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Centro OCDE/CVM de Educação e Alfabetização Financeira para

América Latina e o Caribe

Recomendação sobre os Princípios e as Boas Práticas de Educação e


Conscientização Financeira

RECOMENDAÇÃO DO CONSELHO DA ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E


DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO

Julho 2005

Esta tradução é publicada por acordo com a OCDE. Não é uma tradução oficial da OCDE.
A qualidade da tradução e sua coerência com o texto na língua original da obra são da
exclusiva responsabilidade dos autores da tradução. Em caso de qualquer discrepância
entre o trabalho original em inglês e tradução ao português, somente será considerado
válido o texto do trabalho original: www.oecd.org/finance/financial-
education/35108560.pdf
RECOMENDAÇÃO SOBRE OS PRINCÍPIOS E AS BOAS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO E
CONSCIENTIZAÇÃO FINANCEIRA

O CONSELHO,

Considerando o artigo 5 b) da Convenção que instituiu a Organização para a Cooperação e


Desenvolvimento Econômico (OCDE), de 14 de dezembro de 1960;

Considerando que a educação financeira sempre foi importante para ajudar consumidores a orçar e
administrar suas receitas, poupar e investir de forma eficiente, e evitar tornarem-se vítimas de fraude;

Considerando que à medida que o mercado financeiro fica cada vez mais sofisticado e as famílias
assumem mais responsabilidades e risco por decisões financeiras, especialmente na área de previdência, é
preciso haver indivíduos financeiramente educados para assegurar níveis suficientes de proteção do
investidor e do consumidor, bem como o bom funcionamento não só do mercado financeiro, mas também
da economia.

Considerando que as enquetes de alfabetização financeira feitas nos últimos anos nos países da
OCDE mostram que os consumidores possuem baixos níveis de alfabetização financeira e carecem de
conscientização sobre a necessidade de serem financeiramente educados;

Considerando que governos e instituições públicas e privadas pertinentes (em nível nacional e
subnacional, incluindo organismos de regulação e supervisão) de países membros e não membros da
OCDE podem se beneficiar da orientação internacional sobre princípios e boas práticas de educação e
conscientização financeira;

Considerando que sua implementação deverá observar vários fatores econômicos, sociais,
demográficos e culturais e, portanto, poderá variar de um país a outro e que também há diversos métodos
para desenvolver com sucesso a educação financeira para um público alvo específico;

Considerando também que a implementação das boas práticas relacionadas a instituições


financeiras deve levar em conta a diversidade das instituições financeiras, que estas diretrizes não
impedem as atividades de negócio relevantes e que se espera que as associações nacionais de instituições
financeiras sejam os principais atores deste subconjunto de boas práticas;

Com base na proposta do Comitê de Mercados Financeiros:

RECOMENDA que os países membros promovam educação e conscientização financeira e, nesse


contexto, que governos e instituições públicas e privadas pertinentes levem em conta e coloquem em
prática os princípios e as melhores práticas para educação e conscientização financeira estabelecidos no
anexo desta Recomendação e que fazem parte deste documento.

CONVIDA os países membros a disseminarem estes princípios e boas práticas entre as


instituições públicas e privadas (com e sem fins lucrativos) envolvidas em educação e conscientização
financeira.

CONVIDA os países não membros a levarem em consideração esta Recomendação e


disseminarem estes princípios e boas práticas entre as instituições públicas e privadas (com e sem fins
lucrativos) envolvidas em educação e conscientização financeira.

CONVIDA os países membros, por meio de sua participação no Comitê de Mercados Financeiros,
no Comitê de Seguros e seu Grupo de Trabalho sobre Previdência Privada a identificar boas práticas
adicionais nas áreas de educação financeira, de seguros e previdenciária, respectivamente.
INSTRUI o Comitê de Mercados Financeiros a trocar informações sobre os progressos e as
experiências relativos à aplicação desta Recomendação, a analisar estas informações e a informar ao
Conselho em até três anos após sua adoção e, se for o caso, depois.
ANEXO

PRINCÍPIOS E BOAS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO


FINANCEIRA

I. PRINCÍPIOS

1. A educação financeira pode ser definida como "o processo pelo qual
consumidores/investidores financeiros aprimoram sua compreensão sobre produtos,
conceitos e riscos financeiros e, por meio de informação, instrução e/ou
aconselhamento objetivo, desenvolvem as habilidades e a confiança para se tornarem
mais conscientes de riscos e oportunidades financeiras, a fazer escolhas informadas, a
saber onde buscar ajuda, e a tomar outras medidas efetivas para melhorar seu bem-
estar financeiro". Educação financeira, portanto, vai além do fornecimento de
informações e aconselhamento financeiro, o que deve ser regulado, como geralmente
já é o caso, especialmente para a proteção de clientes financeiros (por exemplo,
consumidores em relações contratuais).

2. Essa construção de capacidade financeira, baseada em informação e instrução


financeira adequada, deve ser promovida. A educação financeira deve ser oferecida
de forma justa e imparcial. Os programas devem ser coordenados e desenvolvidos
com eficiência.

3. Os programas de educação financeira devem se concentrar em questões de alta


prioridade que, a depender das circunstâncias nacionais, podem envolver aspectos
importantes do planejamento da vida financeira, como poupança básica, gestão da
dívida privada ou seguro, bem como pré-requisitos para conscientização financeira,
como noções de matemática financeira e economia. Deve-se estimular a
conscientização dos futuros aposentados sobre a necessidade de avaliar a adequação
financeira dos seus regimes atuais de previdência pública e privada e de tomar as
medidas apropriadas quando necessário.

4. A educação financeira deve ser considerada no arcabouço regulador e administrativo


e deve ser tida como ferramenta para promover crescimento econômico, confiança e
estabilidade, juntamente com a regulação das instituições financeiras e a proteção do
consumidor (incluindo a regulação sobre informação e aconselhamento). A promoção
da educação financeira não deve ser substituída por regulação financeira, que é
essencial para proteger o consumidor (por exemplo, contra fraude) e que se espera
que a educação financeira possa complementar.

5. Devem ser tomadas as medidas apropriadas quando a capacidade financeira é


essencial, mas há deficiências identificadas. Outras ferramentas de políticas públicas a
considerar são a proteção do consumidor e a regulação das instituições financeiras.
Sem limitar a liberdade de contrato, devem ser considerados mecanismos de falência
que levem em consideração educação financeira inadequada ou comportamento
passivo/inerte.

6. Deve-se promover o papel das instituições financeiras na educação financeira e esta


deve tornar-se parte da boa governança daquelas, no que concerne a seus clientes
financeiros. A prestação de contas e a responsabilidade das instituições financeiras
deve ser incentivada, não apenas para fornecer informações e orientações sobre
questões financeiras, mas também para promover a conscientização financeira dos
clientes, especialmente para compromissos de longo prazo e compromissos que
representem uma parcela substancial de sua renda atual e futura.

7. Devem ser desenhados programas de educação financeira para atender as necessidades


e o nível de alfabetização financeira do público alvo dos programas e que reflitam a
forma como esse público alvo prefere receber informação financeira. A educação
financeira deve ser vista como um processo contínuo, permanente e vitalício,
especialmente a fim de capturar a maior sofisticação dos mercados, as necessidades
variáveis em diferentes fases da vida e informações cada vez mais complexas.

II. BOAS PRÁTICAS

A. Ação pública para a educação financeira

8. Devem ser estimuladas campanhas nacionais para aumentar a conscientização da


população sobre a necessidade de melhorar sua compreensão acerca de riscos
financeiros e formas de se proteger contra riscos financeiros por meio de instrumentos
adequados de poupança, seguro e educação financeira.

9. A educação financeira deve começar na escola. As pessoas devem ser educadas sobre
questões financeiras o mais cedo possível em suas vidas.

10. Deve-se considerar incluir a educação financeira em programas estatais de bem-estar


social.

11. Devem ser promovidas estruturas especializadas apropriadas (possivelmente


incorporadas às autoridades existentes) responsáveis pela promoção e coordenação da
educação financeira em nível nacional e regional, além de iniciativas locais, públicas e
privadas, o mais próximo possível da população.

12. Devem ser promovidos websites específicos para oferecer informação financeira
relevante e acessível para o público. Serviços de informação gratuitos devem ser
desenvolvidos. Devem ser promovidos sistemas de alerta por organizações
profissionais, de consumidores ou outras em questões de alto risco que podem ser
prejudiciais para os interesses do consumidor financeiro (incluindo fraude).

13. Deve ser promovida cooperação internacional em educação financeira, incluindo o


uso da OCDE como um fórum internacional de intercâmbio de informações sobre
experiências nacionais recentes em educação financeira.

B. O papel das instituições financeiras na educação financeira


14. Devem ser estimulados requisitos para especificar os tipos de informação (inclusive
onde encontrar informações e o fornecimento de informações gerais objetivas e
comparativas sobre os riscos e retornos de diferentes tipos de produtos) que as
instituições financeiras precisam fornecer aos clientes sobre produtos e serviços
financeiros.

15. Deve-se incentivar as instituições financeiras a distinguir claramente entre educação


financeira e informações financeiras e orientação financeira "comercial". Qualquer
orientação financeira para fins comerciais deve ser transparente e divulgar claramente
sua natureza comercial se for promovida como uma iniciativa de educação financeira.
Para os serviços financeiros que envolvem compromissos de longo prazo ou têm
consequências financeiras significativas, as instituições financeiras devem ser
encorajadas a verificar se as informações fornecidas aos seus clientes são lidas e
compreendidas.

16. Deve-se incentivar as instituições financeiras a fornecer informações em vários níveis


diferentes para melhor atender as necessidades dos consumidores. Impressos pequenos
e de difícil compreensão devem ser evitados.

17. A educação financeira fornecida por instituições financeiras deve ser avaliada
regularmente para garantir que atenda às necessidades do consumidor. Isso pode ser
alcançado por meio de parcerias com entidades independentes de assessoria
financeira, sem fins lucrativos, que possam ter melhor conexão com o consumidor,
particularmente aquelas que enfrentam desvantagens para participar dos mercados
financeiros.

18. As instituições financeiras devem ser incentivadas a capacitar seu pessoal em


educação financeira e desenvolver códigos de conduta para o aconselhamento geral
sobre investimentos e empréstimos, sem vinculação ao fornecimento de um produto
específico.

C. Educação financeira para poupança de aposentadoria

19. Para indivíduos em planos de previdência privada, deve ser promovido o


fornecimento, por parte das instituições financeiras, de informação e educação
financeira adequada para a gestão de sua poupança e renda da aposentadoria futura.

20. No que diz respeito planos de previdência corporativos (para os quais devem ser
fornecidas informações e educação de forma consistente referente aos planos), deve
ser promovida a educação financeira e a conscientização dos empregados e
ferramentas de política correspondentes, tanto para as contribuições definidas como
para os planos de benefícios dos planos.

D. Programas de educação financeira

21. Devem ser promovidos programas de educação financeira que ajudem o consumidor
financeiro a encontrar informações e entender os prós e contras, bem como os riscos
dos diferentes tipos de produtos e serviços financeiros. Deve ser promovida a pesquisa
em economia comportamental.

22. O desenvolvimento de metodologias para avaliar programas existentes de educação


financeira deve ser promovido. O reconhecimento oficial de programas de educação
financeira que atendem aos critérios relevantes deve ser considerado.
23. Devem ser promovidos programas de educação financeira que desenvolvam diretrizes
para conteúdo educativo e nível de desempenho para cada programa de educação
financeiro e para cada subgrupo populacional.

24. A fim de alcançar uma maior cobertura e exposição, deve-se promover o uso de todos
os meios de divulgação de mensagens de educação.

25. A fim de considerar os vários contextos de investidores/consumidores, deve-se


promover uma educação financeira que crie diferentes programas específicos para
subgrupos específicos de investidores/consumidores (por exemplo, jovens e grupos
menos escolarizados ou menos favorecidos). A educação financeira deve estar
relacionada com as circunstâncias individuais, por meio de seminários de educação
financeira e programas de aconselhamento financeiro personalizados.

26. Para os programas que demandam o uso de salas de aula, deve-se promover
treinamento e capacitação dos educadores. A esse respeito, deve-se estimular o
desenvolvimento de programas para "educar os educadores" e o fornecimento de
materiais e ferramentas de informações específicas para esses educadores.

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