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PRESCRIÇÃO E

DECADÊNCIA

Cristiano Chaves
1. O tempo e o Direito
1.1. O passar do tempo como elemento de produção de efeitos jurídicos;
A prescrição como instituto democrático. Situações excecpionais de
imprescritibilidade – STF, RE 669.069/MG (reparação dano ao erário); STF, RE
654.833/AC (danos ambientais); STJ, AgREsp.1.524.498/PE (tortura).
1.2. O fenômeno extintivo e o fenômeno aquisitivo
1.3. A aplicação das regras da prescrição extintiva à prescrição aquisitiva
(usucapião).
Ex: interrupção e suspensão de prazos. A curiosa situação do USUCAPIÃO
FAMILIAR (conjugal) – CC 1.240-A.
Art. 1.240-A, CC:
“Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição,
posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m²
(duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-
cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não
seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1o O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor
mais de uma vez.”
2. A correlação entre a prescrição e a decadência e as diferentes origens dos
Direitos (direito subjetivo e direito potestativo).
Conceituação dos direitos subjetivos e dos direitos potestativos.
Distinções e características de cada uma das categorias.
Direitos subjetivos Conferem ao titular a Pretensão de exigir
prerrogativa de exigir de judicialmente o
alguém um comportamento
comportamento
Direitos potestativos Conferem ao titular um Não podem ser violados
poder de fazer produzir porque só dependem do
efeitos pela simples titular
manifestação de vontade
Prescrição é a perda da pretensão de exigir de alguém (pessoa certa e
determinada) um determinado comportamento (correlação com os direitos
subjetivos patrimoniais e relativos).

Decadência é a perda de um direito que não foi exercido no tempo previsto na


norma jurídica (correlação com os direitos potestativos com prazos na norma).

Superação do equívoco do CC/16 de que prescrição seria a perda do direito de


ação.
Prescrição Perda de uma Direitos subjetivos Interesse
pretensão patrimoniais e meramente
relativos particular

Decadência ou Perda de um Direitos Interesse público


caducidade direito que não foi potestativos com subjacente
exercido no tempo prazo previsto
previsto para o seu
exercício
3. A prescrição e a sua estrutura.

3.1. Noções conceituais: correlação com os direitos subjetivos patrimoniais e


disponíveis.

3.2. Características

a.Admissibilidade de renúncia à prescrição.


Limites à renúncia: a) impossibilidade de prejuízo de credores; b)
capacidade; c) inadmissibilidade de renúncia antecipada.
Possibilidade de renúncia expressa ou tácita (judicial ou extrajudicial).
Enunciado 295, Jornadas: a possibilidade de reconhecer prescrição de
ofício não afeta a possibilidade de renúncia.
Art. 191, CC:
“A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá,
sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se
consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do
interessado, incompatíveis com a prescrição.”
b.Prazos de ordem pública (impossibilidade de modificação dos prazos
prescricionais).
A questão da actio nata e a contagem do início dos prazos.
STJ, AgInt nos EDcl no AREsp 1.020.674/PB

Súmula 573, STJ: “Nas ações de indenização decorrente de seguro DPVAT, a


ciência inequívoca do caráter permanente da invalidez, para fins de
contagem do prazo prescricional, depende de laudo médico, exceto nos
casos de invalidez permanente notória ou naqueles em que o
conhecimento anterior resulte comprovado na fase de instrução.”

Enunciado 14, Jornada X STJ 278/229. O CDC 27.


Art. 189, CC:

“Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela


prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206.”
STJ 229: “O pedido do pagamento de indenização à seguradora suspende o
prazo de prescrição até que o segurado tenha ciência da decisão.”

Art. 192, CC:


“Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes.”
c. Alegação a qualquer tempo ou grau de jurisdição.
A questão do efeito translativo.
Posição majoritária contra, inadmitindo efeito translativo: STJ, AgRg nos
EREsp 999.342/SP

d.Suspensão e interrupção prazal.

Distinção entre suspensão e interrupção de prescrição.


Causas suspensivas (não judiciais) e causas interruptivas (judiciais).

Aplicação na união estável (Jornada 296). As exceções previstas no CC 202.


CAUSAS SUSPENSIVAS DE PRESCRIÇÃO
Art. 197, CC:
“Não corre a prescrição: I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal; II -
entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar; III - entre tutelados ou
curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela.”
Art. 198, CC:
“Também não corre a prescrição: I - contra os incapazes de que trata o art. 3º; II -
contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios;
III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.”
Art. 199, CC:
“Não corre igualmente a prescrição: I - pendendo condição suspensiva; II - não estando
vencido o prazo; III - pendendo ação de evicção.”
CAUSAS INTERRUPTIVAS DA PRESCRIÇÃO

Art. 202, CC:


“A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: I -
por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o
interessado a promover no prazo e na forma da lei processual; II - por protesto,
nas condições do inciso antecedente; III - por protesto cambial; IV - pela
apresentação do Título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de
credores; V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; VI - por
qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do
direito pelo devedor.”
A regra do Par. 1º do CPC 240: “A interrupção da prescrição, operada pelo
despacho que ordena a citação, ainda que proferido por juízo
incompetente, retroagirá à data de propositura da ação.”

A interrupção ocorre mesmo que a decisão extintiva não aprecie o


mérito da causa (TST 268 e STJ 106).
STJ 106:
“Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por
motivos inerentes ao mecanismo da Justiça, não justifica o acolhimento da
arguição de prescrição ou decadência.”

TST 268:
“A ação trabalhista, ainda que arquivada, interrompe a prescrição somente em
relação aos pedidos idênticos.”
A questão da retomada da contagem do prazo suspenso ou interrompido.
Causas suspensivas Retomada da contagem a partir da data em
que cessar a causa que originou
Causas interruptivas judiciais Retomada da contagem da prática do último
ato do processo (coisa julgada)
Causas interruptivas não judiciais Retomada da contagem a partir do dia
(protesto cambial e confissão de seguinte à prática do ato
dívida)
A prescrição da pretensão executiva no mesmo prazo (STF 150).

STF 150:
“Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação..”
A regra da interrupção única e a sua harmonização com o Direito Processual.

Perempção: CPC 485, V.

A questão da excepcional admissibilidade da prescrição intercorrente (Lei de


Execuções Fiscais, art. 40 e STJ, REsp.474.771/SP). Inaplicabilidade na Justiça do
Trabalho (TST 114).
e.Conhecimento de ofício pelo juiz (CPC 487, II). Somente para direitos
indisponíveis?

Exigência do STJ de prévia intimação das partes (STJ, REsp.1.005.209/RJ).


A regra do CPC 10.

CPC/73 219, §5º:


“§ 5º - O juiz pronunciará, de ofício, a prescrição.”
CPC 487, II:
“Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: II – decidir, de ofício ou a
requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou prescrição;
4. A decadência e a sua estrutura

4.1. Noções conceituais. Correlação com os direitos potestativos.


4.2. Características

a.Impossibilidade de renúncia
b.Prazos de ordem pública. Impossibilidade de modificação dos prazos decadenciais.
c.Momento de alegação. A qualquer tempo ou grau de jurisdição.
d.Impossibilidade de suspensão e interrupção. Exceções: CC 208 e CDC 26 e 27.
e.Conhecimento de ofício pelo juiz
4.3. Espécies de decadência no Código Civil de 2002 (a decadência legal e a
convencional). Decadência convencional e a impossibilidade de conhecimento de
ofício e a possibilidade de renúncia.
Não fluência do prazo de decadência legal enquanto pendente uma decadência
convencional (CC 446).

CC 211:
“Se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em
qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação.”
CC 446:
“Não correrão os prazos do artigo antecedente na constância de cláusula de garantia;
mas o adquirente deve denunciar o defeito ao alienante nos trinta dias seguintes ao
seu descobrimento, sob pena de decadência.”
Prescrição Decadência
Possibilidade de renúncia Impossibilidade de renúncia
Prazos de ordem pública, insuscetíveis Prazos de ordem pública, insuscetíveis de
de alteração pelas partes alteração pelas partes, exceto quando se
tratar de decadência convencional
Alegação nas vias ordinárias (qualquer Alegação nas vias ordinárias (qualquer
grau de jurisdição), salvo no caso de grau de jurisdição), salvo no caso de
efeito translativo efeito translativo
Admissibilidade de suspensão e de Inadmissibilidade de suspensão e de
interrupção interrupção (exceção: CC 208 e CDC 26 e
27), salvo quando se tratar de decadência
convencional
Possibilidade de conhecimento de ofício Obrigatoriedade de conhecimento de
pelo juiz ofício pelo juiz, exceto quando se tratar
de decadência convencional
5. Prescrição e decadência e os diferentes tipos de ação (declaratória, constitutiva e
condenatória).
Ações declaratórias: imprescritíveis
Ações constitutivas: prazos decadenciais, quando previstos
Ações condenatórias: prazos prescricionais
Ações meramente Não se extinguem (sem Exs: investigação de
declaratórias decadência ou prescrição) paternidade (STF 149) e
usucapião
Ações constitutivas Prazos decadenciais, se Exs: anulação de negócio
existirem. Não havendo jurídico (CC 178) e divórcio
prazo, não se extinguem
Ações condenatórias Prazos prescricionais Exs: cobrança,
indenizatórias e execução
de alimentos
PRAZOS PRESCRICIONAIS (AÇÕES CONDENATÓRIAS)
Prazo de 1 ano Ex: cobrança de seguro (exceto DPVAT)
Prazo de 2 anos Ex: execução de alimentos e idnenização
por dano decorrente de acidente aéreo –
Convenções de Varsóvia e Montreal (STF,
ARE 766.618/SP)
Prazo de 3 anos Ex: ações indenizatórias, por danos morais
ou materiais e cobrança de seguro DPVAT
(Súmula 405, STJ: “A ação de cobrança do
seguro obrigatório (DPVAT) prescreve em
três anos.”
Prazo de 4 anos Ex: ações de prestações de contas contra
tutor ou curador
Prazo de 5 anos Ex: ações de cobrança, em geral
Prazo de 10 anos Ex: ações de petição de herança ou de
sonegados e ação indenizatória por dano
contratual (STJ, EREsp.1.281.594/SP)
CC 205:

“A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado
prazo menor.”
Questões de concursos:

(MPF, 25º concurso) Prescrição e decadência. Examine as distinções existentes


entre ambos os institutos, a partir de seus efeitos. Enumere, justificando
sucintamente, 3 (três) relações jurídicas incompatíveis, pela sua natureza, com
os dois institutos.
(MP/BA) Sabe-se que o exercício de determinada pretensão, em regra, está sujeito
a tempo determinado. Nesse sentido, a prescrição trata-se de instituto jurídico
que, a par dessa idéia, tem o condão de fulminar a aspiração.
Sobre o tema, assinale a alternativa correta:
A fruição do prazo prescricional não é contínua. F
Os absoluta ou relativamente incapazes, ainda que por intermédio dos que os
representem ou assistam, não podem renunciar à prescrição. F
Os prazos prescricionais podem ser alterados por acordo entabulado entre as
partes. F
(TJ/SP, 2015) Assinale a alternativa correta.
a) A interrupção da prescrição por um credor aproveita aos outros.
b) A exceção possui prazo autônomo e diverso que a pretensão.
c) A decadência convencional não é suprível por declaração judicial não
provocada.
d) A suspensão da prescrição em favor de um dos credores solidários aproveita
incondicionalmente aos demais.
Gab: C
(TJ/SP, 2018) Com relação à prescrição intercorrente, é correto afirmar que o Superior Tribunal
de Justiça consolidou entendimento no sentido de que
a) a constrição patrimonial e a citação, ainda que por edital, são aptas a interromper o curso
da prescrição intercorrente, suficiente para tal finalidade o mero peticionamento do
exequente requerendo diligência para a realização daqueles atos.
b) findo o prazo de um ano de suspensão da execução (art. 40, §§ 1° e 2° da Lei n° 6.830/80),
o curso do prazo prescricional se inicia automaticamente sem necessidade de
pronunciamento judicial nesse sentido.
c) a prescrição não pode ser reconhecida de ofício, independentemente de ter ocorrido
antes do ajuizamento ou no curso da execução fiscal.
d) para o reconhecimento da prescrição decorrente da demora na citação do executado, é
irrelevante discutir se o retardamento decorreu de inércia do exequente ou do aparelho
judiciário.
Gab. A
(TJ/DFT, 2015) No que se refere aos institutos da prescrição e da decadência no
direito civil, assinale a opção correta.
a) As causas suspensivas dos prazos prescricionais se justificam pela ausência da
inércia do credor e envolvem, assim, uma atitude deliberada do credor em direção
à preservação do seu direito
b) O rol das causas suspensivas da prescrição previstas na lei civil é, ao contrário do
que ocorre com o das causas interruptivas, exemplificativo — numerusapertus.
c) É admissível, por expressa convenção, renunciar previamente à prescrição, desde
que a situação não envolva direito de pessoa incapaz.
d) O juiz deve conhecer, de ofício, a decadência prevista em lei ou a convencionada
livremente pelos interessados.
e) Se, de negócio nulo, resultarem consequências patrimoniais capazes de ensejar
pretensões, será possível a incidência, quanto a estas, da prescrição.
Gab: E
Bons Estudos!

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