DIDÁTICA
33 COMPETÊNCIA NA EDUCAÇÃO..............................................................................................77
47 ABORDAGEM COGNITIVISTA................................................................................................115
Fonte: i.calameoassets.com
4
portanto, bitolamento, limitação, quadradura. Segundo a autora, se ela adquiriu
significados negativos, supõe-se que isso se deve ao fato do exercício regular da
Didática em todos os níveis de ensino, com o uso de manuais carregados de regras
e conselhos (o professor deve isso... o professor não deve aquilo... tem que...),
verdadeiros receituários ou listagens de permissões e proibições que acabam por
minimizar estes processos constitutivos.
A Didática se caracteriza como mediação entre as bases teórico-científicas da
educação escolar e a prática docente. Ela opera como “uma ponte” entre o “o que” e
o “como” do processo pedagógico. Para isso, recorre às contribuições das ciências
auxiliares da Educação e das próprias metodologias específicas. É, pois, uma
matéria de estudo que integra e articula conhecimentos teóricos e práticos obtidos
nas disciplinas de formação acadêmica, formação pedagógica e formação técnico-
prática, provendo o que é comum, básico e indispensável para o ensino de todas as
demais disciplinas.
5
2 CONCEITUANDO O TERMO DIDÁTICA
6
Aliás, estarão eles sendo utilizados? E se realmente estão, haverá em seu
emprego uma dose mínima de consciência, de adequação, de espírito de busca e
pesquisa? Ou tudo acontece na simples cópia ou transplante de modelos
inadequados à realidade brasileira e, por isso, devidamente rejeitados?
Como saber também se o caos do ensino seria bem maior, sem as tentativas
de reformulação, sem o esforço das Faculdades de Educação com licenciaturas,
sem os cursos de reciclagem, sem as pós-graduações em Educação?
O momento pedagógico é dos piores, reflete os problemas da sociedade
doente, inflacionada, violenta, desigual. Não adianta, pois, esperar milagres da
Didática. Conviria, ao contrário, tomar consciência dos seus limites e possibilidades
e impedir que ela fosse mais um elemento de manipulação do homem, de violação
dos seus direitos, de repetição do passado. Enfrentar o amanhã com as armas de
ontem é garantir, previamente, a derrota. Desistir de lutar, sob o pretexto de falta de
equipamento, é covardia. Não há verbas, não há material, mas o recurso humano, o
mais válido, existe, e aí está a exigir um aceitamento interior, capaz de acioná-lo.
De um professor de Didática espera-se que seja pelo menos um didata, não
na acepção vulgar da palavra, mas no sentido de reconhecer que suas atitudes
valem bem mais que suas técnicas, que, trocando com seus alunos o que ele é,
abrirá caminhos mais amplos do que se apenas trocar com eles o que sabe,
tentando moldá-los a si, ao seu fazer didático. Do professor de Didática é natural que
o aluno cobre um pouco mais do que de qualquer outro professor: em primeiro lugar,
ele exige respeito ao que ele (aluno) é; em segundo lugar, que ele vivencie e
comprove numa lição de autenticidade o que ele (professor) considera correto, mas
que tenha também abertura para valorizar outras opções.
Veja o desenho abaixo:
7
Fonte: www.tecnologiaedidatica.blogspot.com.br
8
Opta-se pela crença de que a boa didática é a que incentiva a produção e
não a reprodução, a divergência muito mais que a convergência, a crítica em
lugar da tranquila aceitação, a dúvida em detrimento das certezas
preestabelecidas, o erro provisório em lugar do acerto fácil. Propõe-se também
que a essa Didática se chame AMPLA DIDÁTICA: além da fusão harmoniosa de
princípios científicos e recursos técnicos com a valorização da função criativa, ela
se diz "ampla" por aplicar-se a todos os níveis de ensino e por estar aberta a
todas as contribuições plausíveis que vieram subsidiá-la.
9
Fonte: www.compromissocampinas.org.br
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Esse conceito nos mostra que as instituições de ensino podem constituir-se
em modelos para esse processo e que, por isso, terão um papel cada vez mais
relevante nesse contexto.
A negociação e o diálogo no lugar do autoritarismo, trabalho em equipe
substituindo posturas individualistas, ampla delegação ao invés de centralização,
estruturas organizacionais sem rigidez hierárquica onde se cultive a confiança
mútua, estímulo à cooperação e desenvolvimento de laços afetivos e desestímulo à
competição e aos comportamentos agressivos; essas serão as características das
organizações do futuro que farão com que as técnicas do planejamento e da
qualidade sejam efetivas e se constituam em fator diferencial competitivo para o seu
desenvolvimento.
Podemos, portanto, propor que o entendimento do conceito de qualidade em
educação se fundamente na busca da formação integral do indivíduo onde a
racionalidade deve ser vista como uma das dimensões humanas e não como a
única. Uma instituição de ensino como referencial de qualidade será aquela que
demonstre esses valores com a prática de seus processos de ensino/aprendizagem
e se constitua numa organização de aprendizagem, tal como definida por Peter
Senge.
Fonte: www.almanaqueliterario.com
11
3 DIDÁTICA: CONTEXTUALIZAÇÃO
Fonte: 4.bp.blogspot.com
12
A concepção democrática de educação respeita o educando como ser único
que constrói seu aprendizado, e é capaz de encontrar a melhor maneira para
construir seus conhecimentos, dentro da realidade cultural, cognitiva e pessoal de
cada um.
O mais importante nestas situações ilustrativas é podermos perceber que o
processo de ensino e de educação, acontece em todo e qualquer lugar, não
somente no contexto escolar, não somente pelas mãos de professores, mas pelas
nossas mãos!
13
Podemos dizer que não encontramos um sentido unívoco para esse termo.
Educação é algo tão abrangente quanto às relações humanas. Podemos confirmar
isso nas palavras de Brandão (1985, p. 7), quando ele nos escreve que ninguém
escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de
muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar,
para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os
dias misturamos a vida com a educação.
Segundo Luckesi (2001, p. 30)5, a educação é um típico ‘o que fazer
humano’, ou seja, um tipo de atividade que se caracteriza fundamentalmente por
uma preocupação, por uma finalidade a ser atingida. A educação dentro de uma
sociedade não se manifesta como um fim em si mesmo, mas sim como um
instrumento de manutenção ou transformação social. Todos os profissionais passam
pelas mãos de um educador.
Ao trabalhar com a Didática, uma disciplina cujo caráter é educativo, que tem
ensino como seu objeto principal de trabalho, que rejeita receituários como única
fonte de orientação, mas aceita-os como instrumentos de apoio para a reconstrução
da prática.
Fonte: image.slidesharecdn.com
14
Fonte: image.slidesharecdn.com
Fonte: comunidade.rockcontent.com
15
escolas, dos cursos de graduação, pós e outros, são gerenciados, senão
“fiscalizados” por órgãos de instância maior: Ministério da Educação (MEC),
Secretarias Estaduais/municipais (SEE), Superintendências Regionais de Educação
(SRE), e que definem diretrizes nacionais e locais para a educação.
Além disso, temos a Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9394/96) que discute a
organização da educação brasileira. O coordenador pedagógico poderá auxiliar na
obtenção desses dados, além de ajudar na administração dos “dilemas” e na
reflexão da atividade docente durante esse “choque com a realidade”, impacto
sofrido por todo profissional que inicia a profissão (FRANCO, 2007).
Saber como ensinar é igualmente importante. Se o educador não conhecer as
diferentes estratégias e metodologias de ensino, não souber explorar as diferentes
tecnologias que podem ser empregadas na educação, de nada adianta dominar a
teoria. De acordo com os especialistas, desenvolver estratégias para facilitar a
aprendizagem, assim como ter profundo conhecimento de como ocorre o
desenvolvimento cognitivo do educando, faz parte das ações dos bons educadores.
16
6 A EDUCAÇÃO INERENTE À SOCIEDADE HUMANA
17
mundo dos mais velhos, não existindo lugar para inovação, criatividade e
originalidade. Deve ser devido a esses motivos que a sociedade nessa época
cresceu de forma extraordinariamente lenta.
18
7 OS DILEMAS DO PROFESSOR INICIANTE
Fontes: nova-escola-producao.s3.amazonaws.com
19
Os dilemas e dificuldades do professor iniciante são causados pela exigência
de atuação na resolução de vários problemas, entre os quais, segundo Franco
(2000, p.34) destaca-se: problemas em conduzir o processo de ensino e de
aprendizagem, considerando as etapas de desenvolvimento de seus alunos e o
conteúdo a ser desenvolvido; problemas com a disciplina dos alunos e com a
organização da sala de aula.
Neste momento o professor sente “[...] como se da noite para o dia o indivíduo
deixasse subitamente de ser estudante e sobre os seus ombros caísse uma
responsabilidade profissional, cada vez mais acrescida, para qual percebe não estar
preparado. ” (Silva, 1997, p.53).
No entanto, é importante ressaltar que se são os piores anos, também
constituem um momento profícuo para mudanças e desenvolvimento profissional,
pois, segundo Perrenoud (2002, p.14), favorecem a tomada de consciência e o
debate. Enquanto os profissionais experientes não consideram ou nem percebem
mais seus gestos cotidianos, os estudantes medem o que supõem ser serenidade e
competência duramente adquiridas. [...] a condição de principiante induz em certos
aspectos, a uma disponibilidade, a uma busca de explicação, a um pedido de ajuda,
a uma abertura à reflexão.
Finalizo esta aula lembrando que, não importa se você será (ou não)
professor, mas tome essas reflexões para qualquer profissional em início de carreira.
20
8 O INÍCIO DA CARREIRA E A FORMAÇÃO NO CURSO DE PEDAGOGIA
Fonte: canaldoensino.com.br
21
constituem um momento profícuo para mudanças e desenvolvimento profissional
[...]” (SOUZA, 2009, p. 38) podendo instigar o docente a ter uma maior consciência
de seus métodos de ensino levando-o a investigar por meio de suas vivências,
inseguranças e experiências seus acertos e erros, para saber como a identidade
profissional, pois se por um lado a uma complexidade inicial que distancia a
realidade vivida em sala de aula das teorias estudadas, por outro lado há
entusiasmo em conhecer a melhor forma de lidar com os conteúdos programados
que por vezes são dados como abstrusos, assim o “[...] turbilhão de sentimentos
como angústia, insegurança, vivenciados pelo professor, dialeticamente [...]” passa a
ser “[...] combustível para que este possa se reafirmar na profissão” (SOUZA, 2009,
p. 39).
Se em um primeiro momento o início de carreira é difícil, notaremos, então,
que muitos acadêmicos de Pedagogia não entendem a complexidade do processo
de ensino e aprendizagem da Matemática escolar no curso de formação inicial por
se tratar, muitas vezes, de “[...] uma formação centrada em processos
metodológicos, desconsiderando os fundamentos da matemática” (NACARATO;
MENGALI; PASSOS, 2009, p. 17).
22
Quando falamos de escola não
estamos nos referindo a uma
instituição restrita, somente
especializada em tratar de uma
educação sistematizada e sistêmica,
mas de uma forma ampla e
globalizante como forma de
compreensão do homem, e suas
relações em sociedade.
Fonte: www.fotosearch.com.br
23
Afirma ainda que, tal direcionamento perpassa a escola, pois “[...] Tanto na escola
como na vida, a educação burguesa é um instrumento de dominação de classe,
tendo seu poder localizado, sobretudo na capacidade de reprodução [...] adequadas
à reprodução dos interesses e do poder burguês” (PIRES, 2003, p. 47).
A autora Otaíza Romanelli (2002) chega a afirmar que a escola surge como
instrumento para a manutenção dos desníveis sociais. Salienta que a função desta
foi a de manter privilégios, pois a própria instituição se apresenta como privilégio da
classe dominante a partir do momento que se utiliza de mecanismos seletivos e de
conteúdo cultural que não propicia às camadas sociais, ao menos, uma preparação
eficaz para o trabalho.
Fonte: www.overmundo.com.br
24
3. Precisa de muita energia, de muito tempo e de muita concentração
para resolver problemas que o profissional experiente soluciona de
forma rotineira;
4. A forma de administrar o tempo (preparação, correção, trabalho de
classe) não é muito segura, e isso lhe provoca desequilíbrio,
cansaço e tensão
5. Passa por um estado de sobrecarga cognitiva devido ao grande
número de problemas que tem de enfrentar. Em um primeiro
momento, conhece a angústia da dispersão, em vez de conhecer a
embriaguez do profissional que “joga” com um número crescente de
bolas;
6. Geralmente se sente muito sozinho, distante de seus colegas de
estudo, pouco integrado ao grupo e nem sempre se sente acolhido
por seus colegas mais antigos;
7. Está em um período de transição, oscilando entre os modelos
aprendidos durante a formação inicial e as receitas mais
pragmáticas que absorve no ambiente profissional;
8. Não consegue se distanciar do seu papel e das situações;
9. Tem a sensação de não dominar os gestos mais elementares da
profissão, ou de pagar um preço muito alto por ele;
10. Mede a distância entre o que imaginava e o que está vivenciando,
sem saber ainda que esse desvio é normal e não tem relação com
incompetência nem com sua fragilidade pessoal, mas que está
ligado à diferença que há entre a prática Autônoma e tudo o que já
conhecera.
25
11 A PEDAGOGIA COMO CIÊNCIA TRANSFORMADORA
Fonte: image.slidesharecdn.com
26
instrumental, da operacionalização metodológica a partir dos estudos das ciências
da educação. Uma formação voltada para a aplicação prática e outra voltada para a
aplicação da ciência da educação.
Pensar em uma Pedagogia Social é pensar em uma Pedagogia que tenha
qualidade social, analisando e interpretando contextos e fatores que ainda não foram
totalmente explorados. Segundo Freire (1982), “É que, quase sempre, num primeiro
momento deste descobrimento, os oprimidos, em lugar de buscar a libertação, na
luta e por ela, tendem a ser opressores também, ou sub-opressores”. Atuar na
Pedagogia Social é definir uma concepção teórica a partir de parâmetros da
educação crítica. É também uma escolha política, com interesse social, com
intenção delimitada, pelas necessidades dos excluídos e marginalizados, não só os
sujeitos pobres, os miseráveis. De acordo com Caliman:
Fonte: www.icguedes.pro.br
27
Pedagogia como foco de estudo e como ciência tem por objeto uma educação
que não está fechada na escola, mas está para além dela. Segundo Libâneo (1999),
“o aspecto educativo diz respeito à atividade de educar propriamente dita, à relação
educativa entre agentes, envolvendo objetivos e meios de educação e instrução, em
várias modalidades e instâncias”. A educação se insere no processo social, como
parte de um todo, onde se encontra uma sociedade, seus conflitos e dinamismos. É
com a Pedagogia que surge a educação intencional que acontece quando o ato de
educar passa a ser um objeto explícito de atenção, criando uma educação
sistematizada. Quanto a nós, se pretendemos ser educadores (especialistas em
educação) é porque não nos contentamos com a educação assistemática. Nós
queremos educar de modo intencional e por isso nos preocupamos com a educação.
(SAVIANI,2002, p.48).
Fonte: slideplayer.com.br
28
A Ao longo da história da educação, é possível perceber que o ensino e a
aprendizagem são compostas por práticas e teorias inseparáveis. Assim o discurso
para romper a dualidade entre a teoria e a prática não pode ser discutido, enquanto
for parte do todo educacional. No entanto é preciso entender e compreender o
caminho histórico da Didática e suas implicações na formação do professor.
Um campo destinado a Didática é o constante manejo entre a teoria e prática
com as outras áreas do conhecimento com a finalidade de dar suporte ao professor
no desenvolvimento de suas habilidades e competências diante da educação.
Libâneo (2012, p. 16) refere-se ao assunto e diz que:
29
A literatura educacional da área aponta vários estudos feitos sobre o processo
de formação do professor, destacando-se dentre estes Gómez (1992), Candau
(1993), Pereira (1999), Contreras (2002) e Alarcão (2001), que de modo geral,
abordam os paradigmas/modelos de formação do professor, questionam suas
implicações no processo de ensino e de aprendizagem e explicitam as competências
e os saberes relativos a cada modelo de formação.
Existem 4 paradigmas (modelos) para a formação do professor:
Professor culto – aquele que domina os saberes
Professor técnico – aquele que aderiu ao saber-fazer técnico
Professor prático-reflexivo – aquele que constrói um saber pela reflexão da
experiência, tornando-se um pesquisador
Professor Ator social – aquele engajado na definição do projeto0 da escola e de sua
gestão.
Saviani (2005), ao escrever sobre a história da formação docente no Brasil,
cita em seu estudo a LDB 9394/96. Segundo a Lei,
Estudar a Didática no Ensino Superior, não quer dizer que o profissional irá
acumular as informações sobre as técnicas e as práticas do processo de ensino e
aprendizagem, mas que receberá uma capacidade crítica para questionar e fazer
reflexão sobre as informações adquiridas ao longo de todo processo. Conforme dizia
Veiga (2010, p. 58) é preciso “tornar o ensino da Didática mais atraente e
respaldado nos resultados das investigações envolvendo alunos em processo de
formação”.
A Didática dentro do currículo é muito importante para o professor. Veiga
(1989, p. 22) diz que “o papel fundamental da Didática no currículo de formação de
professor é o de ser instrumento de uma prática pedagógica reflexiva e crítica,
contribuindo para a formação da consciência crítica”. Ele ainda afirma que:
30
ação reciproca e interdisciplinar das dimensões fundamentais. Integram-se,
são complementares. (VEIGA, 2004, P.13)
31
2.3 crítico-social dos conteúdos
32
14 TENDÊNCIA LIBERAL E TENDÊNCIA PROGRESSISTA
Fonte: blogdonikel.files.wordpress.com
33
meios de produção, também denominada sociedade de classes. A pedagogia liberal,
portanto, é uma manifestação própria desse tipo de sociedade.
A educação brasileira, pelo menos nos últimos cinquenta anos, tem sido
marcada pelas tendências liberais, nas suas formas ora conservadora, ora renovada.
Evidentemente tais tendências se manifestam, concretamente, nas práticas
escolares e no ideário pedagógico de muitos professores, ainda que estes não se
deem conta dessa influência.
A pedagogia liberal sustenta a ideia de que a escola tem por função preparar
os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de acordo com as aptidões
individuais, por isso os indivíduos precisam aprender a se adaptar aos valores e às
normas vigentes na sociedade de classes através do desenvolvimento da cultura
individual. A ênfase no aspecto cultural esconde a realidade das diferenças de
classes, pois, embora difunda a ideia de igualdade de oportunidades, não leva em
conta a desigualdade de condições. Historicamente, a educação liberal iniciou-se
com a pedagogia tradicional e, por razões de recomposição da hegemonia da
burguesia, evoluiu para a pedagogia renovada (também denominada escola nova ou
ativa), o que não significou a substituição de uma pela outra, pois ambas conviveram
e convivem na prática escolar.
Na tendência tradicional, a pedagogia liberal se caracteriza por acentuar o
ensino humanístico, de cultura geral, no qual o aluno é educado para atingir, pelo
próprio esforço, sua plena realização como pessoa. Os conteúdos, os procedimentos
didáticos, a relação professor-aluno não tem nenhuma relação com o cotidiano do
aluno e muito menos com as realidades sociais. É a predominância da palavra do
professor, das regras impostas, do cultivo exclusivamente intelectual.
A tendência liberal renovada acentua, igualmente, o sentido da cultura como
desenvolvimento das aptidões individuais. Mas a educação é um processo interno,
não externo; ela parte das necessidades e interesses individuais necessários para a
adaptação ao meio. A educação é a vida presente, é a parte da própria experiência
humana. A escola renovada propõe um ensino que valorize a autoeducação (o aluno
como sujeito do conhecimento), a experiência direta sobre o meio pela atividade; um
ensino centrado no aluno e no grupo. A tendência liberal renovada apresenta-se,
entre nós, em duas versões distintas: a renovada progressivista2, ou pragmatista,
principalmente na forma difundida pelos pioneiros da educação nova, entre os quais
se destaca Anísio Teixeira (deve-se destacar, também a influência de Montessori,
34
Decroly e, de certa forma, Piaget); a renovada não-diretiva orientada para os
objetivos de auto realização (desenvolvimento pessoal) e para as relações
interpessoais, na formulação do psicólogo norte-americano Carl Rogers.
A tendência liberal tecnicista subordina a educação à sociedade, tendo como
função a preparação de "recursos humanos" (mão-de-obra para a indústria). A
sociedade industrial e tecnológica estabelece (cientificamente) as metas
econômicas, sociais e políticas, a educação treina (também cientificamente) nos
alunos os comportamentos de ajustamento a essas metas. No tecnicismo acredita-
se que a realidade contém em si suas próprias leis, bastando aos homens descobri-
las e aplicá-las. Dessa forma, o essencial não é o conteúdo da realidade, mas as
técnicas (forma) de descoberta e aplicação. A tecnologia (aproveitamento ordenado
de recursos, com base no conhecimento científico) é o meio eficaz de obter a
maximização da produção e garantir um ótimo funcionamento da sociedade; a
educação é um recurso tecnológico por excelência. Ela "é encarada como um instru-
mento capaz de promover, sem contradição, o desenvolvimento econômico pela
qualificação da mão-de-obra, pela redistribuição da renda, pela maximização da
produção e, ao mesmo tempo, pelo desenvolvimento da ‘consciência política
indispensável à manutenção do Estado autoritário”. Utiliza-se basicamente do
enfoque sistêmico, da tecnologia educacional e da análise experimental do
comportamento.
O termo "progressista", emprestado de Snyders9, é usado aqui para designar
as tendências que, partindo de uma análise crítica das realidades sociais, sustentam
implicitamente as finalidades sociopolíticas da educação. Evidentemente a
pedagogia progressista não tem como institucionalizar-se numa sociedade
capitalista; daí ser ela um instrumento de luta dos professores ao lado de outras
práticas sociais.
A pedagogia progressista tem-se manifestado em três tendências: a
libertadora, mais conhecida como pedagogia de Paulo Freire; a libertária, que reúne
os defensores da autogestão pedagógica; a crítico-social dos conteúdos que,
diferentemente das anteriores, acentua a primazia dos conteúdos no seu confronto
com as realidades sociais.
As versões libertadora e libertária têm em comum o antiautoritarismo, a
valorização da experiência vívida como base da relação educativa e a ideia de
autogestão pedagógica. Em função disso, dão mais valor ao processo de
35
aprendizagem grupal (participação em discussões, assembleias, votações) do que
aos conteúdos de ensino. Como decorrência, a prática educativa somente faz
sentido numa prática social junto ao povo, razão pela qual preferem as modalidades
de educação popular "não-formal".
A tendência da pedagogia crítico-social dos conteúdos propõe uma síntese
superadora das pedagogias tradicional e renovada, valorizando a ação pedagógica
enquanto inserida na prática social concreta. Entende a escola como mediação entre
o individual e o social, exercendo aí a articulação entre a transmissão dos conteúdos
e a assimilação ativa por parte de um aluno concreto (inserido num contexto de
relações sociais); dessa articulação resulta o saber criticamente reelaborado.
Fonte: QUEIROZ, Cecília; MOITA, Filomena. As tendências pedagógicas e seus Pressupostos, p.4
36
seu lugar junto aos mais capazes. Caso não consigam, devem procurar o ensino
mais profissionalizante.
Conteúdos de ensino - São os conhecimentos e valores sociais acumulados
pelas gerações adultas e repassados ao aluno como verdades. As matérias de
estudo visam preparar o aluno para a vida, são determinadas pela sociedade e
ordenadas na legislação. Os conteúdos são separados da experiência do aluno e
das realidades sociais, valendo pelo valor intelectual, razão pela qual a pedagogia
tradicional é criticada como intelectualista e, às vezes, como enciclopédica.
Métodos - Baseiam-se na exposição verbal da matéria e/ou demonstração.
Tanto a exposição quanto a análise são feitas pelo professor, observados os
seguintes passos: a) preparação do aluno (definição do trabalho, recordação da
matéria anterior, despertar interesse); b) apresentação (realce de pontos-chaves,
demonstração); c) associação (combinação do conhecimento novo com o já
conhecido por comparação e abstração); d) generalização (dos aspectos particulares
chega-se ao conceito geral, é a exposição sistematizada); e) aplicação (explicação
de fatos adicionais e/ou resoluções de exercícios). A ênfase nos exercícios, na
repetição de conceitos ou fórmulas na memorização visa disciplinar a mente e
formar hábitos.
Relacionamento professor-aluno - Predomina a autoridade do professor
que exige atitude receptiva dos alunos e impede qualquer comunicação entre eles
no decorrer da aula. O professor transmite o conteúdo na forma de verdade a ser
absorvida; em consequência, a disciplina imposta é o meio mais eficaz para
assegurar a atenção e o silêncio.
Pressupostos de aprendizagem - A ideia de que o ensino consiste em
repassar os conhecimentos para o espírito da criança é acompanhada de uma outra:
a de que a capacidade de assimilação da criança é idêntica à do adulto, apenas
menos desenvolvida. Os programas, então, devem ser dados numa progressão
lógica, estabelecida pelo adulto, sem levar em conta as características próprias de
cada idade. A aprendizagem, assim, é receptiva e mecânica, para o que se recorre
frequentemente à coação. A retenção do material ensinado é garantida pela
repetição de exercícios sistemáticos e recapitulação da matéria. A transferência da
aprendizagem depende do treino; é indispensável a retenção, a fim de que o aluno
possa responder às situações novas de forma semelhante às respostas dadas em
situações anteriores. A avaliação se dá por verificações de curto prazo (interroga-
37
tórios orais, exercício de casa) e de prazo mais longo (provas escritas, trabalhos de
casa). O esforço é, em geral, negativo (punição, notas baixas, apelos aos pais); às
vezes, é positivo (emulação, classificações).
Manifestações na prática escolar - A pedagogia liberal tradicional é viva e
atuante em nossas escolas. Na descrição apresentada aqui incluem-se as escolas
religiosas ou leigas que adotam uma orientação clássico-humanista ou uma
orientação humano-científica, sendo que está se aproxima mais do modelo de
escola predominante em nossa história educacional.
Fonte: QUEIROZ, Cecília; MOITA, Filomena. As tendências pedagógicas e seus Pressupostos, p.7
38
processo ativo de construção e reconstrução do objeto, numa interação entre
estruturas cognitivas do indivíduo e estruturas do ambiente.
Conteúdos de ensino - Como o conhecimento resulta da ação a partir dos
interesses e necessidades, os conteúdos de ensino são estabelecidos em função de
experiências que o sujeito vivencia frente a desafios cognitivos e situações
problemáticas. Dá-se, portanto, muito mais valor aos processos mentais e
habilidades cognitivas do que a conteúdos organizados racionalmente. Trata-se de
"aprender a aprender", ou seja, é mais importante o processo de aquisição do saber
do que o saber propriamente dito.
Método de ensino - A ideia de "aprender fazendo" está sempre presente.
Valorizam-se as tentativas experimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do
meio natural e social, o método de solução de problemas. Embora os métodos
variem, as escolas ativas ou novas (Dewey, Montessori, Decroly, Cousinet e outros)
partem sempre de atividades adequadas à natureza do aluno e às etapas do seu
desenvolvimento. Na maioria delas, acentua-se a importância do trabalho em grupo
não apenas como técnica, mas como condição básica do desenvolvimento mental.
Os passos básicos do método ativo são: a) colocar o aluno numa situação de
experiência que tenha um interesse por si mesma; b) o problema deve ser
desafiante, como estímulo à reflexão; c) o aluno deve dispor de informações e
instruções que lhe permitam pesquisar a descoberta de soluções; d) soluções provi-
sórias devem ser incentivadas e ordenadas, com a ajuda discreta do professor; e)
deve-se garantir a oportunidade de colocar as soluções à prova, a fim de determinar
sua utilidade para a vida.
Relacionamento professor-aluno - Não há lugar privilegiado para o
professor; antes, seu papel é auxiliar o desenvolvimento livre e espontâneo da
criança; se intervém, é para dar forma ao raciocínio dela. A disciplina surge de uma
tomada de consciência dos limites da vida grupal; assim, aluno disciplinado é aquele
que é solidário, participante, respeitador das regras do grupo. Para se garantir um
clima harmonioso dentro da sala de aula é indispensável um relacionamento positivo
entre professores e alunos, uma forma de instaurar a "vivência democrática" tal qual
deve ser a vida em sociedade.
Pressupostos de aprendizagem - A motivação depende da força de
estimulação do problema e das disposições internas e interesses do aluno. Assim,
aprender se torna uma atividade de descoberta, é uma autoaprendizagem, sendo o
39
ambiente apenas o meio estimulador. É retido o que se incorpora à atividade do
aluno pela descoberta pessoal; o que é incorporado passa a compor a estrutura
cognitiva para ser empregado em novas situações. A avaliação é fluida e tenta ser
eficaz à medida que os esforços e os êxitos são pronta e explicitamente
reconhecidos pelo professor.
Manifestações na prática escolar - Os princípios da pedagogia progressista
vêm sendo difundidos, em larga escala, nos cursos de licenciatura, e muitos
professores sofrem sua influência. Entretanto, sua aplicação é reduzidíssima, não
somente por falta de condições objetivas como também porque se choca com uma
prática pedagógica basicamente tradicional. Alguns métodos são adotados em
escolas particulares, como o método Montessori, o método dos centros de interesse
de Decroly, o método de projetos de Dewey. O ensino baseado na psicologia
genética de Piaget tem larga aceitação na educação pré-escolar. Pertencem,
também, à tendência progressivista muitas das escolas denominadas
"experimentais", as "escolas comunitárias" e mais remotamente (década de 60) a
"escola secundária moderna", na versão difundida por Lauro de Oliveira Lima.
Fonte: slideplayer.com.br
40
Papel da escola – Acentua-se nesta tendência o papel da escola na
formação de atitudes, razão pela qual deve estar mais preocupada com os
problemas psicológicos do que com os pedagógicos ou sociais. Todo esforço está
em estabelecer um clima favorável a uma mudança dentro do indivíduo, isto é, a
uma adequação pessoal ás solicitações do ambiente. Rogers4 considera que o
ensino é uma atividade excessivamente valorizada; para ele os procedimentos
didáticos, a competência na matéria, as aulas, livros, tudo tem muito pouca
importância, face ao propósito de favorecer à pessoa um clima de
autodesenvolvimento e realização pessoal, o que implica estar bem consigo próprio
e com seus semelhantes. O resultado de uma boa educação é muito semelhante ao
de uma boa terapia.
Conteúdos de ensino – A ênfase que esta tendência põe nos processos de
desenvolvimento das relações e da comunicação torna secundária a transmissão de
conteúdos. Os processos de ensino visam mais facilitar aos estudantes os meios
para buscarem por si mesmos os conhecimentos que, no entanto, são dispensáveis.
Métodos de ensino – Os métodos usuais são dispensados, prevalecendo
quase que exclusivamente o esforço do professor em desenvolver um estilo próprio
para facilitar a aprendizagem dos alunos. Rogers explicita algumas das
características do professor "facilitador": aceitação da pessoa do aluno, capacidade
de ser confiável, receptivo e ter plena convicção na capacidade de
autodesenvolvimento do estudante. Sua função restringe-se a ajudar o aluno a se
organizar, utilizando técnicas de sensibilização onde os sentimentos de cada um
possam ser expostos, sem ameaças. Assim, o objetivo do trabalho escolar se esgota
nos processos de melhor relacionamento interpessoal, como condição para o
crescimento pessoal.
Relacionamento professor-aluno – A pedagogia não-diretiva propõe uma
educação centrada no aluno, visando formar sua personalidade através da vivência
de experiências significativas que lhe permitam desenvolver características inerentes
à sua natureza. O professor é um especialista em relações humanas, ao garantir o
clima de relacionamento pessoal e autêntico. Toda intervenção é ameaçadora,
inibidora da aprendizagem.
Pressupostos de aprendizagem – A motivação resulta do desejo de
adequação pessoal na busca da auto realização; é, portanto, um ato interno. A
motivação aumenta, quando o sujeito desenvolve o sentimento de que é capaz de
41
agir em termos de atingir suas metas pessoais, isto é, desenvolve a valorização do
"eu". Aprender, portanto, é modificar suas próprias percepções; daí que apenas se
aprende o que estiver significativamente relacionado com essas percepções. Resulta
que a retenção se dá pela relevância do aprendido em relação ao "eu", ou seja, o
que não está envolvido com o "eu" não é retido e nem transferido. Portanto, a
avaliação escolar perde inteiramente o sentido, privilegiando-se a auto avaliação.
Manifestações na prática escolar - Entre nós, o inspirador da pedagogia
não-diretiva é C. Rogers, na verdade mais psicólogo clínico que educador. Suas
ideias influenciam um número expressivo de educadores e professores,
principalmente orientadores educacionais e psicólogos escolares que se dedicam ao
aconselhamento.
Fonte: QUEIROZ, Cecília; MOITA, Filomena. As tendências pedagógicas e seus Pressupostos, p.9
42
indivíduos se integrem na máquina do sistema social global. Tal sistema social é
regido por leis naturais (há na sociedade a mesma regularidade e as mesmas
relações funcionais observáveis entre os fenômenos da natureza), cientificamente
descobertas. Basta aplica-las. A atividade da "descoberta" é função da educação,
mas deve ser restrita aos especialistas; a "aplicação" é competência do processo
educacional comum. A escola atua, assim, no aperfeiçoamento da ordem social
vigente (o sistema capitalista), articulando-se diretamente com o sistema produtivo;
para tanto, emprega a ciência da mudança de comportamento, ou seja, a tecnologia
comportamental. Seu interesse imediato é o de produzir indivíduos "competentes"
para o mercado de trabalho, transmitindo, eficientemente, informações precisas,
objetivas e rápidas. A pesquisa científica, a tecnologia educacional, a análise
experimental do comportamento garantem a objetividade da prática escolar, uma vez
que os objetivos instrucionais (conteúdos) resultam da aplicação de leis naturais que
independem dos que a conhecem ou executam.
Conteúdos de ensino - São as informações, princípios científicos, leis etc.,
estabelecidos e ordenados numa sequência lógica e psicológica por especialistas. É
matéria de ensino apenas o que é redutível ao conhecimento observável e
mensurável; os conteúdos decorrem, assim, da ciência objetiva, eliminando-se
qualquer sinal de subjetividade. O material instrucional encontra-se sistematizado
nos manuais, nos livros didáticos, nos módulos de ensino, nos dispositivos
audiovisuais etc.
Métodos de ensino - Consistem nos procedimentos e técnicas necessárias
ao arranjo e controle nas condições ambientais que assegurem a
transmissão/recepção de informações. Se a primeira tarefa do professor é modelar
respostas apropriadas aos objetivos instrucionais, a principal é conseguir o
comportamento adequado pelo controle do ensino; daí a importância da tecnologia
educacional. A tecnologia educacional é a "aplicação sistemática de princípios
científicos comportamentais e tecnológicos a problemas educacionais, em função de
resultados efetivos, utilizando uma metodologia e abordagem sistêmica
abrangente"5. Qualquer sistema instrucional (há uma grande variedade deles)
possui três componentes básicos: objetivos instrucionais operacionalizados em
comportamentos observáveis e mensuráveis, procedimentos instrucionais e
avaliação. As etapas básicas de um processo ensino-aprendizagem são: a)
estabelecimento de comportamentos terminais, através de objetivos instrucionais; b)
43
análise da tarefa de aprendizagem, a fim de ordenar sequencialmente os passos da
instrução; c) executar o programa, reforçando gradualmente as respostas corretas
correspondentes aos objetivos. O essencial da tecnologia educacional é a
programação por passos sequenciais empregada na instrução programada, nas
técnicas de microensino, multimeios, módulos etc. O emprego da tecnologia
instrucional na escola pública aparece nas formas de: planejamento em moldes
sistêmicos, concepção de aprendizagem como mudança de comportamento,
operacionalização de objetivos, uso de procedimentos científicos (instrução
programada, audiovisuais, avaliação etc., inclusive a programação de livros
didáticos).
Relacionamento professor-aluno - São relações estruturadas e objetivas,
com papéis bem definidos: o professor administra as condições de transmissão da
matéria, conforme um sistema instrucional eficiente e efetivo em termos de
resultados da aprendizagem; o aluno recebe, aprende e fixa as informações. O
professor é apenas um elo de ligação entre a verdade científica e o aluno, cabendo-
lhe empregar o sistema instrucional previsto. O aluno é um indivíduo responsivo, não
participa da elaboração do programa educacional. Ambos são espectadores frente à
verdade objetiva. A comunicação professor-aluno tem um sentido exclusivamente
técnico, que é o de garantir a eficácia da transmissão do conhecimento. Debates,
discussões, questionamentos são desnecessários, assim como pouco importam as
relações afetivas e pessoais dos sujeitos envolvidos no processo ensino
aprendizagem.
Pressupostos de aprendizagem - As teorias de aprendizagem que
fundamentam a pedagogia tecnicista dizem que aprender é uma questão de
modificação do desempenho: o bom ensino depende de organizar eficientemente as
condições estimuladoras, de modo a que o aluno saia da situação de aprendizagem
diferente de como entrou. Ou seja, o ensino é um processo de condicionamento
através do uso de reforçamento das respostas que se quer obter. Assim, os
sistemas instrucionais visam ao controle do comportamento individual face objetivos
preestabelecidos. Trata-se de um enfoque diretivo do ensino, centrado no controle
das condições que cercam o organismo que se comporta. O objetivo da ciência
pedagógica, a partir da psicologia, é o estudo científico do comportamento: descobrir
as leis naturais que presidem as reações físicas do organismo que aprende, a fim de
aumentar o controle das variáveis que o afetam. Os componentes da aprendizagem
44
- motivação, retenção, transferência - decorrem da aplicação do comportamento
operante Segundo Skinner, o comportamento aprendido é uma resposta a estímulos
externos, controlados por meio de reforços que ocorrem com a resposta ou após a
mesma: "Se a ocorrência de um (comportamento) operante é seguida pela
apresentação de um estímulo (reforçador), a probabilidade de reforçamento é
aumentada". Entre os autores que contribuem para os estudos de aprendizagem
destacam-se: Skinner, Gagné, Bloon e Mager.
Manifestações na prática escolar - A influência da pedagogia tecnicista
remonta à 2ª metade dos anos 50 (PABAEE - Programa Brasileiro-americano de
Auxílio ao Ensino Elementar). Entretanto foi introduzida mais efetivamente no final
dos anos 60 com o objetivo de adequar o sistema educacional à orientação político-
econômica do regime militar: inserir a escola nos modelos de racionalização do
sistema de produção capitalista. É quando a orientação escola novista cede lugar à
tendência tecnicista, pelo menos no nível de política oficial; os marcos de
implantação do modelo tecnicista são as leis 5.540/68 e 5.692/71, que reorganizam
o ensino superior e o ensino de 1º e 2º graus. A despeito da máquina oficial,
entretanto, não há indícios seguros de que os professores da escola pública tenham
assimilado a pedagogia tecnicista, pelo menos em termos de ideário. A aplicação da
metodologia tecnicista (planejamento, livros didáticos programados, procedimentos
de avaliação etc.) não configura uma postura tecnicista do professor; antes, o
exercício profissional continua mais para uma postura eclética em torno de princípios
pedagógicos assentados nas pedagogias tradicional e renovada.
45
19 TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTADORA
Fonte: QUEIROZ, Cecília; MOITA, Filomena. As tendências pedagógicas e seus Pressupostos, p.13
46
se parte. O importante não é a transmissão de conteúdos específicos, mas despertar
uma nova forma da relação com a experiência vivida. A transmissão de conteúdos
estruturados a partir de fora é considerada como "invasão cultural" ou “depósito de
informação’’ porque não emerge do saber popular. Se forem necessários textos de
leitura estes deverão ser redigidos pelos próprios educandos com a orientação do
educador”.
Em nenhum momento o inspirador e mentor da pedagogia libertador Paulo
Freire, deixa de mencionar o caráter essencialmente político de sua pedagogia, o
que, segundo suas próprias palavras, impede que ela seja posta em prática em
termos sistemáticos, nas instituições oficiais, antes da transformação da sociedade.
Daí porque sua atuação se dê mais a nível da educação extraescolar. O que não
tem impedido, por outro lado, que seus pressupostos sejam adotados e aplicados
por numerosos professores.
Métodos de ensino - "Para ser um ato de conhecimento o processo de
alfabetização de adultos demanda, entre educadores e educandos, uma relação de
autêntico diálogo; aquela em que os sujeitos do ato de conhecer se encontram
mediatizados pelo objeto a ser conhecido" (...) "O diálogo engaja ativamente a
ambos os sujeitos do ato de conhecer: educador-educando e educando-educador".
Assim sendo, a forma de trabalho educativo é o "grupo de discussão a quem
cabe autogerir a aprendizagem, definindo o conteúdo e a dinâmico das atividades. O
professor é um animador que, por princípio, deve “descer ao nível dos alunos,
adaptando-se às suas características e ao desenvolvimento próprio de cada grupo.
Deve caminhar "junto", intervir o mínimo indispensável, embora não se furte, quando
necessário, a fornecer uma informação mais sistematizada.
Os passos da aprendizagem - Codificação-decodificação, e problematização
da situação - permitirão aos educandos um esforço de compreensão do "vivido", até
chegar a um nível mais crítico de conhecimento e sua realidade, sempre através da
troca de experiência em torno da prática social. Se nisso consiste o conteúdo do
trabalho educativo, dispensam um programa previamente estruturado, trabalhos
escritos, aulas expositivas assim como qualquer tipo de verificação direta da
aprendizagem, formas essas próprias da "educação bancária", portanto,
domesticadoras. Entretanto admite-se a avaliação da pratica vivenciada entre
educador-educandos no processo de grupo e, às vezes, a auto avaliação feita em
termos dos compromissos assumidos com a pratica social.
47
Relacionamento professor-aluno - No diálogo, como método básico, a
relação é horizontal, onde educador e educandos se posicionam como sujeitos do
ato de conhecimento. O critério de bom relacionamento é a "' total identificação com
o povo, sem o que a relação pedagógica perde consistência. Elimina-se, por
pressuposto, toda relação de autoridade, sob pena de esta inviabilizar o trabalho de
conscientização, de "aproximação de consciências". Trata-se de uma "não-
diretividade", mas não no sentido do professor que se ausenta (como em Rogers),
mas que permanece vigilante para assegurar ao grupo um espaço humano para
"dizer sua palavra" para se exprimir sem se neutralizar.
Pressupostos de aprendizagem - A própria designação de "educação
problematizadora" como correlata de educação libertadora revela a força motivadora
da aprendizagem. A motivação se dá a partir da codificação de uma situação-
problema, da qual se toma distância para analisá-la criticamente. "Esta análise
envolve o exercício da abstração, através da qual procuramos alcançar, por meio de
representações da realidade concreta, a razão de ser dos fatos".
Manifestações na prática escolar - A pedagogia libertadora tem como
inspirador e divulgador Paulo Freire, que tem aplicado suas ideias pessoalmente em
diversos países, primeiro no Chile, depois na África. Entre nós, tem exercido uma
influência expressiva nos movimentos populares e sindicatos e, praticamente, se
confunde com a maior parte das experiências do que se denomina "educação
popular". Há diversos grupos desta natureza que vêm atuando não somente no nível
da prática popular, mas também por meio de publicações, com relativa
independência em relação às ideias originais da pedagogia libertadora. Embora as
formulações teóricas de Paulo Freire se restrinjam à educação de adultos ou à
educação popular em geral, muitos professores vêm tentando colocá-las em prática
em todos os graus de ensino formal.
48
20 TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTÁRIA
Fonte: QUEIROZ, Cecília; MOITA, Filomena. As tendências pedagógicas e seus Pressupostos, p.14
49
Conteúdos de ensino - As matérias são colocadas à disposição do aluno,
mas não são exigidas. São um instrumento a mais, porque importante é o
conhecimento que resulta das experiências vividas pelo grupo, especialmente a
vivência de mecanismos de participação crítica. "Conhecimento" aqui não é a
investigação cognitiva do real, para extrair dele um sistema de representações
mentais, mas a descoberta de respostas as necessidades e às exigências da vida
social. Assim, os conteúdos propriamente ditos são os que resultam de
necessidades e interesses manifestos pelo grupo e que não são, necessária nem
indispensavelmente, as matérias de estudo.
Método de ensino - É na vivência grupal, na forma de autogestão, que os
alunos buscarão encontrar as bases mais satisfatórias de sua própria "instituição",
graças à sua própria iniciativa e sem qualquer forma de poder. Trata-se de "colocar
nas mãos dos alunos tudo o que for possível: o conjunto da vida, as atividades e a
organização do trabalho no interior da escola (menos a elaboração dos programas e
a decisão dos exames que não dependem nem dos docentes, nem dos alunos)". Os
alunos têm liberdade de trabalhar ou não, ficando o interesse pedagógico na
dependência de suas necessidades ou das do grupo. O progresso da autonomia,
excluída qualquer direção de fora do grupo, se dá num "crescendo": primeiramente a
oportunidade de contatos, aberturas, relações informais entre os alunos. Em
seguida, o grupo começa a se organizar, de modo que todos possam participar de
discussões, cooperativas, assembleias, isto é, diversas formas de participação e
expressão pela palavra; quem quiser fazer outra coisa, ou entra em acordo com o
grupo, ou se retira. No terceiro momento, o grupo se organiza de forma mais efetiva
e, finalmente, no quarto momento, parte para a execução do trabalho.
Relação professor-aluno - A pedagogia institucional visa "em primeiro lugar,
transformar a relação professor-aluno no sentido da não-diretividade, isto é,
considerar desde o início a ineficácia e a nocividade de todos os métodos à base de
obrigações e ameaças". Embora professor e aluno sejam desiguais e diferentes,
nada impede que o professor se ponha a serviço do aluno, sem impor suas
concepções e ideias, sem transformar o aluno em “objeto". O professor é um
orientador e um catalisador, ele se mistura ao grupo para uma reflexão em comum.
Se os alunos são livres frente ao professor, também este o é em relação aos
alunos (ele pode, por exemplo, recusar-se a responder uma pergunta,
permanecendo em silêncio). Entretanto, essa liberdade de decisão tem um sentido
50
bastante claro: se um aluno resolve não participar, o faz porque não se sente
integrado, mas o grupo tem responsabilidade sobre este fato e vai se colocar a
questão; quando o professor se cala diante de uma pergunta, seu silêncio tem um
significado educativo que pode, por exemplo, ser uma ajuda para que o grupo
assuma a resposta ou a situação criada. No mais, ao professor cabe a função de
"conselheiro" e, outras vezes, de instrutor-monitor à disposição do grupo. Em
nenhum momento esses papéis do professor se confundem com o de "modelo", pois
a pedagogia libertária recusa qualquer forma de poder ou autoridade.
Pressupostos de aprendizagem - As formas burocráticas das instituições
existentes, por seu traço de impessoalidade, comprometem o crescimento pessoal.
A ênfase na aprendizagem informal, via grupo, e a negação de toda forma de
repressão visam favorecer o desenvolvimento de pessoas mais livres. A motivação
está, portanto, no interesse em crescer dentro da vivência grupal, pois supõe-se que
o grupo devolva a cada um de seus membros a satisfação de suas aspirações e
necessidades.
Somente o vivido, o experimentado é incorporado e utilizável em situações
novas. Assim, o critério de relevância do saber sistematizado é seu possível uso
prático. Por isso mesmo, não faz sentido qualquer tentativa de avaliação da
aprendizagem, ao menos em termos de conteúdo.
Outras tendências pedagógicas correlatas - A pedagogia libertária abrange
quase todas as tendências antiautoritárias em educação, entre elas, a anarquista, a
psicanalista, a dos sociólogos, e também a dos professores progressistas. Embora
Neill e Rogers não possam ser considerados progressistas (conforme entendemos
aqui), não deixam de influenciar alguns libertários, como Lobrot. Entre os
estrangeiros devemos citar Vasquez c Oury entre os mais recentes, Ferrer y Guardia
entre os mais antigos. Particularmente significativo é o trabalho de C. Freinet, que
tem sido muito estudado entre nós, existindo inclusive algumas escolas aplicando
seu método. Entre os estudiosos e divulgadores da tendência libertária pode-se citar
Maurício Tragtenberg, apesar da tônica de seus trabalhos não ser propriamente
pedagógica, mas de crítica das instituições em favor de um projeto auto gestionário.
51
21 TENDÊNCIA PROGRESSISTA “CRÍTICO SOCIAL DOS CONTEÚDOS”
Fonte: QUEIROZ, Cecília; MOITA, Filomena. As tendências pedagógicas e seus Pressupostos, p.15
52
aquisição de conteúdos e da socialização, para uma participação organizada e ativa
na democratização da sociedade.
Conteúdos de ensino - São os conteúdos culturais universais que se
constituíram em domínios de conhecimento relativamente autônomos, incorporados
pela humanidade, mas permanentemente reavaliados face às realidades sociais.
Embora se aceite que os conteúdos são realidades exteriores ao aluno, que devem
ser assimilados e não simplesmente reinventados eles não são fechados e
refratários às realidades sociais. Não basta que os conteúdos sejam apenas
ensinados, ainda que bem ensinados, é preciso que se liguem, de forma
indissociável, à sua significação humana e social.
Essa maneira de conceber os conteúdos do saber não estabelece oposição
entre cultura erudita e cultura popular, ou espontânea, mas uma relação de
continuidade em que, progressivamente, se passa da experiência imediata e
desorganizada ao conhecimento sistematematizado. Não que a primeira apreensão
da realidade seja errada, mas é necessária a ascensão a uma forma de elaboração
superior, conseguida pelo próprio aluno, com a intervenção do professor.
A postura da pedagogia "dos conteúdos" - Ao admitir um conhecimento
relativamente autônomo - assume o saber como tendo um conteúdo relativamente
objetivo, mas, ao mesmo tempo, introduz a possibilidade de uma reavaliação crítica
frente a esse conteúdo. Como sintetiza Snyders, ao mencionar o papel do professor,
trata-se, de um lado, de obter o acesso do aluno aos conteúdos, ligando-os com a
experiência concreta dele - a continuidade; mas, de outro, de proporcionar
elementos de análise crítica que ajudem o aluno a ultrapassar a experiência, os
estereótipos, as pressões difusas da ideologia dominante - é a ruptura.
Dessas considerações resulta claro que se pode ir do saber ao engajamento
político, mas não o inverso, sob o risco de se afetar a própria especificidade do
saber e até cair-se numa forma de pedagogia ideológica, que é o que se crítica na
pedagogia tradicional e na pedagogia nova.
Métodos de ensino - A questão dos métodos se subordina à dos conteúdos:
se o objetivo é privilegiar a aquisição do saber, e de um saber vinculado às
realidades sociais, é preciso que os métodos favoreçam a correspondência dos
conteúdos com os interesses dos alunos, e que estes possam reconhecer nos
conteúdos o auxílio ao seu esforço de compreensão da realidade (prática social).
Assim, nem se trata dos métodos dogmáticos de transmissão do saber da pedagogia
53
tradicional, nem da sua substituição pela descoberta, investigação ou livre expressão
das opiniões, como se o saber pudesse ser inventado pela criança, na concepção da
pedagogia renovada.
Os métodos de uma pedagogia crítico-social dos conteúdos não partem,
então, de um saber artificial, depositado a partir de fora, nem do saber espontâneo,
mas de uma relação direta com a experiência do aluno, confrontada com o saber
trazido de fora. O trabalho docente relaciona a prática vivida pelos alunos com os
conteúdos propostos pelo professor, momento em que se dará a "ruptura" em
relação à experiência pouco elaborada. Tal ruptura apenas é possível com a
introdução explícita, pelo professor, dos elementos novos de análise a serem
aplicados criticamente à prática do aluno. Em outras palavras, uma aula começa
pela constatação da prática real, havendo, em seguida, a consciência dessa prática
no sentido de referi-la aos termos do conteúdo proposto, na forma de um confronto
entre a experiência e a explicação do professor. Vale dizer: vai-se da ação à com-
preensão e da compreensão à ação, até a síntese, o que não é outra coisa senão a
unidade entre a teoria e a prática.
Relação professor-aluno - Se, como mostramos anteriormente, o co-
nhecimento resulta de trocas que se estabelecem na interação entre o meio (natural,
social, cultural) e o sujeito, sendo o professor o mediador, então a relação
pedagógica consiste no provimento das condições em que professores e alunos
possam colaborar para fazer progredir essas trocas. O papel do adulto é
insubstituível, mas acentua-se também a participação do aluno no processo. Ou
seja, o aluno, com sua experiência imediata num contexto cultural, participa na
busca da verdade, ao confrontá-la com os conteúdos e modelos expressos pelo
professor. Mas esse esforço do professor em orientar, em abrir perspectivas a partir
dos conteúdos, implica um envolvimento com o estilo de vida dos alunos, tendo
consciência inclusive dos contrastes entre sua própria cultura e a do aluno. Não se
contentará, entretanto, em satisfazer apenas as necessidades e carências; buscará
despertar outras necessidades, acelerar e disciplinar os métodos de estudo, exigir o
esforço do aluno, propor conteúdos e modelos compatíveis com suas experiências
vividas, para que o aluno se mobilize para uma participação ativa.
Evidentemente o papel de mediação exercido em torno da análise dos
conteúdos exclui a não-diretividade como forma de orientação do trabalho escolar,
por que o diálogo adulto-aluno é desigual. O adulto tem mais experiência acerca das
54
realidades sociais, dispõe de uma formação (ao menos deve dispor) para ensinar,
possui conhecimentos e a ele cabe fazer a análise dos conteúdos em confronto com
as realidades sociais. A não-diretividade abandona os alunos a seus próprios
desejos, como se eles tivessem uma tendência espontânea a alcançar os objetivos
esperados da educação. Sabemos que as tendências espontâneas e naturais não
são “naturais” ´, antes são tributárias das condições de vida e do meio. Não são
suficientes o amor, a aceitação, para que os filhos dos trabalhadores adquiram o
desejo de estudar mais, de progredir: é necessária a intervenção do professor para
levar o aluno a acreditar nas suas possibilidades, a ir mais longe, a prolongar a
experiência vivida.
Pressupostos de aprendizagem - Por um esforço próprio, o aluno se
reconhece nos conteúdos e modelos sociais apresentados pelo professor; assim,
pode ampliar sua própria experiência. O conhecimento novo se apoia numa estrutura
cognitiva já existente, ou o professor provê a estrutura de que o aluno ainda não
dispõe. O grau de envolvimento na aprendizagem dependa tanto da prontidão e
disposição do aluno, quanto do professor e do contexto da sala de aula.
Aprender, dentro da visão da pedagogia dos conteúdos, é desenvolver a
capacidade de processar informações e lidar com os estímulos do ambiente,
organizando os dados disponíveis da experiência. Em consequência, admite-se o
princípio da aprendizagem significativa que supõe, como passo inicial, verificar
aquilo que o aluno já sabe. O professor precisa saber (compreender) o que os
alunos dizem ou fazem, o aluno precisa compreender o que o professor procura
dizer-lhes. A transferência da aprendizagem se dá a partir do momento da síntese,
isto é, quando o aluno supera sua visão parcial e confusa e adquire uma visão mais
clara e unificadora.
Resulta com clareza que o trabalho escolar precisa ser avaliado, não como
julgamento definitivo e dogmático do professor, mas como uma comprovação para o
aluno de seu progresso em direção a noções mais sistematizadas.
Manifestações na prática escolar - O esforço de elaboração de uma
pedagogia “dos conteúdos” está em propor modelos de ensino voltados para a
interação conteúdos-realidades sociais; portanto, visando avançar em termos de
uma articulação do político e do pedagógico, aquele como extensão deste, ou seja,
a educação "a serviço da transformação das relações de produção". Ainda que a
curto prazo se espere do professor maior conhecimento dos conteúdos de sua
55
matéria e o domínio de formas de transmissão, a fim de garantir maior competência
técnica, sua contribuição "será tanto mais eficaz quanto mais seja capaz de
compreender os vínculos de sua prática com a prática social global", tendo em vista
(...) "a democratização da sociedade brasileira, o atendimento aos interesses das
camadas populares, a transformação estrutural da sociedade brasileira"14.
Dentro das linhas gerais expostas aqui, podemos citar a experiência pioneira,
mas mais remota do educador e escritor russo, Makarenko. Entre os autores atuais
citamos B. Charlot, Suchodolski, Manacorda e, de maneira especial, G. Snyders,
além dos autores brasileiros que vem desenvolvendo investigações relevantes,
destacando-se Demerval Saviani. Representam também as propostas aqui
apresentadas os inúmeros professores da rede escolar pública que se ocupam,
competentemente, de uma pedagogia de conteúdos articulada com a adoção de
métodos que garantam a participação do aluno que, muitas vezes sem saber
avançam na democratização do ensino para as camadas populares.
Fonte: slideplayer.com.br
56
A doutrina liberal veio como um meio de justificar o sistema capitalista que,
ao defender a liberdade e os interesses individuais da sociedade, estabeleceu uma
maneira de organização social baseada na propriedade privada dos meios de
produção, também denominada sociedade de classes. Portanto a pedagogia liberal
é uma manifestação própria desse tipo de sociedade. Nesse caso, o termo liberal
não tem o sentido de "avançado", "democrático", "aberto", como costuma ser usado.
A educação no Brasil vem sendo marcada pelas tendências liberais que ora são
renovadas, ora conservadoras.
A pedagogia liberal traz a ideia de que a escola tem por objetivo preparar o
educando para o seu papel social, de acordo com suas aptidões, devendo se
adaptar às normas da sociedade e seus valores.
Existem quatro tipos de tendências liberais:
Tradicional: se caracteriza por acentuar o ensino humanístico em que o
aluno é levado a atingir suas próprias realizações de acordo com seus próprios
esforços. Tem como objetivo a transmissão dos padrões, normas e modelos
dominantes. Os conteúdos escolares são separados da realidade social e da
capacidade cognitiva dos alunos, sendo impostos como verdade absoluta em que
apenas o professor tem razão. Sua metodologia é baseada na memorização, o que
contribui para uma aprendizagem mecânica, passiva e repetitiva.
Renovada: se caracteriza por acentuar a cultura como o desenvolvimento
das aptidões individuais. A educação escolar leva o aluno a aprender e construir seu
próprio conhecimento, considerando as fases do seu desenvolvimento. Os
conteúdos escolares passam a adequar aos interesses, ritmos e fases de raciocínio
do aluno, em que o professor deixa de ser um mero expositor de ideias e assume
um papel de criar situações que desafiam o aprendizado. A aprendizagem é
construída através dos testes e planejamentos, em que o professor passa a atender
e respeitar as necessidades individuais dos alunos.
Renovada não-diretiva: caracteriza pelo desenvolvimento da personalidade
do aluno, com o seu autoconhecimento e realização pessoal. O material teórico
escolar passa a ter um significado pessoal, indo ao encontro dos motivos e
interesses dos educandos. São incluídas atividades de sensibilidade, expressão e
comunicação interpessoal, acentuando-se a importância dos trabalhos em grupos.
Aprender torna-se um ato interno e intransferível. A relação professor-aluno passa a
ser marcada pela afetividade.
57
Tecnicista: caracteriza subordinar a educação à sociedade e enfatizar a
profissionalização e modelar o indivíduo para integrá-lo ao modelo social vigente,
tecnicista. Os conteúdos que ganham destaque são os objetivos e neutros. O
professor administra os procedimentos didáticos, enquanto o aluno recebe as
informações. O educador tem uma relação profissional e interpessoal com o aluno.
Fonte: image.slidesharecdn.com
58
social, explicando o papel do sujeito como um ser que constrói sua realidade. Ela
assume ao mesmo tempo um caráter pedagógico e político.
59
24 TENDÊNCIA PEDAGÓGICA: TRANSIÇÃO E CONFLITO
Fonte: slideplayer.com.br
“Essa questão é difícil analisar porque a gente não tem uma formação
pedagógica, que você diga: essa segue essa linha. Então, [...] tudo depende
de como passar melhor o conteúdo. ” (E-02)
“Eu enxergo que a prática (docente) é muito mais a troca. A gente aprende
quando está ensinando o aluno. Então, eu acho que para mim é um
processo dinâmico, assim, tem um feedback positivo. ” (E-03)
60
respaldados em tendência natural ou em modelos de mestres que internalizaram em
sua formação inicial.
Esse processo de transição é um fenômeno observado na sociedade
contemporânea, com novos paradigmas da ciência e mudanças em todas as áreas
do conhecimento, o que interfere nos modelos educacionais. Esta nova sociedade
integrada e complexa exige abordagens na educação que superem modelos
conservadores, mecanicistas e reducionistas, uma vez que visa ao desenvolvimento
do ser humano de modo completo, atingindo todas as suas facetas de significações
e dimensões.
Devido a essa transição, percebe-se um conflito de metodologias utilizadas,
ora se direcionando a um processo de ensino-aprendizagem mais ativo, ora
retornando a modelos tradicionais. Mesmo as docentes que definem sua atuação
como direcionada a uma perspectiva crítico-social apontam alguns impasses que
impedem o exercício da docência totalmente orientada para esta abordagem, como
se pode verificar nas falas a seguir.
“Muitas vezes, está tão dentro da nossa vivência a questão de lidar com a
metodologia tradicional que a gente se pega sendo aquele professor mais
impositivo, que quer ditar as ordens, ao invés de deixar que o próprio
estudante construa o seu conhecimento.” (E-09)
“Eu entendo que a prática docente deve caminhar para uma perspectiva que
permita a análise, a reflexão, a construção do conhecimento. Agora, isso
não é fácil, porque ainda existem concepções muito fortes em relação à
prática de transmissão de conhecimento.” (E-05)
61
25 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR: SABERES E FAZERES NECESSÁRIOS À
ATUAÇÃO DOCENTE
Fonte: blogdonikel.files.wordpress.com
62
a formação aconteça, de maneira dinâmica. Há, então, o que o autor denomina de
movimento de alternância entre as práticas produzidas e a teorização decorrente
destas práticas. Ferry apresenta três modelos de formação, o modelo de aquisições,
38 conhecer e saber transmitir os conhecimentos, o saber-fazer; o modelo do
processo, relacionado à visão de realidade, o caminhar; o modelo de análise, em
que a prática precisa ser fundamentada na teoria e a teoria precisa ser testada na
prática.
A questão da formação docente também foi abordada por Perrenoud (2000, p.
178), que afirma:
26 ARTICULAÇÃO DE SABERES
Fonte: image.slidesharecdn.com
63
É muito comum que, ao falar em qualidades de professores ou o perfil do
professor que se quer na sociedade contemporânea, haja um mar de opiniões a se
emitir. Isso se deve às experiências que as pessoas têm tido na sua vida acadêmica
ou de certa forma tenham vivenciado. A verdade é que o que alguns acham
importante que não deveria faltar na formação do professor os outros achem o
contrário. Porém, para que seja possível a formação de professores como mediador
do conhecimento, e preciso que haja uma articulação de saberes. Segundo Pimenta
(2000), a identidade do professor se baseia na articulação entre os saberes das
áreas especificas, com os saberes pedagógicos e os saberes da experiência. É a
integração desses saberes que faz possível a atuação do professor. Nenhum
conhecimento tem primazia sobre o outro e quanto mais harmonia entre eles mais
facilidade é a atuação do professor.
Nesse sentido, segundo Libâneo (2011) a disciplina de Didática é
indispensável na formação do professor já que parece articular melhor os saberes
específicos, da experiência e pedagógicos. Para ele, a formação profissional do
professor implica, pois, uma contínua interpenetração entre teoria e prática, as
teorias vinculadas aos problemas reais postos pela experiência prática e a ação
prática orientada teoricamente. Nesse caso, a disciplina de Didática se caracteriza
como mediação entre as bases teóricas – cientificas da educação escolar e a prática
docente. Ela opera como que o ponte entre “o quê?” e “o como” do processo
pedagógico escolar.
A Didática descreve e explica os nexos, relações e ligações entre o ensino e a
aprendizagem. Para isso, recorre às contribuições das ciências auxiliares da
educação e das próprias metodologias especificas. É, pois, uma matéria de estudo
que integra e articula conhecimentos teóricos e práticos obtidos nas disciplinas de
formação acadêmica, formação pedagógica e formação técnico-prática, provendo o
que é comum, básico e indispensável para o ensino de todas as demais disciplinas
de conteúdo.
Sem dúvida nenhuma, Libâneo (2011) dá ênfase à importância da disciplina
de Didática na formação do professor. Mesmo assim, percebe-se que isso não exclui
o aspecto interdisciplinar na qual há uma articulação com outras ciências da
educação.
64
27 OS SABERES ESPECÍFICOS
65
Será que a experiência na docência é
fundamental?
66
Portanto, há uma dependência entre ação e reflexão. Os saberes pedagógicos que
são construídos pelo(a) educador(a) no exercício da docência não podem ser
pensados desarticulados, decorrem da práxis social intencionada e realizada por um
sujeito histórico e consciente de seus determinantes sociais. É evidente que os
saberes pedagógicos fazem com que o educador adote a prática reflexiva em seu
exercício docente.
Para Pérez Gómez (1998), em todos estes processos parece evidente que a
pesquisa, a indagação pessoal, constitui-se como uma parte integral do ensino e da
aprendizagem, tanto na formação de cidadãos em geral, como de profissionais
docentes em particular. Os paradoxos e contradições, as controvérsias, o rigor e a
incerteza próprias de toda a indagação humana têm que acompanhar, portanto,
também os processos de ensino e formação docente reflexivo, toda vez que
proporcionem inestimáveis oportunidades de aprendizagem ligada a sua própria
prática.
Um docente reflexivo é aquele que adota uma reflexão sistemática sobre sua
própria prática docente. Ele/ela se pergunta sobre o porquê das decisões que toma
no seu exercício docente. Um ensino reflexivo significa pensar sobre o nosso
trabalho docente antes de ensinar (reflexão para a ação), durante o exercício
docente (reflexão em ação) e depois de ensinar (reflexão sobre a ação (SCHÕN,
1983). Assim, o ensino reflexivo permite que vejamos onde estamos como docentes,
para onde vamos, porque vamos e como vamos chegar lá. Ensino reflexivo significa
olhar para o que se faz na sala de aula, pensar sobre o porquê daquilo que se faz, e
pensar sobre o porquê isso funciona – é um processo de auto-observação e
autoavaliação (FARREL, 2007)
67
Fonte: www.brasilescola.com
68
político. O professor não pode ser um mero reprodutor de fazeres descobertos pelos
outros e que nada significam na hora da prática.
Segundo Paulo Freire (1997), ensinar não é transferir conhecimento, mas
criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção. Desse modo, deixa
claro que o ensino não depende exclusivamente do professor, assim como
aprendizagem não é algo apenas de aluno, as duas atividades se explicam e se
complementam; os participantes são sujeitos e não objetos um do outro.
Portanto, um bom professor busca o conhecimento didático, metodológico e
cultural disponível para construir seus saberes didáticos e metodológicos a partir da
prática e das condições presentes. Há também, uma necessidade, do educador
posicionar-se politicamente; caso contrário, estará legitimando as práticas
dominantes. Não existe lugar, um não posicionamento político no seu exercício
profissional. Uma prática pedagógica orientada nesse sentido, sem um compromisso
político, produz sujeitos que assumem modelos, sistemas e comportamentos que
estão a serviço da sociedade e de seus condicionantes.
Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com
69
A Sala de aula é um lugar privilegiado para a atuação do professor. Segundo
Florestal Fernandes (1989):
(…) a sala de aula fica na raiz da revolução social democrática; ou ela torna
o homem livre ou ficaremos entregues, de forma mistificadora, a um regime
que possui artes para readaptar-se continuamente ás transformações da
economia, da sociedade e da cultura. (…) Devemos dar um giro de 360
graus e situarmos o foco vital onde deverá estar: na sala de aula, nas
relações entre professores e alunos e no influxo que tal situação provocará
sobre a transformação da sociedade pela escola e (vice-versa).
70
30 ARTICULAÇÃO DE SABERES EXIGE UMA ABORDAGEM CONSTRUTIVISTA
DE ENSINO
Fonte: images.slideplayer.com.br
71
Piaget, é importante considerar o nível da maturidade cognitiva para que o educador
forneça os conteúdos adequados ao contexto do aluno.
No caso de Vigotsky (2001), a presença dos outros entre o nível de
desenvolvimento real e o desenvolvimento potencial, requer mediadores (ZDP). Para
ele, o processo de aprendizagem é um processo socialmente mediado. Ferreiro
(1996), na sua psicogênese, referente à aprendizagem da leitura e escrita, acredita
que a criança chega à escola com conhecimento prévio. Esse conhecimento deve
ser valorizado pelo professor. Portanto, na visão construtivista, o professor é
concebido como mediador do processo de ensino e aprendizagem.
Segundo César Coll (1987), pode-se resumir a papel do professor
construtivista das seguintes formas:
Deve permitir responder, ainda que em nível geral, às perguntas que, abertamente
ou encobertas por outras mais concretas, todos os professores se fazem: Que
significa aprender? O que ocorre quando um aluno aprende e quando não aprende?
Como se pode ajudá-lo?
72
uma referencial útil para a reflexão e tomada de decisões compartilhada, que
pressupõe o trabalho em equipe de uma escola; como referencial, é ainda mais útil
quando esse trabalho for articulado em torno das grandes decisões que afetam o
ensino e que estão sistematizadas nos projetos curriculares da escola.
31 FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Fonte: www.educadores.diaadia.pr.gov.br
73
experiência é capaz de unir a teoria à pratica na sua atuação docente. Isso quer
dizer que o professor tem que ser um pesquisador de sua prática profissional. Deve
desenvolver suas habilidades de pesquisa que lhe permitem analisar sua realidade e
produzir teorias a partir das experiências e necessidades de todos os agentes
envolvidos no processo educativo, maximizando a qualidade de educação. Além de
ser pesquisador é um profissional reflexivo e crítico. Deve ser capaz de refletir sobre
sua prática, criticando construtivamente em busca de transformação de sua forma de
ser e de atuação docente. É importante lembrar que a necessidade de mudança e
adaptação é inerente ao processo educacional. Carl Rogers (1902-1987), expoente
da Psicologia Humanista nos Estados Unidos, assim define a questão:
O único homem verdadeiramente educado é o homem que aprendeu a se
adaptar e a mudar. O homem que se dá conta de que nenhum conhecimento é
seguro. O homem que entende que a base da segurança parte somente do
processo de procurar o conhecimento. (ROGERS, 1969, P.104).
A mudança e a adaptação devem ser atitudes adotadas por um professor
hoje já que a sociedade está no processo constante de mudança e isso implica uma
forma contextualizada de educar para que a educação seja significativa na vida dos
alunos. Tudo isso é possível para aquele educador que possui os saberes
necessários a sua atuação e sabe articula-os harmoniosamente para desenvolver
um trabalho docente eficiente e eficaz.
74
32 AS 10 COMPETÊNCIAS ADQUIRIDAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Fonte: infopt-br.examtime.com
75
c) Senso estético para arte e cultura
Desenvolver o senso estético para reconhecer, valorizar e fruir as diversas
manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também para
participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
76
Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional,
reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para
lidar com elas e com a pressão do grupo.
33 COMPETÊNCIA NA EDUCAÇÃO
Fonte: www.acessa.com
77
Analisar as significações de competência, quando considerada no contexto
escolar, parece inevitável, ao menos por dois motivos. Primeiro, porque é um tema
atual, que tem seu valor reconhecido nos referenciais e parâmetros curriculares,
bem como em provas e exames coletivos (no ENEM, por exemplo). Segundo,
porque, apesar disso, nem todos os educadores reconhecem sua importância e
temem que sua ênfase na escola compita com o principal objetivo do ensino (os
conteúdos disciplinares). Comecemos, então, por isso: o que são competências? Por
que competências na educação básica, hoje? Como articular competências com as
principais intenções da escola? Ao caracterizar o que é competência, sempre gosto
de evocar os três aspectos que lhe dão significação: “pedir”; “pedir com” e “pedir
contra”. Por que “pedir”? Competência expressa um pedido, isto é, um desejo de
realização formulado por alguém, com autoridade e responsabilidade para isso.
Pedir, no caso da competência, é o mesmo que desejar. Desejar aquilo que nos
desafia para a boa realização da tarefa, que nos propomos a fazer ou cuja produção
desejamos compartilhar. Desejar, porque nunca é possível dominar completamente
os aspectos ou fatores de sua produção. Há sempre algo para aprender ou regular,
algo que depende do outro, das circunstâncias e das vicissitudes de sua realização
ou produção. Saber pedir, portanto, transforma o conteúdo de uma realização em
uma matéria complexa. A complexidade e o conjunto dos aspectos nos quais
devemos nos concentrar são tantos que precisam ser considerados caso a caso.
Ademais, o sucesso ou o fracasso de ontem não garantem o sucesso ou o fracasso
hoje ou amanhã. Consideremos, também, que pedir combina com repetir, ou seja,
pedir de novo aquilo que julgamos essencial para uma experiência. Saber pedir e
pedir de novo, de fato, são as condições de todo conhecimento.
No que diz respeito à competência, o desafio não é apenas saber pedir, mas
de saber fazê-lo junto com pessoas e coisas, no espaço e tempo do que se pretende
realizar (aprender ou ensinar, no caso da escola). Junto, no sentido, de que muitos
aspectos necessitam ser coordenados e orientados em favor do que se quer obter,
com um mínimo de sucesso. Daí a importância de saber mobilizar recursos,
cooperar, coordenar pontos de vista, envolver-se e se deixar ser envolvido,
transformar em vontade aquilo que começou como uma intenção e que há de
terminar como uma boa realização. Isso nos coloca frente a um segundo paradoxo
(a ser também examinado na segunda parte deste texto): na escola, professores
podem não ensinar e crianças podem não aprender. Ou seja, eles trabalham juntos
78
em favor de um objetivo comum, mas se esse objetivo não é alcançado (como
provam, infelizmente, todas as recentes avaliações coletivas), é como se isso não
tivesse importância ou maiores consequências (as crianças continuam na escola, os
professores continuam com seus salários e vantagens do cargo).
Por que competência é importante? Quanto mais uma sociedade torna-se
competitiva, contraditória, cheia de oportunidades e possibilidades, ainda que mal
distribuídas, cheia de pressão de tempo para realizarmos as coisas, mais a questão
da competência é crucial. Em uma sociedade tradicional, conservadora, por
exemplo, os papéis e atribuições sociais estavam definidos. Os destinos e as
consequências para os que desviavam já estavam estabelecidos. Morava-se,
trabalhava-se, casava-se, cuidava-se dos filhos de um modo já sabido, um modo
que repetia formas conhecidas e aprovadas naquela sociedade ou cultura. Mas, hoje
as coisas são diferentes. Quem garante que daqui a dez anos teremos o mesmo
trabalho, estaremos morando na mesma casa, continuaremos casados ou solteiros?
Daí a importância de saber trabalhar em contextos de conflitos, de disputa, em que
se deve “agir na urgência e decidir na incerteza”.
Fonte: unichristus.edu.br
79
Este artigo tem o intuito de evidenciar a necessidade do docente ultrapassar a
fundamentação técnica e fragmentada, para agir em situações novas e
problemáticas, que conduzam a ações decisórias e a capacidade de iniciativa,
através de uma postura flexível, permeada por uma visão sistêmica e estratégica.
Nessa perspectiva, Morim (2001) ressalta o papel do docente frente ao uso
das tecnologias de informação e comunicação de forma apropriada e
contextualizada, mantendo- se sempre em constante atualização e preparação para
desempenhar sua função.
Verifica-se que o processo de atualização e formação docente, não se
restringe ao momento da formação inicial, pois ele se prolonga por todo o trajeto
profissional do docente, mediante uma relação dialética, defendida por Freire (2008)
como essencial na prática pedagógica, quando coloca que “Quem ensina aprende
ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”.
Não obstante, Pimenta (2002) acrescenta que o saber docente, se nutre da
prática e das teorias da educação, sendo estas, de fundamental importância na
formação docente, pois permite aos sujeitos envolvidos, uma variedade de pontos de
vista, gerando uma ação contextualizada, oferecendo novos panoramas de análise
que possibilitam a compreensão dos 3 diversos contextos vivenciados por eles. Em
meio a tais considerações, percebe-se que o papel da formação abrange os
processos de criação, envolvimento, reflexão e aprendizagem, à medida que
capacita os sujeitos envolvidos para que estes busquem uma postura de
pesquisadores e transformadores.
80
35 A IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PROFESSOR
Fonte: 1.bp.blogspot.com
81
Sob a ótica sociológica, identidade pode ser definida como características
distintivas do carácter de uma pessoa ou o carácter de um grupo que se relaciona
com o que eles são e com o que tem sentido para eles. Giddens, (2004) afirma que,
o nome é um marcador importante da identidade individual, e dar um nome é
também importante do ponto de vista da identidade do grupo. O gênero, a orientação
sexual, a nacionalidade ou a etnicidade, e a classe social são as principais fontes de
identidade.
Fonte: www.slideshare.net
82
36 SER PROFESSOR: RESGATE PESSOAL E PROFISSIONAL
Fonte: coralx.ufsm.br
83
Houve um tempo que ser professor era comparado a ser sacerdote do saber,
era a manifestação de uma vocação ou missão transcendente, não o exercício de
um ofício, uma profissão.
Entretanto se educar é missão, é dom torna-se incoerente e desnecessário
exigir que o professor invista em sua formação acadêmica e continuada. Nesse
sentido a profissão docente apresenta duas especificidades que nos parecem
diferenciá-la das demais. A especificidade acadêmica que trata dos saberes e do
saber fazer, que remete à transmissão, ao ensino de conhecimentos, técnicas e seu
emprego, o profissionalismo.
Por outro lado, há a especificidade pedagógica / humanista que nos remete à
vocação do formar cidadãos pensantes transformadores de realidades. Com isso, e
baseado nas ideias de Morin (2001) é possível classificar a profissão de professor
como uma profissão complexa, caracterizada pela incerteza e pela ambiguidade das
funções. 4 Diante das implicações, dos desafios e conflitos que permeiam a função
docente, e perante a complexidade da educação no contexto da sociedade
contemporânea, globalizada, multiculturalista, imersa numa realidade complexa,
requer do professor ações e conhecimento polivalente.
Pedro Demo (2004) em uma reportagem para a revista Profissão Mestre,
afirma que ser profissional da educação hoje é saber continuamente renovar sua
profissão. Entende-se então que o professor enquanto profissional deve ser um
eterno aprendiz e sendo capaz de refletir sobre sua prática diária, pois na verdade,
não só no trabalho, mas em todos os aspectos da vida. Com isso constata-se que o
84
professor nunca está pronto, acabado, mas, sempre em processo de reconstrução
de saberes.
Dessa forma, ao refletir sobre a função do professor como um profissional da
educação que contribui para uma transformação qualitativa da sociedade, há de se
considerar a presença da responsabilidade político-social na docência, haja vista
que, a formação do cidadão perpassa pela dimensão da formação política, pois esta
propicia formar cidadãos críticos e transformadores. Como dito anteriormente, ser
professor não é uma vocação, embora alguns a tenham, não é uma técnica, embora
requer uma excelente operacionalização técnico-metodológica. É ser um profissional
de ensino, competente, legitimado por um conhecimento específico exigente e
complexo.
Fonte: static.wixstatic.com
85
processo, o professor e o aluno. Desempenhar essa tarefa com compromisso e
qualidade exige, da parte do professor, reunir um conjunto de saberes e
competências que lhe permitam a construção de um ensino de qualidade.
Em se tratando do ponto de vista social ele tem tido que aprender a conviver
mais intensamente com os interesses e pensamento dos alunos e pais no cotidiano
escolar e a ter uma maior interação com a comunidade onde a escola está inserida.
No campo institucional, ele tem sido solicitado a participar mais ativamente nas
definições dos rumos pedagógicos e políticos da escola, a definir recortes
adequados no universo de conhecimentos a serem trabalhados em suas aulas, a
elaborar e gerir projetos de trabalho.
86
34 A FORMAÇÃO E OS SABERES E FAZERES DOCENTES
Fonte: blogdonikel.files.wordpress.com
87
pelo seu desenvolvimento que ocorre, por meio das circunstâncias, dos acidentes da
vida, da relação com os outros, entre outros.
Nessa concepção, não se trata de formar-se fazendo. Formar-se é trabalhar
sobre si mesmo, refletir sobre o que faz e descobrir novas maneiras para fazê-lo. É
necessário, portanto, um espaço, um tempo e uma relação com a realidade para que
a formação aconteça, de maneira dinâmica. Há, então, o que o autor denomina de
movimento de alternância entre as práticas produzidas e a teorização decorrente
destas práticas. Ferry apresenta três modelos de formação, o modelo de aquisições,
38 conhecer e saber transmitir os conhecimentos, o saber-fazer; o modelo do
processo, relacionado à visão de realidade, o caminhar; o modelo de análise, em
que a prática precisa se
Conforme quadro abaixo, o autor relaciona, ainda, os saberes às suas fontes
de aquisição e ao modo de integração no trabalho docente.
88
38 MÉTODOS DE ENSINO QUE PODEM SER USADOS NO ENSINO SUPERIOR
Fonte: www.brasilescola.com
Método de Palestras
Fonte: www.psicologia10.com.br
89
A palavra permite transmitir a um grupo de pessoas uma considerável
quantidade de informações.
Do ponto de vista de Busch a palestra se trata de uma reunião cuidadosamente
planejada que encerra uma finalidade e metas específicas.
Evidências experimentais indicam que este método não pode vencer a
resistência à mudança ou modificações de atitudes, no entanto, há imprevistos em
algumas experiências que demonstram o contrário.
Contudo as palestras exercem maior efeito na mudança de atividade que a
palavra escrita.
Fonte: www.picaroponto.com
90
Método de Filmes Educativos ou Videoteipes
Método de Casos
91
Métodos de Discussão
Fonte: www.hpsconsultores.com
Define-se este método como “a criação de uma situação vital que inclua
conflitos entre diversas pessoas e consiga que as pessoas de um grupo
desempenhem os diversos personagens criados”.
Lawshe e Bolds demonstram os efeitos deste método sobre o rendimento
verbal e pregam a necessidade de uma prática maior para determinar sua eficácia
no desempenho de tarefas normais.
Por outro lado, Maier afirma que este método pode limitar-se ao treinamento
de habilidades em relações humanas.
Alguns opinam que um dos problemas deste método é o apoio que se oferece
durante a aprendizagem, esclarecendo:
92
“Como (de que maneira) o aluno tem que entrar em entendimento com o outro que
desempenha um papel que controla sistematicamente os elementos auxiliares da
situação e oferece o auxílio imediato para suas afirmações. E que um desvio no
papel assumido resulta fatalmente em um comportamento inadequado”.
.
Fonte: www.acerta.net
93
sofreu um impacto, mas o que não está claro é a natureza do impacto. Observamos
que alguns problemas foram solucionados. Não obstante está apto para assumir as
consequências em longo prazo. Talvez a experiência de Laboratório não seja mais
que uma parte de um amplo programa de organização”.
94
Este método de ensino, de acordo com Abelson requer uma equiparação
consideravelmente maior dos procedimentos de intercâmbio formal de informação
específica e da documentação escrita por extenso sobre os programas disponíveis.
Fonte: www.aimportanciadoensinosuperior.blogspot.com.br
95
com base nas teorias, discussões acumuladas sobre essa questão. Esses saberes
são negligenciados, pois durante muito tempo a formação específica —
conhecimentos pedagógicos — para docência era compreendida como
desnecessária. Essa atitude decorre principalmente de duas posturas: a ideia de que
a docência é um dom e a de que quem sabe fazer, sabe ensinar.
Os saberes didáticos são essenciais para o ensino nas diversas áreas de
conhecimento, já que articulam teoria da educação e teoria de ensino com outros
saberes. São as ações da prática que direcionará a forma dos saberes. Assim a
ausência do conhecimento desses saberes por parte do professor compromete a
aprendizagem. Para Santos (apud PASSOS, 2009, p.43) o desconhecimento das
práticas de ensino e dos procedimentos didáticos transforma o professor em:
[...] um “palanqueiro” e retórico, com discursos muitas vezes vazios, abusando
dos recursos audiovisuais e da moderna tecnologia, tentando cumprir seu papel de
transmissor de informações, que dificilmente se transformarão em conhecimento.
Não é incomum nesse tipo de aula, o aluno aproveitar a penumbra da sala de aula
para um cochilo ou para um devaneio, não vendo a hora de a sessão de “tortura”
terminar e ele ir para casa ou ao encontro da “turma” no barzinho de costume. A
ausência de valorização do conhecimento pedagógico dificulta e limita a ação do
professor universitário. O desconhecimento, ou o conhecimento superficial da arte
de ensinar numa abordagem político-ideológica, que evidencie a relação entre
conhecimento, poder e formação das sociedades; ética, que destaque a relação
entre conhecimento e formação humana, direitos, igualdade, cidadania;
psicopedagógico e estética, que contribui para que o professor veja o processo de
ensino de forma naturalizada, sem perceber que está atuando em um campo minado
de ideologias e valores.
Segundo Fonseca (2007, p.48), nós, professores, ao atuarmos em diferentes
espaços educativos, temos a possibilidade de desconstruirmos discursos
antidemocráticos, monoculturais, preconceituosos e difusores de estereótipos. Para
tanto, essa condição só será possível se, no decorrer de sua formação, o docente
tiver desenvolvido competências e habilidades que o qualifique para exercer essa
condição de um professor transformador.
O professor Masetto (2008), um dos principais autores brasileiros que
analisam e desenvolvem propostas de aprimoramento para a formação de
profissionais para o ensino universitário, define a docência no ensino superior como
96
domínio de conhecimentos específicos em uma determinada área a serem mediados
por um professor para os seus alunos. Afirma que o (a) professor (a) universitário (a)
é um (a) profissional da educação na atividade docente, e como tal não pode
minimizar o valor e a necessidade de uma sólida formação pedagógica. Postula
também que, no contexto de aprendizagem, o foco está no aluno, e não no
professor, e várias das demandas advindas desta centralidade não são aprendidas
no exercício profissional, salvo aquele dos que já são profissionais da educação.
Logo, para Masetto (apud Costa 2008), os aspectos que devem contemplar o
perfil do docente universitário são:
Preparação pedagógica: A ênfase aqui recai sobre a carência dos professores
quando se fala de profissionalismo na docência. Essa carência se dá principalmente
pela a ausência de domínio na área pedagógica. Salienta a precariedade da
formação do professor universitário em virtude da falta de formação adequada; da
participação de programas de aperfeiçoamento. É comum o professor universitário
dominar conhecimentos de sua área, ser atualizado, mas em contrapartida não
consegue ensinar com destreza, e ainda tem dificuldades para definir métodos e
técnicas de avaliação de aprendizagem. Demonstra ainda que a falta de preparação
pedagógica dos docentes é consequência da desvalorização da profissão no âmbito
da própria universidade, que não incentiva, tampouco valoriza a formação
continuada do professor.
A despeito dessas limitações, o professor universitário deve apropria-se de
três requisitos básicos para exercer seu ofício: a) requisitos legais; b) requisitos
pessoais - qualificação básica de pós-graduação comprovada; c) requisitos técnicos
– conhecer em profundidade a disciplina que irá lecionar; ser capaz de fazer inter-
relações entre os conhecimentos de sua disciplina com os aspectos sociais,
culturais, econômicos, políticos da sociedade; conhecer e ter habilidades técnicas,
que o permita a compreender o funcionamento do Ensino Superior desde o
planejamento até as técnicas de avaliação.
Professor como conceptor e gestor de currículo: O currículo constitui um
primeiro nível de planejamento da atividade educativa, na medida em que nele se
estabelecem objetivos gerais e seus desdobramentos em objetivos específicos. A
questão central que serve de pano de fundo para o Currículo escolar é a de saber
qual conhecimento devem ser ensinados em uma sala de aula. O que o aluno deve
saber? Qual conhecimento ou saber é considerado importante ou válido ou essencial
97
para merecer ser considerado parte do currículo? Diz Apple (apud Fonseca 2007,
p.51):
Trata-se, pois, de uma “ferramenta” que pode ser utilizada tanto para a
promoção de uma educação libertadora, transformadora quanto para a manutenção
do status quo. E o professor não pode perder de vista sua autonomia, sua
capacidade de conceber o currículo para promover o aprofundamento no campo da
ciência da pesquisa, relacionando a práxis curricular a interdisciplinaridade, o
pensamento crítico priorizando o ensino e a pesquisa.
Relação professor-aluno e aluno-aluno no processo de aprendizagem: no
processo de aprendizagem o papel do professor é, especialmente, o de mediador,
assumindo, em todas as situações, uma postura crítica diante do saber e da
sociedade. Para Tardif e Lessard (apud Costa 2008), ser docente no cotidiano nada
mais é “[...] do que um conjunto de interações personalizadas com os alunos, a fim
de obter participação deles em seu próprio processo de formação e atender às
diferentes necessidades”. Não há como trabalhar as interações humanas sem
perceber que o trabalho em equipe tem como gratificação a cooperação recíproca.
Atualmente, trabalhar em equipe tornou-se uma necessidade estabelecida
pelo ofício de ser professor. Requer, contudo, competências e a convicção de que a
cooperação é um valor profissional. O desenvolvimento de projetos interdisciplinares
de pesquisa evidencia que o trabalho docente e os procedimentos didáticos não se
limitam à sala de aula, superando a visão de um conhecimento estático, pronto e
acabado. Ser educador:
98
retroprojetor, o e-mail e as interações humanas por meio de dinâmicas de grupo. A
despeito dos benefícios do uso dessas tecnologias para o desenvolvimento e
dinâmica das aulas, é preciso estar atento para os possíveis riscos, ciladas,
vantagens e desvantagens. Por isso é importante que o professor busque aprender
através de cursos a lidar com essas ferramentas.
Entretanto, ainda existem professores que se recusam a fazer uso da
tecnologia em suas aulas, limitando ao velho quadro e giz, seja pelo fato de não ter
habilidade para lidar com essas ferramentas, seja pelo fato de deliberadamente se
manter fiel às velhas formas de ensinar.
Segundo Masetto (apud Costa 2008), “[...] ter domínio sobre a tecnologia
educacional é percebê-la como um meio para que as aulas possam acontecer de
maneira dinâmica, isto não significa permitir que se façam melhor as coisas velhas,
ao contrário do que se pensa, ela forçará aos docentes a fazer melhor as coisas
novas”.
Outra questão que é primordial e que o professor deve ficar atento é a
renovação nas propostas metodológicas. O uso de diferentes linguagens no ensino
para qualquer área do conhecimento amplia o olhar do docente, favorece o diálogo e
o enriquecimento do conteúdo dado, tornando o processo de produção e
transmissão de conhecimentos interdisciplinar, dinâmico e flexível. Entre as
diferentes linguagens podemos citar: filmes e programas de TV, o uso de imagens,
artigos de jornais, obras de ficção dentre outros. Entretanto, essa renovação
metodológica requer de nós, professores, um aprofundamento de nossos
conhecimentos acerca dos limites e possibilidades na incorporação dessas
diferentes fontes de ensino, bem como permanente atualização, constante
investigação. Segundo Fonseca (2005, p.164):
99
estimulando a pesquisa, incentivando e contribuindo com o desenvolvimento
intelectual de nossos alunos. Adotarmos continuamente uma reflexão crítica sobre a
nossa prática. Parafraseando Paulo Freire (2010), que nosso preparo científico
coincida com a nossa retidão ética, respeito aos outros, coerência, capacidade de
viver e aprender com o diferente.
Fonte: image.slidesharecdn.com
100
de aprendizagem de forma fragmentada ao priorizarem a teoria em detrimento da
prática, não colaboram efetivamente para que a autopoiese seja realizada.
Partindo-se da premissa de que o educando é um sistema autopoiético,
podemos afirmar que, oferecidas condições para isso, o educando se auto levanta,
se auto organiza, se auto constrói.
Por “condições apropriadas” entendemos práticas pedagógicas que
possibilitem a reflexão. Corrobora com nossas considerações, as reflexões de Edgar
Morin (1996) ao se referir aos processos auto-eco-organizadores como aqueles “que
garantem a natureza autopoiética dos sistemas vivos, ou seja, a capacidade de
autoprodução de si mesmo como condição de sua própria autonomia existencial”
(Moraes, 2010).
Nessa perspectiva, ao refletirmos sobre práticas pedagógicas integradoras,
apoiamos nossa tese na concepção do “todo”. Ousamos dizer que o ensino, desde
sempre, esteve relacionado ao ideal cartesiano de mundo. Desta forma, a
fragmentação do pensamento, o reducionismo, o não respeito ao todo; a
dissociabilidade entre teoria e prática; a cientificidade do conhecimento, dentre
outros aspectos, tem sido praticados na esfera educacional.
A educação e a ciência, em nosso entendimento, servindo ao propósito de
desinformação ou informação direcionada a interesses de grupos restritos, deixaram
de cumprir seu papel de agente transformador da sociedade.
Diante desse contexto, a pesquisa como princípio científico e educativo,
segundo DEMO (2011b), faz parte integrante de todo processo emancipatório. E,
conforme afirma o autor, é nesse processo de emancipação que:
101
O importante é compreender que sem pesquisa não há ensino. A ausência
de pesquisa degrada o ensino a patamares típicos da reprodução imitativa
[...] se a pesquisa é a razão do ensino, vale o reverso: o ensino é a razão da
pesquisa [...] transmitir conhecimento deve fazer parte do mesmo ato de
pesquisa, seja sob a ótica de dar aulas, seja como socialização do saber,
seja como divulgação socialmente relevante (DEMO, 2011b, pp. 53-54).
Fonte: images.slideplayer.com.br
102
41 A PESQUISA COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO NA PEDAGOGIA DE FREIRE
Fonte: acasadevidro.files.wordpress.com
103
Para Freire (2006), toda prática educativa precisa fazer uma leitura de
mundo, do contexto, para tanto, orientava os educadores a utilizarem temas
geradores para familiarizar os educandos com o seu mundo, haja vista que a prática
pedagógica não está alheia aos acontecimentos e problemas do mundo.
No entanto, mais do que uma mera estratégia metodológica, ao longo de
suas “andarilhagens”, Freire foi ampliando suas análises e interpretações da
realidade e da importância da educação e concebeu categorias pedagógicas que
configuraram sua teoria pedagógica como uma teoria de conhecimento.
O reconhecimento da pesquisa como aliada ao processo de ensino e
aprendizagem também foi destacado por Pedro Demo, com um contundente
discurso em favor da pesquisa como princípio educativo e científico. Para o autor, a
pesquisa:
Quando Freire (2003, p.27) afirma que “não existe ensinar sem
aprender”, rompe com a dicotomia do ensinar versus aprender e da relação
hierárquica entre professor x aluno. Freire não concebe o docente como um
“burocrata da mente”, mas como aquele que constrói e reconstrói o conhecimento
junto com os educandos. Nessa perspectiva, o ato de ensinar se torna uma
experiência inédita, e a troca de saberes permite que aquele que ensina e aquele
que aprende vão libertando-se das concepções preconcebidas e das verdades
absolutas.
104
42 OS DESAFIOS DA PRÁTICA DOCENTE
Fonte: image.slidesharecdn.com
105
conhecimento, os indicadores educacionais comprovam que os jovens brasileiros –
mesmo com acesso a diferentes fontes de informação – têm apresentado níveis
abaixo do desejado em avaliações. Os índices de reprovação e evasão são altos em
todo o Brasil, especialmente no Ensino Médio, e o cenário parece não ser favorável
a quem educa.
O cenário pedagógico indica que o caminho passa longe da segmentação
disciplinar que acompanha a escola moderna. O planejamento e a ação coletiva dos
profissionais da educação são apontados como o caminho para que os alunos
alcancem uma aprendizagem efetiva.
A necessidade de práticas pedagógicas consonantes com o cenário
contemporâneo e o contexto de aprendizagem e social dos educandos que propicia
acesso à informação sem, necessariamente, produzir conhecimento cogita-se que:
Fonte: 1.bp.blogspot.com
106
A didática tem como objeto de estudo o processo de aprendizagem e das
inter- relações na sua globalidade, isto é, tudo o que nos ensinam ou o que
ensinamos está ligado a uma didática específica, seja na escola, em casa, no
trabalho ou simplesmente no nosso cotidiano. O Conhecimento humano,
dependendo dos diferentes referencias, é explicado diversamente em sua gênese e
desenvolvimento, o que condiciona conceitos diversos de homem, mundo, cultura,
sociedade, educação, etc. Dentro de um mesmo referencial, é possível haver
abordagens diversas, tendo em comum apenas os diferentes primados: ora do
objeto, ora do sujeito, ora da interação de ambos.
Diferentes posicionamentos pessoais deveriam derivar diferentes arranjos de
situações ensino-aprendizagem e diferentes ações educativas em sala de aula,
partindo-se do pressuposto de que a ação educativa exercida por professores em
situações planejadas de ensino-aprendizagem é sempre intencional. Subjacente a
esta ação, estaria presente – implícita ou explicitamente, de forma articulada ou não
– um referencial teórico que compreendesse conceitos de homem, mundo,
sociedade, cultura, conhecimento, etc.
O estudo acerca das diferentes linhas pedagógicas, tendências ou
abordagens, no ensino brasileiro podem fornecer diretrizes à ação docente, mesmo
considerando que a elaboração que cada professor faz delas é individual e
intransferível.
De acordo com Mizukami (1986), algumas abordagens apresentam claro
referencial filosófico e psicológico, ao passo que outras são intuitivas ou
fundamentadas na prática, ou na imitação de modelos.
A complexidade da realidade educacional deve ser considerado para não ser
tratado de forma simplista e reducionista. Nesse estudo, deve-se ter em mente seu
caráter parcial e arbitrário, assim como as limitações e problemas decorrentes da
delimitação e caracterização (necessárias) de cada abordagem.
A professora Mizukami não incluiu em seus estudos a abordagem escola
novista, introduzida no Brasil através do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova
(Anísio Teixeira, Gustavo Capanema e outros), a partir da década de 1930. Ela
justifica sua opção por considerar que essa abordagem pode ser tomada como
didaticista, por suas atribuições aos aspectos didáticos, e por possuir diretrizes
incluídas em outras abordagens. Argumenta ainda que, as demais abordagens,
apresentadas por ela, apresentam justificativas teóricas ou evidências empíricas.
107
Mas reconhece que se trata de uma abordagem com possível influência na formação
de professores no Brasil.
A seguir esses aspectos são comparados segundo as diferentes opções
pedagógicas, que, para Mizukami (1986, pp. 2-4), “poderiam estar fornecendo as
diretrizes à ação docente, mesmo considerando-se que a elaboração que cada
professor faz delas é individual e intransferível”. Estas abordagens do processo de
ensino e aprendizagem, objeto de análise, são:
108
44 ABORDAGEM TRADICIONAL
109
Os principais defensores do ensino tradicional, citados por Mizukami (1986, p.
12), são Émile Chartier e Snyders. De acordo como os referenciais teóricos
expostos, podemos identificar na Tabela 1 os elementos relevantes sobre a
abordagem tradicional.
Tabela 1
Fonte: SANTOS, Roberto Vatan dos. Abordagens do processo de ensino e aprendizagem, p.22
110
45 ABORDAGEM COMPORTAMENTALISTA
111
aplicação de pesquisas científicas, tais como “má- quinas de ensinar”, a instrução
programada, computadores, manuais tutoriais de treinamento etc.
O principal representante da “análise funcional” do comportamento é Skinner
(1972). Ele não se preocupa em justificar por que o aluno aprende, mas sim em
fornecer uma tecnologia que seja capaz de explicar como fazer o estudante estudar
e que seja eficiente na produção de mudanças comportamentais. De acordo com os
referenciais teóricos expostos, podemos identificar na Tabela 2 os elementos
relevantes para a abordagem comportamentalista.
Tabela 2
Fonte: SANTOS, Roberto Vatan dos. Abordagens do processo de ensino e aprendizagem, p.23
112
46 ABORDAGEM HUMANISTA
113
Por outro lado, Saviani (1984, pp. 11-5) não explicita o trabalho de Rogers
(1972), mas, em função das características observadas de não-diretividade do
ensino e o primado do sujeito, podemos enquadrar a abordagem humanista dentro
do que Saviani (1984) chama de a pedagogia nova, considerada o marco inicial para
o surgimento das tendências não-diretivas e antiautoritárias. Esse autor nos ensina
que “o professor agiria como um estimulador e orientador da aprendizagem, cuja
iniciativa principal caberia aos próprios alunos. Tal aprendizagem seria uma
decorrência espontânea do ambiente estimulante e da relação viva que se
estabeleceria entre estes e o professor”.
De acordo com os referenciais teóricos expostos, podemos identificar na
Tabela 3 os elementos relevantes sobre a abordagem humanista.
Tabela 3
Fonte: SANTOS, Roberto Vatan dos. Abordagens do processo de ensino e aprendizagem, p.24
114
47 ABORDAGEM COGNITIVISTA
115
descoberta, o estudo do meio natural e social, o método de solução de problemas –
embora os métodos variem, as escolas ativas ou novas (Dewey, Montessori,
Decroly, Cousinet, Piaget e outros) partem sempre de atividades adequadas à
natureza do aluno e às etapas de seu desenvolvimento”.
No trabalho de Saviani (1984, pp. 11-5) referências à abordagem cognitivista
podem ser encontradas indiretamente no que ele identifica como a “pedagogia
nova”. Entende “... que essa maneira de entender a educação, por referência à
pedagogia tradicional tenha deslocado o eixo da questão pedagógica do intelecto
para o sentimento: do aspecto lógico para o psicológico; ... de uma pedagogia de
inspiração filosófica centrada na ciência da lógica para uma pedagogia de inspiração
experimental baseada principalmente nas contribuições da biologia e da psicologia.
Em suma, trata-se de uma teoria pedagógica que considera que o importante não é
aprender, mas aprender a aprender”.
De acordo com os referenciais teóricos expostos, podem-se identificar na
Tabela 4 os elementos relevantes da abordagem cognitivista.
Tabela 4
Fonte: SANTOS, Roberto Vatan dos. Abordagens do processo de ensino e aprendizagem, p.26
116
48 ABORDAGEM SOCIOCULTURAL
117
estava preocupado com a relação entre educação e o problema da marginalidade,
esse enfoque teórico poderia ter algumas similaridades com as teorias crítico-
reprodutivistas, que entendem que a educação é um instrumento de discriminação
social. O autor diz que “... as teorias ... são críticas, uma vez que postulam não ser
possível compreender a educação senão a partir dos seus condicionantes sociais.
Há, pois, nessas teorias uma cabal percepção da dependência da educação em
relação à sociedade. Entretanto, como as análises que desenvolvem chegam
invariavelmente à conclusão de que a função da educação consiste na reprodução
da sociedade em que ela se insere, bem merecem a denominação de ‘teorias crítico-
reprodutivistas’”.
De acordo com os referenciais teóricos expostos, podem-se identificar na
Tabela 5 os elementos relevantes sobre a abordagem sociocultural:
Tabela 5
Fonte: SANTOS, Roberto Vatan dos. Abordagens do processo de ensino e aprendizagem, p.27
118
49 QUE FUNDAMENTA A AÇÃO DOCENTE?
Tabela 6
Fonte: SANTOS, Roberto Vatan dos. Abordagens do processo de ensino e aprendizagem, p.28
119
50 A ESCOLA, O ALUNO, O PROFESSOR E O PROCESSO DE ENSINO E
APRENDIZAGEM
120
Tabela 7
Fonte: SANTOS, Roberto Vatan dos. Abordagens do processo de ensino e aprendizagem, p.29
121
Tabela 7 (Continuação)
Fonte: SANTOS, Roberto Vatan dos. Abordagens do processo de ensino e aprendizagem, p.30
122
51 A ESCOLA E O PROCESSO SOCIAL
Fonte: slideplayer.com.br
123
necessidade de uma maior profundidade em pesquisas teóricas e investigações
empíricas sobre as controvérsias existentes.
Fonte: 4.bp.blogspot.com
Fonte: slideplayer.com.br
124
O ato de planejar está presente em todos os momentos da vida humana. A todo o
momento as pessoas são obrigadas a planejar, a tomar decisões que, em alguns
momentos, são definidas a partir de improvisações; em outros, são decididas
partindo de ações previamente organizadas (KENSKI, 1995). No capítulo 1 do livro
Planejamento Dialógico: como construir o projeto político – pedagógico da escola
(PADILHA, 2003), são apresentados alguns conceitos de planejamento que
intencionalmente leva-nos a entender seu significado. Caro (a) aluno(a),
apresentarei a seguir alguns desses conceitos, acreditando que serão discutidos e
ressignificados por cada um no momento de organizar sua prática pedagógica.
O significado do termo ‘planejamento’ é muito ambíguo, mas no seu uso
trivial ele compreende a ideia de que sem um mínimo de conhecimento das
condições existentes numa determinada situação e sem um esforço de previsões
das alterações possíveis desta situação nenhuma ação de mudança será eficaz e
eficiente, ainda que haja clareza dos objetivos dessa ação. Nesse sentido trivial,
qualquer indivíduo razoavelmente equilibrado é um planejador [...]. Não há uma
‘ciência do planejamento’ nem mesmo há métodos de planejamentos gerais e
abstratos que possam ser aplicados a tantas variedades de situações sociais e
educacionais principalmente se considerarmos a natureza política, histórica, cultural,
econômica etc. (AZANHA, 1993, p. 70-78).
Planejamento é um processo de busca de equilíbrio entre meios e fins,
entre recursos e objetivos, na busca da melhoria do funcionamento do sistema
educacional. Como processo o planejamento não corre em um momento do ano,
mas a cada dia. A realidade educacional é dinâmica. Os problemas, as
reivindicações não têm hora nem lugar para se manifestarem. Assim, decide-se a
cada dia a cada hora (SOBRINHO, 1994, p.3).
Planejamento é um “processo de tomada de decisão sobre uma ação.
Processo que num planejamento coletivo (que é nossa meta) envolve busca de
informações, elaboração de propostas, encontro de discussões, reunião de decisão,
avaliação permanente” (MST, 1995, p.5). • Planejamento é processo de reflexão, de
tomada de decisão [...] enquanto processo, ele é permanente (VASCONCELOS,
1995, p.43).
O planejamento curricular é a organização da dinâmica escolar. É um
instrumento que sistematiza as ações escolares do espaço físico às avaliações da
aprendizagem. O planejamento de ensino envolve a organização das ações dos
125
educadores durante o processo de ensino, integrando professores, coordenadores e
alunos na elaboração de uma proposta de ensino, que será projetada para o ano
letivo e constantemente avaliada.
O planejamento de aula organiza ações referentes ao trabalho na sala de
aula. É o que o professor prepara para o desenvolvimento da aprendizagem de seus
alunos coerentemente articulado com o planejamento curricular, com o planejamento
escolar e com o planejamento de ensino.
Fonte: slideplayer.com.br
126
marcada por uma ação mecânica, repetitiva e burocrática, contribuindo pouco para
mudanças na qualidade da educação escolar. Por isso, caro(a) aluno(a), ao estudar
esta unidade, reflita sobre a importância do planejamento como uma prática crítica e
transformadora do pedagogo; por isso, faz-se necessário que você compreenda as
duas dimensões que constituem o planejamento:
Dimensão política – toda ação humana é eminentemente uma ação política.
O planejamento não pode ser uma ação docente encarada como uma atividade
neutra, descompromissada e ingênua. Mesmo quando o docente “não” planeja, ele
traduz uma escolha política. A ação de planejar é carregada de intencionalidades,
por isso, o planejamento deve ser uma ação pedagógica comprometida e
consciente.
Dimensão técnica – o saber técnico é aquele que permite viabilizar a
execução do ensino, é o saber fazer a atividade profissional. No caso da prática do
planejamento educacional, o saber técnico determina a competência para organizar
as ações que serão desenvolvidas com visando à aprendizagem dos alunos. Cabe
ao professor saber fazer, elaborar, organizar a prática docente. Veja, na unidade 1, o
que diz Morin (1999) sobre as quatro aprendizagens fundamentais para alicerçarem
o conhecimento. Verifique que a dimensão técnica é a segunda aprendizagem:
aprender a fazer - para poder agir sobre o meio envolvente. A dimensão técnica do
conhecimento é o aprender do aluno a fazer fazendo.
127
53 ETAPAS DO PLANEJAMENTO
Fonte: image.slidesharecdn.com
128
processo da metodologia de ensino. A avaliação deve diagnosticar, durante a
aplicação da metodologia de ensino, como os alunos estão aprendendo e o que
aprenderam, para que a tempo, se for necessário, a metodologia mude seus
procedimentos didáticos, favorecendo a reelaboração do ensino, tendo em vista a
efetiva aprendizagem.
5)
6)
Fonte: images.slideplayer.com.br
129
54 REQUISITOS PARA O PLANEJAMENTO DO ENSINO
Fonte: slideplayer.com.br
130
Iniciar o ensino do assunto pela realidade concreta (objetos, fenômenos, visitas,
filmes), para que os alunos formulem relações entre conceitos, ideias- chave, das
leis particulares às leis gerais, para chegar aos conceitos científicos mais complexos.
Saber criar problemas e saber orientá-los (situações de aprendizagem mais
complexas, com maior grau de incerteza que propiciam em maior medida a iniciativa
e a criatividade do aluno).
Fonte: www.antigomoodle.ufba.br
131
estrutura de modo a facilitar sua aplicabilidade. É de fundamental importância que o
plano seja compreensível para toda a comunidade escolar (pais, alunos,
professores, funcionários e especialistas do ensino), portanto sua linguagem deve
ser clara e objetiva.
Para melhor transparência e divulgação das ações a serem realizadas pelos
agentes escolares, pensamos na produção de um Painel que descreva de forma
clara todo o processo de planejamento em detalhes, ou seja, o PROBLEMA, seus
INDICADORES, suas CAUSAS, as OPERAÇÕES, os RECURSOS necessários, o
PRAZO DE EXECUÇÃO, os RESULTADOS esperados com cada operação, a
AVALIAÇÃO da operação e, finalmente, a REVISÃO GERAL de todas as operações.
Para facilitar a montagem desse painel, foram elaboradas fichas correspondentes a
cada parte do plano, conforme explicaremos a seguir.
O primeiro passo para a elaboração de um planejamento participativo é fazer
que os problemas a serem tratados pelo Plano partam do seio da comunidade
escolar. Assim, é necessário que cada segmento da escola, representada por pais,
professores, funcionários, alunos e especialistas, selecione um problema que,
segundo sua opinião, está afetando a escola. (Exemplo: pais = falta de segurança,
professores = falta de interdisciplinaridade, alunos = falta de quadra para a prática
de esportes, funcionário = falta de respeito por parte dos professores, direção =
indisciplina dos alunos, superlotação das classes, falta de professores, etc.). Após o
levantamento dos problemas apontados por todos os segmentos, torna-se
necessário hierarquizá-los, priorizando aqueles mais voltados por toda a
comunidade escolar ou mesmo discutidos em reuniões do Conselho de Escola.
Os problemas devem tratar de temas dentro dos limites da escola, pois
existem alguns externos, os quais, apesar de afetarem diretamente a escola, são de
difícil acesso para a comunidade escolar. O ideal é a seleção de problemas que
envolvam toda a escola. Vale lembrar que o problema selecionado seja expresso de
forma clara e objetiva, facilitando o entendimento de toda a comunidade escolar, até
mesmo daquelas pessoas que não participaram das discussões. Um plano escrito
de forma clara torna-se um instrumento pedagógico para a comunidade escolar, pois
explica à mesma os problemas presentes na instituição e as soluções propostas
para a sua resolução, o que garante a colaboração de todos na execução do
mesmo.
132
O exemplo a seguir foi pensado para uma escola que possui determinadas
condições de espaço físico, de recursos humanos e financeiros. Servirá para
apresentação de um método de elaboração de plano e não como sugestões para a
resolução do problema apresentado, pois, conforme dissemos anteriormente, cada
escola possui uma realidade que exige um tratamento diferenciado, ou seja, nós não
podemos parar de pensar a escola porque ela não possui um microcomputador,
talvez a discussão pelos agentes sociais sobre a falta de determinadas condições
para a efetivação de um trabalho escolar de qualidade, pode ser um bom começo
para a elaboração de ações que levem a solução do problema, produzindo, assim,
um plano que possua vínculo com a realidade específica da escola.
Nesse sentido concordamos com Ferreira (1989), quando afirma que o
método não passa de um instrumento de racionalização de nossas ações, o
importante é o conhecimento que possuímos, ou mesmo adquirimos, sobre a
realidade que vamos planejar.
133
CAUSAS - Quais as causas do problema? Descreva, de forma clara e objetiva, as
principais causas do problema selecionado, identificando-as com uma sigla para
facilitar a sua identificação ex: C1; C2...:
OPERAÇÕES – Para cada causa elabore uma ou mais operações que enfrente o
problema apontado. Nestas operações devem ser indicados: QUEM - professor
João; funcionária Maria; uma comissão formada por um pai (Lourdes), um
funcionário (Paulo) e uma aluna da 7º serie (Raquel) - se responsabilizará pela
realização/ coordenação da operação; O QUE será feito para eliminar a causa
apontada anteriormente; esta é a ação propriamente dita; RECURSOS - explicitar os
recursos físicos, humanos e financeiros necessários para a concretização das
operações; PRAZO DE EXECUÇÃO - tempo necessário para a organização e
execução da ação proposta; Explicite quais os RESULTADOS que esperam ser
alcançados com a ação proposta; Descreva o processo de AVALIAÇÃO de cada
ação, ou seja, QUEM vai avaliar (o diretor, a comissão formada ..., etc.), COMO vai
avaliar, quais instrumentos utilizados para a avaliação (questionários, relatórios,
outros.) e QUANDO será realizada a avaliação (logo após a ação executada, após
duas semanas da ação executada, etc.).
134
No entanto, em qualquer nível de ensino em que ocorra, a avaliação não
existe e não opera por si mesma; está sempre a serviço de um projeto ou de um
conceito teórico, ou seja, é determinada pelas concepções que fundamentam a
proposta de ensino, como afirma Caldeira (2000):
135
é dimensionada por um modelo teórico de mundo, de ciência e de educação,
traduzida em prática pedagógica.
Utilizaremos quatro categorias para a análise da relação entre concepções
pedagógicas e os significados de avaliação. Em um primeiro momento, situaremos
os exames e as provas escolares como práticas de avaliação, utilizadas a partir do
século XVI, no que se convencionou chamar de “Pedagogia Tradicional”, da qual
decorre a concepção de que avaliação e exame se equivalem. Analisaremos a
concepção de avaliação como medida, que teve o seu auge com a denominada
“Pedagogia Tecnicista”. A seguir, passaremos à concepção da avaliação como
instrumento para a classificação e regulação do desempenho do aluno. Finalmente,
em um quarto momento, trataremos da concepção qualitativa da avaliação.
Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com
136
A tradição dos exames escolares, que conhecemos hoje, em nossas
escolas, foi sistematizada nos séculos XVI e XVII, com as configurações da
atividade pedagógica produzidas pelos padres jesuítas (séc. XVI) e pelo
Bispo John Amós Comênio (fim do séc. XVI e primeira metade do século
XVII). (p. 16)
137
“Provão”), e que, segundo ele, mais reforçam a cultura do exame do que a cultura da
avaliação (p.8).
Embora o autor reconheça a utilidade e a necessidade dos exames nas
situações que exigem classificação, como os concursos, e naquelas que requerem
certificação de conhecimentos, para ele, a sala de aula é o lugar onde, em termos de
avaliação, deveria predominar o diagnóstico como recurso de acompanhamento e
reorientação da aprendizagem, em vez de predominarem os exames como recursos
classificatórios (Luckesi, 2003, p. 47).
Essa breve análise a respeito da prática de exames possibilitou-nos identificar
uma primeira concepção sobre a avaliação ainda presente em nossas escolas, ou
seja, a de que avaliar é examinar. Outro conceito dominante é o de que avaliar é
medir o desempenho e, nessa perspectiva, será discutido a seguir.
Fonte: educacaonabocadopovo.blogspot.com.br
138
A concepção de avaliação como processo de medida teve sua origem no
início do século XX, nos Estados Unidos, com os estudos de Thorndike acerca dos
testes educacionais. Tais estudos prosperaram muito e resultaram no
desenvolvimento de testes padronizados para medir habilidades e aptidões dos
alunos. Paralelamente, há de se considerar, no início do século XX, a contribuição
da Psicologia à avaliação educacional. Essa contribuição pode ser vista sob dois
ângulos. O primeiro diz respeito aos testes psicológicos, com base nos estudos de
Sperman (1904, 1907, 1913) sobre a Psicometria, e de Binet e Simon (1905), que
criaram o primeiro teste de inteligência para crianças e adultos.
Essa possibilidade de mensuração de comportamentos por meio de testes
propiciou a expansão de uma cultura dos testes e medidas na educação e, por essa
razão, Dias Sobrinho (2003) afirma que, nas primeiras décadas do século passado,
avaliar se confundia com medir:
139
com base nos objetivos (comportamentos) predefinidos e, desse modo, a avaliação
é reduzida à medida e separa o processo de ensino de seu resultado (Caldeira,
2000, p. 23).
(...) Registraremos aqui o fato de que hoje se sabe que a avaliação não é
uma medida pelo simples fato de que o avaliador não é um instrumento, e
porque o que é avaliado não é um objeto no sentido imediato do termo.
Todos os professores avaliadores deveriam, portanto, ter compreendido
definitivamente que a “nota verdadeira” quase não tem sentido. (p. 34)
140
58 AVALIAR PARA CLASSIFICAR OU PARA REGULAR
Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com
Para esse autor, outra função tradicional que a avaliação assume no contexto
escolar é a certificação, isto é, o diploma garante que o seu portador recebeu uma
formação e, portanto, não necessita se submeter a novos exames.
141
que se refere à lógica da avaliação somativa, Sordi (2001), apoiando-se em
Perrenoud (1999), afirma:
Fonte: slideplayer.com.br
142
A avaliação que acontece ao final nos dá uma dimensão do significado e da
relevância do trabalho real izado. Difundida nos meios educacionais com a
denominação de somativa, é sempre associada à ideia de classificação,
aprovação e reprovação. Tal associação tem sentido e não é errada em
uma proposta que tenha esses objetivos. Numa proposta que vise à
inclusão do aluno, a avaliação final necessita ser redimensionada, sem
perder seu caráter de seriedade e rigor. (p. 19)
Com relação à avaliação formativa, Hadji (2001, p. 19) sustenta que sua
função principal é a de contribuir para uma boa regulação da atividade de ensino (ou
da formação, no sentido amplo). Trata-se, portanto, de levantar informações úteis à
regulação do processo de ensino-aprendizagem. Todavia, ele nos lembra: uma
avaliação não precisa conformar-se a nenhum padrão metodológico para ser
formativa (p. 19).
Nessa medida, observa-se que, na prática, essas lógicas convivem entre si.
Para Sordi (2001, p. 174), porém, a diferença reside na posição do educador diante
delas, ou seja, na coragem do professor em assumir a sua titularidade e sua
autonomia na definição do que vale em avaliação.
Fonte: image.slidesharecdn.com
143
Como reação às concepções tecnicista e quantitativa da avaliação, segundo
Saul (1988), a partir da década de 1960, surgem inúmeras críticas sobre os modelos
e práticas da avaliação em nossas escolas, verificando-se um rápido
desenvolvimento de enfoques de avaliação alternativos, com pressupostos éticos,
epistemológicos e teóricos bem diferentes. Nesse sentido, a autora se refere à busca
de alternativa para a avaliação escolar:
144
psicologia. Todavia, não se pode transferir a limitação metodológica a
pretensa redução do real. Este é mais complexo e abrangente do que sua
face empírica. A avaliação qualitativa gostaria de chegar até à face
qualitativa da realidade, ou pelo menos de se aproximar dela. (p. 156)
(...) Muitas vezes observamos, tanto na sala de aula quanto nas propostas
que chegam à escola, a manutenção da prática de avaliação fundamentada
na lógica classificatória e excludente, ainda que a prática adquira uma
aparência inovadora e que o conceito de avaliação escolar associado à
quantificação do rendimento do/a aluno/a seja objeto de inúmeras e
profundas críticas. (p. 121)
145
60 A PRÁTICA DO PROFESSOR EM AVALIAÇÃO
147
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
CANDAU, Vera Maria. A Didática em questão. 27. ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
HAYDT, Regina Célia C. Curso de Didática Geral. São Paulo: Ática, 2010.
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e Pedagogo, para qûê? São Paulo: Cortez,
1999.
MORAIS, Regis de. Sala de aula: que espaço é esse? Campinas: Papirus, 2000.
VEIGA, Ilma Passos A. (Org). Repensando a Didática. 21ª Ed. Campinas, São
Paulo: Papirus, 2004.
VEIGA, Ilma Passos A. (Org). Didática e suas relações. Campinas, São Paulo:
Papirus, 1996.
VEIGA, Ilma Passos A. (Org). Lições de Didática. Campinas, São Paulo: Papirus,
2006.
148