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TRACIONAMENTO DE CANINOS PERMANENTES IMPACTADOS NA MAXILA

Ana Clara da Costa Piazzarollo Rodrigues*


Auriane Catarina Barbosa*
Elisangela Rocha de Oliveira*
Giselle Cordeiro Fernandes Sousa*
Isabela Lima Cupertino*
Juliana Caroliny de Souza Oliveira*
Siddhartha Lopes de Fialho**

RESUMO

Os dentes considerados de maior importância para dentição são os caninos superiores


permanentes, tendo sua presença indispensável para uma oclusão balanceada e também no
movimento de lateralidade, assim como, tendo uma estética favorável e uma boa harmonia
facial. O trajeto tortuoso realizado pelo canino até sua erupção pode ser a causa para sua
impactação frequente. Denomina-se dente impactado, aqueles obstruídos por algum objeto
cujas raízes se encontram totalmente formadas e ele ainda não se encontra no arco dental, por
falta de espaço ou má posicionamento dental, estando em posição infraóssea. O objetivo deste
estudo foi realizar uma revisão da literatura sobre caninos impactados na maxila, abordando
suas causas, prevalência/incidência, diagnóstico, tratamento e prognóstico. As causas da
impactação de caninos ainda não são bem definidas, podendo estar relacionadas a fatores gerais
e locais, onde estes últimos possuem mais frequência. Em relação à prevalência está entre 1,5
a 2% na maxila e 0,3% na mandíbula, sendo a incidência duas vezes maior no gênero feminino.
O diagnóstico pode ser feito através de imagens radiográficas, ou pela tomografia
computadorizada. O tratamento de caninos impactados pode englobar a exodontia ou
tracionamento ortodôntico destes dentes. Conclui-se que o tracionamento ortodôntico, é uma
opção quando os dentes estão impossibilitados de erupcionarem espontaneamente,
configurando-se em uma técnica de prognóstico favorável, além de ser eficaz e segura quando
bem conduzida.

Palavras-chave: Impactação de caninos. Tracionamento ortodôntico. Ortodontia.

*Acadêmicos do 8º período do curso de Odontologia da UNIVALE.


**Graduado pela Universidade Vale do Rio Doce, especialista em ortodontia pela FUNORTE e professor da
Universidade Vale do Rio Doce.
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INTRODUÇÃO

Até a sua erupção, o canino superior permanente traça um caminho longo e complexo
desde seu local de formação na lateral da abertura piriforme até a posição final de erupção,
estando entre os últimos dentes a erupcionarem. Distúrbios que ocorram neste processo podem
gerar sua impactação que além de problemas estéticos e funcionais, podem causar reabsorção
radicular dos dentes adjacentes (NASCIMENTO; GOUVEA; COUTO, 2016).
Vários eventos culminam no processo de erupção dental até a posição funcional final na
cavidade oral. Diversos fatores podem ser responsáveis pela reclusão parcial ou total de um
dente no interior do osso, com manutenção ou não da integridade do saco pericoronário. A
critério de conceitos, os dentes intra-ósseos ou submucosos são denominados dentes
retidos/inclusos e os dentes obstruídos por algum objeto são denominados dentes impactados
(ALVES et al., 2014).
Fonseca et al. (2016) definiram a impactação dentária como uma posição infraóssea
depois de tempo esperado para erupção. Neste sentido, os caninos maxilares são os que mais
sofrem impactação depois dos terceiros molares.
Segundo Barbosa et al. (2017) os caninos superiores permanentes são de grande
importância para a dentição pois promovem uma oclusão balanceada e movimento de
lateralidade, além de influenciarem na estética e harmonia facial. Alguns distúrbios de erupção
podem acometer os caninos superiores permanentes, principalmente devido ao fato de serem os
últimos dentes a irromperem na arcada superior. Estes distúrbios de erupção caracterizam-se
pela erupção em posições erradas ou sua impactação. O conceito de impactação abrange aqueles
dentes cuja raiz se encontra totalmente formada e ele ainda não se encontra no arco dental, por
falta de espaço ou má posicionamento dental.
O objetivo deste estudo é realizar uma revisão da literatura sobre caninos impactados na
maxila, abordando suas causas, prevalência/incidência, diagnóstico, tratamento e prognóstico.
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REVISÃO DA LITERATURA

Etiologia e consequências das impactações de caninos maxilares

Para Capelozza Filho et al. (2011), apesar de que a etiopatogenia dos dentes não
erupcionados estejam bastante associados com a hereditariedade, especialmente nas
ocorrências por palatino, as suas causas ainda não são conhecidas de forma precisa. No entanto,
existem diversos fatores mais importantes como as discrepâncias entre o tamanho dentário e o
comprimento da arcada, a posição anormal do germe dentário ou do dente, a retenção
prolongada ou perda precoce de dentes decíduos, a ocorrência de formação cística ou neoplásica
e a origem iatrogênica. Causas sistêmicas também tem sido citadas, mas não possuem ainda
fundamentação.
Como fatores gerais, as principais causas de retenção dos caninos são fatores
hereditários, a raça, os distúrbios endócrinos e as síndromes com má-formação craniofaciais.
Como causas locais, temos: trajeto de erupção longo e tortuoso, pois é um dos últimos dentes a
irromper na cavidade bucal, falta de espaço no arco dentário, distúrbios na sequência de erupção
dos dentes permanentes, trauma dos dentes decíduos, agenesias dos incisivos laterais
permanentes, má posição do germe dentário, dilaceração radicular e a anquilose dos caninos
permanentes, retenção prolongada e presença de cistos, tumores ou supranumerários na região
(servindo como obstáculo) e a fenda palatina (ALVES et al., 2014).
Segundo Fonseca et al. (2016) a etiologia das impactações podem ser gerais e locais,
onde estas últimas possuem mais frequência. Neste contexto, podem incluir interações
bioquímicas com o germe dentário, traumatismos, discrepâncias dentomaxilares, perda precoce
de dentes decíduos e trajetos tortuosos de erupção. As consequências encontradas podem ser
anquilose, infecções, reabsorções dos dentes, entre outras.
Nascimento; Gouvea; Couto (2016) relataram que várias causas tem sido sugeridas para
justificar a inclusão dos caninos superiores permanentes. Sistemicamente falando, esta situação
pode estar relacionada com deficiências endócrinas, doenças febris, deficiência de vitamina D,
pressão muscular anormal, irradiação, síndrome de Gardner, Síndrome de Yunis-Varcon e
disostose cleidocraniana. Em relação às causas locais, as mais comuns são observadas devido
ao tamanho do dente, retenção prolongada ou perda precoce do canino decíduo, posição
anormal do germe dentário, presença de fenda palatina, anquilose dos caninos permanentes,
formação cística ou neoplasia, dilaceração da raiz, origem iatrogênica, rotação do germe
dentário permanente e fechamento prematuro do ápice radicular.
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A etiologia dos caninos superiores impactados não é totalmente clara, podem estar
relacionadas com distúrbios sistêmicos, como endócrinos, doença febril e irradiação; bem como
locais como a perda precoce de dente decíduo, anquilose, dilaceração, ausência de incisivo
lateral superior, e a presença de dente supranumerários que podem atrasar a erupção de dentes
permanentes (BARBOSA et al., 2017).

Prevalência/incidência

Capelozza Filho et al. (2011) afirmaram que em amostras aleatórias, a frequência de


caninos não erupcionados é de 1,5 a 2% na maxila e 0,3% na mandíbula. Em contrapartida, a
frequência é alta (23,5%) em amostras previamente selecionadas para tratamento ortodôntico.
Ainda foi possível afirmar por estes autores que nos pacientes do genêro feminino, os caninos
não erupcionados (1,17%) são o dobro em relação aos do masculino (0,51%) e ocorrem por
palatino duas a três vezes mais do que por vestibular.
Os caninos apresentam alta frequência de impactação, ou de deslocamento, sendo a
ocorrência da maioria dos casos no gênero feminino, e em descendentes europeus. A
prevalência de retenção ocorre nas seguinte condições: de 0,9% a 2,5% com maior frequência
unilateral; de 75% a 95% dos casos no gênero feminino (duas a três vezes mais que no gênero
masculino); de 60% a 80% dos casos estão localizados por palatino. Além disto, a impactação
de caninos é 10 vezes maior na maxila do que na mandíbula, sendo o lado esquerdo da arcada
o mais afetado. Os caninos podem estar em posições variadas de retenção, como vertical,
horizontal e, muito raramente, invertidos. A impactação usualmente envolve um único canino
permanente, contudo 8% dos casos são bilaterais (ALVES et al., 2014).
De acordo com Fonseca et al. (2016) as impactações do caninos superiores permanentes
acontecem com bastante frequência, de modo que as impactações palatinas são mais prevalentes
(85%) que as vestibulares (15%). A incidência de impactações representam 1 em 100 casos.
Segundo Nascimento; Gouvea; Couto (2016) depois dos terceiros molares, os caninos
superiores permanentes têm a maior incidência de impactação, representando 2% da população,
sendo duas vezes maior no gênero feminino e podendo ser uni ou bilateral. Aproximadamente
80 a 90% dos caninos impactados se localizam no palato e 20% por vestibular. Uma alta
porcentagem destes caninos inclusos está em íntimo contato com o incisivo lateral, numa
distância inferior a 0,5 mm e em 19% dos casos também com incisivo central.
Diagnóstico
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Segundo Capelozza Filho et al. (2011) mesmo que as técnicas radiográficas


convencionais sejam bastante utilizadas no diagnóstico, elas sempre demostraram limitações
para a localização de caninos superiores não erupcionados, especialmente as radiografias
panorâmicas, que exigem exames complementares como as radiografias periapicais pela
Técnica de Clark ou oclusal da maxila. A abrangência destas técnicas está em localizar o canino
não erupcionado por vestibular ou por palatino, mas não é capaz de apresentar uma relação do
canino com os dentes adjacentes e possíveis perdas de estrutura radicular do incisivo lateral
(dente frequentemente acometido nestas situações). Com isto ocorre a limitação do
planejamento ortodôntico, sendo muito importante que o profissional utilizasse ainda mais do
bom senso, cautela e controles periódicos para que baseado neste diagnóstico limitado, chegasse
à boa condução do tratamento.
Alves et al. (2014) observaram sobre o diagnóstico da impactação dos caninos, que
quanto mais precoce ele for, mais precoces são as intervenções em relação a essa anomalia,
podendo desta forma reduzir, ou evitar possíveis complicações tardias, dada à grande
importância estratégica que estes dentes possuem no arco, envolvendo função nas relações
oclusais e estéticas.
Fonseca et al. (2016) destacaram que os métodos tradiconais de diagnóstico radiológico
compreendem as radiografias cefalométricas, oclusais e periapicais. Estes métodos
bidimensionais são importantes para elaboração do diagnóstico, podendo identificar a posição
do canino impactado, em sentido vestíbulo-lingual, cérvico-oclusal e mesio-distal, relacionando
com as demais estruturas adjacentes. As periapicais fornecem informações iniciais como
evolução, presença e tamanho do folículo dental, integridade corono-radicular, relacionando o
canino com os dentes adjacentes e sua localização no sentido mésio-distal verticalmente. Para
localização vestíbulo-lingual, há necessidade de diferentes angulações horizontais pela técnica
de Clark.
A radiografia oclusal é útil para determinar a posição do canino impactado no sentido
vestíbulo-lingual e sua relação com outros dentes. A radiografia panorâmica é uma ferramenta
útil para localizar a altura vertical da coroa do canino impactado, sua relação no plano sagital e
inclinação, no entanto é limitada quando a sua localização é no sentido vestíbulo-lingual
(FONSECA et al., 2016).
Para Barbosa et al. (2017) o diagnóstico da impactação dos caninos estabelece um dos
fatores mais importantes a ser observado na condução do planejamento e tratamento. Com ele
é possível ter o conhecimento sobre o desenvolvimento natural do dente, seu relacionamento
com os dentes vizinhos e suas condições. O correto diagnóstico pode ser feito por meio da
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interação de aspectos clínicos e radiográficos, além da anamnese que pode dar informações
importantes para o planejamento. Os exames de imagem utilizados para localizar e determinar
posição correta do dente impactados são as radiografias periapicais, panorâmicas e oclusais,
sendo que além destes, a tomografia computadorizada é um ótimo recurso.
Manzi et al. (2011) destacaram o uso da tomografia computadorizada para um
diagnóstico mais preciso dos caninos impactados, já que os métodos radiográficos
convencionais só conseguem identificar a impactação e localização vestíbulo-palatino do dente
impactado. A tomografia computadorizada permite realizar uma visualização e avaliação
tridimensional das regiões do organismo por meio de cortes e reconstruções multiplanares,
fornecendo distância das estruturas adjacentes, a exata localização dos dentes, condições
patológicas associadas, entre outras. Portanto é um método que oferece maior riqueza em
detalhes, em um único exame, resultando em um diagnóstico seguro, o que possibilita uma
consequente conduta adequada para o tratamento do caso.
Conforme Fonseca et al. (2016) atualmente, os clínicos têm utilizado de recursos de
imagens tridimensionais em seus diagnósticos e planejamentos de tratamentos. A tomografia
computadorizada cone beam (TCCB) é uma nova tecnologia com emissão de raios X reduzida.
Foi inventada durante esta última década, havendo um rápido crescimento de sua aplicação na
clínica diante de caninos maxilares impactados. Desta forma, é possível avaliar com este tipo
de exame, da coroa a raiz do canino impactado em três dimensões do espaço.

Tratamento para caninos impactados

Sobre o tracionamento de caninos, Consolaro; Consolaro e Franciscone (2010)


relataram que este nome tem sido aplicado para o procedimento de deslocamentos cirúrgicos
dos caninos para a arcada dentária, no entanto representam um transplante autógeno intra-
alveolar e não se utilizam movimentos dentários induzidos e realizados pelos tecidos
periodontais. Desta forma, para os autores, não existe a possibilidade de “tracionamento”
cirúrgico de caninos, pois o próprio nome refere-se a uma força aplicada sobre o dente; o nome
mais apropriado deve ser deslocamento cirúrgico ou transplante dentário autógeno intra-
alveolar. Que por sua vez, são procedimentos que promovem: rompimento do ligamento
periodontal; comprometimento dos feixes vascular e nervoso da polpa; necessidade de se
preparar parcial ou totalmente um alvéolo para recebê-lo.
Capelozza Filho et al. (2011) ressaltaram que para o diagnóstico, bem como condução
do tratamento dos dentes não erupcionados, é preciso realizar um trabalho multidisciplinar,
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envolvendo clínico geral, odontopediatra, cirurgião bucomaxilofacial, periodontista e


ortodontista, além de precisar contar com a colaboração do paciente. Os autores afirmaram que
deve ser considerado, em um primeiro momento, reservado, sombrio, limitado, pois a hipótese
de insucesso nunca pode ser descartada, uma vez que depende de diversas variáveis. Esta
condição deve ser explicada em detalhes aos pacientes ou pais/responsáveis, para que falsas
expectativas não sejam criadas.
Gaetti-Jardim et al. (2012) afirmaram que existe a possibilidade, em alguns casos, de
tratamento cirúrgico conservador de um dente retido, que seria a exposição cirúrgica de sua
coroa na expectativa de sua erupção. Por outro lado, quando a erupção livre não acontece e o
dente não erupciona após exposição cirúrgica, quando o dente apresentar raiz bem formada, o
ápice fechado ou quando o dente estiver fora do seu eixo normal de erupção não se deve esperar
a movimentação espontânea do dente, sendo necessário o auxílio do tracionamento ortodôntico
para o seu correto posicionamento na arcada. Quando o tracionamento dental é necessário este
poderá ser executado com auxílio de fios ortodônticos transfixados na porção incisal da coroa
dental por meio de perfuração ou acoplados a um braquete, botão ou tela, os quais deverão ser
colados com resina composta na coroa dental, cirurgicamente exposta, e aparelho removíveis.
Segundo Spuntarelli et al. (2015) a impactação do canino superior é uma anomalia de
ortodontia relativamente frequente que pode representar problemas funcionais e estéticos para
os pacientes. Uma técnica convencional para os caninos impactados consiste em uma
abordagem ortodôntica e cirúrgica combinada, com o objetivo de guiar as cúspides no centro
da crista alveolar em uma posição estável e cercada por tecidos duros, macios e saudáveis. Um
canino maxilar impactado pode ser guiado, depois que um espaço adequado é criado
ortodônticamente, ao centro da crista através de uma tração ortodôntica diretamente aplicada à
cúspide da coroa do elemento impactado. A localização de impactação e profundidade
influenciam a abordagem cirúrgica para obter melhores resultados estéticos e funcionais.
Nascimento; Gouvea; Couto (2016) relataram caso clínico de paciente do gênero
feminino, 36 anos com distúrbios endócrinos, porém não sindrômica. Após a análise de
radiografias periapicais e panorâmicas, constatou-se uma severa impactação do canino
esquerdo, com a cúspide no ápice do incisivo central e a coroa se estendendo no ápice da raiz
passando pelo ápice radicular do primeiro pré-molar e terminando próximo ao soalho da fossa
nasal e seio maxilar. O planejamento do tratamento englobou a cirurgia de remoção do canino
impactado, devido à idade do paciente, consequente fechamento do ápice radicular,
inviabilizando a erupção espontânea e tracionamento, já que para pacientes acima de 30 anos,
o tracionamento não é sucesso garantido e resultará também num tempo maior de tratamento
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ortodôntico. Além disto, conta com riscos de reabsorções dentárias dos dentes adjacentes e de
danos ao periodonto de suporte. Após a cirurgia e recuperação, planejou-se o fechamento do
espaço decorrente da exodontia do dente 63 e correto posicionamento dos dentes nas bases
ósseas, com torque ideal para cada dente.
Barbosa et al. (2017) relataram que o tipo de tratamento a ser utilizado em casos de
impactação de caninos superiores depende de dados do paciente como a idade, posição do
canino impactado, estágio de desenvolvimento de sua dentição e quanto ele se encontra
disponível para o tratamento escolhido. Fatores como a angulação do canino, sua relação com
os dentes vizinhos e espaço na arcada são muito importantes para a escolha de tratamento.
Em caso clínico descrito por Muhamad et al. (2017) uma menina de 15 anos com vários
graus de impactação palatina bilateral de caninos superiores foi tratada com exposição cirúrgica
e tratamento ortodôntico, sem a necessidade de tracionamento. O método descrito de
descoberta cirúrgica e erupção espontânea criou condições para a erupção biológica dos caninos
impactados e facilitou consideravelmente o tratamento ortodôntico subsequente para o
alinhamento adequado no arco dental.

Aplicação clínica do tracionamento ortodôntico de caninos

Goel et al. (2010) descreveram um caso clínico de uma menina de 14 anos e 10 meses,
que procurou atendimento com a principal queixa de dentes tortos. Ela era fisicamente saudável
e não tinha história de traumatismo médico ou dentário. O canino superior esquerdo estava
ausente no arco maxilar. Uma protuberância palatal foi identificada na região palatina esquerda
superior sugestiva da posição do canino impactado. A radiografia panorâmica revelou que o
canino esquerdo estava inclinado mesialmente em direção à linha média. As radiografias
periapicais foram realizadas pela técnica de Clark para confirmar a posição palatina do canino
afetado à esquerda. A radiografia oclusal também foi feita para correlacionar com os achados
clínicos. Foi decidido por tentar a erupção forçada e o alinhamento do canino impactado. Após
o nivelamento e alinhamento inicial, um fio de aço inoxidável de 0,019 × 0,025 polegadas foi
colocado no arco superior. A exposição cirúrgica através da criação de uma janela foi realizada
e um acessório ortodôntico foi colocado. O acessório foi ligado ao fio de NiTi de 0,016
polegadas e ativado progressivamente para manter uma força de 60-90 g. No geral, o tratamento
ativo durou 20 meses. Houve uma melhora drástica no sorriso do paciente. As relações caninas
e molares de classe I foram alcançadas com overjet e overbite ideais. A orientação canina foi
estabelecida bilateralmente.
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Maia et al. (2010) apresentaram um caso clínico de um paciente do gênero feminino


com 12 anos de idade, que relatou como queixa principal a estética dentária desagradável.
Durante o exame radiográfico, constatou-se a impactação do canino superior direito, associada
à retenção prolongada do decíduo e presença de um dente supranumerário. O tratamento
consistiu na remoção cirúrgica do decíduo e do supranumerário, montagem de aparelho fixo
superior e inferior e tracionamento do canino impactado. Após o alinhamento e nivelamento
das arcadas e abertura de espaço para o canino, optou-se pela utilização da técnica do arco
segmentado para o tracionamento, almejando o mínimo de efeito colateral aos dentes
adjacentes. Para isso, a unidade reativa (ancoragem) foi composta de um arco de aço inoxidável
0,019” x 0,025” passando passivamente em todos os dentes superiores, com exceção do canino.
Além disso, para maximizar a unidade de ancoragem, foi confeccionada uma barra transpalatina
nos primeiros molares superiores. Após alguns meses, a coroa clínica do canino havia irrompido
na arcada, porém, embora numa posição inadequada, encontrava-se bastante girovertido. Após
a correção do giro, instalou-se outro cantiléver, com as mesmas especificações, porém, com o
objetivo de correção radicular. O êxito estético obtido com o tracionamento do canino
contribuiu no aspecto psicológico da paciente.
Marigo; Marigo (2011) afirmaram que a supervisão ativa da erupção dentária em
pacientes em fase de dentição mista deve ser feita de forma cuidadosa, com diagnóstico precoce,
evitando riscos associados à erupção dos dentes permanentes, principalmente dos caninos
superiores. A presença de caninos impactados e com significativa reabsorção dos incisivos
adjacentes exige um diagnóstico preciso e planejamento ortodôntico criterioso. Os autores
apresentaram caso clínico de uma paciente de gênero feminino, com 8 anos e 7 meses de idade,
que buscou avaliação ortodôntica com queixa de apinhamentos de incisivos superiores e
inferiores. Após análise clínica, constatou-se uma maloclusão Classe I de Angle com incisivo
lateral superior esquerdo cruzado e falta de espaço para o incisivo lateral superior direito. Os
responsáveis pela paciente optaram por não realizar o tratamento naquele momento, uma nova
consulta ocorreu somente 3 anos após o primeiro contato. Em nova avaliação foi constatado
que a paciente já apresentava dentição permanente, maloclusão Classe I de Angle com falta de
espaço para erupção dos caninos superiores, apinhamento ântero-inferior e biprotrusão dentária,
além da impactação bilateral dos caninos superiores. Devido às reabsorções severas observadas
nos incisivos superiores, a conduta terapêutica escolhida foi a realização de exodontias de
incisivos laterais permanentes superiores, tracionamento dos caninos inclusos para o local dos
incisivos laterais e mesialização dos elementos posteriores para fechamento de espaços. Após
23 meses de tratamento o aparelho foi removido. Foi realizada após finalização do tratamento
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ortodôntico, a reanatomização dos caninos superiores transformando-os esteticamente em


incisivos laterais.
Columbano et al. (2014) descreveram um caso clínico de um paciente do gênero
masculino com 38 anos e 8 meses de idade, o qual ao exame clínico observou-se atresia de
maxila, mordida topo a topo, rotação dentária no segundo pré-molar superior esquerdo (25),
ausência do primeiro pré-molar superior direito (14), além de permanência do canino superior
esquerdo decíduo (63). O tratamento ortodôntico proposto foi a utilização de aparelho fixo
naarcada superior e inferior, exodontia do canino decíduo esquerdo superior e tracionamento
ortodôntico do dente 23. Durante o tratamento o paciente sofreu um acidente efraturou a região
superior esquerda da maxila. Após quase um ano fazendo o tracionamento do dente 23 com
acompanhamento de radiografias periapicais, porém sem o resultado esperado, observou-se
através da tomografia que um parafuso da placa que o paciente havia instalado na maxila estava
preso no dente 23. Foi realizada uma nova cirurgia e removeu-se o parafuso. A partir de então
conseguiu realizar o tracionamento do dente 23.
Abu-Hussein et al. (2015) desenvolveram um estudo com o objetivo de apresentar o
movimento corretivo de caninos impactados usando várias técnicas cirúrgicas-ortodônticas.
Foram incluídos no estudo 22 caninos maxilares impactados que foram observados entre 2006
e 2013. Após a exposição por meio de uma aba palatina ou uma aba bucal apicalmente
reposicionada, um gancho de tração ortodôntica, com um botão de titânio com corrente em
Watted (Dentaurum), foi ligado a cada dente impactado usando um cimento de resina
ortodôntica. Após a cirurgia em 39 pacientes com idade entre 10,2 e 39.5 anos, considerou-se
que a tração canina com um dispositivo ortodôntico era necessária para obter uma posição
vertical dos dentes. Os sistemas ortodônticos utilizados foram: ortodontia fixa, com um botão
de titânio com corrente por Watted (Dentaurum). Após a cirurgia, todos os pacientes
continuaram o tratamento ortodôntico para corrigir toda maloclusão dentária e obter uma
oclusão neutra com resultados estéticos, funcionais e estáveis.
De acordo com Nakandakavi et al. (2016) a impactação dos caninos maxilares provoca
problemas estéticos e funcionais relevantes. A abordagem multidisciplinar para o bom
planejamento e execução da tração ortodôntica do elemento em questão é essencial. Muitas
estratégias são citadas sendo uma delas, o bom controle biomecânico para evitar possíveis
efeitos colaterais. Os autores descreveram um relato de caso em que um canino superior
impactado por palatino foi retirado com a ajuda do cantiléver no conceito de técnica de arco
segmentado (SAT). Uma paciente do gênero feminino, de 14 anos e 7 meses procurou
atendimento queixando-se da ausência do canino permanente superior direito. O tratamento
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proposto priorizou a tração do canino direito superior sem alterar a oclusão e a estética. Para
isso, instalou-se apenas o aparelho fixo superior (Roth com slot 0.018), optando por SAT para
minimizar os efeitos colaterais indesejados. O uso de cantiléver para a tração do canino direito
superior permitiu um resultado eficiente e previsível, porque é de mecânica estaticamente
determinada.
Barbosa et al. (2017), apresentaram um caso clínico de paciente com canino superior
permanente impactado, tendo sua correção por meio de duas etapas: cirúrgica e ortodôntica. O
paciente de 21 anos passou por avaliação ortodônticae ao exame radiográfico constatou-se a
impactação do canino superior direito, associado a retenção prologada do canino decíduo,
presença de dentes supranumerários inclusos localizados acima do ápice do canino decíduo.
Diante do diagnóstico, optou-se pelo tracionamento ortodôntico que se constituiu na exodontia
do dente decíduo e incisão de papilas, tendo retalho mucoperiósteo rebatido por palatina para o
alcance do dente canino permanente, onde foi passado um fio de amarrilho 0,03 mm. A força
do tracionamento foi aplicada após a cicatrização da ferida cirúrgica. Em alguns meses a coroa
clínica do canino havia irrompido na cavidade, removendo-se o amarrilho e colocando-se
braquete para continuidade do tratamento que após 24 meses apresentou canino em oclusão,
em fase de finalização da redução de diastemas.
Um relato de caso foi descrito por Ferreira et al. (2017) sobre um tracionamento bem
sucedido de 2 caninos gravemente afetados. A paciente, uma menina de 7 anos, tinha boa saúde
geral, respiração nasal, mordida cruzada dos incisivos laterais e caninos e uma relação molar
de Classe I. A radiografia panorâmica mostrou que os caninos permanentes estavam
posicionados acima das raízes dos incisivos laterais, com o canino direito com uma inclinação
acentuada. O aparelho Haas associado à protração maxilar foi utilizado durante o primeiro
estágio de tratamento por 14 meses. O segundo estágio incluiu a extração dos molares decíduos,
o movimento distal dos molares permanentes para criar espaço para a tração dos caninos que
foi associado ao tratamento ortodôntico completo. O paciente apresentou bons resultados
estéticos e funcionais no final do tratamento, verificado pela estabilidade ao longo de um
período de 8 anos após a retenção.
De acordo com Oliveira; Figueiras; Castro (2017) na literatura, existem várias opções
de tratamento para a correção de caninos superiores impactados, desde extrações até
procedimentos cirúrgicos seguidos de tracionamentos. Os autores apresentaram um caso clínico
com uma nova proposta de tratamento para o tracionamento de caninos superiores impactados.
Uma paciente do gênero feminino, 18 anos apresentando um canino superior esquerdo
palatalmente impactado com maior inclinação mesial, relação bilateral oclusal de Classe I e
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perfil facial harmônico, foi submetida à tração cirúrgica do dente canino com um fio de arco
superior modificado por uma mola TMA, com a instalação subsequente do aparelho fixo para
correção ortodôntica. Os resultados obtidos foram satisfatórios, proporcionando estética e
função adequadas ao caso, mostrando bom paralelismo radicular e intercuspidação, garantindo
estabilidade ao tratamento após quatro anos de remoção do aparelho.

Prognóstico

Conforme Landim et al. (2010) a ocorrência de caninos inclusos é uma condição comum
na população que procura tratamento ortodôntico e a excelência da terapia ortodôntico-cirúrgica
traduz-se na correção da oclusão, harmonia do sorriso, saúde periodontal, manutenção da saúde
pulpar e estabilidade pós-tratamento. Para obtenção de tais condições, ressalta-se a importância
de um trabalho multidisciplinar. Os autores realizaram um estudo com o objetivo de abordar os
aspectos clínicos e radiográficos dos caninos inclusos submetidos à tratamento orto-cirúrgico.
O estudo foi realizado naFaculdade de Odontologia de Pernambuco (FOP-UPE) no período de
2000 a 2007. Realizou-se uma avaliação clínica (cor, forma da gengiva, posição no arco) e
radiográfica, (dilaceração, lâmina dura, presença de processo periapical). Como resultado, dos
17 dentes que compuseram a avaliação clinica, observou-se que 4 pacientes (23,5%)
apresentaram retração gengival com hipersensibilidade associada, apenas um paciente (6,25%)
apresentou mobilidade dentária, nenhum dos dentes examinados apresentou alteração de forma
e um total 14 dentes (82,35%) responderam positivamente ao teste de vitalidade pulpar. A
avaliação radiográfica foi realizada em 14 dentes, destes 07 (50%) apresentaram dilaceração
radicular, 04 dentes (28,60%) estavam relacionados à odontomas, 02 dentes (14,28%)
apresentaram reabsorção da crista óssea alveolar, 02 dentes (14,28%) mostraram calcificação
intracanal. O tracionamento ortodôntico na amostra estudada aparece como um procedimento
eficaz, seguro e reprodutível.
Silva et al. (2017) desenvolveram um estudo retrospectivo com o objetivo de avaliar os
efeitos a longo prazo da tração ortodôntica no comprimento da raiz e no osso alveolar em
caninos impactados e dentes adjacentes. A amostra consistiu de 16 pacientes (nove do gênero
masculino e sete do gênero feminino), idade inicial média de 11 anos e 8 meses com caninos
impactados unilateralmente na maxila, deslocados palatinalmente, tratados com a mesma
abordagem cirúrgica e ortodôntica. Os dentes do lado canino impactado foram designados
como Grupo I (GI) e dentes contralaterais como controle, Grupo II (GII). A idade média dos
pacientes no final do tratamento ortodôntico foi de 14 anos e 2 meses e o tempo médio pós-
13

tratamento foi de 5 anos e 11 meses. Tanto os caninos maxilares erupcionados contralaterais


quanto os dentes adjacentes serviram de controle. O comprimento da raiz e o nível ósseo
alveolar (bucal e palatal) foram avaliados em imagens de tomografia computadorizada com
feixe cone (CBCT). A comparação do comprimento da raiz e alterações do nível ósseo alveolar
entre os grupos foi estatisticamente significante quando aos níveis osséos bucais e palatinos de
caninos e dentes adjacentes. Concluiu-se que o tratamento do canino impactado por técnica de
erupção fechada associada à perfuração da coroa canina, tem um efeito mínimo sobre o
comprimento da raiz e o nível do osso alveolar bucal e palatino em dentes caninos e adjacentes,
demonstrando que este protocolo de tratamento tem um bom prognóstico a longo prazo.
14

DISCUSSÃO

A etiopatogenia dos dentes não erupcionados para Capelozza Filho et al. (2011) e
BARBOSA et al.(2017) não é conhecida de forma precisa. Desta forma, alguns fatores podem
estar associados, mas ainda não possuem confirmação. Tais fatores podem ser hereditariedade,
discrepâncias entre o tamanho dentário e o comprimento da arcada, a posição anormal do germe
dentário ou do dente, a retenção prolongada ou perda precoce de dentes decíduos, a ocorrência
de formação cística ou neoplásica, origem iatrogênica e causas sistêmicas. Alves et al. (2014)
também defenderam como principais causas de retenção dos caninos fatores hereditários, a raça,
os distúrbios endócrinos e as síndromes com má-formação craniofaciais. Alves et al. (2014);
Fonseca et al. (2016); Nascimento; Gouvea; Couto (2016) citaram como fatores locais o trajeto
de erupção longo e tortuoso, pois é um dos últimos dentes a irromper na cavidade bucal, trauma
dos dentes decíduos, agenesias dos incisivos laterais permanentes, dilaceração radicular,
anquilose dos caninos permanentes, e a fenda palatina.
Nascimento; Gouvea; Couto (2016) enfatizaram a relação de causas sistêmicas sobre
esta condição, sendo elas deficiências endócrinas, doenças febris, deficiência de vitamina D,
pressão muscular anormal, irradiação, síndrome de Gardner, Síndrome de Yunis-Varcon e
disostose cleidocraniana.
Em relação à prevalência e incidência dos caninos não erupcionados, Capelozza Filho
et al. (2011) afirmaram que em amostras aleatórias, é de 1,5 a 2% na maxila e 0,3% na
mandíbula; neste sentido Alves et al.(2014) relataram que é 10 vezes maior na maxila do que
na mandíbula, sendo o lado esquerdo da arcada o mais afetado. O gênero feminino é apontado
pelos autores Capelozza Filho et al. (2011); Alves et al.(2014); Nascimento; Gouvea; Couto
(2016) como o mais atingido por este distúrbio, ocorrendo duas vezes mais que no gênero
masculino. Capelozza Filho et al. (2011) afirmaram que ocorrem por palatino duas a três vezes
mais do que por vestibular. Alves et al.(2014) confirmaram que 60% a 80% dos casos estão
localizados por palatino e Fonseca et al. (2016) e Nascimento; Gouvea; Couto (2016) afirmaram
que a prevalência por palatino é entre 80 a 90% dos casos.
Alves et al. (2014) atentaram para a importância do diagnóstico precoce das impactações
dos caninos para a redução de complicações tardias. Fonseca et al. (2016) destacaram que os
métodos tradicionais de diagnóstico radiológico compreendem as radiografias cefalométricas,
oclusais e periapicais. Entretanto Capelozza Filho et al. (2011) afirmaram que mesmo que as
técnicas radiográficas convencionais sejam bastante utilizadas no diagnóstico, elas sempre
demostraram limitações para a localização de caninos superiores não erupcionados e para o
15

tratamento. Neste sentido, Barbosa et al. (2017) relataram que além das radiografias periapicais,
panorâmicas e oclusais, a tomografia computadorizada é um ótimo recurso.
Manzi et al. (2011) e Fonseca et al. (2016) destacaram o uso da tomografia
computadorizada para um diagnóstico mais preciso dos caninos impactados já que permite
realizar uma visualização e avaliação tridimensional das regiões do organismo por meio de
cortes e reconstruções multiplanares, fornecendo distância das estruturas adjacentes, a exata
localização dos dentes, condições patológicas associadas, entre outras.
O tratamento dos caninos impactados, engloba, de acordo com Capelozza Filho et al.
(2011) um trabalho multidisciplinar entre diversas especialidades da Odontologia. Em alguns
casos, como o relatado por Nascimento; Gouvea; Couto (2016), a única opção para esta
condição é cirurgia de remoção do canino impactado. Para tanto, é preciso considerar diversos
fatores, como neste caso clínico, onde existiam alguns desfavoráveis como idade do paciente
acima de 30 anos, com contraindicação para tracionamento e também para aguardar erupção
espontânea ao observar-se o fechamento do ápice e canino severamente impactado.
O tracionamento ortodôntico é uma opção em casos de impactações de caninos.
Consolaro; Consolaro e Franciscone (2010) afirmaram que consiste no procedimento de
deslocamentos cirúrgicos dos caninos para a arcada dentária. Cappelloza Filho et al. (2011)
acrescentaram que tem por objetivo reposicionar os caninos na arcada dentária em condições
estéticas e funcionais normais. Barbosa et al. (2017) que alguns aspectos do paciente devem ser
observados antes da escolha do tratamento como a idade, posição do canino impactado, estágio
de desenvolvimento de sua dentição, angulação do canino, sua relação com os dentes vizinhos
e espaço na arcada. Sobre a técnica de tracionamento ortodôntico Cappelloza Filho et al. (2011);
Gaetti-Jardim et al. (2012); Spuntarelli et al. (2015) descreveram ser feito o acesso cirúrgico e
o dente preparado para esse procedimento por meio de laçada, colagem de acessório ortodôntico
ou perfuração do esmalte na coroa.
Para Gaetti-Jardim et al. (2012) existem situações em que os caninos impactados podem
ser tratados por meio de tratamento cirúrgico conservador de um dente retido, que seria a
exposição cirúrgica de sua coroa na expectativa de sua erupção. Foi o caso de Muhamad et al.
(2017), com uma menina de 15 anos com vários graus de impactação palatina bilateral de
caninos superiores, tratada com exposição cirúrgica e tratamento ortodôntico, sem a
necessidade de tracionamento.
Nesta revisão de literatura os autores relataram casos clínicos onde foram utilizadas
técnicas de tracionamento ortodôntico de caninos impactados. Maia et al. (2010) obtiveram
êxito com a utilização da técnica, o que contribuiu no aspecto psicológico da paciente. Marigo;
16

Marigo (2011) obtiveram a finalização de tratamento com tracionamento de caninos impactados


em paciente de 8 anos e 7 meses de idade, ao final de 23 meses. Nakandakavi et al. (2016)
concluíram seu caso de impactação de canino maxilar com o uso de cantiléver para a tração do
canino direito superior, o que permitiu um resultado eficiente e previsível, porque é de mecânica
estaticamente determinada. Barbosa et al. (2017) também conseguiram realizar o
tracionamento, chegando ao resultado de canino em oclusão com 24 meses de tratamento. Goel
et al. (2010); Ferreira et al. (2017); Oliveira; Figueiras; Castro (2017) obtiveram resultados
positivos com o tracionamento de caninos impactados sem maiores complicações.
Columbano et al. (2014) relataram complicação, onde o paciente após acidente foi
submetido à cirurgia devido à fratura da região superior da maxila. A presença de parafuso e
placa nesta região foi constatada por radiografia, mas apenas através da tomografia foi possível
constatar que um parafuso da placa que o paciente havia instalado na maxila estava preso ao
canino impactado e por isto o tracionamento não estava obtendo os resultados esperados. Foi
então realizada uma nova cirurgia e removeu-se o parafuso. A partir de então conseguiu-se
realizar o tracionamento do dente 23.
Em relação ao prognóstico do tratamento, estudos para avaliar os efeitos que podem
ocorrer após tracionamento ortodôntico foram realizados por Landim et al. (2010) e Silva et al.
(2017) que concluíram que o tracionamento ortodôntico nas amostras estudadas é um
procedimento eficaz, seguro e reprodutível, tendo um bom prognóstico a longo prazo.
17

CONCLUSÃO

Por meio desta revisão da literatura foi possível concluir que:

 As causas da impactação de caninos ainda não são bem definidas, podendo estar
relacionadas a fatores locais e fatores sistêmicos.
 A prevalência da impactação de caninos está entre 1,5 a 2% na maxila, a incidência é
duas vezes maior no gênero feminino, e ocorre duas a três vezes mais por palatino.
 O diagnóstico pode ser feito através de imagens radiográficas, tomadas por radiografias
cefalométricas, oclusais e periapicais, ou pela tomografia computadorizada.
 O tratamento de caninos impactados deve ser bem planejado, podendo englobar a
exodontia ou tracionamento ortodôntico destes dentes, dependendo da condição em que
eles estão e de fatores relacionados ao paciente.
 O tracionamento ortodôntico é uma opção para dentes que estão impossibilitados de
erupcionarem espontaneamente, e é uma alternativa viável quando corretamente
indicado, tendo a capacidade de restabelecer função e estética.
 Quando a técnica de tracionamento é bem conduzida, o prognóstico é favorável sendo
considerado eficaz e seguro.
18

TRACING OF PERMANENT CANINES IMPACTED IN THE MAXILA

ABSTRACT

Teeth considered of major importance for dentition are permanent maxillary canines, their
presence indispensable for a balanced occlusion and also in the laterality movement, as well as
having a favorable aesthetic and a good facial harmony. The tortuous path taken by the canine
until its eruption may be the cause for its frequent impaction. It is called impacted tooth, those
obstructed by some object whose roots are fully formed and it is not yet found in the dental
arch, due to lack of space or poor dental positioning, being in the infra-osseous position. The
objective of this study was to review the literature on canines impacted in the maxilla,
addressing their causes, prevalence / incidence, diagnosis, treatment and prognosis. The causes
of canine impaction are still not well defined and may be related to general and local factors,
where the latter have more frequency. In relation to the prevalence is between 5 to 2% in the
maxilla and 0.3% in the mandible, being the incidence two times greater in the female gender.
The diagnosis can be made through radiographic images, or by computed tomography. The
treatment of impacted canines may involve the extraction or orthodontic traction of these teeth.
Orthodontic traction is used when teeth are unable to erupt spontaneously, forming a favorable
prognostic technique, and being effective and safe when well-conducted.

Key-words: Impaction of canines. Orthodontic traction. Orthodontics.

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Endereço para correspondência:


Ana Clara da Costa Piazzarollo Rodrigues
Rua Expedito Ferreira de Carvalho, 317, Santos Dumont II
Governador Valadares - MG
Cep: 35022192
(33)991259852
anaclara_piazzarollo@hotmail.com

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