelieve Preeschool of Life / 3Arquitectura. Image © Casablanca

O lugar reggio é muito mais do que "apenas útil e seguro" (EDWARDS; FORMAN; GANDINI, 2016,
p. 138), mas sim um espaço que incentiva o pertencimento das crianças, bem como sua
comunicação com o restante dos usuários, sejam eles outras crianças ou adultos. Pode-se afirmar
que o ambiente ensina através dos estímulos e das experiências que ele proporciona ao
aprendizado e ao desenvolvimento de cada criança em particular.
SkyPlay: North Perth School of Learning / Tom Godden Architects & Matthew Crawford Architects.
Image © Peter Bennetts

Por entender a criança como parte da comunidade, a pedagogia reggiana também busca sempre
inseri-la como parte também da responsabilidade pela vida em sociedade. Frequentemente são
organizadas atividades que levam as crianças às ruas dos bairros e aos marcos históricos das
cidades para que ela possa vivenciá-la. Nenhuma escola que siga Reggio Emilia pode ser
construída ou reformada sem que seu contexto urbano seja considerado e analisado. Portanto, é
difícil definir regras a serem seguidas, mas há parâmetros que se repetem em todas elas. São os
seguintes:

1. Elementos arquitetônicos são entendidos como parte do material didático das aulas. Os tetos e
as paredes, por exemplo, são importantes elementos de exposição e documentação das obras de
artes (como esculturas, pinturas ou móbiles) feitas pelas crianças.

2. Iluminação natural é aproveitada para criar efeitos de luz e cores que estimulam a curiosidade e
a criatividade. Neste aspecto, lanternas, mesas de luz, focos de luz naturais e espelhos também
contribuem bastante.
SkyPlay: North Perth School of Learning / Tom Godden Architects & Matthew Crawford Architects.
Image © Peter Bennetts

3. Ambiente aconchegante que visa a sensação de acolhimento está presente na atmosfera de


interiores que devem estar sempre organizados e convidativos.

4. Flexibilidade dos interiores que, de preferência não têm elementos fixos, para assegurarem
rapidez e segurança na modificação proposta pelas próprias crianças. Por isso, a maioria das
escolas reggianas possuem um mobiliário planejado normalmente em madeira.
Escola Infantil Beelieve / 3Arquitectura. Image © Leonardo Finotti

5. Praças centrais necessárias para promover espaços de encontro. Normalmente a organização


espacial é feita por praças centrais (piazzas) para as quais convergem todos os ambientes do
programa: grandes e pequenos ateliês, biblioteca, áreas administrativas, cozinha, refeitório,
sanitários, espaços para brincadeiras com água etc. Quando o projeto não contempla uma praça
central, um jardim é posicionado no lugar mais conveniente. Todos os itens de programa do edifício
precisam ser eficientes e agradáveis. Não há marginalização entre os ambientes servidos e os
servidores.

6. Paredes de vidro tem a função de conectar jardins internos e externos. Oferecem maior
incidência de luz natural, permitem brincadeiras com transparências e reflexos e, além disso, dão
uma maior sensação de comunidade pois é possível ver outras crianças trabalhando entre as
salas.
Escola René Beauverie / Dominique Coulon & associés. Image © Eugeni PONS

7. Banheiros lúdicos onde os espelhos são comumente recortados em diferentes formatos para
proporcionarem uma experiência mais divertida.

8. Recolhimento. Há espaços menores estrategicamente posicionados para proporcionar refúgio


para as crianças que sentirem essa necessidade emocional.
Escola Infantil Beelieve / 3Arquitectura. Image © Casablanca

9. Ritmo e movimento são valorizados. Eles estão presentes na organização ritmada dos espaços
e dos elementos arquitetônicos e também no incentivo à atividades com essas características.

10. Organização e acessibilidade. A organização do espaço permite que a criança reconheça a


atividade que mais lhe interessa e que possa ter a autonomia de alcançá-las.

11. Democracia em treinamento. Alunos e professores decidem diariamente as atividades do dia


(dentre opções previamente selecionadas pelos professores). É bastante comum que haja um
elemento arquitetônico como arquibancadas para abrigar essas assembleias.
Kindergarten in Guastalla / Mario Cucinella Architects. Image © Moreno Maggi

Em relação às salas de aula, há diferentes abordagens conforme as idades das crianças.

Nos espaços para crianças de 0 a 3 anos a maior preocupação no ambiente para as crianças
menores é com o aconchego e a segurança para que os bebês possam engatinhar. Há nele uma
variedade de objetos que estimulam o movimento. É muito frequente o uso de paredes de vidro
para separar a área dos bebês das demais áreas para que não se sintam sozinhos no ambiente. O
ateliê para essa idade utiliza materiais como farinha e tintas valorizando a experiência sensorial das
crianças.

Já nas salas para crianças de 3 a 6 anos, os brinquedos disponíveis são todos "não-estruturados"
(LEGO®, blocos, animais), preferencialmente feitos em madeira. Há muito material reciclável
disponível para o desenvolvimento de projetos e réplicas de itens utilizados em cozinhas
residenciais. A maior parte do espaço é coberta por tapetes para que a criança se sinta confortável
para explorá-lo livremente. No ateliê dessa faixa etária são utilizados materiais como argila, papéis
diversos e arame.
Escuela Infantil Municipal De Berriozar / Javier Larraz + Iñigo Beguiristain + Iñaki Bergera. Image ©
Iñaki Bergera

Leituras recomendadas

Referências

EDWARDS; FORMAN; GANDINI. "As Cem Linguaguens da Criança. Volume 1: A


abordagem de Reggio Emilia na Educação Infantil", 2016, pp. 137-149.
MAMAPOETISA, Sonia. "Pinceladas de Reggio Emilia en el hogar" (ebook gratuito).
Disponível em https://poetisainsomne.com/maternidad/pinceladas-de-reggio-emilia-en-el-
hogar-ebook-gratuito-para-suscriptores. Acesso 07 julho 2020.
https://www.criandocomapego.com/por-que-e-tao-importante-o-ambiente-em-reggio-emilia/.
Acesso em 07 julho 2020.
Produced by wallabag with tcpdf

Please open an issue if you have trouble with the display of this E-Book on your device.

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)

Você também pode gostar