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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS

BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


FILOSOFIA E ÉTICA
PROFESSOR: José Edelberto Araujo De Oliveira
ESTUDANTE: Renato Frossard Cardoso

RESPOSTA: De acordo com Medeiros (2014) “a justiça platônica é entendida como uma
harmonia e ordem das partes em função da consecução de objetivos comunitários que são
condição para a felicidade da comunidade e de seus membros”. Em sua reflexão, o autor dá a
entender que, para Platão, os interesses coletivos devem estar em primeiro lugar, desde que
esses interesses busquem o bem estar e a felicidade de todos. É importante também
voltarmos à noção de justiça apresentada por Sócrates em seu debate com Polemarco em que
o filósofo afirma que não é próprio do justo fazer mal ao inimigo nem ao amigo, mas do
injusto. O filósofo disse isso para refutar a tese inicial de Polemarco que a justiça consistiria em
fazer o bem aos amigos e o mal aos inimigos. Ele conclui, portanto que justiça não consiste
literalmente em devolver a cada um o que lhe pertence mas na prática daquilo que é
justo, e ponto. Em outras palavras, para Sócrates não existem meios termos quando se fala
em justiça. Assim, mesmo que se trate de um inimigo, deve-se julgar com imparcialidade,
visando a prática da justiça.

Ora, no exemplo dado podemos considerar que as duas esferas estão representadas,
isto é, tanto a esfera coletiva quando a individual. Se pensarmos em termos de coletividade,
quando o autor da crítica diz que todo médico selecionado para realizar perícias em órgãos
públicos deve ser concursado, ele pensa no bem estar de uma coletividade, já que, desta
forma, se estabeleceriam regras mais justas que permitiriam chances maiores para um número
maior de profissionais de conquistar um cargo público. Já no campo do individual, o autor está
pensando na pessoa que se submete à perícia, pois ele se preocupa se essa pessoa passará por
um julgamento justo de suas capacidades laborais diante de algum problema de saúde, ou se
será forçado a permanecer no exercício da função, apesar da doença, por uma tendência do
órgão de não examinar o doente de forma criteriosa, passando por cima da evidência de que a
pessoa não esteja em condições de trabalhar, ao não solicitar exames que comprovem sua
condição ou mesmo ao não proceder um exame clínico mais aprofundado. Desta forma, dar-
se-ia mais importância a uma conveniência do estado do que à justiça propriamente dita.

Assim, a indignação do autor se justifica pelo fato de ele considerar injusto o sistema
de indicações à critério do órgão, pois, fazendo-o, o órgão pode favorecer o estabelecimento
de um sistema de perícias viciado e tendencioso. Não é incomum ouvirmos relatos de que um
cidadão comprovadamente doente e sem capacidade para o trabalho é considerado apto em
uma determinada perícia, pois o órgão deseja economizar no pagamento de benefícios. Isso
indica que, muitas vezes, a referida perícia não segue critérios adequados e não leva tanto em
conta o benefício do cidadão que está sendo avaliado, mas apenas o benefício do governo ou
dos cofres públicos que economizarão no pagamento de benefícios.

Ao propor que as seleções devem ser feitas via concurso público, o autor visa um
sistema pericial mais justo em que os profissionais (médicos) responsáveis por essas perícias
não estarão presos a alguma “coleira” por terem sido indicados para o exercício de seus
cargos, mas estarão muito mais livres para exercer suas funções pelo fato de estarem
protegidos por leis e estatutos relativos ao servidor público. Desta forma, a prática daquilo que
é realmente justo, não apenas conveniente ao estado, estaria muito mais assegurada.

REFERÊNCIAS:
Medeiros. A Justiça e a Constituição do Estado na República de Platão. 2014. Disponível em:
<https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/a-justi%C3%A7a-e-a-constitui
%C3%A7%C3%A3o-do-estado-na-republica-de-plat%C3%A3o/> Acesso em 01/04/2020.

PLATÃO. A república. Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 2001. 511 p. (Textos Clássicos).

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