H673
História do Tempo Presente nas Américas : política, movimentos
sociais e educação [recurso eletrônico] / Eduardo Scheidt, Igor
Lapsky e Rafael Araújo (Organizadores). – Recife : Edupe, 2020.
266 p.:il. E’book PDF.
Modo de acesso: world wide web: http://www.edupe.com.br
ISBN: 978-65-86413-28-1
1. Tempo presente. 2. América Latina. 3. Política. 4. Movimen-
tos sociais. 5. Educação. I. Scheidt, Eduardo. II. Lapsky, Igor. III.
Araújo, Rafael. IV. Título.
CDU: 98:316
Elaborado por Neide M. J. Zaninelli - CRB-9/ 884
SUMÁRIO
7 APRESENTAÇÃO
Organizadores
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HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE NAS AMÉRICAS:
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POLÍTICA, MOVIMENTOS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
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HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE NAS AMÉRICAS:
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POLÍTICA, MOVIMENTOS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
Os organizadores.
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HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE NAS AMÉRICAS:
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O TRABALHO DE MULHERES NOS SERINGAIS
APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL NO
AMAZONAS
Agda Lima Brito1
Introdução
Pretendemos desvendar o mundo do trabalho e cotidiano, dentro
dos seringais do Amazonas entre 1950 e 1970, entendendo que esse período
abrange mudanças políticas para região Norte, como por exemplo, a
Implementação da Superintendência do Plano de Valorização Econômica
da Amazônia – SPVEA. Nosso objetivo é investigar o trabalho familiar nos
seringais, onde homens, mulheres e crianças trabalharam em uma serie de
atividades buscando a sobrevivência no Amazonas, entendendo que dentro
desses planos de recuperação os trabalhadores passaram por mudanças no
ambiente onde moravam, os seringais, as matas.
Ressaltando que daremos maior atenção ao trabalho feminino,
nos preocupando com as dificuldades que essas trabalhadoras enfrentam
dentro do espaço de trabalho citado. Para isso faremos uso principalmente
de fontes orais tendo em vista a dificuldade de encontrar fontes que tratem
do trabalho feminino dentro das matas amazônicas, o que não exclui o uso
de outras fontes, como os Relatórios de Comercio do Amazonas, O Plano de
Valorização da Amazônia, entre outras.
Dito isso, sabemos que a atividade feminina sofrera uma menor
valorização, ainda que as mulheres que eram nascidas na região ou imigrantes nordestinas
tenham uma rotina de trabalho extremamente cansativa trabalhando
nos seringais, conforme apontam as fontes orais, entrevistas de homens e
mulheres que trabalharam nos seringais nesse período. O serviço feminino
acabava tendo um olhar desvalorizado. Por isso decidimos ter como ponto
principal o trabalho feminino nos seringais.
Vale destacar que essas entrevistas foram colhidas em pesquisa de
campo. Na ocasião, essas pessoas não moravam mais nos seringais devido
à idade avançada. Elas optaram por sair das matas e irem para municípios
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POLÍTICA, MOVIMENTOS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
Para que a lei nº1. 806 fosse executada foi criado O programa de
Emergência do Planejamento da Valorização Econômica da Amazônia foi elaborado
incialmente por seis técnicos federais e nove representantes dos Estados
e Territórios, foram reservados a quantia de CRS 300.000.000,00 para ser
aplicada na Superintendência, com acréscimo de CRS 30.000.000,00 que
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POLÍTICA, MOVIMENTOS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
O Trabalho Feminino
Pensar a Amazônia como área central era tentar desenvolver aquela
região no setor agrícola para que conseguisse atender o resto do país, não
só com alimentos, mas também com matérias primas. Para isso, deveriam
existir investimentos na região, por meio de uma maior intervenção da
União, que impulsionasse o crescimento não só do Norte do Brasil como
também no Nordeste conforme ressalta Celso Furtado (1976).
Importante ressaltar que entendemos os seringais como um espaço
de trabalho que abrange várias atividades e não somente o lugar onde é
colhida a seringa. Nos Relatórios de Comercio do Amazonas de 1950, por
exemplo, produtos como a castanha, a farinha, juta dentre outros vão ser
amplamente tratados como um recurso de incentivo da Amazônia.
Segundo Rodolfo Coelho e Carlos José, a SPVEA não teria tido
êxito em seus planos de desenvolvimento devido a uma série de fatores
que tornavam inviáveis modernizar aquelas regiões. A falta de recursos
financeiros suficientes para isso seria um desses fatores. Durante o governo
Juscelino Kubitschek, seria realizado o planejamento da construção de
rodovias através do Planos de Metas. Para os autores, essas rodovias teriam
contribuído para o desmatamento da região, conforme aponta Rodolfo:
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POLÍTICA, MOVIMENTOS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
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9 Documentário por Alejandro Ulises Bedotti e Maria Luzia Ferreira Santos. Refere-se
ao produto final de pesquisa na área de Geografia Humana realizada pela Fundação Uni-
versidade Federal de Rondônia, com apoio do CNPq.1996.
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POLÍTICA, MOVIMENTOS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
10 PINTO, Ana Xavier. Ana Xavier Pinto. depoimento [15 novembro. 2013]. Entrevista-
dora: Agda Lima Brito, Manaus: Amazonas, 2013.
11 LADISLAU, Consuelo. Consuelo Ladislau [10 abril. 2016]. Entrevistadora: Jéssyka
Samya, Manaus: Amazonas, 2016.
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12 RIBEIRO, Francisca das Chagas. Francisca das Chagas Ribeiro. depoimento [10 feve-
reiro. 2014]. Entrevistadora: Agda Lima Brito, Manaus: Amazonas, 2014.
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POLÍTICA, MOVIMENTOS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
13 RIBEIRO, Francisca das Chagas. Francisca das Chagas Ribeiro. depoimento [10 feve-
reiro. 2014].
14 Lei nº 5.173, de 27 de outubro http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5173.htm.
Recorte de Revista sobre incentivos fiscais para SUDAM - Arquivo Nacional do Rio
de Janeiro.
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POLÍTICA, MOVIMENTOS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
15 A malva e a juta após serem coletadas são transformadas em fibras que tinha valor
comercial, essas plantas se desenvolvendo melhor nas áreas de várzeas do rio Amazonas,
após a queda da coleta da borracha na região, boa parte da mão de obra acabou optando
por trabalhar com a malva e a juta, período em que o governo Federal também estimulava
que fossem cultivadas na região (BENTES, 2015).
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POLÍTICA, MOVIMENTOS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
Percebe-se que a Malva e a Juta passam por uma serie de processos até
se torna fibra própria para a venda e as mulheres estão inseridas nesse tipo
de trabalho. Inclusive na negociação com os comerciantes, que já na década
de 1960, eram os regatões, marreteiros, ou comerciantes dos municípios
próximos aos seringais onde essas famílias trabalhavam, existindo assim
outra mudança, o patrão deixa de ser fixo e agora podem negociar com
outros interessados em suas mercadorias.
Raimunda Vidal de Lima, em sua entrevista, narra que saiu do
trabalho da borracha para a malva e que sabia realizar todos os processos de
malva, ressalta que cuidar de uma roça seria menos complicado que cuidar
do plantio e fabrico da malva:
é para a malva, aí fomos plantar roça, melhor ficou na roça
mesmo, melhor de fazer né, por que a malva ou com chuva
ou com sol, tem que cuidar né e na roça não, na roça é
quando a gente pode ir. Quando faz a chuva a gente não vai
né, aí só vai capinar, só vai plantar quando esta fazendo sol,
só vai capinar quando esta fazendo sol e aí é desse jeito...
cuidando só da roça, até hoje.17
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POLÍTICA, MOVIMENTOS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
Considerações Finais
Os Planejamentos realizados para que a SPVEA funcionassem,
acabaram não tendo êxito devido a uma serie de fatores, desde o Plano
de Emergência que deveria servir de base ao Plano Quinquenal, que as
medidas não eram executadas conforme deveriam ocorrer, além disso, para
que tivesse êxito seria preciso que recebesse a verba integralmente, algo que
nunca ocorreu, do mesmo modo os planejamentos que foram feitos sem um
total conhecimento da região Amazônica, por isso admitiam que deveriam
investir em pesquisa sobre a região19.
Para Wesley Pereira, José Raimundo Trindade e Danilo Fernandes
existiam cinco pontos pelos quais o Plano Quinquenal acabou fracassando,
o primeiro seria o empenho de pessoas qualificadas e realmente engajas
em fazer o plano da certo, a negligência em relação ao alguns projetos do
programa, a omissão acerca da administração dos recursos financeiros, o
reajuste de valores devido à inflação que corroborou para o declínio do
plano, a ausência de empresários que pudessem incentivar as metas, pois a
região ainda estava fortemente ligada à questão da extração da borracha, a
falta de um conhecimento aprofundado acerca da região, também colaborou
para o fracasso do plano, o escasso conhecimento sobre o solo, a geografia
da região, implicavam problemas para explorar a região de modo positivo
(OLIVEIRA, TRINDADE, e FERNANDES, 2014, p. 221-222).
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Referências
Fontes orais
LADISLAU, Consuelo. Consuelo Ladislau [10 abril. 2016]. Entrevistadora:
Jéssyka Samya, Manaus: Amazonas, 2016.
NOGUEIRA, Raimundo. Raimundo Nogueira. Depoimento [06 Abril.
2014]. Entrevistadora: Agda Lima Brito, Manaus: Amazonas, 2014.
PINTO, Ana Xavier. Ana Xavier Pinto. Depoimento [15 novembro. 2013].
Entrevistadora: Agda
Lima Brito, Manaus: Amazonas, 2013.
GUIMARÃES, Antônio. Antônio Guimarães. Depoimento [06 Abril.
2014]. Entrevistadora: Agda Lima Brito, Manaus: Amazonas, 2014.
RIBEIRO, Francisca das Chagas. Francisca das Chagas Ribeiro. Depoimento
[10 fevereiro. 2014].
Entrevistadora: Agda Lima Brito, Manaus: Amazonas, 2014.
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POLÍTICA, MOVIMENTOS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
Fontes
Empresa Brasileira de Assistência Técnica Extensão Rural /Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária i Sistemas de produção para juta e malva, Amazonas
( revisão). Manaus, 1980. 24 p. (Sistemas de produção Boletim n? 195).
OLIVEIRA, Lúcia Lippi. O Brasil de JK > A criação da Sudene. https://
cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Economia/Sudene. Acesso em
22 de janeiro de 2018.
OLIVEIRA, Rafaela Bastos e PANTOJA, Tamily Frota. Relatório sobre os
Soldados da Borracha. 2017
Legislação Informatizada - Lei nº 1.806, de 6 de janeiro de 1953. Pagina
Consultada em 19 de setembro de 2016. http://www2.camara.leg.br/legin/fed/
lei/1950-1959/lei-1806-6-janeiro-1953-367342-publicacaooriginal-1-pl.html.
Legislação Informatizada - Dados da Norma. LEI Nº 1.806, DE 6 DE
JANEIRO DE 1953 - EMENTA: Dispõe sôbre o Plano de Valorização
Econômica da Amazônia, cria a superintendência da sua execução e dá
outras providências. Pagina Consultada em 20 de novembro de 2016.http://
www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1950-1959/lei-1806-6-janeiro-1953-367342-
publicacaooriginal-1-pl.html.
Presidência da República- Superintendência do Plano de Valorização
econômica da Amazônia. Valorização econômica da Amazônia- Programa
de Emergência (artigo 19 da lei nº 1.086. de 6 de janeiro de 1953). Setor de
coordenação e Divulgação, Belém- Pará- Brasil. 1954.
Relatório da Diretoria da Associação Comercial do Amazonas. Ano social
1950. Rio de Janeiro, p. s/n – Arquivo da Biblioteca Nacional do Brasil.
Relatório Administração Sesp. Serie Organização e Funcionamento. 1944. p.
s/n – Departamento de Arquivo e Documentação, Fiocruz, Rio de Janeiro.
Relatório da Diretoria da Associação Comercial do Amazonas. Ano social
1942. Rio de Janeiro, p. s/n – Arquivo da Biblioteca Nacional do Brasil.
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Bibliografia
ASSUNÇÃO, Sandra; SILVA, Josué; SILVA, Adnilson. Lembranças do
Lugar: O ser Seringueiro em Extrema RO. Revista Igarapé, Vol. 1, No 1 (2013).
BATISTA, Iane Maria da Silva. A Natureza nos Planos de Desenvolvimento
da Amazônia (1955-1985). Tese- Universidade Federal do Pará, 2016.
BENTES, Jones Gomes. Influência do Espaçamento na Produtividade
de Sementes de Malva. (Urena lobata L.) em Terra Firme no Amazonas-
Dissertação-Universidade Federal do Amazonas. 2015
BIELSCHOWSKY, Ricardo. Cinquenta anos de pensamento na Cepal.
Tradução de Vera Ribeiro. - Rio de Janeiro: Record, 2000.
CHEROBIM, M. — Trabalho e comércio nos seringais amazônicos.
Perspectivas, São Paulo, 6:102-107, 1983.
DAUPHIN, Célia, FARGE, Arlette, PERROT, M. A história das mulheres.
Cultura e Poder das Mulheres: Ensaio de Historiografia. Tradução de Rachel
Soihet. Rosana M. A. Soares e Suely Gomes Costa. Gênero. NUTEG- Núcleo
Transdisciplinar dos Estudos de Gênero. 2º. Sem 2001- vol.2, n.1(2 sem 200),
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FERNANDES, Danilo Araújo. A Questão regional e a formação do discurso
desenvolvimentista na Amazônia. Tese (Doutorado) – Universidade Federal
do Pará, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Programa de Pós - Graduação
em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido, Belém, 2011.
FERREIRA, Maria Liége Freitas. Mulheres no Seringal: submissão, resis-
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Civilizador, História e Educação. Paraíba, 2004.
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil, 14ª ed. São Paulo,
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LEAL, Davi Avelino. Por uma arqueologia dos seringais. Revista Canoa do
tempo (UFAM), v. 1, p. 205-2201, 2007.
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“SATANÁS NÃO PREGA MAIS QUARESMA
NO BRASIL”: O APOIO DE SETORES CIVIS E A
RESISTÊNCIA À DITADURA CIVIL-MILITAR DE
1964-1985 EM ILHEUS, BA
Luiz Henrique dos Santos Blume1
Maíza Ferreira dos Santos2
1 Doutor em História Social pela PUCSP. Professor Adjunto “B” na UESC - Universidade
Estadual de Santa Cruz, Ilhéus-BA. Agradeço a colaboração de Franciane Nunes dos San-
tos, ex-bolsista PIBIC/FAPESB 2017-2018 na pesquisa com o periódico Diário da Tarde e
na catalogação de informações do Projeto Brasil Nunca Mais.
2 Licenciada em História pela UESC, Mestranda em História no Programa de Pós-Gra-
duação em História da UEFS - Universidade Estadual de Feira de Santana. Participou
como bolsista no programa de Iniciação ao Ensino modalidade PAIG-UESC nos anos
2012-2017, no projeto “Laboratório de História Oral: pesquisa e ensino com fontes orais”
(2012-2014) e “Outras memórias da ditadura civil-militar de 1964-1985 em Ilhéus-Itabu-
na:imprensa e narrativas orais” (2015-2017).
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reformas de base como uma medida extrema, pois o presidente estaria sem
alternativas:
Mais ainda, estou convencido de que Jango não acreditava
no sucesso da estratégia da FMP. Ele, na verdade, encontra-
va-se sem alternativas. A radicalização política o empurrou
para suas bases históricas: as esquerdas e o movimento sin-
dical. Escolher a Frente Progressista de San Thiago Dantas
negaria todo o seu passado de líder reformista e nacionalis-
ta e o tornaria refém político do PSD. A estratégia, a partir
daí, era a de mobilizar os trabalhadores contra o Congresso
Nacional, obrigando os parlamentares a aprovar as refor-
mas de base.” (FERREIRA, 2007, p. 528)
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REFERÊNCIAS
Fontes impressas:
Jornal Diário da Tarde. Ilhéus, 04.01.1964.
Jornal Diário da Tarde. Ilhéus, 03.04.1964.
Jornal Diário da Tarde. Ilhéus, 10.04.1967.
Jornal Diário da Tarde. Ilhéus, 11.04.1967.
PC do B. Guerra popular – caminho da luta armada no Brasil. Lisboa,
Edições Maria da Fonte, 1974.
Formato eletrônico:
Processo 119 do Projeto Brasil Nunca Mais – encontrado em: <http://
bnm-acervo.mpf.mp.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=BIB_02&Pa-
gFis=138388&Pesq=>. Acessado em: 12 de agosto de 2017 às 09h: 31 min.
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Orais:
PEIXOTO, Maria do Rosário da Cunha. Outras histórias e outras memórias.
Ilhéus, 12.11.2013. Áudio gravado da palestra no Seminário do Laboratório
de História Oral: ensino e pesquisa com fontes orais. UESC. Gravado em
áudio wav. 60’.
PÓVOAS, Rui do Carmo. Entrevista realizada em 13.08.2014, Itabuna-BA.
Entrevistadores: Luiz Henrique dos Santos Blume e Paulo Rodrigues dos
Santos. 712 MB. Áudio waveform.
SANTOS, Antônio Calasans dos. Entrevista realizada em 28.10.2015, no
Centro de Documentação e Memória Regional da Universidade Estadual
de Santa Cruz. Entrevistadores: Luiz Henrique dos Santos Blume, Maíza
Ferreira dos Santos e Marcelo da Silva Lins. (Acervo do Projeto Memórias
da ditadura civil-militar de 1964-1985 em Ilhéus/Itabuna: imprensa e fontes orais
no ensino e na pesquisa em História)
Bibliografia
FERREIRA, Jorge. Entre a história e a memória: João Goulart. In: FERREIRA,
J.; REIS, D.A. (orgs.). Nacionalismo e reformismo radical. 1945-1964. vol.
2. p. 509-541. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2007. (Coleção
As esquerdas no Brasil)
FICO, Carlos. Versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar. Rev.
Bras. Hist., São Paulo, v.24, n.47, p.29-60,2004.Availablefrom <http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 01882004000100003&ln-
g=en&nrm=iso>.access on 16 Apr. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-
01882004000100003.
GASPARI, Elio. A ditadura envergonhada. As ilusões armadas. vol. 2 São
Paulo: Companhia das Letras, 2014.
LEVI, Primo. Os afogados e os sobreviventes: Os delitos, os castigos, as
penas e as impunidades. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004. 175 p. Tradução
de: Sérgio Henriques.
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MEMÓRIA E TEMPO PRESENTE:
MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE (MEB)
Sara Oliveira Farias1
Introdução
Os passos iniciais da pesquisa sobre o Movimento de Educação de
Base tinham, entre outros objetivos, a atuação do MEB em uma região da
Bahia, a cidade de Amargosa, (localizada 244 km da capital do estado,
no centro sul da Bahia, nos anos de 1960. Nossa atuação como docente
de Programa de Pós-Graduação stricto sensu fez com que orientássemos
pesquisas que tinham como foco a relação Igreja, trabalho, trabalhadores e
movimentos sociais nas décadas de 1960,1970 e 1980 em algumas regiões do
Estado. Dessa forma, foram orientadas pesquisas que analisavam, discutiam
movimentos da Igreja católica como a Juventude Agrária Católica (JAC);
Juventude Estudantil Católica (JEC); Juventude Operária Católica (JOC)
e Juventude Universitária Católica (JUC) nos anos de 1960 e, nas décadas
de 1970 e 1980, movimentos como as comunidades eclesiais de base (CEBs).
Em um desses estudos foi possível conhecer fontes históricas que tratavam
sobre o MEB no Brasil e, também, sua atuação na Bahia. Assim foram
traçados objetivos para tentar compreender a atuação do MEB, sobretudo
a partir de documentos que o movimento utilizava para poder alfabetizar
e conscientizar uma parte significativa de regiões mais pobres e carentes
do Brasil do século XX, como a população da região nordeste, centro-oeste
e norte do país.
A tensão entre passado e presente é fundamental em estudos que
tem como recorte temporal, o próprio tempo presente. Estudar e analisar
o período da História do Brasil contemporâneo possibilita, entre outras
questões, reconhecer que a garantia da objetividade em estudos recentes,
definitivamente é coisa do passado, visto que nos estudos sobre o tempo
presente existe não uma dicotomia entre passado e presente, mas uma
“união e interação entre passado e presente.”(FERREIRA, 2016, p.127) Além
disso, quando François Bédarida criou na França, o Instituto da História do
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HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE NAS AMÉRICAS:
O Início e o MEB
O Movimento de Educação de Base (MEB) foi criado oficialmente em
1961, no governo do Presidente da República Jânio Quadros pela Conferência
Nacional dos bispos (CNBB) em acordo com o bispo progressista de Aracaju
Dom José Távora. “Apesar de ser um órgão vinculado à Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB) e de ter recebido ajuda financeira do governo
federal, sua dinâmica estabeleceu-se a partir da ideologia dos agentes que
dele participavam”. (MACHADO&MARQUES,2015, p.154).
Muitos participantes do MEB vieram da Ação Católica Brasileira
(ACB)- criada em 1920 e ligada a Ação Católica, um dos movimentos de leigos
mais significativos na Igreja contemporânea, criado no século XIX. Antes
de narrar a trajetória do MEB é necessário sinalizar que é a partir de 1947,
com a criação da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência
e Cultura (UNESCO) pela Organização das Nações Unidas (ONU) que
Passou a incentivar a educação de adultos, entre as nações
que dela eram membros. Tal proposta sugeria a aquisição
de conhecimento como um dos quesitos necessários para
a elevação das condições de vida das populações. O acesso
ao conhecimento seria capaz de garantir a superação das
condições de miserabilidade existente em vastas regiões do
planeta, criando-se, assim, um clima de compreensão e res-
peito em torno da diversidade cultural entre povos (MA-
CHADO&MARQUES,2015, p.151-152).
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Em linhas gerais, o grupo de Natal se reunia uma vez por mês para
traçar os planos para aplicar um planejamento no âmbito pastoral como,
por exemplo, as maternidades. “Chegamos a ter de sete a oito maternidades
para os pobres, funcionando em casas comuns; educação rural e também do
ensino médio. Portanto, o Movimento de Natal era todo um conglomerado de
iniciativas.”2 Além disso, o movimento percebendo a importância dos meios
de comunicação decidiu instalar uma rádio – a rádio rural – e direcionou
a programação diretamente para o meio rural, porque segundo D. Eugênio
estas eram as mais pobres e as que moravam na cidade possuíam outras
possibilidades. O Bispo havia tido “uma experiência de alfabetização pelo
rádio, na Colômbia, com a rádio Sutatenza.3
Esse movimento de Natal para a educação de jovens e adultos na
Arquidiocese de Natal, assim como outros movimentos no Brasil daquele
período, pode ser pensado como iniciativas para a implementação da
doutrina social da Igreja.
Estas iniciativas significam aceitar ao invés de lutar contra
a secularização, criticar ao invés de tolerar as desigualdades
da sociedade e trabalhar com os pobres assim como com as
elites. Inspiradas em parte pelo anticomunismo, essas ino-
vações rompiam com as práticas tradicionais. Ao invés de
ensinar a aceitação da pobreza, promoviam soluções que
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6 Os livros foram fundamentais para a elaboração das aulas, preparadas pela equipe do
MEB e, aplicadas à comunidade, considerando como fundamental, a existência humana.
7 O livro Viver é Lutar está disponível em formato digital no endereço eletrônico www.
forumeja.org.br. É um dos primeiros livros de leitura do MEB nos anos de 1960.
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Referências
Fontes:
Arquivo do CEDIC- PUC-SP
Impressas
- MEB. Relatório Anual do Movimento de Educação de Base, 1979
- MEB em 5 anos.1982
- Livro de Leitura Viver é Lutar.
Sonoras
- CD Cantos da Resistência: Pela preservação da memória contra o esque-
cimento ( 07 novembro 2015)
Oral
- Entrevista com Osmar Fávero, professor aposentado da UFF e ex-diri-
gente do MEB- Nacional em 05 abril 2016, na cidade do Rio de Janeiro.
Entrevistadora Sara Oliveira Farias.
Bibliografia
BEOZZO, José O. A Igreja do Brasil no Concílio Vaticano II 1959-1965,
São Paulo, Paulinas, 2005.
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DISCURSO E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO
IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF
Ivana Veloso de Almeida1
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2 Dilma Rousseff se candidatou nas eleições presidenciais do Brasil em 2010, tendo como
seu vice Michel Temer (PMDB), e em 31 de outubro desse mesmo ano foi eleita presiden-
te do Brasil com 56,05% do total de votos válidos, contra 43,95% de José Serra. Em 2014
Dilma se candidatou novamente, tendo como vice novamente Michel Temer (PMDB),
no dia 26 de outubro de 2014, com mais de 54 milhões de votos, ela foi reeleita pelo povo
brasileiro. Em decorrência dos protestos que exigiam o impeachment da presidenta, em
31 de agosto de 2016 Dilma Rousseff perdeu o cargo de Presidente da República, depois
de longos três meses de tramitação do processo de impedimento, que havia se iniciado
no Senado em 2 de dezembro de 2015 pelo presidente da Câmara Eduardo Cunha com a
denúncia de Crime de Responsabilidade.
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Considerações Finais
Em 2013, o Brasil vivenciou uma grande eclosão de manifestações
por grande parte da população em razão do aumento das passagens do
transporte público. Em linhas gerais, Cláudio Penteado e Celina Lerner
(2018) em seu artigo A direita na rede: mobilização online do impeachment de
Dilma Rousseff ressaltam que essa onda de protestos, que tomaram as ruas em
junho de 2013 em várias cidades brasileiras, chamou a atenção para o poder
das mídias sociais como ferramenta de mobilização política e expressão de
indignação e esperança. Bem como um espaço alternativo de produção de
informação política, colocando em discussão os modelos emergentes de
participação institucional.
Nessa perspectiva, as jornadas de junho de 2013 despertaram a
atenção das Ciências Sociais e da sociedade em geral para a importância
das redes sociais dentro do atual contexto social de crise de representação
e a emergência de novas formas de mobilização e expressão política. Nesse
sentido, pode-se compreender que as eleições de 2014 tiveram as redes
sociais como um espaço para o embate não somente entre as campanhas,
mas, sobretudo, para o embate entre os eleitores e militantes. Portanto, a
campanha de 2014 foi marcada pela radicalização ideológica entre direita e
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Referências
ARÓSTEGUI, Júlio. O processo metodológico e a documentação históri-
ca. In: _______. A pesquisa histórica: teoria e método. Bauru: Edusc, 2006,
p. 465-512.
ASSIS, Arthur. A teoria da história como hermenêutica da historiografia:
uma interpretação de Do Império a República, de Sergio Buarque de Ho-
landa. Revista Brasileira de História, São Paulo, vol. 30, n. 59, p. 91-120, 2010.
CARNIEL, Fagner; RUGGI, Lennita; RUGGUI, Julia de Oliveira. Gênero
e Humor nas Redes Sociais: a campanha contra Dilma Rousseff no Brasil.
Opinião Pública, Campinas, vol. 24, n. 3, set-dez/2018, p. 523-546.
CERTEAU, Michel de. A Operação Historiográfica. In: _______. A Escrita
da História. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1982, p. 56-104.
CHARTIER, Roger. O Mundo como Representação. Estudos Avançados, v.
5, nº 11, 1991, p. 173-191.
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IMAGENS DE CUBA REVOLUCIONÁRIA:
UMA DISCUSSÃO SOBRE A CINEMATOGRAFIA
DE TOMÁS GUTIÉRREZ ALEA
Igor Lapsky1
Introdução
O cinema é uma arte inventada no século XIX pelos irmãos Lumiére,
quando, em 1895, produziram uma série de filmes, com destaque para A
chegada do trem à estação, que mostrava a imagem em movimento como
fruto de seguidas inovações tecnológicas, principalmente, a fotografia em
sequência, desenvolvida por Étienne-Jules Marey, na década de 1860. Nos
primeiros anos do cinema, a tecnologia era o elemento central: não havia
necessidade de contar histórias ou desenvolvimento dos personagens, uma
vez que o movimento projetado na tela era o que cativava o público, que
aparentava curiosidade e espanto ao assistir os filmes daquele período. A
partir da primeira década do século XX, temos o desenvolvimento do cinema
enquanto arte. A teatralização dos movimentos passou a ser o ponto central
dos filmes, fazendo com que fossem desenvolvidas histórias complexas,
que exigiam personagens ensaiados. Além disso, os filmes, compostos por
frações de minutos, passam a ser mais longos, fazendo com que os diretores
desenvolvessem o método da decupagem, ou seja, o corte dos filmes em
cena para melhor adequação da história.
A montagem dos filmes é utilizada para dar sentido aos mesmos. Os
longas-metragens, de mais uma hora de duração, popularizados por David
Wark Griffith na década de 1910, foram possíveis graças ao processo de
corte e colagem de frames para dar sentido a uma história. Tal método foi
aprimorado ao longo deste período, principalmente com a escola soviética
de cinema, tendo Sergei Einsenstein como um de seus principais diretores.
Segundo Fuhrhammar e Isaksson (1976), a relação entre cinema e
política ocorreu a partir da Primeira Guerra Mundial. Na ocasião, filmes foram
produzidos sob investimento do Estado para fins de propaganda, de apoio à
1 Doutor em História Comparada pela UFRJ. Professor Adjunto de História Contempo-
rânea do departamento de História da UPE/Campus Mata Norte e docente do programa
de Mestrado Profissional em Ensino de História da UPE (ProfHistória UPE).
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5 Fundada em 1899, a United Fruit Company era uma das maiores multinacionais dos Es-
tados Unidos, responsável pela produção de frutas, principalmente bananas, na América
Latina. Foi utilizada como fortalecimento da hegemonia norte-americana na virada do
século XIX para o XX. Para mais, ver: ALBANO, G. P. Multinacionais e Neocolonialismo:
a atuação da United Fruit Company na América Latina no Século XX. Revista GeoSer-
tões, n.1, v.1, 2016.
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com outra pessoa e dizia que era muito difícil resolver problemas naquele
órgão, apontando para a pilha de requerimentos que necessitavam ser
preenchidos. O funcionário é apresentado para o espectador como uma
pessoa totalmente desorganizada. Não cumpre a ordem, não há critério para
desenvolver o trabalho e redireciona o público para outros funcionários,
sem tentar resolver o problema. Ao conseguir o documento, o sobrinho é
encaminhado para o departamento de aceleração de trâmites (DEPATRAM),
em que ele precisa de uma assinatura e carimbo no documento feito pelo
funcionário que emitiu a solicitação de exumação do corpo. Ao chegar no
local, é apresentado o cartaz “DEPATRAM. Número 1 em ping pong”. O
sobrinho se aventura para ter o seu papel carimbado e assinado, se trancando
no departamento para roubar o carimbo.
Com o documento de exumação resolvido, o sobrinho, exausto dos
problemas burocráticos, volta ao cemitério para enterrar seu tio. O gestor
nega o pedido, dizendo que aquela era uma exumação e não um enterro. O
sobrinho, enfurecido, mata o gestor do cemitério.
Em Guantanamera, a morte também é um papel importante para
o desenvolvimento da história. O filme inicia com Gina recebendo a tia
Yoyita na cidade de Guantánamo. Esta havia retornado a Cuba após fugir
para os Estados Unidos durante a Revolução. Adolfo, esposo de Gina, estava
em uma reunião em Havana com a organização do setor de enterros do
país: cada região tinha um responsável nomeado pelo Estado para gerir os
enterros locais. Quando era necessário enterrar pessoas em outras regiões,
os gestores se organizavam para o processo dar andamento. Adolfo era um
entusiasta da ideia e tinha como principal objetivo ser reconhecido em
seu trabalho. Durante a reunião, Adolfo recebe a notícia que Yoyita havia
falecido em Guantánamo e prepara a documentação necessária para levar
o corpo da tia de Gina para ser enterrado em Havana.
A história se desenvolve a partir de três personagens: Gina, Adolfo
e Mariano, um caminhoneiro mulherengo que conhecera Gina quando
estudava na Universidade de Havana. Alea apresenta o arquétipo dos três
personagens relacionando-os com a característica da sociedade cubana. Gina,
uma mulher muito inteligente, professora de economia da universidade, que
tinha uma paixão por seu aluno Mariano, que se formou engenheiro, mas
virou caminhoneiro, pois o salário era melhor. Ela abandona a universidade
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Considerações finais
Tomás Gutierrez Alea foi um dos maiores cineastas de Cuba. Foi
reconhecido por seus prêmios internacionais, sendo responsável pela única
produção cubana indicada ao Oscar na categoria melhor filme estrangeiro
em 1995. Sua atuação diante da Revolução Cubana foi de apoio, até o
momento em que os artistas foram censurados pelo regime de Fidel Castro.
A partir do seu rompimento com a direção do ICAIC, as críticas ao regime
passaram a ser abordadas em seus filmes de ficção.
O ICAIC, mesmo com as censuras impostas pelogoverno, conseguia
divulgar filmes que não seguiam a política do país. Segundo Mariana Villaça
(2006), isso se deu graças a um duplo diálogo entre ICAIC, governo e
diretores, produzindo filmes a partir da conciliação entre as duas frentes.
Portanto, ao mesmo tempo que se desenvolvia documentários apoiando
o Estado e valorizando a revolução, eram produzidas obras ficcionais que
não estavam de acordo com o regime (VILLAÇA, 2016).
Todas as produções de Alea analisadas no artigo foram produzidas
pelo ICAIC. A primeira, em 1960, foi o primeiro longa-metragem de
Cuba pós-revolução, e exaltava o movimento, a partir de destaques dos
protagonistas nas histórias. A partir de 1961, com a sua saída do comitê
diretor do ICAIC, os filmes de Alea passaram a ser críticos, principalmente
com relação ao sistema administrativo e político, nos anos 1960, e social,
nos anos 1990.
Em 1966 e 1968, Alea produziu filmes que tratavam de formas
distintas o regime cubano. La muerte de un burocrata criticava a burocracia
administrativa retratada a partir do gestor do cemitério. Memorias del
subdesarollo mostra a representação do subdesenvolvimento de uma geração
que não gosta de política, mas também apresenta a desilusão com a sociedade
cubana após a revolução. Nos anos 1990, Alea ampliou as discussões sobre o
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Referências
CASTILLO, Luciano. Crónica y flashback de un redescubrimiento: Me-
morias del subdesarollo. Cine Cubano, n. 200, 2016.
DEL RÍO, Joel. Algumas memórias do cinema cubano mais polêmico. Es-
tudos Avançados, v. 25, n.72, 2011.
FERRO, Marc. Cinema e História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2012.
FURHAMMAR, Leif & ISAKSSON, Folke. Cinema & Política. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1976.
SADER, Emir. Latinoamericana: Enciclopédia Contemporânea da Amé-
rica Latina. São Paulo: Boitempo Editorial, 2006.
VILLAÇA, M. M. O Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográ-
ficos (ICAIC) e a política cultural em Cuba (1959-1991). Tese de doutora-
do. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2006.
________________. Aproximações e tensões entre o ICAIC e a política
cultural em Cuba. IdeAs, n.7, 2016.
VIRILIO, Paul. Guerra e cinema: logística da percepção. São Paulo: Boi-
tempo, 2005.
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É POSSÍVEL AFIRMAR QUE HOUVE SOCIALISMO
NA VENEZUELA CHAVISTA? UM ESTUDO DE
CASO SOBRE COMO CONCEITUAR ECONOMIAS
CONTEMPORÂNEAS1
Lucas Lemos Walmrath2
Wallace de Moraes3
Introdução
Esta pesquisa é guiada por algumas perguntas; 1) podemos afirmar
categoricamente que o chavismo implementou o socialismo na Venezuela?; 2)
como classificar a economia de um país como socialista?; 3) do ponto de vista
metodológico, quais os critérios essenciais para cravar tal classificação? Por
fim, pretendemos contribuir com alguns critérios essenciais que balizem a
1 Este capítulo é resultado dos estudos desenvolvidos pelos autores entre os anos de 2017
e 2019 no grupo de pesquisa Observatório do Trabalho na América Latina (OTAL), vin-
culado e sediado no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ e liderado
pelo prof. Dr. Wallace de Moraes. Uma versão anterior foi originalmente publicada como
artigo no “Dossiê 60 anos da Revolução Cubana e 20 anos da Revolução Bolivariana: um
balanço histórico, literário e historiográfico” no periódico Cadernos do Tempo Presente
da Universidade Federal do Sergipe (UFS), em 2019.
2 Mestrando em Sociologia (com ênfase em Antropologia) pelo Programa de Pós-Gra-
duação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) do Instituto de Filosofia e Ciências So-
ciais (IFCS) da UFRJ. Colaborador do Observatório do Trabalho na América Latina
(OTAL) no mesmo instituto.
3 Professor Associado do Departamento de Ciência Política e dos Programas de Pós-
-Graduação em Filosofia (PPGF) e História Comparada (PPGHC) da UFRJ. Pesquisa-
dor membro do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT/PPED). É editor da
Revista Estudos libertários da UFRJ e líder do grupo de pesquisa OTAL/UFRJ. É autor
de vários artigos e livros acadêmicos. Coordena a coleção “Governados por Quem? – Di-
ferentes Plutocracias nas Américas, sendo autor de dois livros 1) História das diferen-
tes plutocracias no Brasil e 2) A história da Venezuela que não te contaram na TV”. É
também autor do livro: “2013 – Revolta dos Governados ou, para quem esteve presente,
Revolta do Vinagre”. Pesquisa atualmente: Filosofia política negra; As Regulações Tra-
balhistas na América Latina e nos EUA; Teoria Política Anarquista e Libertária; e a
Relação entre Representação Política, Plutocracia e Democracia. Desde 2018, é bolsista
do Programa Jovem Cientista do Nosso Estado da FAPERJ.
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Metodologia
Nossos procedimentos metodológicos são os seguintes: 1) faremos
um estudo do caso venezuelano sob a governança política de Chávez, em
que pese uma breve comparação da Venezuela com demais países em alguns
indicadores; 2) Conduzimos uma pesquisa bibliográfica em dicionários
especializados, com foco nas disciplinas de Economia e Ciência Política,
além de uma pesquisa documental em fontes secundárias, abarcando mídia
eletrônica, documentos institucionais e oficiais; 3) realizaremos, ainda, uma
breve análise de dados qualitativos e quantitativos.
Para verificar e, posteriormente, classificar a Venezuela sob o cha-
vismo, optamos por uma análise não só da forma de governo em seus traços
gerais, mas em seus componentes institucionais, em termos dos aparelhos do
Estado/governo e, principalmente, da configuração dominante da economia
neste período.
Estudamos e sintetizamos os conceitos de Capitalismo e Socialismo
nos seguintes dicionários: The MIT Dictionary of Modern Economics (1992);
Novíssimo Dicionário de Economia (1999); Routledge Dictionary of Economics
(2002); A Dictionary of Economics (2003); Dicionário de Política, de Norberto
Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino (1998); The Routledge
Dictionary of Politics (2004); Oxford Concise Dictionary of Politics (2009) e, por
fim, o Dicionário do pensamento marxista (1988).
Resultados
Para se analisar a validade conceitual da Venezuela enquanto um
país socialista, é necessário, antes, resgatar as suas principais definições
conceituais. Sabemos que, desde tempos imemoriais, diversas concepções
de socialismo foram criadas e elas tratam de temas centrais da economia
política de maneira bem dessemelhante. Portanto, não podemos descuidar
da história do conceito, tampouco que ele comporta alguns aspectos centrais
que não podem ser deixados de lado. Em resumo, toda categoria, embora
possa mudar ao longo do tempo, é composta por um mínimo comum que a
singulariza e, principalmente, a diferencia de outras.
De acordo com Bottomore (1988), as raízes históricas do socialismo
remontam ao movimento radical dos Diggers, na Inglaterra, no período da
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5 e.g.: “economic system based on private property and private enterprise” (A DICTIO-
NARY OF ECONOMICS, 2003)
6 e.g.: “the general doctrine that the ownership and control of the means of production -
capital and land - should be held by the community as a whole and administered in the
interests of all” (THE MIT DICTIONARY OF MODERN ECONOMICS, 1992, p. 398)
7 e.g.: “Production motivated by the profit motive” (ROUTLEDGE DICTIONARY OF
ECONOMICS, 2002, p. 91)
8 e.g.: “gestão tenha por objetivo promover a igualdade social (e não somente jurídica ou
política), através da intervenção dos poderes públicos.” (DICIONÁRIO DE POLÍTICA,
1998, p.1197-1198)
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HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE NAS AMÉRICAS:
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Banco Central de Venezuela, 2019a
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Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Banco Central de Venezuela, 2019b
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HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE NAS AMÉRICAS:
Fonte: Encuesta de Hogares por Muestreo - Instituto Nacional de Estadística, INE. Disponível em
http://www.ine.gov.ve/index.php?option=com_content&view=category&id=103&Itemid=40#. Acesso
em 03 de fevereiro de 2020.
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Conclusão
O presente estudo, dadas as limitações da contribuição, da abordagem
e dos dados consultados, não entende como adequada a classificação da
Venezuela sob os governos de Hugo Chávez como exemplo de economia
socialista. Para tanto, nos amparamos na literatura especializada em conceitos
políticos e econômicos. Assim, visamos contribuir para construção futura
de modelos mais abrangentes, capazes de serem reproduzidos e aplicados
de maneira eficaz ao se analisar e conceituar economias contemporâneas.
Com efeito, afirmamos que a Era Chávez não acabou com o capitalis-
mo, mas indubitavelmente rompeu com uma de suas faces, o neoliberalismo.
Ao mesmo tempo, não criou o socialismo. Todavia, implementou políticas
muito fáceis de identificar, para um mínimo conhecedor da história. Trata-
se de políticas social-democratas, empurradas, tal como no período do
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Bibliografia
ÁLVAREZ, Victor. Venezuela: ¿Hacia dónde va el modelo productivo? 1a
ed. Caracas: Centro Internacional Miranda (CIM), 2009. Disponível em:
<http://209.177.156.169/libreria_cm/archivos/pdf_199.pdf>. Acesso em: 3 out.
2018.
A Dictionary of Economics. 2a ed. [S.l.]: Oxford University Press, 2003.
BAKUNIN, Mikhail. (2003) Estatismo e anarquia. São Paulo: Imaginário.
BANCO CENTRAL DE VENEZUELA (2019a). Producto Interno
Bruto por Sectores Institucionales, a Precios Constamtes, 1997 –
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PDVSA “AD HOC”:
VOLVIENDO A LAS VIEJAS MAÑAS
Carlos Mendoza Pottellá1
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2 Otros artículos escribidos por el autor acerca del tema de PDVSA y del petróleo son
los siguientes: El Cartero siempre llama dos veces. Disponible en: https://petroleovene-
zolano.blogspot.com/2019/07/el-cartero-siempre-llama-dos-veces.html#.Xu1T02hKjM4
Acceso: 22 de junho de 2020; Agencia Venezolana de Hidrocarburos Marca A.C.M.E.
Disponible en: https://petroleovenezolano.blogspot.com/2019/11/agencia-venezolana-de-
-hidrocarburos.html#.Xu1Vf2hKjM4 Acceso: 22 de junho de 2020; Vuelan los Rebullo-
nes. Disponible en: https://petroleovenezolano.blogspot.com/2020/02/vuelan-los-re-
bullones.html Acceso: 22 de junho de 2020; Petróleo Venezolano en la Tercera Década,
Cerco y Aniquilación. Disponible en: https://petroleovenezolano.blogspot.com/2020/02/
petroleo-venezolano-en-la-tercera-decada.html#.Xu1a5mhKjM4 Acceso: 22 de junho
de 2020; Cambalache Petrolero. Disponible en: https://petroleovenezolano.blogspot.
com/2020/03/cambalache-petrolero-la-nueva-apertura.html#.Xu1XAGhKjM4 Acceso:
22 de junho de 2020 y AVH: Agencia para el despojo del patrimonio público. Disponi-
ble en: https://petroleovenezolano.blogspot.com/2020/05/avh.html Acceso: 22 de junho
de 2020.
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3 POTTELLÁ, Carlos Mendonza. Ley Orgánica para la regulación del comercio de es-
clavos en Venezuela. Disponible en: https://petroleovenezolano.blogspot.com/2019/07/ley-orga-
nica-para-la-regulacion-del.html#.Xu1KkGhKjM4 Acceso: 22 de junho de 2020.
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Al revisar como jugaban con los costos en los años 90 estos mismos
gerentes resurrectos, no resistí la tentación de transcribir mi comentario
de entonces:
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Las cosas se complican, o tal vez se aclaran, cuando revisamos las cifras
aportadas por el Informe Anual de Petróleos de Venezuela, S.A. (Pdvsa),
las cuales se refieren al conjunto de las actividades de la casa matriz. Entre
1987 y 1989, podemos observar que, aunque ligeramente superiores, son
cifras comparables a las declaradas a Ocepre, dando un salto descomunal
a partir de 1990 por la inclusión de los costos incurridos en las actividades
de internacionalización.
Y es así como se llegan a registrar, para 1994, costos operativos de
14.676 millones de dólares, doce mil millones más que lo registrado por el
PODE para las actividades petroleras internas y ocho mil millones más
que lo declarado a Ocepre para el conjunto de los costos –petroleros y no
petroleros– incurridos a nivel nacional.
La última de estas diferencias es, sin embargo, inferior a lo que
debería ser, por lo que se sabe sobre los costos operativos incurridos en la
internacionalización: entre 12 y 13 mil millones de dólares. ¿O es que en
verdad las cifras de costos declaradas a Ocepre están infladas y la diferencia
que hay que considerar es la que se produce al comparar las cifras de Pdvsa
con las del MEM?
En fin, tomadas tal cual como son presentadas, estas magnitudes
solo sirven para realizar inferencias, interpolaciones y suposiciones sobre
las cuales no tenemos ninguna seguridad, por cuanto no se informa de los
criterios con los cuales la única fuente de tales informaciones, que es Pdvsa,
las elabora y suministra.
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OS GOVERNOS DE SALVADOR ALLENDE
(1970-1973) NO CHILE E HUGO CHÁVEZ
(1999-2012) NA VENEZUELA. TECENDO
ALGUMAS COMPARAÇÕES
Eduardo Scheidt1
1 Professor de História da América da UERJ – FFP. Doutor em História pela USP. E-mail
de contato: edusch.uerj@gmail.com.
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14 Esta aposta no respeito da constitucionalidade por parte das FFAA é apontada, por
muitos, como principal motivo da derrota da experiência da UP. É recorrente a avaliação
de que faltou a Allende uma atenção maior aos preparativos golpistas e, fundamental-
mente, de não ter se preparado para um eventual confronto armado. Em seu texto “‘To-
dos juntos seremos la historia: Venceremos.’ Unidad Popular e Fuerzas Armadas”, Vero-
nica Valdivia (in PINTO, 2005) discorda da tese de que houve negligência do governo da
UP em relação às FFAA. Segundo a autora, o governo teve uma política de estímulo de
incorporação do setor ao projeto de desenvolvimento nacional do governo, promoveu a
valorização do pessoal, com aumentos salariais e estímulos à modernização e democrati-
zação dos setores militares. Entretanto, por diversas questões do conturbado contexto, os
setores golpistas foram se articulando e ganhando força no interior das FFAA, levando a
que a conspiração golpista se tornasse vencedora.
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15 Conforme Danilo Caruso (2019), a gente del petróleo era formada por grandes executivos
da PDVSA, altos funcionários de outros organismos estatais e empresários do comércio
e distribuição do petróleo e outras atividades econômicas ligadas ao hidrocarboneto. A
maior parte deste segmento, ainda segundo o autor, não se constituía numa burguesia, pois
não era proprietária do petróleo, apenas conduzia a exploração e se apropriava da maior
parte dos recursos, cabendo ao governo apenas o recebimento de royalties do produto.
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boa parte, para a maior parte da população via programas sociais16. Embora
também tenha promovido a nacionalização de muitas empresas, a maior
parte da economia continuou sob controle do setor privado, assim como
no caso do Chile. Chávez também incentivou a reforma agrária e produção
econômica em forma de cooperativas, embora poucos frutos tenham sido
colhidos nesses projetos, num país cujas produções agrárias e industriais
eram pouco significativas e a maior parte dos produtos de consumo eram
importados. Ainda que tenham ocorrido importantes transformações
econômicas e sociais, tanto o Chile como a Venezuela mantiveram-se
capitalistas e, no caso venezuelano, o perfil rentista, altamente dependente
do petróleo, também ficou praticamente inalterado.
Outro aspecto transformador nos dois governos foi a participação
de trabalhadores e da população mais pobre do processo político, com a
construção de instâncias de poder popular. Tradicionalmente excluídos da
política ou se limitando a eleição de representantes nos momentos eleitorais,
setores majoritários da população tiveram a oportunidade de participar
de forma mais direta e cotidiana na política. No caso do Chile, o governo
Allende promoveu diversas medidas, como a participação de operários na
gestão de empresas estatizadas, os impulsos à formação de cooperativas e a
criação das Juntas de Abastecimento e Preços (JAP). Além das iniciativas
promovidas pelo governo, os movimentos sociais também avançaram no
caminho da construção do poder popular em suas ações autônomas, que
Peter Winn (2010) chama de “revolução vinda por baixo”, complementando
a “revolução pelo alto”, promovida pelo governo da UP. Nessa “revolução
por baixo”, destacavam-se as ocupações de terras, terrenos em regiões
urbanas e de fábricas, em que eram criados inúmeros comitês e associações
de trabalhadores. Esse processo se acelerou com a crise de outubro de 1972,
principalmente com a criação dos cordões industriais, instâncias formadas
16 Frisamos que a maior parte das riquezas foi distribuída para a população, mas não a
totalidade. Na Venezuela chavista, continuou a prática de um pequeno grupo privilegia-
do em torno do petróleo viver em condições claramente vantajosas. Esse grupo, formado
em grande parte por detentores de altos cargos na PDVSA, é conhecido como “bolibur-
guesia”, dado os seus vínculos com o governo. Agora, essa questão não descaracteriza as
transformações sociais como revolucionárias, pois a permanência de um pequeno grupo
de privilegiados ocorreu em meio a uma transferência da maior parte dos recursos a par-
celas majoritárias da população, antes excluídas, e que passaram a usufruir de diversos
programas sociais promovidos pelo governo chavista.
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17 Para uma análise mais aprofundada sobre as comunas e os CC, consultar Scheidt
(2017). Neste artigo, analisamos a implantação dos CC e das comunas, seu funciona-
mento e legislação. Refletimos sobre as formas efetivas de participação dos cidadãos
nessas instâncias de poder popular, tendo-se em vista de que, embora elas se instituíram
propagando o objetivo de expressar uma autêntica e autônoma soberania, foram im-
pulsionadas e controladas a partir do governo, de cima para baixo. Apesar dos limites
e atitudes controladoras e centralizadoras por parte do governo, o artigo conclui que o
processo promoveu mudanças profundas na cultura política do país ao proporcionar a
participação política direta e ativa de parcelas da população nas instâncias da democra-
cia participativa.
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19 Apesar de a maior parte das esquerdas terem concorrido numa aliança unificada na
eleição de Allende, havia acirrados debates nos partidos que a compunham. As esquerdas
podem ser divididas em dois grandes grupos, que já eram diferenciados antes mesmo do
governo da UP. O primeiro grupo era o defensor da via pacífica e gradual ao socialismo.
Era composto pelo PC e uma minoria do PS (que incluía o presidente Allende), além de
outras organizações menores. Defendiam o caminho institucional e democrático, bus-
cando, inclusive, a composição de alianças mais amplas em prol da governabilidade e
rejeitavam a luta armada e a ruptura da institucionalidade. O outro grupo era composto
pela maior parte do PS e partidos e organizações menores, tanto dentro como fora da
UP, como o MIR. Estes eram céticos quanto à viabilidade da via pacífica e consideravam
que um confronto armado com as direitas seria inevitável, pois partilhavam da convicção
de que as classes dominantes nunca aceitam ser alijadas do poder pacificamente. Apoia-
vam-se nos movimentos sociais e nas ações autônomas das massas, foram ferrenhos de-
fensores do poder popular e pregavam uma radicalização do governo Allende com pers-
pectivas de acelerar a revolução e promover uma ruptura institucional. Os defensores da
via pacífica e gradual eram amplamente majoritários, mas os partidos e organizações do
segundo grupo foram crescendo em número e influência na medida em que a polarização
se acentuava e os conflitos entre apoiadores e opositores da UP se intensificavam. ver
Peter Winn (2010) e também Julio Pinto (2005).
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20 Pelo menos desde 2005, em sua participação no Fórum Social Mundial em Porto Ale-
gre, Chávez passou a proferir o discurso do “socialismo do século XXI”. Esse novo sistema
de socialismo é ainda bastante impreciso e ambíguo, mesmo em nível teórico. Impreci-
so porque justamente se propõe a ser “inventado” e ambíguo no sentido que admite a
existência da propriedade privada na produção lado a lado com a propriedade pública e
outras modalidades de “propriedade social”. Pode-se até questionar até que ponto pode
ser considerado “socialismo”, já que não se prevê algum pleno rompimento com o siste-
ma capitalista. Os principais aspectos do sistema seriam uma ampliação da democracia,
através de diversos mecanismos de democracia direta e participativa, bem como uma
distribuição social da riqueza pelo Estado, especialmente com programas sociais. Para
mais detalhes sobre o que caracteriza o “socialismo do século XXI” na perspectiva de seus
defensores, consultar Heinz Dietrich (2005).
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INSURREIÇÕES POPULARES NA AMÉRICA
LATINA NO TEMPO PRESENTE: A BOLÍVIA
ENTRE 2000 E 20051
Rafael Araujo2
Introdução
O último trimestre de 2019 foi marcado por um conjunto de rebeliões
populares na América Latina. Ondas de indignação e rebeldia sacudiram as
estruturas políticas de nações como Colômbia, Equador e, especialmente,
Chile. O inócuo crescimento econômico nos últimos seis anos contribuiu
para o desencadeamento dessas insurreições. Segundo dados da Comissão
Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL), entre 2014 e 2019, a
expansão do Produto Interno Bruto (PIB) regional girou em torno dos 0,4%.3
Esse cenário contribuiu para o aumento do desemprego e para a
precarização do mercado de trabalho, cuja informalidade abarca em torno
de 53% (aproximadamente 140 milhões) da sua População Economicamente
Ativa (PEA) no início de 2020.4 A frágil expansão das economias locais
colaborou para o aumento da pobreza. Cerca de 191 milhões de pessoas,
30,8% dos latino-americanos, encontravam-se nessa situação em 2019,
segundo estimativa cepalina. Em 2014, o número girava em torno de 164
milhões de habitantes.5
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2019. Esses elementos, até o dia da eleição de 2019, auxiliaram para que o país
atravessasse incólume o período de rebeliões populares daquele ano.
Não será objeto desse artigo avaliar a gestão de Evo Morales e as razões
para a sua forçada renúncia. Deixaremos essa abordagem para outra ocasião.
Todavia, em razão dos recentes acontecimentos da história boliviana, avaliamos
a pertinência da abordagem desses temas em nossas notas introdutórias.
A autointitulada “revolução democrática e cultural” possuía respaldo
popular. As investigações sobre os acontecimentos sucedidos na nação
andino-amazônica entre 2000 e 2019 faz com que defendamos a ocorrência
de uma revolução política e cultural. Existiram modificações substantivas na
estrutura social, nas instituições políticas e na elite dirigente. Além disso, o
reconhecimento da plurinacionalidade pela Carta Magna de 2009 marcou
a história desse processo, pois se incorporaram reivindicações históricas
das entidades indígenas. Embora a dependência econômica, decorrente da
exportação de matérias-primas, tenha se mantido e a estrutura de classes não
tenha se alterado, coadunamos com a definição feita pela gestão Morales e
organizações sociopolíticas que o apoiaram.
Nas páginas que se seguem, refletiremos acerca das razões para a
eleição de Evo Morales, em dezembro de 2005. Refletiremos sobre a história
do nosso vizinho entre 2000 e aquele ano. Almejaremos, com isso, apresentar
algumas motivações para a “revolução democrática e cultural” ocorrida entre
2006 e 2019 naquele país.
A Bolívia entre 2000 e 2005: rebeliões, antineoliberalismo e protago-
nismo do bloco histórico nacional-popular indígena e camponês
O ano 2000 iniciou uma fase política na história boliviana marcada
por levantes populares. O descontentamento com o doutrinário neoliberal
e com o sistema político derivado da redemocratização de 19829 propiciou
contínuas insurreições populares, entre abril daquele ano e dezembro de 2005.
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10 Ao finalizarmos este ensaio, tivemos a notícia que o parlamento boliviano indicou que
a eleição presidencial deve ocorrer até 02 de agosto de 2020. Segundo enquetes de opi-
nião feitas em março, antes da pandemia causada pela Covid-19 se alastrar pela América
Latina e causar a suspensão do pleito que deveria ocorrer em 03 de maio de 2020, a chapa
do MAS, composta pelos ex-ministros Luis Arce (Economia) e Davi Choquehuanca (Re-
lações Exteriores), candidatos respectivamente à presidente e vice-presidente, liderava
com 33,3% das intenções de voto. O segundo colocado, Carlos Mesa, tinha 18,3% e, a
autoproclamada presidenta, após o golpe de novembro de 2019, Jeanine Añez, possuía
16,5%. Por esse indicativo e pela pujança social boliviana, não refutamos a possibilidade
de continuidade da revolução por meio de outras lideranças políticas, algo que fortalece
nossa avaliação acerca do equívoco de Morales em buscar um quarto mandato presi-
dencial (o terceiro pela Constituição aprovada em 2009), em outubro de 2019. Sobre a
pesquisa de opinião de março de 2020, consultar: Elleciones 2020: el MAS le saca un 15%
de ventaja a Carlos Mesa. Disponível em: https://eldeber.com.bo/169559_encuesta-elec-
ciones-2020-el-mas-le-saca-un-15-de-ventaja-a-carlos-mesa
11 A hegemonia de um grupo social vincula-se a sua capacidade de construção da direção
política, ideológica e moral de uma sociedade e, também, do seu controle militar sobre
ela. A crise de hegemonia deriva da perda da autoridade moral e ideológica das classes
dominantes que, ao verem repudiada a sua concepção de mundo, mantêm a prevalência
na sociedade por meio da coerção militar. Nesse contexto, observamos uma crise revo-
lucionária, que decorre da ruptura entre representantes e representados, e a construção
de uma nova hegemonia pelos grupos subalternos (GRUPPI, 1978, p. 78-80). Como ana-
lisaremos posteriormente, o bloco liderado pelos indígenas e camponeses apresentou a
solução para os problemas socioeconômicos e políticos bolivianos após o ano 2000, por
isso, tornou-se hegemônico politicamente.
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23 Referéndum Vinculante Sobre La Política Energética Del País 2004. Disponível em: ht-
tps://atlaselectoral.oep.org.bo/#/sub_proceso/74/1/1/graficos Acesso: 20 de março de 2020.
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25 Como afirmou Stefanoni (2010, p. 21-22), Garcia Linera, mentor intelectual da revolu-
ção, defendeu, em razão das discussões sobre socialismo do século XXI promovidas por
Hugo Chávez, que um projeto pós-neoliberal na Bolívia teria que se limitar à consolida-
ção do capitalismo andino-amazônico. Neste sentido, as formas modernas capitalistas
deveriam ser articuladas com as economias comunitárias e com os microempresários.
Estes deveriam contar com a proteção estatal em virtude do objetivo de promoção da
“modernização pluralista” da economia boliviana.
26 Segundo Daniel Aarão Reis Filho (2014, p. 14-15), a cultura política consiste em repre-
sentações que possuem normas e valores forjadores da identidade de grupos políticos.
Tem códigos e referências difundidas em uma família ou tradição política, contribuindo,
dessa forma, para a constituição de uma visão de mundo. Ao se constituir, ela colabora
para modelar as sociedades nas quais vigora e responde a reivindicações econômicas,
políticas e culturais. Segundo ele, a cultura política nacional-estatista está fortemente
arraigada no Brasil e na América Latina e fundamentou políticas de Estado que foram
desenvolvidas ao longo das últimas décadas por diversos governos da região. O nacional-
-estatismo adquiriu relevância na América Latina entre as décadas de 30 e 50 do século
XX. Os impactos socioeconômicos e políticos da crise de 1929 e de um contexto interna-
cional que fragilizou a capacidade de controle das grandes potências na região, em razão
da tensa e instável conjuntura das relações internacionais que culminou na deflagração
da Segunda Guerra Mundial, possibilitaram essa relevância. Os governos nacional-esta-
tistas, segundo Ansaldi e Giordano (2006) e Williamson (2012), foram caracterizaram-se
pelos seguintes elementos: I - tendência nacionalista, antiliberal e antioligárquica; II -
orientação econômica nacionalista e industrializante; III - composição social policlassis-
ta; IV - discurso nacionalista e anti-imperialista; V - ampliação da participação política
das massas e construção de uma cidadania que reconhecia o trabalhador como o sujeito
histórico; VI - institucionalização do movimento operário; VII - realização de reformas
sociais; VIII - presença de líderes carismáticos; IX - construção de um imaginário social
voltado para o controle social e X - articulação da conciliação de classes.
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27 Acreditamos que esse evento foi um dos principais da história latino-americana na se-
gunda metade do século XX. Em abril de 1952, os sindicatos operários das minas e das
zonas urbanas iniciaram a revolução em aliança com os setores médios urbanos, indígenas
e camponeses. A plataforma política dos grupos revolucionários fundamentou-se na defesa
da democracia e da soberania nacional, sintetizadas na proposta de nacionalização da mi-
neração. A arena política era disputada, centralmente, por dois partidos: o Partido Obrero
Revolucinario (POR) e o Movimiento Nacionalista Revolucionário (MNR). Este advogava por
medidas reformistas nacionalistas, nos marcos do capitalismo, e aquele possuía orientações
trotkistas, algo singular pela influência no movimento de massas conquistado pelo partido.
O êxito operário em abril derivou na formação da Central Obrera Boliviana (COB) pelos
diversos sindicatos existentes no país. As consignas da revolução começaram a ser efeti-
vadas no primeiro governo de Victor Paz Estenssoro (1952-1956). Reivindicações operárias
e camponesas, como a nacionalização das minas e a realização da reforma agrária, foram
atendidas por esse governo e pelo seu sucessor, Hernán Siles Zuazo (1956-1960), contribuin-
do para a relevância dessa revolução para a história latino-americana (ANDRADE, 2007).
28 Quando Evo Morales assumiu a presidência, aproximadamente 60% da população en-
contrava-se na situação de pobreza. Em 2019, de acordo com o último Panorama Social
da CEPAL, esse índice girava em torno de 33,2% (CEPAL, 2019, P. 100). A distribuição de
renda para as parcelas mais pobres da população foi impulsionada pela criação de diversos
programas sociais, tais como: Renta Dignidad, Renta Solidaria, Bono Juana Azurduy, Bono
Juancito Pinto, Complemento Nutricional “Carmelo” y Subsidio Universal Prenatal “Por la
Vida”. Somados, eles atenderam em torno de 4,8 milhões de pessoas (de um total de 11,3 mi-
lhões), em 2018. Dois destes programas destacaram-se: o Bono Juancito Pinto, que benefi-
ciou naquele ano em torno de 2,2 milhões de crianças e a Renta Dignidad, que contemplou
aproximadamente 1,1 milhão de idosos. Ver: Informe Nacional Bolívia - Vigesimoquinto
aniversario de la Cuarta Conferencia Mundial sobre la Mujer y la aprobación de la De-
claración y Plataforma de Acción de Beijing (1995). Disponível em: https://www.cepal.org/
sites/default/files/informe_beijing25_bolivia_final.pdf Acesso: 03 de março de 2019. P. 19.
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Considerações Finais
Em razão dos acontecimentos ocorridos no último trimestre de
2019, julgamos a importância de examinarmos a recente história boliviana
para compreendermos as causas que viabilizaram a eleição de Evo Morales
em 2005 e a “revolução democrática e cultural”. Apesar das contradições
políticas e econômicas desse processo histórico, anteriormente refletidas,
houve uma série de transformações político-sociais e culturais que, defini-
tivamente, marcaram essa experiência governamental na história boliviana
e latino-americana.
Pela relevância desse processo histórico, optamos pela apreciação
da teoria neoliberal, pela verificação dos seus efeitos na América Latina
e na Bolívia e pelo estudo do ciclo rebelde entre 2000 e 2005, que levou o
primeiro indígena para o mais alto cargo do executivo do politicamente
pujante país andino-amazônico.
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DEMOCRACIA E NEOLIBERALISMO NO MÉXICO
E BRASIL: AS CRISES DO FINAL DO SÉCULO XX1
Ricardo Neves Streich2
Introdução
O presente artigo é parte de pesquisa de doutorado intitulada “Entre
a economia e a política: a história das estratégias de desenvolvimento em
México e Brasil (2000-2013)” realizada no âmbito do Programa de Pós-
graduação em História Econômica da Universidade de São Paulo. A escolha
dos países – tanto no âmbito da pesquisa de doutoramento quanto no
escopo do presente trabalho – se justifica pelo fato de Brasil e México serem,
respectivamente, as duas maiores economias do continente latino-americano.
Ademais, no alvorecer dos anos 2000, os eleitores de ambos os países deram
vitórias nas eleições presidenciais a candidatos dos principais partidos de
oposição da década anterior. As vitórias de Vicente Fox do Partido Acción
Nacional (PAN), no México em 2000, e de Luiz Inácio Lula da Silva do Partido
dos Trabalhadores (PT), no Brasil em 2002, são resultantes da conjuntura
de crises políticas e econômicas que ambos países atravessavam à época.
Como será demonstrado ao longo deste trabalho, estas crises também se
relacionam aos processos de implementação/consolidação do neoliberalismo
na América Latina. Contudo, é imperativo evitar explicações economicistas,
as quais reduzem à dimensão econômica a explicação das vitórias eleitorais
da oposição tratadas aqui.
Desta forma, é interessante observar que, embora possuíssem
discursos diametralmente opostos, Fox e Lula chegaram ao poder sob a
bandeira da “novidade” e da “renovação”, especialmente no que diz respeito
ao papel do Estado no desenvolvimento econômico. Vicente Fox defendia
uma perspectiva de tonalidade mais liberal, no sentido de que a redução
do tamanho do Estado minimizaria a corrupção e, por isto, possibilitaria o
1 Este texto é uma versão expandida e atualizada do artigo “Notas sobre as dinâmicas dos
sistemas de governo de Brasil e México nos anos 1990” apresentada no XXX Simpósio
Nacional de História no âmbito do Simpósio Temático “Estado, democracia e movimen-
tos sociais no mundo contemporâneo”.
2 Doutorando em História Econômica pela Universidade de São Paulo e bolsista FAPESP
(número do processo 2017/17481-2). Email: ricardostreich@protonmail.com
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3 Isto não significa dizer que o chamado “terrorismo de Estado” não existiu no México.
Tome-se, por exemplo, o episódio do massacre de Tlalteloco, no qual centenas de estu-
dantes que protestavam contra a realização dos jogos olímpicos na Cidade do México em
1968 foram massacrados pelo exército. Recentemente, a historiografia tem se debruçado
sobre o papel da violência política no domínio priista na segunda metade do século XX.
Veja-se por exemplo o trabalho de Azucena Citlalli Jaso Galván (2016).
4 Para se ter ideia do grau de violência do processo revolucionário mexicano iniciado em
1910, basta dizer que o primeiro presidente que terminou seu mandato sem ser assassina-
do por razões políticas foi Plutarco Elías Calles – justamente o fundador do PNR – em
1928. Para mais detalhes do problema da articulação política entre os caudilhos militar-
mente vitoriosos ver a obra de Marván Laborde (2010).
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uma eleição com menos da metade dos votos válidos) a fazer um governo
de coalizão.
Por fim, a dominação priista sobre o político mexicano teria sua
derrocada com a vitória de Vicente Fox do Partido Acción Nacional – tradicio-
nal oposição ao PRI. A vitória de Fox e o resultado das eleições legislativas
de 2003 moldaram o arranjo político que vigora no México até os dias
de hoje. Trata-se de um sistema tripartite, em que PRI e PAN convivem
com uma terceira força de esquerda, que oscila entre momentos de menor
representação (como na eleição legislativa de 2009, em que conseguiu apenas
15% dos deputados) ou de maior representação (como a vitória de López
Obrador em 2018).
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7 Ademais, podemos dizer que a “vontade de democracia” foi um dos elementos basilares
do processo constituinte. Afinal, quase nenhuma restrição à fundação, funcionamento
e acesso a recursos públicos foi imposto aos partidos. A primeira lei (artigo 13 da lei
9.096/95) no sentido de condicionar o acesso de um partido a recursos públicos (tempo
de televisão e fundo partidário, por exemplo) – “cláusula de barreira” – foi aprovada
apenas em 1995, com efeitos na eleição de 2006. A referida lei não chegou a ser aplicada,
pois foi julgada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal em 2006. Apenas em
2015 (lei 13.165/15) o Congresso brasileiro aprovou a lei de “cláusula de barreira” que se
encontra em vigor.
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dos anos 1980 (cf. PEREIRA, 2010, p. 249). O conjunto de medidas que
funcionava como esta contrapartida ficou conhecido como “Consenso
de Washington” e consistia em uma série de recomendações pautadas na
austeridade, privatizações, desregulamentação e enxugamento do Estado. É
justamente a ênfase na perspectiva de liberalização do Estado – no sentido
de diminui-lo que popularizou o termo “neoliberalismo” (STIGLITZ, 2008).
Outro termo popularizado nesta época foi de “governança”, o
qual apareceu em um livreto publicado em 1992 pelo Banco Mundial. O
conceito é importante, pois permite operacionalizar a nossa definição de
neoliberalismo, na medida em que a “boa governança” é um conceito de
flagrante tom normativo.
Neste livreto, a governança é definida como a maneira pela
qual o poder é exercido no gerenciamento dos recursos
econômicos e sociais de um país para o desenvolvimento.
Boa governança, para o Banco Mundial, é sinônimo de boa
gestão do desenvolvimento. A experiência do Banco mos-
trou que os programas e projetos financiados podem ser
tecnicamente sólidos, mas falham em fornecer resultados
esperados por razões relacionadas à qualidade das ações
do governo. As reformas legais, por mais urgentes que se-
jam, podem ser inúteis se as novas leis não forem consis-
tentemente aplicadas ou se houver severos atrasos em sua
implementação. Os esforços para desenvolver a produção
privada e incentivar o crescimento liderado pelo mercado
podem falhar, a menos que os investidores encontrem re-
gras e instituições que reduzam a incerteza sobre as futuras
ações governamentais. Reformas vitais nos gastos públicos
podem fracassar se os sistemas contábeis forem tão fra-
cos que as políticas orçamentárias não possam ser imple-
mentadas ou monitoradas, ou se os sistemas de licitação
incentivarem a corrupção e distorcerem as prioridades de
investimento público. A falha em envolver os beneficiários
e outras pessoas afetadas pelo desenho e implementação de
projetos pode prejudicar substancialmente sua sustentabi-
lidade (WORLD BANK, 1992, p.3, tradução minha).
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11 De um ponto de vista sintético, basta dizer que o governo Zedillo foi capaz de im-
plementar a capitalização da previdência já em 1997, enquanto os setores defensores da
medida no Brasil até o momento da redação deste trabalho não foram capazes de fazê-lo.
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13 Não deixa de ser curioso que Jair Bolsonaro represente, tal qual o PAN na virada do
século, a tentativa de articular uma resposta política a uma crise econômica. Enquanto
no México, a articulação discursiva de Obrador é a tentativa de articular uma resposta
econômica à contínua crise política que assola o país desde as derrotas eleitorais do PRI
no final do século XX.
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EMBATES ENTRE A UNIÃO, OS ESTADOS E O
MOVIMENTO NEGRO NA GUERRA À POBREZA
DOS ESTADOS UNIDOS (1964 – 1968)1
Barbara Maria de Albuquerque Mitchell2
1 Este artigo foi publicado, com algumas alterações, na revista Huellas de Estados Unidos
Estudios y Debates desde America Latina com o título de “Repensando o Welfare State:
disputas entre a União, os estados e o movimento negro durante a Guerra à Pobreza
(1964 – 1968)”.
2 Doutora em História Social pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da
Universidade Federal do Rio de Janeiro e Bolsista CNPq. E-mail: barbaram.mitchell@
gmail.com
3 A 13ª emenda foi a responsável por proibir a escravidão e o trabalho forçado, salvo como
punição por crimes, nos EUA e a 14ª emenda declara que todos nascidos ou naturalizados
nos Estados Unidos são cidadãos.
4 Para fins desse artigo, utilizamos “Estado” quando nos referimos ao governo federal e
“estado” quando estamos abordando as entidades federativas norte-americanas.
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narrativa que pretende restringir os direitos civis aos anos de 1950 e 1960,
como se todos os problemas daquele período já tivessem sido resolvidos.
Não só isso, mas as pautas de grupos como o SLCL (Southern Christian
Leadership Conference – A Conferência da Liderança Cristã do Sul) não
são totalmente retomadas, na tentativa de esconder reivindicações mais
radicais. Ao confinar os direitos civis às tensões no Sul e reduzi-los à uma
atuação apenas entre 1950 e 1960, há um silenciamento das pautas que
abordam questões ainda atuais nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, os
direitos civis são mantidos enquanto um símbolo de luta, mas do passado.
As raízes da narrativa clássica sobre o movimento pelos direitos
civis têm duas principais origens: as estratégias do movimento e a resposta
da mídia (HALL 2005.p.1239). Ao longo dos protestos, os militantes
utilizavam a linguagem de direitos democráticos, do universalismo cristão,
a questão da não-violência, a ocupação das ruas para expor a segregação
do Sul e a atuação de agentes federais para lutar contra o poder local. Já a
mídia de massa, transformou os protestos em uma das principais histórias
da modernidade, mas de maneira seletiva, usando figuras carismáticas,
geralmente masculinas, e conflitos atraentes para televisão, em especial
com “malignas personagens brancas” que traziam terror para multidões
pacíficas. Levadas diretamente para as televisões americanas, as cenas
dos protestos não tinham raízes históricas, como se surgissem naquele
momento e com um único objetivo, a aprovação da lei. Se, a princípio,
a mídia buscava apoio da população branca, a cobertura começa a se
modificar ao meio dos anos 1960, em especial com o crescimento do black
power e levantes negros no Norte. Com olhares hostis às diversas facetas
do movimento negro, a cobertura televisiva abandonou até mesmo o Sul,
ignorando as demandas crescentes dos sulistas, obscurecendo as conexões
e as similaridades inter-regionais dos problemas e demandas nacionais do
movimento pelos direitos civis e criando uma brecha narrativa entre o
que as pessoas pensam enquanto o movimento e as permanecentes tensões
populares do final dos 1960 e 1970.
Jacquelyn Hall defende a visão de um “longo civil rights movement”
(HALL,2015) para ir além da narrativa clássica e da construída com bases
mais conservadoras. Em primeiro lugar, a autora associa o movimento pelos
direitos civis com questões políticas anteriores aos anos de 1950. Nesse
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HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE NAS AMÉRICAS:
sentido, aponta para uma associação entre os seus núcleos com setores
do liberalismo radical de 1930 e do estabelecimento e fragmentação da
ordem do New Deal. Com a Segunda Guerra e os conflitos raciais e sociais
que eclodiram ao seu fim, as pautas do movimento pelos direitos civis
se ampliaram para além do Sul. Outra questão importante é a reação
conservadora, normalmente identificada a partir de 1970 pelos autores.
Hall aponta que, na verdade, o blacklash não surgirá magicamente após o
Civil Rights Act. Desde o seu crescimento, durante a Segunda Guerra, ele já
criava o caminho e as bases que culminaram com a chegada da nova direita
no poder. Paralelamente, a economia aparecia no centro de preocupação
do movimento de maneira interligada a temas de gênero, classe e raça.
Dentro dos próprios sindicatos, as questões já eram presentes, seja em
forma de demandas dos grupos ou na criação de núcleos específicos5.
A pressão dos negros em relação as restrições do New Deal e as
possibilidades dos estados, principalmente no Sul, de os excluírem dos
seus benefícios, foi fundamental para o crescimento do movimento pelos
direitos civis (SITKOFF, 1978) e, em algumas cidades, como Washington
e Detroit, já eram usados piquetes, sit-ins e, ocasionalmente, a violência
(BRINKLEY, 1998, p.98), formas de protestos que se tornaram notórias nos
anos de 1960 na atuação do movimento pelos direitos civis. Entendendo
que o racismo sempre esteve aliado à exploração econômica, civil rights
unionists vão unir em pautas políticas a proteção contra discriminação com
políticas sociais universalistas de welfare e questões de direitos individuais
com os trabalhistas. Para eles, a democratização do mercado de trabalho e
a possibilidade de criar acordos coletivos de salários e empregos vinham
conectados com as demandas por habitação acessível, emancipação
política, igualdade educacional, acesso à saúde e a proteção de suas
vidas. Até a Guerra Fria, as demandas sindicais trabalhistas, incluindo
brancos progressistas e comunistas, confluíam com as do movimento pelos
direitos civis. Contudo, o anticomunismo do pós-guerra e o ataque das
corporações aos sindicatos, desmantelando e ampliando o controle sobre
estes, atrapalhou a continuidade das relações sindicais e do movimento
5 Entre 1940 e 1950 há a formação de inúmeros grupos e sindicatos que ou traziam uma
união de núcleos progressistas ou eram destinados a setores específicos da sociedade. Ro-
bert Korstad chama de Civil Rights Unionism a formação de organizações que associavam
o movimento pelos direitos civis e o dos trabalhadores em uma visão nacional.
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pelos direitos civis. Por outro lado, esse mesmo anticomunismo deu um
argumento importante para a retórica dos civil rights: a forma como os
negros eram tratados dentro do país tirava crédito externo dos Estados
Unidos na qualidade de liderança da liberdade.
Mesmo no Norte, o fim da Segunda Guerra trouxe mecanismos
para a ampliação da separação entre negros e brancos. A suburbanização,
a construção das grandes estradas e toda a infraestrutura que as acompa-
nhou, aumentou a lacuna já existente entre a situação de vida dos negros
e brancos em um ambiente urbano. Os subúrbios foram criados para
moradores brancos, considerando que parte dos negros não tinha condições
financeiras para comprar uma casa nessas regiões e os bancos se negavam
a conceder empréstimos para famílias interessadas em se mudar para
bairros “não adequados” para a sua cor. Toda a rede de serviços necessária
para os moradores dos subúrbios e seus filhos também seguia essa mesma
lógica. Nos bairros negros, também latinos, a prestação de serviços era
com uma qualidade inferior ao das localidades brancas. O combate aos
sindicatos e a precarização dos empregos comumentemente destinados
aos negros, ou seja, que exigiam menor qualificação educacional, também
contribuíram para o agravamento da situação. Essas questões eram muitas
vezes ignoradas pelos liberais democratas que apontavam a desigualdade,
a segregação, o racismo e o preconceito como problemas restritos ao sul
do país e pareciam satisfeitos com os efeitos da ordem do New Deal para
a sociedade.
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6 A reorganização trazida pelo New Deal estabeleceu uma coalizão de alianças entre o blo-
co do Sul, com suas particularidades, especialmente sobre a questão racial, a segregação
nos EUA e o poder local; e os políticos de outras regiões que apoiavam majoritariamen-
te os projetos encabeçados pela administração Roosevelt, a concentração e poder da
União, bem como leis que promoveriam o fim da segregação e melhorias sociais e eco-
nômicas para a sociedade. A disparidade marcou essa coalizão, mas ainda sem compro-
meter totalmente a capacidade do Partido Democrata de vencer as eleições residenciais e
aprovar inúmeras legislações propostas dentro do New Deal. Por outro lado, a oposição à
integração racial foi notoriamente uma das mais importantes questões e desavença entre
os seus membros, agravada com a cooptação dos votos dos negros pretendida e posta em
prática, de forma tímida, desde a década de 1920 e mais claramente a partir de 1950. Os
democratas não poderiam ser o partido supostamente aliado aos negros e aos segregacio-
nistas por muito tempo. Apesar do sucesso em criar um consenso entre conservadores e
liberais democratas em assuntos de macroeconomia, havia uma inata incompatibilidade
entre os dois lados da balança, tanto a questão racial como outros fatores sociais e ins-
titucionais, que só pôde ser administrada por um determinado espaço de tempo. Sobre:
SELFA, Lance. The Democrats: A Critical History. Chicago: Haymarket Books, 2008. Versão
Kindle.; KYDER, Daniel; KATZNELSON, Ira; GEIGER, Kim. Limiting Liberalism: The
Southern Veto in Congress 1933 – 1950. Political Science Quarterly, Vol. 108, No. 2 (Sum-
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The Journal of. Politics 66 no. 4, 2004: 1001-1017.; WARE, Alan. The Democratic Party
Heads North, 1877–1962. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.
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7 Emmett Till era um jovem de Chicago que foi brutalmente assassinado por ter, supos-
tamente, assobiado para uma mulher branca, Carolyn Bryant, quando visitava seu tio
em Mississipi. JW Milam e Roy Bryant, irmão e marido de Carolyn, foram inocentados
por um júri branco e alguns anos depois assumiram em uma reportagem a culpa pela
morte do menino sabendo que não poderiam ser condenados por um crime que já havia
sido julgado. Recentemente, Carolyn Bryant confirmou ter inventado a história para seu
marido e irmão.
8 Gerou a criação da Associação de Montgomery em 5 de dezembro por lideranças cris-
tãs negras e líderes comunitários da região. Muitos já participavam da militância negra
através de outros grupos como a NAACP. Em 1957 Martin Luther King, uma das lideran-
ças em questão, se tornou o presidente da recém-criada Southern Christian Leadership
Conference (SCLC). Disponível em: https://prezi.com/yeeghzol9zn5/history-timeline/
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9 Esse valor chegou a 800 milhões de dólares, quase 40% dos gastos do Economic Oppor-
tunity Act.
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força das lideranças religiosas nas comunidades poderia ser uma importante
porta de entrada para os programas da Guerra à Pobreza. No entanto, o
crescimento da radicalização do movimento negro, em grande parte como
consequência da atuação dos EUA no Vietnã, era um obstáculo difícil de
ultrapassar. Por outro lado, os líderes religiosos utilizavam do seu poder de
influência naquelas comunidades para barganhar mudanças e ampliação de
seus poderes com o OEO, alterando o funcionamento dos CAPs e se negando
a corroborar com estratégias propostas pela organização, que eram vistas
como inadequadas pelas lideranças. Nesse sentido, a Guerra à Pobreza era
uma maneira de utilizar a experiência de luta e as ideias por trás dos civil
rights para continuar a batalha pela ampliação da liberdade e da democracia
por outras frentes (BAUMAN, 2008: p.7). O valor da influência dos líderes
religiosos para o OEO era utilizado como moeda de barganha para tornar
os projetos da Guerra à Pobreza mais interessantes para esses grupos.
Antes mesmo da Guerra à Pobreza lançar projetos de associação com
grupos religiosos e igrejas que promoviam serviços sociais, as organizações
religiosas desempenhavam importante função no apoio social e econômico
nas regiões mais empobrecidas dos Estados Unidos. Em especial sobre a
comunidade negra, há uma tradição desde a abolição na formação de grupos
de apoio e ajuda a partir de igrejas Cristãs Protestantes. Com o movimento
pelos direitos civis e o seu braço ligado à religião, grupos como a Southern
Christian Leadership Conference (SCLC) dispunham de programas próprios
com o objetivo de promover alívio e auxílio aos mais pobres. Um desses
programas foi a Operation Breadbasket, com funcionamento de 1962 até 1972,
tinha como meta melhorar as condições econômicas das comunidades negras
nos Estados Unidos (BELTRAMINI ,2013).
A Operation Breadbasket foi inicialmente dirigida por Fred C.
Bannette Jr., amigo da família King, e passou por diversas regiões do país
como Atlanta e Chicago. O foco inicial do programa refletia a preocupação
das igrejas negras com justiça e igualdade econômica, por isso o objetivo era
lutar pela dessegregação dos empregos e a criação de novas oportunidades
dentro da comunidade negra, inclusive incentivando o empreendedorismo.
Foi em Chicago, segundo Beltramini Enrico, que o programa alcançou o
ápice do seu sucesso. No ano de 1967, o então estudante Jesse Jackson era
o diretor local do office e se destacou pelo êxito no auxílio do crescimento
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Conclusão
Inserida em um projeto que pretendia ampliar as bases deixadas
pelo New Deal e de reatualizar o welfare state para um novo contexto de
grandes tensões político-sociais e pressão por novos direitos coletivos,
especialmente a questão dos direitos civis, a Guerra à Pobreza aliou políticas
destinadas ao combate da carestia com outras destinadas aos direitos civis
e à inclusão social e econômica dos negros e outras minorias. Em conjunto
com as decisões da Suprema Corte e ao fortalecimento do National Security
State, a Grande Sociedade de Lyndon Johnson foi responsável por um
substancial ataque ao poderio e autonomia dos estados e municípios a partir
do endurecimento do poder da União, ao tornar o repasse de verbas dos
programas sociais atrelados a fiscalização do governo central e também na
substituição de lideranças locais por, ou membros do OEO, ou líderes dos
grupos sociais beneficiados pelos projetos. Naquele momento de enorme
pressão social, os estados e municípios perderam as estruturas básicas que
lhes permitiam excluir deliberadamente minorias raciais dos programas de
benefícios sociais do governo e muitos membros das oligarquias apoiadoras
dessas práticas perderam seus postos de poder para serem substituídos por
líderes de movimentos sociais.
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Este livro foi publicado pela editora da
Universidade de Pernambuco em 2021.