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A UTILIZAÇÃO DO E-LIXO EM PRODUTOS DE MODA

SANTOS, M.Q.B.1; SILVA, M.A.A. 2; SILVA, C.R.F.3

Resumo: O artigo tem o propósito de realizar uma reflexão sobre o descarte de aparelhos eletrônicos
prejudiciais ao meio ambiente, e, possíveis reutilizações dessas tecnologias no vestir abrangendo
produtos de moda com interatividade. Para tanto, foi desenvolvida uma coleção de roupas
conceituais, apresentada em plataforma digital DFBdigifest Dragão Fashion 2020, criada a partir de
resíduos têxteis: fios, plugues, placas de circuito de cabeamento e cabo flat. Com o propósito de
chamar a atenção dos consumidores para os componentes eletrônicos tóxicos e o descarte incorreto
desse produto nos aterros sanitários, gerando assim, uma reflexão para o consumo de moda mais
consciente. O contexto do desenvolvimento deste trabalho foi realizado através da metodologia da
pesquisa bibliográfica, onde os autores observaram o comportamento do consumidor, para
desenvolver um projeto de coleção que estimule a compreensão e inquietação que o tema exige.
Palavras-chave: moda, reciclagem, sustentabilidade, e-lixo, consumo

1 Introdução
Vivemos em um mundo interconectado, em redes sociais, webinar, cursos EAD, e-
commerce, jogos virtuais. A facilidade para a troca de ideias, cultura e bens materiais, pode
ocorrer na velocidade de um clique. Para Bruno[1], chegamos na quarta revolução industrial,
também conhecida como a era da informação, do conhecimento, que ocorreu em
decorrência do avanço tecnológico e permitiu a automação completa dos processos
industriais. Gerando uma busca incessante por produtos inovadores que ofereçam maior

1
Márcia Qualio Baptista dos Santos
Especialista em Design de Moda, Universidade Federal do Cariri, IISCA/Design, Av.Tenente
Raimundo Rocha Nº 1639, Juazeiro do Norte- Ce, Brasil.
marcia.qualio@ufca.edu.br
2
Marcos Antonio Araujo Silva
Universidade Federal do Cariri, Design, Av. Tenente Raimundo Rocha Nº 1639, Juazeiro do Norte-
Ce, Brasil
sirdbia@gmail.com

3
Cristina Rejane Feitosa Silva
Doutoranda em Design pela Universidade Federal de Pernambuco, Universidade Federal do Cariri,
IISCA/Design, Av. Tenente Raimundo Rocha Nº 1639, Juazeiro do Norte- Ce, Brasil.
cristina.silva@ufca.edu.br

1
conectividade entre o homem e a máquina, e, maior interação entre homem e os objetos de
uso pessoal.
Esta pesquisa tem o propósito de informar as pessoas sobre os males ocasionados pelo
descarte de produtos eletrônicos em aterros sanitários, buscando uma maior
conscientização das pessoas e possibilidades de reutilização do e-lixo na moda.

2 Referencial Teórico

A tecnologia entrou em nossas vidas trazendo muitas facilidades, entre elas, a redução
do tempo gasto para o desenvolvimento de nossas atividades e a sensação de melhoria da
qualidade de vida; porém, todo aparelho eletroeletrônico é constituído de algum metal
pesado. De acordo com a professora Maria Lúcia Pereira da Silva [2], da Escola Politécnica
da USP, esse material é usado para conduzir a corrente elétrica, e mesmo quando utilizado
em pequenas quantidades, conseguem contaminar áreas muito extensas.
O material eletrônico jogado no lixo tem como base a obsolescência programada,
provocada pelos upgrades e constantes atualizações em produtos eletrônicos, como em
computadores, notebooks e celulares, que trouxeram graves consequências para o meio
ambiente. De acordo com relatório da Universidade das Nações Unidas [3], somente no ano
de 2017 foram despejados em aterros sanitários do mundo inteiro cerca de 44,7 milhões de
toneladas de lixo eletrônico. Esse material possui substâncias químicas que contaminam o
solo e são levados pela chuva até os lençóis freáticos afetando a água, que é ingerida pelo
gado, chegando até o homem através do consumo da carne, causando problemas no
sistema respiratório, sanguíneo e nervoso; o que provoca doenças na pele, ossos, rins,
fígado, pulmões entre outros.
O alto grau de toxicidade dos elementos químicos que fazem parte dos componentes
dos aparelhos eletrônicos, tais como: mercúrio, cádmio, prata, chumbo e arsênio, quando
jogados indiscriminadamente em aterros sanitários, colocam em risco a saúde pública.
Imagem 2: Metais pesados encontrados nos componentes de computadores e celulares.

2
Fonte:[2]
As empresas fabricantes não se responsabilizam nem possuem um sistema de coleta
eficiente que venha separar cada componente eletrônico e dar um novo destino a ele.
Para Cardoso[4], no cenário atual, pode-se dizer que os desafios são enormes e há
muito trabalho para os designers; o primeiro passo para se compreender o mundo complexo
que vivemos é aceitar que os problemas não são simples, porém não são insolúveis. O
autor acredita que não é responsabilidade dos designers salvar o mundo, até porque a
crescente complexidade dos problemas demanda soluções coletivas.

3 Objeto de pesquisa
Demonstrar através de uma coleção de moda possíveis reutilizações de fios
eletrônicos, compondo novas tramas no vestir, abrangendo produtos de moda e dessa
forma contribuir para a sustentabilidade do planeta.

4 Análise e conclusão
Faz-se necessária uma mudança de mentalidade por parte dos fabricantes e reeducação
por parte dos usuários no que tange ao descarte do e-lixo. Tanto fabricantes de produtos
eletrônicos quanto engenheiros e designers precisam trabalhar em projetos que aumentem
o tempo útil dos produtos, vista a toxidade de alguns materiais utilizados e sua escassez no
meio ambiente, e ainda, um design voltado para a remanufatura, ou seja, o retorno das
peças eletrônicas para o ciclo produtivo, que só será possível se houver um mecanismo que
permita o descarte dos aparelhos eletrônicos (e-lixo) para um ponto focal.
O portal eCycle realiza consulta de locais para o descarte de materiais eletrônicos em
algumas localidades do Brasil; mas ainda é necessária a ampliação desse serviço para
todas as regiões do Brasil, evitando o descarte incorreto dos produtos e contaminação do
solo.
Para Bonsiepe[5], diante da complexidade dos problemas atuais, os projetos em Design
ganharam importância e os problemas não podem ser resolvidos sem a atividade de
pesquisa prévia, ou paralela, o que leva à formulação de novas perguntas, cujas respostas,
dependem de novos conhecimentos gerados pela pesquisa.
Falar dos materiais não-biodegradáveis descartados no meio ambiente tornou-se um
assunto relevante para as pesquisas científicas, uma vez que esses materiais podem levar
400 anos para se decompor, quando descartados indevidamente. Além disso, soluções
eficazes para o acúmulo de lixo no meio ambiente ainda não foram encontradas, portanto, a
educação para um consumo mais consciente continua sendo um caminho e propósito desse
trabalho, na tentativa de mudarmos essa realidade. Para Fletcher[6], a sustentabilidade não é
só relacionada a materiais e tecnologias, mas também ao comportamento, relações e
maneiras de pensar.  

3
Muitas famílias vivem a partir de resíduo de lixo e o projeto se inspirou na história de
pessoas que trabalham com a reutilização de materiais e ressignificação dos mesmos em
novos produtos, como por exemplo, o projeto Revoada. Explorando o encontro das
tecnologias digitais com a experiência de sermos mais humanos surgiu o tema “Reconectar-
se”.
O projeto visa realizar uma ação para criar produtos de moda utilizando o resíduos high-
tech na construção de novas tramas e retirar do meio ambiente o lixo gerado pela indústria,
aumentando o ciclo de vida da matéria-prima que seria descartada, reinserindo-a no ciclo
produtivo. Também foram inseridos outros retalhos de materiais têxteis como jeans e malha
de poliéster, obedecendo no seu desenvolvimento aos 8 R’s da sustentabilidade: refletir,
reduzir, reutilizar, reciclar, respeitar, reparar, responsabilizar-se e repassar.
A coleção foi apresentada em plataforma digital durante a pandemia no DFBdigifest
Dragão Fashion 2020, com o propósito evidenciar o uso indiscriminado de componentes
eletrônicos tóxicos e gerar uma reflexão para o consumo de moda mais consciente.
Imagem 3: Coleção “Reconectar-se”

Fonte: elaborado pelos autores


Precisamos repensar de forma crítica sobre a forma como os produtos são
descartados, principalmente o lixo eletrônico. Com o surgimento de objetos e roupas
interativos, criados a partir de fibras naturais, fios condutores e microchips, nos faz
questionar como será o descarte desses produtos no futuro cada vez mais tecnológico e
qual será o papel do design nesse ciclo.

Referências

[1] BRUNO, Flávio da Silveira. A quarta revolução industrial do setor têxtil e de


confecção a visão de futuro para 2030. São Paulo, Estação das Letras e Cores, 2016.
[2] COM CIÊNCIA - Resíduo eletrônico: redução, reutilização, reciclagem e
recuperação. 2008 - Disponível em: http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?
section=8&edicao=32&id=379 acesso em: 07/08/2020
[3] ONU – Desenvolvimento sustentável. Onu prevê que o mundo terá 50 milhões de
toneladas de lixo eletrônico em 2017 - https://nacoesunidas.org/onu-preve-que-mundo-
tera-50-milhoes-de-toneladas-de-lixo-eletronico-em-2017/ acesso em: 07/08/2020
[4] CARDOSO, Rafael. Design para um Mundo Complexo. São Paulo: Ubu editora, 2016.
[5] BONSIEPE, Gui. Design, cultura e sociedade. São Paulo: Blücher, 2011.

4
[6] FLETCHER, Kate; LYNDA, Grose.  Moda & sustentabilidade: Design para mudança.
Edição: 1. São Paulo: Senac, 2012

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