(Observação: A seguinte atividade será a leitura e discussão simultânea de um dos contos de Boccaccio em reunião no Google Meet no dia 02 de julho. Este é apenas um material de aprofundamento. (1INFO1-11h; 1INFO2-14h; 1INFO3-17h) O aluno que não puder escutar no horário de sua turma poderá pedir para participar no horário de outra ou, alternativamente, poderá acessar a gravação do encontro, a qual será disponibilizada no Youtube após dia 02/07. Conforme o questionário no final deste documento, a frequência consistirá na resposta (em até 50 palavras) à seguinte pergunta, que é baseada no conto discutido no encontro no Google Meet, a ser enviada ao professor por e-mail até dia 09 de julho: “Como a mudança de hábitos causada pela Peste ajudou Ricardo a poder se casar com Catarina?”) Giovanni Boccaccio foi um escritor que viveu na cidade de Florença, na atual Itália, durante o final da Idade Média, mais especificamente entre 1313 e 1375, tornando-se um dos autores mais consagrados da literatura universal. Ele foi profundamente marcado pela experiência da epidemia de Peste Negra, que se espalhou principalmente na Europa durante o século XIV. Nesse tempo, a doença causada pela bactéria Yersinia pestis tirou a vida de praticamente de 60% dos habitantes da cidade de Florença. Será que uma catástrofe desse tamanho não teria impactado a literatura? Sua época ainda era muito marcada por uma política feudal, com famílias nobres que governavam a sociedade há séculos, bem como por um pensamento baseado na religião e na autoridade espiritual da Igreja Católica. Mesmo assim, Boccaccio nasceu em um grande período de efervescência cultural, de modo que ele teve a chance de ler os grandes poetas de sua época, como Dante e Petrarca, além de ter estudado os grandes autores da literatura latina, como Cícero, Horácio, Virgílio, entre outros. Quando a sociedade florentina entrou em colapso por causa da peste, a hierarquia social e os costumes também foram abalados, de maneira que antigas concepções caíram! Entre elas, pode-se afirmar a busca por sentido divino para todas as coisas é questionada, assim como a autoridade de alguns homens sobre outros. Assim, Boccaccio foi um autor que pensou sobre os detalhes do cotidiano, vindo a descrever com grande apreço sobre a dignidade do homem, sobre a beleza do corpo ou sobre o sentido dos hábitos mais simples. Por isso, foi um autor que deu origem ao chamado antropocentrismo (ou seja, explicar as causas dos problemas humanos no próprio homem, dando-lhe mais dignidade do que antes se dava) e sua maior obra a esse respeito foi Decamerão (ou Decameron, nome que vem da língua grega). Observe a descrição que o autor faz da peste em Florença:
No tratamento das referidas enfermidades, nem conselho de médico, nem virtude
de remédio algum parecia proporcionar cura, nem proveito. Ao contrário. Ou a natureza do mal nada disso tolerava, ou a ignorância dos curandeiros não sabia de onde partir e, por conseguinte, não se aplicava o remédio devido. Dos curandeiros, além dos cientistas, a quantidade se havia tornado enorme. Entre eles figuraram mulheres e homens que não tinham jamais recebido qualquer instrução sobre Medicina. Não somente é exato que eram poucos os que saravam, mas também é verdade que, ao contrário desses, quase todos, ao terceiro dia do aparecimento dos sinais acima apontados, morriam. [...] Esta peste foi de grande violência; porque ela se lançava contra os sãos, partindo dos enfermos, desde que enfermos e são ficassem juntos.[...] Em meio a tanta aflição e a tanta miséria da nossa cidade, a reverenda autoridade das leis, tanto divinas, como humanas, caíra e dissolvera-se. (Boccaccio. Decamerão, introdução. 1990, p. 17-18)
Decamerão significa simplesmente a reunião de dez pessoas para contar histórias
(chamadas de novelas). Diante da peste, sete moças e três rapazes que haviam perdido seus familiares para a peste, resolvem se isolar no campo para aproveitar a vida que lhes restava e contar narrativas. O grande interesse da obra é que essas histórias não são moralizantes, mas são muito engraçadas, dando destaque aos pequenos defeitos e virtudes das personagens. Quando o mundo caía, essas “novelas” curtas buscavam falar com sinceridade e falta de moralismo a frágil — porém bela — condição das pessoas. Além do mais, é uma das obras mais importantes do mundo sendo uma das primeiras a ser escrita na chamada língua vulgar, ou seja, no que seria um italiano medieval falado pelo povo, ao invés do latim clássico! Vocês estão convidados a conhecer alguns desses contos (chamadas de novelas) e a refletir também sobre como as grandes epidemias geram grandes mudanças. Ou seja, observe que, quando o absurdo vem à tona em uma pandemia, essa desgraça também pode ser o prenúncio de grandes revoluções nos comportamentos, nos pensamentos e até nas instituições políticas dos homens. O Decamerão de Boccaccio nos ensina que, quando o mundo como se conhece morre, um mundo novo também pode ser construído. A frequência será concedida a partir da resposta à seguinte questão sobre o segundo conto disponibilizado, isto é a “quarta novela” do pfd “Três contos do Decamerão de Boccaccio”, entre as páginas 253 e 257: “Como a mudança de hábitos causada pela Peste ajudou Ricardo a poder se casar com Catarina?” Sugere-se fortemente que o aluno escute a leitura deste conto e a reflexão sobre a Peste sobre ele com o professor no Google Meet no dia 02/07 ou que escute a gravação posteriormente no Youtube. Boas leituras!